Egito - pronunciamentos do Pa

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VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO AO EGITO (28-29 DE ABRIL DE 2017)
ENCONTRO DE ORAÇÃO COM O CLERO, RELIGIOSOS E SEMINARISTAS
DISCURSO DO SANTO PADRE
Cairo ― Seminário Patriarcal em Maadi, sábado, 29 de abril de 2017
Beatitudes,
Queridos irmãos e irmãs,
Al Salamò Alaikum (a paz esteja convosco)!
«Este é o dia que o Senhor fez, alegremo-nos n‟Ele! Cristo venceu a morte para sempre,
alegremo-nos n‟Ele!»
Sinto-me feliz por me encontrar entre vós neste
lugar, onde se formam os sacerdotes e que representa o
coração da Igreja Católica no Egito. Sinto-me feliz por
saudar em vós – sacerdotes, consagrados e consagradas do
pequeno rebanho católico no Egito – o «fermento» que
Deus prepara para esta terra abençoada, para que,
juntamente com os nossos irmãos ortodoxos, cresça nela o
seu Reino (cf. Mt 13, 33).
Desejo, antes de mais nada, agradecer o vosso
testemunho e todo o bem que fazeis cada dia, trabalhando no meio de muitos desafios e, frequentemente,
poucas consolações. Desejo também encorajar-vos. Não tenhais medo do peso do dia-a-dia, do peso das
circunstâncias difíceis que alguns de vós têm de atravessar. Nós veneramos a Santa Cruz, instrumento e
sinal da nossa salvação. Quem escapa da cruz, escapa da Ressurreição. «Não temais, pequenino rebanho,
porque aprouve ao vosso Pai dar-vos o Reino» (Lc 12, 32).
Trata-se, pois, de crer, testemunhar a verdade, semear e cultivar sem esperar pela colheita. Na
realidade, nós recolhemos os frutos de muitos outros, consagrados e não consagrados, que
generosamente trabalharam na vinha do Senhor: a vossa história está cheia deles!
No meio de muitos motivos de desânimo e por entre tantos profetas de destruição e condenação,
no meio de numerosas vozes negativas e desesperadas, sede uma força positiva, sede luz e sal desta
sociedade; sede a locomotiva que faz o comboio avançar para a meta; sede semeadores de esperança,
construtores de pontes, obreiros de diálogo e de concórdia.
Isto é possível se a pessoa consagrada não ceder às tentações que todos os dias encontra no seu
caminho. Gostaria de evidenciar algumas dentre as mais significativas. Já as conheceis, porque estas
tentações foram bem descritas pelos primeiros monges do Egito.
1– A tentação de deixar-se arrastar e não guiar. O bom pastor tem o dever de guiar o rebanho
(cf. Jo 10, 3-4), de o conduzir a pastagens verdejantes e até à nascente das águas (cf. Sal 23/22, 2). Não
pode deixar-se arrastar pelo desânimo e o pessimismo: «Que posso fazer?» Aparece sempre cheio de
iniciativas e de criatividade, como uma fonte que jorra mesmo quando vem a seca; sempre oferece a
carícia da consolação, mesmo quando o seu coração está alquebrado; é um pai quando os filhos o tratam
com gratidão, mas sobretudo quando não lhe são agradecidos (cf. Lc 15, 11-32). A nossa fidelidade ao
Senhor nunca deve depender da gratidão humana: «teu Pai, que vê o oculto, há de recompensar-te» (Mt
6, 4.6.18).
2– A tentação de lamentar-se continuamente. Sempre é fácil acusar os outros: as faltas dos
superiores, as condições eclesiais ou sociais, as escassas possibilidades… Mas a pessoa consagrada é
alguém que, pela unção do Espírito Santo, transforma cada obstáculo em oportunidade, e não cada
dificuldade em desculpa! Na realidade, quem se lamenta sempre é uma pessoa que não quer trabalhar.
Por isso o Senhor, dirigindo-Se aos pastores, disse: «Levantai as vossas mãos fatigadas e os vossos
joelhos enfraquecidos» (Heb 12, 12; cf. Is 35, 3).
3– A tentação da crítica e da inveja. E esta é feia! O perigo é sério, quando a pessoa consagrada,
em vez de ajudar os pequenos a crescer e a alegrar-se com os sucessos dos irmãos e irmãs, se deixa
dominar pela inveja tornando-se numa pessoa que fere os outros com a crítica. Quando, em vez de se
esforçar por crescer, começa a destruir aqueles que estão crescendo; em vez de seguir os bons exemplos,
julga-os e diminui o seu valor. A inveja é um câncer que arruína qualquer corpo em pouco tempo: «Se
um reino se dividir contra si mesmo, tal reino não pode perdurar; e se uma família se dividir contra si
mesma, essa família não pode subsistir» (Mc 3, 24-25). Com efeito – não vos esqueçais –, «por inveja do
diabo é que a morte entrou no mundo» (Sab 2, 24). E a crítica é o seu instrumento e a sua arma.
4– A tentação de se comparar com os outros. A riqueza reside na diferença e na unicidade de
cada um de nós. Comparar-nos com aqueles que estão melhor, leva-nos frequentemente a cair no rancor;
comparar-nos com aqueles que estão pior, leva-nos muitas vezes a cair na soberba e na preguiça. Quem
tende sempre a comparar-se com os outros, acaba por se paralisar. Aprendamos de São Pedro e São
Paulo a viver a diferença dos caráteres, dos carismas e das opiniões na escuta e docilidade ao Espírito
Santo.
5– A tentação do «faraonismo» (estamos no Egito!), isto é, de endurecer o coração e fechá-lo ao
Senhor e aos irmãos. É a tentação de se sentir acima dos outros e, consequentemente, de os submeter a si
por vanglória; de ter a presunção de ser servido em vez de servir. É uma tentação comum, desde o início,
entre os discípulos, os quais – diz o Evangelho –, «no caminho, tinham discutido uns com os outros,
sobre qual deles era o maior» (Mc 9, 34). O antídoto para este veneno é o seguinte: «Se alguém quiser
ser o primeiro, há de ser o último de todos e o servo de todos» (Mc 9, 35)
6– A tentação do individualismo. Como diz o conhecido provérbio egípcio: «Eu e, depois de
mim, o dilúvio». É a tentação dos egoístas que, ao caminhar, perdem a noção do objetivo e, em vez de
pensar nos outros, pensam em si mesmos, sem sentir qualquer vergonha; antes, justificando-se. A Igreja
é a comunidade dos fiéis, o corpo de Cristo, onde a salvação de um membro está ligada à santidade de
todos (cf. 1 Cor 12, 12-27; Lumen gentium, 7). Ao contrário, o individualista é motivo de escândalo e
conflitualidade.
7– A tentação de caminhar sem bússola nem objetivo. A pessoa consagrada perde a sua
identidade e começa a «não ser carne nem peixe». Vive com o coração dividido entre Deus e a
mundanidade. Esquece o seu primeiro amor (Ap 2, 4). Na realidade, sem uma identidade clara e sólida, a
pessoa consagrada caminha sem direção e, em vez de guiar os outros, dispersa-os. A vossa identidade
como filhos da Igreja é ser coptas – isto é, radicados nas vossas raízes nobres e antigas – e ser católicos –
isto é, parte da Igreja una e universal: como uma árvore que quanto mais enraizada está na terra tanto
mais alta se eleva no céu.
Queridos consagrados, não é fácil resistir a estas tentações, mas é possível se estivermos
enxertados em Jesus: «Permanecei em Mim, que Eu permaneço em vós. Tal como o ramo não pode dar
fruto por si mesmo, mas só permanecendo na videira, assim também acontecerá convosco, se não
permanecerdes em Mim» (Jo 15, 4). Quanto mais enraizados estivermos em Cristo, tanto mais vivos e
fecundos seremos. Só assim pode a pessoa consagrada conservar a capacidade de maravilhar-se, a
paixão do primeiro encontro, o fascínio e a gratidão na sua vida com Deus e na sua missão. Da qualidade
da nossa vida espiritual depende a da nossa consagração.
O Egito contribuiu para enriquecer a Igreja com o tesouro inestimável da vida monástica. Exortovos, pois, a beber do exemplo de São Paulo o Eremita, de Santo Antão, dos Santos Padres do deserto,
dos numerosos monges que abriram, com a sua vida e o seu exemplo, as portas do céu a muitos irmãos e
irmãs; e assim também vós podereis ser luz e sal, isto é, motivo de salvação para vós próprios e para
todos os outros, crentes e não-crentes, e de modo especial para os últimos, os necessitados, os
abandonados e os descartados.
A Sagrada Família vos proteja e abençoe a todos vós, ao vosso país com todos os seus habitantes.
Do fundo do meu coração, desejo tudo de melhor a cada um de vós e, por vosso intermédio, saúdo os
fiéis que Deus confiou aos vossos cuidados. O Senhor vos conceda os frutos do seu Santo Espírito:
«amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, autodomínio» (Gal 5, 22).
Sempre vos terei presente no meu coração e na minha oração. Coragem e avante, com o Espírito
Santo! «Este é o dia que o Senhor fez, alegremo-nos n‟Ele!» E, por favor, não vos esqueçais de rezar por
mim.
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VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO AO EGITO (28-29 DE ABRIL DE 2017)
CELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA
HOMILIA DO SANTO PADRE
Cairo ― Estádio Aeronáutica Militar, sábado, 29 de abril de 2017
Al Salamò Alaikum (A paz esteja convosco)!
Hoje, o Evangelho do terceiro domingo de Páscoa fala-nos do itinerário dos dois discípulos de
Emaús que deixaram Jerusalém. Um Evangelho que se pode resumir em três palavras: morte,
ressurreição e vida.
Morte. Os dois discípulos voltam à sua vida quotidiana, repletos de desânimo e desilusão: o
Mestre morreu e, por conseguinte, é inútil esperar. Sentiam-se desorientados, enganados e desiludidos. O
seu caminho é um voltar atrás; é um afastar-se da experiência dolorosa do Crucificado. A crise da Cruz –
antes, o «escândalo» e a «loucura» da Cruz (cf. 1 Cor 1, 18, 2, 2) – parece ter sepultado todas as suas
esperanças. Aquele sobre quem construíram a sua existência morreu, derrotado, levando consigo para o
túmulo todas as suas aspirações.
Não podiam acreditar que o Mestre e Salvador, que
ressuscitara os mortos e curara os doentes, pudesse acabar
pregado na cruz da vergonha. Não podiam entender por que
razão Deus Todo-Poderoso não O tivesse salvo duma morte
tão ignominiosa. A cruz de Cristo era a cruz das suas ideias
sobre Deus; a morte de Cristo era uma morte daquilo que
imaginavam ser Deus. Na realidade, eram eles os mortos no
sepulcro da sua limitada compreensão.
Quantas vezes o homem se autoparalisa, recusando-se
a superar a sua ideia de Deus, um deus criado à imagem e
semelhança do homem! Quantas vezes se desespera, recusando-se a crer que a omnipotência de Deus
não é omnipotência de força, de autoridade, mas é apenas omnipotência de amor, de perdão e de vida!
Os discípulos reconheceram Jesus no ato de «partir o pão» (Lc 24, 35), na Eucaristia. Se não
deixarmos romper o véu que ofusca os nossos olhos, se não deixarmos romper o endurecimento do
nosso coração e dos nossos preconceitos, nunca poderemos reconhecer o rosto de Deus.
Ressurreição. Na obscuridade da noite mais escura, no desespero mais desconcertante, Jesus
aproxima-Se dos dois discípulos e caminha pela sua estrada, para que possam descobrir que Ele é «o
caminho, a verdade e a vida» (Jo 14, 6). Jesus transforma o seu desespero em vida, porque, quando
desaparece a esperança humana, começa a brilhar a divina: «O que é impossível aos homens é possível a
Deus» (Lc 18, 27; cf. 1, 37). Quando o homem toca o fundo do fracasso e da incapacidade, quando se
despoja da ilusão de ser o melhor, ser o autossuficiente, ser o centro do mundo, então Deus estende-lhe a
mão para transformar a sua noite em alvorada, a sua tristeza em alegria, a sua morte em ressurreição, o
seu voltar atrás em regresso a Jerusalém, isto é, regresso à vida e à vitória da Cruz (cf. Heb 11, 34).
Com efeito, depois de ter encontrado o Ressuscitado, os dois discípulos retornam cheios de
alegria, confiança e entusiasmo, prontos a dar testemunho. O Ressuscitado fê-los ressurgir do túmulo da
sua incredulidade e tristeza. Encontrando o Crucificado-Ressuscitado, acharam a explicação e o
cumprimento de toda a Escritura, da Lei e dos Profetas; acharam o sentido da aparente derrota da Cruz.
Quem não faz a travessia desde a experiência da Cruz até à verdade da Ressurreição,
autocondena-se ao desespero. Com efeito, não podemos encontrar Deus, sem crucificar primeiro as
nossas ideias limitadas dum deus que reflete a nossa compreensão da omnipotência e do poder.
Vida. O encontro com Jesus ressuscitado transformou a vida daqueles dois discípulos, porque
encontrar o Ressuscitado transforma toda a vida e torna fecunda qualquer esterilidade.[1] De facto, a
Ressurreição não é uma fé nascida na Igreja, mas foi a Igreja que nasceu da fé na Ressurreição. Diz São
Paulo: «Se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e vã é também a nossa fé» (1 Cor 15, 14).
O Ressuscitado desaparece da vista deles, para nos ensinar que não podemos reter Jesus na sua
visibilidade histórica: «Felizes os que creem sem terem visto!» (Jo 21, 29; cf. 20, 17). A Igreja deve
saber e acreditar que Ele está vivo com ela e vivifica-a na Eucaristia, na Sagrada Escritura e nos
Sacramentos. Os discípulos de Emaús compreenderam isto e voltaram a Jerusalém para partilhar com os
outros a sua experiência: «Vimos o Senhor... Sim, verdadeiramente ressuscitou!» (cf. Lc 24, 32).
A experiência dos discípulos de Emaús ensina-nos que não vale a pena encher os lugares de
culto, se os nossos corações estiverem vazios do temor de Deus e da sua presença; não vale a pena rezar,
se a nossa oração dirigida a Deus não se transformar em amor dirigido ao irmão; não vale a pena ter
muita religiosidade, se não for animada por muita fé e muita caridade; não vale a pena cuidar da
aparência, porque Deus vê a alma e o coração (cf. 1 Sam 16, 7) e detesta a hipocrisia (cf. Lc 11, 37-54;
At 5, 3.4).[2] Para Deus, é melhor não acreditar do que ser um falso crente, um hipócrita!
A fé verdadeira é a que nos torna mais caridosos, mais misericordiosos, mais honestos e mais
humanos; é a que anima os corações levando-os a amar a todos gratuitamente, sem distinção nem
preferências; é a que nos leva a ver no outro, não um inimigo a vencer, mas um irmão a amar, servir e
ajudar; é a que nos leva a espalhar, defender e viver a cultura do encontro, do diálogo, do respeito e da
fraternidade; é a que nos leva a ter a coragem de perdoar a quem nos ofende, a dar uma mão a quem
caiu, a vestir o nu, a alimentar o faminto, a visitar o preso, a ajudar o órfão, a dar de beber ao sedento, a
socorrer o idoso e o necessitado (cf. Mt 25, 31-45). A verdadeira fé é a que nos leva a proteger os
direitos dos outros, com a mesma força e o mesmo entusiasmo com que defendemos os nossos. Na
realidade, quanto mais se cresce na fé e no seu conhecimento, tanto mais se cresce na humildade e na
consciência de ser pequeno.
Queridos irmãos e irmãs, Deus só aprecia a fé professada com a vida, porque o único extremismo
permitido aos crentes é o da caridade. Qualquer outro extremismo não provém de Deus nem Lhe agrada.
Agora, como os discípulos de Emaús, voltai à vossa Jerusalém, isto é, à vossa vida diária, às
vossas famílias, ao vosso trabalho e à vossa amada pátria, cheios de alegria, coragem e fé. Não tenhais
medo de abrir o vosso coração à luz do Ressuscitado e deixai que Ele transforme a vossa incerteza em
força positiva para vós e para os outros. Não tenhais medo de amar a todos, amigos e inimigos, porque,
no amor vivido, está a força e o tesouro do crente.
A Virgem Maria e a Sagrada Família, que viveram nesta terra abençoada, iluminem os nossos
corações e vos abençoem a vós e ao amado Egito que, ao alvorecer do cristianismo, recebeu a
evangelização de São Marcos e, ao longo da história, deu muitos mártires e uma longa série de Santos e
Santas!
Al Massih kam; bilhakika kam (Cristo ressuscitou; ressuscitou verdadeiramente)!
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[1] Cf. Bento XVI, Audiência-Geral de Quarta-feira, 11 de abril de 2007.
[2] Santo Efrém exclama: «Arrancai a máscara que cobre o hipócrita e não vereis nele senão
podridão» (Serm.). «Ai do coração débil (…) que segue dois caminhos»: diz o Eclesiástico (2, 12; cf. 2,
14 Vulg.).
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Venezuela, Coréia e direitos humanos entre os temas da entrevista do Papa no avião
Como já é habitual ao concluir suas viagens internacionais, o Papa Francisco concedeu uma roda
de imprensa no voo de retorno a Roma após a sua viagem ao Egito entre os dias 28 e 29 de abril.
Em diálogo com os jornalistas, o Santo Padre tratou diversos temas como a forma em que se
realizam as audiências privadas que concede, a situação atual da Venezuela, entre outros.
“Boa tarde. Agradeço-lhes pelo trabalho, porque foram 27 horas, acredito, de muito trabalho.
Muito obrigado por tudo o que têm feito. Estou à sua disposição”, disse o Papa inaugurando a rodada de
perguntas de jornalistas de veículos de imprensa de vários países.
O primeiro entrevistador foi Paolo Rodari (do Jornal italiano La Repubblica). “Quero lhe
perguntar sobre o propósito do encontro com o Presidente (egípcio) Al Sisi. Do que falaram? Tratou-se o
tema dos direitos humanos? E mais concretamente, falaram que caso de Giulio Regeni?
(Ndt: Regeni era um italiano de 28 anos que estava estudando um doutorado, que foi torturado e
assassinado no Cairo em janeiro de 2016, um caso pelo qual o governo do Egito recebeu diversas
acusações porque ainda não foi elucidado).
O Papa Francisco respondeu: Sobre isto, vou dar uma resposta geral para logo chegar ao
particular. Geralmente, quando estou com um chefe de estado em diálogo privado, isso permanece em
privado, a menos que, em acordo, digamos „este ponto o faremos público‟. Mantive 4 diálogos privados
lá: com o grande ímã de Al Azhar, com Al Sisi, com o Patriarca Tawadros e com o Patriarca Ibrahim.
Acredito que devem manter-se em privado. Por respeito, devem-se manter reservados.
Em relação à a pergunta sobre Regeni eu estou preocupado. Da parte da Santa Sé me moveram
neste tema, porque os pais também me pediram isso, a Santa Sé se moveu. Não direi como nem onde,
mas houve um movimento da parte da Santa Sé.
Em seguida, Darío Menor do Correo Español dirigiu esta pergunta ao Papa: “Ontem o sr. disse
que a paz, a prosperidade e o desenvolvimento merecem cada sacrifício, e logo sublinhou o respeito aos
direitos inalienáveis do homem. Significa isto um respaldo ao governo egípcio, um reconhecimento de
seu papel no Oriente Médio como, por exemplo, a defesa dos cristãos, apesar da falta de garantias
democráticas deste governo?”
Papa Francisco: Não. Deve-se interpretar literalmente como valores em si mesmos. Disse aquilo
sobre defender a paz, defender a harmonia dos povos, defender a igualdade dos cidadãos, seja qual seja a
religião que professam, são valores. Eu falei dos valores. Se um governante defender um ou defende o
outro, esse é outro problema. Fiz 18 visitas. Em cada um dos países escutei: „O Papa respalda a aquele
Governo‟, porque sempre um governo tem suas debilidades ou tem seus adversários políticos que dizem
umas coisas ou outras. Eu não me misturo. Eu falo dos valores, e que cada um veja e julgue se este
governo, este Estado ou aquele outro, levam adiante esses valores.
Phil Pulella (da agência Reuters) perguntou: Você falou em seu primeiro discurso do perigo das
ações unilaterais, e que todos devem ser construtores da paz, no primeiro discurso de ontem. Agora falou
muito da terceira guerra mundial em pedaços, mas parece que hoje esse medo e ânsia está concentrada
no que está ocorrendo na Coréia do Norte.
Papa Francisco: Sim, é o lugar onde se concentra.
Pulella: Exato, é o ponto onde se concentra. O Presidente Trump mandou uma frota militar ao
longo da costa da Coréia do Norte, o líder da Coréia do Norte ameaçou bombardear a Coréia do Sul, o
Japão, inclusive os Estados Unidos se conseguem construir mísseis de longo alcance. As pessoas têm
medo e se está falando da possibilidade de uma guerra nuclear com toda naturalidade. Você, se vir o
presidente Trump mas também a outras pessoas, o que diria a estes líderes que têm a responsabilidade do
futuro da humanidade?, porque estamos em um momento bastante crítico.
Papa Francisco: Mas eu os contato, ligo para eles e os contatarei como contatei os líderes em
diversos lugares para trabalhar na resolução dos problemas no caminho da diplomacia, e temos os
facilitadores, muitos no mundo. Há mediadores que se oferecem, há países como a Noruega, por
exemplo, ninguém pode acusar a Noruega de ser um país ditatorial, e sempre está disposto a ajudar, a
dar exemplo, mas aí há vários.
O caminho é o caminho da negociação, o caminho da solução diplomática. Esta guerra mundial a
pedaços, da qual venho falando há mais ou menos dois anos, é a pedaços, mas os pedaços estão se
estirando, estão se concentrando, estão se concentrando em pontos que já estavam quentes, porque isto
dos mísseis da Coréia vêm de um ano longo, mas agora parece que a coisa se esquentou muito.
Eu sempre chamo a resolver os problemas pelo caminho da via diplomática, da negociação.
Porque o futuro da humanidade, hoje uma guerra alargada destrói, não digo a metade da humanidade,
mas uma boa parte da humanidade e da cultura, tudo, tudo. Seria terrível. Acredito que hoje a
humanidade não é capaz de suportá-lo.
Esperemos que aqueles países que estão sofrendo uma guerra interna, dentro deles, onde está se
produzindo fogo de guerra, no Oriente Médio, por exemplo, mas também na África, ou no Iêmen.
Paremos! Procuremos uma solução diplomática! E nisso acredito que as Nações Unidas têm o dever de
repreender um pouco a sua liderança, porque se aguou um pouco.
“Deseja encontrar-se com o Presidente Trump quando vier a Europa? Formulou-se uma petição
para este encontro?”, perguntou o representante da Reuters.
Papa Francisco: “Não me informaram pela Secretaria de Estado que haja uma petição nesse
sentido, mas eu recebo a todos os Chefes de Estado que solicitam uma audiência”.
Já o jornalista Antonio Pelayo de Antena 3 perguntou sobre a Venezuela: “Santo Padre, a
situação na Venezuela se degenerou ultimamente de modo muito grave e houve muitas mortes. Queria
lhe perguntar se a Santa Sé e você pessoalmente pensam relançar essa ação, essa intervenção
pacificadora e de que formas poderia assumir essa ação.
Papa Francisco: “Houve uma intervenção da Santa Sé sob pedido forte de quatro Presidentes que
estavam trabalhando como facilitadores. E a coisa não resultou. E ficou aí.
(nDT: O pontífice se referia às ações da Santa Sé em 2016 a pedido dos ex-presidentes José Luis
Rodríguez Zapatero (Espanha), Leonel Fernández (República Dominicana), Martín Torrijos (Panamá) e
Ernesto Samper (Colômbia) que não produziram resultado em termos de abertura ao diálogo com o
governo de Nicolás Maduro).
Não resultou porque as propostas não eram aceitas, ou se diluíam, era um Sim-sim, mas não-não.
Todos conhecemos a difícil situação da Venezuela, que é um país que eu estimo muito. E sei que agora
estão insistindo, não sei bem de onde, acredito que da parte dos quatro presidentes, para relançar esta
facilitação e estão procurando o lugar. Eu acredito que tem que ser com condições mas, condições muito
claras. Parte da oposição não quer isto. É curioso, a mesma oposição está dividida, e por outro lado
parece que os conflitos se agudizam cada vez mais. Mas há algo em movimento. Estive informado disso,
mas está muito no ar ainda. Mas, tudo o que se pode fazer pela Venezuela é preciso fazê-lo, com as
garantias necessárias”, sentenciou o Santo Padre.
Ao final das perguntas o Papa Francisco disse aos jornalistas: “Obrigado a vocês pelo trabalho
que fazem e que ajuda muita gente. Vocês não sabem o bem que podem fazer com suas crônicas, com
seus artigos, com seus pensamentos.
Temos que ajudar as pessoas e ajudar também à comunicação, para que a comunicação, também
a imprensa, leve-nos a coisas boas, e não nos leve a desorientações que não nos ajudam. Muito obrigado!
E bom jantar! Rezem por mim!”
Fonte: ACIDigital
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Patriarca Sidrack agradece esforços ecumênicos e pela paz de Francisco
Ao final da celebração presidida pelo Papa Francisco no Estádio da Aeronáutica militar no Cairo,
Sua Beatitudine Ibrahim Isaac Sidrak, Patriarca de Alexandria dos Coptas Católicos e Presidente do
Conselho dos Patriarcas e dos Bispos Católicos no Egito, dirigiu uma saudação ao Santo Padre, onde
enfatiza, entre outros, os seus esforços pela paz e pela unidade dos cristãos..
“Santidade, Sumo Pontífice, Santidade,
A sua presença entre nós nos alegra e nos abençoa. Em nome da Igreja Católica no Egito e em
nome de todo o querido povo egípcio, apresento ao senhor o imenso agradecimento e estima por ter
aceito o convite em visitar o nosso amado país.
A sua visita e a acolhida por parte do povo egípcio - em todos os seus componentes - à sua
querida pessoa, estão resumido no lema que foi escolhido para a viagem, ou seja “O Papa da Paz, no
Egito da paz”.
É uma mensagem ao mundo que confirma a natureza do Egito, que ama a paz e que
continuamente se esforça para afirmá-la no Oriente Médio e no Mundo inteiro; confirma também a sua
predisposição à convivência comum entre os crentes das diversas religiões e a sua capacidade de
assimilar as diversas culturas.
O Egito, berço de religiões, é o país hóspede dos profetas e o refúgio da Sagrada Família na sua
busca de segurança, e permanecerá, até quando Deus quiser, a terra da Paz. É também uma mensagem
ao mundo que atesta que Sua Santidade é uma pessoa que leva a paz aonde quer que vá e que suas ações,
as suas viagens e as suas Palavras tem por objetivo difundir a paz sobre a terra.
Santidade, o senhor escolheu por nome “Francisco” seguindo o exemplo de São Francisco de
Assis, de quem em breve celebraremos os 800 anos da visita ao Egito, feita para fazer um chamado à
paz, como a sua.
Também o senhor, seguindo o exemplo de Francisco, escolheu a vida de pobreza e simplicidade.
A partir do momento em que o senhor foi escolhido como sucessor de São Pedro e como Pastor da Igreja
Católica no mundo, não poupou nenhum esforço para consolidar tudo o que edifica o homem,
espiritualmente, humanamente e socialmente.
No mundo ainda se sente o eco de seu convite para consagrar um ano à Misericórdia. A
Misericórdia é a mensagem mais forte do Senhor dirigida ao homem. “Deixemo-nos renovar pela
Misericórdia de Deus”.
A nossa Igreja Católica no Egito procurou viver o Ano da Misericórdia, na oração, na meditação
e em colocar em prática o Evangelho.
Estávamos, nós, Sínodo da Igreja Copta Católica, no mês de fevereiro passado, em visita à Sua
Santidade, Sucessor de Pedro, para proclamar a nossa comunhão com o senhor, e eis que hoje o senhor
está aqui, no Egito, para confirmar o seu amor e a sua comunhão para com a nossa Igreja. Ela une na sua
tradição o pensamento teológico do Oriente e do Ocidente e a abertura às diversas culturas, e aquilo que
enriquece na sua vida espiritual, na sua fé e na sua liturgia, de forma que seja uma manifestação da
Igreja Católica Apostólica Romana, a ajuda também na sua abertura à nossa sociedade egípcia e ao
mundo, para que seja pioneira no pensamento e uma serva no campo da educação e da formação para o
desenvolvimento do homem em todos os aspectos da sua vida.
Santidade, o senhor trabalhou tanto pela unidade da Igreja, seguindo os mandamentos do Mestre
de que “todos sejam um”, realizando numerosos encontros com os líderes das Igrejas no mundo por uma
maior aproximação e para superar todos os obstáculos à unidade. Não esquecemos o seu encontro com
Sua Santidade Papa Tawadros II, no Vaticano, que teve um grande impacto sobre a relação entre as duas
Igrejas.
Também dirigimos um grande agradecimento à Sua Excelência, o Senhor Presidente Abd AlFattah Al-Sisi, pela sua iniciativa em convidá-lo para vir ao Egito e por tudo aquilo que ofereceu para
apoiar a realização desta visita e pelos eu sucesso.
Por fim, a Sua visita Santo Padre, mesmo sendo de breve duração, encheu os nossos corações
com alegria e a nossa vida com a bênção. Nós, enquanto celebramos esta Eucaristia com Sua Santidade,
experimentamos um grande sustento espiritual, que será para a nossa Igreja um suporte em seu caminho
espiritual, apostólico e social.
Rezamos a Deus para que conceda ao senhor a saúde e a força para permanecer sempre apóstolo
do amor e da paz. Pedimos isto por intercessão da Nossa Mãe Maria Virgem. Amém”
Fonte: Rádio Vaticano
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