a integração sensorial como via de acesso principal

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A INTEGRAÇÃO SENSORIAL COMO VIA DE ACESSO PRINCIPAL NA SÍNDROME
DO X FRÁGIL
Fabiana Segato Suannes1, Ana Cabanas2
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Universidade Cruzeiro do Sul, Instituto de Integração em Educação Continuada, Rua Conceição, 200,
2
Centro, 11680-000, Ubatuba, SP, [email protected], Universidade de Taubaté, Programa de PósGraduação em Gestão e Desenvolvimento Regional, Rua Visconde do Rio Branco, 210, Centro, 12200000,Taubaté, SP, [email protected]
Resumo- A Integração Sensorial deve ser aplicada como auxílio e via de acesso a pessoas com X Frágil
como meio facilitador para comunicação e realização de tarefas dirigidas antes prejudicadas ou
impossibilitadas pela hiperexcitação. Por isso, este estudo exploratório, retrospectivo e documental que
envolveu a análise de cinco prontuários de pacientes assistidos por instituição de São José dos Campos,
SP, teve como escopo identificar por meio da Integração Sensorial, qual a via de acesso a essas pessoas e
incentivá-las a desenvolver suas habilidades prejudicadas pela hiperativação. Esta intervenção foi realizada
após análise dos prontuários institucionais e da aplicação de avaliação com base na Integração Sensorial e
discussão dos casos e pareceres dos profissionais que os acompanham diariamente (professor de
Educação Física, educadores e instrutores). Os resultados indicam melhora em comportamento, emissões
verbais e abstração para realização de atividades. Desta forma, conclui-se que as metas podem ser
atingidas por duas vias de acesso sensorial, ou seja, usando dois estímulos sensoriais diferentes ao mesmo
tempo, exemplo: tato/visual (enquanto, pede-se pela emissão do nome de determinada figura, realiza-se a
Calma Motora); leitura com mãos ocupadas (em determinada hora do dia, rotineiramente, realizar leitura ao
mesmo tempo em que aperta uma bola, há uma abstração do texto lido).
Palavras-chave: X Frágil. Integração sensorial. Calma motora. Hiperexcitação. Emissões verbais.
Área do Conhecimento: Ciências da Saúde.
Introdução
A Síndrome genética do X Frágil (SXF),
responsável pela maioria das causas de retardo
mental herdado, é caracterizada por uma falha no
ramo final do cromossomo X – menos compactado
– com alteração do deoxyribonucleic acid (DNA)
local (MODESTO et al, 1997). Essa falha se
ocorre mediante o aumento nas trincas de
proteína Citosina, Guanina, Guanina (CGG),
gerando doença genética nos genes Fragile X
Mental Retardation 1 (FMR1) e Fragile X Mental
Retardation 2 (FMR2), como indicado por
Carvalho (2003).
Essa síndrome, que acomete mais o gênero
masculino que o feminino, apresenta como sinais
e sintomas: desenvolvimento normal em lactentes;
atraso no desempenho social (com traços
autísticos); linguagem defasada com atraso no
desempenho escolar; Transtornos Transtorno do
Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH);
distimia; epilepsia; alteração eletroencefalográfica
sem
manifestação
clínica;
irritabilidade;
intolerância; face alongada; orelhas grandes e em
abano;
macroorquidismo;
coexistência
de
mutismo, indiferença interpessoal e atos
repetitivos sem sentido; pobre contato pessoal;
instabilidade de conduta, oscilando entre amigável
e violento (YONAMINE; SILVA, 2002).
A Integração Sensorial (IS), na concepção de
Goldson (2001), envolve capacidade de receber,
filtrar, organizar e integrar os estímulos sensoriais
com a finalidade de elaborar respostas
adaptativas, reagindo de maneira adequada e
funcional – a maneira pela qual se apresenta os
estímulos é que pode facilitar ou dificultar esse
desenvolvimento.
Para Sánchez (0000), é um processo
neurológico que organiza a sensação do próprio
corpo e do entorno. A terapia de IS está centrada
em três principais processos: vestibular (gravidade
e movimento), sentido proprioceptivo (músculos e
articulações) e tato; incluindo ainda visão e
audição.
Quando se fala da pessoa com alteração no
sítio frágil do cromossomo X, tem-se em mente
pessoas com comportamentos extremos –
hiperexcitadas ou muito quietas, com as quais a
maioria das pessoas não sabe como lidar. Desta
forma, este estudo visou identificar por meio da
abordagem de IS, a via de acesso a essas
pessoas e incentivá-las a desenvolver suas
habilidades prejudicadas pela hiperativação.
XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e
IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba
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Método
Esta pesquisa exploratória, retrospectiva e
documental envolveu cinco sujeitos (quatro do
gênero masculino e um do gênero feminino, com
idade entre 12 e 25 anos e, especificamente, dois
deles são irmãos) que recebem acompanhamento
pedagógico em uma instituição do Município de
São José dos Campos, Estado de São Paulo.
Cada participante foi avaliado individualmente .
Para manter o anonimato dos sujeitos, estes
foram nomeados por letras gregas: Alpha, Beta,
Gama, Delta e Zeta.
Também foi necessário aplicar um formulário
para coletar dados junto aos profissionais
responsáveis por cada sujeito da pesquisa.
A avaliação utilizada foi baseada na IA com
tempo de realização estimado de trinta minutos à
uma hora.
A coleta de dados deste relato de caso foi
realizada em sete etapas:
I
–
Observação
sobre
a
reação
comportamental: frente ao convite para nos
acompanhar à sala em que seria feita a avaliação,
considerando que o espaço era conhecido, mas
não de uso regular.
II – Identificação: relato do próprio nome, idade,
nome dos pais, irmãos e idade dos mesmos e
endereço.
III – Jogos de Regras (Quadro 1)
Memória
Quatro pares apenas, com
figuras conhecidas (animais,
meios de transporte e
alimentos).
Sequência Lógica
Quatro figuras, com início,
meio e fim com relato da
situação montada.
Quadro 1 – Jogos de Regras utilizados na
pesquisa
IV – Emissão: foram apresentadas fichas com
figuras referentes ao cotidiano como: alimentos,
vestuário, meios de transporte e objetos de
higiene pessoal. Após apresentação de cada
figura, foi solicitado nomeação e forma de
utilização.
V – Discriminação gustativa: Os sabores
utilizados três sabores (limão, açúcar e sal).
Foi colocada uma venda nos olhos e solicitado
que após o sabor ser colocado na cavidade oral,
qual a sensação causada.
VI – Discriminação olfativa: utilizaram-se três
odores (álcool, perfume e café). O uso da venda
ainda permanece e foi colocado próximo ao nariz
e solicitado a nomeação e a sensação que esse
odor causava.
VII – Discriminação auditiva: utilizara quatro
tipos de som (trem em movimento; salva de
palmas; vozes humanas; sons do meio ambiente chuva, trovão, mar, etc. A venda nos olhos
continua a ser utilizada; foram apresentados sons
isolados e em conjunto, e dado um tempo de
resposta entre eles, solicitando nomeação.
Durante a avaliação verificou-se alteração de
comportamento, na maioria das vezes a
hiperexcitação (desvio do olhar, hiperventilação e
movimento de mãos) característico da SXF.
Nestas situações utilizaram-se recursos para
retornarem ao ponto de equilíbrio: pressão e
vibração; fala rítmica, lenta; poucas emissões
verbais; calma motora; e relato dos passos
restantes para se chegar ao fim das atividades.
A técnica de Calma Motora, na visão de
Morales (1999), é colocar uma mão aberta na
região
occipital
da
pessoa
e
realizar
pressão/vibração intermitentes em direção cranial.
Coloca-se a outra mão na região do osso esterno
e faz-se pressão/vibração intermitente em direção
dorso-caudal.
De acordo com as observações feitas neste
estudo, frente às atitudes balanceadas com os
estímulos sensoriais adequados a cada caso, ou
seja, após avaliação precisa dos fatores que
desencadeiam essas reações indesejadas,
aplicou-se de um ou dois estímulos sensoriais
simultâneos e se atingiu o ponto de equilíbrio para
realização de atividades antes prejudicadas pela
hiperativação, ou seja, conseguiu-se despertar e
manter estados apropriados de “arousal”.
A IS foi a base deste estudo, visto que pessoas
com sítio frágil alterado apresentam um déficit
nessa área.
Resultados
Mediante o levantamento de dados de
prontuários, foram encontrados pontos comuns:
coordenação motora ruim; falta de iniciativa;
dificuldade em acompanhar ensino regular;
dificuldade de abstração; eletroencefalograma
(EEG) sem qualquer alteração; e tolerância baixa.
As entrevistas com os profissionais envolvidos,
no que se refere ao gênero masculino revelam que
houve unanimidade em relatar: dispersão,
dificuldade de abstração e mudança de
comportamento quando contrariados. Quanto às
atividades físicas, percebem que todos gostam,
participam e necessitam de ordens curtas e
objetivas para realização de tarefas solicitadas.
Por outro lado, o gênero feminino apresentou
habilidade
em
atividades
de
atenção/
concentração, sequência de formas, e dificuldade
de abstração. Quanto às atividades físicas, tem
habilidades para realização de todas as propostas.
A unanimidade neste caso é no tocante ao
comportamento mais reservado, quieto, típico do
gênero feminino com SXF.
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No que tange às avaliações individuais, no
gênero masculino, os sujeitos Alpha e Beta
passaram bem pela identificação, jogos e
discriminação, com alteração de comportamento
apenas na ansiedade do resultado do jogo,
reagindo rapidamente à Calma Motora e voltando
ao ponto de equilíbrio. Os sujeitos, Gama, Delta e
Zeta tiveram dificuldade em chegar até a sala de
avaliação e responder corretamente a própria
idade e endereço; não dominando regras do jogo;
apresentaram ainda descontrole no uso da venda
para os olhos, havendo descompensação com
hiperventilação, estereotipias, dificuldade de
contato visual e sudorese.
Quando aplicada a Calma Motora e/ou pressão
e toques nas articulações, responderam mais
calmamente. Houve aumento das emissões
verbais e melhor contato com a pesquisadora.
Como os itens de discriminação eram os últimos, o
resultado satisfatório só foi atingido com o uso de
estímulos sensoriais de toque e, muitas vezes,
com inserção de dois estímulos simultâneos, por
exemplo, sons ambientais e Calma Motora.
Enquanto, o gênero feminino reagiu bem ao
chamado
para
avaliação,
respondendo
corretamente quanto à identificação e se saiu bem
nos jogos de regra e discriminação. Foi observado
durante as respostas, movimentos constantes de
membros superiores, dificuldade no contato visual
e mãos geladas e com sudorese no final da
avaliação. A emissão verbal só aparecia quando
solicitado, do contrário, a pesquisadora ficava
quieta, atenta a cada pequeno gesto.
Ressalta-se que no primeiro contato, nenhum
deles se sentiu confortável, principalmente, porque
a maioria deles não conhecia a pesquisadora.
espaço e seu tempo para acalmar sua agitação
mental, conseguindo apreender.
Associada à calma motora, descrita por
Morales
(1999),
com
o
mesmo
objetivo, consegue-se fazer com que a pessoa
com SXF saia da hiperativação, consiga fazer
contato
visual
e,
mesmo
que
breve, neurologicamente, organize-se.
Por meio desta avaliação e proposta
terapêutica, foi observada a mudança de
comportamento com a técnica de toque, uma
diminuição de atitudes indesejadas melhorando o
foco de atenção/concentração, aumento das
emissões verbais e melhora no contato visual.
Como indicado por Casagrande (2006), uma
melhora que contrasta com as características das
pessoas com SXF, a qual, geralmente, apresenta
problemas de comunicação, dificuldade de
concentração e ansiedade social.
Outros recursos correlacionados entre os
métodos de Carvalho (2003) e Morales (1999),
que foram utilizados com sucesso para tornar o
contato físico e o acesso verbal mais efetivos, foi a
co-contração em articulações com respiração
profunda juntamente com estímulos auditivos
como histórias sociais e/ou estímulos sensoriais
de olfato ou paladar, ativando os dois campos de
entrada de informações sensoriais.
Como ressaltado por Ballesteros (2009), dentre
as principais estratégias terapêuticas para se
promover a melhor qualidade de vida de pessoas
com SXF está a IS. Corroborando com, Goldson
(2001) diz que a disfunção da integração sensorial
(DSI), comum nesta síndrome, reflete na falta de
capacidade para modular, discriminar, coordenar
ou organizar sensações de forma adaptativa.
Discussão
Conclusão
Quem tem problemas no processamento
sensorial pode causar sérias dificuldades na vida
cotidiana. Esclarece Sánchez (0000) que, estes
déficits se manifestam em uma complexa
desordem resultando em problemas de detecção,
modulação, discriminação e integração adequada
da informação que recebe através do sistema
sensorial.
Foi observada, neste estudo, a dificuldade que
as pessoas com SXF apresentam em adentrar a
locais desconhecidos (sala onde foi aplicada a
avaliação), diminuição das emissões com pessoas
que não fazem parte de seu cotidiano e, como
isso, modificando-se com a rotina até se conseguir
turnos dialógicos com mais facilidade.
A proposta da utilização dos dois métodos,
como dieta sensorial, descrita por Carvalho
(2003), em que a pessoa com SFX tem seu
O estabelecer contato, seja ele qual for, com a
pessoa com SXF é extremamente difícil, bem
como promover mudanças na rotina sistematizada
por esses indivíduos.
Observou-se nos resultados deste estudo por
meio dos pontos fracos é que se consegue atingir
mudanças, quais foram trabalhadas de acordo
com suas particularidades.
Nesse sentido, as metas podem ser atingidas
por duas vias de acesso sensorial, ou seja,
usando dois estímulos sensoriais diferentes ao
mesmo tempo, exemplo: tato/visual (enquanto,
pede-se pela emissão do nome de determinada
figura, realiza-se a Calma Motora); leitura com
mãos ocupadas (em determinada hora do dia,
rotineiramente, realizar leitura ao mesmo tempo
em que aperta uma bola, há uma abstração do
texto lido).
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Essa rotina com o passar do tempo provoca
segurança, autoconfiança e independência. O
exercício aplicado, com duas ou mais vias de
acesso sensorial, auxilia pessoas com SXF a
atingirem a autorregulação, transformando suas
ações, antes desajeitadas e desorganizadas, em
ações sistematizadas com qualidade de vida e
aproveitamento.
Por conseguinte, deve-se ter como regra, antes
de ser escolhido qualquer estímulo sensorial a ser
usado, que se necessita de uma anamnese e
avaliação adequada, com enfoque em todas as
situações cotidianas que provoquem bem estar ou
hiperativação.
De modo geral, conclui-se que para ser
assertivo na escolha das vias de acesso
sensoriais a serem utilizadas, assim como em
quais momentos utilizá-las, deve-se estabelecer
um plano terapêutico inicial, que se aprimora de
acordo com as necessidades de aprendizado .
Referências
- BALLESTEROS, T. B. et al. Autismo. Disponível
em:
<http://scholar.google.com.br/scholar?q=BALLEST
EROS+Autismo&hl=pt-BR&lr=>. Acesso em: 30
ago. 2009.
- CARVALHO, M. Síndrome do X frágil: guia para
famílias e profissionais. Ribeirão Preto: SBG,
2003.
- CASAGRANDE, G.L. et al. A genética humana
no livro didático de biologia. Dissertação
(mestrado) – Educação Científica e Tecnológica,
Universidade Federal de Santa Catarina.
Florianópolis, 2006.
- GOLDSON, E. Integración sensorial y syndrome
X frágil. Revista de Neurologia. v.33, S.1, p. 32-6,
2001.
- MODESTO, A.M. Síndrome do X frágil: relato de
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n.6, p.419-22, 1997.
- MORALES, R.C. Terapia de
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regulação
- SÁNCHEZ, P. La integración sensorial.
Disponível em:
http://www.imlaperu.com/profesionales/integracion
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- YONANIME, S.M.; SILVA, A.A. Características
da comunicação em indivíduos com a síndrorme
do X frágil. Arquivos de Neuropisiquiatria. v.60,
n.4, p.981-95, 2002.
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