educação: um debate acerca da formação de um “novo

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EDUCAÇÃO: UM DEBATE ACERCA DA FORMAÇÃO DE UM “NOVO HOMEM”
NA ERA VARGAS (1930 - 1945)
Marlon Teixeira de Faria*
RESUMO: Nosso trabalho está situado dentro do recorte temporal que vai de 1930 a 1945, período
chamado de Era Vargas. Pretendemos, aqui, abordar o papel da educação na formação social do
homem, bem como de entendê-la conforme o desenvolvimento social brasileiro do período. Levando
em consideração que a década de 1930 está alçada de um ideal de reorganização da política social,
teremos a educação enquanto uma ferramenta auxiliar na formação de uma mão de obra especializada,
técnica, que atenderá a demanda do novo período, iniciado com a Revolução de 1930. Temos por
objetivo perceber as contradições das diretrizes educacionais e as diferentes definições entre os ideais
Oligárquicos e Industriais que se seguiam na década de 30, partindo de uma educação voltada para a
formação, apenas, técnica para os operários em contraste com uma educação de elite, erudita e voltada
para os cargos do alto escalão. Partindo disso, entenderemos a formação de uma massa de
trabalhadores que apenas se adequaria ao novo sistema, para atender o ideal do Estado Novo, ou seja,
um “Novo Homem” para a indústria.
PALAVRAS-CHAVE: Educação, Ideologia e Novo Homem.
ABSTRACT: Our work is situated in a time window that goes from 1930 to 1945, a period called
Vargas Era. We intend here to show the role of education in a human social building as well as to
understand it according to the Brazilian social development in that time. Considering that the 1930 is
an ideal scope of the reorganization of social policy, we will have education as a form in training a
skilled workforce, a technique that will prove the demand of the new period began with the Revolution
of 1930. We understand the contradictions of educational guidelines and the different definitions
between the ideals and industrial oligarchy that followed in the 30´s, from an education geared
towards training, only for technical workers in contrast with an elite education, erudite and focused on
the positions of high society. Based on this, we´ll understand the formation of a group of workers who
only have been appropriate to the new system to meet the ideal of the New State, or a "New Man" for
the industry.
KEYSWORD: Education, Ideology and the New Man.
Educação, um conceito um tanto quanto evitado por alguns indivíduos que julgam este
um debate de cunho somente pedagógico, preso às paredes de uma sala de aula e às
metodologias dos professores. Discutir educação não significa apenas falarmos de salas de
aulas, ou escolas, esse conceito enquanto resultado da prática humana desemboca, como um
rio, em distintos campos sociais que às vezes nem imaginamos. Se conseguíssemos esboçar
um esquema em uma folha que no centro estivesse a palavra educação, veríamos que ao ponto
que situássemos alguns conceitos ligados a ela, faríamos uma, como diria José Antunes
*
Graduado em História pela Universidade Estadual de Goiás, Unidade Universitária de Jussara no ano de 2010.
Atualmente cursando Pós-graduação (Lato Sensu) em História e Sociedade pela Faculdade Montes Belos
(FMB). E-mail: [email protected]
Marques (2010), recuperação da historicidade do termo, que sem dúvida alguma nos
remeteriam há tempos muito distantes dos nossos, e à práticas que, a priori, poderíamos
questionar sua relação com a educação.
Dessa forma, recuperar a historicidade do conceito de educação significa estudar as
bases da cultura humana, que se espelhariam em religiões, políticas, práticas econômicas,
concepções de diferentes visões de mundo, entre outros fatores. Entendemos então que a
importância de se pensar a educação encontra-se na busca da compreensão de valores,
tradições, bem como a própria postura hierárquica da sociedade.
Aprofundando nossas leituras na temática da educação, percebemos o quadro
complexo que surge quando tentamos conceituá-la, devido ela variar conforme períodos e
lugares, uma vez que, abordar esse conceito requer que superamos o senso comum, conforme
diz Dermeval Saviani (2002), já que o processo educacional não se da apenas nas salas de
aulas, mas através das múltiplas relações sociais. Passando a enxergar com outros olhos a
prática educacional, surgiram algumas indagações que nos motivaram a desenvolver essa
pesquisa, ambas relacionadas à ligação entre educação com a sociedade.
Algumas de nossas indagações giram sobre questões como, qual a função da educação
na sociedade? Qual a relação que existe entre os paradigmas do processo educacional com o
desenvolvimento da sociedade? E também de grande importância para essa pesquisa, qual a
relação entre Ideologia e Educação? Questões como essas, darão rumo à nossa pesquisa, além
oferecer mais estrutura à nossa compreensão do tema da pesquisa em questão, além de
mostrar ao leitor o quanto o processo educacional encontra-se um tanto quanto relacionado
com o desenvolvimento social.
Para o desenvolvimento desta pesquisa partimos de um recorte temporal que abrange
os anos da década de 1930 a 1945 no Brasil. Sabemos que esses anos são marcados pelo
período chamado Era Vargas, resultante das reorganizações políticas e sociais iniciadas, pelo
menos de uma forma efetiva, com a Revolução de 1930. Esse recorte do tempo e do espaço
não foi escolhido de modo aleatório. A escolha pelo tema ocorre devido, segundo Otaíza
Romanelli (2010) este ser um momento conturbado, pela Crise de 1929 e após pela
Revolução de 1930, que pretendia romper com o poderio social exercido no país pelas
Oligarquias. Dessa forma no cenário social brasileiro havia um contraste marcado por uma
visão tradicional e uma moderna, ou em outras palavras, uma visão oligárquica, agrária e
uma, iniciante, industrial, tecnicista.
Essas reorganizações sociais da década de 1930 passaram dos limites da perspectiva
econômica e política, segundo Romanelli (2010), neste momento temos algumas mudanças
nas diretrizes educacionais no país, que tendiam a se adaptar às mudanças nos campos sociais,
além das reorganizações políticas e econômicas, uma vez que temos mudanças sociais a
prática educacional de determinado lugar sofre alterações, pois busca se adaptar e preparar os
indivíduos à nova realidade.
A partir de uma reflexão sobre autores como Celso Furtado (1998) e Caio Prado Júnior
(1995), chegamos à hipótese de que em períodos em que há transições, ou reorganizações
econômicas e políticas, a tendência é que haja modificações em todo o aparelho social,
tomando assim como meta uma série de adaptações nas práticas das esferas sociais.
Aplicando esse entendimento de cunho político e econômico ao sistema educacional,
principalmente quando nos baseamos em Romanelli (2010), percebemos que a educação não
escapa dos reflexos sociais de tais esferas. Partimos por essa idéia por não concordarmos com
uma análise da educação que não seja feita de forma estreita com os distintos campos sociais.
Estando sensível a tais mudanças, percebemos que a educação a partir da década de
1930 tinha por meta atender as necessidades que a nova perspectiva sócio-política tinha por
ideal. Sendo assim as práticas capitalistas e as inovações das tendências tecnicistas ganhavam
espaço, ao mesmo tempo em que a educação começava a atender tal demanda. Com isso
observa-se em Romanelli (2010) que a educação tinha como função neste momento a
formação de homens especializados que pudessem desempenhar e suprirem as necessidades
das demandas encontradas no Brasil, essas principalmente de cunho industrial.
Para compreendermos essa estreita relação que estamos apresentando entre a educação
e o processo de industrialização que, paulatinamente, ocorria no Brasil, há alguns fatores
preponderantes para clarear nossas idéias, entre eles, um dos principais, que ocorrerá em
1929. Esse ano marca um período de catástrofe, não só pra o Brasil, pois têm-se início uma
crise que abala os EUA e de lá parte ao resto do mundo, afetando principalmente os paises
que tinham suas bases econômicas marcada pela exportação.
No caso do Brasil a Crise de 29 foi algo que assumiu proporções catastróficas, já que,
segundo Furtado (1998), o café era responsável por 70% de nossa exportação. Essa crise
marca de forma mais acentuada o país devido, entre 1927 e 1928 os cafeicultores, terem
preparado uma grande plantação, que por ventura seria tida como uma das maiores safras
esperadas dos últimos anos. Tendo sua economia afetada, o Brasil que tinha como produto
soberano o café, sofria grandes perturbações, pois em sua estrutura econômica não havia outro
produto que podia fazer frente ao café, e consequentemente este encontrava problemas para
sair dos estoques em direção aos mercados consumidores.
Dessa maneira o Brasil passa por algumas reorganizações econômicas com o intuito de
obter-se uma estabilidade diante aos efeitos da crise. Segundo Fonseca (1989), internamente,
o Brasil, com Getúlio Vargas à frente, buscaria soluções para amenizar os efeitos dessa crise,
tendo por algumas medidas a criação de impostos sobre a exportação do café, onde os
próprios produtores deveriam pagar, dentro desse mesmo plano o governo se propõe a ajudar
os produtores comprando as sacas de café destinadas ao estoque. Com esse ato, o Estado teria
uma maior participação no processo econômico do país manipulando o preço das sacas de
café.
Se não for pretensiosa essa fala, o Brasil dava os primeiros passos rumo a uma nova
era. Após haver, supostamente, rompido com a estrutura política e social marcada pela
presença das decisões oligárquicas, nas palavras de Ferreira e Pinto (2006): “O golpe de
outubro de 1930 que deslocou as tradicionais oligarquias do epicentro do poder tem sido
tratado na historiografia a partir de diferentes vertentes explicativas.” (FERREIRA & PINTO,
2006, p. 19). Podemos dizer que houve uma rearticulação de interesses, a força e importância
soberana do campo agora encontrava-se dividida com as cidades.
Na sociedade brasileira dos anos de 1930 encontramos uma estreita ligação entre
fatores que aos poucos tendia a manter relações muito próximas, educação-escola-indústrias,
afinal, segundo Romanelli (2010) um novo sujeito, adaptados as novas tendências e preparado
para suprir as demandas do mercado teria que aparecer em cena para atender as necessidades
desse novo período da história brasileira. O mercado de trabalho carecia de mão de obra
especializada, neste momento quem melhor que a educação para buscar soluções para essa
questão? Assim a educação passa a ser vista com um olhar diferenciado pelo Estado.
Após a argumentação exposta podemos ficar confusos quanto a relação das indústrias
com a educação, pois, geralmente temos o hábito de associarmos a educação somente a
lugares como a Sala de Aula e ao Professor. Aqui chamamos essa prática de Senso Comum.
Este, segundo Saviani, faz com que “Nessas situações nós não temos consciência clara,
explicita do porque fazemos assim e não de outro modo. Tudo ocorre normalmente,
naturalmente, espontaneamente, sem problemas”. (SAVIANI, 2002, p. 21). Ou seja, não
problematizamos nada, apenas reproduzimos, nossa consciência critica, ou filosófica cede
lugar a um sentimento de conformação. Com o intuito de apresentarmos uma gama de
reflexões sobre o conceito de educação, faremos uma relação entre alguns autores que
trabalham nessa temática, educação e sociedade.
Sabemos que a educação, enquanto conceito, é algo muito amplo e de difícil definição,
assim partimos pela seguinte idéia, entendemos a educação como um fenômeno de ação
humana e de reflexão epistemológica atrelada às diversas áreas do conhecimento e ligada ao
meio social. Sendo assim, para nós, uma reflexão sobre a educação deve estar ligada a um
tempo e espaço, para assim com clareza compreendermos suas pretensões para com a
sociedade.
Através de Arnaldo Niskier (1992) compreendemos que o conceito de Educação
assume tendências que superam os limites estreitos que delimitam uma sala de aula, ele vai
além estando presente na própria estrutura da sociedade. Um exemplo disso é quando o autor
faz uma referência à educação em Esparta, que consistia em formar guerreiros, ou seja, os
padrões educativos espartanos giravam à órbita das batalhas, sendo assim ligado às
necessidades sociais. Percebemos aqui um exemplo de práticas educacionais que nos fazem
romper com a idéia comum de ligarmos a educação somente a práticas pedagógicas e com as
escolas, mais que isso, ela, como sendo, formadora de corpo social e produtora de uma
identidade cultural.
Neste momento Carlos Rodrigues Brandão (1995) faz algumas ponderações que vão
além do que expomos acima, aqui compreendemos que o conceito de Educação não possui
uma perspectiva concreta de atuação, ou seja, não contêm um significado exclusivo, pois
conforme cada período histórico as necessidades da sociedade alteram as prioridades
educacionais. Sendo assim, através de leituras e reflexões acerca do tema percebemos que ele
varia de acordo com toda a organização social, e também das relações econômicas e do lugar
onde se situa a análise. Mais que isso, segundo Brandão (1995), ela está presente em todos os
momentos de nossa vida, exemplificando isso temos que: “A educação participa do processo
de produção de crenças e idéias, de qualificações e especialidades que envolvem as trocas de
símbolos, bens e poderes que, em conjunto, constroem tipos de sociedade”. (BRANDÃO,
1995, p. 11). Podemos ter um choque nesse momento, porém o que devemos entender é que a
educação é algo como que nos deparamos desde nosso nascimento à nossa interação com a
sociedade.
Agora que apresentamos com traços gerais algumas características do conceito de
educação, percebemos que ela não está apenas nas salas de aula, achamos pertinente
apresentar o conceito por qual parte esta pesquisa, seguimos a argumentação apresentada por
Nildo Viana (2004) de que: “o processo de educação é o livre processo de desenvolvimento
das potencialidades humanas, da sociabilidade”. (VIANA, 2004, p. 555). Quando falamos de
potencialidades não queremos delimitar, o físico ou o mental, pelo contrário, pressupomos um
desenvolvimento por igual, não fragmentado.
No momento histórico que procedemos nossas pesquisas não vemos a educação como
um „livre processo‟ uma vez que temos as diretrizes sociais do Brasil marcadas pela
influência industrial, assim de livre, a educação passa para algo manipulado, moldado com
objetivo de cumprir com as demandas do mercado de trabalho, baseada em uma especide de
jogos de interesse. A idéia de que com a educação chega-se a um nível social de igualdade,
como nos traz Jorge Nagle (2000), ainda prevaleceu na Era Vargas, no entanto essa idéia
assumiu contornos ideológicos mais fortes, que abraçou para si, de acordo com Ângela de
Castro Gomes (1999), a imagem do trabalhador, como um dos responsáveis pelo
desenvolvimento social do país, como um dos principais sujeitos que livraria a nação do
atraso.
Para compreendermos como se dá essa disseminação ideológica, primeiro temos de
entender o significado desse conceito, no entanto levando em consideração que ele é discutido
por vários autores, escolhemos um que nos traz de forma simples e objetiva seu significado.
Marilena Chauí diz que:
A ideologia consiste precisamente na transformação das idéias da classe
dominante em idéias dominantes para a sociedade como um todo, de modo
que a classe que domina no plano material (econômico, social e político)
também domina no plano espiritual (idéias). (CHAUI, 2006, p. 85).
A educação é tida aqui como o carro chefe das transformações sociais, que, no entanto
é transmitida através da visão da classe dominante que por sua vez, impõe suas necessidades à
classe dominada. Enquanto o cidadão acredita estar contribuindo com o desenvolvimento
social de seu país ele apenas contribui, ou melhor, segue conforme o planejado, ou esperado
pela classe dominante.
Notamos que com toda a influência da educação, presente no meio individual quanto
no coletivo, obedecemos a certos padrões e atitudes, estas que são impostas pela nossa
formação em um meio social e, que neste caso, nas mãos do Estado servem para
ideologicamente reprimir alguns atos e reforçar outros na consciência dos indivíduos, visando
a objetivação de seus ideais capitalistas. Assim temos a possibilidade de visualizarmos como
poderia se dar a relação de educação e indústria na Era Vargas, e mais que isso a importância
de ambas na formação humana do período.
Passando a analisar de forma mais atenciosa a Era Vargas e sua relação com a
educação, encontramos uma passagem do porque ser a educação algo de fundamental
importância para a concretização das idéias que posteriormente seriam divulgadas nesse
estado. Sabemos de um fato, claro, quando estudamos esse período. Com a Revolução de
1930, julga-se que o Brasil rompe com as influências diretas das grandes oligarquias,
caminhando rumo à industrialização (principalmente quando colocamos em questão a
instauração do Estado Novo), havendo essa ruptura, há a necessidade de formação de homens
especializados para o novo ramo profissional de se propaga no país nesse momento, assim
como nos diz Luiz Carlos Bento (2009), para acompanhar essa nova diretriz social brasileira
que se iniciava seria necessário um novo homem.
Essa grande guinada educacional no Brasil ocorre, principalmente após a instauração
do Estado Novo (1937), como nos diz Helena Bomeny (1999):
Em sentido especial, a educação talvez seja uma das traduções mais fieis
daquilo que o Estado Novo pretendeu no Brasil. Formar um “homem novo”
para um Estado Novo, conformar mentalidades e criar o sentimento de
brasilidade, fortalecer a identidade do trabalhador, ou por outro, forjar uma
identidade positiva no trabalhador brasileiro, tudo isso fazia parte de um
grande empreendimento cultural e político para o sucesso do qual contava-se
estrategicamente com a educação por sua capacidade universalmente
reconhecida de socializar os indivíduos aos valores que as sociedades,
através de seus segmentos organizados, querem ver internalizados.
(BOMENY, 1999, p. 139).
Observamos aqui que a Era Vargas, com ênfase o Estado Novo conseguiu articular as
demandas de mão de obra especializada, ao passo que atendia, ideologicamente, as
necessidades do trabalhador, ao mesmo tempo em que dava início ao seu grande projeto de
formação de um homem novo, que fosse próprio para esse momento histórico.
A respeito de questões educacionais e industriais Luiz Antonio Cunha (1980), diz que:
“o Estado Novo assumiu a industrialização como meta, e é provável que essa opção tenha
determinado (ou, pelo menos, reforçado) a sua preocupação com a qualificação com a força
de trabalho” (CUNHA, 1980, p. 449). Isso não foi só, partindo de suas bases autoritárias, ele
não pretendeu apenas formar um homem ideal para o trabalho, acima de tudo, a educação
tinha mais funções do que desenvolver as potencialidades do homem, de acordo com Cunha
(1980):
Permeava as medidas tomadas a partir de 1937, em continuidade com a
política educacional autoritária desencadeadora em 1930, o objetivo da
burocracia do Estado de utilizar o sistema escolar como mecanismo de
difusão ideológica, de modo a não só inculcar a ideologia que o legitimava
para, também, impedir que surgisse ideologias alternativas. (CUNHA, 1980,
p. 464).
Uma das percepções que temos da Era Vargas, era que tal momento, levando em
consideração a conjuntura social do período, necessitava de um homem que fosse altamente
dócil, uma vez que a atual situação de repressão, violência e censura eram constantes a partir
da instauração do Estado Novo. E como vimos acima uma das formas mais eficazes de se
garantir essa formação humana começava na Escola, esta sendo transformada em um veículo
de difusão ideológica.
Compreendendo o período, suas perspectivas políticas e econômicas, percebemos que
havia “A necessidade de formar um “novo homem”, adaptado ao espaço urbano e portador de
um saber técnico-científico, visava suprir as novas necessidades advindas do processo de
modernização”. (BENTO, 2009, p. 14), podemos afirmar que a educação passava por algumas
mudanças paradigmáticas. Sua característica de formação humana teria algumas mudanças,
onde as tendências industriais ficaram mais fortes, principalmente quando temos em pauta a
imagem do trabalhador.
Não podemos ser ingênuos de pensar que essa estratégia de juntar a educação e a
industrialização se dá de uma hora à outra. Como sabemos a educação não é um processo de
ocorre rapidamente, mas há passos lentos, mas contínuos. Assim foram inauguradas, de
acordo com Cunha (1980) instituições que ficaram responsáveis por essa nova tendência de
ensino, que focou, com ênfase os empregados de fabricas, assim como seus filhos, estes tidos
como futuros empregados, como foi o caso do Serviço de Ensino e Seleção Profissional
(SESP)1. Para compreendermos o que era mais focado nessas instituições Cunha nos diz que:
O SESP oferecia um curso de ferroviário, com quatro anos de duração, para
as seguintes especialidades: ajustador, torneiro-fresador, caldeireiro,
caldeireiro-ferreiro, ferreiro, eletricista, operador mecânico. Um curso de
aperfeiçoamento para o pessoal das oficinas, compreendendo disciplinas
como português, matemática, desenho técnico, higiene, prevenção de
acidentes e outras. Um curso de tração, para foguistas e maquinistas. Um
curso de telegrafo e iluminação, para os aprendizes que já possuem
formação profissional mecânica equivalente à terceira série do curso de
ferroviários, completando-a com mais um ano de aprendizagem. Um curso
de tráfego, visando à especialização do pessoal dos departamentos de
movimento e telégrafo, ensinando desenho e matemática. (CUNHA, 1980, p.
447).
1
Sobre essa instituição Cunha (1980) diz que se diferenciava de outras instituições divido, sua „clientela‟
ser restrita à filhos de trabalhadores, principalmente os ferroviários. Assim seus cursos eram, principalmente,
preparatórios para o trabalho nas Estadas de Ferro, uma vez que segundo o autor esta era muito visada no Brasil
neste momento.
Aqui não pretendemos criticar essa instituição por oferecer aos operários tais cursos e
especializações que permitissem há esses um aperfeiçoamento de seus serviços nas fabricas.
No entanto devemos perceber, conforme a citação, que as disciplinas ministradas nos cursos
eram as exatas, ou seja, a tendência de especialização técnica em áreas matemáticas eram
maiores2. Como podemos ver não encontramos disciplinas como sociologia, história e
filosofia, que atuam de forma crítica, despertando a consciência do indivíduo. Então podemos
ver que a formação humana em tais instituições era parcial, ou seja, eram moldas conforme as
necessidades, não abrindo margem para outra disciplina que não fosse utilizada no trabalho.
Então, o projeto educacional em pauta nesse momento visava uma ascensão e
necessidade de desenvolvimento da mão de obra especializada para suprir a demanda do
mercado de trabalho, enquanto do outro lado acentuava uma estagnação do desenvolvimento
da consciência crítica dos indivíduos, uma visão que fosse capaz de fazê-los perceber as
contradições dentro do próprio sistema educacional e até mesmo com a própria composição
do Estado Novo e de seu cotidiano.
Dentro da reflexão em que se pauta nossa discussão observamos que conceitos já
discutidos como educação, ideologia e industrialização se juntam no Estado Novo e se
mesclam em uma mesma ação que visa reproduzir e legitimar o discurso dominante. Assim
comportamentos sociais, visões de mundo e de justiça foram reorganizados ideologicamente
pelo Estado, uma vez que de acordo com Boris Fausto (2003), o Estado Novo foi a
concentração dos poderes centralizadores no Brasil,
e que frente a seu comportamento
apresentou facetas de progresso e bem estar social.
Ao longo deste artigo compreendemos que a educação do ponto de vista conceitual
deve ser analisada a partir de uma compreensão e reflexão sobre espaço e tempo, bem como
as necessidades políticas, no bojo da sociedade, já que conforme vemos em Niskier (1992) as
tendências sócias, necessidades e os próprios objetivos podem alterar os paradigmas
educacionais. Aqui nos surpreendemos com o campo de sua atuação, uma vez que quando
rompemos com o senso comum vemos que ela se encontra presente em todos os momentos de
nossa vida.
Dessa forma, momentaneamente, findamos nossas discussões entendendo, após
análise de nosso quadro bibliográfico, que a educação durante a Era Vargas foi o carro chefe
de uma série de transformações por qual a sociedade brasileira passava, como por exemplo, o
2
Referente ao trecho supracitado cunha ainda nos diz que: “Foram criadas as escolas técnicas
secundarias para oferecer, além dos cursos secundários – equiparados aos federais, seguindo currículos
estipulados pelo Ministério da Educação –, cursos exclusivamente industriais e comerciais.” (CUNHA, 1980, P.
445).
processo de expansão industrial, e em decorrência a urbanização. Em um período conturbado
por crises econômicas, políticas a educação serviu como forma de propagar os ideais de um
Novo Estado que esperava, ou melhor, necessita de um Novo Homem e até mais que isso, ela
forneceu as ferramentas para poder, com êxito, construir as bases desse Estado.
Através das estratégias do Estado, juntamente com a prestação da Educação como
forma de disseminação ideológica, temos na Era Vargas, de forma implícita a execução de um
projeto de formação humana que através dos anos deu as bases para a construção da fôrma na
qual seria feito o Novo Homem. Pensando agora no termino do artigo, cada esfera social, de
certa forma, tendera a buscar uma parcela nessa formação humana, no entanto nesta pesquisa,
e em nossa atual condição nos pautamos apenas em pensar as contribuições educacionais na
execução desse projeto. Pensar as possibilidades de atuação de outras instâncias sociais para a
formação humana deve se realizada em outra pesquisa, com mais maturidade de idéias.
Como nos diz Wilson de Sousa Gomes (2010), a educação além de um caráter de
libertação social e elevação intelectual, por outro lado também tem a capacidade de fazer o
oposto. Aqui ousamos dizer que ao invés de libertação mental e elevação social a educação,
manipulada pelo Estado, se dedicou a aprisionar os indivíduos no senso comum, a cada vez
ficava evidente as diferenças de ensino, até pela criação das Escolas e Instituições (como o
SESP) que ministravam cursos técnicos formando assim um Homem Unilateral, limitado
socialmente, próprio de uma educação capitalista.
O Homem Omnilateral a que Viana (2004) se refere em seu texto, foi eliminado dos
paradigmas educacionais brasileiro da década de 1930 a 1945. A idéia de um homem
completo com pleno desenvolvimento em aspectos intelectuais e manuais foi barrada, por um
Estado Autoritário que o privou do desenvolvimento de varias potencialidades,
proporcionando-lhe uma formação
incompleta. Aprisionado por
jaulas
invisíveis,
paulatinamente surgia um homem intelectualmente limitado, apto a sobreviver em uma
sociedade marcada por desigualdades e censuras onde este se vê como um cidadão feliz e
presente no desenvolvimento social do país.
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