267 Uma ampla escadaria, no lado esquerdo do vestíbulo, conduz

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A atuação dos arquitetos portugueses no século XIX no Rio de Janeiro. Algumas considerações
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Uma ampla escadaria, no lado esquerdo do vestíbulo, conduz ao segundo pavimento
do hospital, ao Salão dos Benfeitores e ao Gabinete da Imperatriz, ao lado do Salão
de Honra. Este recinto foi decorado por Francisco Chaves Pinheiro, professor de
escultura da Academia Imperial das Belas Artes, e só foi terminado em 1874. As
paredes foram pintadas fingindo tecido oriental; o teto tem relevo em estuque com
os bustos pintados dos doze apóstolos sustentado por doze colunas. Ao fundo foi
colocada a estátua do Imperador.
No segundo corpo do edifício (que seria originalmente o da frontaria) há dois
torreões de esquina e, ao centro, na parte posterior, uma escadaria dá acesso à capela
do Sacramento ou do Imperador (situada no centro da planta, no segundo nível,
portanto). A capela, riscada por Joaquim Cândido Guilhobel, tem planta circular
inserida em um quadrado e é coberta por uma cúpula. Por ter a mesma muito pouca
elevação, é difícil de ser percebida da parte de fora do edifício. Esse fato ocorre
porque, se tivesse sido respeitada a planta de Domingos Monteiro, a cúpula ocuparia
o corpo central do edifício, fazendo um contraponto com os dois torreões de esquina.
Portanto, na planta original, a capela ficaria no centro da fachada e a cúpula teria
uma posição de destaque (dentro da lógica do conjunto). Como a planta foi alterada,
a Capela do Imperador, que mereceu do arquiteto Monteiro um destaque, no centro
da planta, ficou deslocada para o segundo corpo e a cúpula perdeu grande parte da
sua função estética e simbólica, preferindo-se compor o corpo central do edifício com
um templo, segundo a planta de Rebelo.9 A decoração interior da capela é clássica,
com estuques de Francisco Alves Nogueira, pintura de François René M. (A Santa
Ceia, no altar-mor e Os Evangelistas, nos medalhões laterais).
A decoração a talha é das mais felizes: foi realizada por Antônio de Pádua e Castro,
o entalhador mais importante do período, responsável pela reforma e decoração de
inúmeras igrejas na corte do Rio de Janeiro, entre 1845 e 1881, quando faleceu.
Era um artista erudito, desenhista, arquiteto, entalhador, professor de Esculturas de
Ornatos na Academia Imperial das Belas Artes.10 Talvez a denominação Capela do
Imperador tenha sido uma homenagem ao soberano, que também pode se justificar
no motivo aplicado no sacrário do altar, o qual foi arrematado por uma imensa coroa
em talha dourada semelhante à coroa do Imperador.
A decoração da capela, em suas linhas gerais, é sóbria e elegante. No uso preferencial das pilastras em vez de colunas, nos painéis decorativos com óvulos e pérolas,
reflete a tendência neoclássica presente nos elementos em grotesco romano da Escola
de Rafael (altar-mor) combinada à elegância do estilo Adam inglês (observada no
motivo em leque sobre as portas e no tratamento das ilhargas da capela). A capela
do Imperador resulta, portanto, num espaço dinâmico e elegante que, embora de
pequenas dimensões, se torna imponente pela harmonia do conjunto.
9
A primitiva planta de Domingos Monteiro pode ser encontrada nos arquivos da Santa Casa e publicações, por
exemplo: ZARUR, Dahas, Hospital Geral da Santa Casa. Rio de Janeiro: Binus Artes Gráficas, 1992.
10 Sobre a obra completa de Antônio de Pádua e Castro ver: FERNANDES, C.V.N., A talha religiosa do Rio de Janeiro
através de seu artista maior Antônio de Pádua e Castro. Dissertação de Mestrado (Or. CUNHA, A P.) Rio de Janeiro:
EBA/UFRJ, 1991, 2V.
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