“educados”? A convivência ética e a relação família-escola

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Mesa: Os pais precisam ser
“educados”? A convivência ética
e a relação família-escola
Adriana Ramos
GEPEM – UNICAMP/UNESP
• Incentivar a criança a fazer sozinha
tudo aquilo que ela já pode realizar por
si mesma.
• Controlar os meios de comunicação e
diversão eletrônicas.
Dar o exemplo
As pequenas atitudes do dia a dia fazem a diferença.
Permitir que a criança tome pequenas
decisões
Aceitar que os erros são necessários e fazem
parte do processo de crescer.
– quando o dano já está causado não causar
danos maiores.
Permitir que sejam crianças e jovens
Relato de uma professora...
O João é um menino de 4 anos que freqüenta uma sala
de Infantil, na creche onde dou aula.
Ele apresenta um comportamento “pouco desejável”;
freqüentemente empurra e “enforca” os colegas,
retira, das mãos dos amigos, brinquedos que não lhe
pertence, adora “brincar de capoeira” dando
cambalhotas e virando “estrela” durante a roda da
conversa e nos “cantinhos”, belisca e dá socos e
pontapés nos amigos, sem motivo aparente.
Na hora de ir embora então, ele “faz a festa”, é um tal de
pai chegando para reclamar e criança chorando
porque o João beliscou, pisou no pé, empurrou, etc.
Quando eu o questiono sobre as atitudes que toma,
esquiva-se, muda de assunto, sai de lado e não dá
nenhuma justificativa.
Tudo estava caminhando em busca do que seria mais
viável fazer, de qual atitude seria mais aconselhável
tomar, quando, num belo dia, enquanto brincavam no
tanque de areia o João deu uma “voadora”no amigo
Carlos que, desprevenido, caiu de boca no chão e
machucou o queixo, lábios e nariz.
Foi a gota d'água. Juntamente com a diretora, achamos
melhor conversar com a mãe. Tomamos as
providências para isto acontecer. Somente depois de
4 dias a mãe apareceu, pois trabalha o dia todo e é a
tia do garoto que o leva e vai buscá-lo na creche.
Contei para a mãe qual o tipo de comportamento que o
João está apresentando na Escola e disse que queria
saber se estava ocorrendo algo que pudesse estar
influenciando nisto e como poderíamos ajudá-lo.
Então a mãe começou a falar:
- Faz 8 meses que estou separada do meu marido e eu,
o João e minha outra filha menor estamos morando
na casa da minha mãe, uma vez que não posso contar
com o auxílio financeiro do pai dele, que só me deu
cem reais neste período todo. Porém, minha mãe já
cuida de 3 netos, filhos da minha irmã que faleceu e o
pai abandonou os meninos. Ah! Professora, eles são
uns terrores, imagine que o mais velho, de 15 anos,
outro dia, pegou um brinquedo de metal, deixou
esquentar no fogo e deu para minha filha segurar!
Você imagina como ficou a mão da menina! Para
completar a situação, agora, minha outra irmã
também separou do marido e foi lá pra casa com
mais um menino. Tem dia que aquilo “ferve”, é só
tapa, soco, pontapé... e palavrão, então? É rotina,
você nem acredita.
Fiquei escutando e imaginando a cena conforme ela
descrevia. Então perguntei-lhe qual atitude tinha
perante isso tudo. Ela continuou dizendo:
- Eu preciso trabalhar para sustentar meus filhos, saio de
casa de manhã e só volto à noite. Trabalho numa
granja num serviço muito pesado, é difícil fazer
alguma coisa. (...) Um dia, o meu sobrinho mais velho
aprontou demais, a ponto de meu pai dar uma
“tunga“ de vara nele. Sabe o que aconteceu? No
outro dia, ele foi para a escola e a professora
denunciou o caso para o conselho tutelar, como maus
tratos. Foi uma dor de cabeça e tanto, você nem
imagina.
- Imagino sim, acho que vocês vivem uma situação
muito difícil, com muitos problemas, né? – disse-lhe.
- Sabe o que este menino faz agora? Só ameaça meus
pais, que se apanhar volta a denunciar ao Conselho
Tutelar e eles vão ver só. Desta maneira continua
aprontando cada vez mais e pior. Meus pais,
coitados!, por medo, nem sabem o que devem fazer.
Eu procuro nem me “meter”, porque é a mesma coisa
que falar com a parede. Você tá vendo o que é nossa
vida, professora, e o João vive no meio disso tudo. Às
vezes, dá vontade de sumir.
- Você não teria condições de, nesse momento, morar
em outro lugar, não é? E sumir não vai resolver coisa
alguma. Eu percebo que a vida de vocês está
passando por uma fase complicada, compreendo e
acho que você tem muitas razões para se sentir assim
- argumentei.
Ela estava tão aflita, que nem deixava eu terminar e
continuava:
- O João só não está pior porque fica na creche, longe do
“horror”, o dia todo, mas das 17h às 19h30min que é
a hora que eu chego, ele fica com esses meninos só
aprendendo violência (batendo e apanhando muito
mais). Eu estou perdendo o controle. Ele nem me
escuta quando chamo sua atenção. Ai, tá difícil, viu
professora!
Nestas alturas da conversa eu já estava achando o João
“um santo”, e disse a mãe:
- Eu entendo seu problema, você está enfrentando
grandes dificuldades para conseguir educar seu filho,
você está se vendo sem saber o que fazer, mas não
pode desistir, ao contrário, tem que tentar, pelo
menos amenizar o problema.
Ela considerou:
- É... um jeito seria arranjar alguém para ficar com ele
até que eu chegue do serviço, assim ele não fica com
os primos aprendendo o que não deve.
Se você conseguisse isso, seria ótimo para nós todos.
- Professora, sabe de uma coisa, quando eu vim para cá,
achei que a “senhora” ia me deixar mais para baixo
ainda, dizendo que o João faz o que faz porque eu não
sei cuidar dele, mas agora, depois que eu desabafei,
até consegui achar um jeito que pode melhorar a
situação. Vou ver se consigo alguém para ficar com
ele, tenho certeza que ele vai melhorar. Obrigada
professora por me escutar e desculpa qualquer coisa.
A mãe foi embora confiante e eu fiquei
satisfeita comigo por não ter piorado
ainda mais a situação, simplesmente,
levando mais problemas a essa mãe.
Agora tenho mais dados para contribuir
na formação dessa criança. Por outro
lado, vou ter que me desdobrar para
agir acertadamente com o João...
“ Podemos inferir que mesmo as crianças provenientes de
‘lares comprometidos’, cujo ambiente familiar é
desprovido de adequados estímulos e orientação, terão
condições de superar estas adversidades caso tenham a
oportunidade de vivenciar, em outros contextos
educativos, um modelo diferente de educação. Neste
sentido, a escola, entendida como um local que
possibilita uma vivência social diferente do grupo
familiar (já que proporciona o contato com o
conhecimento sistematizado e com um universo amplo
de interações, com pessoas, ambientes e materiais), tem
um relevante papel, (...) de provocar transformações e de
desencadear novos processos de desenvolvimento e
comportamento”. (REGO, 1996, p. 98-99)
• Sugestão de Leitura:
FABER, A.; MAZLISH, E. Pais liberados, filhos
liberados. São Paulo: Ibrasa, 1985.
“A parceria como é desenvolvida mais
recentemente, num sentido bastante
genérico, sempre envolve instituições
e/ou indivíduos que se agregam de
forma voluntária para desenvolver
objetivos comuns, estabelecendo
negociações coletivas com partilha de
compromissos e responsabilidades entre
si”
(FOERSTE, 2005)
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