chegada de um furacão, para o fato de que a crise se avizinha de

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Sexta-feira 23
DIÁRIO DO SENADO FEDERAL - SUPLEMENTO
chegada de um furacão, para o fato de que a crise se
avizinha de forma cada vez mais dramática, mas nós
não devemos abrir mão de entender a crise, como os
japoneses, muitas vezes, representam o conceito de
crise, não só pelo lado negativo, mas pela oportunidade
que a crise oferece, de a gente repensar o modelo. E
aí eu gostaria de saudar a iniciativa do próprio Japão,
que foi este ano gravemente atingido por um desastre ambiental. A primeira atitude política consequente
do governo japonês foi a de não só pedir desculpas à
sociedade, mas de fazer uma radical revisão de sua
matriz energética baseada na energia nuclear.
Sigamos com essa perspectiva japonesa para o
enfrentamento da desigualdade social. Então, os limites
de uma civilização estão colocados. Nós não podemos
deixar de aceitar essa provocação, sobre a qual vários intelectuais vêm se manifestando, principalmente
quando desnudam a face social da crise do capital.
A face social da crise do capital hoje coloca em risco
a sobrevida da civilização que nós convencionamos
chamar de civilização moderna. Está em risco o nosso
projeto ético, político, econômico e cultural.
Pode passar.
Quando isso acontece, de relacionarmos a crise
à sua face social, nós chegamos, então, ao conceito,
que não é de agora, já tem mais de dois séculos de
existência, no campo principalmente das políticas sociais, que é o conceito da questão social. Quando nós
tratamos a desigualdade do ponto de vista da interpelação da sociedade sobre o modelo de desenvolvimento que concentra muito mais do que distribui as
riquezas produzidas pela maioria da sociedade, nós
damos concretude, materializamos no espaço, como
mostram as imagens aí colocadas, nos rostos, enfim,
na indignação e na capacidade de ser sujeito dos movimentos sociais e questionar esse modelo.
Nós temos esforços da ciência – é interessante
isso – nessa linha de pensamento, de colocar a desigualdade do ponto de vista da concretude da questão
social. Eu gostaria de citar o exemplo do hoje Presidente
do Ipea, que está aqui representado pelo colega que
vai apresentar sua conferência, o Marcio Pochmann
liderou uma pesquisa interessante nesse sentido de
não subordinar mais os índices de aferição de desenvolvimento ao PIB, pensar índices que realmente
ampliem e mostrem a realidade concreta da questão
social, portanto da desigualdade social.
Então, a desigualdade social, no trabalho de Pochmann, entrou como um dos indicadores importantes para podermos visualizar no território, aí, no caso,
global, a gravidade da situação social do atual modelo
de desenvolvimento.
Dezembro de 2011
Vocês vejam aí, na escala de Marcio Pochmann,
as tonalidades avermelhadas, mais quentes, são as
piores indicadoras de desigualdade social. As tonalidades indo para o verde são as de melhores condições sociais.
Então, vejam que temos a maioria da população
mundial hoje – dois terços da humanidade, podemos
dizer – sob forte impacto e agravamento da questão
social.
E, na escala local, torna-se cada vez mais difícil
reproduzirmos a ideologia que procura tornar a cidade real, que é uma cidade, segundo Emília Maricato,
pesquisadora renomada da USP (Universidade de São
Paulo), invisível, ilegal e informal, por trás dos muros,
como a imagem representa. Está cada vez mais inabitável a relação que separa o 1% dos mais ricos da
porcentagem maior, que é a dos pobres da sociedade
brasileira.
Mas não é um caso isolado do Brasil, como vimos
na imagem anterior.
Na escala local, as relação sociais estão cada
vez mais subordinadas, nos retratos tirados, seja na
mobilidade desigual do espaço das cidades, seja no
desaparecimento de rios, seja no deslocamento violento
de grandes parcelas da população para situações cada
vez mais distantes das condições de habitabilidade.
O trabalho de Mike Davis, chamado Planeta Favela, é um excelente trabalho de demonstração da gravidade da situação global, que se revela no local, que
subordina o local que estamos chamando de “glocal”.
O xis do “glocal” é a ultrapassagem hoje, pela
população mundial urbanizada, da população anteriormente em condições rurais. Vejam o gráfico da
esquerda: a tendência da população rural é cada vez
mais diminuir; a da população urbanizada, de aumentar.
Mas aumentar em que condições? Na tabela à direita,
temos as multidões que se abrigam em condições de
moradias insalubres, instáveis e inseguras. Então, a
ultrapassagem dessas cidades se revela na mudança
de um padrão de urbanidade que não existe mais. É
um padrão novo e radicalmente desigual.
Vejamos o exemplo de São Paulo. Temos fotos
da gravidade do caso da região metropolitana de São
Paulo. Vejam a tendência para 2030, o tamanho da área
da mancha urbana e todas as suas consequências de
segregação socioespacial.
Então, o “glocal” é, ao mesmo tempo, degradação das fontes de vida – a expansão, no caso de São
Paulo, é de ilhar a represa Billings, vulnerabilizar a represa Billings, que é o manancial principal da Grande
São Paulo, de água potável.
Além disso, o “glocal” significa a tendência à desindustrialização. Todo o aparato do Estado a serviço
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