A Consciência Mítica A. O MITO: B. Importância do mito: não considerando juízos de realidade e considerando o contexto cultural. O Mito não é lenda, pura fantasia, crendice ou fábula. O Mito é pura verdade, intuição compreensiva da realidade. (O Mito não é uma mentira) O Mito está fundado na emoção e na afetividade. O Mito, antes de ser uma interpretação do mundo de maneira argumentativa, expressa o que desejamos ou tememos. O Mito é um mistério, um enigma. O Mito é nosso espanto diante do mundo. O Mito está impregnado do desejo humano de afugentar a insegurança, os temores e a angústia diante do desconhecido, do perigo e da morte. O Mito se sustenta pela fé em forças superiores. O Mito se estende por todas as esferas da realidade vivida. No Mito o sagrado permeia todas as esferas da atividade humana. Os modelos de construção mítica são de natureza sobrenatural. O mundo humano e o mundo natural são controlados pelo mundo sobrenatural. O Mito não é uma mentira. OS RITUAIS Segundo Mircea Eliade: “uma das características do mito é fixar modelos exemplares de todos os ritos e de todas as atividades humanas significativas”. Os rituais imitam os gestos dos deuses - “Assim fizeram os deuses, assim fazem os homens”. O tempo é sagrado, é reversível, isto é, o que aconteceu no passado mítico, acontece novamente. (Se não fosse assim, as coisas não aconteceriam). Sem os ritos, os fatos naturais não se concretizariam. C. TRANSGRESSÃO DO TABU Na tribo: o equilíbrio pessoal depende da preponderância do coletivo, o que facilita a adaptação do indivíduo à tradição. Predomínio da consciência coletiva. A desobediência ultrapassa o indivíduo que cometeu. O Tabu significa proibição, interdito e sagrado. A transgressão do Tabu provoca males e desgraças para a tribo, a coletividade. Rituais de Purificação: para quem cometeu a transgressão. D. AS TEORIAS SOBRE O MITO As funções do mito: garantia a tradição e a sobrevivência do grupo Exemplos: A origem da agricultura; a fertilidade das mulheres; o caráter mágico das danças e desenhos. O caráter existencial e inconsciente do mito (Psicanálise – Freud e Jung) - O mito revela o sonho, a fantasia, os desejos mais profundos do ser humano. - Freud: o amor e ódio permeiam a relação familiar. - Jung: o inconsciente coletivo está presente em todos os grupos e pessoas em qualquer lugar ou época. O mito como estrutura (Claude Lévi-Strauss) - Procura a estrutura básica que explica os mais diversos mitos, procedimento que valoriza mais o sistema do que os elementos que o compõem. - Os elementos são relativos, e como tal só tem valor de acordo com a posição que encontram na estrutura (cultura) a que pertencem. - Um fato isolado, um mito isolado não possui significado em si. - Busca dos elementos invariantes (regras universais), que persistem sob diferenças superficiais. - O mito não é o lugar da fantasia e do arbitrário, mas pode ser compreendido a partir de uma estrutura lógico-formal subjacente, pelo lugar que cada elemento ocupa em determinada estrutura. “NÃO PRETENDEMOS MOSTRAR COMO OS HOMENS PENSAM NOS MITOS [FILOSOFIA], MAS COMO OS MITOS (ATRAVÉS DAS ESTRUTURAS) SE PENSAM NOS HOMENS, E À SUA REVELIA [ANTROPOLOGIA]” – Claude Lévi-Strauss. Outras teorias: Valorização da funcionalidade, dos elementos particulares, da pura subjetividade ou da história de um determinado povo. A Consciência Mítica E. O MITO NAS CIVILIZAÇÕES ANTIGAS Sociedades mais complexas - Sociedades não igualitárias: estabelecimento de hierarquias entre segmentos sociais, inclusive introduzindo a escravidão. - O mito era componente importante da cultura, mas as instituições religiosas, por se tornarem mais elaboradas, provocaram a separação entre o espaço sagrado dos santuários (RELIGIÃO) e o espaço profano da vida cotidiana (MITO). - O poder era exercido pela classe sacerdotal ou por seu representante máximo. - O poder, em alguns casos, tornava-se teocrático. - O culto exigia monumentos grandiosos. Exemplo: Grécia Antiga - A Grécia era conhecida por Hélade e era constituída por diversas regiões autônomas, mas que mantiveram a língua e a unidade cultural. - Religião grega: politeísta; os deuses eram imortais e tinham comportamentos humanos; ocorriam obrigações a eles devidas. - Os mitos surgiram quando ainda não havia escrita e eram transmitidos oralamente por poetas ambulantes chamados de aedos e rapsodos. (Nem sempre é possível identificar a autoria desses poemas, por serem produção coletiva e anônima). - Homero (Ilíada e Odisséia) 1. As epopéias desempenharam um papel pedagógico significativo; transmitiam os valores culturais mediante o relato das realizações dos deuses e dos antepassados. 2. Decoradas pelas crianças: revelam concepção de vida. 3. As ações heróicas relatadas nas epopéias mostram a constante intervenção dos deuses ora para auxiliar o protegido, ora para perseguir o inimigo. 4. Os indivíduos são presos do Destino, que é fixo, imutável. 5. Os indivíduos não possuem vontade pessoal, liberdade. 6. O herói ao depender dos deuses não os diminuía diante das pessoas comuns, em nada desmerecia a VIRTUDE (valor supremo) do guerreiro belo e bom, que se manifestava pela coragem e pela força, sobretudo no campo de batalha. 7. A virtude se destacava igualmente na assembléia dos guerreiros, pelo poder de persuasão do discurso. - Hesíodo (Teogonia) 1. Produziu uma obra com particularidades que tendem a superar a poesia impessoal e coletiva das epopéias. (características do período arcaico) 2. Ainda reflete o interesse pela crença nos mitos. 3. Relato das origens do mundo e dos deuses, em que as forças emergentes da natureza vão se transformando nas próprias divindades. 4. Narra como todas as coisas surgiram do Caos para compor a ordem do Cosmo (Cosmogonia). F. O MITO HOJE Augusto Comte (Positivismo – final do séc. XIX) - O mito é uma tentativa fracassada de explicação da realidade. - A razão (a ciência) como a única explicação verdadeira da realidade. - Contradição positivista: o mito do cientificismo (crença cega na ciência como única forma de saber possível). Permanência do Mito - Permanência do ser humano sem a percepção de que é o sujeito da sua história. - O Mito ainda é uma expressão fundamental do viver humano (Tudo o que pensamos e queremos se situa inicialmente no horizonte da imaginação). - Imagens exemplares: heróis – seres humanos superiores (produzidos pela mídia). - A manutenção do maniqueísmo da luta entre o bem e o mal: surgimento das histórias em quadrinhos com superheróis (seres com poderes especiais – seres que resolveriam todos os problemas do mundo). - Mito na política: “Salvador da Pátria” (Governante que resolveria todos os problemas sociais da nação). Exemplo sombrio do mito: nazismo (justificativa para atrocidades e preconceitos). O nosso comportamento também é permeado de rituais (exemplos: festas de aniversário, de ano novo, debutante). A função fabuladora do mito também permanece em palavras que proferimos, como por exemplo: lar, casa, pai, mãe, paz, liberdade e morte. G. O MITO E A FILOSOFIA: Ruptura: enquanto o mito é uma narrativa cujo conteúdo não se questiona, a filosofia problematiza e, portanto, convida à discussão; no mito a inteligibilidade é dada, na filosofia é procurada; a filosofia rejeita o sobrenatural, a interferência de entes divinos na explicação dos fenômenos; a filosofia busca a coerência interna, a definição rigorosa dos conceitos; a filosofia organiza-se em um conjunto de idéias (doutrina) e surge, portanto, como pensamento abstrato.