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Indice
O DESTINO MAIOR
SOBRE A ATENCÃO
O DESTINO MAIOR
Outubro de 1989
Uma vez na vida, ou, de tempos em tempos, cada um tem que se perguntar:
- O que eu quero, pra quê direção eu quero levar minha vida, qual é o meu destino maior?
As estradas que o destino põe para isso conformam, em síntese, muitos dos problemas da
imagem de si, todas as falsas esperanças são do sistema e, quando uma pessoa faz um
projeto de vida é como se o seu desenvolvimento pessoal dependesse da sua relação, do
dinheiro, da família, das amizades. Vai se trair, assim que, para trabalhar a traição, vai ter
que se reconhecer fracassado. Mas fracasso em quê? Porque buscou suas expectativas de
vida em falsas esperanças, no outro, isso nunca vai dar certo, porque buscou seu projeto
vital no projeto do outro, isso é, ao mesmo tempo, se coisificar e coisificar o outro.
A compensação da traição são as falsas esperanças e a maior das traições é não se
reconhecer individuo com infelicidade capaz de se transformar e a primeira coisa que se
deve transformar é a direção que se tem e, aí aparece uma resistência.
Se uma pessoa transforma, ou se dedica, a trabalhar a traição, o temor ou a direção da
vida, tem que destruir tudo que construiu? Não é assim, cada um ao trabalhar isso
direciona novamente tudo que construiu, o que não interessa deixa pra lá, mas, o que
interessa continua, se nós, como um conjunto humano, como um individuo dentro de um
conjunto humano não avançamos mais é porque não sabemos o que valemos, realmente
não sabemos.
Uma pessoa descobre que o seu destino maior tem que ver com o sentido da vida que é de
dentro de si para outros e que a forma eficaz de levar adiante é o manual da organização,
ou seja, o espírito, é a doutrina, é a forma de implementa- lo, é o manual.
Atuamos de acordo a motivações de interesses e aspirações. As motivações, elas vêm mais
do passado lá de traz, as aspirações são aquelas coisas que eu desejaria que fosse, ainda
que, talvez, não faça muito respeito. Os interesses tem mais a ver com as condutas e eles
demonstram a direção mental.
Se a pessoa quer transformar a direção ela deve conhece-la, transformar pode ser reforçar
algumas coisas e deixar para traz outras que não interessam. Agora, eu direciono minha
vida e o outro me ferra, quando eu sou fiel a mim mesmo, se, o outro não cumpre o
acordo, não me trai, no caso ele me libera do acordo. Não há lugar para o ressentimento,
eu avanço e o outro fica, o que ele faça é um problema seu, eu avanço, e, se posso lhe dou
uma mão .
Ser fiel a si mesmo, vencer os temores, as resistências, aumentar a felicidade de si mesmo
e nos demais são obsessões que se resolvem em uma, ser feliz, útil e livre, aprender.
Pode ser que uma pessoa se sinta fracassada, que se sinta submersa na chatice, que tudo
que é feito a ela, em realidade, o fracasso é por não poder saltar por cima disto, então
começam as justificações. Poderia acontecer de uma pessoa se propor a crescer muito
rápido e bem, mas isso não se encaixa no coração, aí se verá que não existe justificação
que valha, aí se verá que tudo foi infundado em falsas esperanças, no trabalho, na sorte e,
na afirmação para fora.
Reconhecer o fracasso no coração não é grave, quer dizer, bom, sejamos sinceros, estas
são minhas falsas esperanças, estes são meus temores, enfim coisas terrenais, afirmação,
segurança, erros de calculo, mas grave, mas uma pessoa poderia se propor outra coisa, se
terá que ser cuidadoso com a degradação, poderia acreditar que a doutrina vale e o que
não serve é a própria pessoa como transmissora, isso se presta para chantagem ao não
poder pedir ao outro que ponha duas moedas quando ele mesmo lhe dedicou muito tempo.
Um ano de trabalho com alguém não vale dois dólares, que vá então ele pagar uma
psicólogo que o escute. Nossa pretensão é superar em si mesmo e nos demais.
Um erro freqüente, ao lançar-se para um crescimento é que depois funciona como um
resorte, é não levar as coisas em conjunto, em algum momento se reivindica aquilo que foi
sacrificado e começamos tudo de novo.
Quando eu não dou atenção, compenso, e quando dou atenção, direciono. Compenso com o
que vou fazer semana que vem ou com que o Maná caia do céu, direciono trabalhando de
acordo com o que há no calendário, um mínimo de mudança e, com tudo isso poderia se
inserir num âmbito maior? Por exemplo, pessoas que têm seus interesses, movem-se de
acordo à eles e de todos os modos não processam, não seguem um calendário.
Resulta que, se vê gente que está até 15 anos nisso e não consegue que ela siga um item
geral do calendário, como encaixa toda essa coisa pessoal, de transformação de si mesmo
em seu âmbito, e a coisa transpessoal a obra comum e o calendário. Em definitivo um está
sozinho, em certo sentido sim, no sentido que de cada um depende mais, depende mais
dele do que de qualquer outra coisa, se ele não faz, outro não vai fazer, ainda que faça terá
feito sua parte e não a minha, se eu não facão eu sou aquele que não faz.
Como se encaixa meu projeto com o projeto comum? As opções serão dadas para que eu
me posicione onde eu melhor possa desenvolver o movimento e eu mesmo, mas a minha
direção e a do movimento elas se aglutinam ao redor da doutrina, também posso fazer
outras coisas, mas isso não é movimento.
Às vezes, pode parecer que o calendário geral incomoda os calendários particulares. É claro
que incomoda, porque o geral não têm os vai e vens dos casos particulares, molesta,
incomoda porque me faz ver que eu estou divagando, desatento ou estou sofrendo a ação
dos ciclos todas as atividades muito "naturais" das que não se deve envergonhar, mas tão
pouco, fazer disso uma ideologia, também fazemos algo para não divagar, para atender e
nos desenvolvermos. Se estou no tema aproveitarei cada item do calendário para avançar
com o projeto.
A opção é para nos colocarmos de acordo ao nosso gosto e, o manual para nos mantermos
atentos, pelo menos em alguns temas e, poder avaliar o tempo sem tanta nuance pessoal.
Nós somos boas pessoas, com qualidade humana, ao final não é mais grave ter
desatendido que dormisse e ter chegado tarde em algum lugar.
Quando se tem fé na orientação talvez não diga demasiado, mas se mostra com fatos, com
tempo, será muito importante a fé em si mesmo e nos demais, mas também a motricidade,
a ajuda e o intercambio. É muito importante a comunicação, mais ainda se é sobre como
vamos fazer para ajudar aos outros, como vamos fazer para disparar um processo
interessante se vai na direção geral, com as características pessoais, mas sem modelos
distintos do movimento para cada um, para que desse jeito ninguém se vá.
Em ponta de vacas, a mesma mensagem para todos que estavam ali, não todos, hoje,
estão conosco.
Se uma pessoa coloca em jogo sua própria afirmação e não se importa que alguém se vá,
então, vai ter que fazer rolos o tempo inteiro, vai ter mil versões do movimento, e nunca
vai poder juntar as pessoas e integra-las num projeto comum convertendo-se em
camaradas, e, nem falemos de juntá-los como os pares,
Se eu tenho que fazer um movimento especial para esse que chega, quer dizer que é ele o
recém chegado que nos esta dizendo o que temos que fazer e isso, quando se supõe que
nós é que estamos nessa atividade e, depois falamos de traição, é claro que seremos
flexíveis em muitas coisas, mas não no que se refere ao plano geral, à doutrina ou a certos
requisitos mínimos e, se lê não gosta, que não entre, nós temos muitos claro para onde
vamos.
Está muito bem que exista a iniciativa, a característica pessoal, mas se é para apoiar a
ação conjunta, não para formar um grupo de corações solitários e dizer que isso é um
movimento, porque isso não acrescenta, pelo contrario, subtrai, porque não contamos com
eles e, alem disso eles confundem os outros. Se todos temos claras as coisas, alguns não
vão gostar e eles irão embora e voltarão quando entendam ou não voltarão, e outros irão
gostar e ficarão e apoiarão com tudo, mas se colocarmos tudo na mesma bolsa e fazemos
um movimento para cada um, isso está frito, não poderá crescer (por exemplo: vemos uma
criança fazer 12 filiações para o partido enquanto outros se esforçam para explicar porque
não se pode fazer isso que acabamos de ver).
Coloquemos esse delegado de grupo, e esse grupo não vai agüentar 10 minutos.
coloquemos um voluntário nesse grupo, onde tudo é a sua medida e harmoniosamente e
ele se vai, porque ele veio para crescer com a verdade para frente, não com um clube de
chatos.
Enfim, não adianta ficar bravo, se é o caso, de uma pessoa estar passando por um dos
ciclos altos e baixos, da lei dos ciclos não vai escapar ninguém por mais bicho que seja.
O tema é para onde se vai enquanto se cicla, qual é a direção, apesar dos ciclos. E a
direção não a vemos nos motivos, não a vemos nas aspirações, naquilo que gostaríamos,
nós a veremos na conduta.
Ainda sem conhecer os que depois vão trabalhar com aquela pessoa, desde já, pode-se
intencionar, qual tipo de construção se quer fazer, sem piedade com as crenças que nos
fazem sofrer e que colocam freio ao seu desenvolvimento, sem falsa consideração a que te
leva a: eu te hipnotizo e você me hipnotiza e, juntos, vamos para o matadouro, mais
sempre com muita amabilidade.
Se acontece que, propondo as coisas como elas são, alguns não conseguem traga-las, isso
demonstra que o movimento não é para eles e que eles não são para nós, porque se nem
por um instante nós queremos possui-los e o quê que se ganha em pensar que as pessoas
são para si, o movimento é para aqueles que querem e podem fazer o que o movimento
propõe.
Qualquer um pode iniciar um grupo e depois desenvolve-lo, com uma excelente estrutura,
quando não saiba algo, vai e pergunta, para isso tem um orientador e seus pares. Estamos
falando que as pessoas têm que se comunicar e que é interessante faze-lo, isso é para os
verdadeiros de cabeça, fieis de coração e concordantes em sua ação ou para os que
queiram, ou para os fortes. Forte é o que, desde a hora em que se levanta até a hora que
vai dormir, constrói e aumenta sua felicidade e a dos outros, esse é o herói. O voluntarismo
não basta, esta fortaleza estará aglutinada em torno de uma ideologia que tem táticas de
ação e a doutrina como alimento.
Traduzido por Paulo Genovez em fevereiro de 2001.
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SOBRE A ATENCÃO
Anotações de uma conversa com Silo em Mendoza, setembro de 1989
Numa época de forte hipnose com esta, a atenção é uma arma formidável para resistir à
influência do sistema, para descobrir seus pontos débeis e elaborar os pontos de vista e as
propostas que podem esclarecer as pessoas a se oporem ao sistema.
Nossa gente tem que fazer um esforcinho nessa direção. É um grande poder o
conhecimento de si mesmo. Aumenta a reversibilidade, diminui a hipnose, permite decidir.
Eu escuto esse liberal inútil, vejo seus programas de televisão com sua ideologia disfarçada
e estou atento. Eu sei o que estou atendendo. O problema com a atenção dirigida, o
problema para eles é que não perco minhas referências, não sou chupado pelas solicitações
sensoriais que são apresentadas para mim.
Conhecemos um tipo de atenção que é a atenção cotidiana. A atenção vai na direção dos
estímulos. Se produz um estímulo, eu atendo. Toco uma campainha e o cachorro vai
procurar comida.
Vou até as coisas segundo minha atenção seja solicitada por algum estímulo sensorial.
Conhecemos outro tipo de atenção. Há muitos estímulos e vou àqueles , de todos os
estímulos que existem, que coincidem com meus interesses.
O primeiro caso é o caso de uma atenção simplesmente solicitada por estímulos e é uma
resposta mecânica. Que não venha do estímulo e saia de alguém até o estímulo, essa
atenção está sendo levada, de todas as maneiras, por essas aspirações, essas condutas que
nem sequer foram revisadas. O sujeito nem sabe por que tem tais interesses. Por que ele
vai? Porque está armado assim, está condicionado para responder ao estímulo. Muito
interessante.
Não sei se perceberam que é diferente a fonte de orientação da atenção. A primeira é uma
atenção animal, solicitada pelos estímulos externos, e a segunda é uma atenção
verdadeiramente humana que é ir até o outro. Interesses. Mas observem que tanto num
caso como no outro, não há um controle genuíno que está movimentando para saber o que
se está fazendo, em nenhum dos dois casos. Há diferenças entre uma e outra, mas está
claro que não se sabe o que se está fazendo em nenhuma das duas. Conhecemos estas
formas de atenção.
Conhecemos o que é uma atenção dividida, por exemplo. Conhecemos o que é estar, ao
mesmo tempo, atendendo a dois estímulos. Na verdade, esta atenção não é muito
frequente. A não ser em alguns serviços, em algumas ocupações ou em exercícios. Existe
uma certa capacidade para atender a dois estímulos simultaneamente. Às vezes o serviço
exige isto.
Pode-se dizer : "Bom, mas isso logo se torna mecânico e vemos um cara que dirige um
ônibus, devolve o troco, olha a saia da mulher no banco da frente, briga com outros
motoristas." Isso se torna mecânico. Mas há serviços em que essa prática, essa atenção
está dividida. Por experiências, por práticas, por exercícios, conhecemos este trabalho de
atenção.
Há outro tipo de atenção que é a atenção dirigida.
Nós podemos fazer muitas práticas ou experiências e a única coisa que vamos alcançar com
essas práticas é compreender que a atenção é muito elástica, que admite distintas formas,
e vamos poder testar a própria atenção. Mas não podemos alcançar com essas práticas
mais do que elas exatamente são: uma prática ou uma comprovação.
Não podemos fazer isso (ir mais além com a prática) porque, se pretendemos que o
exercício de uma forma de atenção, à força de prática e de sustentação, alcance resultados
de transformação, o que se irá produzir é uma fadiga. E vamos por empenho no dia 1, no
dia 2, no dia 3, menos no dia 4, menos no dia 5 e "sayonara ".
Aquilo que nos exige muito esforço e não podemos colocar em prática para trabalhar já
sem muito esforço, também pelo tempo e, portanto, não obtemos benefícios proporcionais
ao esforço investido, são de um interesse que não pode se sustentar.
Estes teste são de interesse porque nos permitem compreender os segredos da atenção.
Uma das coisas que nos permite compreender isso da atenção dirigida é que a
reversibilidade flui muito mais. Na medida em que estamos conversando e estamos atentos
ao que estamos dizendo, não perdemos o centro de gravidade. Nos damos conta de que é
bastante difícil que a gente morda a isca. Porque poderão nos dizer isto ou aquilo mas
nossa visão é clara.
Não somos tão suscetíveis ou vulneráveis à pressão de grupo ou a uma situação, nem à
apresentação de imagens em cartões. Porque temos nosso centro de gravidade em nós
mesmos.
No seu momento se disse que uma das características da hipnose era a perda de referência
do sujeito e a capacidade de comparação. Essa perda da capacidade de comparação faz
com que o objeto estímulo se converta em algo central, mas não poderá ser comparado
com nada e, por não haver comparação, se caia nesse campo de influências. Isso acontece
também nos sonhos.
E acontece não só na hipnose. Acontece na vida cotidiana. A sugestão de imagem é muito
forte, a sugestão do momento em que se vive, do meio social, a sugestão da imprensa, da
TV, atuam muito fortemente. Não há com o que comparar, em todo o lado se encontra o
mesmo, há determinados valores estabelecidos, tudo isso é aceito, tudo isso não é
pensado, isso é o que acontece, isso é o que ocorre, está submetido a esse grande campo
de influências e sua atenção termina finalmente indo nessa direção. E aí estamos presos
nessa hipnose do sistema, coisas que já conversamos em seu momento.
A capacidade de reversibilidade e de autocrítica diminui consideravelmente nas populações.
Se há pouca capacidade de crítica é porque não se pode comparar coisas; é por isso que
não se pode fazer. E se há pouca capacidade de autocrítica é porque não se pode comparar
coisas dentro de si mesmo. Quem não conhece a si mesmo não pode comparar coisas em
si, está diretamente inabilitado para a autocrítica. Não se conhece, não pode fazer
autocrítica.
Casualmente pode acreditar que está se autocriticando. Às vezes existem cidadãos que
dizem: "Eu confesso que tenho que fazer autocrítica. Eu sou um filho da mãe." Quando
dizem essas coisas, na verdade não estão comparando as coisas que lhe acontecem. Estão
utilizando a visão dos outros para aplicá-la obre eles mesmos. A autocrítica deles não tem
nenhum valor. Ela é como os outros o criticariam. Eles estão falando isso que os outros
dizem como se fosse sua própria elaboração.
Se não há autocrítica e não há crítica, não há reversibilidade. Quer dizer, não se tem a
atitude para sair desse campo de influências externas provenientes do sistema.
Não tem autocrítica porque não tem conhecimento (...)
Nossa situação fica em cheque nesses fenômenos.
Se nós apresentamos essa forma de atenção dirigida em termos de prática e de como
produzi-la, terminará num falseamento, não vai dar tempo para que tenhamos resultados e
a coisa pode ficar feia.
Se nós recordamos alguns momentos interessantes que tivemos essa nossa atenção sem
perder a consciência de nós mesmos, sentimos uma grande potência interna e sem esforço.
Isso nos ajudaria mais do que nos propormos a manter algum tipo de atenção.
Basta que agora mesmo, enquanto estamos falando (com suavidade, com suavidade,
sempre com suavidade), enquanto falamos atentos, atentos ao que se está dizendo, atento
às outras pessoas e a tudo aquilo, basta com que nos sintamos colocados onde estamos
para notarmos uma visão muito mais clara.
Não é uma proposta compulsiva, não é um esforço para manter a atenção. É,
simplesmente, um sentir-se colocado aqui onde estamos, conversando, sabendo que
conversamos, discorrendo em torno a certos temas, estamos pensando enquanto
discorremos. Que surge se mantivermos essa atitude (não essa prática nem esse
"forçamento"). Se mantivermos essa atitude de conseguirmos um registro de maior
potência e frescor, sem intermediação da imagem, creio que poderíamos obter bastante
crédito desse comportamento mental.
Estamos falando de diferentes comportamentos mentais. O que, sem dúvida, marca
diferenças no comportamento habitual que observamos ao nosso redor.
Nós observamos ao nosso redor um comportamento mental muito determinado, muito
pouco manejado, muito pouco claro e, portanto, muito pouco potente.
Parece que podemos assumir um comportamento mental que é também uma conduta, um
comportamento mental que tem seu valor nisto da reversibilidade, na crítica, na autocrítica
e na potência no pensar.
Isto não quer dizer que mergulhe de cabeça, não é mesmo?
Diante de determinados estímulos, diante de determinadas coisas...não se mergulha de
cabeça. Não está mal. O que digo é que de algum modo poderemos converter num valor
psicológico isto: que é mais interessante estar atento, atento no que efetivamente
acontece, atento no que se fala, atento no que se diz, ter isso como um "tin-tin' no plano
de fundo"... Se convertemos num valor que é bom isto de estar numa atitude atenta,
concentrado diante das coisas, creio que ganharíamos.
Se o propusermos com prática ou disciplina, ou como "forçamento"...vamos ter problemas.
Se o estabelecemos como atitude creio que vamos registrar um interessante potencial, uma
maior clareza de idéias, um eixo muito crítico, muito crítico.
Acredito que isto é inteligência. Há uma conduta mental que pode-se assumir, é conduta
também.
E se mergulhe de cabeça, mergulho de cabeça, mas eu tenho esse valor.
Tem que ter uma postura mental atenta. Parece-me muito difícil, se está atento em sua
postura mental, me parece verdadeiramente mais difícil ficar mergulhado em climas, em
confusões...por coisas que estão operando mecanicamente em você. Parece-me mais difícil
do que se está simplesmente solicitado pelos estímulos ou vendo se disto que está tratando
tem a ver com você ou não. Se tem a ver com você, vai; se não tem a ver com você: olha
o bichinho na parede, você está ferrado, está submetido a um campo de influência que não
tem tamanho. Seja do sistema ou seja dos seus valores, estará numa grande bagunça.
Não estou falando de coisas que sejam muito fáceis, mas são suaves.
Cada um tem que conseguir, sem dúvida, se dando mal e experimentando com a atenção,
tem que ter registrado algum momento de certa postura atencional, tem que ter registrado
essa clareza, essa potência. Tem que tê-la registrado.
Se o encaram como prática vai haver dificuldade. Vão se cansar...e finalmente, vão
abandoná-la, não vão ter nenhum êxito.
Eu distingo muitas formas de atenção. Há uma quase animal que depende dos estímulos
externos. A outra atenção tem a ver com os interesses, interesses que, por sua vez, não se
sabe nem de onde vem, nem por que se vai (na direção deles..) é um bólido
lançado...bólido?!...uma bola de barro...Aí vai um, veja só ele, uh, uh, e que atento que
vai!!...e não perde detalhe, porque aí está o interesse. Se não sabe o que está
fazendo!!!...Bom esse é outro tipo de atenção.
Há atenções divididas e atenções dirigidas. (não se escuta na fita k7) cujo centro de
gravidade é o olho que olha, é a visão, é suave, é interessante e crítica. E entre tantos
registros, há um registro de potência interna.
Essa conduta interna produz um funcionamento mental diferente entre essa pessoa que
está se colocando desta maneira e o resto das pessoas que colocam sua atenção mecânica.
Parece-me evidente que têm um funcionamento mental diferente. Eu teria em conta esta
sugestão ainda que seja para criticá-la, para discuti-la, para dar-lhe outras voltas. Esta
sugestão em torno a atenção dirigida, eu a teria em conta.
Um atenção que, sustentando-a sem esforço, faz com que você tenha mais clareza e que
seus registros sejam mais interessantes, mais potentes. Cuidadinho, que ela é suave.
- Pergunta: Há registro de disponibilidade interna também?
Se você se interessa por qualquer bobagem, isso parece inadmissível; é inadmissível para
qualquer pessoa razoável. Vem um filho da mãe e te fala de uma mosca e você aí, atento.
Sabendo o que está fazendo, você está em outra. Sim, muito disponível, dado que está em
marcha essa atenção. Sim, é uma forte disponibilidade interna.
Mas não, as pessoas razoáveis, as pessoas estereotipadas, esboço de pessoas, não têm
disponibilidade, a tem somente para certos temas que estão vinculados a seus
interesses...Nesse sentido a atenção é muito disponível, tudo é muito disponível, tudo é
muito interessante porque é para a atenção que está trabalhando. Tudo é muito
interessante.
É claro que você tem seus interesses e suas coisas, mas sua atenção é muito disponível,
quase infantil.
Não é um mito, não é nenhuma lenda, é um comportamento diferente. E termina em
crédito!
Pode estar discutindo, pode estar nervoso, mas está situado, está centrado.
Se há ação válida para um distraído? E de que estamos falando? É um contra-senso. Isso
não pode ser. Tudo isso não.
Não pode haver ação reflexiva sem reflexão sobre o que se faz. A ação reflexiva é reflexão
sobre a ação, implica atenção sobre o que se está fazendo. De que ação reflexiva está me
falando? Se está movido por estímulos que não estímulos que não tem nada a ver com reflexão. Re-flexo, volta ao pensamento. Se, enquanto você faz as coisas não sabe o que está
fazendo, se enquanto pensa não sabe o que está pensando, se enquanto escuta não sabe o
que está escutando, de que ação reflexiva está me falando? Pois não sabe o que diz.
Insisto no que é um comportamento mental não natural. É uma forma intencional de
colocar a cabeça. Bom, é uma forma de tocar os próprios mecanismo; sim, é uma forma de
tocar os próprio mecanismos, disso se trata. Não é "natural" essa forma de pensar. O que
está muito bem. (risos).
Suavemente. Sem bagunça, sem propor-se, sem forçar a mão. Mas considerando-a um
valorzinho interessante. O valor de assumir, entre tantos comportamentos que nos
parecem válidos, entre tantas coisas que se diz: essas estão bem, essas estão uma merda,
isso vale a pena, aquilo não, no meio de todos esses valores, também temos algo a dizer
sobre o comportamento mental. É um modo de ação. "Devagar, porque não está mexendo
em cordas". Veremos. E agora você verá! Algo também temos a dizer sobre o
comportamento mental. Não só sobre o comportamento das mãos, das coisas...
Temos algo a dizer sobre o comportamento mental. Estamos falando neste momento de um
determinado comportamento mental.
Mas não crio para mim nenhum problema de moral. Se me perco na coisa, me perco na
coisa.
Digo francamente que você é menos suscetível à influência irracional dos estímulos
externos. Digo que você está atento ao objetivo e está situado numa perspectiva que
registra, que sente. É isso. Isso é tudo que queríamos conversar sobre este tema da ação
reflexiva, e como vai ser reflexiva se não se sabe o que se está fazendo!?...Para saber o
que se está fazendo tem que estar minimamente atento ao que se está. Por aí esse tema
da ação reflexiva parece que seria algo enorme, mas não. A ação reflexiva tem a ver com o
tipo de atenção.
Tantas besteiras são feitas por se estar desatento... em vez de outros motivos! Por erros
desse tipo! Por estar desatento!
Não, não sabemos muito mais do que isto, portanto, é só isto que podemos trnasmitir. Mas
é verdadeiro o que dizemos. De que existe um registro diferente quando se valoriza
convenientemente esta conduta mental que faz com o que aquele que olha, aquele que faz,
tenha-se como referência, ainda que seja como perspectiva, e saiba o que está fazendo, o
que está dizendo, o que está escutando...
É uma forma aperceptiva mas eu devo sempre acrescentar a estas considerações, sempre o
mesmo: isto não se converte em prática!. Converta-o, em todo o caso, se é que te
interessa, em um valor de um comportamento interessante de sua atitude mental. Não em
uma prática forçada.
Para dizer a verdade, quando estiver com muito sono e etc. isto vai diminuir. Essa potência
e essa coisa, vai diminuir. Mas quando estiver acordado, então esteja acordado. Quando
está acordado, deve estar acordado.
Não estamos juntando muito as coisas que já sabemos. Em todo o caso estamos reenfocando-as. Dando uma outra volta dada a experi6encia que temos nesses temas, não é
mesmo? Temos feito muitas coisas...Vamos dando outra volta, voltando ao tema da
atenção. Por que não? É o tema fundamental do comportamento mental.
Para fazer o que com a atenção? Para que você faça o que quiser. Sejam seus projetos,
seus problemas...suas atividades, seus interesses... você verá.
Mas eu te digo: existe um comportamento mental valioso, muito mais valioso que o
comportamento mental dado, o que tenho.
Essa reflexão queríamos fazer sobre este determinado tema da atenção.
Estivemos trabalhando com outra pessoa, muito bem, e insistimos neste tema, neste tema
da atenção, da atenção reversível, da atenção des-hipnotizada, da atenção disponível, da
atenção crítica, da atenção com referência à distância, do problema da sugestão do que
alguém falou, do que se vê, da atenção colocada no que se faz, da atenção reflexiva.
Pusemos ênfase em que esse comportamento é mental e o consideramos, talvez
erroneamente, como uma coisa valiosa. E não muito mais sabemos sobre este tema. E há
registros, seguramente poderão rastreá-los em algum momento, há registros muito
potentes, de muita força, com esta graça da atenção.
Parece que quando se obtém bons resultados não há com o que preocupar-se porque se
fica guloso. Na hora de obter bons resultados parece que se gosta de andar assim. Como os
pelicanos gostam de andar com uma pedra. Porque sentem um peso aqui...Se não têm um
peixe pelo menos tem uma pedra. Qualquer um sempre encontra uma pedra se abre a boca
(risos). Então gostará de andar assim.
Bom não levamos tanto tempo neste tema. Meia hora, uma hora. Mas me parece correto
deixar esta sugestão. Porque pelo pouco que vimos isto é do maior interesse. É
conveniente, parece que nos torna fortes, nos torna reversíveis, críticos, nos faz bastante
reflexivos.
É um comportamento mental que pode chegar a ser cotidiano. E não é o comportamento
que se observa ao redor. Bom, isso será problema deles, não vamos chorar...
E o excesso de força não nos convém, não vai nos dar crédito, vai nos decepcionar, vai tirar
força e, em pouco tempo, vamos abandonar a prática.
Assim gostaria deste tema. Sim, chamamos isso de atenção dirigida, não forçada, suave,
compreendida por diferente experimentos e talvez aceita por registros favoráveis, não
proposta como uma prática. Dizemos que, dentre outras, é atenção aperceptiva. E a
englobamos no tema conduta. É uma conduta.
-E não existem condutas tortas, caramba? Claro que existem condutas mentais! Não há
figuras treinadas, pelo motivo que for, em ver sempre tudo mal? Não há gente cujo olhar é
sempre negativo? Como não! Há tipos que vivem nessa conduta mental.
Isto é interessante se é que alguém se interessa pela liberdade.
Não creio que isto vai melhorar outras funções mentais, mas certamente creio que isto
pode te dar muita crítica e levar o olho para onde se queira que ele vá.
Não vai te dar mais memória, não vai te dar mais agilidade no pensar, essas características
pessoais. Mas vai te dar reversibilidade. E aquilo da ação reflexiva, deve-se levar a este
tema.
E o "climaço", aqueles grandes climas e essas coisas que às vezes se tem, também nota-se
que diminuem com a atenção. Que tendem a não aderir. Não pode ser que estejas com
climas, movendo idéias e coisas que têm de ser cristalinas, não pode ser que de repente
apareça um climaço que te ferra e te embaça inteiro. Mas o que é isto? Isto não pode ser,
como pode fazer isto. Coloque bem a cabeça. Não convém. Não faça isto.
Isso se nota, creio que todos notamos, estamos muito treinados, somos "dedos-duros",
muito psicológicos, creio que notamos muito a figura que se "climatiza", temos muita
sensibilidade para isso. E nos parece uma coisa desproporcionada, não está mexendo bem
com sua cabeça. Coloque bem sua atenção.
Este comportamento pode constituir-se no comportamento mental habitual com que vivo. É
uma conduta mental distinta.
Há gente que sofre, e divaga, e se climatiza. E para que serve isso? Para quem serve? Para
ela não serve, pros outros tampouco. E que lógica tem isso? Essas são condutas mentais
inaceitáveis. (risos) Bem, imagine só, vem um cara com uma conduta mental inaceitável:
Retire-se. Pense de outra forma a próxima vez que vier. Claro, tem que vir com um vaho,
com confusão...como se chegasse num lamaçal...não contamine! Antes que comece a
falar...Que modos sÃo esses! E que falta de consideração, não? Chega o tipo e te faz uma
coisa, é um desconsiderado, está metido em sua confusÃo...Não se pode estar com ele aí,
"bip-bip-bip-bip" sem confusões.
Às vezes se alcança nos diálogos entre nós essas coisas muito neutras, muito em tema.
São maravilhosos esses momentos. Se está simplesmente no que se está. Pode vir o
mundo abaixo. Alguém passou por algum desastre que ficou largado por aí...mas está
interessado no tema, que pode ser besteira, mas é muito gratificante.
Mas se está nisso e, de repente, tudo vai por água abaixo, deixa tudo pela droga de um
clima...Hoje você está aqui, não está lá. E o que acontece lá não vai se resolver aqui. Ao
contrário, o que acontece lá também estraga o seu aqui.
Não sabem, não estudam...
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