Cadê o dinheiro estrangeiro?

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8/15/2016
Cadê o dinheiro estrangeiro? – Revista Exame
Revista Exame
A Maior Revista de Negócios e Economia do País
Cadê o dinheiro estrangeiro?
Thais Folego
O governo mudou, o humor do mercado melhorou, a bolsa está em alta, o
cenário externo joga a favor dos emergentes. Mas onde está o dinheiro
estrangeiro, que ainda não deu as caras no Brasil? O investidor nãoresidente tirou, no primeiro semestre do ano, 14,8 bilhões de reais da
renda fixa do país, segundo os últimos dados do Banco Central. Em ações,
o saldo positivo é de apenas 4,3 bilhões de reais e para os fundos de
investimentos ingressaram 1,6 bilhão de reais no acumulado do ano. Os
números parciais de julho do fluxo para a bolsa de valores brasileira são
mais animadores, com entrada de 4,5 bilhões, mas ainda é cedo para
avaliar se ele será consistente.
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A expectativa dos gestores de recursos internacionais e locais consultados
por EXAME Hoje é de que o fluxo de recursos para o país vai voltar aos
poucos, após três anos reduzindo drasticamente as aplicações, à medida
que as promessas de retomada do crescimento econômico e a melhora da
saúde do país se concretizarem. “O investidor estrangeiro não dedicado a
Brasil, que não acompanha o dia a dia de perto, quer esperar para ver o
processo de impeachment finalizado e se os planos do Ministério da
Fazenda para a economia vão ter apoio do Congresso, ter certeza de que o
planejado será executado”, diz Will Landers, principal gestor para a
América Latina da BlackRock, a maior administradora de recursos do
mundo.
Ou seja: bombardeados apenas com notícias ruins vindas do Brasil nos
últimos anos, os estrangeiros estão ressabiados. Aos poucos, no entanto,
eles começam a olhar para os ativos locais. “Já há uma abertura maior,
mas ainda estamos bem longe da situação de 2010, quando todo mundo
queria falar com a gente e sentávamos na cabeceira da mesa”, diz Ernesto
Leme, diretor comercial da Claritas, gestora do grupo americano Principal
Group.
O mundo conspira a favor
A melhora do ambiente doméstico já levou a uma primeira rodada de
valorização dos ativos brasileiros, mas ela foi liderada pelos investidores
locais. O Ibovespa acumula uma alta de 30% no ano e os títulos públicos do
governo mostram valorizações superiores a 20%. Para movimentos
adicionais de alta, com fluxo estrangeiro, o governo terá que começar a
entregar os ajustes necessários nas contas públicas e na economia. Para
isso, a votação no Senado do afastamento definitivo da presidente Dilma
Rousseff, prevista para o final de agosto, é decisiva.
“O final do processo de impeachment e o destravamento da pauta
econômica são importantes para trazer o dinheiro de longo prazo. O
estrangeiro vem percebendo a melhora qualitativa, mas é preciso mais do
que isso”, diz Rodrigo Borges, diretor de renda fixa da gestora Franklin
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Templeton Brasil. Segundo ele, os recursos que têm entrado são mais para
operações de curto prazo.
Para que o dinheiro realmente venha, o cenário externo tem que continuar
jogando a favor do Brasil. A alta liquidez no mercado financeiro global tem
beneficiado os mercados emergentes. Juros negativos ou estagnados em
economias maduras como no Japão, na Europa e nos Estados Unidos
automaticamente fazem investidores procurarem mercados como o
brasileiro. Até agora, o risco falava mais alto que a oportunidade. Agora, a
tendência é que a balança se inverta.
Além disso, há um aumento do risco de terrorismo na Europa e do político
nos Estados Unidos, com a aproximação das eleições presidenciais. Entre
os emergentes, o Brasil pode ganhar espaço sobre a Turquia, que sofreu
uma ameaça de golpe militar recentemente, e do México, cuja relação
comercial e diplomática com os Estados Unidos pode ser comprometida
com uma eventual vitória do candidato republicado Donald Trump.
“O Brasil vai ser um dos focos dos estrangeiros se Temer encontrar o
caminho”, diz Landers, da BlackRock. A gestora já começou a aumentar a
sua exposição a ações brasileiras em março, quando ficou mais claro que a
probabilidade do impeachment tinha ultrapassado os 50%. O peso das
ações brasileiras nos fundos da gestora dedicados a América Latina
atualmente está 4 pontos percentuais acima do índice de referência do
mercado para a região, o MSCI Latin América – em comparação a um peso
abaixo do índice no começo do ano.
140 bilhões
O problema, claro, é o próprio Brasil não se ajudar. O que se tem hoje são
expectativas calcadas em perspectivas positivas para o país. O problema
será se elas forem frustradas. “O mercado criou uma expectativa de que o
governo tem capacidade de entregar muita coisa em um intervalo pequeno
de tempo e isso não é consistente. Se o mercado ficar frustrado pela
expectativa que ele próprio criou, os preços vão voltar”, diz Jorge Simino,
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diretor de investimentos da Fundação Cesp, maior fundo de pensão de
empresas privadas do país, com patrimônio de 25 bilhões de reais. No
segundo semestre, não custa lembrar, a agenda estará apertada, com
Olimpíadas e eleições municipais.
Um exemplo concreto de como, pelo menos na bolsa, as expectativas
positivas têm dado o tom: o Ibovespa hoje é negociado a um múltiplo de
preço sobre o lucro próximo de 18 vezes, acima da sua média histórica e
quase o mesmo múltiplo do índice acionário de referência dos EUA, o S&P
500.
O BTG Pactual calculou em abril, pouco antes da votação do impeachment
na Câmara dos Deputados, que se os fundos de ações estrangeiros
voltassem as ter as alocações que tinham no Brasil em outubro de 2014,
antes das eleições que reelegeram Dilma, 140 bilhões de reais entrariam na
bolsa. Outros 90 bilhões de reais ainda poderiam vir de fundos nacionais
pelos cálculos do banco.
Mais recentemente, uma análise do banco JP Morgan mostrou que se os
fundos brasileiros de ações, multimercados e de previdência (incluindo os
fundos de pensão) voltarem a ter o percentual do seu patrimônio na bolsa
em linha com as suas médias históricas, o fluxo de recursos para a bolsa
poderá atingir 200 bilhões de reais, conforme publicou a edição anterior de
EXAME. Falta só o país ajudar.
Lucas Amorim / julho 29, 2016 / Mercados / bolsa, estrangeiros, investimento,
landers, maischapeu, reportagemtarde /
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