INTRODUÇÃO À LINGUÍSTICA AULA 01: LINGUÍSTICA: A CIÊNCIA DA LINGUAGEM TÓPICO 03: PRINCIPAIS CONCEITOS: LINGUAGEM, LÍNGUA, NORMA, FALA E DISCURSO. Neste tópico, seguiremos na apresentação de conceitos básicos da Linguística. Iniciaremos pela diferenciação entre linguagem e língua. Essa diferenciação é importante para a Linguística porque é comum o uso de um (a) pelo outro (a) como sinônimo. Contudo há uma diferença entre eles (elas). Se observarmos veremos que esta confusão ocorre também em outros idiomas, é o caso do inglês que usa a palavra language, referindo-se tanto à linguagem quanto à língua. Também era assim em latim, em que o termo lingua, - ae, fazia a mesma referência como em inglês (em alemão die Sprache, e em outras línguas). Afinal qual a origem da palavra lenguatge? Vem do vocábulo lenguatge (< lingua, - ae), oriundo de uma língua neolatina chamada língua provençal, falada ao sul da França, que, por volta do século IX, iniciaram as primeiras grafações neste idioma e, com o tempo, tomou relevo pela Europa latina por sua forte produção poética. Sendo dados às artes, os provençais sentiram necessidade de distinguir a língua utilizada no dia a dia, da língua mais geral, mais artística. Assim podemos definir linguagem, como: Capacidade humana de comunicar através do uso sistemático e convencional de sons, sinais ou símbolos escritos. O termo é utilizado para exprimir outros conceitos como os meios de comunicação dos animais ou os sistemas de programação em informática. (CRYSTAL, 1980, apud AIT) Ou seja, linguagem é o termo mais geral, faz referência a qualquer tipo de meio de comunicação. Além desse lado externo (som, sinal, símbolo, gesto etc.), há também um lado interno, que é o pensamento. A linguagem é uma forma de expressão do cognocer (pensar, conhecer, aprender). O que é a língua? Aqui adotaremos a definição de Ferdinando de Saussure: É, ao mesmo tempo, um produto social da faculdade da linguagem e um conjunto de convenções necessárias, adotadas pelo corpo social [uma comunidade, grifo nosso] para permitir o exercício dessa faculdade nos indivíduos (1969, p. 17). Se linguagem liga-se ao geral, e a língua, ao mais específico, fica até mais fácil exemplificar: língua portuguesa, inglesa (ambas línguas alfabéticas); japonesa, chinesa (ideográficas); árabe, hebraico (aramaicas); Libras (língua de sinais) etc. Veja que a definição dada se harmoniza com os exemplos, pois língua é o lado social da linguagem, não pode ser modificada pelo falante e obedece às leis de contrato social estabelecido pelos membros da comunidade (PETTER, 2002, p. 14). Outra definição que veremos nas próximas aulas é língua como sistema de signos – conjunto de unidades (significante versus significado) que se articulam. O terceiro conceito é o de fala. Podemos também opor língua/fala. Podemos definir a fala como um: (1) ato individual, diferentemente de língua como um ato social; (2) combinações Linguísticas individuais produzidas pelos falantes de uma determinada língua; (3) o próprio ato de fonação. O linguista Ferdinando de Saussure propôs a dicotomia língua/fala (langue/parole), porém há uma fronteira entre essas duas categorias, a que Coseriu chamou de norma. EUGÊNIO COSERIU: a norma linguística Para dar conta das limitações da dicotomia langue e parole, Eugênio Coseriu propõe um terceiro conceito: a noção de NORMA. A norma é o meio termo da dicotomia saussureana. Assim como a langue, a norma é CONVENCIONAL, tal como a parole, que é OPCIONAL. Mas, diferentemente da parole, que é individual, deliberação de cada falante em cada enunciação concreta, a norma implica numa opção do grupo a que pertence o falante e, pode, assim, divergir, das demais normas seguidas por outros grupos da mesma comunidade linguística. (LOPES, 1976: 80) Fonte [1] Exemplificando, tomemos a palavra TIA. Em Fortaleza, o fonema inicial é alveolar, isto é, o T é produzido chiado. Já no Cariri, o fonema inicial é dental, isto é, o T não é chiado. Essa diferença não é do sistema: os dois fonemas não distinguem significados diferentes. Desse modo, com o T chiado ou não, os falantes do Cariri e de Fortaleza compreenderão, porque apesar de pronúncias diferentes, a palavra é a mesma. Também não é uma diferença individual da fala, uma vez que todos os falantes nativos do Cariri pronunciam o T da mesma forma. Fenômeno semelhante pode ser observado em Fortaleza. Então, em que consiste a diferença? A pronúncia do T nessas duas regiões do Ceará é uma diferença de NORMA; podendo caracterizar o falar de uma região: na norma de Fortaleza, o t será pronunciado alveolar (chiado), enquanto que, na norma do Cariri, ocorrerá como uma consoante dental. VERSÃO TEXTUAL Fala + Língua = Norma Podemos afirmar que a língua portuguesa possui normas Linguísticas. Isso porque, embora a língua portuguesa seja a mesma utilizada em vários países, em cada um deles ela se realiza de maneira distinta, é falada diferentemente. Podemos também subclassificá-la em norma culta (e não culta), norma padrão (e não padrão), norma coloquial, popular. Clarificando. Em língua portuguesa, é previsto o uso de 'mais/menos grande/pequeno' ou 'maior/menor', porém, no Brasil é mais comum o uso de maior/menor e, em Portugal, da primeira expressão. Isto é, embora falemos a mesma língua e sejam previstos os dois usos, cada comunidade de fala tem sua norma Linguística. Acreditamos que esse exemplo ilustra bem o conceito de norma, mas não para por aí, há inúmeros outros. Podemos citar o uso da negação na Língua Portuguesa falada no Brasil. É comum o uso da: "a) negação padrão pré-verbal – Não/ não vou. b) negação pós-verbal – Vou não/ não. c) dupla negação – não/ não vou não." Como vimos, são previstos dois ou mais usos da negação na norma da Língua Portuguesa falada no Brasil. Por fim discurso como um: Acontecimento estrutural manifestado em comportamento linguístico e não linguístico. Do ponto de vista da pragmática, discurso refere o modo como os significados são atribuídos e trocados por interlocutores em contextos reais. Num discurso particular, os enunciados são compreendidos por meio de referência a um conjunto particular de ideias, valores ou convenções que existem fora das palavras trocadas (STUBBS 1983, apud AIT) Veja que o entendimento de discurso engloba vários fatores: manifestação real e social da língua, pressuposição de um sujeito (aquele que além de 'falar', manifesta seu ponto de vista por meio das expressões linguísticas); é um evento de comunicação no qual há uma sistematização de ideias e valores. Este evento comunicativo pode ser analisado a ponto de se descrever, mapear a formação discursiva de quem fala – formação política, situação histórica, posição social etc., tudo isso implica na forma como uma pessoa organiza e produz linguisticamente. CONTRIBUIÇÃO REFLITA SOBRE OS CONCEITOS ESTUDADOS Experimente construir falas para esta história em quadrinho abaixo. Veja como sua visão, experiência e conhecimento de mundo, direcionam a um tipo de discurso caracterizado por um léxico próprio, uma sintaxe que, de algum modo, reflete seu modo de sistematizar o que você recebe de informação nas diversas situações comunicativas... Com isso queremos dizer que nada na língua ocorre por acaso, tudo que enunciamos tem um motivo e pode ser descrito cientificamente na Linguística. FONTES DAS IMAGENS 1. http://www.jackbran.pro.br/linguistica/norma_coseriu.htm 2. http://www.adobe.com/go/getflashplayer Responsável: Profª. Maria Silvana Militão Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual