ESTUDO SOBRE A ESTIMULAÇÃO ELÉTRICA NERVOSA TRANSCUTÂNEA (TENS) EM MULHERES COM DISMENORRÉIA Fernanda Paes Hübbe1 RESUMO A dismenorréia é um problema ginecológico comum que afeta cerca de 50% das mulheres em idade fértil, ou seja, que ainda menstruam. A dor típica da dismenorréia é a cólica que localiza-se freqüentemente no baixo-ventre e pode vir associada de outros sintomas como: náuseas, cefaléia, nervosismo, vômitos, diarréia, constipação, dentre outros. Às vezes, adquire um caráter tão intenso que já é considerada uma das principais causas de faltas na escola e/ou local de trabalho. Por esse fato, explica-se a importância dessa pesquisa do tipo descritiva, que teve como objetivo verificar a eficácia da estimulação elétrica nervosa transcutânea (TENS) em mulheres portadoras da dismenorréia. Foram estudadas 10 mulheres com idade entre 17 e 33 anos, que sofriam de dismenorréia e investigou-se quanto ao grau de dor sentida antes e depois da aplicação da TENS pela escala de dor. Analisando os dados ficou comprovada a eficácia do aparelho no tratamento da dismenorréia pois, 100% das pacientes referiram alívio da dor após a aplicação da terapêutica. Palavras Chave: Dismenorréia, TENS ABSTRACT Dysmenorrhea is a common gynecologic problem which affects about 50% of women at fertile age, viz, who still menstruate. The typical pain of dysmenorrhea is colic which is often located at the lower womb and may be connected with other symptoms such as: nausea, migraine headache, nervousness, vomiting, diarrhea, constipation, among others. Sometimes it is characterized so intensely that it has already been considered to be one of the main causes of school/work absenteeism. That is why the importance of this descriptive like research is explained, wich is aimed at verifying the efficacy of the transcutaneous electrical nerve stimulation (TENS) in women bearers of dysmenorrhea. Ten women interviewed ranging in age from 17 to 33 who suffered from dysmenorrhea and who were questioned concerning the level of pain felt before and after the application of TENS by the pain scale. By analyzing the data the efficacy of the device for the treatment of dysmenorrhea was confirmed, once 100% of the patients claimed to have relieved from the pain soon after the application. Key Words: Dysmenorrhea, TENS 1 Acadêmica do 8º semestre do Curso de Fisioterapia da Universidade do Sul de Santa Catarina. Email: [email protected]. 2 INTRODUÇÃO A dismenorréia ou cólica menstrual é o sintoma freqüente que acompanha a menstruação, muito comum em mulheres férteis e que pode ser amenizada pela fisioterapia, através de suas diversas técnicas e recursos eletroterapêuticos. Quando não tratada, a dismenorréia pode durar de dois a três dias, e além da dor, que pode ser intensa, pode evoluir com outros sintomas como náuseas, vômitos, diarréia, fadiga, nervosismo, vertigens e dores de cabeça, podendo chegar ao desmaio. O tratamento mais utilizado em casos de dismenorréia se faz pelo uso de medicamentos e esses por sua vez, quando não provocam efeitos colaterais, não promovem alívio total da dor. A TENS é um recurso muito utilizado pelos fisioterapeutas com o objetivo de promover analgesia. Damiane e Damiane (1998) relatam que a TENS é um método alternativo, não-invasivo, não-tóxico, em que a paciente pode confiar plenamente e um de suas principais vantagens é de não apresentar efeitos colaterais. 1 MÉTODOS E TÉCNICAS Essa pesquisa foi desenvolvida através da metodologia experimental, com pré e pós-teste e teve como objetivo verificar o efeito da estimulação elétrica nervosa transcutânea (TENS) na dismenorréia. A amostra foi composta por um grupo de 10 mulheres, com idade entre 17 e 33 anos, que apresentavam o quadro de dismenorréia e que não haviam tomado medicação para analgesia na presente data. No início da sessão a paciente era 3 entrevistada e a pesquisadora aplicava uma escala de dor onde a paciente referia a intensidade de sua dor. A escala varia de 0 a 10, onde 0 significa ausência de dor e 10 o máximo de dor, A escala era aplicada novamente no final da sessão, onde a paciente referia a intensidade de sua dor após a aplicação da terapia. A TENS era aplicada com a paciente em decúbito ventral, com quatro eletrodos posicionados bilateralmente nos dermátomos T10 e L1, que inervam respectivamente o útero e a cérvix. A TENS era aplicada no modo convencional, com freqüência de 100 Hz, modo de pulso de 60us, com intensidade variável, durante 30 minutos. 2 DISCUSSÃO E ANÁLISE DOS DADOS Gráfico 1: Sintomas associados ao período menstrual 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 9 8 8 5 3 2 Náuseas Nervosismo Cefaléia Diarréia Constipação Vômitos O presente gráfico representa os sintomas associados que ocorreram com mais freqüência na amostra no período menstrual. Mediante a entrevista, observouse que 09 das pacientes no período menstrual sentem náuseas, 08 nervosismo, 08 cefaléia, 05 diarréia, 03 constipação e 02 apresentam episódios de vômitos. 4 Para Motta, Salomão e Ramos (2000), em mais de 50% dos casos a dismenorréia é acompanhada de sintomas como: náuseas, vômitos, fadiga, nervosismo, sudorese, vertigem, lombalgia e diarréia. Gráfico 2: Índice de abstinência das atividades escolares e/ou trabalho 10% 90% Sim Não O gráfico 2 demonstra que 90% das mulheres entrevistadas se ausentam de suas atividades no período menstrual e que em apenas 10% a dismenorréia não é tão severa a ponto de incapacitá-las. Como afirma Cardoso; Leme (2003), estima-se que 140 milhões de horas são perdidas anualmente, sendo a dismenorréia a causa mais freqüente de absentismo ao trabalho/escola entre mulheres jovens. Gráfico 3: Alívio da dor proporcionado pelo medicamento 0% 30% 70% Totalmente Parcialmente Não faz efeito 5 O gráfico 3 evidencia que todas as mulheres da amostra sentem algum alívio da dor com o uso de medicamentos, sendo que 70% das mulheres relataram alívio parcial e 30% alívio total da dor. Conforme Halbe (2000), o tratamento da dismenorréia é sintomático, de urgência, com o objetivo de aliviar a dor, sendo paliativo e necessitando repetir-se a cada menstruação. Gráfico 4: Efeitos colaterais provocados pelos medicamentos 40% 60% Sim Não Em contrapartida ao efeito analgésico dos medicamentos utilizados pelas mulheres entrevistadas, é importante ressaltar que em 40% das mulheres entrevistadas houve relato da ocorrência de efeitos colaterais. Gráfico 5: Distribuição dos valores referentes a escala subjetiva de dor 12 10 10 8 8 7 6 6 Antes 6 4 4 4 4 Depois 4 3 2 1 0 1 0 0 0 P-03 P-04 P-05 0 0 0 0 P-07 P-08 P-09 P10 0 P-01 P-02 P-06 6 O gráfico 5 representa a intensidade da dor referida (através da escala) pelas pacientes com dismenorréia antes da aplicação da TENS e após a utilização da mesma. Cabe ressaltar que a dor referida pelas pacientes no início do atendimento variou de leve (correspondente de 0 a 3) a intensa (correspondente de 8 a 10) e que ao observarmos o registro de intensidade da dor após a aplicação da TENS, apenas 02 pacientes permaneceram com dor, embora num grau bem menor (grau 1). Sendo que na paciente 02 a dor diminuiu 83,40% um valor considerável e na paciente 06, essa analgesia foi de 75%. Tabela 1: Comparação dos efeitos dos medicamentos com a TENS Pacientes Paciente 01 ...................... Paciente 02 ...................... Paciente 03 ...................... Paciente 04 ...................... Paciente 05 ...................... Paciente 06 ...................... Paciente 07 ...................... Paciente 08 ...................... Paciente 09 ...................... Paciente 10 ...................... Alívio proporcionado pelo medicamento Alívio proporcionado pela TENS Parcial Parcial Parcial Parcial Parcial Parcial Total Parcial Total Total Total Parcial Total Total Total Parcial Total Total Total Total A presente tabela faz uma comparação entre o efeito analgésico dos medicamentos e da TENS. De uma forma clara, pode-se observar que em apenas 30% das pacientes o alívio proporcionado pelo medicamento é total, já na TENS esse alívio é observado em 80% das pacientes. 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS Apesar de muitas técnicas de tratamento existentes, cerca de 50% das mulheres ainda sofrem com a dismenorréia. Ela afeta não só a qualidade de vida, mas também faz muitas vezes, com que as mulheres se ausentem de suas atividades cotidianas. Há casos em que algumas delas necessitam de internação, devido a severidade dos sintomas. Como citado, na maioria das vezes a dismenorréia pode vir associada a outros sintomas. Mediante a entrevista pode-se observar que 09 das pacientes da amostra, no período menstrual sentem náuseas, 08 nervosismo, 08 cefaléia, 05 diarréia e 02 apresentam episódios de vômitos. Ás vezes ela é tão intensa que 90% das pacientes entrevistadas se abstém de suas atividades cotidianas no período menstrual. Devido a isso, pode-se registrar o uso de medicamentos para alívio da dor em 100% da amostra, dessas 70% relataram que o alívio proporcionado pelo medicamento é parcial e apenas em 30% esse alívio é total. Também foi constatado que os efeitos colaterais proporcionados pelos medicamentos estão presentes em 40% da amostra, um número considerável. O objetivo deste trabalho foi o de analisar o efeito da estimulação elétrica nervosa transcutânea (TENS) sobre o quadro álgico decorrente da dismenorréia. Utilizando a escala de dor, pode-se observar que a TENS promoveu alívio total da dor em 80% das pacientes e em 20% alívio parcial, enquanto que com o uso de medicamentos 70% referiu alívio parcial e apenas 30% total. Conclui-se que a TENS promoveu analgesia, em maior ou menor grau, em 100% das pacientes atendidas, afirmando desse modo, que este recurso pode ser utilizado pelos fisioterapeutas em mulheres portadoras desta disfunção. 8 Por ser um método não-invasivo, indolor, sem efeitos colaterais, seguro e portátil, pode ser aplicado mensalmente, como tratamento sintomático, podendo ser transportado para qualquer lugar, dependendo da comodidade da paciente e da disponibilidade do fisioterapeuta. Vale ressaltar que não foi objetivo desta pesquisa avaliar o tempo do efeito analgésico proporcionado pela TENS após sua aplicação. Porém foi relatado pelas pacientes, alívio dos sintomas em até 48 horas. Assim sendo, a terapia pode ser utilizada apenas uma vez por mês em mulheres que apresentam a dismenorréia por poucos dias. Dessa forma, espera-se que este trabalho possa despertar interesse para realização de novas pesquisas e que a utilização da TENS se estenda nas disfunções ginecológicas, principalmente na dismenorréia, em todas as unidades de assistência, tanto primária quanto secundária REFERÊNCIAS CARDOSO, Tháis Soares Munguba; LEME, Ana Paulo Cardoso Batista Paes. A equivalência da dança do ventre à cinesioterapia na terapêutica da dismenorréia primária. Revista Fisioterapia, Atlântica, v. 4, n. 2, mar./abr. 2003. DAMIANE, Cristiane; DAMIANE, Gisele. TENS: eletroanalgesia. In: RODRIGUES, Edgard Meirelles; GUIMARÃES, Cosme S. Manual de recursos fisioterapêuticos. Rio de Janeiro: Revinter, 1998. p.53-81. HALBE, Hans Wolfganf. Tratado de ginecologia. 3. ed. São Paulo: Roca, 2000. v.1. MOTTA, Eduardo Vieira da.; SALOMÃO, Antônio Jorge; RAMOS, Laudelino de Oliveira. Dismenorréia. Revista Brasileira de Medicina, Moreira Jr., São Paulo, v. 57, n. 5., p. 369-84, maio 2000.