2009, Patrícia Alves da Cruz. Comportamento

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ - UFPR
PÓS GRADUAÇÃO EM SOCIOLOGIA POLÍTICA TURMA XIII
PATRÍCIA ALVES DA CRUZ
COMPORTAMENTO ELEITORAL: UM ESTUDO SOBRE AS TEORIAS
EXPLICATIVAS PARA O VOTO NO BRASIL
CURITIBA
2009
PATRÍCIA ALVES DA CRUZ
COMPORTAMENTO ELEITORAL: UM ESTUDO SOBRE AS TEORIAS
EXPLICATIVAS PARA O VOTO NO BRASIL
Monografia apresentada como
requisito à obtenção de titulo de
Especialista
em
Sociologia
Política.
Departamento
de
Sociologia Política, Setor de
Ciências Sociais, Letras e Artes da
Universidade Federal do Paraná.
Orientador: Emerson Urizzi Cervi
CURITIBA
2009
RESUMO
O presente trabalho constitui-se num estudo bibliográfico sobre as abordagens teóricas
do comportamento eleitoral no Brasil. Tendo como base a teoria sociológica,
psicológica/psicossocial e a “teoria da escolha racional”. A análise parte do pressuposto
que o comportamento do eleitor brasileiro é condicionado por fatores estruturais que
consideram os aspectos sócio-culturais e econômicos. Dessa forma, a diversidade de
fatores sociais que compõem o eleitorado brasileiro dificulta a análise do
comportamento do eleitorado a partir de uma teoria única.
Palavras-chave: eleições, comportamento eleitoral, decisão do voto, Brasil.
1. INTRODUÇÃO
O processo eleitoral é o principal momento em que os eleitores discutem sobre a
política, e é nesse período que se acentua a participação dos atores políticos o processo
eleitoral. Esse momento, é que Palmeira (1992) definiu como “tempo da política”.
Quando os partidos políticos são identificados e a política é discutida de maneira pouco
habitual. É nesse momento que os candidatos estabelecem uma relação mútua com os
eleitores.
No momento em que as eleições tornam-se tema central de qualquer assunto
referente à política. A questão central é saber como os eleitores, que são os principais
alvos da campanha eleitoral agem em relação ao voto. Isto é, como e de que maneira os
eleitores respondem ao processo eleitoral. A caracterização do voto do eleitor brasileiro
e a explicação sobre a direção do voto é um dos fatores de maior relevância para a
consolidação da democracia no Brasil.(Castro, 1994)
Dessa forma, o objetivo da ciência política na análise do comportamento
eleitoral é saber como o eleitor demonstra sua “racionalidade” nas escolhas eleitorais.
De acordo com Castro (1994): “Para compreender o comportamento eleitoral é
necessário considerar os contextos sócio-econômico e institucionais em que o indivíduo
está inserido. Com o objetivo de explicar o comportamento do eleitor, a ciência política
possui três teorias: sociológica, psicológica/psicossociologica e a teoria da “escolha
racional”. O principal objetivo desse trabalho é pesquisar as abordagens “matrizes” do
comportamento eleitoral e suas implicâncias no comportamento eleitoral brasileiro.
Segundo Radmann (2001: 8): “O comportamento eleitoral forma-se na cultura política,
com base em determinantes históricos - estruturais institucionalizados na política
brasileira.”
No processo eleitoral democrático é preciso destacar que tem-se uma nova
concepção política. As decisões são tomadas por todos os eleitores, logo esses atores
políticos possuem diferentes concepções políticas e ideológicas porque estes fazem
parte de contextos sociais variados.
Na análise do comportamento do voto é possível compreender qual é a
“racionalidade” do eleitor, qual é o entendimento sobre o processo eleitoral que o eleitor
demonstra no direcionamento do seu voto. O trabalho está dividido em três principais
tópicos. No primeiro, faz-se um estudo sobre as principais abordagens teóricas do
comportamento eleitoral. A partir dos trabalhos de Figueiredo (1991), Castro (1994) e
Radmann (2001) foram abordadas a teoria sociológica, psicológica e a teoria da escolha
racional. No segundo, procuramos identificar as teorias do comportamento eleitoral
brasileiro, abordadas a partir dos estudos de Reis (1988), Castro (1994), Almeida (1994)
Silveira (1998) e Singer (2000). E, por fim, a conclusão procurou identificar as
similaridades entre os tipos de comportamento do eleitor brasileiro e as teorias do
comportamento eleitoral.
2. TEORIAS DO COMPORTAMENTO ELEITORAL
Nesse estudo bibliográfico faz-se uma abordagem sobre as principais teorias
explicativas para a decisão do voto. Dentre as teorias que explicam o comportamento do
eleitor no processo eleitoral, as que mais se destacam são: a perspectiva sociológica, a
perspectiva psicológica ou psicossocial e a perspectiva economicista ou da escolha
racional.
2.1 abordagem sociológica
O estudo do comportamento eleitoral teve início na sociologia. A perspectiva
origina é macro: a ideia é que fatores históricos, estruturais e culturais globais
conformam características sociais, econômicas e políticas de uma sociedade, gerando
clivagens sociais que se expressam através de partidos específicos, com os quais setores
do eleitorado se identificam. (CASTRO, 1994, p. 29) O eleitor decide o direcionamento
do seu voto de acordo com as influências que ele possui que, por sua vez, são
resultantes do seu ambiente social. Partindo da sociologia de Durkheim, Lazarsfeld no
seu livro Voting (1954 apud Figueiredo, 2008) parte da explicação que fatores sociais
interferem na decisão do individuo. Os contextos coletivos que imprimem dinâmica à
política. As decisões individuais devem ser compreendidas dentro dos grupos sociais.
Entretanto,
“Para conectar (os comportamentos isolados com o resultado agregado
que estes produziram) temos que olhar para o sistema de interação
entre os indivíduos e seus ambientes, isto é, entre indivíduos e outros
indivíduos e/ou entre individuo e a coletividade”. (SCHELLING apud
FIGUEIREDO, 2008: 49).
A perspectiva sociológica preocupa-se em analisar quais são as condições
sociais que são subjacentes a decisão do voto. A decisão do eleitor é resultante do
contexto social, político e cultural do qual o indivíduo está inserido. Compreender o
voto do eleitor é a última etapa do processo de analítico, na corrente sociológica, a
primeira etapa é conhecer o contexto social e político onde o eleitor vive e como esse
eleitor se comporta nesse contexto. Nesse sentido, a principal preocupação da sociologia
é conhecer quais são as condições sociais que constituem o contexto social do eleitor.
Partindo do pressuposto que é a partir das características do contexto que serão
formadas a ideologia e as práticas políticas do eleitor.
Para a sociologia política (Figueiredo, 2008), o ato individual não é socialmente
isolado. As ações individuais são resultantes da interação social. A análise da ação
individual não é plausível para explicar um comportamento macro, isto é, o
comportamento do eleitor e a decisão do voto se baseiam em micro-motivos.
[...] a perspectiva sociológica consiste na atribuição de uma
determinante sócio-econômica na conduta política e eleitoral dos
indivíduos. Onde os eleitores de situação social semelhantes
desenvolvem conduta político-eleitorais similares. (RADMANN,
20001: 17)
Dessa forma, na tentativa de compreender o comportamento eleitoral a corrente
sociológica procura compreender a decisão de voto dos eleitores a partir da construção
de algumas variáveis como: partidos, ideologias, identidades dos grupos e classes
sociais. A partir das variáveis explicativas para o comportamento do eleitor, Mies (apud
RADMANN, 2001: 18) define três posições: a corrente marxista, a estrutural
funcionalista e a pragmatismo metodológico.
A corrente marxista se refere a relação entre partidos políticos e a classe
trabalhadora. A estrutural funcionalista sustenta a posição de classe que o individuo
ocupa na sociedade, a este inclui-se vinculo de parentesco, local de moradia, prestigio,
poder e ocupação. O pragmatismo metodológico busca estabelecer variáveis entre a
conduta eleitoral e características socioeconômicas do eleitor. A explicação da corrente
marxista é que o eleitor, o trabalhador adquire consciência de classe, através da
participação político- partidária, as classes trabalhadora passaria a se identificar com os
partidos de esquerda. Porém a explicação da corrente marxista foi considerada
insuficiente.
“O comportamento político dos indivíduos somente pode ser
compreendido a na articulação histórica concreta com esses conflitos,
pois as características especificas tornam-se causas de atos individuais
quando não estão inseridas numa estrutura definida, impostas as
relações políticas em um dado momento da história”.(PIZZORNO
apud, RADMANN, 2001: 20)
Na perspectiva sociológica, o eleitor tem uma propensão a agir de acordo com o
grupo social que faz parte: religioso, familiar, profissional, enfim grupos que possuem
valores semelhantes tendem a manifestar comportamentos políticos similares. Para
CASTRO (2004) na perspectiva não marxista a participação dos eleitores é explicada a
partir do aspecto socioeconômicos e culturais que o grupo está inserido. A influência do
grupo é importância para explicar a preferência partidária do eleitor. O eleitor em
situação social semelhante tem propensão a fazer escolhas semelhantes e agir de acordo
com as decisões do grupo.
Ainda de acordo com a autora, a explicação do comportamento eleitoral no
Brasil a partir da abordagem sociológica não foi suficiente para explicar a decisão do
voto quando no processo de transformação estrutural contou com o intenso processo de
industrialização e urbanização. Nesse período, o comportamento eleitoral das massas
(Lamounier apud Castro, 1994) foi caracterizado pelo clientelismo, a “consciência de
classe” e o “voto ideológico” ficaram restritos a setores do eleitorado. A partir desse
momento ficou claro a necessidade de propor outras explicações para o comportamento
eleitoral. Sendo assim, teve espaço uma nova explicação a teoria psicológica.
2. 2 abordagem psicossocial
Ao contrário da teoria sociológica, na abordagem psicológica o comportamento
eleitoral baseia-se na personalidade do individuo e nas suas motivações no nível
psicológico. A ideia básica é que o comportamento dos indivíduos se baseia na estrutura
de sua personalidade dos indivíduos e no seu sistema de crenças, as quais estão
relacionadas com o grupo social que o individuo vive.
A utilização da teoria psicológica na explicação do comportamento eleitoral teve
inicio com a Universidade de Michigan1. As pesquisas do grupo de Michigam levaram a
ampliação do conceito para teoria psicossociológica com a incorporação novos
elementos para a análise do comportamento eleitoral. A partir desse esse estudo a
corrente psicossociológica adquiriu importância. Sendo assim:
[...] os contextos estruturais em que o individuo se insere e as interações que
se dão dentro do grupo de que faz parte explicam, em partes, seu
comportamento como eleitor. Entretanto, tratam de mostrar que a influência
de fatores sociais seria mais remota, não daria conta de flutuações de curto
prazo das decisões do voto. (CASTRO, 1994:33)
A abordagem psicossociológica utiliza-se de conceitos da sociologia integrados
a psicologia. O interesse dos indivíduos pela política varia de acordo com os estímulos
recebidos pelo grupo social. Porém esses estímulos teriam inicio no ambiente social,
sendo a família o principal ambiente. De acordo com a abordagem psicossociologica o
individuo é o principal objeto de análise. A premissa dessa abordagem é saber como os
eleitores concebem sua existência, considerando que a forma como os indivíduos se
comportam e as respostas que estes dão no processo eleitoral são reflexos da sociedade
e das relações sociais. A atitude que o eleitor demonstra na decisão do voto é parte da
psicologia humana, porém tem será consolidada na sociologia política.
Agindo, reagindo e interagindo social e politicamente, a partir de uma base
psicológica formada e com categorias políticas normativas razoavelmente
consolidadas, o individuo sempre articulará da mesma maneira suas
1
Os principais formuladores do Modelo de Michigan foram Angus Campbell e Philipe Converse.
respostas a diversos contextos. (FIGUEIREDO, apud, RADMANN,
2001:45)
Embora o modelo de Michigan admita a influência de fatores históricocontextuais, o individuo continua sendo o centro a unidade de analise. A ideia central é
que indivíduos social e atitudinalmente semelhantes tendem a ter comportamentos
parecidos, a votarem na mesma direção.
Para Campbell (apud FIGUEIREDO, 2008), o interesse pela política varia de
indivíduo para indivíduo, o grau de interesse pela política é calculado de acordo com o
grau de respostas aos estímulos políticos e devido à importância da política no seu
ambiente social do individuo. Para esta teoria do comportamento eleitoral, os eleitores
direcionam o seu voto de acordo com o sistema de crenças que é compartilhado entre os
indivíduos. A condição de cada grupo social será determinante para a compreensão do
voto. As características sociais descrevem o comportamento político de cada grupo
social.
A partir da premissa que as atitudes dos indivíduos são formadas através da
compreensão da vida social e política, Philipe Converse (apud FIGUEIREDO, 2008)
elaborou a teoria da “crença de massa”. Com essa teoria Converse procurou demonstrar
que os indivíduos, independente dos seus ambientes sociais, relacionam-se com o
mundo político de acordo com o grau de conceituação que são capazes de elaborar.
[...] as atitudes, opiniões e ideias a respeito do mundo social, uma vez
formadas, são relativamente estáveis no tempo, mais importante ainda,
deverão ser inter-relacionar com outras logicamente consistentes com
as anteriores.(FIGUEIREDO, 2008)
Nesse contexto, para compreender o comportamento eleitoral, é necessário
conhecer as inter-relações que existem entre os indivíduos e, qual é a implicância dessas
relações na relação do individuo com o mundo político. Em relação à similaridade da
atitude dos indivíduos, a abordagem psicossociológica prevê que indivíduos que
possuem as mesmas ideias, provavelmente se identificarão com os mesmos partidos
políticos. Com relação a previsão de comportamento eleitorais futuros, Converse
constata que existe uma imprevisibilidade para prever como será a decisão do voto.
Converse constata que somente na porção altamente politizada da
sociedade(15% nos países desenvolvidos), os sistemas de crenças são
suficientemente estruturados para sustentar previsões de longo prazo.
Em outros níveis da sociedade, observa-se que os sistemas de crenças
vão perdendo coerência e densidade de conteúdo político,
identificando-se
até
mesmo
sistemas
verdadeiramente
indiossincráticos. (Figueiredo, 2008: 29-30)
Para auxiliar na compreensão dessa questão, Converse (apud Figueiredo, 2008)
aponta duas alternativas: o grau de centralidade e o grau de motivação para a política.
O grau de centralidade busca conhecer a similaridade nos sistemas atitudinais, que por
sua vez deve ser feita em razão do nível de centralidade de questões políticas para
diversos grupos de eleitores. A segunda alternativa estaria no grau de motivação para a
política. A segunda alternativa busca informações sobre a predisposição que os
indivíduos depositam na política. Em relação à participação política, a abordagem
psicossociológica, conforme (Castro, 1994) se resume ao modelo da centralidade. Existe
uma co-relação entre a preferência partidária e opinião pública, a centralidade do
individuo no seu grupo social. Sendo assim, a solução está em conjugar os níveis de
estruturação dos sistemas de crenças com o grau de motivação para a política que os
indivíduos desenvolvem.
Como mais uma alternativa para o comportamento eleitoral, para Converse seria
acrescentar a motivação para a política o conceito de “engajamento político”. A teoria
da Alienação, formulada pela sociologia behaviorista, irá auxiliar na explicação do
conceito. A teoria da alienação política apresenta duas maneiras de explicar o
comportamento eleitoral: através da psicanalítica e outro pela psicologia social.
A abordagem psicanalítica foi elaborada por Robert Lane (1962). Através de
uma pesquisa realizada numa cidade americana Lane descobriu a abrangência do
conceito alienação política. De acordo com Lane (apud Figueiredo, 2008): “Alienação
política implica em mais do que desinteresse; ela implica numa rejeição, no sentido
psicanalítico do termo “alienação”. Na abordagem da psicologia social, que foi liderado
por Seeman (1959) sugere-se que o conceito alienação é multidimensional. Possui cinco
atitudes que constituem a “síndrome da alienação”: impotência (powerlessness);
ininteligibilidade (meaninglessness); anomia (normlessness); isolamento (isolation); e,
auto-diferenciação (self-estrangement).
Procurando elucidar as razões que determinam o voto, Joel Aberbach e Ada
Finisfter (apud, FIGUEIREDO, 2008), demonstram que os eleitores se dividem em
alienado e não-alienandos. Os autores se reportam a teoria da cultura cívica para
demonstrar que a cultura seria conduzida pela estabilidade dos regimes democráticos. A
estabilidade do sistema política depende do “engajamento-alienação” política. A
alienação política é uma das razões. Para o modelo de comportamento eleitoral de
Michigan, os fatores sociológicos exercem influência na opção partidária e no
direcionamento do voto. Porém, ao analisar as eleições de Eisenhouser e De Gaulle
(apud Figueiredo, 1991) Converse constatou que a influência de fatores psicológicos e
políticos preponderaram sobre fatores sociais.
Para Castro
(1994),
a explicação
para
a utilização
da
abordagem
psicossociológica no Brasil se deu a partir de uma pesquisa realizada nos Estados
Unidos e no Brasil que estabeleceu uma correlação entre a preferência partidária e a
intenção do voto. Com os resultados dessa pesquisa, surgiu a necessidade de conhecer
como se formam e como se mantêm as preferências partidárias entre os eleitores. Houve
a constatação que consistência ideológica apenas entre eleitores que possuíam alto
índice de escolaridade. A pesquisa revelou que a consistência ideológica é resultante da
sofisticação política, isto é, do nível de conceituação da política que o eleitor possui.
Os indivíduos em posição central são os que apresentam os maiores índices em
todos os indicadores de participação eleitoral: mais se envolvem nas campanhas
políticas, mais comparecem para votar, etc. (Castro, 1994: 35)
Através do estudo pode-se perceber que quanto maior o grau de entendimento e
conceituação da política, maior será o envolvimento e a participação e o envolvimento
dos eleitores no processo eleitoral. Porém, a dificuldade de prever o comportamento do
eleitor está na instabilidade do sistema de crenças e na baixa identificação em relação ao
aspecto ideológico. Embora, a teoria psicossociológica tenha uma importância
significativa para a análise do comportamento eleitoral, a seguinte teoria ainda não
conseguiu eliminar todos os problemas explicativos para o direcionamento do voto, e
nesse sentido, outra contribuição para a questão é a teoria da escolha racional.
2. 3 abordagem economicista – Teoria da Escolha Racional
A teoria economicista ou “teoria da escolha racional” tem como um de seus
principais formuladores Anthony Downs (apud CASTRO, 1994). A abordagem
downiana baseia-se em aspectos do individualismo metodológico: é possível explicar o
comportamento dos eleitores considerando que os eleitores são racionais e agem
intencionalmente, procurando maximizar seus interesses e otimizar seus ganhos com o
direcionamento de seu voto. Nesta abordagem o homus psicologius e o homus
sociologius dá lugar ao homus Economus: os eleitores votam devido ao interesse
econômico. O eleitor age de acordo com o mercado econômico, escolhendo a opção que
lhe proporcionará maior benéficio econômico. Essa teoria parte da explicação que o
eleitor é uma “ser racional” que sempre escolhe a alternativa que lhe trará maior
utilidade ou agirá em seu próprio beneficio. Esses benefícios que são esperados pelo
eleitor resultam da utilidade que lhe trará a ação governamental. Os eleitores agem
racionalmente nas questões de ordem política votando nos partidos e nos candidatos que
lhe trarão maior beneficio.
“o eleitor desconta os custos com que vai arcar por decidir votar – a procura por
informações, por exemplo – e os custos do próprio ato de votar – o tempo e a
energia gastos em se deslocar até as urnas.” (Castro, 1994: 37)
De acordo com Castro (1994), para sair do “impasse” entre o aspecto econômico
ou da maximização, minimização de prejuízos o conceito de “racionalidade” foi
ampliado. Admitindo que existam vários níveis de racionalidade. As escolhas dos
eleitores seriam feitas a partir do contexto sócio-cultural de cada eleitor, partindo de
aspectos informativos, cognitivo e reflexivo do eleitor. Nesse caso, para a análise da
direção do voto do eleitor o que importa no processo eleitoral não são as informações e
sim como essas informações são adquiridas.
A abordagem economicista supõe um comportamento baseado na racionalidade
individual. O eleitor escolhe a alternativa que irá maximizar a satisfação de seus
interesses. Para Figueiredo (2008: 78): “o modelo downsiano o comportamento humano
é maximizante; para o modelo economicista o comportamento humano é
satisfacionista”(satisficing behavior).
(...) o ator seleciona partidos e candidatos em ordem de preferência e
opta por aquela alternativa que avalia possibilitar a obtenção de
maiores ganhos. O eleitor, analogamente ao consumidor, decide votar
em um partido ou candidato de acordo com as ofertas políticas. (...)
Assim, o eleitor ordena, conforme seus interesses, as alternativas
políticas em grau de desejabilidade e escolhe aquele que, de acordo
com as probabilidades eleitorais, oferecer as melhores condições para
maximizar os ganhos da sua ação política (SILVEIRA, 1998:58)
Considerando o baixo grau de participação dos eleitores, o eleitor não é
irracional. Mesmo sem os eleitores terem um grau de “sofisticação política” elevado,
isto é, informação, envolvimento político e capacidade de conceituação política, os
eleitores não votam irracionalmente. O eleitor sempre vislumbra a alternativa que lhe
trará maiores benefícios. Para Downs (1999), existem diferentes motivos para o voto. A
lógica do voto para a teoria downsiana baseia na premissa que os eleitores escolhem a
alternativa de voto que lhe trará maior beneficio. Esses benéficos são resultantes da
teoria da utilidade. Segundo Downs (1999: 57): “Os benefícios que os eleitores
consideram, ao tomar suas decisões, são fluxos de utilidade obtidos a partir da atividade
governamental”.
Ao decidir se vota ou não, o eleitor leva em conta o beneficio que espera obter caso
seu candidato ganhe e considera a probabilidade de que seu voto afete o resultado da
eleição, de forma que seu partido ou candidato vença; nesse cálculo, o eleitor
desconta os custos com que vai arcar por decidir votar – procura a obtenção de
informações e os custos do próprio ato de votar, tempo e energia gastos em se
deslocar até as urnas. (CASTRO, 1995)
Na teoria da escolha racional o eleitor possui duas alternativas: participar ou não
do processo eleitoral. Se o eleitor opta por participar ele novamente duas alternativas:
votar no candidato ou no partido político. Entretanto, ocorre o que alguns eleitores
chamam de paradoxo da participação (apud, Castro, 1995). O paradoxo da participação
procura explicar quais são as razões que levam o eleitor a votar. Vários autores se
propuseram a explicar as razões que levam o eleitor a participar do processo eleitoral.
Riker e Ordeshook (apud Castro, 1995) propõem que os custos no ato de votar
podem ser reduzidas por outros benéficos obtidos pelo eleitor, como os que resultam da
“conformidade com o voto ético” e da obrigação de votar, da “afirmação da confiança
no sistema político”, da “afirmação da preferência partidária” ou da “própria eficácia na
conformação do sistema político”. Para Ferejohn e Fiorina (1974 apud Castro, 1995) a
explicação é que o eleitor não escolhe a ação que maximizará seus ganhos, mas sim a
que minimiza seus prejuízos. De acordo com autores como Figueiredo (1991) e Muller
(1979) o ato de votar tem diferentes conceituações dependendo do status econômico do
eleitor.
“Entre os setores de status socioeconômico elevado, por exemplo, procurar obter
informação são atividades que podem ser realizadas no momento de lazer; como já
tem muita informação acumulada, os custos de se manter informados são baixos;
além disso, eles têm mais flexibilidade no trabalho e ganham mais; assim, seu gasto
de tempo e recursos para votar é mínimo.”(Castro, 1995)
Em relação as teorias do voto, Fiorena contrapõe dois modelos explicativos para
o voto: as preferências partidárias (dos indivíduos) e o modelo downsiano. As duas
correntes fazem previsões distintas: a explicação para a preferência dos eleitores é que o
voto é retrospectivo, isto é, expressa aprovação ou reprovação do governo, enquanto no
modelo downsiano, o voto seria retrospectivo e prospectivo.
Para Castro (1994) na teoria da escolha racional o direcionamento do voto pode
ser analisado a partir da preferência partidária. O comportamento do eleitor é político
partidário e ideológico. A preferência partidária é ideológica e o eleitor procura obter
benefícios se o partido que ele (eleitor) tem mais proximidade ideológica. Os eleitores
utilizam o seu interesse partidário para diminuir seus custos em relação à campanha
eleitoral. A ideologia age como um instrumento de obtenção de voto e como um meio
para se chegar ao poder. Dessa forma, a função dos partidos políticos é facilitar a
decisão do eleitor. Portanto:
“Entre os cidadãos que decidem votar com base nas questões, os antecedentes de
cada partido (especialmente os ocupantes do cargo) durante o período eleitoral que
acaba de se encerrar são mais importantes para suas decisões do que as promessas
do partido para o futuro.”( Downs, 1999)
A importância dos partidos políticos como instrumento de informação destaca a
necessidade de que cada partido possua ideologias distintas.
De acordo com
Downs(1999): “Assim como os empresários que buscam lucro na economia, os partidos
políticos procuram maximizar seus interesses. De modo a atingir seus fins privados, eles
formulam políticas que lhe trarão mais votos.[...]” Na teoria da escolha racional uma
regra importante é considerar a situação na qual o eleitor faz sua escolha. No
direcionamento do voto existe a possibilidade de que o eleitor seja motivado por fatores
institucionais e políticos. Porém, para Castro(1994) da escolha racional exclui a
importância da interação entre os grupos sociais. A abordagem que prepondera é que o
eleitor é racional, porém sua racionalidade é limitada (Castro, 1994).
Com relação ao dilema da participação, de acordo Figueiredo (2008) o eleitor
não é um individuo isolado. O eleitor decide se participa ou não do processo eleitoral
tendo em vista o comportamento dos outros indivíduos. A decisão do voto compreende
a expectativa que cada eleitor tem a respeito do comportamento dos outros. A
explicação do comportamento eleitoral não se concentra na racionalidade dos eleitores.
Mas na tarefa de compreender a partir de qual contexto social a racionalidade do eleitor
é constituída.
3. TEORIAS DO COMPORTAMENTO ELEITORAL NO BRASIL
Neste tópico faz-se uma abordagem das principais pesquisas realizadas no Brasil
sobre comportamento eleitoral. No Brasil, as principais abordagens que ajudam a
compreender o comportamento dos eleitores é a perspectiva sociológica e a
psicossociológica.
Os primeiros trabalhos desenvolvidos sobre comportamento eleitoral utilizaram
a abordagem sociológica, partindo do principio macro da analise, destacando os
aspectos sociais e culturais na analise dos grupos de eleitores. Um dos primeiros
trabalhos que corrente sociológica no Brasil foi o trabalho de Soares (1973) e Reis
(1978), esses autores destacaram em suas pesquisas a relação entre os aspectos
socioeconômicos e a opção partidária.
Porém, mais tarde foi constatado que tal relação não era tão determinante para o
comportamento eleitoral. Dessa forma houve espaço para o desenvolvimento de outros
estudos que levaram em consideração a perspectiva psicossociológica. De acordo com
CASTRO (1994), os pesquisadores admitiram que fatores socioeconômicos são parte do
comportamento dos eleitores, porém é necessário considerar as variáveis psicológicas.
“A integração entre a perspectiva sociológica e a psicológica com ênfase nos
condicionantes da cultura política auxilia na compreensão do comportamento do
eleitorado brasileiro, por levar em consideração os contextos estruturais em que o
individuo se inserem e as interações que se dão dentro do grupo socioeconômico do
qual os eleitores fazem parte”.(RADMANN, 2001: 47)
Entre os defensores da teoria da escolha racional no Brasil, é o autor brasileiro
Figueiredo (2008). Entretanto, existe uma variedade de pesquisas realizadas no Brasil
sobre comportamento eleitoral. Sendo assim, traremos as teses mais recentes sobre o
tema no Brasil após a reabertura democrática (1989).
3.1 eleitor personalista pragmático
Essa categoria será abordada a partir dos estudos de Baquero (1994 apud
Radmann, 2001). Baquero realizou ao longo das últimas décadas pesquisas eleitorais no
Rio Grande do Sul. As pesquisas de Baquero tinham o objetivo de averiguar os padrões
de comportamento eleitoral e a cultura política dos gaúchos. Com as pesquisas foi
demonstrado o comportamento pessimista dos eleitores e o descrédito em relação à
democracia. O descrédito dos pesquisados está centrado na concepção de política.
“O pessimismo da população acentua-se com o sentimento de ineficácia política que
é alimentado por escândalos de corrupção, que assolam as instituições democráticas
e que são propagados pelos meios de comunicação.”(Baquero, Castro apud
Radmann, 2001)
A prevalência de aspectos autoritários na política resulta numa concepção de
cultura política fragmentada e cética. O desinteresse pela política, segundo Baquero
(apud Radmann 2001) é agravada pela impunidade dos responsáveis pela corrupção no
Brasil, “criando um clima de indiferença informada por parte dos cidadãos em relação a
política”. Para o autor, o comportamento desinteressado dos eleitores e a aceitação de
padrões tradicionais de política dão lugar a um tipo de comportamento caracterizado
pelo voto personalista e o comportamento pragmático do eleitor. O conceito de voto
personalista foi elaborado a partir de uma pesquisa realizada por Silva(1984 apud
Radmann: 65) que analisou as variáveis socioeconômicas apontam para o voto no
candidato e não no partido político.
“O exame dos motivos manifestos como critérios orientadores da escolha dos
candidatos reafirmam que a mesma é feita em função da pessoa e ratificam a
tendência acentuadamente personalista do voto na capital gaúcha”. (SILVA apud
RADMANN, 2001: 66)
Além do voto personalista, a pesquisa apontou que existe no direcionamento do
voto, a alienação política e a falta de persistência ideológica. O voto personalista
expressa a ausência de ideologia no comportamento político dos setores político
urbanos.
3.2 eleitor “tipo flamengo”
Essa tipologia foi apontada por Fábio Wanderley Reis (1988). A discussão
teórica em relação á abordagem da escolha racional é realizada a partir de uma
referencia normativa. Nesse trabalho Reis (Radmann, 2001) caracteriza os tipos de
comportamentos eleitorais presentes no eleitorado brasileiro e as observações sobre
comportamento eleitoral do eleitor partem de sua identidade. A partir da teoria da
escolha racional, Reis (apud, Radmann, 2001) supõe que o comportamento dos
indivíduos pressupõe uma intencionalidade, que por sua vez, está relacionada a sua
identidade. Essa identidade é que irá atuar no campo cognitivo no processamento de
informações que resultaram no comportamento dos indivíduos. Para Reis (1988) existe
uma homogeneização entre as teorias da escolha racional e a abordagem sociológica.
Portanto:
“Os principais ingredientes de uma abordagem “racional”estarão presentes sempre
que se admita a característica intencional do comportamento – e estarão presentes,
portanto, mesmo em abordagens convencionalmente “sociológica”, cujas, as
proposições seriam impossível fazer sentido, em ultima análise, na ausência desses
ingredientes”.(Reis apud Radmann, 1988: 30)
De acordo com o autor, é considerado como comportamento racional o
comportamento que é orientado por normas sociais. O individuo como “ator social”
pode apresentar comportamento independente das normas vigentes. A proximidade
entre as duas teorias da escolha racional e abordagem sociológica pode ser redefinida a
partir da analise da identidade e da intencionalidade da ação política dos indivíduos.
Reis interpreta o comportamento do eleitor brasileiro procurando associar a
abordagem psicossociologica e o modelo de “consciência de classe”, da abordagem
sociológica. Além desse atenuante, o autor correlaciona o aspecto socioeconômico e a
sua percepção do mundo político. A percepção do eleitor sobre o processo político é
condizente com a sua condição e com sua identidade.
A percepção do eleitor apresenta distanciamento até em relações cotidianas que
tem impacto direto na vida dos indivíduos. Essa categoria de eleitores Reis (1988)
identificou como “eleitor tipo Flamengo”. A premissa dessa categoria é que o ato de
“votar” para o eleitor é como torcer para um time de futebol. A racionalidade do eleitor
é processada de acordo com a sua “identidade popular”.
“No caso do eleitor tipo “Flamengo” estamos no nível de identidades sociais
espontâneas e rudimentares que não foram trabalhadas politicamente – algo como
uma matéria-prima sociológica apenas superficialmente tocadas pela
“instrumentalidade” da vida política.”(Reis, apud Radmann, 2001:75)
O eleitor age de acordo com a sua racionalidade. Porém, a sua racionalidade
precisa ser compreendida a partir do contexto no qual o individuo está inserido.
3.3 eleitor sofisticado
Na bibliografia brasileira um dos trabalhos mais representativos sobre
comportamento eleitoral é o trabalho de Castro (1994), que elaborou o conceito de
“sofisticação política”. Para a compreensão do comportamento do eleitor, Castro (idem)
aponta a integração de todas as abordagens teóricas – sociológica, a psicossociológica e
a teoria da escolha racional em uma única analise. A proposta da Castro implica em
analisar algumas variáveis como: preferência partidária, questões sociais (como sexo,
idade, renda familiar, escolaridade, ocupação, raça, participação em associações) e
características políticas variadas (opiniões, atitudes, interesses, envolvimento,
informação) a partir do contexto sócio econômico do individuo.
“Uma teoria realmente explicativa do voto deve incluir as variáveis macrosociológicas, que compõem o contexto sócio-econômicos e institucionais dos
indivíduos, os atributos sócio-demográficos dos eleitores, que definem
posições especificas na estrutura social e experiências re relações sociais em
diversos grupos, e, finalmente, os fatores políticos micro, especialmente a
preferência partidária e a sofisticação política.”(Castro, 1994:203)
Em resumo, a “sofisticação política” corresponde ao interesse e ao envolvimento
em questões de ordem política, o conhecimento e a capacidade de conceituação do
mundo político. Castro(1994) concluiu com os dados de sua pesquisa que:
“São eleitores sofisticados, aqueles que votam orientados pelas opiniões
sobre issues diversos e por preferências partidárias baseadas em visão
informada a respeito das propostas de partidos e candidatos, preferências
estas que se relacionam com posições ideológicas que afirmam ter.”(Castro,
1994: 180)
A percepção que o eleitor possui sobre o processo eleitoral depende do seu nível
de sofisticação política. Esse fato explicaria a escolha de um eleitor com baixa
sofisticação política possa parecer errônea e equivocada para outro eleitor. Na mesma
linha de análise Reis e Castro(apud Radmann, 2001) consideram que o comportamento
do eleitor brasileiro é influenciado pelo grupo social que o eleitor faz parte, por esse
motivo o eleitor não pode ser considerado irracional.
“Se o voto reflete a influência do grupo de que o eleitor faz parte e esse
grupo faz uma escolha que pode ser interpretada como racional, porque vota
no partido que convencionalmente representa seu interesse de classe, o
membro do grupo tenderá a fazer a opção correta.”(Castro, 1994: 206)
Para a autora o voto das classes populares pode ser relacionado com o
personalismo do político. Para Radmann (2001: 80): “O voto baseia-se na “imagem”
vendida pelo candidato como recurso para decidir a direção do voto”. Na percepção de
Castro(1994) a escolaridade também é um atenuante para explicar a conceituação que o
individuo faz do mundo político e, por conseguinte, o comportamento eleitoral.
3.4 eleitor antropológico não-político
Embora os estudos antropológicos não possam ser considerados como uma
abordagem teórica do comportamento eleitoral no Brasil, aos trabalhos do NUAP2 se
configuram como uma nova interpretação sobre a política.
“A análise antropológica procuram analisar o voto, as eleições e a representação
política a partir do “descentramento em relação aos partidos, reintrodução de
dimensões sociológica e a elaboração de abordagens que tomem as práticas
eleitorais em sua positividade”. (Palmeira e Goldmann1996 apud Radmann, 2001)
A análise antropológica tem uma importância significativa para a política por
dois principais motivos: partem de análises de eleições locais e se caracterizam pelas
pesquisas qualitativas. A abordagem antropológica inicia conceituando a política. A
política não é uma atividade permanente. De acordo com Palmeira (1992): “o período
eleitoral é designado como o “tempo da política”. O tempo da política representa o
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Núcleo de Antropologia Política. Constituído por pesquisadores dos Programas de Pós -graduação em
Antropologia Social da UFRJ( Museu Nacional), da Universidade de Brasilia (UnB) e do Programa de
Pós graduação em Sociologia da Universidade Federal do Ceará(UFC)
momento em que as facções (os partidos reais) são identificados(...)” Heredia(1996)
constatou que no direcionamento do voto havia uma relação tradicional patriarcal e
frequentemente motivada por favores pessoais que geravam um compromisso moral
entre eleitor e candidatos.
“Nas comunidades camponesas a política, não é um tema que faz parte do cotidiano.
No entanto, isso se altera, no período eleitoral, quando a política está presente tanto
através da mídia, especialmente rádio e televisão, quando pela presença, física dos
candidatos e seus símbolos – bandeiras, cartazes e músicas. Essa presença da
política em tempos de eleição permite-nos dizer, sem temor de equívoco, que nesses
momentos ela faz parte do cotidiano.” (HEREDIA, 1996: 57)
O conceito “tempo da política” é um instrumento para a compreensão do
comportamento político-eleitoral e para conhecer a partir de quais condicionantes que o
eleitor constrói sua conceituação sobre o mundo político. Em síntese, “o sucesso
eleitoral do candidato irá depender de sua capacidade pessoal de conquistar a confiança
dos eleitores e a eficácia na emissão de mensagens que consigam influenciar a
constituição das opiniões, que formam a rede de relacionamentos que compõem a lógica
popular.” (Radmann, 2001: 93). A principal contribuição da abordagem antropológica é
compreender os aspectos qualitativos do comportamento eleitoral. Isto é, compreender
as variáveis culturais, simbólicas, tradicionais e regionais do eleitor.
3.5 eleitor brasileiro
O conceito de eleitor brasileiro foi sistematizado por Jorge Almeida a partir de
estudos sobre o perfil ideológico do eleitor e sua evolução nas pesquisas de opinião
(1994). A pesquisa procurou descobrir as razões que levam o eleitor brasileiro e como
se dão as interpretações eleitorais nos diversos grupos sociais.
“Classes sociais com inserção específica nas relações de produção e grupos com
renda tem renda e padrões de consumo e bens e de serviços públicos específicos
pertencentes á população economicamente ativa ou não. Mas que têm diferenças
também de sexo, idade, escolaridade, raça e religião. Que vivem em diferentes
Estados e regiões diferentes, na capital ou no interior, em grandes, médios ou
pequenos municípios. E que tem interesse maior ou menor pela política com
preferência ou não por algum partido.”(Almeida apud Radmann, 2001: 94)
Os resultados identificaram que existe uma variação no comportamento eleitoral
de região para região. E essa variação se dá devido a tais fatores: base dos partidos, a
condução da campanha, o peso e a relação dos candidatos com os partidos políticos.
Dentro desse contexto, deve-se considerar os aspectos ideológicos e a existência de
políticas tradicionalistas (clientelismo, paternalismo) como determinante para a decisão
do voto.
Em relação às variáveis socioeconômicas, Almeida (apud Radmann, 2001),
constatou que existe uma concentração de eleitores indecisos entre o eleitorado pobres e
os grupos excluídos. Porém, com relação ao nível de informação, a pesquisa
demonstrou que na “reta final da campanha” existe um número considerável de eleitores
que não possuem conhecimento dos candidatos e dos partidos políticos. Nas pesquisas
eleitorais foi constatado o desinteresse dos eleitores em relação ao processo eleitoral. De
acordo com Almeida(apud Radmann, 2001): “Os eleitores menos desinteressados são os
que possuem escolaridade superior”.
O grau de distanciamento dos eleitores em relação a política é observado a partir
do baixo nível de conhecimento dos eleitores sobre o conceitos da política, a confusão
entre representação política e partidos políticos. Para além desses fatores, o desinteresse
também é demonstrado através do descrédito das instituições, que por sua vez, são uma
das principais representantes do governo democrático. Nas questões da pesquisa de
opinião, ficaram evidentes que os problemas sociais são preocupações pessoais dos
eleitores.
“Entre os maiores problemas nacionais, custo de vida/ preços tem 34%. Somando-se
a fome/miséria, desemprego, vemos que os três maiores problemas somam 70%.
Quanto às preocupações pessoais e familiares, 67%, estão concentradas em cinco
problemas: custo de vida, desemprego, saúde, salários e violência. Quanto as áreas
prioritárias, 67% indicaram cinco:desemprego, fome/miséria, inflação, educação e
saúde.”( ALMEIDA apud RADMANN, 2001: 98)
O autor, também constatou que os eleitores levam em consideração a imagem do
candidato para direcionar o voto. A imagem do candidato, não está relacionada à opção
político-partidária, e sim, é decorrente dos atributos pessoais do candidato. As chances
que o candidato seja eleito está relacionada com sua imagem perante os eleitores. A
vida pessoal do candidato passa a fazer parte do imaginário do eleitor.
3.6 eleitor intuitivo e não-racional
Flávio Silveira definiu esse novo tipo de eleitor procurando identificar quais são
as principais tendências do voto. De acordo com suas pesquisas realizadas ao longo da
década de 90, Silveira(1998), constatou que as tendências do comportamento eleitoral
são resultantes das transformações que ocorreram no Brasil. Sendo assim, Silveira(apud
Radmann, 2001) defende a tese do “eleitor não-racional, que decide a direção de seu
voto de acordo com a mídia, o marketing político e as imagens”. Para Silveira, o
comportamento do eleitor baseado em relações pessoais de lealdade (clientelistas e
personalismo), as referencias partidárias e as relações classistas estariam passando por
um declínio. Porém, o autor ressalta que ainda existam comportamentos tradicionais na
política brasileira. Silveira destaca através do voto um novo tipo de comportamento do
eleitor que define a partir da imagem do candidato.
“O eleitor não vinculado a lideranças e partidos, age de forma autônoma
estabelecendo identificações pontuais e fugazes principalmente com os candidatos,
tendo em vista seus atributos simbólicos. Capta na mídia as imagens que necessita
para, através de um juízo de gosto, escolher os candidatos considerados autônomos
detentores das características simbólicas valorizadas”.( Silveira, apud Radmann,
2001: 101)
De acordo com Silveira, o comportamento do eleitor se caracteriza como
volúvel, flutuante e mudancista. A questão ideológica não é um aspecto determinante na
direção do voto. Mais uma vez o comportamento do eleitor pode variar de acordo com o
grau de escolaridade dos eleitores, saber político e o envolvimento do mesmo(eleitor)
com a política. Os dados da pesquisa de Silveira (apud Radmann, 2001) demonstram
que o eleitorado é desprovido de saber político e, por conseguinte, não tem posição
definida sobre os problemas políticos.
Em relação ao comportamento dos eleitores, Silveira (idem) sinaliza que este é
resultante de mudanças políticas e tecnológicas das campanhas atuais contemporâneas.
No processo eleitoral existe o enfraquecimento das instituições políticas em razão da
figura do candidato, de questões conjunturais e simbólicas do período eleitoral.
O comportamento dos eleitores é direcionado a partir de atributos simbólicos do
candidato. Portanto:
“Para conquistar a aprovação dos eleitores que escolhem em função de
sensibilidade, intuição e gosto os candidatos precisam apresentar as características
simbólicas valorizadas e mobilizar sentimentos, emoções e desejos, através do seu
modo de olhar, falar e se expressar e agir.”(SILVEIRA apud Radmann, 2001: 103)
O eleitor vota de acordo com o discurso dos candidatos e com suas atitudes e
posições na campanha eleitoral. Na pesquisa realizada por Silveira (apud Radmann) foi
constatado que as características pessoais do candidato destacam-se: simpatia,
inteligência, ousadia, senso de justiça e capacidade de dialogo. Para Radmann (2001:
106): “O comportamento volúvel do eleitor amplia as condições de incerteza na disputa
eleitoral, que pode mudar de rumo em função de fatores conjunturais da campanha,
fatores políticos de caráter simbólico ou de ordem moral”. Por isso, que é impossível
prever o comportamento dos eleitores porque sua opinião varia de acordo com suas
preferências simbólicas, valorativas e esse comportamento pode modificar o
comportamento não-racional.
3.7 eleitor ideológico
André Singer (2000) é um dos principais pesquisadores que defendem a tese
que existe uma parte dos eleitores que direcionam seu voto de acordo com sua
identificação ideológica. Para o autor, a identificação ideológica dos eleitores foi central
na decisão das eleições presidenciais de 1989 e 1994. Porém, a “identificação
ideológica” não garante que os eleitores tenham sofisticação política e conhecimento
sobre as concepções políticas. A identificação ideológica é, portanto, a adesão a uma
posição no continuum esquerda-direita, que não chega a caracterizar uma orientação
política do eleitor.
“Tanto em uma como em outra eleição, o eleitor soube, em sua grande maioria,
localizar-se no contínuo, esquerda-direita e esse posicionamento esteve fortemente
associado à escolha do candidato em que votar. Quando comparada a outras
variáveis preditivas do voto naquelas ocasiões, a identificação ideológica revelou-se
das mais forte.”(SINGER apud Radmann, 2001: 107)
Embora não seja capaz de diferenciar o conteúdo de cada posição ideológica,
segundo Singer (2000), o eleitor consegue localizar-se ideologicamente devido as suas
próprias preferências. De acordo com Singer (idem), o que ocorreu foi que a
identificação partidária não foi perceptível entre os estratos da população mais baixos
com partidos de esquerda. Pelo contrário, havia uma parcela significativa da população
que se identificava com a direita. A partir da análise das eleições presidenciais de 1989
e 1994 (apud Radmann, 2001), Silveira constatou que o voto do eleitor não foi definido
a partir do personalismo político, mas sim devido a insatisfação do eleitorado com o
governo de centro-direita representado por Fernando Collor (1989) e Fernando
Henrique Cardoso (1994). Para o autor, tanto a preferência partidária como a ideológica
agiriam como um instrumento para prognosticar o comportamento do eleitor. Outra
variável importante é a grau de escolaridade do eleitor. Portanto:
“Possivelmente, os eleitores pobres tenderam a votar na direita ou não porque eram
pobres, mas sim porque eram menos escolarizados. A escolaridade foi, em suma, um
melhor preditor do voto do que a renda”.( SINGER apud Radmann, 2001: 110)
Segundo os dados da pesquisa, quanto maior for à escolaridade dos eleitores
maior será a tendência dos eleitores direcionarem seus votos para partidos de esquerda.
A identificação ideológica sinaliza a orientação política do eleitor e essa identificação
deve ser considerada na analise do comportamento eleitoral.
4. CONCLUSÃO
A partir da análise dos trabalhos de autores brasileiros sobre comportamento
eleitoral podemos concluir que a conduta dos eleitores brasileiros não pode ser
compreendido a partir de uma única teoria. A dificuldade de analisar o comportamento
do eleitor brasileiro a partir de uma teoria exclusiva se deve, em grande parte, a
diversidade de fatores sócio-culturais e econômicos que fazem parte do contexto
brasileiro. Com o estudo bibliográfico constatou que o comportamento do eleitor
brasileiro segue diretrizes da teoria sociológica partindo da analise de fatores macro,
enfatizando a influencia do contexto social e dos diferentes grupos que compõem a
sociedade brasileira. Como exemplo dos trabalhos que utilizam a abordagem
sociológica, a ciência política brasileira possui os estudos de Almeida (1998), com o
Eleitor Brasileiro, Castro (1994) que com a denominação de “Sofisticação Política”.
Com sua pesquisa Castro (1994) constatou que o grau de “sofisticação política”,
isto é, a informação, a capacidade de conceituação e envolvimento com a política. As
pesquisas da autora constataram que é baixa a consistência ideológica do eleitor
brasileiro. Sendo assim, não é possível correlacionar o comportamento do eleitor com
aspectos sociológicos, como a identificação com grupos sociais, de cunho local,
regional ou mesmo a natureza socioeconômica ou política do eleitor. Logo, que fatores
socioeconômicos interferem no grau de informação e participação política do eleitor.
Contudo, a abordagem sociológica não é suficiente para explicar o direcionamento do
voto. A teoria psicológica é representada no Brasil pelos trabalhos de Reis (1988), o
eleitor tipo flamengo, Silveira (1998), o eleitor não intuitivo e não-racional e Singer
(2000) o eleitor ideológico.
A abordagem psicológica procura explicar o direcionamento do voto através de
identidade do eleitor. Partindo do pressuposto que eleitor voto de acordo com sua
percepção, atitude, crenças, opiniões e expectativas do mundo político. A teoria
psicossociológica parte da explicação que os fatores sociológicos influenciam as
atitudes do eleitor. Por fim, a volatilidade do voto eleitoral é um dos empecilhos para o
diagnostico e compreensão do voto. Com o voto personalista, caracterizado pelo
ceticismo, personalismo e voto emotivo, o eleitor decide o direcionamento do seu voto
baseado em atributos individuais de competência e honestidade dos candidatos. No
entanto, segundo, (Silveira, 1998) o comportamento eleitoral personalista é uma escolha
política desprovida de princípios e conceitos políticos estruturados.
Analisando as principais teorias do comportamento pode-se perceber que o
eleitor brasileiro não é irracional. Porém, sua racionalidade varia de acordo com o
contexto que o eleitor se encontra e está relacionada as informações políticas do eleitor.
Sendo assim, a principal importância deste estudo bibliográfico está em contextualizar o
comportamento eleitoral do brasileiro com as abordagens teóricas do comportamento
eleitoral e relacionar sua implicância na racionalidade eleitoral dos brasileiros.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CASTRO, Mônica Mata Machado de. Determinantes do Comportamento Eleitoral: a
centralidade da Sofisticação Política. RJ: Tese de Doutorado, 1994.
________, Sujeito e Estrutura no Comportamento Eleitoral. Revista Brasileira de
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DOWNS, ANTHONY. Uma teoria econômica da democracia. São Paulo: EDUSP:
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FIGUEIREDO, Marcus. A decisão do voto: democracia e racionalidade. 2ª Ed. Belo
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HEREDIA, Beatriz M. A de. Política, Família, Comunidade. In: PALMEIRA, M. e
GOLDAMAN, M(org) Antropologia, Voto e Representação Política. Rio de Janeiro:
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PALMEIRA, MOACIR. “VOTO: Racionalidade ou Significado” Revista Brasileira
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RADMANN, Elis Rejane H. O eleitor brasileiro: uma análise do comportamento
eleitoral. Dissertação(mestrado em Ciência Política)Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, Porto Alegre, 2001.
SILVEIRA, Flávio E. A decisão do voto no Brasil, EDIPUCRS, 1998.
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