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Introdução
A economia global manteve-se em trajetória de expansão moderada em 2015, a despeito
do arrefecimento registrado no final do período. As economias dos Estados Unidos da
América (EUA) e do Reino Unido apresentaram maior dinamismo do que as demais
economias maduras, registrando-se persistência da retomada progressiva da atividade
na Área do Euro e manutenção de resultados negativos na economia do Japão. Entre
as principais economias emergentes, ressalte-se o desempenho favorável da Índia,
contrastando com a continuidade da desaceleração na China e com os desempenhos
inferiores aos esperados nas economias da Rússia, Brasil e África do Sul, entre outras.
As incertezas associadas ao início e ao ritmo do processo de normalização da política
monetária nos EUA, a deterioração das perspectivas de crescimento global, o declínio
nos preços de commodities, o risco de materialização de cenário deflacionário em
economias maduras e as turbulências nos mercados cambial e acionário na China
traduziram-se em valorização do dólar e aumento da aversão ao risco nos mercados
financeiros, com impactos adversos sobre a precificação de ativos, em especial das
economias emergentes.
Nesse ambiente, em que a maior robustez da atividade nos EUA foi determinante para que
o Fed iniciasse o processo de normalização de sua política monetária; e as autoridades
monetárias da Área do Euro, Japão e China ampliaram o caráter expansionista de suas
respectivas políticas, confirmou-se a expectativa de crescente assincronismo na atuação
dos bancos centrais das principais economias.
No Brasil, os impactos adversos sobre a precificação de ativos mencionados anteriormente,
além dos efeitos da desaceleração do crescimento econômico da China – principal
parceiro comercial do Brasil – sobre preços de commodities com participação relevante
na pauta exportadora brasileira, e da redução da nota de crédito soberano do Brasil
por importantes agências de rating, repercutiram na trajetória da taxa de câmbio no
decorrer de 2015.
Nesse contexto, em que a taxa de câmbio nominal (venda) registrou desvalorização de
47,0% no ano, passando de R$2,6562/US$ , ao final de 2014, para RS$3,9048/US$ ,
ao final de 2015, o Banco Central atuou no mercado de câmbio com vistas a reduzir a
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volatilidade das cotações, garantir a fluidez do mercado e oferecer proteção cambial
aos agentes econômicos.
O novo patamar da taxa de câmbio, em ambiente de retração da demanda interna,
contribuiu para a redução significativa no deficit em transações correntes, que totalizou
US$58,9 bilhões (3,32% do Produto Interno Bruto – PIB) em 2015, comparativamente
a US$104,2 bilhões (4,31% do PIB), em 2014. Ressalte-se que esta redução repercutiu
a expressiva reversão do deficit comercial e os recuos nas despesas líquidas de serviços
e de renda primária.
Importante ressaltar que embora o cenário de aumento da aversão ao risco nos
mercados financeiros exercesse desdobramentos negativos sobre os fluxos de capitais
para as economias emergentes – a conta financeira do balanço de pagamentos do
Brasil apresentou, em 2015, captações líquidas inferiores às de 2014 -, o ingresso de
investimentos diretos no país manteve-se consistente no decorrer do ano, contribuindo
para que o balanço de pagamentos registrasse excedente de financiamento externo de
US$16,1 bilhões (-0,91% do PIB) no ano, ante necessidade de financiamento de US$7,3
bilhões (0,30% do PIB), em 2014. Nesse contexto, a variação de ativos de reservas
decorrente dos fluxos do balanço de pagamentos foi positiva em US$1,6 bilhões no
ano (US$10,8 bilhões em 2014).
A retração registada na atividade econômica em 2015 repercutiu, fundamentalmente,
os impactos negativos da crise de confiança dos agentes econômicos e do processo,
ainda em curso, de ajuste macroeconômico no país. Esse cenário foi intensificado pelos
recorrentes eventos não-econômicos observados no período recente.
Nesse ambiente, o PIB recuou 3,8% no ano, trajetória determinada pelos desempenhos
negativos da indústria e do setor de serviços, que detém maior participação na composição
do agregado. A agropecuária, evidenciando o impacto da safra de grãos recorde observada
no país, exerceu contribuição positiva para a evolução anual do PIB em 2015.
No âmbito dos componentes da demanda, a retração do consumo das famílias foi
compatível com os impactos da distensão do mercado de trabalho e do aumento da
inflação, enquanto o recuo, pelo segundo ano consecutivo, da Formação Bruta de Capital
Fixo (FBCF) evidenciou o recuo da confiança dos empresários do setor industrial no
cenário de incertezas quanto à trajetória das economias do país e mundial.
Relativamente às finanças públicas, o processo de ajuste macroeconômico em curso no
país implicou na adoção, no início do ano, de diversas medidas de contenção de despesas
e de recuperação da arrecadação de tributos. O impacto dessas medidas foi inferior aos
decorrentes da retração da atividade econômica e da determinação, pelo Tribunal de
Contas da União (TCU), de que a União realizasse pagamentos de passivos acumulados
junto a bancos federais oficiais e ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).
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Boletim do Banco Central do Brasil – Relatório Anual 2015
Essa combinação de fatores, entre outros, impediu o cumprimento da meta de superavit
primário estabelecida na Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2015. Assim, o setor público
registrou deficit primário de R$111,2 bilhões em 2015, representando 1,88% do PIB,
ante deficit de 0,58% do PIB no ano anterior. O aumento repercutiu os impactos da
elevação de 1,6 p.p. do PIB no deficit do Governo Central, da melhoria do resultado
dos governos regionais (-0,3 p.p.) e da estabilidade do resultado das empresas estatais.
Nesse cenário, os índices de preços ao consumidor aceleraram em 2015, evolução
associada, em grande parte, aos efeitos de dois importantes processos de ajustes de
preços relativos na economia – realinhamento dos preços domésticos em relação aos
internacionais e realinhamento dos preços administrados em relação aos livres. A
variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), atingiu 10,67%, situando-se
acima do intervalo estipulado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) no âmbito
do regime de metas para a inflação.
Introdução
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