Sociologia Geral I A cultura, a sociedade e o indivíduo (documento 3) Cultura A palavra cultura é pluridimensional. A cultura promove a adaptação dos seres humanos ao meio em que vivem, facilitando a sua sobrevivência e permitindo-lhes viver com mais conforto. A cultura é um fenómeno exclusivo do ser humano e representa tudo o que nele não é inato e não é natural. Factos Naturais – comer beber dormir Factos Culturais – Comer com talheres ou pauzinhos A maior parte daquilo que fazemos, pensamos e sentimos, e todos os objetos que usamos, é algo cultural e aprendido e não inato. Os elementos culturais podem ser: Materiais – alimentação, vestuário, habitação e meios de comunicação Espirituais – valores, crenças, linguagem e costumes Ou seja, a cultura é um conjunto de elementos materiais e espirituais que os seres humanos criam para se sentirem e adaptarem ao meio ambiente, para facilitar a sua sobrevivência e viverem com mais conforto, são transmitidos de geração em geração. Perspetivas sociológicas e psicológicas Os homens não vivem separados, cada qual em busca de uma solução particular para os problemas de sobrevivência. Vivem juntos, partilhando uma forma comum de vida (uma cultura), que lhes regula a existência coletiva e lhes proporciona métodos para se adaptarem ao mundo que os rodeia e controlarem e manipularem, até certo ponto, as forças da natureza. Os sociólogos estudam a sociedade e a cultura, as relações e normas sociais, as crenças partilhadas e os valores comuns, a estrutura social e o comportamento padronizado, como distintos indivíduos que se conformam às normas sociais, adotam as crenças e valores que prevalecem em seu grupo e participam das relações incorporadas, em estruturas sociais, ou deles se desviam. Cada pessoa é portador de cultura, participante da vida de grupo e personalidade distinta. A personalidade é um produto social, ao passo que os traços psicológicos se relacionam da maneiras complexas e delicadas à cultura e à estrutura social. O indivíduo como produto social Sem a sociedade, o indivíduo não sobrevive. Os homens não possuem habilidades nem conhecimentos instintivos e também não possuem padrões herdados de comportamentos, além das respostas automáticas, ou reflexos, como o agarrar, o chupar, o reflexo patelar, o piscar. Os instrumentos com que enfrentam o meio e organizam a existência coletiva derivam da cultura. Imperador Frederico II (séc. XIII) realizou uma experiencia, da qual as mães de criação e amas, amamentassem e lavassem as crianças sem qualquer comunicação (falar e brincar), pois o imperador queria saber se sem meio de comunicação as crianças poderiam falar grego ou latim como os mais antigos. Mas as crianças acabaram por morrer, pois uma criança não vive sem caricias, rostos alegres e palavras das mães. Cada indivíduo nasce com um equipamento físico mais ou menos distinto, que crescerá e emadurecerá. Possui a capacidade de aprender, tem impulsos e necessidades (fome e comida, sede e bebida), e satisfação sexual, tal como reações emocionais (medo, amor e odio). O indivíduo é um ser ativo, que se comporta de maneira mais ou menos padronizada, este possui uma capacidade de inovar e pode até influenciar e modificar a natureza da sua cultura e da sua sociedade. O processo de socialização A socialização é o processo através do qual as crianças, ou outros novos membros da sociedade, aprendem o modo de vida da sociedade em que vivem. Este processo constitui o principal canal de transmissão da cultura através do tempo e das gerações. Uma criança não consegue sobreviver sozinha e sem ajuda, pelo menos durantes os primeiros quatro ou cinco anos de vida. A socialização é o processo pelo qual as crianças indefesas se tornam gradualmente seres auto-conscientes, com saberes e capacidades, treinadas nas formas de cultura em que nasceram. Muitas aprendizagens feitas no processos de socialização são realizadas de modo informal e inconsciente. As pessoas aprendem sem perceber que estão a aprender. Aprendem enquanto vão vivendo as suas vidas, adquirem conhecimentos, hábitos e valores enquanto brincam, conversam ou observam os outros. O facto de as meninas brincarem com bonecas irá contribuir como é que na sociedade uma mulher se pode e deve vestir. Embora todos os seres humanos possuam cultura e a transmitam à geração seguinte, não possuem todos a mesma cultura. No planeta Terra existe uma enorme diversidade cultural: milhares de culturas diferentes, com hábitos, tradições e valores muito distintos. Tipos de socialização: Primaria – ocorre durante a infância, onde biologicamente a criança está preparada para receber e assimilar grandes doses de informação. Nesta fase a criança é socializada pela família, pois existe uma forte ligação emocional e afetiva com os seus agentes de socialização (pais, educadores). Ao longo deste período é aprendida a linguagem, as regras básicas da sociedade, a moral e os modelos comportamentais do grupo a que pertence. Secundaria – ocorre a partir da infância e em cada nova situação com que nos deparamos ao longo da vida: na escola, nos grupos de amigos, no trabalho, nas atividades de lazer, nos países que visitamos ou para onde emigramos. Em cada novo papel que assumimos (aluno, pais, amigo, profissional, turista, reformado, etc.) existe uma aprendizagem das expectativas que a sociedade ou grupo depositam em nós relativamente ao nosso desempenho, assim como dos novos papéis que vamos assumindo nos vários grupos a que vamos pertencendo e nas várias situações em que somos colocados. Agentes de socialização Todos os grupos a que pertencemos são agentes de socialização pela forma como nos influenciam na aprendizagem de um determinado papel social. Família – a família tem um papel fundamental na formação de atitudes sociais, na promoção da auto-consciencialização e na transmissão de valores. É também responsável por transmitir traços culturais e valores próprios do grupo social a que se pertence, assim como modelos de comportamento. É na família que aprendemos as regras básicas da boa educação, os hábitos de higiene e de alimentação, a falar e a exprimirmo-nos. Escola – quando chega à escola a criança já teve contacto com a realidade social e cultural que envolve: família, os vizinhos, amigos e comunicação social. A escola é a instituição responsável pela assimilação de conhecimento e competências, tais como, a pontualidade, o sentido de responsabilidade, a comportar-se e a cumprir certas regras de disciplina. A aceitar e a responder a certas autoridades. Existe todo um conjunto complexo de aprendizagens que são acrescentadas à socialização proporcionada pela família. A criança vê-se confrontada de novos tipos de autoridade, de relações, de pessoas, e com a necessidade de adquirir um conjunto de conhecimentos diferentes dos adquiridos até ai. Grupos de pares – na família e na escola existe uma hierarquia nas relações interpessoais, mas é junto dos grupos de pares que a criança aprende o que significa ser igual e como cooperar, conquistar autoridade ou obter o que pretende nessa situação. Dos grupos de pares fazem parte pessoas mais ou menos da mesma idade. Proporciona a descoberta de novos valores, hábitos, comportamentos e linguísticos (gíria), musicais, desporto e partilhar ideias que não fazem parte dos ideais partilhados no seio familiar. Meios de comunicação – de forma geral, os jornais, as revistas, a radio, a internet, a televisão, o cinema, a música e os telemóveis fazem parte do nosso quotidiano e apesar de nem sempre nos apercebermos disso influenciam-nos. Os media alem de veículos de informação, são também veículos de valores, que consciente ou inconsciente moldam a nossa forma de pensar, de sentir e de agir, o que nos torna importantes agentes de socialização. A televisão é o meio de socialização que talvez demonstre uma maior facilidade de acesso e como tal para as pessoas independentemente das suas idades, que passam muito tempo em frente ao ecrã, podem assistir a todo o tipo de programas e de publicidades que por sua vez transmitem mensagens e estereótipos, positivos ou negativos, que demonstram a sua adesão por parte de quem os assiste. A TV é por isso um agente de socialização que fornece todo o tipo de informação de forma a chegar ao público. As telenovelas são um bom exemplo da transmissão de valores, normas e comportamentos enquanto agente de socialização veiculada pela televisão. Os temas recorrentes nas telenovelas são praticamente os mesmo com uma base de romance, conflitos familiares, intrigas a nível profissional, mobilidade social, a luta individual pelo sucesso e oposições entre herói/vilão de forma a transmitir valores do que é certo e do que é errado. As telenovelas funcionam como uma fuga à realidade dos espectadores. Este agente trás as pessoas casos que se identificam com quem as está a assistir pela identificação que as pessoas têm para com os mesmo, assim como as provocam desejos que gostariam de ver realizados, e acabam por sê-lo pelas personagens. Assim, as novelas oferecem a descompressão emocional de que muitos necessitam, preenchem frustrações individuais e coletivas. Têm sido então responsáveis pela manutenção de valores, na medida em que os reforçam através dos seus erros, e em casos excecionais tem também mudado mentalidades, “educando” o público para novos valores e comportamentos. Estatuto e papel social Estatuto social – é a posição, nível ou grau que cada pessoa desempenha no meio (na sociedade). Há estatutos que são melhor definidos que outros, pois são-lhes conferidos mais ou menos direitos, por sua vez melhor ou pior definidos. Papel social – é aquilo que se espera de alguém que tem um determinado estatuto social. É o conjunto de deveres ou funções que a pessoa tem. Espera que um professor explique bem as matérias e avalie os alunos. O que compete a um certo papel pode estar formalmente definido num regulamento ou estabelecido de modo informal nas tradições de uma sociedade. Cada pessoa desempenha vários papéis. Uma pessoa pode ser mulher, mãe, filha, amiga e professora. Quando a diversidade de papéis diz respeito aos vários papeis que uma mesma pessoa desempenha, designa-se multiplicidade de papéis. Quando a diversidade de papéis diz respeito a papeis relacionados entre si, mas desempenhados por pessoas diferentes, costuma designar-se conjunto de papéis. Avô, Avó, Pai, Mãe, filho... Num conjunto de papéis podem existir conflitos pais e filhos, das horas que devem chegar a casa os desentendimentos entre Numa multiplicidade de papéis também podem existir conflitos o papel de professor pode ser difícil de conciliar com o papel de pai, se a pessoa em causa não tiver condições de trabalho Conflitos entre diferentes exigências de um mesmo papel chama-se conflito interpessoal Um professor pode hesitar em penalizar ou valorizar um aluno O estatuto tem a ver com direitos e o papel tem a ver com deveres. Os estatutos podem ser: Atribuídos – o indivíduo pode não controlar, já que nasceu com ele. Adquiridos – resulta das aquisições do indivíduo. Interação Social e Expectativas Fala-se de interação social para descrever as relações entre duas ou mais pessoas, relações essas marcadas pela mútua influência. Numa situação de interação social aquilo que pessoa A diz ou faz afeta o comportamento da pessoa B. A simples presença dessa pessoa, mesmo que não diga nem faça nada, afeta o comportamento alheio. Se a pessoa A estiver presente, a pessoa B pode ficar embaraçada ao arrotar. Se a pessoa A manifestar por palavras ou gestos o incomodo com o fumo do tabaco, a pessoa B possivelmente apagará o cigarro ou irá fumar para outro lugar. O comportamento de cada uma dessas pessoas será afetado também pelas expectativas mútuas. Assim, o comportamento da Margarida é afetado por aquilo que ela espera da Joana e por aquilo que ela acha que a Joana espera dela. Se o José e a Joana forem portugueses e estiverem apaixonados, passar-se-á algo do género: A Joana espera que o José se declare e achará que o José espera dela um sinal de interesse e encorajamento. Por outro lado, o José espera que a Joana lhe mostre um sinal de interesse e acha que a Joana espera que ele se declare. A Joana e o José são portugueses, ambos cresceram e foram educados em Portugal na mesma época. Por isso, foram alvo de processos de socialização bastante semelhantes. Adquiriram ideias semelhantes acerca dos papéis sociais de homem e de mulher e conhecem os costumes ligados ao namoro. Devido a essa socialização comum, os comportamentos que esperam um do outro são compatíveis e complementares. Porem as expectativas nas interações sociais não dependem apenas dos papéis sociais, mas também da personalidade das pessoas envolvidas. Se o José for muito tímido a Joana precisará de tomar iniciativa. A interação social é nada mais nada menos que a base para a comunicação e vida social, seja feita de um forma focada ou à distância. A interação social caminha lado a lado com os mais variados processos de socialização onde existem relações de influência mutua. Contudo é necessário ter consciência de que algumas das formas de interação interpessoal pode se alterar consoante a cultura em que os indivíduos se encontram inseridos ou na qual construíram a sua personalidade, pois este ultimo aspeto (personalidade), constitui um importante facto de como a interação se divulga. Como tal, não só a cultura pode influenciar os comportamentos interativos como também a personalidade de cada pessoa. Muitas vezes indivíduos que partilham a mesma cultura podem divergir no modo como exercem essa interação entre si e os demais, pois existem outros fatores como hábitos, ideais e valores próprios que nem sempre estão de acordo com os que detém a mesma cultura. Nem sempre o que esperamos das outros durante esse processo interativo corresponde ao que é esperado de nós e vice-versa. A esse desvio, dá-se o nome de expectativas desencontradas. Um esquimó quando aparece como visitante em casa de alguém da sua cultura, tem como costuma ter relações sexuais com a esposa do anfitrião, agora imagine-se um esquimó que aparecesse na casa de um Europeu e esperasse que o europeu lhe disponibiliza-se a sua esposa para tal. O europeu certamente iria achar tal atitude um ultraje à sua integridade social e à da sua esposa. O esquimó seguiu o seu costume cultural e teve tal atitude para agradar o europeu, porque acharia que era normal e errado não fazê-lo. Obviamente que o resultado de tal situação seria desastroso, isto quando são espectativas desencontradas, quando a cultura é diferente. Agora imaginemos que os indivíduos tem a mesma culturas mas personalidades diferentes, experiencias de vida diferentes e alguns valores diferentes. Um apoiante do partido A espera que a sua esposa também apoiante do mesmo partido, concorde tal como ele com uma reforma proposta por esse mesmo partido, mas sua esposa seguindo os seus ideais, acha que essa reforma não trás benefícios. Como podemos ver, existem inúmeros casos em que o que se espera de alguém ou alguém espera de nós pode tomar proporções antagónicas e consequentemente, gerar alguns conflitos. Explicar o social pelo social A sociologia como uma ciência compreensiva e interpretativa, deu primazia à dimensão individual da realidade social através da análise do sentido que os indivíduos atribuem as suas ações, acentuando o seu caracter intencional. Weber, afirmou o caracter singular é o único desse fenómenos, empenhando se em compreender e a interpretar o sentido da ação social através das suas configurações históricas. A produção de conhecimentos científicos acerca da realidade social pressupõe a quebra com as evidências do senso comum e com as ideologias justificadoras dos interesses de grupos A primeira grande base em que assenta o método sociológico é a de explicar o social pelo social. Os momentos de investigação sociológica: Descrição – observar e definir na sua realidade bruta uma situação através da ação de um ator, individual ou coletivo, ou de vários atores bem como os elementos que rodeiam o processo. Compreensão – analise, que visa colher as intenções do agente ou do ator em relação a outrem e determinar o significado pertinente das motivações que os fazem agir. Explicação – é o momento em que o investigador esclarece o significado da ação através duma teoria ou modelo de explicação.