a técnica de papanicolaou no diagnóstico da microbiota

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A TÉCNICA DE PAPANICOLAOU NO DIAGNÓSTICO DA
MICROBIOTA CÉRVICO-VAGINAL
SILVA, Angélica da1; SANTOS, Aniúsca Vieira dos1; MALHEIROS, Jênifer2; COSER,
Janaina3; ZANELLA, Janice Pavan3
Palavras-Chave: Papanicolaou. Microbiota. Infecção
Introdução
No
ecossistema
vaginal
podemos
encontrar
uma
grande
variedade
de
microorganismos que vivem de forma comensal, porém, quando ocorre o desequilíbrio nas
interações entre a flora normal, o estado hormonal e a resposta imune do hospedeiro dá-se
origem às infecções. Estas infecções podem ser causadas por agentes específicos como
fungos, bactérias e protozoários ou não apresentar agentes, sendo denominadas inespecíficas
(SILVA FILHO, A.M.; LONGATTO FILHO, 2000).
A espécie predominante na cérvice vaginal é o Lactobacillus sp que determina o ph
ácido do local (3,8 - 4,5), por meio da liberação de lactato, inibindo assim o crescimento de
organismos nocivos à mucosa vaginal. A ausência ou baixa concentração de Lactobacillus sp
está associada a processos patogênicos como vulvovaginites, que caracterizam-se por
alteração do ph local, prurido e secreções, tendo como agentes etiológicos a Gardnerella
vaginalis, Trichomonas vaginalis e Candida sp .(GIRALDO et al.,2005).
Atualmente a coloração de Papanicolaou vem sendo muito utilizada na rotina
laboratorial para a identificação de vaginoses, pois é um procedimento sensível, barato e
altamente reprodutível. É considerada uma importante alternativa diagnóstica de infecções
cérvico-vaginais associadas à transmissão sexual, além de possuir vantagens que em relação
ao exame a fresco que não pode ser arquivado, é de difícil visualização de corpos móveis e
critérios morfológicos clássicos como células guias (clue cells), além de secar rapidamente a
amostra (CHIUCHETTA et al., 2002; MARTINS et al., 2007; HASENACK et al., 2008).
No Papanicolaou, pode-se observar a intensidade da reação inflamatória, acompanhar
sua evolução e visualizar algumas alterações citológicas ocasionadas por vírus, como por
exemplo, o coilócito típico da infecção por HPV. Este exame possui ainda grande relevância
1
Acadêmicas do curso de Biomedicina – Universidade de Cruz Alta. [email protected];
[email protected]
2
Biomédica, especialista em Microbiologia, Mestranda em Bioexperimentação, - Universidade de Passo Fundo.
[email protected]
3
Docentes do Curso de Biomedicina - Universidade de Cruz Alta. [email protected];
[email protected]
quanto à conduta terapêutica sendo que alguns autores relacionam a flora microbiana vaginal
como co-fator na patogênese da neoplasia intraepitelial cervical, tendo em vista que a
agressão da mucosa favorece a entrada de alguns tipos de vírus oncogênicos (MARTINS et
al., 2007).
Tendo em vista a importância do exame citopatológico de Papanicolaou tanto na
prevenção do câncer de colo uterino, quanto no diagnóstico de cervicites, o objetivo geral
deste estudo é caracterizar o perfil microbiológico em amostras cérvico-vaginais arquivadas
no Laboratório de Citopatologia da Universidade de Cruz Alta, no ano de 2012.
Metodologia
Este estudo caracteriza-se por análise retrospectiva, transversal e quantitativa,
realizada com dos dados obtidos através dos laudos arquivados no Laboratório de
Citopatologia da Universidade de Cruz Alta, referente aos exames citológicos de
Papanicolaou realizados no ano de 2012, a partir de amostras coletadas no Centro de Saúde da
Mulher da cidade de Cruz Alta, RS.
Resultados e Discussões
Dos 212 laudos analisados neste estudo, 58% possuíam algum tipo de infecção. As
infecções específicas representaram 56,45% e as inespecíficas 43,54%.
Os resultados microbiológicos apresentaram predominância de Lactobacillus sp
com 53,77%, as infecções por Gardnerella vaginalis permaneceram em segundo lugar com
21,7% dos casos; a flora de cocos representou 8,0%, precedida de bacilos com 6,6%. E, por
último, as infecções por Candida sp representou 3,77% dos casos. A microbiota não
visualizada correspondeu a 6,13% do total (Figura 1).
Martins et al. (2007) em seu estudo, descreve que 35,3% das mulheres possuíam
alguma infecção, com predomínio de Candida spp (18,41%), seguida por Gardnerella
vaginalis (13,9%). Percebe-se que estes achados se diferem do presente estudo, onde a
prevalência de Gardnerella vaginalis foi superior e a prevalência de Candida spp inferior.
Já no estudo de Diefenthäler, Zanella e Coser (2012), que também realizaram um
estudo retrospectivo com amostras arquivadas no laboratório de Citopatologia da
Universidade de Cruz Alta, no período de 2008 e 2009, também como no presente estudo,
houve maior prevalência de Gardnerella vaginalis, seguido por Candida spp. Esta situação
demonstra que, embora em momentos diferentes, esta população apresenta o mesmo perfil de
agentes infecciosos.
Da mesma forma, o estudo de Coser, Fontoura e Ticiani (2009) com mulheres
atendidas no serviço público de saúde do município de Espumoso-RS, também apontou maior
prevalência de Gardnerella vaginalis entre os agentes presentes na microbiota dos esfregaços
cérvico-vaginais.
Figura 1. Microbiota dos exames citopatológicos arquivados no Laboratório de
Citopatologia da Unicruz no ano de 2012
Conclusão
Observou-se no presente estudo, que um grande número das amostras avaliadas
possuía algum tipo de infecção, com predomínio de Gardnerella vaginalis. Conclui-se
também, que o exame de Papanicolaou, além de ser um método eficaz para a prevenção do
câncer de colo uterino, também é útil para identificar a microbiota do trato genital feminino,
contribuindo para o diagnóstico de vaginites.
Referências
CHIUCHETTA, G.I.R. et al. Estudo das inflamações e infecções cérvico-vaginais
diagnosticadas pela citologia. Arq. Ciênc. Saúde UNIPAR, v. 6, p. 123-128, 2002.
COSER, J.; FONTOURA, S.; TICIANI, R. Frequência de Lesões Cervicais Pré-Malignas e
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120 – 124, 2009.
DIEFENTHALER, V.L.; ZANELLA, J.F.P. ; COSER, J. . Prevalência de agentes infecciosos
em exames citopatológicos de mulheres atendidas em um serviço de saúde pública do sul do
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GIRALDO, P.C. et al. Influência da freqüência de coitos vaginais e da prática de duchas
higiênicas sobre o equilíbrio da microbiota vaginal. Revista Brasileira de Ginecologia e
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HASENACK, B.S. et al. Estudo comparativo dos diagnósticos de vaginose bacteriana pelas
técnicas de Papanicolaou e Gram. RBAC, v. 40, p. 159-162, 2008.
MARTINS, M. C. L. et al. Avaliação do método de Papanicolaou para triagem de algumas
infecções cérvico-vaginais. Revista Brasileira de Análises Clinicas, v, 39, n. 3, p.: 217-221,
2007.
REIS, N.R.O.G. et al. Perfil microbiológico e alterações citológicas associadas em material
cérvico-vaginal coletado em consultório de enfermagem, de 2009 a 2011 em Aracaju/SE.
Revista Scientia Plena, v. 9, n. 5, 2013.
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atendidas no Hospital Divina Providência, Porto Alegre, RS. Revista NewsLab. n. 75: 160164, 2006.
SILVA FILHO, A.M.; LONGATTO FILHO, A. Colo Uterino e Vagina: Processos
Inflamatórios - Aspectos Histológicos, Citológicos e Colposcópicos. Rio de Janeiro:
Revinter, 2000.
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