Mutualismo: afirmação para o futuro!

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RedeMut:
Mutualismo:
afirmação para o futuro!
Inspirado na solidariedade, nasceu em Portugal, a RedeMut, um projecto inovador, iniciativa de um conjunto de associações mutualistas portuguesas que decidiram unir esforços para prestar cuidados de saúde aos associados
que as integram. O mutualismo é uma das famílias da
Economia Social e, apesar de ser muito pouco falado, em
conjunto com o cooperativismo, “envolve mais de mil milhões de pessoas no mundo” como referiu Jorge de Sá,
presidente do CIRIEC Portugal e representante da Associação Rencontres du Mont Blanc. Assente nos valores da
igualdade, solidariedade, responsabilidade e coerência
ética, o mutualismo é o grande desafio para um futuro
mais sólido, transparente e humano. Foi assim que para
assinalar o dia nacional do mutualismo a RedeMut, reuniu
na Atmosfera M na cidade do Porto, mutualistas de todo o
país, da Federação Nacional das Mutualidades Francesas, e da Associação Internacional das Mutualidades, A
revista Saúde e Dependências presente no evento entrevistou Carlos Salgueiral, presidente do CA da RedeMut
Carlos Salgueiral
Ressaltou, da opinião das convidadas internacionais, uma
opinião consensual: o mutualismo é muito importante mas
as instituições andam de costas voltadas…
Carlos Salgueiral (CS) – Efectivamente, não comunicamos tanto quanto desejaríamos… É um sector que apresenta alguma dimensão mas, fruto de alguns constrangimentos, ainda não conseguiu impor-se. É um sector importante na área da economia social, representando 1 milhão e 200 mil associados e beneficiários o que, somando os agregados, ultrapassa os dois milhões. Portanto, é um
sector significativo, embora não tenha a expressão de outras organizações da economia social.
Quais são os desafios que se colocam hoje ao mutualismo?
CS – Sobretudo, na conjuntura atual, vivemos hoje constrangimentos significativos por motivos financeiros, reflexo da condição actual das próprias famílias, por outro lado, os apoios são insuficientes
por parte do poder politico para apoiar nas áreas sociais os beneficiários e famílias, que pensávamos ser possível. Agora, temos também
alguns exemplos de superação alicerçados na criatividade, no voluntarismo de dirigentes para colmatar as necessidades dos utentes.
O que explica que, representando o sector mutualista um
sétimo da população mundial, se desconheça a intervenção
que o mesmo encerra?
CS – Em termos internacionais, o mutualismo é muito mais visível. Tem a ver com questões históricas, que levaram à constituição,
em determinadas alturas, de grupos fechados entre associados e
menos abertura às comunidades, situação que temos vindo a alterar.
Este evento e outros que se vão realizando têm, naturalmente, esse
objectivo.
“Mil milhões de pessoas no mundo
da Economia Social”
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“O que caracteriza
a Economia Social são
os seus valores”
Quais serão os pontos fortes mais evidentes do mutualismo?
CS – Os pontos fortes prendem-se com a sua natureza, o facto
de existirem para prestarem cuidados em várias frentes, desde a
saúde às prestações, passando pelas áreas do apoio ao idoso, à infância e a intervenção comunitária. A proximidade face aos associados e à comunidade são pontos fortes.
Em que medida poderá ser equacionável uma abertura da
Rede Mut às seguradoras?
CS – A Rede Mut, só por si, não tem serviços próprios. O seu primeiro objectivo consiste em congregar as associações que oferecem
serviços e produtos na área da saúde ou do bem-estar, colocando-os
ao serviço de todos os associados mutualistas. A ideia é criar eficiência nas nossas práticas. Não faz sentido que, numa localidade, coexistam várias associações mutualistas e as mesmas não cruzem informação, nem partilhem tecnologias e conhecimentos. Essa é a missão da Rede Mut. Com isto, criamos dimensão, força, lobbying e,
quando estivermos em condições de negociar e de sermos até uma
“Fala-se muito pouco na
Economia Social”
entidade prestadora dessas companhias de seguros, por que não?
Mas nenhuma associação mutualista, por si só, conseguirá neste
momento um bom negócio com uma seguradora.
O SNS apresenta hoje grandes debilidades no que concerne aos cuidados continuados… Em que medida poderão as
mutualidades constituir uma resposta complementar ou alternativa digna?
CS – Confesso que não gosto de acantonar as mutualidades
como alternativas, porque não vejo que a sua ação seja de caráter
competitivo. O mutualismo é uma escola de cooperação e, por exemplo, há que reconhecer que o SNS tem condições de prestar um excelente serviço, desde que não existam barreiras políticas ou ideológicas. Se não há investimento público e se há desinvestimento nos
profissionais é evidente que os serviços falham, ficando então mercado aberto para os interesses privados que procuram o lucro, mas
também para as mutualidades. Só que essa área representa grandes
investimentos e as mutualidades, só por si, não têm grandes condições para o fazer. Existe uma ou outra que já entrou nessa área mas
nem todas terão a possibilidade de realizar esses pesados investimentos. Agora, se conseguirmos fortalecer esta rede, naturalmente,
esta poderá vir a ganhar a escala e, por exemplo, gerir uma unidade
de cuidados continuados.
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