relações conflituosas no ambiente familiar: um desafio para a

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA
4ª Semana do Servidor e 5ª Semana Acadêmica
2008 – UFU 30 anos
RELAÇÕES CONFLITUOSAS NO AMBIENTE FAMILIAR: UM DESAFIO
PARA A ESCOLA NA FORMAÇÃO DA CRIANÇA
Luciana Maria de Souza Pereira1
Instituição: Faculdade Católica de Uberlândia. Rua Padre Pio, 300. Bairro: Martins. Uberlândia – MG.
E-mail: [email protected]
Resumo: A conclusão desse artigo reúne os resultados de pesquisas realizadas durante o último
ano do curso de Pedagogia, cursado na Faculdade Católica de Uberlândia, e entregue como
Trabalho de Conclusão de Curso à disciplina Pesquisa e Prática Pedagógica VI. O artigo destaca
algumas transformações que ocorreram na sociedade do século XX, que afetaram direta e
indiretamente as relações familiares. Problemas sociais como alcoolismo, drogas e prostituição
foram incluídos no ambiente familiar, resultando em dificuldades de relacionamentos entre pais e
filhos. Pensar no conceito de família inclui discussões sobre educação e formação de cidadãos com
valores étnicos para viver em sociedade. Percebe-se que muitos pais não estão impondo os limites
necessários às crianças, deixando-as tomar suas próprias decisões e conseguir o que desejam por
chantagens. A falta de tempo dos pais acaba distanciando os laços de afinidade e carinho, pois
estes pensam que vão suprir essa ausência com bens materiais. Além disso, a família vem
eximindo-se de sua responsabilidade na educação das crianças, entregando-a totalmente à
instituição escolar. Com tantos problemas vivenciados no contexto familiar, essas crianças chegam
à escola com bagagens cheias de conflitos e particularidades. Por isso é imprescindível que o
educador compreenda a realidade do aluno e busque alternativas para desenvolver atividades que
atinjam essas diversidades, para que assim, obtenha um resultado positivo no processo de ensinoaprendizagem de todos os alunos, sem exceção. O diálogo entre professor-aluno e escola-família
precisa ser revigorado, para que juntos possam construir uma educação de qualidade para as
crianças que estão sendo inseridas nessa sociedade contemporânea, imersa de conflitos e
diversidades.
Palavras – chave: relações familiares, escola e família, processo ensino-aprendizagem.
O termo “família” é derivado do latim famulus, que significa “escravo doméstico”. Este
termo foi criado na Roma Antiga para designar um novo grupo social que surgiu entre as tribos
latinas, ao serem introduzidas à agricultura e também à escravidão legalizada. Na concepção
tradicional, a família é constituída de pais e filhos, ou, em termos mais abrangentes, incluindo
também parentes próximos. Segundo Castells (1999, p. 169), a principal transformação que está
ocorrendo na família é o fim do patriarcalismo, que "caracteriza-se pela autoridade, imposta
institucionalmente, do homem sobre a mulher e os filhos no âmbito familiar”.
O desenvolvimento do capitalismo na Idade Moderna afetou as relações familiares e
interpessoais em toda parte. Várias famílias migraram da zona rural para as cidades em busca de
emprego nas indústrias que surgiram a partir da Revolução Industrial. Com o aumento significativo
da mão de obra disponível no mercado de trabalho, os empresários, que visavam somente o lucro,
diminuíram os salários dos funcionários e aumentaram a carga horária, obrigando-os a realizarem
uma dupla jornada de trabalho. É a partir dessa época que os trabalhadores começam a enfrentar
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Graduada no curso de Pedagogia, pela Faculdade Católica de Uberlândia, em dezembro de 2007.
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problemas sociais como o desemprego, baixos salários, péssimas condições de trabalho e acidentes
nas máquinas.
A família vem-se transformando através dos tempos, acompanhando as mudanças religiosas,
econômicas e sócio-culturais tendo em vista o contexto em que se encontram inseridas. A partir do
século XX, novas estruturas familiares vêm se constituindo no Ocidente: por exemplo, mães
solteiras e seus filhos; pais com filhos adotivos; famílias formadas por casais que já tiveram outros
casamentos com filhos e decidiram ter outros filhos oriundos da nova união. Temos ainda famílias
formadas por um casal e um animal de estimação; avós ou tios criando netos; “produções
independentes” e também, casais homossexuais que lutam para adotar uma criança e formar assim,
uma família.
Com essas mudanças dramáticas acontecendo no mercado de trabalho, a mulher, que sempre
foi representada como dona do lar, mãe, esposa e educadora dos filhos sentiu a necessidade de
exercer alguma atividade fora do ambiente familiar para ajudar no orçamento. Essa auto afirmação
da mulher, fez com que movimentos feministas começassem a surgir com a finalidade de superar as
desigualdades e injustiças sociais. Conforme explica Almeida:
[...] o século XX foi também o período em que se iniciaram os primeiros movimentos pela
liberação feminina. No rastro das reivindicações e conquistas femininas, movimentos
emergentes, que tinham em sua agenda superação das desigualdades e injustiças sociais,
organizaram-se em objetivos comuns, buscando principalmente retirar da invisibilidade
segmentos sociais até então, acobertados pelo manto da ignorância e preconceito, em busca
do reconhecimento e, por conseqüência, de um mundo mais humanizado. (ALMEIDA,
2004, p. 62-63)
A crise econômica obrigou as famílias a repensarem e reformularem suas estratégias de vida,
sobretudo no que concerne à obtenção dos rendimentos, tendo em vista fugir o máximo possível do
impacto da recessão, do desemprego e da perda do seu poder aquisitivo. Em busca de melhores
condições de vida para a família, pais e mães se viram compelidos há dedicar mais tempo ao
trabalho, delegando assim, a responsabilidade de cuidar e educar dos filhos, aos parentes próximos,
por exemplo, avós e tios. Em outros casos, os pais foram obrigados a recorrer às instituições
especiais voltadas para o cuidado e educação das crianças, como creches, pré-escolas e escolas de
tempo integral.
Conseqüentemente, vivemos hoje em uma sociedade em que boa parte das crianças, sentem
a ausência prolongada da figura materna e paterna, pois precisam, principalmente nos primeiros
anos de vida, da atenção e carinho dos pais. Infelizmente, o que acontece com freqüência é a falta
de paciência com as crianças, que é justificado pelo cansaço e estresse do dia – a – dia. É necessário
que os pais aprendam a dedicar um tempo para brincar, pois essa atividade é fundamental no
aprendizado e crescimento da infância. Ao observar uma criança brincando, o adulto pode
compreender como ela vê e constrói o mundo, como ela gostaria que ele fosse o que a preocupa e os
problemas que a cercam. Através do brincar, ela pode desenvolver sua coordenação motora, suas
habilidades visuais e auditivas, seu raciocínio criativo e sua inteligência. Está comprovado que a
criança que não tem muitas oportunidades de brincar e com quem os pais raramente brincam sofrem
bloqueios e rupturas em seus processos mentais.
Vygotski (1988) indica a relevância de brinquedos e brincadeiras como indispensáveis para
a criação da situação imaginária. Para o autor, o imaginário só se desenvolve quando se dispõe de
experiências que se reorganizam.
“A riqueza dos contos, lendas e o acervo de brincadeiras constituirão o banco de
dados de imagens culturais utilizados nas situações interativas. Dispor de tais imagens é
fundamental para instrumentalizar a criança para a construção do conhecimento e sua
socialização. Ao brincar a criança movimenta-se em busca de parceria e na exploração de
objetos; comunica-se com seus pares; se expressa através de múltiplas linguagens; descobre
regras e toma decisões.” (VIGOTSKI, 1988, p. 80)
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Para compensar a ausência do lar, os pais buscam muitas vezes presentear os filhos com
brinquedos, computadores, vídeo-game e televisão. Com isso a criança começa a pedir o que deseja
para seus pais, pois sabem que esses se sentem culpados pela ausência prolongada. Além disso, essa
é uma ótima oportunidade para deixá-las entretidas com os brinquedos e para que as mesmas não
fiquem solicitando atenção. Mas esse acesso rápido às informações e uso exagerado dos meios de
comunicação faz com que a criança tenha dificuldade de se relacionar e assim se torne a cada dia,
mais individualista.
Outro aspecto visível na sociedade atualmente, citado por Bastos (1988) é o uso abusivo dos
meios eletrônicos que contém jogos violentos. Esses estão sendo utilizados, exageradamente, pelas
crianças, que se sentem livres para brincar, pois a presença dos pais para limitar o tempo, em muitos
casos, não existe. Para as crianças, esses suportes tecnológicos se constituem em espaços de
elaboração de conflitos, medos e angústias, mas também na criação de novos espaços de
sociabilidade, prazer, divertimento e aprendizagem. Tais suportes compreendem assim meios para
elas lidarem com a sua subjetividade. Os jogos eletrônicos no cotidiano das crianças podem
influenciar em possíveis implicações de um comportamento “violento”, que supostamente poderia
refletir nos ambientes sociais e, principalmente, na escola.
Uma das dificuldades que os pais enfrentam atualmente, diz respeito à imposição de limites
aos filhos, e um dos responsáveis por isso são os meios de comunicação que por entreterem,
informarem e propagarem produtos, imagens e idéias, acabam influenciando regras e modos de agir
e de pensar, redefinindo – entre outras coisas – o tempo e o espaço do saber e do conhecimento. O
simples fato de dizer, “É para assistir televisão somente até determinado horário” ou “Não é para
brincar no computador hoje” é muito fácil, mas o difícil é a criança obedecer, pois ficam em casa
sozinhos, sem nenhum adulto para acompanhá-las.
Por isso é fundamental que os pais comecem a impor limites e regras desde os primeiros
anos de vida, para que a criança aprenda que tudo tem seu horário, que não se deve realizar as
atividades quando tem vontade e sim quando pode. É preciso aprender a respeitar a autoridade dos
pais, para que mesmo sozinhas, obedeçam às regras e façam as tarefas que foram solicitadas pelos
adultos. É fundamental que uma criança cresça em um ambiente cheio de harmonia, paz e carinho,
onde haja cooperação, solidariedade e principalmente diálogo, para que assim cada membro
compreenda as opiniões do outro e aprenda a respeitá-las. O adulto não pode querer que a criança
sempre ouça tudo e não diga nada, pois ela precisa expor sua opinião, o que se torna importante
para que aprenda a se relacionar com as outras pessoas. É importante para a personalidade futura de
uma criança, que ela tenha o sentimento de ser bem aceita e querida por seus pais.
Como o conceito de família sofreu modificações no decorrer dos anos, problemas sociais
também foram incluídos no âmbito familiar, resultando em dificuldades de relacionamentos entre
pais e filhos. A maior parte das famílias sofrem com o uso abusivo do álcool, com os malefícios de
uma substância que se assume como uma droga quando é consumida em excesso. A família pode
ser afetada pelo abuso do álcool quando ocorre uma carência econômico-social, ou seja, uma
desmotivação profissional ou desemprego ou perturbações relacionais e deterioração progressiva da
vida familiar.
O lar do doente alcoólico é simultaneamente um lar patogênico e patológico, com graves
repercussões sobre os restantes elementos, nomeadamente sobre os filhos. A instabilidade, a
insegurança e o ambiente tenso e conflituoso são características freqüentes no ambiente familiar do
doente alcoólico repercutindo negativamente no desenvolvimento das crianças que nele vivem e no
desenvolvimento de patologias depressivas nos adultos. Quando é o pai o doente, está
comprometida em termos psicológicos a identificação com essa figura de referência. Quando é a
mãe a doente, são freqüentes situações de carência de afeto e de cuidados, negligência e abandono.
Esse ambiente em que vivem os filhos dos doentes alcoólicos, em geral é responsável por muitas
patologias infantis, notadamente atrasos no desenvolvimento, dificuldades na aprendizagem,
perturbações no comportamento, insucesso escolar, abandono escolar, comportamentos desviantes e
desorientação social. Muitas crianças acabam assumindo a responsabilidade dos pais cuidando dos
irmãos e das tarefas domésticas, comprometendo assim a sua infância.
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Mas não é só o problema do alcoolismo que prejudica a. Existem também os casos de
prostituição, em que as mulheres engravidam de pais diferentes e sem saber o que fazer com o filho,
entrega para a adoção ou deixa em casa, literalmente abandonados, para continuar se prostituindo
em busca da sobrevivência ou por prazer. Nesses casos em que a criança é abandonada em casa e
permanece sozinha, sem nenhum acompanhamento de um adulto responsável, ela se torna alvo fácil
ao uso de entorpecentes, pois deixa de freqüentar a escola e começa a andar com “amigos
suspeitos” marginalizando-se e entrando em um mundo sem saída. A esse respeito, Weil afirma
que:
“[...] a maioria dos problemas de comportamento, tais como a ausência de atenção,
brutalidade ou instabilidade, são causados pela conduta e pelas atitudes dos pais. Já é lugarcomum a afirmação de que há mais “pais problemas” do que “filhos problemas.” (WEIL,
1969, p.63)
Infelizmente, essa realidade é vivenciada por várias crianças no Brasil. Entretanto, não são
somente as crianças oriundas das camadas populares ou vítimas da pobreza que entram no mundo
das drogas. A ausência dos pais também é freqüente nas famílias de classe média e alta, mas nesses
casos, as crianças têm várias opções de atividades para desenvolverem ao longo da semana. Mesmo
ocupadas com atividades diversas, à aproximação com drogas e ‘maus elementos’ são constantes,
pois essas crianças e adolescentes se sentem frustrados com a vida que levam sem a convivência
dos pais.
Outro problema social que afeta as famílias brasileiras de baixa renda é o analfabetismo. No
total são 15 milhões de brasileiros que não sabem ler e escrever. Pais analfabetos ou com
escolaridade até a 4ª série não conseguem acompanhar o desenvolvimento da criança na escola, pois
ficam envergonhados de não terem o conhecimento acadêmico para ajudar os filhos nas tarefas
escolares. Com isso, a família se isola e não demonstra preocupação em relação ao comportamento
da criança na escola e nem no seu desenvolvimento. Conforme ressalta Kaloustian,
“Na idade escolar a participação dos pais na escola e no processo de aprendizagem da
criança é importante para evitar a evasão. O estímulo, a expectativa positiva e o interesse
pelo que a criança realiza têm um papel muito significativo.” (KALOUSTIAN, 1994, p. 70)
É fundamental que a família mantenha uma relação de interação com a escola e esteja ciente
do desenvolvimento da criança com as disciplinas aplicadas e como é o comportamento do filho
com a escola, os colegas e os funcionários. Quando a família acompanha os passos da criança, essa
se sente valorizada e busca melhorar em todos os aspectos, tanto na escola quanto na vida familiar.
Infelizmente, o que vivenciamos é um distanciamento da família perante a escola. Certos pais
parecem querer eximir-se de toda responsabilidade pela educação dos filhos, a partir do momento
em que os deixam na porta da escola, designando-a responsável pela educação e cuidado da criança.
Esse é o maior erro que a família comete, pois a criança se sente abandonada e começa a fazer
algumas travessuras para chamar atenção. Como a família não tem paciência para conversar e
buscar entender o motivo pelo qual a criança tem determinada atitude acaba repreendendo-a com
tapas e chineladas. Quanto mais a criança apanha em casa, mais ela bate nos colegas e professores
na escola se tornando-se crianças desobedientes e agressivas.
Nas últimas décadas, o índice de violência e criminalidade envolvendo crianças e
adolescentes aumentam a cada dia. O noticiário, as manchetes de jornais e revistas exibem a
violência cometida contra crianças, onde os principais acusados são os próprios pais. Com tanta
rivalidade entre os membros da família, os filhos também estão se revoltando, matam pai, mãe,
avós, tios, somente para obter dinheiro para comprar drogas. Essa realidade existe independente da
classe econômica.
Atitudes como essas, são difíceis de serem contidas somente pelos profissionais da escola,
por isso é fundamental que a família participe de todas as reuniões, da Associação de Pais e
Mestres, do Conselho de Escola, das festas comemorativas e das convocações que são realizadas.
Mas por várias justificativas, a família não comparece às convocações da escola e com isso o
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comportamento da criança se torna mais difícil dentro e fora da instituição escolar. Quando a
família percebe algumas atitudes diferentes que estão sendo executadas pela criança dentro de casa,
como falta de paciência, agressividade física e na voz, começam a questionar o trabalho
desenvolvido pelos professores. Assim, responsabilizam a escola por não buscar alternativas para
melhorar a má conduta da criança no ambiente escolar.
A esse respeito, Lins afirma que “Os pais deveriam cobrar mais dos filhos, dos professores e
da escola, participando mais, envolvendo-se mais e não deixando toda a responsabilidade por conta
da escola, como tem acontecido”. (LINS, 1984, p.102)
Um aspecto relevante no desenvolvimento da criança no âmbito escolar é a importância da
afinidade entre pais e filhos. Em muitas famílias os pais não sabem lidar com as crianças, às vezes
porque são filhos indesejados, que vieram em um momento de crise sócio-econômica, ou em outros
casos, em que os pais receberam a notícia da gravidez quando eram muito jovens, ou simplesmente
por não terem simpatia por crianças. Por esses e outros motivos, as famílias não conseguem lidar
com os problemas que começam a surgir envolvendo o filho na escola e na vida social.
A presença dos pais é um indicador positivo para o rendimento acadêmico, adaptação
escolar e sucesso do aluno. Para Lins:
“A criança precisa sentir a presença dos pais em sua vida para com eles compartilhar
sonhos, ansiedades, buscas, dúvidas, perguntas, respostas, descobertas, invenções,
construções e reconstruções que lhe proporcionarão o conhecimento do mundo e o
desenvolvimento de todas as suas possibilidades para que sua vida adulta seja pautada por
condutas que expressem um atingimento de um alto nível de formação intelectual e moral.”
(LINS, 1984, p. 83)
É imprescindível que a família mantenha uma relação de confiança com os profissionais da
escola e juntos busquem alternativas para melhorar o desempenho e o comportamento do aluno.
Quando os pais são desinteressados, a situação fica mais difícil para os educadores, pois nos casos
em que a criança possui algum distúrbio ou dificuldade de aprendizado, somente os pais poderão
buscar ajuda de um especialista.
Quando não existe a participação da família, a escola busca todos os métodos possíveis para
ajudar o aluno. De acordo com as considerações de Maldonado, “Seja qual for o problema, os
interesses da criança só serão bem servidos, quando os pais e a escola conjugarem seus esforços
para solvê-lo.” (MALDONADO, 1989, p. 33)
O contato diário da criança com os professores, colegas e o ambiente escolar proporciona
momentos diferentes e agradáveis, que precisam ser expostos para a família. Pais conscientes dessa
importância acompanham o relato da criança e procuram incentivá-las a continuar experimentando
momentos diferentes e prazerosos dentro da escola. Essa preocupação em ouvir a criança é
determinante no processo de ensino-aprendizagem, pois a criança que é ouvida terá um
comportamento diferenciado na escola, buscando compreender o que o educador diz para interagir
facilmente com as disciplinas aplicadas.
Para chamar a atenção do professor, alguns alunos adquirem comportamentos inadequados
na sala de aula, como: andar pela sala o tempo todo, conversar com os colegas, falar alto e agredir
fisicamente e verbalmente os professores e colegas. Essa criança busca atenção só para falar e ser
ouvida. Atitudes como essas demonstram que por mais que a vida dos pais seja repleta de
compromissos profissionais, esses precisam dedicar uma pequena parte do dia para ouvi-las,
discutir sobre os últimos acontecimentos e os momentos que foram considerados, por elas, como
importantes. Instigar a criança a refletir e criticar alguns acontecimentos, momentos ou informações
que receberam ou ouviram, também é importante para desenvolver a auto-crítica.
Estabelecer um relacionamento de amor e cumplicidade entre os membros da família
contribuem para o desenvolvimento da criança na escola, deixando a instituição escolar responsável
apenas por instruir no aprendizado de disciplinas e no relacionamento interpessoal.
Os problemas sociais destacados acima são vivenciados no âmbito familiar e repercutidos
para dentro da sala de aula. Infelizmente, por não estarem preparados para lidar com esses
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problemas ou por não conhecerem a realidade do aluno, os professores acabam rotulando-os como
custosos, desobedientes, mal educados, e muitas vezes como “burros”, quando apresentam alguma
dificuldade no aprendizado. No ambiente escolar é preciso que os educadores compreendam que
cada aluno é único e possui suas particularidades e dificuldades.
Por isso, para que haja uma confiança na relação professor-aluno, o diálogo é fundamental.
Freire ressalta que “o diálogo é um encontro no qual a reflexão e a ação, inseparáveis daqueles que
dialogam, orienta-se para o mundo que é preciso transformar e humanizar” (FREIRE, 1980, p.23).
Este é o primeiro passo para que seja possível iniciar qualquer processo de mudança, pois a
confiança entre educador e educando é primordial.
A atitude do professor em sala de aula é importante para criar climas de atenção e
concentração, sem que se perca a alegria. As atividades pedagógicas aplicadas no grupo, tanto
podem inibir o aluno quanto fazer que atue de maneira indisciplinada. Portanto, o papel do
professor é o de mediador e facilitador; que interage com os alunos na construção do saber. Neste
sentido, é muito importante que a equipe pedagógica da escola ajude os professores, a saber,
ensinar, garantindo assim, que todos os alunos possam aprender e desenvolver seu raciocínio.
O clima emocional da sala de aula é determinado pelo relacionamento entre professor –
aluno. Esse clima poderá ser positivo, de apoio ao aluno, quando o relacionamento é afetuoso e
cordial. Neste caso o aluno sente segurança, não teme a crítica e a censura do professor. Seu nível
de ansiedade mantém-se baixo e ele pode trabalhar descontraído, criar e render mais
intelectualmente. Porém, se o aluno teme constantemente a crítica e a censura do professor, se o
relacionamento entre eles é permeado de hostilidade e contraste, a atmosfera da sala de aula é
negativa. Neste caso há o aumento da ansiedade do aluno, com repercussões físicas, diminuindo sua
capacidade de percepção, raciocínio e criatividade.
O professor precisa ter sempre em mente que o aluno é um ser humano comum, com altos e
baixos, com medos, problemas, aspirações e desejos a realizar. É capaz de pensar, refletir, discutir,
ter opiniões, participar, decidir o que quer e o que não quer. O aluno é gente, é ser humano, assim
como o professor. Por isso, é importante que o professor conheça a realidade e as particularidades
de cada aluno, para que não haja rotulações e nem pré-conceitos. A participação conjunta da escola,
da família, do aluno e dos profissionais é fundamental para a construção de uma educação crítica e
humanizada. Freire afirma que:
“Somente uma outra maneira de agir e de pensar pode levar-nos a viver uma outra
educação que não seja mais o monopólio da instituição escolar e de seus professores, mas
sim uma atividade permanente, assumida por todos os membros de cada comunidade e
associada de todas as dimensões da vida cotidiana de seus membros.” (FREIRE, 1980, p.
117)
A educação passa por mais um período de transição, talvez o mais importante, na qual a
sociedade civil insere-se no contexto escolar lutando por uma educação inclusiva, digna e de
qualidade a todos que a ela não tiveram acesso, informando e esclarecendo-se sobre todos os
direitos e deveres que compete ao cidadão.
Sendo assim, compete à escola, ao professor e a toda comunidade escolar mediar estas
relações, proporcionando permanência com sucesso, resgatando a auto-estima, permitindo – lhes
avançar na construção do conhecimento e integrando–o com seus pares, socializando para a turma
que todos possuem a capacidade de aprender, podendo ocorrer em qualquer tempo do ciclo da vida
do indivíduo. Conforme Harper:
“De fato, pouco a pouco, as coisas se movem, se evoluem, se transformam. A escola –
como a fábrica, como a família, como o hospital, como a sociedade toda – não existe como
uma coisa fixa, parada, imutável. A escola de hoje, apesar de todos os seus defeitos e
deformações, não é mais a mesma de há 10, 20, 50 anos atrás. Ela não é estática nem
intocável.” (HARPER, 1985, p. 107)
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A escola não sendo uma instituição estática nem intocável, pode ser reconstruída, em todos
os aspectos, com a união de toda a sociedade. Os ajustes que devem ser feitos vão contribuir para
ensinar o aluno a viver em uma sociedade conflituosa e com todos os problemas sociais, políticos e
econômicos. Para contribuir na formação de crianças críticas, é preciso incluir o lazer, a cultura e a
diversidade. É necessário modificar a realidade vivida por várias crianças do país, levar mais
conhecimento e diversão. Para isso, a união entre a escola, a comunidade e principalmente a família
é fundamental. Manter relações de amor, atenção e carinho em todos os ambientes freqüentados
pela criança é a contribuição do adulto pela valorização do ser, a busca por um ideal de paz e
tranqüilidade, para um crescimento sem conflitos e angústias.
Referências
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