editorial

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REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
INSTITUCIONAL
DIREÇÃO DA MANTENEDORA
Diretoria Gestão 2015 - 2017
Presidente: Ernani Carlos Boeck
Vice-presidente: Ronaldo Fredolino Wenland
Secretária: Dalva Lenz de Souza
Vice-secretário: Nelson Moura de Oliveira
Tesoureiro: Waldemar Blum
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Conselho Fiscal:
Hordi Nubio Felten
Ernani Ademir Krause
Flávio Huber
Mario Tesche
Mário Keinert
Conselho Deliberativo:
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Fábio Rogério Tesche
Kedi Meuer Lopes
Diretor geral: Flavio Magedanz
Vice-diretor Ensino Superior e Ensino
Profissionalizante: Sandro Ergang
Vice-diretora Administrativa: Quedi Sônia Schmidt
Vice-diretora Educação Básica, Ensino Médio e Centro
de Idiomas: Marilei Assini
Vice-diretora Educação Infantil: Dagma Heinkel
Conselho Editorial: Ms Alexandre Chapoval Neto; Drdo
Fauzi de Moraes Shubeita; Ms Gilberto Souto Caramão; Ms
Jorge Antonio Rambo; Ms Lilian Winter; Ms Luciomar de
Carvalho; Ms Márcia Stein; Ms Marcos Caraffa; Ms Sandro
Ergang; Ms Valsenio Gaelzer; Ms Vera Lúcia Lorenset
Benedetti.
Comissão Científica Interna (avaliadores - sistema blind
review):
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Douglas Faoro; Ms Evandir Bueno Barasuol; Drdo Fauzi
Shubeita; Ms Gilberto Souto Caramão; Ms Jorge Antonio
Rambo; Dr Letícia dos Santos Holbig Harter; Ms Lilian Winter;
Ms Loana Wollmann Taborda; Ms Luciomar de Carvalho; Ms
Márcia Stein; Ms Marcos Caraffa; Ms Mauro Alberto Nüske;
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Chitolina; Ms Rudinei Barichello Augusti; Ms Sandro Ergang;
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Comissão Científica Externa (avaliadores - sistema blind
review):
Dr Claudio Schepke - UNIPAMPA (RS); Dr Cristiano Henrique
da Veiga - UFU (MG); Ms Gustavo Griebler – IFF (Uruguaiana –
RS); Dr João Bosco Sobral - UFSC (SC); Dr João Leonardo
Pires - EMBRAPA (RS); Dr Jorge Luis da Cunha - UFSM (RS);
Dr José Antonio Martinelli - UFRGS (RS); Dr Luciano Bedin da
Costa - UFRGS (RS); Drdo Luis Carlos Zucatto – UFSM (RS);
Dra Márcia Soares Chaves - EMBRAPA (RS); Dr Mário Luis
Santos Evangelista - UFSM (RS); Dra Marlene Gomes Terra UFSM (RS); Dr Miguel Vicente Sellitto - UNISINOS (RS); Dr
Rafael Marcelo Soder - UFFS (SC); Dr Roque da Costa Güllich UFFS (RS); Dr Sedinei Nardelli Beber - PUC (RS); Dra Soraia
Napoleão Freitas - UFSM (RS), Dr Valmir Heckler - FURG (RS).
Capa: Assessoria de Comunicação SETREM
Diagramação: Assessoria de Comunicação SETREM
Editor-chefe: Ms Alexandre Chapoval Neto
Revisão: Carla Matzembacher
Ano XIV nº26 JAN/JUN 2015 - ISSN1678-1252
Revista SETREM: Revista de Ensino e Pesquisa
Sociedade Educacional Três de Maio Três de Maio:
SETREM Publicação Semestral
EDITORIAL
Prezados Leitores!
Escrever um artigo científico é uma tomada de
decisão que implica em um grande crescimento pessoal
e profissional tanto para o pesquisador individual quanto
para todo o grupo de pesquisa envolvido e
comprometido com o resultado do estudo. Destaca-se
que, além de aumentar o prestigio e o reconhecimento
dos autores na comunidade científica, também é uma
excelente oportunidade para divulgar a pesquisa,
apresentando o que há de avanço nas áreas de estudo.
Ampliando um pouco esse olhar e essa reflexão,
percebe-se que o resultado da publicação de um estudo
transcende o crescimento somente do autor ou dos
autores. Os benefícios podem ser identificados pela
qualidade das pesquisas que ganham reconhecimento e
credibilidade de toda comunidade científica.
As instituições de ensino, neste contexto,
desempenham um papel ímpar no processo de
produção e disseminação do conhecimento, seja
através do ensino, pesquisa e extensão. Ao
disponibilizar os meios no qual pesquisadores, docentes
e discentes, sejam de programas de graduação ou de
pós graduação, possam discutir temas e assuntos de
suas áreas de estudo. Nesta discussão ambos são
despertados pela busca de aprofundar o entendimento e
compreensão sobre o tema que foi abordado.
Essa disponibilização de artigos sempre é
saudada com entusiasmo, pois quebra a solidão dos que
se dedicam ao trabalho intelectual de acumular
conhecimento e neste momento conseguem difundir o
que foram capazes de acumular.
Como resultado, tem-se a consequente
construção e ampliação do conhecimento tanto para
estudantes quantos professores. Nesta troca o
benefício percebido é a ampliação da capacidade de
análise e interpretação crítica bem como o aumento do
grau de reflexão e capacidade de posicionamento sobre
o tema apresentado.
Em essência, a Revista SETREM é, sobretudo,
um convite à exposição de resultados de estudos e
pesquisas, para debate público, no sentido de
realização da finalidade maior da academia: um diálogo
que produza dissensos e consensos, fundados nos
princípios e nos métodos científicos, envolvendo o tripé
ensino, pesquisa e extensão.
Nesta edição, Revista SETREM n° 26, passa a
disponibilizar 15 trabalhos de pesquisa englobando a
área de Administração, Agropecuária, Design, Saúde,
Engenharias, Educação, Psicologia e Tecnologia da
Informação.
Agradecemos a todos que contribuíram com seus
artigos e deixamos o convite para todos aqueles que
quiserem utilizar esse meio para divulgar suas
pesquisas em futuras edições. Desejamos a todos uma
boa leitura, reflexão e disseminação dos trabalhos
apresentados.
Prof Msc Sandro Ergang
Vice-Diretor da Faculdade Três de Maio
e Ensino Profissionalizante
REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
SUMÁRIO
ANÁLISE DE VIABILIDADE DE IMPLANTAÇÃO DE SERVIÇO DE AMBULATÓRIO PRÓPRIO
UNIMED.............................................................................................................................................................5
Jocias Maier Zanatta
Mauro Alberto Nuske
Daniel Knebel Baggio
Sociedade Educacional Três de Maio - SETREM
ESTUDO DA COMUNICAÇÃO INTERNA EM UMA COOPERATIVA DE ELETRIFICAÇÃO...........12
Mônica Servi Pavlak
Raquel Ludwig
Alexandre Chapoval Neto
Sociedade Educacional Três de Maio - SETREM
MAPEAMENTO DO FLUXO DE VALOR COMO ALTERNATIVA DE REDUÇÃO DE CUSTOS
LOGÍSTICOS E DE PROCESSO...............................................................................................23
Alexandre Chapoval Neto
Anderson do Nascimento
Sociedade Educacional Três de Maio - SETREM
NÍVEL DE SATISFAÇÃO DA COMUNICAÇÃO INTERNA DE UMA PREFEITURA MUNICIPAL DA
REGIÃO NOROESTE - RS.........................................................................................................................35
Graciele Cristina Wiegert
Alexandre Chapoval Neto
Sociedade Educacional Três de Maio - SETREM
SEGURANÇA E MEDICINA DO TRABALHO EM UMA EMPRESA FAMILIAR ...................47
Cecília Smaneoto
Francine Fernandes
Sociedade Educacional Três de Maio - SETREM
INFLUÊNCIA DO TRATAMENTO DE SEMENTES E ARMAZENAMENTO NA QUALIDADE
FISIOLÓGICA DE GRÃOS PARA SEMEADURA DE SOJA ....................................................56
Carine Kronbauer
Letícia Dos Santos Holbig Harter
Sociedade Educacional Três de Maio - SETREM
A GESTÃO DE DESIGN NA INDÚSTRIA DA MODA: REFLEXÕES SOBRE INOVAÇÃO E
DESENVOLVIMENTO EM EMPRESAS DE CONFECÇÃO NA REGIÃO FRONTEIRA NOROESTE
DO RIO GRANDE DO SUL..........................................................................................................................65
Vanessa Marin
Dieter Rugard Siedenberg
A PERCEPÇÂO DOS ENFERMEIROS SOBRE ASSISTÊNCIA DA ENFERMAGEM NO CUIDADO
DAS ÚLCERAS DE PRESSÃO...................................................................................................................76
Maria Salete Pianta Christ
Lisete Maria Sander Kunzler
Vera Beatriz Pinto Zimmermann Weber
Sociedade Educacional Três de Maio - SETREM
ESTUDO DE TEMPOS E MOVIMENTOS NO SETOR DE SOLDA EM UMA METALÚRGICA.......83
Maiquel Batista
Alexandre Chapoval
Sociedade Educacional Três de Maio - SETREM
REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
A AVALIAÇÃO ESCOLAR COMO INSTRUMENTO POTENCIALIZADOR PARA O ENSINO E
A FORMAÇÃO INICIAL.............................................................................................................92
Jéssica Ceretta Corrêa
Marli Dallagnol Frison
CONCEITOS E TENDÊNCIAS ALIMENTARES DE ALUNOS DE 4º E 5º ANOS DE SETE
ESCOLAS DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE TRÊS PASSOS - RS................................99
Clenio Moacir Flesch
Luciane Sippert
Danni Maisa da Silva
Universidade Estadual do Rio Grande do Sul - UERGS
COMPOSTAGEM NA ESCOLA: UMA PROPOSTA DE FERRAMENTA PEDAGÓGICA NO
DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL...........................................................106
Silvia Da Silva
Luciane Sippert
Robson Evaldo Gehlen Bohrer
Universidade Estadual do Rio Grande do Sul - UERGS
O REGIONALISMO PRESENTE NA OBRA DE SAVIO MOREIRA: UMA REFLEXÃO SOBRE
AS VARIEDADES LINGUÍSTICAS........................................................................................114
Eufrázia Nenê Miranda
Luciane Sippert
Universidade Estadual do Rio Grande do Sul - UERGS
MULHERES EM MOVIMENTO: UM ESTUDO SOBRE A PARTICIPAÇÃO POLÍTICA DA
MULHER TRABALHADORA RURAL BRASILEIRA...............................................................122
Rita de Cássia Maciazeki Gomes
Lissandra Baggio
Lilian Ester Winter
Tania Tornquiste
Sociedade Educacional Três de Maio - SETREM
MELHORES PRÁTICAS EM TI BASEADO EM ITIL PARA PROVEDORES DE ACESSO À
INTERNET NO VALE DO SINOS.............................................................................................130
Edson Inácio Wobeto
Samuel Henrique Hartmann
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ANÁLISE DE VIABILIDADE DE IMPLANTAÇÃO DE SERVIÇO DE AMBULATÓRIO PRÓPRIO
UNIMED
Jocias Maier Zanatta¹
Mauro Alberto Nuske²
Daniel Knebel Baggio³
SETREM4
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo analisar a
viabilidade econômica e financeira de implantação de
serviço de Ambulatório próprio Unimed no município de
Três de Maio- RS. Para a realização da pesquisa, utilizouse o método de abordagem dedutivo, qualitativo e
quantitativo, com procedimento descritivo e estudo de
caso e técnicas de coleta e análise de dados. A análise se
deu através de quatro cenários, de acordo com o horário
de funcionamento e projeções de crescimento do número
de clientes. O cenário com funcionamento durante o
horário comercial e com crescimento do número de
clientes estimado em 5% ao ano, foi o único que
demonstrou viabilidade econômica e financeira, apesar
de não apresentar resultados acima da média do mercado
e ter o retorno do capital investido em um prazo superior a
sete anos. Desta forma, este investimento torna-se uma
decisão estratégica.
ABSTRACT
This study aims to analyze the economic and financial
feasibility own outpatient service deployment Unimed in
the city of Três de Maio - RS. For the research, the method
of deductive, quantitative and qualitative approach, with
descriptive procedure and case study and collection
techniques and data analysis was used. The analysis was
made through four scenarios, according to the hours of
operation and growth projections of the number of
customers. The scenario with operation during working
hours and an increase in the number of customers
estimated at 5% per year, was the one that showed
economic and financial viability, although not presenting
above the market average results and having the return on
invested capital a period exceeding seven years. Thus,
this investment becomes a strategic decision.
Keywords: Economic Viability and Financial. Clinic.
Decision Making.
Palavras-chave: Viabilidade Econômica e Financeira.
Ambulatório. Tomada de Decisão.
1. INTRODUÇÃO
sempre sob a orientação e supervisão de um profissional
da área.
No atual cenário macroeconômico em que as
empresas estão inseridas, no qual existe intensa
competitividade e recursos limitados, sobressai a empresa
que utilizar da melhor maneira esses recursos escassos.
Nesse contexto, torna-se mais complexo o processo de
tomada de decisão, aumentando a necessidade de
margem de erro reduzida na definição de investimentos.
O presente trabalho tem por finalidade
desenvolver um estudo de viabilidade econômica e
financeira com o intuito de dar suporte à tomada de
decisão de investimento em um serviço de ambulatório
próprio Unimed, levando em consideração as
particularidades de uma cooperativa de serviços médicos.
Para tanto, o presente artigo está estruturado em
cinco partes, sendo que após a introdução, apresenta-se
o referencial teórico sobre os assuntos abordados, tais
como: análise econômica e financeira e indicadores de
viabilidade. Em seguida, são descritos os métodos
utilizados na pesquisa. Após, são apresentados, na forma
de gráficos, tabelas e comentários, os resultados e, por
fim, as considerações finais do estudo.
A necessidade de mensurar os riscos de um
investimento torna essencial a análise da viabilidade
econômica e financeira do projeto que se pretende
implementar. Esta análise serve como um dos parâmetros
para aprovação ou não do projeto; porém, a sua execução
independe desta análise, o que torna relevante a forma de
gestão e as particularidades de cada organização. Neste
sentido, as organizações, ao iniciarem um projeto de
investimento, necessitam de informações que subsidiem
suas decisões (HOJI, 2010).
2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 ANÁLISE ECONÔMICA E FINANCEIRA
Um ambulatório próprio se refere a um ambiente
físico destinado à realização de pequenos procedimentos,
não caracterizando atendimentos de urgência/emergência,
englobando aferição de sinais vitais, aplicação de
medicação, curativos, pequenos procedimentos médicos e
demais atividades de prevenção e promoção à saúde,
Pode-se definir o investimento como sendo um
conjunto de procedimentos, composto por métodos e
técnicas que permitem avaliar e selecionar investimentos
de longo prazo (HOJI, 2003). Gitman (2004), complementa
¹ Pós Graduado em MBA em Gestão Financeira, Controladoria e Auditoria, Mestrando em Desenvolvimento da UNIJUI,
Professor da Sociedade Educacional Três de Maio – SETREM. E-mail: [email protected]
² Mestre em Engenharia da Produção, Professor da Sociedade Educacional Três de Maio – SETREM. E-mail:
[email protected]
³ Doutor em Contabilidade e Finanças, Professor do Mestrado em Desenvolvimento da UNIJUI. E-mail: [email protected]
4
Sociedade Educacional Três de Maio – SETREM
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que o processo de avaliar e selecionar investimentos
coincide com a meta da empresa de maximização de
riquezas. Portanto, estes métodos são utilizados para
buscar alternativas economicamente viáveis e identificar
as que geram maior resultado para a organização.
utilizados para avaliar propostas de investimentos de capital.
Reflete a "riqueza em valores monetários do investimento
medida pela diferença entre o valor presente das entradas
de caixa e o valor presente das saídas de caixa, a
determinada taxa de desconto" (KASSAI, 2005, p.63).
Para Ribeiro (1999, p.22) "os gastos que se
destinam à obtenção de bens de uso da empresa
(computadores, móveis, máquinas, ferramentas, veículos,
etc.)" ou a aplicação de caráter permanente (compra de
ações de outras empresas, imóveis, de ouro, etc.) são
considerados investimentos.
Valor Presente Líquido é a representação de um
saldo hipotético (positivo, nulo ou negativo) dos valores
envolvidos no empreendimento, transladados
equivalentemente para o instante inicial e comparados, no
mesmo instante, com uma aplicação financeira em que os
mesmos valores são aplicados à taxa mínima de
atratividade, durante um prazo igual à vida útil do
empreendimento (HIRSCHFEKD, 1987).
O investimento fixo representa os equipamentos,
as instalações industriais para operação dos
equipamentos (redes de energia, vapor, água, ar
comprimido e outras), a montagem e o projeto quando
houver as construções civis necessárias e outros
investimentos como móveis e transportadores
(CASAROTTO; KOPITTKE, 2000).
Segue a Fórmula do VPL:
O conceito de custo e despesa é distinto. Os
custos são gastos relacionados à atividade de produção
ou ligados à venda de mercadorias, enquanto a despesa
é gastos com bens e serviços não utilizados na atividade
produtiva e consumidos com a finalidade de geração de
receita (VICENCONTI; NEVES, 2013).
Em que:
Fct = fluxo (benefício) de caixa de cada período.
K = taxa de desconto do projeto, representada
pela rentabilidade mínima requerida.
Definem-se custos fixos como os custos de
estrutura que ocorrem período após período sem variações
ou cujas variações não são consequência do volume de
atividade em períodos iguais; já os custos variáveis,
"alteram-se em função do volume de atividade, ou seja, da
quantidade produzida no período" (DUTRA, 2009, p.32).
I0 = investimento processado no momento zero.
It = valor do investimento previsto em cada
período subsequente.
A Taxa Interna de Retorno (TIR) ou Internal Rate
of Return (IRR) é uma das formas mais sofisticadas de
avaliar propostas de investimentos de capital. "Ela
representa a taxa de desconto que iguala, num único
momento, os fluxos de entrada com os de saída de caixa.
Em outras palavras, é a taxa que produz um VPL igual a
zero" (KASSAI, 2005, p.68).
As receitas são variações que provocam a
"entrada de recursos na forma de dinheiro ou direitos a
receber, provenientes das atividades da organização e
que geralmente correspondem à venda de mercadorias,
produtos e bens, ou à prestação de serviços" (BASSO,
2011, p.60). Conforme Santos (2001, p.17) "o ciclo
financeiro de uma empresa prestadora de serviços, na
maioria dos casos, é afetado apenas pelos prazos de
pagamento e recebimento".
Para Hirschfekd (1987, p.181) "a taxa interna de
retorno, ou simplesmente taxa de retorno é a taxa de juro
resultante do empreendimento analisado". Conforme
Casarotto e Kopittke (2000, p.130) "os investimentos com
TIR maior que TMA são considerados rentáveis e são
passíveis de análise".
A análise do ponto de equilíbrio, também
denominada custo/volume/lucro, é utilizada para
determinar o nível das operações necessárias para cobrir
os custos operacionais, sendo que, acima do ponto de
equilíbrio, a empresa obtém lucro (GITMAN, 2004).
A seguir, é possível observar a fórmula da TIR:
2.2 INDICADORES DE VIABILIDADE
Ao se analisar uma proposta de investimento
deve ser considerado o fato de se estar perdendo a
oportunidade de auferir retornos pela aplicação do mesmo
capital em outros projetos. A nova proposta para ser
atrativa deve render, no mínimo, a taxa de juros
equivalente à rentabilidade das aplicações correntes e de
pouco risco. (CASAROTTO; KOPITTKE, 2000).
Atualmente, a taxa mínima de atratividade deve ser
comparada com o rendimento da caderneta de poupança,
a qual está referenciada pelo Sistema Especial de
Liquidação e de Custódia (SELIC).
Em que:
I0 = montante do investimento no momento zero
(início do projeto).
It = montantes previstos de investimento em
cada momento subsequente.
K = taxa de rentabilidade equivalente periódica
(IRR).
O Valor Presente Líquido (VPL) ou Net Present
Value (NPV) é um dos instrumentos sofisticados mais
FCt = fluxos previstos de entradas de caixa em
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cada período de vida do projeto (benefícios de caixa).
As técnicas de análise de dados se deram
através da utilização de planilhas eletrônicas, do Microsoft
Excel ®, para organização dos dados coletados e
aplicação de cálculos matemáticos para mensurar aos
indicadores de viabilidade.
O payback é o período de recuperação de um
investimento e "consiste na identificação do prazo em que
o montante do dispêndio de capital efetuado seja
recuperado por meio dos fluxos líquidos de caixa gerados
pelo investimento" (KASSAI, 2005, p.88). Para Padoveze
e Benedicto (2007, p.272) é uma "informação
complementar ao processo decisório e, eventualmente,
relevante quando, além do retorno do investimento, o
tempo de recuperação é importante".
4. ANÁLISE DOS RESULTADOS
4.1 DIAGNÓSTICO SITUACIONAL
A Unimed Alto Uruguai atualmente não conta com
serviço de Ambulatório próprio. Existe convênio com
prestador credenciado para realização destes
atendimentos, quando necessário, sendo a parte
hospitalar responsabilidade do prestador, que é
remunerado por tabelas padrão Unimed e negociações
locais, e a parte médica é responsabilidade da Unimed
Alto Uruguai, através dos serviços prestados por médicos
cooperados.
Conforme Santos (2001, p.241) "para apurar a
lucratividade de produtos e serviços, a empresa precisa
ter um sistema de apuração de custos montado
especialmente para este fim". A rentabilidade pode então
ser conceituada como o grau de êxito econômico obtido
por uma empresa em relação ao capital nela investido
(BRAGA, 1989).
Foi realizado levantamento do histórico de
atendimentos dos clientes da Unimed Alto Uruguai e de
intercâmbio (clientes de outras Unimeds) no ambulatório do
Hospital São Vicente de Paulo no período que compreende
os meses de setembro de 2009 a agosto de 2010.
3. METODOLOGIA
A metodologia é um conjunto de técnicas e
procedimentos que tem a finalidade de viabilizar a execução
da pesquisa (JUNG, 2004). Para a execução desta
pesquisa, utilizou-se a abordagem dedutiva, quantitativa e
qualitativa. Em relação aos procedimentos, descritiva e
estudo de caso, e técnicas de coleta e análise de dados. A
pesquisa seguiu o seguinte roteiro: escolha do tema,
definição da empresa pesquisada, pesquisa bibliográfica,
coleta de dados e análise dos resultados, com a análise
através de quatro cenários, considerando o horário de
funcionamento do ambulatório e projeções de crescimento.
O número total de clientes que buscaram
atendimento no período foi de 3218 (três mil duzentos e
dezoito usuários), em que foram realizados 1941 (mil
novecentos e quarenta e um) atendimentos,
representando 66% de beneficiários da Unimed Alto
Uruguai e 34% clientes de Intercâmbio. Levando em
consideração os valores praticados entre Unimed x
Prestador e Unimed x Unimed Intercâmbio (clientes de
outras Unimeds), estes atendimentos correspondem a
uma receita de R$ 148.606,05 (cento e quarenta e oito mil
seiscentos e seis reais e cinco centavos) e um respectivo
gasto com Material e Medicamentos de R$ 85.940,26
(oitenta e cinco mil novecentos e quarenta reais e vinte
seis centavos).
Quanto à abordagem, utilizou-se a dedutiva, pois
se partiu de teorias existentes, que foram aplicadas em
dados reais; quantitativa, pois os dados utilizados na
pesquisa são numéricos, sendo realizados cálculos
através de fórmulas matemáticas; e qualitativa, pois os
dados calculados foram analisados e interpretados.
A Unimed Alto Uruguai, dentro de sua área
geográfica de atuação, possui significativo mercado para
expansão, pois apenas 9% da população possui plano de
saúde com a operadora. Abaixo está o gráfico que ilustra
os atendimentos realizados em serviço de ambulatório
credenciado:
Em relação aos procedimentos, a pesquisa é
descritiva, que conforme Gil (2002, p.42), "tem como
objetivo primordial a descrição das características de
determinada população ou fenômeno ou, então, o
estabelecimento de relações entre as variáveis", sendo
realizado levantamento de dados, para posterior cálculo e
análise de viabilidade; e estudo de caso, pois foi realizado
em uma cooperativa médica com o objetivo de mensurar
a viabilidade de implantação de ambulatório próprio.
Gráfico 1: Atendimentos
Para Fachin (2011), técnica corresponde a um
conjunto de procedimentos mecânicos e intelectuais
utilizado no desempenho de uma atividade científica de
coleta de dados. Quanto às técnicas de coleta de dados,
foi utilizada a pesquisa documental, através da utilização
de relatórios gerenciais do sistema de informações da
cooperativa; a observação, que na visão de Lakatos e
Marconi (2006, p.88) "é uma técnica de coleta de dados
para conseguir informações e utiliza os sentidos na
obtenção de determinados aspectos da realidade", está
presente na pesquisa através de visitas a outras Unimeds
para verificar o funcionamento de um ambulatório; a
entrevista foi utilizada através do diálogo com os gestores
das Unimeds pesquisadas e pesquisa bibliográfica,
através da busca de referencial teórico na literatura e
artigos científicos.
FONTE: Elaborado pelos autores, 2010.
4.2 INVESTIMENTO
Para realizar o levantamento dos equipamentos
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necessários para o funcionamento de um ambulatório
próprio Unimed, foram levados em consideração
equipamentos considerados ideais e indispensáveis para
este serviço, totalizando um investimento inicial de R$
55.000,00 (cinquenta e cinco mil reais), que para esta
análise são provenientes de recursos próprios, conforme
descrito abaixo:
enfermagem, condizentes com a realidade regional,
conforme tabela resumida no quadro 4:
Quadro 4: Custo fixo (enfermagem)
Quadro 1: Equipamentos
FONTE: Elaborado pelos autores, 2010.
4.3.2 Custo Variável
Ao analisar o histórico dos atendimentos no
período em estudo, contatou-se um custo variável de R$
85.940,26 (oitenta e cinco mil novecentos e quarenta reais
e vinte seis centavos), relativos a gastos com material e
medicamentos nos atendimentos prestados, conforme
detalhado abaixo:
Quadro 5: Custo variável
FONTE: Elaborado pelos autores, 2010.
4.3.3 Custo Variável com projeção de crescimento do
número de cliente em 5% a.a.
Para confiabilidade da análise de viabilidade
assim como a receita, os custos variáveis aumentaram
proporcionalmente ao crescimento do número de clientes,
conforme quadro abaixo:
FONTE: Cirúrgica Passos.
Para a realização deste estudo utilizou-se um
percentual de depreciação dos equipamentos hospitalares
de 10% a.a., conforme demonstra o quadro 2:
Quadro 6: Custo variável com projeção de crescimento de 5% a.a.
Figura 3: Depreciação Anual
FONTE: Elaborado pelos autores, 2010.
Quanto ao gênero, a figura 4 mostra que 71% dos
questionados são do sexo feminino e 29 % dos mesmos
pertencem ao sexo masculino. Entende-se, assim, que os
respondentes, em sua maioria, são mulheres.
FONTE: Elaborado pelos autores, 2010.
4.3 CUSTOS
A análise do custo variável projetado se restringe
apenas aos usuários da Unimed Alto Uruguai. Isto ocorre
devido ao restante dos beneficiários pertencerem a outras
Unimeds (demais Unimeds do Brasil), não sendo possível
projetar crescimento, em função da sinistralidade nos
atendimentos e particularidades de cada Unimed.
4.3.1 Custo Fixo
Para o cálculo do custo fixo anual foi levado em
consideração o valor de mercado de uma sala comercial
no município de Três de Maio – RS, conforme ilustrado
abaixo:
4.4 RECEITA
Quadro 3: Custo fixo anual
No levantamento realizado no período em estudo
foi apurada uma receita total de R$ 148.606,05 (cento e
quarenta e oito mil seiscentos e seis reais e cinco
centavos). Para isto, foi levado em consideração os
valores gastos com material, medicamentos e taxas de
usuários da Unimed Alto Uruguai e de Intercâmbio, estes,
acrescidos de uma taxa de administração de 5%, de
acordo com as regras de cobrança dos manuais do
sistema Unimed, conforme descrito abaixo:
FONTE: Elaborado pelos autores, 2010.
Para compor o custo fixo anual de cada análise
de viabilidade nos diferentes cenários criados, foram
utilizados valores de remuneração dos profissionais de
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REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
Quadro 7: Receita anual
funcionamento apenas em horário comercial, reduzem-se
drasticamente os custos com profissionais de
enfermagem, atingindo fluxo de caixa positivo. No entanto,
mesmo com fluxo de caixa favorável, o projeto resulta em
VPL e TIR negativos, rentabilidade irrelevante e
lucratividade nula, em detrimento ao setor com
crescimento estagnado, conforme quadro a seguir:
FONTE: Elaborado pelos autores, 2010.
Quadro 9: : Projeção de fluxo de caixa
4.4.1 Receita com projeção de crescimento do
número de cliente em 5% a.a.
Para realizar as análises com projeção de
incremento da receita anual, utilizou-se percentual de
crescimento do número de clientes em 5% a.a., o que
caracteriza um índice desafiador em detrimento à atual
taxa de crescimento que é inferior a 2% ao ano.
Quadro 8: Receita anual com projeção de crescimento do
número de clientes em 5% a.a.
FONTE: : Elaborado pelos autores, 2010.
Quadro 10: Indicadores
FONTE: Elaborado pelos autores, 2010.
FONTE: Elaborado pelos autores, 2010.
A análise da receita projetando o crescimento do
número de clientes se restringe apenas aos usuários da
Unimed alto Uruguai. Isto ocorre devido ao restante dos
beneficiários pertencerem a outras Unimeds (demais
Unimeds do Brasil), não sendo possível projetar
crescimento, em função da sinistralidade nos
atendimentos e particularidades de cada Unimed.
4.8 ANÁLISE 4 – AMBULATÓRIO EM HORÁRIO
COMERCIAL COM PROJEÇÃO DE CRESCIMENTO DO
NÚMERO DE CLIENTE EM 5% A.A.
Ao analisar o serviço de ambulatório próprio, com
funcionamento apenas em horário comercial e com
incremento da receita em consequência do crescimento
do número de clientes, é possível visualizar a partir do
segundo ano um fluxo de caixa positivo. O VPL, nesta
análise, aparece negativo, o que demonstra que a TIR,
mesmo sendo positiva, está abaixo do esperado e menor
que as remunerações do mercado financeiro, conforme
tabela abaixo:
4.5 ANÁLISE 1 - AMBULATÓRIO 24 HORAS SEM
PROJEÇÃO DE CRESCIMENTO DO NÚMERO DE
CLIENTES
Um ambulatório com funcionamento 24 h, que
seria considerado o ideal, não obteve viabilidade econômica
e financeira, devido à necessidade de aumento do número
de profissionais de enfermagem, ou seja, seriam
necessários no mínimo seis profissionais de enfermagem,
sendo três de nível superior e três de nível técnico.
Quadro 11: Projeção de fluxo de caixa
4.6 ANÁLISE 2 - AMBULATÓRIO 24 HORAS COM
PROJEÇÃO DE CRESCIMENTO DO NÚMERO DE
CLIENTE EM 5% A.A.
A mesma análise foi feita levando em
consideração um cenário com incremento no número de
clientes em 5% ao ano, o que demonstrou novamente
inviabilidade econômica e financeira, mesmo com a taxa
de crescimento acima da média atual do setor.
4.7 ANÁLISE 3 – AMBULATÓRIO EM HORÁRIO
COMERCIAL SEM PROJEÇÃO DE CRESCIMENTO DO
NÚMERO DE CLIENTES
FONTE: Elaborado pelos autores, 2010.
Ao analisar o serviço de ambulatório com
9
REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
O fluxo de caixa positivo a partir do segundo ano
só é possível devido a uma drástica redução nos custos
fixos com folha de pagamento dos profissionais de
enfermagem, conforme tabela abaixo:
modificando situações possíveis dentro da área de
atuação da organização.
Devido à complexidade da análise e da
peculiaridade de uma cooperativa médica, foram
escolhidos quatro cenários possíveis para implantação de
um serviço de ambulatório próprio. As análises levaram
em consideração o histórico de atendimentos em
ambulatório credenciado, horário de funcionamento do
ambulatório e projeção de crescimento dos beneficiários
da Unimed Alto Uruguai.
Quadro 12: Custo fixo (enfermagem)
FONTE: Elaborado pelos autores, 2010.
Com a análise do Payback deste investimento,
constatou-se que dentro deste cenário o projeto tem
retorno em 7 anos, 8 meses e seis dias. Esse prazo é
considerado longo, porém em se tratando de uma
cooperativa médica que busca ampliar a rede de
atendimentos e gerar valor agregado aos médicos
cooperados, é passível de análise mais detalhada.
A primeira análise, de um ambulatório 24h sem
projeção de crescimento do número de clientes,
demonstrou a necessidade de grande número de
profissionais de enfermagem, o que ocasionou elevado
custo fixo, com folha de pagamento e consequente fluxo
de caixa negativo; com isso, não existe viabilidade
econômica e financeira.
Figura 14: Receptividade dos pares quanto ao coaching
A segunda análise, de um ambulatório 24h com
projeção de crescimento do número de clientes em 5%
a.a., não obteve viabilidade econômica e financeira, em
decorrência dos elevados custos fixos com folha de
pagamento e de taxa de crescimento insuficientes,
resultando fluxo de caixa negativo.
Na terceira análise, de um ambulatório em
horário comercial sem projeção de crescimento do
número de clientes, apesar de resultar em fluxo de caixa
positivo, o valor é irrisório, tornando o projeto sem
viabilidade econômica e financeira.
Na última análise, de um ambulatório em horário
comercial com projeção de crescimento do número de
clientes em 5% a.a., constatou-se viabilidade econômica e
financeira, apesar de uma taxa de retorno de 8,72%,
considerado pouco atrativa. Este cenário proporcionou
um tempo de retorno do investimento de sete anos, oito
meses e nove dias, e com rentabilidade e lucratividade em
crescimento.
FONTE: Elaborado pelos autores, 2010.
Ao analisar os indicadores financeiros, nota-se
um baixo índice de rentabilidade e de lucratividade, que só
é positivo a partir do segundo ano, e um grande ponto de
equilíbrio, o que não torna o projeto atrativo, conforme o
quadro abaixo:
Após esta análise criteriosa, o objetivo proposto
pela pesquisa foi alcançado, na medida em que foi
realizada a análise de viabilidade econômica e financeira
de implantação de um ambulatório próprio, em que no
quarto cenário proposto verificou-se a viabilidade do
investimento, sendo fundamental no suporte a tomada de
decisão de investimento.
Quadro 14: Indicadores
A taxa de crescimento de 5% ao ano utilizado
neste estudo é estimada, levando em consideração
cenários futuros de crescimento; porém, o que se observa
hoje é uma estagnação na comercialização de planos de
saúde. Não basta apenas realizar um estudo de
viabilidade econômica e financeira, é preciso trabalhar
exaustivamente na ampliação desta taxa de crescimento.
FONTE: Elaborado pelos autores, 2010.
Esta análise de viabilidade apenas não é o
suficiente para a implantação de um ambulatório próprio
Unimed. Para complementar este estudo, faz-se
necessário um trabalho de análise mercadológica
buscando ampliar a participação de mercado da Unimed
Alto Uruguai dentro de sua área geográfica de atuação.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Um estudo de viabilidade econômica e financeira
reforça a importância de uma análise prévia para auxiliar
na tomada de decisão dos gestores das organizações. A
análise através de diferentes cenários amplia as
possibilidades de verificar resultados de um investimento,
Em se tratando de uma sólida cooperativa médica,
com grande potencial de crescimento e de características
10
REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
singulares da marca Unimed, o quarto cenário mostrou-se
viável apesar dos números não serem atrativos o
suficiente, comparando-se com outros segmentos de
mercado. É imprescindível para a Unimed Alto Uruguai
agregar valor ao serviço disponibilizado a seus
beneficiários, e nessa linha de raciocínio, um serviço de
ambulatório próprio com atendimento diferenciado, será o
início de uma rede de serviços próprios, com a credibilidade
e solidez do sistema Unimed. Diante do exposto, a
implantação deste serviço de Ambulatório próprio se torna
uma decisão estratégica vislumbrando um futuro promissor
para a cooperativa médica em questão.
LAKATOS, Eva Maria, MARCONI, Marina de Andrade.
Técnicas de Pesquisa: planejamento e execução de
pesquisas, amostragens e técnicas de pesquisa,
elaboração, análise e interpretação de dados. 6.
edição, São Paulo: Atlas, 2006.
PADAOVEZE, Clóvis Luís; BENEDICTO, Gideon
Carvalho de. Análise das Demonstrações Financeiras.
São Paulo: Thomson Learning, 2007.
SANTOS, Edino Oliveira dos. Administração Financeira
da Pequena e Média Empresa. São Paulo: Atlas, 2001.
O projeto de ambulatório próprio da Unimed pode
viabilizar-se com a redução de custos, em especial de
pessoal, de busca de parceria com prestadores de serviço
e da adoção da estratégia de diferenciação pela diretoria
da operadora de saúde. Para estudos futuros, sugere-se
realizar a análise de viabilidade com dados atualizados,
utilizar as projeções sobre outras perspectivas e buscar
outras formas de maximizar o faturamento.
TARICHI, Andrey Pelicer; CHIQUITO, Antonio Ricardo;
FERREIRA, Rodrigo Uliana. Análise de Viabilidade
Econômico Financeira no Setor de Logística em uma
Indústria de Andradina/SP. Revista InterAtividade, v.1, n.
1, 1º sem. 2013.
VICENCONTI, Paulo; NEVES, Sivério das. Contabilidade
Básica. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2013.
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LAKATOS, Eva Maria, MARCONI, Marina de Andrade.
Fundamentos de Metodologia Científica. 6. edição, São
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11
REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
ESTUDO DA COMUNICAÇÃO INTERNA EM UMA COOPERATIVA DE
ELETRIFICAÇÃO
Mônica Servi Pavlak¹
Raquel Ludwig¹
Alexandre Chapoval Neto²
SETREM³
RESUMO
O desenvolvimento de uma comunicação interna eficaz
requer ferramentas adequadas para o desempenho da
função, conhecimento das mesmas e sensibilização dos
colaboradores para realizar suas atividades com
comprometimento. Considerando este contexto, o
problema que motivou a realização da pesquisa foi
entender como ocorre o processo de comunicação
interna em uma cooperativa de eletrificação rural. Para
alcançar os objetivos da pesquisa foi necessário utilizar o
método dedutivo para compreensão dos assuntos
envolvidos, a abordagem qualitativa e a quantitativa para
analisar as respostas das entrevistas e dos questionários
e os procedimentos de pesquisa exploratória, descritiva e
estudo de caso. Como técnicas, desenvolveu-se a
observação dos fatos, a entrevista e o questionário, a
análise dos dados e a análise do conteúdo. A realização
das técnicas e das abordagens possibilitou identificar
pontos significativos da comunicação interna e nestes
pode-se destacar os resultados em que 35% dos
colaboradores têm idade entre 31 e 40 anos, 11% têm
mais de 25 anos de empresa e mais da metade possui
ensino médio completo. Além disso, 86% das respostas
afirmaram considerar a comunicação interna
fundamental, mas 6% a consideraram ruim na empresa.
Nas entrevistas também se notou que as informações
chegam com atraso e não atingem todos os setores.
Entretanto, muitos consideraram existir um clima de bom
relacionamento entre os colegas, conhecimento das
ferramentas e sua utilização diária. Então, a pesquisa
focou em sugestões de contratação de uma pessoa na
área de comunicação, conscientização dos
colaboradores, realização de feedback e modificação na
estrutura e no conteúdo do mural e do jornal interno.
Assim, conseguiu-se demonstrar pontos fracos que, se
melhorados, podem garantir agilidade e nas atividades.
ABSTRACT
The development of an effective internal communication
requires proper tools to perform the function, the same
knowledge and awareness of employees to perform their
activities with commitment. Considering this context, the
problem that motivated the research was to understand
how the internal communication process in a rural
electrification cooperative is. To achieve the research
objectives it was necessary to use the deductive method
for understanding the issues involved, the qualitative
and quantitative approach to analyze the responses of
interviews and questionnaires and the exploratory
procedures, and descriptive study case. As techniques,
it was developed the observation of facts, the interview
and the questionnaire, data analysis and content
analysis. The realization of techniques and approaches
allowed identifying significant points of internal
communication and in these it was possible to highlight
the results that 35% of employees are aged between 31
and 40, 11% have more than 25 years old with the
company and more than a half have completed high
school. In addition, 86% of respondents said they
consider fundamental internal communication, but 6%
considered it bad in the company. In the interviews it was
also noted that the information arrives late and do not
reach all the sectors. However, many of the employees
felt there is a good relationship climate among
colleagues, knowledge of tools and daily use. So, the
research focused on a person's hiring suggestions in the
area of communication, awareness of employees,
conducting feedback and modification in the structure
and content of the mural and the internal newspaper.
Thus, it was possible to demonstrate weaknesses that
can ensure improved agility and activities.
Keywords: Internal communication. Cooperative.
Communication tools.
Palavras-chave: Comunicação interna. Cooperativa.
Ferramentas de comunicação.
1. INTRODUÇÃO
comunicação interna é a cultura na qual a empresa está
inserida, bem como das pessoas que dela fazem parte.
Os colaboradores precisam sentir necessidade da
comunicação, saber se comunicar, evitando ruídos que
possam interferir no significado das mensagens a serem
transmitidas. Com essas significativas mudanças, as
informações poderão ser usadas para melhorar o
andamento do trabalho, facilitar a resolução de problemas
e, consequentemente, ampliar a divulgação da
comunicação dentro da organização.
A comunicação interna é sem dúvida um dos
fatores mais importantes para o bom funcionamento de
uma empresa, pois, através dos planos de comunicação,
a organização visualiza o comprometimento e a
fidelização de seus colaboradores e, assim, consegue
aproveitar os níveis de produtividade e acima de tudo criar
um clima organizacional satisfatório.
Outro fator importante na questão da
¹ Formandas do Curso Bacharelado em Administração pela SETREM
² Professor orientador do estudo. Bacharel em Administração. Pós-graduado em Gestão de Negócios. Mestre em Engenharia
da Produção. Professor da Faculdade de Administração e da Faculdade de Engenharia de Produção da SETREM.
³ Sociedade Educacional Três de Maio - SETREM
12
REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
Pensando nisso, a pesquisa consolidou-se a
partir do seguinte problema: como ocorre o processo de
comunicação interna na cooperativa de eletrificação rural?
Então, através de entrevistas e questionários identificou
se existem ferramentas para tal desempenho, se estão
sendo utilizadas e como as informações chegam ao seu
receptor. Além disso, foi possível identificar as
percepções, expectativas e sugestões dos entrevistados
que representaram sua área, externando inclusive seus
desafios e experiências com colegas.
disso, permitiu também mapear e descrever os processos
da comunicação interna e analisar de forma a identificar
as principais necessidades da cooperativa.
A abordagem quantitativa comprovou, através da
realização e aplicação de questionários com os
funcionários, o nível de satisfação, de conhecimento, de
percepções e de abertura que existe para cada
colaborador em relação à comunicação interna atual, e
isto ajudou a examinar com objetividade a realidade da
cooperativa.
Portanto, através das informações obtidas,
tornou-se possível identificar e diagnosticar a situação da
comunicação interna da cooperativa. Para tanto, realizouse as seguintes etapas: a identificação das ferramentas
de comunicação interna, a análise do atual processo da
comunicação, a mensuração do nível de satisfação dos
colaboradores em relação ao canal utilizado para troca de
informações e a identificação de pontos significativos. A
partir do entendimento e das análises de todo este
contexto foi desenvolvido um plano de ação favorável ao
melhor andamento das atividades, aliado a uma
comunicação clara, objetiva e atualizada.
2.2 MÉTODOS DE PROCEDIMENTOS
Foram utilizados os procedimentos de pesquisa
exploratória, pesquisa descritiva e o estudo de caso. O
primeiro foi utilizado para sondar e descobrir os
procedimentos adotados na comunicação, de uma forma
amigável e informal, ou seja, através de entrevistas,
conhecimento do ambiente de trabalho e pesquisas
bibliográficas; conseguiu-se um embasamento
compatível ao tema em questão.
Através da pesquisa descritiva tornou-se viável
descrever os argumentos e ideias dos autores em relação
à administração e à comunicação. Com as entrevistas e
os questionários aplicados pôde-se então explanar fatores
como a satisfação do colaborador quanto ao canal de
comunicação, o caminho que a informação passa para
chegar até determinado setor, as ferramentas utilizadas
para isso e os processos de comunicação interna.
2. METODOLOGIA
A fim de esclarecer os principais conceitos
utilizados na pesquisa, o estudo baseou-se em livros,
internet, em análises feitas dos processos de
comunicação interna, em entrevistas e questionários com
os colaboradores. A leitura e compreensão na área de
administração, comunicação interna e externa das
empresas consolidou informações para a identificação
das melhores maneiras de conduzir o trabalho. As
entrevistas e questionários com os colaboradores foram
fundamentais na exposição e confirmação de dados, bem
como na elaboração das análises e propostas de ações.
2.1
Para uma compreensão e análise dos processos
de comunicação interna foi imprescindível um estudo de
caso do grupo de colaboradores da cooperativa. Este
estudo se tornou possível por meio de entrevistas com
funcionários específicos de cada área e com
questionários aplicados para todos os trabalhadores.
MÉTODOS DE ABORDAGEM
2.3 TÉCNICAS
Na pesquisa utilizou-se o método dedutivo, que
por meio do estudo da literatura se tornou possível adquirir
conhecimento de forma ampla em relação ao tema
estabelecido. Foram obtidas argumentações e ideias de
autores sobre administração, marketing, comunicação
interna e externa, fluxograma e plano de ação. Através de
tais conceitos se tornou viável uma melhor compreensão
dos dados alcançados com entrevistas e questionários,
podendo relacioná-los com o contexto da comunicação
em geral e assim conseguir propor ações significativas
para a cooperativa.
2.3.1 Técnica de coleta de dados
Na pesquisa, adotou-se como procedimentos de
coleta de dados a observação contínua dos fatos
adquiridos com a entrevista e dos dados alcançados
através dos questionários aplicados. A entrevista foi
realizada com os supervisores de cada setor da
cooperativa, totalizando 14 colaboradores. As perguntas
foram colocadas de forma aberta e visaram compreender
o caminho que a comunicação passa para chegar até seu
receptor, o que pode distorcer e o que pode ajudar neste
processo e qual canal é mais útil para a realização da
comunicação interna. O questionário contou com 20
perguntas, sendo 19 objetivas e uma questão aberta
sobre a comunicação interna da cooperativa. O
questionário foi entregue aos 65 colaboradores com a
finalidade de conseguir respostas em relação ao
recebimento e envio da mensagem, seu canal, sua
importância e sua percepção em relação a estes
processos. Essas respostas traduzidas em números
foram fundamentais para o conhecimento das
necessidades de cada setor.
O estudo também contemplou a utilização da
abordagem qualitativa, uma vez que é fundamental na
análise e compreensão dos dados alcançados. Neste
caso, estes dados se referem ao mapeamento de
processos da área administrativa, do faturamento e do
atendimento, além da identificação das ferramentas de
comunicação interna utilizadas na empresa.
Desta forma, foram desenvolvidas entrevistas
com os responsáveis ou representantes de cada setor que
possibilitaram uma identificação e descrição das
ferramentas utilizadas, a maneira que estão sendo usadas
e a satisfação particular de cada entrevistado em relação
às informações que recebem bem como sua percepção
de satisfação em relação ao seu grupo de trabalho. Além
2.3.2 Técnica de análise de dados
Como técnica de análise de dados utilizou-se a
13
REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
técnica de análise de conteúdo e a planilha eletrônica. A
primeira possibilitou estudar e analisar os dados
levantados a partir de questionários e de fatores
existentes identificados nas entrevistas e mapeamento
dos processos da comunicação interna da cooperativa.
Para a realização da tabulação dos dados adquiridos com
a aplicação dos questionários, foi necessária a utilização
da planilha eletrônica que permitiu que os números
lançados fossem representados em gráficos,
demonstrando o percentual de respostas em cada
alternativa colocada. Assim, em cada gráfico foi descrita a
pergunta relacionada a ele e com esta representação
tornou-se visível uma comparação e análise de todos os
resultados.
gestores (AMBONI E ANDRADE, 2007).
Sendo assim, no âmbito de administrar, a
comunicação se torna essencial, pois seu principal papel é
o de passar informação com compreensão de uma pessoa
a outra, formando grupos preparados para realizar suas
atividades no tempo certo e com objetividade e qualidade.
Além disso, uma relação comunicativa adequada evita
retrabalhos, proporciona bem estar entre os colegas,
representa uma boa imagem à empresa e contribui para o
crescimento organizacional. Por isso a necessidade
contínua de criar um ambiente de trabalho apto para ações
como estas acontecerem da melhor forma.
3.2 COMUNICAÇÃO
2.3.3 População e Amostra
As teorias sobre comunicação são baseadas em
noções antigas e, segundo Argenti (2006), na Grécia antiga
a disciplina que hoje é chamada de comunicação era então
a retórica, que significava o ato de falar bem, usando a
linguagem para persuadir os ouvintes a fazer algo.
Ao todo o grupo de funcionários da cooperativa
estudada corresponde a 73 pessoas, mas, para a
pesquisa nem todos tiveram disponibilidade de participar,
devido a férias, afastamentos e jovens aprendizes que
ainda não estavam em período de estágio. Sendo assim,
a população foi constituída por 65 colaboradores que
responderam a um questionário com 19 questões
fechadas e 1 aberta.
A comunicação desempenha diversas funções
nas organizações, tendo o poder de fazer uma interação
social, pois as pessoas expressam suas frustrações e
sentimentos de satisfação. Desta forma, ela facilita na
tomada de decisões, por proporcionar as informações
necessárias na forma mais correta. A comunicação faz as
pessoas trabalharem em conjunto e bem estarem
informadas.
No entanto, para a amostra que é uma parte que
pode representar o todo, foram convidadas as pessoas
responsáveis ou supervisoras de cada setor incluindo a
vice-presidência. Ao todo foram entrevistados 14
funcionários separadamente e cada um representou uma
área dentro da cooperativa. A partir do questionário e das
entrevistas, tornou-se viável definir uma pesquisa
minuciosa de cada departamento e uma análise profunda
dos conjuntos com característica iguais.
A verdade é que as empresas e as
instituições não sobrevivem sem a
comunicação. Independentemente do tipo de
organização, é ela que mantém e sustenta os
relacionamentos no ambiente organizacional.
O estudo da comunicação organizacional
oferece, portanto, a base para se entender
cada processo que ocorre nas organizações,
lidando ainda com questões como conflito,
persuasão, regras, cultura, mudança, redes e
tecnologia. (PINHO, 2006, p.5).
3. REFERENCIAL TEÓRICO
3.1 ADMINISTRAÇÃO
A administração é entendida como uma série de
atividades interligadas que buscam a obtenção de
resultados, através de recursos físicos e materiais.
Administrar significa governar, gerir uma empresa ou
organização com planejamento, organização, direção e
controle das atividades (ASSIS, 2011).
Onde existe um clima e ambiente de trabalho
favorável e confortável, a comunicação permite a
expressão emocional dos colaboradores, pois eles se
sentem acolhidos para expor o que pensam, desde
frustrações, emoções e satisfações. Para esse mesmo
ambiente oferecer uma comunicação adequada de fato, a
informação deverá acontecer de forma atualizada,
objetiva e clara, facilitando a tomada de decisões e
transmitindo os dados para que se identifiquem e avaliem
alternativas.
Desta forma, pode-se prever que uma
organização bem sucedida é sinônimo de uma boa
administração. O que nem sempre se sabe é o por que e
como que a forma de administrar faz a diferença. Para
tanto, o autor Maximiano (1997) resume-se ao afirmar que
“o principal motivo para a existência das organizações é o
fato de que certos objetivos só podem ser alcançados por
meio da ação coordenada de grupos de pessoas”.
Gerar resultados é o que as empresas mais
almejam; no entanto, é num dos fatores principais para
conseguir tal objetivo que algumas delas desviam a
atenção e a importância. A comunicação interna é o
elemento inicial para o andamento das atividades
organizacionais, pois, segundo Pinho (2006), ela
compatibiliza os interesses dos empregados e da
empresa, através do estímulo ao diálogo, à troca de
informações e à participação de todos os níveis e, com
isso, atinge o sucesso com maior facilidade.
Na administração atual, além de ser necessário
ter visão do presente e do futuro do negócio, é
imprescindível saber tomar decisões certas e na hora
certa sobre informações incontroláveis e instáveis. Para
isso, o administrador vem a ser a pessoa que cria
soluções, tornando-se fundamental seu aperfeiçoamento
constante. Administrar vai muito além do desempenho de
eficácia, eficiência, efetividade e relevância numa
organização. Para administrar é preciso atingir os
objetivos traçados através da utilização das habilidades e
do desenvolvimento de treinamento educativo dos
Para a existência de uma comunicação eficaz,
segundo Pinho (2006), é necessário levar em conta seis
componentes: uma fonte de comunicação ou transmissor;
14
REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
uma mensagem; um canal; um receptor; o feedback e o
ambiente. A fonte da comunicação é a pessoa que está
querendo transmitir uma mensagem e quanto mais
autoridade e experiência ela tiver, mais importância será
dada pelos receptores. A mensagem é o que será
transmitido, podendo ser verbal ou não. A clareza, a
vivacidade do receptor, a complexidade e a extensão da
mensagem e o modo como a informação é organizada
resultam em uma comunicação bem ou mal feita. O canal
é o meio utilizado para enviar a mensagem aos ouvintes.
Pode ser escrito ou falado.
3.3 COMUNICAÇÃO EXTERNA
As organizações possuem além da comunicação
interna, a externa. Essa é voltada ao público externo,
clientes, fornecedores e consumidores atuais e futuros. As
duas devem ser usadas de maneira correta para não se
tornarem um risco para a organização, afetando nas
metas e nos objetivos propostos para ocorrer o
desenvolvimento.
Conforme Zanchin (2013), a comunicação
externa é uma poderosa ferramenta para a organização
dialogar com suas partes interessadas. Dessa forma, é
muito importante que as pessoas entendam o que deve
ser comunicado e de que forma ela deve ser feita,
lembrando que as causas podem ser diversas, porém o
entendimento deve ser claro. Para Bortolotti (2008), a
comunicação externa não serve apenas para divulgar
seus produtos ou serviços, ela é também uma ferramenta
para a empresa se comunicar com a sociedade, dar
satisfação de seus atos e conhecer expectativas. Uma
comunicação clara e definida pode inclusive, promover a
imagem e colaborar para o sucesso da corporação.
Na comunicação humana existem barreiras que
fazem com que a mensagem não chegue da maneira
esperada ao seu destino. De acordo com o autor
Chiavenato (2002), podem-se destacar três barreiras
como sendo as principais. Barreiras pessoais: como
manifestações, emoções e valores humanos de cada um
e suas ideias preconcebidas sobre algo. Barreiras físicas:
o ambiente vem a ser o seu local de interferência.
Barreiras semânticas: são as barreiras criadas através de
variadas formas de se interpretar os gestos, sinais,
símbolos, gerando, assim, significados totalmente
diferentes entre as pessoas envolvidas no processo.
Então, para evitar que as possíveis barreiras prejudiquem
no entendimento de uma mensagem, é preciso que o
receptor tenha calma para ouvir e após seja um emissor
eficiente da informação.
Desta maneira a comunicação interna se torna
externa e responsável pela imagem institucional. Então,
quanto mais transparente e saudável ela for, maior será o
valor agregado ao produto. Por sua vez, esta comunicação
também é fundamental para o conhecimento e apreciação
da sociedade pela organização e isto se torna
imprescindível na hora da escolha da compra de produtos
ou nas solicitações de serviços.
O fluxo das comunicações, de acordo com
Pimenta (2006), é o caminho percorrido pelas mensagens
desde que saem do emissor até chegar ao receptor e
podem ser na direção vertical ou horizontal. Na direção
vertical, o fluxo descendente é quando nas mensagens as
instruções são dadas pelos cargos de níveis mais altos
para os mais baixos. O que determina o fluxo é o espaço
organizacional atingido, sendo que quanto maior mais
ruídos. No fluxo ascendente as mensagens no geral partem
de níveis inferiores para os superiores e o que interfere
nesta forma de comunicação é que os funcionários irão
informar somente o que preferirem à sua chefia.
3.4 COMUNICAÇÃO INTERNA
Por muito tempo as organizações apenas se
preocupavam com o atendimento ao cliente, ao
consumidor, mas, de acordo com o aumento da
concorrência e à globalização, surge a necessidade de
uma atenção aos próprios funcionários; estes que estão
relacionados diretamente com o sucesso da empresa,
principalmente o financeiro.
A comunicação ascendente permite um
entrosamento nos grupos, contribuindo para o
aperfeiçoamento da coordenação. Por outro lado, a
direção acaba tendo maior domínio do controle, e a pouca
receptividade dos mesmos, bem como a insuficiência de
canais, pode causar afastamento dos colaboradores e,
consequentemente, falta de conhecimento das reais
situações departamentais.
De acordo com Persona (2012), para criar um
clima organizacional favorável, as empresas se utilizam das
estratégias da comunicação interna. Com isso, se ela
falhar, a equipe acaba perdendo o significado real do
trabalho, afetando diretamente na qualidade dos produtos,
serviços e no relacionamento entre diversas áreas,
inclusive com o cliente externo. Também é muito importante
trabalhar a comunicação interna de maneira que o
colaborador sinta orgulho de pertencer à empresa. Para
isso, é preciso mostrar aos funcionários como eles são
importantes no desenvolvimento daquilo que acreditam.
Para Argenti (2006), uma boa transmissão da
mensagem ocorre envolvendo duas etapas: decidindo
como deseja transmitir a mensagem (escolhendo o canal
de comunicação) e decidindo a abordagem que deve ser
seguida na estruturação da mensagem propriamente dita.
Torquato (2002) enfatiza também que existem fatores que
influenciam o processo de comunicação interna: o
tecnológico, que envolve uma comunicação de dados,
com equipamentos e procedimentos de ordem técnica; o
institucional, como normas, processos, políticas,
princípios e valores organizacionais que formam uma
identidade normativa e o sistema sentimental que envolve
os padrões e atitudes dos grupos internos da empresa,
criando a identidade expressiva da instituição.
A comunicação é a principal responsável pela
motivação ou desmotivação do funcionário, pois, a partir
dela, a empresa e seus colaboradores entram em sintonia
de um objetivo em comum, e esta meta só é alcançada
quando a mensagem é passada de forma correta e
motivadora para seus interessados. Neste caso, o
trabalhador precisa conhecer a mensagem, e esta deve
trazer um benefício a ele; caso contrário, não haverá
interesse para o conhecimento.
Persona (2008) argumenta que o uso da
15
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comunicação interna ou externa é cultural e precisa
alimentar os colaboradores com uma mensagem correta
e um pensamento de equipe. Para o autor Pinho (2006)
diversos fatores podem limitar a frequência e o alcance
desses tipos de comunicação como, por exemplo, a
rivalidade, a especialização e a desmotivação. Na
primeira, sua existência impede a disseminação de
determinados dados, pois tais detentores não querem
perder a oportunidade de avançar.
cooperativa, geralmente na sexta-feira e são direcionadas
para a direção e os supervisores. O radiofone é uma
importante ferramenta para a cooperativa, pois o
segmento de distribuição de energia exige uma
comunicação imprevisível e à longa distância. Então, se o
celular estiver fora de área e a chamada não for
completada, é utilizado o radiofone para contatar as
pessoas solicitadas.
Como observado, nos resultados obtidos no
questionário, do total de 65 participantes, cerca de 8% dos
colaboradores questionados afirmaram não conhecer as
ferramentas de comunicação da cooperativa e essas
respostas podem estar associadas a uma desatenção,
pois na próxima questão referente às ferramentas mais
utilizadas, nenhum participante deixou de escolher algum
meio de comunicação, ou seja, existe sim o conhecimento
delas. As respostas direcionaram em sua maioria ao uso
mais frequente do telefone; em segundo, o diálogo com os
colegas de trabalho, o CIC entregue uma vez ao mês
junto com a assinatura da folha de pagamento, e o e-mail,
respectivamente.
A crescente especialização também gera
desigualdade no entendimento das informações entre os
setores, e a falta de motivação pode ser causada pela
ausência de encorajamento por parte da administração
para divulgar e incentivar a comunicação entre todos e
pelo descaso de qualquer tipo de recompensa, por
pensarem ser uma despesa e não um crescimento.
4. APRESENTAÇÂO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS
RESULTADOS
4.1 FERRAMENTAS DA COMUNICAÇÃO INTERNA DA
COOPERATIVA
4.2 PROCESSO DE COMUNICAÇÃO INTERNA
A partir das entrevistas, questionário e estudos,
tornou-se possível identificar as ferramentas de
comunicação utilizadas pela cooperativa. A observação in
loco e as entrevistas permitiram identificar os meios de
comunicação interna existentes na cooperativa, que são:
telefone, e-mail, diálogo com os colegas de trabalho,
jornal interno - (CIC), mural, mensagens instantâneas,
reuniões e o radiofone.
Para uma compreensão mais precisa da
comunicação interna, objetivou-se uma análise do
processo da comunicação da cooperativa. Portanto, foi
realizada uma pesquisa mais profunda com os
colaboradores sobre como as informações chegam até
eles e de que maneira são emitidas. Isto se tornou
possível através de entrevistas realizadas com 14
supervisores que abrangeram as áreas de contabilidade,
comunicação, recursos humanos, faturamento,
suprimentos, segurança do trabalho, financeiro,
atendimento COD e operador COD, fiscalização e
manutenção de redes, projetos, TI, gerência de energia,
níveis de tensão e a vice-presidência.
O telefone é utilizado pela maioria dos
colaboradores, pois todos os setores internos possuem
pelo menos um ramal para que o funcionário possa
contatar com seus colegas, ou mesmo com a presidência.
O e-mail também é muito usado pelos funcionários, mas
apesar da maioria ter um, nem todos acessam e nem
todos têm acesso por trabalharem geralmente nas
equipes de campo, ou em obras. O diálogo com os
colegas de trabalho foi um dos meios de comunicação
interna mais citado pelos entrevistados e pelos
questionados, além de ser considerado pela maioria
como mais eficiente.
É importante ressaltar que a empresa em estudo
não possuía um fluxograma de seus processos. Então,
com base nas teorias, análises, entrevistas e estudos em
cada área, foi possível definir, com a ajuda do setor
representado, a melhor forma de apresentar os atuais
processos da cooperativa.
O CIC, jornal interno da cooperativa, tem
circulação mensal e é entregue sempre junto à folha de
pagamento para todos os colaboradores. Quase todos os
entrevistados e questionados afirmaram ler o CIC e ainda
colocaram ser um meio muito bom para expor notícias. O
mural está localizado próximo ao relógio ponto e expõe
notícias relacionadas aos colaboradores, como
campanhas, festas, fotos de eventos, balanços e
movimentos financeiros, CIC, comunicados, enfim, tudo
que for relevante no âmbito organizacional.
Com a elaboração de fluxogramas nas principais
áreas, tornou-se viável também, um entendimento da
ligação que ocorre entre as pessoas de cada setor,
podendo observar onde a comunicação pode ter falhas ou
descontinuidades. Nas figuras 1, 2 e 3 encontram-se
disponíveis os fluxogramas da administração, do
faturamento e do atendimento, respectivamente.
4.2.1 Fluxograma da administração
A área de administração é abrangente e inclui
presidência, comunicação, jurídico, TI, recursos
humanos, finanças, contabilidade, segurança de trabalho
e recepção. Estes setores são fundamentais para o
andamento e gerenciamento de todas as atividades da
cooperativa.
No entanto, de acordo com os questionários,
mesmo com uma exposição contínua e acessível para
todos, a leitura do mural está muito baixa, apenas 7% dos
funcionários leem todo dia. As mensagens instantâneas são
aquelas mandadas por meios eletrônicos através de um
bate papo virtual. São poucas pessoas que utilizam esse
canal de comunicação, pois muitos trabalham a campo, na
fábrica e em obras, não tendo acesso à tal ferramenta.
Vale ressaltar que, de acordo com as entrevistas,
a comunicação da cooperativa demanda um serviço
amplo e difícil, pois, além de ser apenas uma pessoa para
conciliar divulgação, reuniões com conselheiros, visitas
As reuniões acontecem semanalmente na
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REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
na usina e realização de eventos, existe um certo receio
da direção em aceitar mudanças e falta de
comprometimento ao repassarem informações de um
colega para o outro.
Na figura 2 é possível observar todas as
atividades realizadas pelo setor de faturamento. É
importante destacar a relação deste departamento com os
leituristas, plantões, atendimento ao associado e níveis de
tensão.
Figura 1: Fluxograma da administração
4.2.3 Fluxograma do atendimento
O atendimento ao associado é a porta de entrada
de um serviço de qualidade, e, por isso, nesta área é o
começo do encaminhamento e registro de todas as
solicitações ou reclamações dos consumidores. Estes
pedidos podem ser feitos por telefone gratuitamente ou
presencialmente, quando o associado se dirige à
cooperativa.
Figura 3: Fluxograma do atendimento
FONTE: Chapoval Neto, Ludwig, Pavlak, 2014.
4.2.2 Fluxograma do faturamento
A área de faturamento conta com dois
colaboradores e, de acordo com as entrevistas,
desenvolve atividades relacionadas ao pagamento de
energia dos associados. Cada associado recebe por mês
sua fatura em bancos e cooperativas credenciadas, no
sindicato rural e no caixa da loja da cooperativa. O
pagamento da energia por parte do associado deve ser
efetuado do dia 1º ao dia 20 de cada mês. Quando não
realizado durante estas datas é entregue um reaviso em 5
dias, e persistindo o não pagamento, até o dia 10 do
próximo mês é feito o corte da energia.
A partir disso, o setor de fatura acompanha todos os
pagamentos ou não pagamentos de luz, verifica o consumo
elevado de energia (se houver reclamação do associado),
estuda a viabilidade de prorrogar prazos, lança leituras de
energia adquiridas pelos leituristas no acesso ao medidor
nas residências dos associados, realiza transferências de
titularidade e envia e reimprime faturas de energia.
FONTE: Chapoval Neto, Ludwig, Pavlak, 2014.
A partir da realização dos três fluxogramas, pôdese obter um contato mais próximo com as atividades
realizadas nas áreas de administração, atendimento e
faturamento. Essa familiaridade permitiu um
entendimento de como um setor depende do outro e onde
estão os contatos mais próximos entre uma equipe e um
departamento, ou entre os próprios colaboradores.
Figura 2 : Fluxograma do faturamento
4 . 3 S AT I S FA Ç Ã O Q U A N T O A O C A N A L D E
COMUNICAÇÃO
Considerando que a comunicação interna se
remete especialmente ao comportamento e à relação
entre funcionário e o ambiente organizacional, fez-se
necessário descobrir o nível de satisfação dos
colaboradores quanto ao canal de comunicação utilizado.
Sendo assim, foram realizadas entrevistas e questionários
que viabilizaram um conhecimento das percepções dos
funcionários de um modo geral. A seguir, é possível
visualizar os resultados obtidos nas entrevistas e nos
questionários, respectivamente.
FONTE: Chapoval Neto, Ludwig, Pavlak, 2014.
17
REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
4.3.1 Entrevista
trabalho desempenhado, pouco mais da metade
respondeu que a falta de comunicação ou demora não
prejudica seu desempenho, pois eles vão atrás de retorno
no instante que for necessário. Os outros entrevistados
afirmaram ficar bastante limitados porque suas atividades
desenvolvidas requerem um grande fluxo de informação a
todo momento.
Para uma melhor compreensão e uma obtenção
de dados mais profundos sobre a comunicação interna da
cooperativa analisada, foram realizadas entrevistas com
funcionários específicos de cada setor, ou seja, aqueles
que poderiam representar seu grupo para assim assimilar
informações e construir ideias. Foram entrevistados um
total de 14 colaboradores das áreas de contabilidade,
comunicação, recursos humanos, faturamento,
suprimentos, segurança do trabalho, financeiro,
atendimento COD e operador COD, fiscalização e
manutenção de redes, projetos, TI, gerência de energia,
níveis de tensão e a vice-presidência.
Referente ao assunto sobre exposição de ideias
e melhorias na organização, a maioria declarou ter espaço
para colocar suas sugestões. Entretanto, alguns
afirmaram que seus argumentos não são aceitos, pois,
conforme o indivíduo 8, o ponto de vista da presidência é
fechado e conservador, então o grande dilema é agradar a
empresa sem comprometer seu desempenho.
O primeiro questionamento se relacionava ao
recebimento das mensagens ou informações e, nesse
fator, a maioria dos entrevistados relatou estar
insatisfeitos, argumentando que muitas vezes os recados
e informações não chegam e se chegam é com atraso,
impossibilitando o desenvolvimento das atividades no
tempo previsto. Para eles, o grande retrabalho é ter que ir
atrás das informações, não só para buscá-las, mas
também para conferir e verificar se os fatos são verídicos.
Um exemplo disso foi citado pelo indivíduo 6 que diz ser
muito difícil ficar informado na hora de um acidente de
trabalho. Às vezes passa semanas e não fica sabendo e
quando informam não tem muita procedência, alterando
inclusive a versão do ocorrido. Enquanto vários
entrevistados relataram o desconhecimento dos motivos
tratados em reuniões, o indivíduo 12 justifica que isso é
necessário para a segurança da empresa.
Em relação às condições financeiras da
cooperativa em investir na comunicação interna, todos os
entrevistados responderam que sim, ou seja, existem
subsídios para melhorias. Já sobre as ferramentas de
comunicação interna mais úteis no dia a dia, as opiniões
se dividiram entre telefone, e-mail e verbal, sendo que o
telefone foi ainda o mais citado. O formulário finalizou
questionando sobre a definição da informação passada
de uma forma geral e as respostas seguiram numa
mesma linha de pensamento. A maioria argumentou ter
falhas, ser distorcida, sem procedência e não chegar para
todos os interessados. Apenas 2 entrevistados afirmaram
ver as mensagens repassadas com clareza e verdade.
4.3.2 Questionário
O questionário é uma forma de coletar dados e,
através deste recurso, buscou-se informações sobre as
percepções dos colaboradores em relação à
comunicação interna da cooperativa. No questionário
foram elaboradas 19 perguntas fechadas e uma aberta
para que nesta, fosse colocado em palavras e
considerações, os pontos significativos da comunicação.
Ao todo, a organização conta com 73 funcionários, mas,
devido a afastamentos, férias e jovens aprendizes que
estavam em período de aula ainda, foram entregues
questionários para 65 colaboradores e destes todos
retornaram. A seguir, encontram-se algumas das
respostas mais relevantes.
De acordo com o indivíduo 3, em seu setor, as
informações são disponíveis e atualizadas em planilhas
com toda a programação das atividades e cabe ao
funcionário tomar conhecimento e se comprometer em
repassar aos seus colegas. Além disso, para ele, existe
um certo desconforto para alguns colaboradores expor o
que pensam, pois ocorrem reuniões todo mês em uma
data específica, em que todos os funcionários solicitados
comparecem para discutir o andamento dos serviços; no
entanto, muitos deles não se manifestam, deixam de tirar
suas dúvidas e acabam sem compreender a mensagem.
Nesse contexto, um outro indivíduo expõe sua ideia
contradizendo esta última, pois, segundo ele, as pessoas
deixam de colocar o que pensam pelo motivo de que sua
colaboração pode não ser considerada.
Primeiramente, constatou-se através das
respostas que em relação ao sexo, há uma porcentagem
significativa de homens e isto se justifica pela demanda
serviços de campo, de rede, de leituras e de oficina de
medidores e de transformadores. Em relação à idade,
verificou-se a faixa dos 31 aos 40 anos como a mais
relevante e isso se deve ao fato de que a cooperativa
demanda também de serviços em áreas técnicas e
especializadas, envolvendo maior conhecimento na
função. Esta consideração se estende á terceira faixa
destacada, de 41 a 50 anos, pois a experiência de alguns
colaboradores existe desde a época de fundação da
cooperativa de eletrificação.
Em contrapartida, segundo alguns entrevistados,
mesmo com insatisfações em relação à comunicação
interna, a forma que as informações são repassadas não
tem como ser diferente. O indivíduo 2 destaca o bom
relacionamento entre os colaboradores, pois para ele o
contato é imediato e com mensagens verdadeiras, em que
todos têm abertura para opinar e construir ideias juntos.
Na pergunta seguinte, questionou-se sobre fatos
que atrapalham a comunicação interna e somente dois
indivíduos afirmaram não ter nada que dificulte no
momento, já os outros comentaram sobre alguns
aspectos relevantes. Para a grande maioria o processo de
informações é afetado pela própria cultura interna, pois de
acordo com o indivíduo 1 as mensagens não são
passadas para todos os colaboradores, restringindo-se
apenas aos coordenadores. No quesito limitação no
Em relação à consideração do colaborador
quanto à comunicação interna da cooperativa, foi
classificada a alternativa como muito boa quando a
informação acontece de forma excelente, com clareza e
objetividade e sem ruídos, falhas ou demora; boa quando
a informação chega no tempo adequado, mas deixa
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REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
algumas dúvidas; regular quando a informação é
recebida mas não transmite nada do interesse do
colaborador na cooperativa; ruim quando chega de última
hora e distorcida e a comunicação muito ruim que é o caso
quando a mensagem realmente não existe.
está associado a uma desatenção ou um não
entendimento do que é um meio de comunicação, pois na
figura 9 da próxima questão, todos os colaboradores
assinalaram utilizar mais de uma das ferramentas citadas.
De acordo com as entrevistas, as ferramentas existentes
são e-mail, telefone, mural, radiofones, mensagens
instantâneas, reuniões e diálogo com os colegas.
Figura 4: A comunicação interna é considerada
Figura 6: Ferramentas mais utilizadas
FONTE: Chapoval Neto, Ludwig, Pavlak, 2014.
Figura 5: As informações chegam no tempo adequado
FONTE:Chapoval Neto, Ludwig, Pavlak, 2014.
Figura 7: Frequência da leitura do mural
FONTE: Chapoval Neto, Ludwig, Pavlak, 2014.
FONTE: Chapoval Neto, Ludwig, Pavlak, 2014.
Neste contexto, têm-se três fatores a serem
destacados. No primeiro, verifica-se uma porcentagem
baixa e negativa em relação à consideração muito boa da
comunicação interna, pois apenas 11% dos questionados
assim a consideram. Outro número significativo está nos
69% que consideraram a comunicação boa, uma vez que
deveriam considerá-la muito boa, se assim demandasse.
Mais uma preocupação está no alto percentual da
alternativa ruim que apresentou 6% das respostas. Outro
fator que reafirma a necessidade de trabalhar a
comunicação interna na cooperativa é a alta porcentagem
de 6% na opção ruim, que consiste no recebimento das
informações em última hora e com distorção.
Sabendo que quase todos os funcionários
afirmaram conhecer as ferramentas, subtende-se que
elas estão também disponíveis na empresa. Por isso, viuse necessário descobrir quais são mais utilizadas e nesta
questão, todos os colaboradores escolheram mais de
uma forma de comunicação, comprovando que não só
conhecem como também as usam no dia-a-dia. Dentre as
diversas ferramentas oferecidas, as que mais estão sendo
utilizadas são o telefone com 33%, em segundo lugar o
diálogo com os colegas com 28%, em terceiro o CIC e por
último, o e-mail. Levando em consideração a entrevista
realizada, é válido ressaltar que o uso do telefone é maior
por ser um meio disponível em todos os setores e com
retorno imediato. Do mesmo modo, esta ferramenta foi
evidenciada por ser muito usada entre as equipes, já que
trabalham a campo e o contato direto é dificultado.
Observando a figura 7, pode-se confirmar que
nem sempre os colaboradores da cooperativa recebem as
informações necessárias para o desempenho de sua
função no tempo adequado. A falta de escolha na opção
nunca é positiva, porém não ameniza o impacto da alta
porcentagem de 49% no item quase sempre. Este
resultado permite concluir que em algum momento a
informação não chega até a pessoa no tempo adequado e
tal demora implica no não cumprimento de uma tarefa ou
no retrabalho, pois, para não deixar de realizar sua função,
o colaborador terá que ir atrás da mensagem, perdendo
tempo e atrasando outras atividades relacionadas.
Dentre as ferramentas de comunicação
existentes na cooperativa está o mural, localizado próximo
ao relógio ponto, pelo qual todos funcionários passam seu
cartão na chegada e na saída de cada período. Este
objeto de apoio à disseminação da comunicação interna
expõe notícias associadas à cooperativa e aos
funcionários. Mesmo com exposição contínua e acessível
para todos, a figura 24 demonstra que 35% das respostas
afirmam ler o mural mensalmente e apenas 7%
confirmam ler todos os dias. Além disso, 14% das
escolhas se direcionaram para opção nunca, ou seja,
alguns funcionários não sabem e nunca observaram o
que é colocado no mural.
Quando questionados sobre o conhecimento de
todas as ferramentas de comunicação interna da
cooperativa, 92% das respostas afirmam conhecê-las. Já
o restante diz não obter conhecimento das mesmas e isso
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REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
Figura 8: Frequência da leitura do CIC da cooperativa
De acordo com o quadro, pôde-se observar que
há mais pontos negativos que pontos positivos e este fator
não é nada bom, primeiro porque o ideal é que não
existam falhas na comunicação interna e segundo porque
se a existência destas é maior que os pontos
considerados favoráveis, a necessidade do
desenvolvimento de ações para mudanças, torna-se
ainda maior.
Por outro lado, notou-se que o desenvolvimento
de uma comunicação interna eficaz já existe, que são as
ferramentas, o seu conhecimento, o bom relacionamento
entre os colegas, a existência de espaço para sugerir
ideias e capital para investir. Estes fatores juntos
favorecem a criação de um ambiente melhor, mas para
que cada um se comprometa em passar a mensagem da
melhor forma, colaborando para que o receptor ganhe
tempo, seja rápido e objetivo no seu desempenho é vital
uma sensibilização aos funcionários. É necessário criar
ações para que os pontos negativos deixem de existir ou
sejam ao menos amenizados, melhorando a
comunicação como um todo. Dessa forma, foi elaborado
um plano de ação para a empresa.
FONTE:Chapoval Neto, Ludwig, Pavlak, 2014.
Considerando a frequência de leitura do jornal
interno, nota-se uma porcentagem positiva para a
cooperativa, pois 74% das respostas afirmam que a
leitura do CIC é realizada sempre e 17% dizem que leem
quase sempre. Estes números apresentam uma melhora
significativa se comparados com o estudo realizado na
cooperativa em 2012, que apresentou, conforme descrito
por Capeletti e Tibola (2012), 59% de votos na opção
sempre e 3% na opção nunca, ou seja, uma menor
porcentagem de pessoas lia sempre e uma porcentagem
nunca lia. Alternativa esta desconsiderada neste estudo. É
importante ressaltar quem uma outra pergunta remetia-se
ao conteúdo do mural e do jornal interno e em ambos
desejou-se constar assuntos e notícias sobre cada setor.
4.5 PROPOSTA DE AÇÕES PARA A COMUNICAÇÃO
INTERNA
A realização das entrevistas e questionários
permitiu descobrir fatores como os processos das
atividades, as ligações existentes entre os setores, a
satisfação dos colaboradores quanto ao canal de
comunicação, a percepção dos funcionários em relação à
comunicação interna, o recebimento e envio das
mensagens e suas sugestões nessa área. Isso tudo aliado
a análises permitiu descobrir pontos fracos e pontos
fortes. A partir destes pontos fracos foi desenvolvido um
plano de ação, a fim de terminar ou diminuir os problemas
existentes na comunicação interna e melhorar o
andamento das atividades da cooperativa.
A última questão elaborada para o formulário foi
um pouco diferente, pois não contou com alternativas,
mas sim com a colaboração escrita de cada funcionário,
caracterizando-se como uma pergunta aberta. As
considerações não eram obrigatórias; portanto, nem
todos descreveram sua opinião. As descrições relatam
muitas falhas na comunicação, como falta de
comprometimento de repassar as informações para todos
os setores, falta de objetividade e clareza nas mensagens,
pois muitos ruídos interferem nos seus verdadeiros
significados como intrigas e fontes inseguras que alguns
colaboradores divulgam e que acabam prejudicando
colegas e a própria cooperativa.
O plano de ação contemplou o que precisa ser
feito, por que deve ser feito, como deve proceder, onde,
por quem e em que data deve ser realizado. A primeira
ação visualizada como necessária foi a proposta de
contratação de um profissional responsável somente pela
área de comunicação interna, pois no setor de
comunicação há, de acordo com as entrevistas, apenas
uma pessoa para realizar todas as atividades, desde
reuniões, eventos, divulgação, entrevistas, enfim, não
sobra tempo para se dedicar ao pessoal interno da
cooperativa.
4.4 IDENTIFICAÇÃO DE PONTOS SIGNIFICATIVOS NA
COMUNICAÇÃO INTERNA
Através das análises dos questionários e
entrevistas e das considerações colocadas pelos
colaboradores na questão aberta, tornou-se possível
identificar os pontos significativos na comunicação interna
da cooperativa.
Quadro 1: Pontos significativos da comunicação interna
A segunda ação proposta visa sensibilizar todos
os colaboradores sobre a importância da comunicação
interna e esta etapa será desenvolvida pelo profissional
contratado para esta área. Nesta etapa, serão realizadas
palestras e discussões informais com todos os setores,
proporcionando a cada funcionário conhecimento sobre
os benefícios de uma comunicação eficaz e os problemas
de uma comunicação ineficaz. Tendo esta concepção, o
trabalhador mudará suas atitudes naturalmente e com
satisfação, pois sabe que tais ações favorecem seu
trabalho e o dos colegas.
A terceira ação sugerida foi o feedback,
justamente para poder descobrir se o andamento das
FONTE: Chapoval Neto, Ludwig, Pavlak, 2014.
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REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
atividades melhorou após a sensibilização realizada com
os colaboradores. Além da percepção do funcionário
sobre sua satisfação, ele receberá um retorno de seu
desempenho, podendo, assim, continuar com o que está
bom e melhorar o que apresentar dificuldades.
comunicação interna e isso se tornou possível por meio de
entrevistas com colaboradores específicos de todos os
setores, que ajudaram no desenvolvimento de
fluxogramas nas áreas de administração, faturamento e
atendimento.
Depois do conhecimento dos processos de
comunicação foi mensurado o nível de satisfação dos
colaboradores quanto ao canal de comunicação utilizado
e tornou-se viável a partir da realização de questionários
com 65 colaboradores da cooperativa e entrevistas com
14 funcionários que representaram as principais áreas.
Com as análises dos gráficos, entrevistas e questionários,
alcançou-se também a identificação de pontos
significativos no processo de comunicação interna. Esses
pontos significativos foram divididos em fortes e fracos
para assim viabilizar o que precisa de mudança e o que
prioriza continuidade na cooperativa.
A quarta e a quinta proposta de ação surgiram da
necessidade de atrair e aumentar a leitura do mural e do
jornal interno da cooperativa. Estas sugestões visam
modificar os assuntos e notícias colocados nas duas
ferramentas, pois levando em consideração a opinião dos
próprios funcionários, a vontade de ler assuntos sobre
todos os setores prevalece dentre os demais.
Considerando o mural, além das modificações no seu
design, foi proposta a modificação do local de exposição,
pois como o pessoal não passa seguidamente por el,e
devido ao estacionamento de carros, é fundamental que
ele esteja num lugar de melhor visualização.
Levando em conta os fatores identificados com
falhas, como atraso, dúvidas, rumores e falta de clareza,
objetividade e conhecimento nas informações, além da
cultura da cooperativa e o baixo percentual de leitura do
CIC, foram desenvolvidas propostas de ações para
acabar ou diminuir com estas dificuldades existentes. Esta
última etapa concretizou todos os objetivos da pesquisa,
demonstrando que as análises serviram de apoio e real
conhecimento do que precisa ser melhorado na
comunicação interna.
Considerando todas as ações propostas,
percebeu-se que as mudanças não são algo impossível
de se conseguir; pelo contrário, são sugestões viáveis
para a cooperativa mostrar resultados satisfatórios aos
seus colaboradores e ao seu cliente e associado.
Sensibilizando os funcionários para a importância da
comunicação interna e tendo um profissional direcionado
para a área e monitorando as atividades, as funções de
cada setor serão desenvolvidas com maior agilidade,
credibilidade e objetividade, produzindo muito mais.
Melhorando a estrutura e o conteúdo do mural e do CIC, a
motivação para a leitura será maior e a disseminação das
informações será mais rápida.
REFERÊNCIAS
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Geral da Administração: Das Origens às Perspectivas
Contemporâneas. Rio de Janeiro: M. Books do Brasil
Ltda. ISBN: 85-7680-011-X.
5.CONSIDERAÇÕES FINAIS
Uma comunicação interna adequada depende
primeiramente da conscientização das pessoas para os
benefícios desta função, pois conhecendo este âmbito, a
condução eficiente das informações nas atividades diárias
dos colaboradores será natural e satisfatória pelo retorno
recebido. Neste momento, surge a necessidade de saber
se existem ferramentas para o desempenho dos
funcionários e se a sua utilização é adequada para o
trabalho. Portanto, existindo pessoas sensibilizadas e o uso
adequado das ferramentas, pode-se obter internamente
um fluxo de informações favoráveis ao andamento das
atividades e da produtividade da empresa.
ARGENTI, Paul A. 2006. Comunicação empresarial. A
construção da identidade, imagem e reputação. 4ª ed.
Rio de Janeiro: Campus. ISBN: 85-35220941.
ASSIS, Luciana. 2011. Princípios da Administração – O
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BORTOLOTTI, Suely. 2008. Consultoria empresarial.
Acessado em 15/04/2014. Disponível em
<http://www.profissionalizando.net.br/carreira-eemprego/178?task=view >.
A pesquisa realizada foi idealizada com o
propósito de conhecer o andamento das atividades de
uma cooperativa de eletrificação rural, descobrindo
principalmente o problema do trabalho que questionava
como ocorre o processo de comunicação interna na
cooperativa. Este questionamento motivou a análise
ampla e minuciosa da forma desempenhada desta
função, levando a compreender o porquê de certos
fatores apresentaram falhas nos resultados.
CAPELETTI, Jéssica; TIBOLA, Camila. 2012. Estratégia
de comunicação interna e análise de clima
organizacional na CERTHIL. Três de Maio. ISBN: s/n.
MAXIMIANO, Antonio Cesar Amaru. 1997. Teoria Geral
da Administração: da escola científica à
competitividade em economia globalizada. São Paulo:
Atlas. ISBN: 8522416109.
Para a consolidação do objetivo principal da
pesquisa, o estudo da comunicação interna da empresa,
algumas etapas foram desenvolvidas. Primeiramente,
identificaram-se as ferramentas de comunicação interna
utilizadas na cooperativa, através da realização de
entrevistas e questionários, que apresentaram a
existência de meios necessários para o fluxo das
informações e o conhecimento de seu uso.
Posteriormente, foi analisado o processo atual da
PERSONA, Mario. 2008. Comunicação interna.
Acessado em 29/01/2014. Disponível em:
<http://www.youtube.com/watch?v=LHmg_1XOrcc>.
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22
REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
MAPEAMENTO DO FLUXO DE VALOR COMO ALTERNATIVA DE REDUÇÃO DE CUSTOS
LOGÍSTICOS E DE PROCESSO
Alexandre Chapoval Neto¹
Anderson do Nascimento²
SETREM³
RESUMO
Em tempos de intensa competitividade, conhecer os
fatores que influenciam no desempenho da organização
assume um aspecto extremamente vital para o
seguimento do negócio que precisa tornar-se cada vez
mais competitivo para maximizar seu espaço de atuação
no mercado. O presente estudo tem por objetivo analisar a
utilização do Mapeamento de Fluxo de Valor (VSM) como
uma alternativa para redução de custos, tanto logísticos
como de processo. O trabalho foi realizado em uma
empresa do ramo metal mecânico envolvendo os
processos de solda, pintura, logística interna e montagem.
Buscando a redução dos custos destes processos, foram
mapeados todos os itens durante o acompanhamento das
atividades pelas quais passam os componentes do
conjunto em análise. Com base nesse mapeamento, foi
desenvolvido um mapa do fluxo de valor atual do
processo. Através deste mapa atual criado foram
observados pontos de desperdício e de possíveis
melhorias no processo. Utilizando as teorias do VSM um
novo mapa do estado futuro ideal foi desenvolvido. A partir
daí, foi traçado um comparativo entre o mapa do estado
atual e o mapa do estado futuro ideal e constatou-se que,
com as mudanças sugeridas, é possível fabricar o
conjunto utilizando apenas 82% do tempo total de
transporte atual, considerando o volume de 1300 produtos
fabricados no ano de 2010 e que tinham o conjunto
estudado em sua estrutura. O tempo total de pintura dos
conjuntos passou de 867 para 650 horas/ano e uma
redução de 67 carros de pintura/ano. Outro ganho
alcançado fica por conta do tempo de manuseio das
peças que compõem o conjunto estudado, que pode ser
feito com apenas 7% do tempo atual empregado nele,
uma redução de 93%. Com os ganhos apurados, a
alteração para o mapa de fluxo de valor do estado futuro
do conjunto se mostra viável uma vez que a eficiência da
manufatura é um dos fatores de maior influência para o
aumento do potencial competitivo das organizações.
Quanto menores os custos, maior é a capacidade de
negociação e de concorrência.
ABSTRACT
In times of intense competition, to determine factors that
influence the performance of the organization takes an
extremely vital aspect for monitoring business that needs
to become a more and more competitive space to
maximize its performance in the market. This study aims to
analyze the use of Value Stream Mapping (VSM) as an
alternative to reduce costs, logistical movement and
process improvement. The work was conducted in a
company's business processes involving metal welding,
painting, internal logistics and final assembly. Seeking to
reduce the costs of these processes, all items were
mapped during the monitoring of activities through which
pass the components of the set under consideration.
Based on this mapping, a value stream map of the current
process was developed. Through the current map set
points were observed in the waste and possible
improvements in the process. Using the VSM theories a
new ideal future state map was developed. Thereafter, a
comparison was drawn between the current state map and
ideal future state map and found that, with the suggested
changes, it is possible to manufacture the set using only
82% of the total time of current transportation, considering
the volume 1300 of products manufactured in 2010 and
had studied in the whole structure. The total time spent
painting the sets of 867 to 650 hours/year and a reduction
of 67 car paint/year. Another gain is achieved due to the
handling time of the parts that make up the set studied, it
can be done with only 7% of the time it current employee, a
reduction of 93%. With the gains assessed, the change to
the value stream map of the future state of the set is
validated since the efficiency of manufacturing is one of
the most influential factors to increase the competitive
potential of organizations. The lower the cost, the greater
the bargaining power and competition.
Keywords: Value Stream Mapping. Efficiency. Cost
Reduction.
Palavras-chave: Mapeamento de fluxo de valor.
Eficiência. Redução de custos.
logística e o de produção, gastarem para as empresas,
mais será a probabilidade de crescimento nas
organizações. Surge então a necessidade de identificar
esses desperdícios gerados pelos processos para
aumentar o faturamento das organizações. Uma das
ferramentas mais indicadas para esse trabalho é o Value
Stream Mapping ou Mapeamento de Fluxo de Valor.
1. INTRODUÇÃO
A teoria Japonesa da manufatura enxuta é
baseada na melhoria dos processos de fabricação, pela
eliminação contínua das perdas nos processos
produtivos. Um grande diferencial competitivo no mundo
dos negócios, juntamente com a manufatura enxuta, é a
eficiência do processo logístico das organizações.
O Mapeamento de Fluxo de Processo é uma
ferramenta do sistema de produção enxuta e consiste em
Quanto menos custos esses dois processos, o de
¹ Professor orientador do estudo. Bacharel em Administração. Pós-graduado em Gestão de Negócios. Mestre em Engenharia
² Acadêmico do Curso Bacharel em Administração - SETREM
³ Sociedade Educacional Três de Maio – SETREM; Av Santa Rosa, 2405, Três de Maio – RS. E-mail: [email protected]
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REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
representação visual de todo o fluxo de processo,
incluindo todas as atividades que agregam e não agregam
valor ao produto. O presente estudo tem como objetivo
identificar desperdícios no processo logístico e de
produção através do mapeamento dos processos. O
trabalho será aplicado em uma família de itens de mesma
característica, utilizados na montagem de uma empresa
do ramo de máquinas agrícolas da região Noroeste do Rio
Grande do Sul.
Também é possível perceber o alto valor gasto para a
pintura dos itens estudados. Em outras palavras,
conhecer onde estão e quais são os custos logísticos e de
processo fabril que podem ser reduzidos ou eliminados,
está ligado diretamente nas decisões de explorar as
melhores oportunidades, os melhores processos, ou seja,
na maximização dos lucros da organização.
2.1METODOLOGIA
2. ASPECTOS METODOLÓGICOS
O método utilizado para estudo é de fundamental
importância para o levantamento de todas as informações
e dados que se julguem necessários para o
desenvolvimento do trabalho em questão. Segundo
Oliveira (1999) o quantitativo, conforme o próprio termo
indica, significa quantificar opiniões, dados, nas formas de
coleta de informações, assim como também com
emprego de recursos e técnicas estatísticas. Neste
trabalho é utilizado para coletar as informações da família
de itens estudadas na área fabril.
Este estudo tem como tema: Mapeamento do
fluxo de valor como alternativa de redução de custos
logísticos e de processo. Delimitando o tema o
mapeamento do fluxo de valor da cadeia de suprimento e
do processo interno para evidenciar perdas e reduzir custos
logísticos e de processo, em uma empresa do ramo metal
mecânico, localizada na Região Noroeste do Rio Grande
do Sul. O problema abordado para o seguinte trabalho: no
mercado atual, cada vez mais o assunto logística é
determinado como um dos maiores geradores de custos
para as empresa. Levando isto em consideração, como a
ferramenta de Mapeamento de Fluxo de Valor (VSM) pode
auxiliar na identificação de oportunidades de redução de
custos logísticos e de processo?
A abordagem quantitativa visa mensurar os
fenômenos avaliando o comportamento de determinada
população, empregando técnicas observatórias de
experimentação, traduzindo os resultados do estudo em
números. De acordo com Oliveira (1999) a abordagem
qualitativa não emprega dados estatísticos como centro de
análise de um problema, pois não tem a pretensão de
numerar ou medir unidades ou categorias homogêneas.
Esta abordagem gera informações que possibilitam a
interpretação conceitual dos fatos observados e a razão
pela qual o mercado assume determinado comportamento.
Objetivou-se neste trabalho realizar o mapeamento
do fluxo de valor da cadeia de suprimentos e do processo
interno através da ferramenta VSM, neste trabalho focado e
avaliado no fluxo logístico interno de um pacote de itens de
mesma característica da montagem final.
E, para melhor responder aos objetivos, os
mesmos foram descritos mais especificadamente.
Inicialmente, buscou-se embasar teoricamente com
pesquisa bibliográfica sobre o assunto para seguidamente
analisar no mapa os processos logísticos e de produção
para assim identificar as oportunidades de melhorias dos
respectivos processos e, só então, realizar o mapeamento
do fluxo de valor do processo futuro dos itens estudados.
Avaliou-se também a eficácia da ferramenta VSM (Value
Stream Mapping) aplicada em trabalhos de redução de
custos logísticos e de produção através da comparação
do fluxo do processo atual com o estado futuro ideal
sugerido.
Tomando como referência estes dados sobre a
abordagem, analisou-se que o método utilizado é qualiquantitativo, pois o estudo em questão apresenta a
característica qualitativa e a quantitativa na pesquisa.
3. REVISÃO DA LITERATURA
3.1 CUSTOS LOGÍSTICOS
Quando se aborda em Custos Logísticos, a
primeira ideia que vem a cabeça é o Custo com Frete ou
Transportes. Apesar de este ser o mais significativo, os
Custos Logísticos não se resumem somente a isso. De
acordo com as palavras de Ricarte (2002), Custos
logísticos são todos os custos que estão relacionados
com a logística de uma empresa, entre os quais pode-se
destacar os custos de armazenagem, custos de
existência, custo de ruptura de estoque, custos de
processamento de encomendas e custos de transporte.
Atualmente as empresas estão cada vez mais
buscando novas estratégias para agilizar seus processos
de manufatura e também para reduzir os seus custos.
Cada vez mais estas empresas estão percebendo as
grandes possibilidades de redução nos desperdícios
logísticos e de processo. Em tempos de intensa
competitividade, o conhecimento dos fatores que
influenciam no desempenho da organização representa
um aspecto extremamente vital para o seguimento do
negócio. É necessário analisar cautelosamente a
organização em seus aspectos logísticos, como a sua
capacidade, sua competência, sua eficiência; enfim, os
pontos fortes e fracos de cada etapa do fluxo do processo.
Assim, a eficácia das operações se dará de maneira
eficiente, otimizando resultados.
Os custos logísticos de uma empresa são
considerados muito importantes e um dos maiores
componentes ficando atrás somente dos custos gerados
pela própria mercadoria. Ainda, em palavras do mesmo
autor, pode-se destacar que saber gerir estes custos em
uma empresa é crucial para a sobrevivência e
estabilidade da mesma. A gestão destes custos pode ser
feita através de planejamento de custo ou do pré-cálculo
de custo, pois estas duas formas de controle podem
auxiliar a determinar os padrões de custo de produção
(CHIAVENATO, 1991, p. 130).
A família de itens que é mapeada neste trabalho
tem um alto índice de armazenamento dentro da área
fabril, reduzindo, assim, espaços que poderiam ser
disponibilizados para melhorias de outros processos.
A logística moderna atualmente passa por uma
grande e crescente complexidade operacional com o
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aumento da variedade de produtos, entregas mais
frequentes, menor tempo de atendimento, etc. Sendo
assim, os custos logísticos absolutos aumentam com o
crescimento da economia, e estes, até então
considerados pouco significantes, passam a ter uma
participação importante, o que leva as empresas a
procurar a modernização tecnológica e gerencial para a
alocação destes custos.
determinado produto desde a origem até ao destino final.
Estes custos têm grande relevância no preço final do
produto. No transporte de materiais muito densos e com
baixo valor por peso, por exemplo, areias e carvão, os custos
de transporte são elevados, ao contrário dos produtos de alto
valor por peso, por exemplo, uma peça de joalharia em que
os custos de transporte podem ser mais reduzidos. Vários
fatores influenciam os custos de transporte, podendo estar
relacionados com o produto, por exemplo, a densidade do
produto e a facilidade do seu manuseamento; ou estar
relacionados com o mercado, como por exemplo a
localização do mercado de destino do produto.
Segundo Chiavenato (1991) dependendo do tipo
de negócio, os custos logísticos podem representar de 5 a
35% das vendas. Apesar de impactar no custo das
mercadorias vendidas, a logística é indispensável para o
sucesso de uma empresa. Ela acrescenta valor e se
traduz num aumento da competitividade uma vez que tem
um impacto direto no custo de produzir bens.
Através das abordagens feitas aqui, pode-se
identificar os custos logísticos mais significativos como
sendo os de armazenagem (custos de existência) e os de
transporte. De um modo geral, afirma-se que estes dois
custos têm uma relação inversa, em que o custo de
transporte aumenta quando o custo de existência diminui e
vice-versa. Entre outros motivos, verifica-se que isto se deve
ao fato de ao aumentar-se o custo de transporte (e portanto
investindo em sistemas de transporte mais eficientes), pode
efetuar-se a movimentações mais frequentes de uma
quantidade inferior, e, portanto, não será necessário um
número tão elevado de existências em armazém.
O objetivo da logística é atingir um determinado
nível de serviço de cliente, ao menor custo total possível.
Sendo que quanto maior for o nível de serviço pretendido,
maior o custo total logístico, um bom desempenho em
nível logístico resulta do equilíbrio entre o nível de serviço
e os custos. No entanto, chegou-se à conclusão de que a
relação entre o nível de serviço e o custo total não é linear,
e o melhor balanço entre os dois é específico de cada
caso segundo Chiavenato (1991).
3.4 PRODUÇÃO ENXUTA: PROGRAMAÇÃO PUXADA
E EMPURRADA
3.2 CUSTOS DE ARMAZENAGEM
Os custos de armazenagem são geralmente
fixos e indiretos, e pode-se perceber a dificuldade da
gestão das operações que envolvem estes custos e
principalmente os seus impactos. A grande parcela de
custos fixos na armazenagem faz com que os custos
sejam proporcionais à capacidade instalada tendo pouca
relevância se o armazém está cheio ou vazio, ou ainda se
está movimentando produtos. Desta forma, os custos de
armazenagem continuarão ocorrendo independente da
atividade de produtos, uma vez que os trabalhadores
responsáveis pelo estoque, os equipamentos nele
contidos e quaisquer outros investimentos continuarão
existindo (DIAS, 2005, p. 191).
Na programação empurrada, as tarefas são
programadas por meio de um sistema central e
completadas em linha com as instruções centrais, como
em um sistema MRP. Esse sistema central calcula as
necessidades de cada item do produto que será
produzido, que está no Programa Mestre de Produção
(PMP), cria as ordens de compra dos itens necessários e
as ordens de trabalho para que tudo seja provido a tempo.
As células de produção empurram seu trabalho, sem
considerar se a célula seguinte poderá utilizá-lo de
imediato ou se ficará estocado por algum tempo.
Na programação puxada, as especificações do
que será feito são estabelecidas pela célula de trabalho
posterior (consumidora) que puxa (demanda) o trabalho
da célula anterior (fornecedora), ou seja, só será realizada
uma tarefa quando houver uma necessidade na célula
seguinte. O trabalho de puxar a produção é exercido pelo
Kanban ou por embalagens Kanban.
A alocação dos custos indiretos de
armazenagem nesse caso fica muito difícil, o mais
provável é que sejam feitos através de rateios, deixandoos sujeito a distorções. Sendo assim, para minimizar
essas distorções é importante que os itens de custos
sejam contabilizados de acordo com sua função, ou seja,
movimentação, acondicionamento, administração, e não
por contas naturais como depreciação, mão-de-obra e a
alocação sejam condizentes com o real consumo de
recursos na operação.
3.5 MATERIAL REQUIREMENTS PLANNING – MRP
Segundo Slack (1996), o Planejamento das
Necessidades de Materiais (MRP) originou-se nos anos
60 e permite que as empresas calculem quantos materiais
de determinado tipo são necessários e em que momento.
É um sistema de empurrar a produção que se utiliza dos
pedidos em carteira e das previsões de vendas geradas
pelo PMP – Plano Mestre de Produção para fazer os
cálculos das necessidades.
Os custos indiretos de armazenagem dificultam a
alocação aos produtos e clientes, pois a alocação neste
caso é realizada através de rateios, o que pode causar
distorções. Para que estas distorções sejam minimizadas
é importante destacar que os itens de custo sejam
contabilizados de acordo com a função que tem, e que a
alocação seja condizente com o real consumo de recursos
na operação.
Portanto, o MRP decide quando cada item será
necessário, de modo que possa comprar no momento
correto. Em resumo, o MRP consulta a Carteira de
Pedidos e as Previsões de Vendas no Programa Mestre
de Produção, planeja as necessidades de materiais, gera
a lista de materiais necessários e compara com os
registros de estoque. Em cima disso, cria as ordens de
3.3 CUSTOS DE TRANSPORTE
Segundo Arantes (2005), os custos de transporte
são todas as despesas realizadas na movimentação de
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REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
compras e as ordens de trabalho para que tudo seja
providenciado a tempo de entregar o pedido. O MRP não
se preocupa com a quantidade de estoque, mas sim,
preocupa-se que não faltem os materiais necessários.
“O JIT visa atender a demanda instantaneamente
com qualidade perfeita e sem desperdícios” (SLACK,
1996, p. 474). De forma mais completa, o JIT é uma
abordagem disciplinada, que busca aprimorar a
produtividade global e eliminar os desperdícios, ou seja,
visa à eficiência da produção. Ele possibilita uma
produção eficaz no que se refere aos custos, assim como
o fornecimento apenas da quantidade necessária de
componentes, na qualidade correta, no momento e locais
corretos, utilizando o mínimo de instalações,
equipamentos, materiais e recursos humanos.
O MRP usa o fluxo interdepartamental baseado
em lotes para suprir a produção. Se as previsões de
vendas estiverem incorretas, as listas de materiais
necessários são revisadas, as peças são produzidas
incorretamente, os fornecedores atrasam e assim por
diante; isto porque o sistema não identifica a necessidade
de reprogramar, apenas identifica novos lotes e cria novas
listas. As peças programadas anteriormente acabam
sendo produzidas e indo para o estoque.
Para Slack (1996), o fluxo de cada operação da
manufatura é puxado pela necessidade da operação
posterior. O controle de fluxo entre as operações é feito
pelo uso de cartões simples (Kanbans) que disparam a
produção e a movimentação de materiais. O Just-in-time é
altamente dependente da flexibilidade do fornecedor
(operação anterior) e do usuário (operação posterior).
Também conhecido como manufatura de fluxo contínuo,
manufatura de alto valor agregado, produção sem
estoque, manufatura veloz, manufatura enxuta e outros. O
JIT é uma ideia reativa, que responde com dificuldades às
mudanças de demanda, porém os estoques decorrentes
dessas mudanças são pequenos.
O Planejamento das Necessidades de Materiais
é muito dependente da acuracidade dos dados das listas
de materiais e dos registros de estoques. Ele responde
rapidamente às mudanças de demanda, porém por ter
antecipado os materiais que lhe foram solicitados antes
pode acabar inchando estoques caso grandes mudanças
de demanda ocorram.
3.6 SEQUENCIAMENTO
Demanda puxada pela produção. O
sequenciamento da produção é baseado nos principais
processos de produção de cada produto, sendo que a lista
de reabastecimento dos mesmos é gerada
eletronicamente pelo programa de produção de chassis,
por exemplo, de acordo com a lista de materiais dos
produtos finais do plano mestre de produção – PMP.
“Controle Kanban é um método de
operacionalizar o sistema de planejamento e controle
puxado” (SLACK, 1996, p. 486). Palavra de origem
japonesa, Kanban significa cartão ou sinal. Muitas vezes
denominado de “correia invisível”, que controla a
transferência de material de uma operação para outra ou
de um fornecedor para um cliente.
No sequenciamento de itens comprados, a
compra é feita por MRP ou Kanban e as linhas de produção
são abastecidas conforme as listas de produção geradas
pelo programa de sequenciamento. Usado principalmente
para itens que ocupam grande espaço como motores,
pneus, caixas de câmbio. São enviados para a linha em
embalagens especiais (carros, contentores).
O primeiro ponto é definir que “Just-in-time” e
Kanban não são sinônimos. “Just-in-time” é
uma filosofia completa, enquanto que Kanban
é uma técnica de “puxar”, sendo um dos
elementos do JIT; o segundo ponto
estabelece que o Kanban é uma das ações a
ser implementada (MOURA, 2003, p. 15).
Na manufatura, caracteriza-se pela produção de
itens de grande porte em que a fabricação em série ou
lotes seria inviável pelo fato de necessitarem um espaço
muito grande. O acondicionamento é feito através de
carrinhos que levam estes itens até o processo em que
são consumidos. O item ou conjunto são manufaturados
conforme a lista de abastecimento gerada pelo programa
de sequenciamento de produção.
O princípio do Kanban é um só: o recebimento do
Kanban dispara o transporte, a produção ou o
fornecimento de uma ou de um contentor padrão de
unidades. Ele é o meio pelo qual o transporte, a produção
ou o fornecimento é autorizado. Ele proporciona um
método simples e transparente de solicitar material
somente quando necessário e limita a quantidade de
estoque que poderia se acumular entre as operações.
O objetivo é aperfeiçoar o espaço da fábrica,
otimizar a utilização de máquinas envolvidas no processo e
reduzir o estoque dos materiais através da produção “just-intime” de itens e conjuntos de grande porte e valor elevado.
3.8 DIFERENCIANDO JIT E MRP
Na abordagem tradicional (MRP) cada um dos
estágios do processo de manufatura encaminha os
componentes que fabrica para um estoque (pulmão,
buffer), o qual isola aquele estágio do estágio seguinte.
Esse próximo estágio irá eventualmente suprir-se dos
componentes deste pulmão, processá-los e mandá-los
para o estoque isolador posterior. Esses estoques existem
para isolar um estágio de seus vizinhos e, portanto, não
são acidentais.
3.7 JUST-IN-TIME E KANBAN
Para Moura (2003), o Just-in-time não é apenas
um sistema de programação puxada, é uma filosofia. Essa
filosofia é a redução, eliminação de tudo que não agrega
valor e o que não pode ser eliminado deve ser reduzido ao
máximo. O Just-in-time significa oferecer produtos ou
serviços no momento exato da necessidade, ou seja, não
com antecedência para que não entrem em estoque e
empatem o capital, e não depois da demanda para que os
clientes não tenham que esperar.
Isso faz com que cada estágio trabalhe de forma
independente, de modo que, se um estágio interromper
suas atividades por uma quebra de máquina ou por falta
de materiais, o estágio seguinte pode continuar
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REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
trabalhando ao menos por algum tempo. Os estágios
seguintes poderão continuar trabalhando por um tempo
ainda maior, pois os estoques isoladores somam-se ao
avançarem os estágios.
visualmente todas as etapas dos processos de fluxos de
matérias das empresas e ainda mostrar o tipo de
informação utilizada a cada etapa do fluxo do processo,
desde o início da cadeia no fornecedor até o final, no
consumidor.
Segundo Slack (1996), para minimizar os
distúrbios causados por um problema de produção, é
necessário elevar o grau de independência entre os
estágios, o qual é proporcionado pelo aumento de
componentes do estoque isolador, ou seja, pelo aumento
de materiais em processo. Apesar de aumentar a
eficiência e permitir que cada estágio trabalhe de forma
ininterrupta, os gastos com capital empatado irão
aumentar e, em caso de alterações de engenharia, a
resposta ao mercado passa a ser lenta em função da
grande quantidade de estoque aumentando o risco dos
materiais em processo tornarem-se obsoletos.
3.11 BENEFÍCIOS DO VSM
Segundo Rother e Shook (2007), o potencial do
mapeamento do fluxo de valor pode ser demonstrado a
partir das afirmações:
Com o VSM pode-se enxergar todo o fluxo do
processo e não os processos isolados. No mapeamento é
possível enxergar mais do que as perdas, é possível
enxergar a fonte das perdas na cadeia de valor, realizado
através de uma linguagem comum, simples e clara para
tratar dos processos. Torna todas as decisões do fluxo
visíveis, facilitando assim as discussões. Unifica e associa
conceitos e técnicas da manufatura enxuta, evitando
assim implementações isoladas de algumas técnicas.
Forma a base de um plano de implementação, servindo
de referência para a aplicação da manufatura enxuta. O
mapa deixa clara a relação entre fluxo de informação e
fluxo de material e o mapa é uma ferramenta qualitativa e
descreve como deveria ser um fluxo que agregue valor ao
produto.
O principal argumento contrário à abordagem
tradicional incide exatamente sobre o que ela promove
que é a independência entre os estágios. Quando ocorre
um problema, a responsabilidade de resolução do mesmo
se restringe sobre o pessoal daquele estágio, pois os
demais não são atingidos. Já no JIT, os componentes são
produzidos e encaminhados para o próximo estágio no
momento exato em que são necessários; assim, se ocorre
um problema em um estágio, os próximos estágios logo
serão afetados.
3.12 FLUXO DE VALOR DE MATERIAL E DE
INFORMAÇÃO
Dessa forma, a responsabilidade de resolução
do problema é compartilhada por todos os estágios, o
que aumenta consideravelmente as chances de ser
resolvido com rapidez, pois agora ele é muito mais
importante para ser desconsiderado ou ignorado. Em
outras palavras, eliminando o acúmulo de estoques
entre etapas aumenta-se a possibilidade de aprimorar a
eficiência intrínseca da fábrica.
Sempre que se inicia qualquer tipo de
mapeamento, logo é focado o fluxo de material interno da
fábrica. Mas para a realização do mapeamento de fluxo de
valor há outro fluxo tão importante quanto o de materiais,
que é o fluxo de informação. O fluxo de informação é quem
diz ao processo o que fazer e quando fazer. Ambos os
fluxos devem ser mapeados. Segundo Rother e Shook
(2007), na manufatura enxuta, tanto o fluxo de informações
quanto o fluxo de materiais têm a mesma importância; por
isso, devem ser mapeados da mesma forma.
3.9 COMBINANDO MRP E KANBAN
Apesar de terem características opostas quanto
ao sentido que atuam dentro da produção, o MRP e o
Kanban podem ser combinados dentro de um sistema
Just-in-time. O MRP visa garantir as quantidades
suficientes de itens para que estes possam ser puxados
através dos Kanbans. O MRP pode ser usado para
planejar as necessidades de materiais em se tratando de
quantidades e momentos necessários, baseado no Plano
Mestre de Produção que inclui os pedidos em carteira e as
previsões de vendas.
3.13 PRINCÍPIOS DO MAPEAMENTO
O mapeamento de fluxo de valor pode ser
utilizado como uma ferramenta de comunicação, como
uma ferramenta de planejamento de negócios e também
como uma ferramenta para gerenciar o processo de
mudanças. Para iniciar o processo de mapeamento é
preciso respeitar algumas etapas inicias. As etapas são
definir a família de produtos, desenhar o estado atual,
desenhar o estado futuro e definir o plano de trabalho e
implementação.
Integrando o MRP e o Kanban em um sistema,
com o primeiro comprando os materiais e o segundo
puxando a produção na hora e na quantidade certa, atingese a filosofia Just-in-time no que se refere à redução de
inventário, redução de Lead Time. Em suma, eliminando as
atividades que não agregam valor ao produto.
Assim que a família de produtos é determinada, o
passo seguinte é coletar dados no chão de fábrica para
que possa ser desenvolvido o mapa do estado atual. É
importante saber que o desenvolvimento do estado atual e
do estado futuro são esforços sobrepostos. Isso porque
durante o desenvolvimento do mapa do estado atual já
virão à tona ideias do estado futuro; assim como durante a
criação do estado futuro é possível perceber detalhes que
passaram despercebidos no mapa atual.
Por fim, é preciso criar um plano de trabalho e
implementação que descreva em detalhes o
planejamento de como se deseja alcançar o estado futuro.
Para Rother e Shook (2007) o mapa do estado futuro é o
3.10 VALUE STREAM MAPPING
O Mapeamento do Fluxo de Valor (MFV) ou value
stream mapping (VSM) é uma ferramenta do sistema de
produção enxuta e consiste em representação visual de
todo o fluxo de processo, incluindo todas as atividades
que agregam e não agregam valor ao produto. Segundo
Rother e Shook (2007) com a utilização da ferramenta de
mapeamento de fluxo de valor pode-se representar
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REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
mais importante, um mapa com a situação atual sem um
estado futuro não é útil e sua meta deve ser sempre
projetar e introduzir um fluxo enxuto de valor.
Para Rother e Shook (2007) surge a necessidade
de se coletar alguns dados que serão importantes para
definir como será o estado futuro. Esses dados podem ser
coletados sempre que se passa pelo chão de fábrica.
Seguem alguns dados que são necessários: T/C (tempo
de ciclo); T/R (tempo de troca); Tempo de operação efetiva
(operação real da máquina); TLP (tamanho dos lotes de
produção); Número de operadores; Número de variações
do produto; Tamanho da embalagem; Tempo de trabalho
(menos os intervalos); Taxa de refugo. Durante a criação
do VSM é utilizado um conjunto padronizado de símbolos.
Conforme a Figura 03.
3.14 FAMÍLIA DE PRODUTOS
Certamente ficaria muito difícil de mapear todos os
produtos ou processos da empresa; portanto, é
amplamente importante que antes de iniciar o mapeamento
seja determinado uma família de produtos. Esta família
será o foco do trabalho de mapeamento. Para Rother e
Shook (2007) ao desenhar todo o fluxo de um produto
apenas em um mapa é complicado, a menos que se tenha
uma empresa de pequeno porte ou que você tenha em sua
planta apenas a produção de um único produto.
Figura 3: Símbolos do VSM
Para determinar uma família de produtos
adequada para se realizar um bom mapeamento é preciso
analisar e identificar produtos que tenham etapas
similares no processo de fabricação e ainda que utilizem
as mesmas máquinas e equipamentos durante a
fabricação.
3.15 MAPA DO ESTADO ATUAL
Para iniciar o desenvolvimento do estado atual é
preciso analisar na planta o nível do fluxo porta-a-porta em
que serão desenhados os tipos de processamento. A
Figura 01 ilustra o fluxo de porta-a-porta dentro do fluxo
total de valor.
Figura 1: Fluxo porta-a-porta
FONTE: ROTHER e SHOOK, 2007.
Se houver a necessidade outros símbolos,
podem ser criados na hora do mapeamento, mas o
importante que isso seja disseminado durante a
construção do mapa para que todos os envolvidos no
projeto possam compreendê-los.
FONTE: ROTHER e SHOOK, 2007.
3.16 MAPA DO ESTADO FUTURO
O fluxo de porta-a-porta é usado apenas no início,
para que possa se enxergar o fluxo completo na fábrica.
Assim que a construção do mapa for desenvolvendo, é
possível mudar o nível de amplitude, passando a focalizar
também o fluxo de valor externo à sua planta; desta forma
estará mapeando o fluxo total de valor.
Para realizar o mapeamento de fluxo de valor do
estado futuro o objetivo é destacar as fontes de
desperdício encontradas durante a criação do mapa atual
e eliminá-las.
Rother e Shook (2007) sugerem uma lista de
questões que são úteis e necessárias para conseguir
elaborar um mapeamento do estado futuro. As questões
são: Qual é o takt time, baseado no tempo de trabalho
disponível dos processos posteriores que estão mais
próximos do cliente? Você produzirá para um
supermercado de produtos acabados do qual os clientes
puxam diretamente para expedição? Onde você pode usar
fluxo contínuo? Onde precisará introduzir os sistemas
puxados com supermercados a fim de controlar a
produção dos processos anteriores? Em que ponto único
da cadeia de produção será programada a produção?
Como será nivelado o mix de produção do processo
puxador? Qual o incremento de trabalho você liberará
uniformemente do processo puxador? Quais as melhorias
de processo serão necessárias para fazer fluir o fluxo de
valor conforme as especificações do projeto de seu futuro
estado?
A figura 2 ilustra um exemplo de mapa de fluxo de
processo atual:
Figura 2: Exemplo de mapa do fluxo de processo atual
FONTE: ROTHER e SHOOK, 2007.
A figura 4 ilustra um exemplo de mapa de fluxo de
processo futuro:
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REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
Figura 4: Exemplo de mapa do estado futuro
aproximadamente 6 horas circula pelo processo. Depois
de pintado, o mesmo é descarregado durante 8 minutos e
enviado para a área RIP – “Raw in Process” (Materiais em
Processo), em que é armazenado. Na empresa em
estudo, os “pulmões” são denominados de RIP que
significam Materiais em Processo. Eles servem para
evitar atrasos, caso algum problema possa causar de
imediato uma falta de componentes na linha de
montagem. Funcionam como estoques intermediários
aos processos. O tempo de transporte entre pintura e RIP
é de 1 minuto e o tempo gasto para armazenar o item é de
1 minuto e 30 segundos. Nesta área de armazenagem
existem 2 locais para contentores deste item, um em uso
para suprir a montagem e outro que está em processo de
fabricação ou já está pronto para suprir a linha quando o
primeiro terminar.
FONTE: ROTHER e SHOOK, 2007.
Quando o carro KIT que abastece a linha de
montagem estiver vazio, ele retorna ao RIP para ser
recarregado. As peças então são retiradas do contentor e
colocadas no carro KIT, que é replanejado pelo MRP
seguindo a sequência de produção conforme Plano
Mestre de Produção, na quantidade adequada para a
produção de 1 dia, em média 12 peças. O carro KIT
retorna à linha de montagem, agora carregado com as
peças e esse deslocamento toma um tempo de 2 minutos.
O tempo para abastecer o carro é de 6 minutos, sempre
considerando o lote 30 peças. O item B é formado por
outros dois subitens, que são replanejados pelo MRP.
Uma vez criada a lista de produção dos subitens, a
produção do item B é automática. Um subitem é cortado e
estampado em primários e encaminhado para a área de
solda, em uma célula diferente da célula em que é
processado o item A, em lote de 30 unidades. O
deslocamento deste subitem até a solda leva 1 minuto. O
segundo subitem componente do item B, que é
comprado, é acrescentado ao primeiro nesta célula de
solda.
A meta do mapa é construir um processo
produtivo em que os processos individuais são articulados
aos seus clientes ou por meio de fluxo contínuo ou
puxado, produzindo apenas o que os clientes necessitam
e na hora que eles necessitarem.
4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
O referido estudo foi realizado em uma empresa
do ramo metal mecânico da Região Noroeste do Rio
Grande do Sul. Para iniciar o mapeamento do fluxo de
processos atuais é necessário fazer um levantamento de
todos os itens envolvidos. Tempos de processo interno,
externo, custos dos processos, entre outros. É importante
salientar que todos os cálculos que foram realizados neste
trabalho são feitos através de comparações do fluxo de
processo atual real com um estado futuro ideal sugerido.
4.1 MAPEAMENTO DE FLUXO DE PROCESSO ATUAL
O conjunto que será estudado tem a
nomenclatura interna de “fechamento frontal”. Este
conjunto é formado por cinco itens distintos, quatro deles
manufaturados e um comprado. Neste estudo de caso,
identificam-se os itens manufaturados de “A, B, C e D” e o
item comprado de “E”.
Logo após, o item B é transportado até a pintura
por um tempo de 2 minutos. É carregado no carro de
pintura em 6 minutos, segue por 6 horas na pintura, é
descarregado em outros 6 minutos e levado ao RIP,
armazenado em 1 minuto e 30 segundos. Quando surge a
necessidade, o item é carregado no mesmo carro KIT que
o item A para abastecer a linha de montagem. Esse
evento demora 6 minutos. O item B ocupa também 2
espaços na área RIP.
Os itens C e D, não possuem subitens, são
replanejados pelo MRP, que dá baixa automática no
estoque quando é dada data fim de produção em
determinado produto. São cortados e estampados
também na área de primários. Em seguida, diretamente
mandados para a pintura em contentores separados e
posteriormente para o RIP, também em lotes de 30
unidades. Na pintura, cada um dos itens leva 6 minutos
para ser carregado nos carros de pintura e outros 6
minutos para ser descarregado. A movimentação destes
itens até a pintura se dá de forma separada, pois os
mesmos não são estampados na mesma máquina. Os
tempos de movimentação destes itens entre primários e
pintura são de 2 minutos para cada um dos itens; entre
pintura e RIP, mais 1 minuto para cada um deles e entre
RIP e linha, 2 minutos, mas agora juntos no mesmo carro
KIT.
O item A, que é a estrutura principal do conjunto
de fechamento frontal é formado por três subitens, a
necessidade dos mesmos é replanejada por MRP que cria
as ordens de produção dos subitens. Um lote de 30
unidades de cada um dos três subitens é cortado na área
de primários; em seguida, dois destes subitens são
estampados também na área de primários e
posteriormente os três são mandados para a área de
solda, cada um em um contentor. O tempo de transporte
dos contentores entre primários e solda é de 1 minuto para
cada subitem, pois os mesmos são transportados
separadamente por não serem processados nas mesmas
máquinas pelas características físicas de cada um. Após
os três subitens chegarem à área de solda, eles são
unidos dando origem ao item A, e encaminhados para a
pintura em um único contentor. O tempo gasto na
movimentação do contentor do item A da solda até a
pintura é de 2 minutos.
Na pintura, o lote do item A é carregado por 6
minutos em um trem ou carro de pintura e por
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REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
O item E não passa por processos de
manufatura. É um item de borracha, comprado. O
fornecedor do item é do estado de São Paulo e o
transporte do mesmo é rodoviário. O item E é solicitado ao
fornecedor via MRP e internamente através do sistema
KANBAN de replanejamento, conforme as necessidades.
Ao menos dois contentores ficam armazenados no
almoxarifado e outros dois contentores ficam
armazenados no RIP, cada contentor tem capacidade de
40 (quarenta) peças. O item é pago para a linha de
montagem no sistema JIT em um carro KIT juntamente
com outros componentes. Na linha de montagem os 5
itens principais (A, B, C, D e E) são unidos por meio de
parafusos e porcas, formando assim, o conjunto de
fechamento frontal que é colocado na área de IPK – In
Process Kanban (Kanban em processo). O tempo desta
montagem é de aproximadamente 9 minutos por
conjunto. Quando o modelo de produto no qual o conjunto
é montado passa pelo posto de montagem, o mesmo é
utilizado.
Configura-se como um gargalo. A alocação dos itens na
área RIP e nos carros KIT não é gargalo, pois pode ser
agilizada. O processo de montagem do conjunto na
colheitadeira não atrasa o processo.
Observa-se, assim, que na movimentação dos
itens da área de primários e da área de solda para a área de
pintura, são deslocados 4 contentores, cada um de uma
vez. Na área de pintura os itens ocupam 4 carros ou trens
de pintura pois são pintados individualmente, uma vez que
ocupam um grande espaço no trem de pintura. São
necessárias 120 movimentações de peças somando-se os
4 lotes dos itens para carregá-los nos carros de pintura e
mais 120 movimentos para descarregá-los. Os mesmos
120 movimentos são realizados na área RIP para carregar
os carros KIT que abastecem a linha de montagem. Após
serem pintados, os contentores também são deslocados
até o RIP, um de cada vez. Um contentor é deslocado do
almoxarifado até a área RIP. Na área de armazenagem RIP,
estes contentores ocupam um total de 10 espaços, pois
existem 2 contentores de cada item. Ao serem
armazenados, fazem-se necessárias 5 movimentações de
contentores. A seguir, segue o Quadro 01, com o resumo
dos tempos gastos com as movimentações dos 5 itens que
compõem o conjunto em análise.
Após o levantamento destes dados, o VSM foi
desenhado da seguinte forma, conforme apresentado na
Figura 5.
Figura 5: Mapa de fluxo de valores do estado futuro ideal
Quadro 1: Resumo dos tempos de transporte de peças do
processo atual
FONTE: Dados da pesquisa.
Analisando os dados contidos no Quadro 01,
observa-se que, no processo atual, é gasto um total de
28 minutos no deslocamento dos cinco itens entre seus
processos de origem até seu ponto de consumo.
FONTE: Dados da pesquisa.
Observando o Quadro 02 com o resumo dos
tempos de manuseio de peças, constata-se que são
gastos 24 minutos para retirar as peças dos contentores e
carregá-las nos carros de pintura, outros 26 minutos para
descarregá-las dos carros e recolocá-las nos contêineres,
mais 7 minutos e 30 segundos para armazenar os
contêineres na área RIP e outros 27 minutos para
abastecer os carros KIT. Um total de 1 hora, 24 minutos e
30 segundos são necessários para o manuseio de todas
as peças. Lembra-se que os contentores dos itens
manufaturados contêm 30 peças por lote e o contentor do
item comprado 40 peças por lote.
4.2 ANÁLISE DO MAPA DE FLUXO DE PROCESSO
ATUAL
No processo de primários, o MRP é quem define
onde cada item será cortado e estampado de acordo com
a disponibilidade de máquinas. Se existir a necessidade, é
possível utilizar mão-de-obra em horários diferenciados
para suprir a demanda. Demonstra-se bastante flexível;
portanto, não é um gargalo.
O departamento de solda possui células de
soldagem em que os conjuntos que são fabricados
nessas células são definidos pelo processo garantindo o
atendimento dos mesmos, pois os tempos são
controlados. Em caso de necessidade também é flexível e
permite que a mão-de-obra seja aumentada e os horários
de trabalho das células em que os itens são
manufaturados também podem ser aumentados. A
pintura tem um tempo pré-estabelecido para que cada
carro ou item entre e saia do processo. Já utiliza horários
em que os demais processos não trabalham para
conseguir cumprir os prazos de entrega. Não permite
apressar o processo e o acréscimo de mão-de-obra não
afetam quanto à redução de tempos neste processo.
Quadro 2: Resumo dos tempos de manuseio de peças do
processo atual
FONTE: Dados da pesquisa.
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REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
Figura 6:VSM do estado futuro ideal
4.3 ANÁLISE DE PERDAS OBSERVADAS
Após análise de todo processo, constatam-se as
seguintes perdas:
Espera: Tempo que os itens aguardam para
serem carregados nos trens ou carros de pintura. Tempo
que as peças aguardam, após serem pintadas, para
serem levadas ao RIP e tempo que as peças ficam na
área de recebimento do RIP para serem guardadas.
Manuseio: Tempo de carga e descarga das
peças do trem de pintura (são pintadas separadamente,
em quatro carros), tempo para guardar as peças no RIP –
são quatro contentores de itens pintados mais um do item
comprado (Item E) e tempo de carregamento do carro KIT.
FONTE: Dados da pesquisa.
Os itens B e C, agora deverão ser
encaminhados também para a solda em vez de serem
enviados para a pintura como são no processo atual,
passando a se deslocarem apenas por 1 minuto para
cada item e não 2 minutos como ocorre atualmente. Na
área de solda, sugere-se que os processos de união
realizados nos itens A e B sejam centralizados em uma
única célula de soldagem. Os itens B e C que não sofrem
processo de solda e o item E que é comprado deverão
ser encaminhados diretamente para esta mesma célula
de soldagem, centralizando assim os demais
componentes. O tempo de movimentação do item E
entre o almoxarifado e a solda não se altera e
permanece sendo igual a 5 minutos.
Transporte: Tempo para movimentar os dois
contentores (itens A e B) da solda para a pintura (são
soldados em células diferentes), tempo para movimentar
os dois contentores (itens C e D) da área de primários
para a pintura e tempo de movimentação do carro KIT
entre a linha de montagem e o RIP e do RIP para a linha
de montagem.
Armazenagem: Os espaços que estes cinco
itens ocupam na área RIP também devem ser
considerados. Como para cada item possui 2 contentores,
são ocupados 10 espaços por estes itens no RIP.
Custo de Pintura: Como cada lote de item é
pintado separadamente, os 4 itens manufaturados
utilizaram durante o ano fiscal de 2011 aproximadamente
173 carros de pintura que totalizam 1040 horas de
processo. Considera-se que cada lote de 30 peças de
cada item demore 6 horas pelo processo completo de
pintura. O custo de cada carro de pintura do tipo “A”
(fundo+acabamento) está estimado hoje na empresa em
aproximadamente R$ 935,00.
Uma vez na célula de solda, os 5 itens devem
ser unidos por porcas e parafusos e acondicionados em
um carro sequenciado, que seguirá uma lista
sequenciada de acordo com o Plano Mestre de
Produção. Não serão montados os 30 conjuntos de uma
só vez, apenas a quantidade necessária para um dia de
produção, aproximadamente 12 conjuntos por carro.
Uma vez unidos os 5 itens, o conjunto de fechamento
superior do alimentador estará completo, e deverá ser
deslocado para a pintura de uma só vez. Reduzindo,
assim, os espaços percorridos dos itens C e D que iam
da estamparia até a pintura e passaram a ser
deslocados apenas até a solda. Reduzindo a
movimentação dos contentores dos itens A e B da solda
até a pintura para um único movimento. Agora, os 5 itens
são deslocados de uma só vez até a pintura, tomando,
assim, apenas 1 minuto e 30 segundos. O Quadro 03
mostra os novos tempos de transporte de peças.
4.4 MAPEAMENTO DE FLUXO DE PROCESSO
FUTURO
Após a análise do estado atual, projetou-se o
estado futuro, conforme mostra a Figura 6. Conforme
análise do processo atual, em que se observam perdas
consideráveis, sugerem-se algumas mudanças no
processo. Quanto à área de primários, o corte e a
estamparia dos subitens que formam os itens A e B, e os
itens B e C, são realizados em máquinas diferentes de
acordo com a disponibilidade de máquinas que é
calculado pelo MRP antes de gerar as ordens de
produção. Portanto, deverão continuar sendo
processados como são atualmente. Os componentes dos
itens A e B continuarão sendo enviados para a solda como
o processo atual, tendo o mesmo tempo de
deslocamento, que é de 1 minuto para cada item.
Para que as 30 peças sejam deslocadas da
solda até a pintura, serão necessárias duas cargas e
meia do carro sequenciado. Este carro deve ser
projetado de forma que possa ser pendurado
diretamente no trem ou carro de pintura, sem que as
peças tenham de ser manuseadas. Para otimizar, a
terceira carga será completada com itens do lote
seguinte de peças. Observa-se que, com o processo
sugerido, os tempos de movimentação de materiais
somam um total de 27 minutos e 30 segundos para cada
lote de 36 conjuntos. O tempo do processo atual é de 28
minutos para 30 conjuntos.
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REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
Quadro 3: Resumo dos tempos de transferência do processo
atual
contentores (itens C e D) da área de primários para a
pintura que é de 2 minutos passará a ser de 1 minuto cada
um, já que serão apenas deslocados até a solda. Já da
solda até a pintura surge o deslocamento de três carros
sequenciados carregando os conjuntos já montados e
cada deslocamento passa a ter o tempo de 1 minuto e 30
segundos.
O tempo de movimentação do carro KIT entre a
linha de montagem e o RIP e do RIP para a linha de
montagem atualmente é de dois minutos em ambos os
sentidos. Sendo assim, são necessários 4 minutos para
cada vez que o mesmo é abastecido e como ele é
carregado com aproximadamente 12 peças de cada item
do conjunto cada vez, são necessários 3 ciclos para pagar
as 30 peças do lote. Essa movimentação será substituída
pelo deslocamento do carro sequenciado entre pintura e
linha de montagem quando carregado e seu retorno para
a solda quando vazio. Esse ciclo também terá 4 minutos.
FONTE: Dados da pesquisa.
Na pintura, em vez de os conjuntos utilizarem 4
carros para pintar 30 conjuntos, passarão a utilizar apenas
3 para que todo o lote de 36 conjuntos seja pintado.
Eliminam-se as 240 movimentações de carga e descarga
de cada peça individualmente nos carros de pintura para
apenas o acoplamento dos 3 carros sequenciados
diretamente nos carros de pintura, cada acoplamento
tomará 1 minuto e mais 1 minuto para retirar o carro
sequenciado do trem de pintura. O transporte dos
conjuntos se dará direto da pintura para a linha de
montagem, levando 2 minutos, em que ficarão
armazenados no carro sequenciado no local em que
atualmente fica o carro KIT que paga os itens separados.
Quando um carro sequenciado estiver vazio, o segundo
carro passa a ser usado e o primeiro é deslocado até a
solda, funcionando como um carro Kanban, que aciona o
gatilho para um novo lote ser produzido, de acordo com a
seqência de produção estabelecida pelo Programa
Mestre de Produção.
4.6 ANÁLISE DOS GANHOS COM O PROCESSO
PROPOSTO
Com a implantação das alterações sugeridas, temse uma redução de 30 segundos no tempo total de
movimentação das peças que formam o conjunto, de 28
minutos para cada 30 conjuntos passando 27 minutos e 30
segundos para cada 36 conjuntos. O Quadro 04 mostra o
comparativo entre os tempos de transporte atual e proposto.
Quadro 4: Comparação de Tempos (Atual X Futuro)
Eliminam-se assim, também, as 120
movimentações manuais das peças no RIP, que
consistem na retirada das peças dos contentores e a
colocação das mesmas no carro KIT. Elimina-se também
o processo de transporte das peças para armazená-las no
RIP, o tempo de abastecimento do carro KIT realizado
pelos ripeiros. Também se elimina o transporte do carro
KIT entre a linha de montagem e o RIP. Quando o conjunto
chegar à linha de montagem, o mesmo estará pronto para
ser montado, bastando retirá-lo do carro sequenciado e
montá-lo no produto.
FONTE: Dados da pesquisa.
4.5 ANÁLISE DO MAPEAMENTO PROPOSTO
A Figura 8 mostra um gráfico comparativo entre o
tempo gasto atualmente com transporte (1213 minutos) e
o tempo gasto no futuro (993 minutos).
Após analisar o processo proposto, constata-se
que as perdas com Espera, levantadas no processo atual
não sofrem impacto considerável, pois o tempo das
mesmas não é padrão, variando com a carga de
produção. Apenas o tempo que os itens que formam o
conjunto aguardam para serem guardadas no RIP é
eliminado, pois o conjunto agora não passa pelo RIP, indo
diretamente para a montagem. Já no que diz respeito à
Demora, o tempo de carga e descarga das peças do trem
de pintura que é de 50 minutos; com a proposta passa a
ser de 6 minutos. Os tempos para guardar as peças no
RIP – são quatro contentores de itens pintados mais um
do item comprado (Item E) - e tempo de carregamento do
carro KIT, passam de 7 minutos e 30 segundos para zero,
uma vez que as peças não mais serão armazenadas na
área RIP.
Um ganho consideravelmente pequeno por lote,
porém comparando com a produção do ano de 2010, em
que esses 30 segundos representam um ganho de 220
minutos, ou seja, 3 horas e 40 minutos em um ano de
produção. Em taxa percentual, o mesmo trabalho pode
ser realizado com 82% do tempo atual necessário, uma
economia de 18% de tempo.
Quanto às perdas com Transporte, o tempo para
movimentar os dois contentores (itens A e B) da solda para
a pintura é extinto, o tempo para movimentar os dois
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REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
Figura 8:Tempo do Transporte
que o item leva do início do seu processo até o mesmo
ser concluído no final de linha, é possível observar uma
redução de 1.76 dias que agregam valor ao produto (VA)
para 0.44 dias. As atividades que não agregam valor ao
produto (NVA) foram reduzidas de 10.08 dias para 7.68
dias. No total o caminho crítico do item teve uma
redução de 31% no tempo gasto para sua produção.
Figura 10: Horas de pintura
FONTE: Dados da pesquisa.
Figura 9: Tempo de manuseio dos itens
FONTE: Dados da pesquisa.
Figura 11: Custo de pintura
FONTE: Dados da pesquisa.
No manuseio de peças que corresponde aos
tempos de carga e descarga delas nos carros de pintura,
ao tempo de alocação dos contêineres na área RIP e ao
tempo de abastecimento dos carros KIT, com as
alterações sugeridas, reduzem-se o tempo de 84
minutos e 30 segundos do processo atual, considerando
lotes de 30 conjuntos, para 6 minutos de manuseio, com
lotes de 36 conjuntos. A Figura 9 mostra o tempo de
manuseio dos itens.
FONTE: Dados da pesquisa.
Uma redução significativa, que totaliza 46 horas
em um ano de produção deste item, ou seja, o mesmo
trabalho pode ser feito com apenas 7% do tempo atual
empregado nele, uma baixa de 93% no tempo. A seguir,
apresenta-se a análise do tempo gasto na pintura e do
número de carros utilizados para pintar este conjunto,
considerando a produção do ano de 2010, no processo
atual e no processo proposto. O tempo total de pintura
dos conjuntos passa de 867 para 650 horas/ano de
circulação dos carros na pintura. Uma redução de 217
horas/ano, sendo necessária a utilização de apenas
75% das horas e 62% dos carros de pintura atualmente
empregados, já que os novos carros de pintura
comportam 12 conjuntos, isso gera uma necessidade de
109 carros de pintura por ano para este conjunto,
reduzindo 67 carros de pintura/ano. A Figura 10 faz um
comparativo das horas de pintura.
Para estas modificações de fluxo de processo
não são necessários grandes investimentos. Apesar de se
mostrar bastante rentável e econômica uma simples
alteração de layout e umas mudanças no fluxo dos
materiais já são suficientes. Também é necessária uma
negociação com a engenharia de produto da empresa
para a liberação da pintura do item E na imersão da
pintura. Isso porque o material de constituição do item E é
borracha e a imersão da pintura atinge altas temperaturas.
Mas este detalhe não deve ser um empecilho, tendo em
vista que outros materiais semelhantes de borracha são
pintados hoje na imersão da pintura e não sofrem
nenhuma alteração.
O conjunto do fechamento frontal hoje é montado
no final de linha, para que o item seja montado na solda e
pintado como um conjunto, como sugerido pelo estudo,
faz-se necessária a criação de um código de conjunto que
deve ser elaborado pela engenharia com todos os itens
abaixo dele. Ou seja, dentro do código do conjunto devem
estar os itens A, B, C, D, E e todas as porcas e parafusos
de fixação do conjunto do fechamento frontal.
Avaliando financeiramente a reduções de
pintura, com a redução de aproximadamente 67 carros
de pintura, tem-se uma redução de custo de pintura
estimada em R$ 62.645,00 anual. Analisa-se o caminho
crítico do pacote de itens estudados, ou seja, o tempo
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5. CONCLUSÃO
GOODE, W. J; HATT, P. K. Métodos em Pesquisa Social.
3ª edição, São Paulo: Cia Editora Nacional, 1969.
Sempre que se fala em trabalho de redução de
custos, sejam estes de pintura, movimentação, mão de
obra ou de qualquer outro processo das indústrias,
independente do tamanho da redução, é com certeza
significativa. A diminuição de minutos perdidos, de itens
parados sem utilização, quando somados em grandes
quantidades impressionam, ainda mais em empresas de
grande porte como é o caso da empresa estudada. Se em
poucos itens se conseguem grandes resultados, imaginase que se ampliado o trabalho para mais itens o resultado
seja surpreendente. O mapeamento de fluxo de valor
realizado neste trabalho mostrou que se implantado vai
gerar retorno a sua empresa, evidenciando que não
precisa de investimento nenhum para a alteração, basta
apenas readequar layout e alterar o fluxo dos processos.
Só em pintura haverá uma redução anual de mais de R$
60.000,00. Atividades que não agregam valor como o
manuseio dos itens na pintura e no RIP terão baixa de
quase 93%.O tempo total de produção do conjunto ou o
caminho crítico também teve uma redução significativa de
mais de 30%.
GÜLLICH, Roque Ismael da Costa. LOVATO, Adalberto;
EVANGELISTA, Mário Luiz Santos; . Metodologia da
pesquisa: normas para apresentação de trabalhos:
redação, formatação e editoração. 2.ed. Três de Maio,
Setrem, 2007.
LAKATOS, Eva Maria; MARCONI M. de Andrade.
Metodologia do trabalho cientifica. São Paulo, Atlas,
2006.
MARCHWINSKI, Chet; SHOOK, John. Léxico Lean –
Glossário ilustrado para praticantes do pensamento
lean. Lean institut Brasil. São Paulo, 2 Edição., 2007.
MARTINS, Petrônio Garcia e ALT, Paulo Renato Campos.
Administração de materiais e recursos patrimoniais.
São Paulo, Saraiva, 2001.
MOURA, Reinaldo A. Kanban – A simplicidade do
controle de produção. 6. ed. São Paulo, IMAM, 2003.
A ferramenta VSM mostrou-se muito eficaz para
enxergar o processo como um todo, pois é muito fácil de
entender o processo depois de mapeado com ela. Com a
utilização da ferramenta as percepções de algumas
perdas ficam evidentes trazendo assim altos retornos para
as empresas. Apesar de o VSM ser uma ferramenta da
Manufatura Enxuta, ela é pouco difundida e também tem
pouca literatura disponível para estudo, pelos ganhos que
ela proporciona, deveria ser melhor divulgada no meio
industrial e também no meio acadêmico. O presente
trabalho mostrou que o mapeamento de fluxo de valor é
uma alternativa eficaz para trabalhos de identificação de
desperdício. Diante dos resultados obtidos é relevante
para a empresa incorporar o mapa de estado futuro criado
neste trabalho.
OLIVEIRA, Silvio Luiz de. Tratado de metodologia
cientifica. 1999.
RICARTE, Marcos António Chaves. A importância dos
custos logísticos na cadeia de suprimentos. São
Paulo, 2002.
ROTHER, Mike; SHOOK, John. Aprendendo a enxergar.
Mapeando o fluxo de valor para agregar valor e
eliminar desperdício. Lean institut Brasil, São Paulo,
2007.
SLACK, Nigel et al. Administração da Produção. São
Paulo, Atlas, 1996.
REFERÊNCIAS
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São Paulo, Ed. Elsevier, 2005.
COLLIS, Jill; HUSSEY, Roger. Pesquisa em
Administração: um guia prático para alunos de
graduação e pós-graduação. 2ª edição, Porto Alegre:
Bookman, 2005.
DIAS, João Carlos Quaresma. Logística Global e
Macrologística. Lisboa: Edições Sílabo. 2005.
FACHIN, Odília. Fundamentos de Metodologia. São
Paulo, Saraiva, 2001.
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de
pesquisa – 4ª Edição, Editora Atlas, São Paulo 2002.
GIOVINE, Humberto. A cadeia de suprimentos
integrada como ferramenta de melhoria no processo
de reposição de produtos em supermercados: o caso
do Supermercados Caitá. Revista INGEPRO (Artigo).
Universidade Federal de Santa Maria: Santa Maria – RS,
2009.
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REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
NÍVEL DE SATISFAÇÃO DA COMUNICAÇÃO INTERNA DE UMA PREFEITURA MUNICIPAL
DA REGIÃO NOROESTE - RS
Graciele Cristina Wiegert¹
Alexandre Chapoval Neto²
SETREM³
RESUMO
O estudo se refere ao nível de satisfação da comunicação
interna de uma Prefeitura Municipal da Região Noroeste RS, realizado no período de outubro de 2014 a novembro
de 2014. O estudo teve como objetivo analisar o nível de
satisfação do processo de comunicação interna na
Prefeitura Municipal. Como teorias de base para a
realização do trabalho foram utilizados os conhecimentos
adquiridos através de revisão bibliográfica na área de
comunicação, com ênfase na comunicação interna. O
método do estudo se caracteriza pela abordagem
quantitativa e qualitativa e estudo dedutivo, com
procedimento de estudo de caso e pesquisa descritiva.
Para a coleta dos dados foi realizada uma entrevista
dirigida com questões abertas e fechadas, primeiramente
com três funcionários previamente selecionados e
posteriormente com os demais funcionários ativos da
Prefeitura. O resultado obtido revela que o nível de
satisfação com a comunicação interna varia de regular a
bom. Este estudo apresentou vários pontos relevantes
como o questionamento sobre a informação, em que 60%
dos funcionários declararam que já ficaram sem receber
alguma informação importante para a realização de seu
trabalho, contra 40% dos funcionários que afirmaram que
nunca ficaram sem receber alguma informação que fosse
pertinente à execução do trabalho.
ABSTRACT
The study refers to the level of satisfaction of internal
communication of a city hall from the Northwest Region RS, conducted from October 2014 to November 2014.
The study aimed to analyze the level of satisfaction of the
internal communication process in City Hall. As a basic
theory to carry out the paper the knowledge acquired
through literature review in the communication field with
emphasis on internal communication was used. The study
method is characterized by a quantitative and qualitative
approach and deductive study with case study and
descriptive procedure. For data collection an interview was
conducted addressed with open and closed questions first
with 3 previously selected employees and later with other
active employees of the City Hall. The result obtained
shows that the level of satisfaction with internal
communication is good. This study presented several
relevant points as the questioning of the information where
60% of employees said that have stayed without receiving
some important information to carry out their work,
compared with 40% of employees that said they never
stayed without receiving any information that was relevant
to do the job.
Keywords: Internal Communication. Communication
process. Communication Tools.
Palavras-chave: Comunicação interna. Processo de
comunicação. Ferramentas de Comunicação.
A comunicação interna é considerada importante
em todos os tipos de organizações, sendo que apresenta
grande relevância nos entes públicos. O processo de
comunicação interna em uma Prefeitura Municipal deve
ter uma atenção especial, pois geralmente apresenta
problemas, como a falta de conhecimento do processo
pelos funcionários, problemas com ruídos, falta de
feedback e utilização de ferramentas que não se adaptam
à realidade da organização.
1. INTRODUÇÃO
A comunicação é a troca de informações entre
duas pessoas ou mais, sendo que o ato de se comunicar é
considerado essencial para a vida dos seres humanos.
A comunicação no ambiente organizacional é
conhecida como comunicação interna e é importante para
o bom funcionamento das organizações. A comunicação
interna tem a habilidade de juntar os setores de trabalho,
possibilitando o seu funcionamento correto, para que
todos trabalhem em busca do objetivo da empresa.
Através destas colocações foi realizado o estudo
para analisar o nível de satisfação dos funcionários ativos
da Prefeitura Municipal em relação ao processo de
comunicação interna. O estudo envolveu 313 funcionários
de uma Prefeitura Municipal da região Noroeste - RS,
realizado através de um formulário aplicado a alguns
funcionários estratégicos e um questionário, este
abrangendo a todos os servidores ativos.
Hoje os gestores devem ter conhecimento de
como a comunicação interna está em sua empresa, pois a
informação repassada de forma incorreta poderá trazer
vários transtornos para a organização. É necessário que
os gestores e funcionários conheçam e entendam as
ferramentas e o processo de comunicação utilizada, para
que funcione bem, e as informações cheguem de forma
correta e no tempo certo.
Através deste estudo foi possível verificar que o
nível de satisfação dos funcionários com o processo de
¹ Pós-graduada do Curso MBA em Gestão Empresarial pela SETREM, e-mail: [email protected]
² Professor orientador do estudo. Bacharel em Administração. Pós-graduado em Gestão de Negócios. Mestre em Engenharia
da Produção. Professor da Faculdade de Administração e da Faculdade de Engenharia de Produção da SETREM.
³ Sociedade Educacional Três de Maio – SETREM
35
REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
comunicação interna utilizada varia de regular a bom, em
que foram identificados problemas com a forma com que a
informação é repassada, causando atrasos, informações
distorcidas e, em alguns casos, informações não
entregues ao receptor.
3. REFERENCIAL TEÓRICO
3.1 ORGANIZAÇÃO
Conforme Chiavenato (2009), a organização é
um sistema de atividades coordenadas por duas ou mais
pessoas, que cooperam umas com as outras para
alcançar um objetivo em comum que dificilmente
alcançariam sozinhas.
2. MÉTODOS E TÉCNICAS DE PESQUISA
2.1 ABORDAGEM
Para este estudo foi utilizada a abordagem
dedutiva e uma análise para a coleta de dados quantitativa
e qualitativa, pois ambos os métodos se complementam
para o alcance dos resultados da pesquisa.
Maximiano (2000) define a organização como um
sistema de recursos complexo formado por partes ou
elementos que interagem entre si, para realizar um
objetivo explícito. Para o autor todas as organizações são
um sistema.
2.1.1 Procedimentos
O autor apresenta a organização como um
sistema composto de recursos, sendo o principal as
pessoas, seguido pelos recursos materiais, financeiros e a
informação. A organização em si engloba o processo de
transformação, a divisão do trabalho e a coordenação,
para finalmente alcançar seus objetivos que podem ser o
serviço e ou produto final.
O estudo tem como base a pesquisa descritiva,
pois através da revisão da literatura é possível ter
argumentos para descrever a comunicação interna. A
entrevista e o questionário possibilitou identificar os
processos e as ferramentas utilizados na Prefeitura
Municipal. Este estudo também se caracteriza como
estudo de caso, pois observa o processo de comunicação
da Prefeitura Municipal.
Segundo Chiavenato (2009) existem vários tipos
de organizações e podem ser classificadas como
prestadoras de serviços, comerciais, econômicas,
públicas, religiosas, militares, educacionais, sociais, entre
outras.
2.1.2 Técnicas
2.1.2.1 Técnicas de coleta de dados
3.2 COMUNICAÇÃO
Foi realizada uma observação para entender a
realidade da Prefeitura Municipal e como funciona o
processo de comunicação interna. Também foi realizada
uma entrevista com o chefe de gabinete e um funcionário
do setor de pessoas e do setor de comunicação para
identificar o processo utilizado e as ferramentas.
Segundo Chiavenato (2005), a comunicação é o
processo de transmissão de uma determinada informação
de uma pessoa para outra. É necessário que a informação
transmitida chegue ao destinatário para que a
comunicação seja realmente efetuada. Também para
haver comunicação é preciso de no mínimo duas
pessoas, caracterizadas como emissor e o receptor.
O questionário foi utilizado para identificar o nível
de satisfação dos funcionários ativos da Prefeitura Municipal.
Este questionário é composto de questões abertas e
fechadas com respostas de múltipla escolha e únicas.
A comunicação é fundamental para o bom
andamento de qualquer atividade coletiva. Maximiano
(2004) defende que sem a troca de informações não há
decisão em um grupo e nem em uma organização
2.1.2.2 Técnicas de análise e interpretação de dados
Os questionários foram entregues aos
secretários de cada pasta, exceto das Secretarias de
Saúde e Educação, que foram entregues para os diretores
de escolas e responsável por cada Estratégia de Saúde
da Família - ESF. Nas Secretarias de Saúde e de
Educação foi realizada uma distribuição diferente pelo fato
de possuírem um grande número de funcionários que
trabalham em locais afastados de suas Secretarias.
3.2.1 Comunicação Interna
Segundo Pinho (2006), a comunicação interna se
caracteriza pelos processos comunicativos no interior de
uma organização, cujo objetivo é permitir que seus
membros cumpram as tarefas estabelecidas.
A comunicação interna é a transferência de
informações entre os colaboradores e gestores de uma
organização.
As amostras coletadas foram tabuladas em uma
planilha eletrônica. Após, os dados foram transformados
em tabelas e gráficos realizando a análise e interpretação
dos dados quantitativos. Também foi realizada uma
análise das respostas obtidas pelo formulário e pelo
questionário.
Conforme Pimenta (2006), a comunicação
interna, também conhecida como comunicação
empresarial, é a atividade multidisciplinar que envolve
métodos e técnicas de relações públicas, destinada aos
membros internos de uma organização.
2.1.2.3 População Amostra
Inicialmente, planejou-se atingir a totalidade dos
funcionários ativos da Prefeitura Municipal, que somam
um total de 552. O estudo foi realizado com base nos
questionários preenchidos, totalizando 313.
A comunicação interna ocorre entre todos os
membros de uma organização e, segundo Tavares
(2007), abrange todos os departamentos, órgãos e
unidades. Ela pode ser entre as pessoas dos mesmos
departamentos, comunicação entre as chefias e
36
REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
comunicação entre os funcionários e as chefias.
(cartazes no local de trabalho com informações sobre a
produção), relatórios, murais e cartas.
3.2.2 Processo de Comunicação
- Comunicação por meio de equipamento:
Telefone fixo e móvel, televisão, fita de vídeo, fita de áudio,
correio de voz, fax, correio eletrônico, teleconferência e
Internet.
O processo de comunicação envolve a
transmissão de informações de uma pessoa para a outra.
“...é imprescindível a presença de dois elementos, uma
vez que um indivíduo não poderia se comunicar sozinho”.
(ANDRADE, AMBONI, 2007, p.112).
Pimenta (2006) apresenta duas formas de
comunicação; a informal e a formal. A comunicação formal
ocorre quando as informações são transmitidas pelas
ferramentas de comunicação formais da empresa,
protocolo, decreto entre outros. Já comunicação informal
é quando a informação circula pela empresa
informalmente, como, por exemplo, a rádio corredor.
Conforme Chiavenato (2009), o processo de
comunicação é composto de cinco elementos.
Emissor ou fonte: pessoa, coisa ou processo que
emite a mensagem para alguém, fonte de comunicação.
Transmissor ou codificador: é um equipamento, que
codifica a mensagem para torná-la adequada e disponível
ao canal. Canal: parte do sistema que separa a fonte do
destino. Receptor ou codificador: é o equipamento entre o
canal e o destino; ele decodifica a mensagem para tornála compreensível ao destino. Destino: pessoa, coisa ou
processo para qual a mensagem foi enviada, destinatário
da comunicação.
São várias as ferramentas utilizadas para a
comunicação nas organizações. Conforme Pimenta
(2006), elas são classificadas em visuais, auditivas e
audiovisuais e são segmentadas da seguinte maneira:
Visuais: Escritos - instruções e ordens escritas,
circulares, cartas pessoais, manuais, quadro de avisos,
boletins, panfletos, jornais e revistas, relatórios de
atividades, formulários, fax, e-mail. Pictográficos pinturas, fotografias, desenhos, diagramas, mapas.
Escritos-pictográficos - cartazes, filmes mudos e com
legenda, gráficos, diplomas e certificados. Simbólicos luzes, bandeiras e flâmulas, insígnias.
Segundo Maximiano (2004), pode fazer parte
também do processo de comunicação interna o feedback,
que é considerado um elemento importante, pois
representa o retorno da informação para o emissor,
podendo ser natural ou induzido. O feedback é uma
garantia de que o processo de comunicação ocorreu de
forma correta.
Auditivos: Diretos - conversas, entrevistas,
reuniões, conferências. Indiretos - telefone, rádio,
intercomunicadores automáticos, alto-falantes. Simbólicos
- sirenes, apitos e buzinas, sinos, outros sinais.
Para Araujo (2006), o processo de comunicação
ocorre em seis etapas:
Audiovisuais: filmes, demonstrações, vídeo,
videoconferência, videofone (duas pessoas).
1º etapa: Fonte: a origem pode ser uma pessoa
ou um representante de um grupo. 2º etapa: Mensagem: o
objeto da comunicação é materializado via mensagem,
muitas vezes traduzido em códigos. 3º etapa: Codificador:
a função codificadora expressa o objeto da fonte em forma
de mensagem. 4º etapa: Canal: é o condutor da
mensagem. 5º etapa: Recebedor: é a pessoa que está no
outro lado do canal. 6º etapa: Decodificador: é necessário
para decifrar a mensagem.
Tavares (2007) acrescenta mais algumas
ferramentas que podem ser utilizadas nas organizações
como: Intranet, eventos, workshops, prestação de contas
invertida, café da manhã informal.
3.2.4 Barreiras/dificuldades da Comunicação
Segundo Chiavenato (2007), existem barreiras
que dificultam e atrapalham a comunicação interna.
Algumas variáveis no processo de comunicação afetam
profundamente, fazendo com que a mensagem
recebida torne-se diferente da mensagem enviada ou
não chegue ao seu destino. O autor cita três tipos de
barreiras à comunicação:
No processo de comunicação ocorrem
interferências quer prejudicam o conteúdo da mensagem
enviada. Estas interferências são chamadas pelos
autores de ruídos.
3.2.3 Ferramentas de Comunicação
Segundo Maximiano (2000), existem duas
formas de comunicação; a escrita e a falada. Estas formas
podem ser intermediadas por diversos tipos de veículos e
sistemas. Estas duas formas podem ser classificas em
três categorias: comunicação pessoal, comunicação
escrita e por meio de equipamentos. A seguir, as
categorias e seus determinados exemplos.
- Barreiras pessoais: são as interferências que
ocorrem devido às limitações humanas, como as
emoções, valores humanos, sentimentos, hábitos
deficientes na hora de ouvir, motivação, comportamento
entre outras.
- Barreiras físicas: são as interferências que
ocorrem no ambiente em que acontece o processo de
comunicação.
- Comunicação pessoal: Apresentações formais,
conferências, reuniões, conversação um-a-um,
conversação periódica, comemorações e solenidades.
- Barreiras semânticas: são limitações ou
distorções em relação ao uso de símbolos para a
comunicação, como gestos, sinais e símbolos.
- Comunicação escrita ou impressa:
Memorandos, circulares, cartazes, revistas e jornais
internos, sistemas de sugestões, administração visual
37
REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
Figura 01: Processo de comunicação
Chiavenato (2007) também cita alguns males
que podem ocorrer na comunicação, como: a omissão
que ocorre quando certos aspectos importantes da
comunicação são omitidos, cancelados ou cortados por
algum motivo, fazendo que a comunicação não chegue ao
seu destino de forma completa. Também cita a distorção
que ocorre quando a mensagem sofre alterações,
afetando ou modificando o seu significado original.
FONTE: Dados da pesquisa.
O funcionário B destaca que quando ocorre a
necessidade de repassar uma informação, na maioria das
vezes é realizada uma reunião com os secretários que
ficam encarregados de informar seus colaboradores,
figura 02.
Maximiano (2004) defende que todo o processo
de comunicação está sujeito a dificuldades que
comprometem a eficácia da transmissão, da recepção, da
interpretação das informações e dos significados. Estas
dificuldades podem vir a ocorrer na fonte, no destino e até
no próprio processo de comunicação. O autor classifica as
dificuldades em três fontes, são elas:
Figura 02: Processo de comunicação
FONTE: Dados da pesquisa.
O funcionário B também destacou que as
informações são repassadas por telefone, muitas vezes
passando as informações à pessoa do setor que atendeu
ao telefone, ficando esta responsável de informar os
demais colegas da Secretaria.
- Dificuldades com o emissor: os principais
problemas com o emissor são a falta de disposição para falar.
- Dificuldades com o receptor: os problemas mais
comuns relacionados ao receptor originam-se na falta de
disposição para ouvir.
Figura 03: Processo de comunicação
- Dificuldades com o processo: os principais
problemas no processo de comunicação apresentados
pelo autor vêm da falta de um sistema comum de códigos.
FONTE: Dados da pesquisa.
Também foi relatado pelo funcionário C que o
processo de comunicação ocorre entre os funcionários
através do diálogo, no momento em que surge uma
dúvida ou problema, figura 04.
4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
O estudo foi realizado em uma Prefeitura
Municipal localizada na Região Noroeste do Estado do
Rio Grande do Sul, realizando entrevista com três
funcionários: o chefe de gabinete, o responsável do RH e
o responsável pelo setor de comunicação. Também foram
aplicados questionários a todos os funcionários ativos
(552 no total), tabulando os dados com o número de
questionários que retornaram preenchidos (313).
Figura 4: Exemplo processo de comunicação
FONTE: Dados da pesquisa.
No momento da pesquisa também foi questionado
aos três funcionários selecionados sobre as ferramentas
utilizadas no processo de comunicação da Prefeitura
Municipal, solicitando ferramentas pessoais, ferramentas
escritas ou impressas, ou ainda ferramentas que utilizam
algum tipo de equipamento. Os funcionários A, B e C citaram
as seguintes ferramentas, sendo elas classificadas como
ferramentas pessoais o diálogo e as reuniões, ferramentas
escritas ou impressas os decretos, ofícios circulares, mural,
ordens de serviço e ferramentas classificadas como
equipamentos o e-mail, as mensagens instantâneas como o
Skype e facebook, e também o telefone.
A entrevista aos três funcionários é composta de
nove questões abertas, as quais foram aplicadas pela
pós-graduanda. O questionário para todos os funcionários
é composto com 19 questões fechadas de múltipla
escolha e uma questão aberta.
4.1 PROCESSO DE COMUNICAÇÃO E AS
FERRAMENTAS UTILIZADAS NA PREFEITURA
MUNICIPAL
Para entender o processo de comunicação na
Prefeitura Municipal foi realizada uma observação no
ambiente e uma entrevista dirigida ao chefe de gabinete,
ao responsável do RH e ao responsável pelo setor de
comunicação.
Foi questionado também se havia alguma
ferramenta de comunicação que possui maior relevância
no processo de comunicação: o funcionário A cita o
telefone e o e-mail como ferramentas de maior relevância.
O funcionário B explica que o telefone é mais relevante,
pois é possível entrar em contato com quase todos que ele
precisa, tendo certeza de que as ações solicitadas serão
realizadas. E o funcionário C cita o e-mail como
ferramenta mais relevante no processo.
A entrevista realizada com os três funcionários
(A, B e C) questionou-os sobre como ocorre o processo de
comunicação interna na Prefeitura Municipal. Os
funcionários A e C informaram que o processo de
comunicação interna não segue um padrão pré-definido.
Ele ocorre de todas as formas entre todas as Secretarias.
O funcionário A destaca que na maioria dos casos,
quando o Decreto ou ofício circular é elaborado, é
entregue somente a um setor e este setor acaba por
replicar e distribuir para outras Secretarias, figura 01.
4.2 NÍVEL DE SATISFAÇÃO DOS FUNCIONÁRIOS EM
RELAÇÃO AO PROCESSO DA COMUNICAÇÃO
INTERNA
Através da aplicação dos questionários buscouse analisar o nível de satisfação dos funcionários ativos da
Prefeitura Municipal.
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REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
Os questionários foram elaborados de forma que
todos os funcionários da Prefeitura Municipal pudessem
respondê-lo. Composto por 19 questões fechadas e uma
aberta, visam buscar informações como idade,
escolaridade, gênero, a Secretaria em que trabalham, o
cargo/função, o conhecimento do entrevistado sobre o
processo de comunicação e as ferramentas utilizados, a
satisfação com o processo, as ferramentas mais
utilizadas e as ferramentas mais preferidas e eficientes.
administrativas. Todos os funcionários trabalham dentro
do palácio municipal, sendo mais fácil de realizar a
cobrança dos questionários distribuídos. O pior retorno foi
na Secretaria de Obras, com 18% dos questionários
distribuídos respondidos. Acredita-se que este resultado
explica-se devido a muitos funcionários que trabalham em
locais afastados da Prefeitura Municipal, retornando
somente para registrar o ponto.
Figura 6:Gênero
O questionário também elencou questões para
mensurar como está o processo de comunicação e as
ferramentas utilizadas, como está a transmissão das
informações, se elas chegam de forma correta e em
tempo de realizar o trabalho, se todas as informações são
repassadas e se os funcionários já ficaram alguma vez
sem receber as informações. Concluído o questionário
com a frequência de utilização das ferramentas, o acesso
ao diálogo com o chefe imediato e a nota para a
comunicação interna da Prefeitura Municipal.
Os questionários foram entregues aos
Secretários para que estes repassassem aos seus
colaboradores, sendo que esta distribuição foi
diferenciada na Secretaria de Saúde e Educação, os
quais foram entregues para os diretores de escolas e
responsáveis por cada ESF. A distribuição foi realizada na
Secretaria de Saúde e Educação de modo diferenciado
pelo fato de apresentar um grande número de
funcionários que trabalha em locais afastados de suas
Secretarias, o que dificultaria a distribuição e a devolução
dos questionários. A cooperação de diretores de escola e
responsáveis pelos ESFs foi essencial para a efetiva
entrega dos mesmos para os seus colaboradores e sua
devolução, garantido um retorno mais expressivo de
questionários.
FONTE: Dados da pesquisa.
Ao observar a figura 06, é possível verificar que
amostra apresentou uma diferença elevada entre número
de homens e de mulheres, sendo 79% dos entrevistados
do gênero feminino e 21% do gênero masculino. Isso
ocorreu devido às Secretarias de Saúde e Educação, que
possuem um número elevado de funcionários em
comparação a outras Secretarias, cujo quadro funcional é
composto por 85% e 93% respectivamente de mulheres,
que atuam como professoras, atendentes de creches,
agentes de saúde, entre outros. Outro fator que
influenciou este resultado foi a participação da Secretaria
de Obras, que possui um grande número de homens, mas
os mesmos não colaboraram com a pesquisa.
Foram entregues 552 questionários aos
funcionários ativos, voltando destes 313 preenchidos (56%),
os quais foram tabulados em planilha eletrônica e
transformados em tabelas e gráficos que serão
apresentados e analisados neste tópico em forma de figura.
Figura 7: Faixa Etária
Figura 5:Número de Pesquisas/Secretaria
FONTE: Dados da Pesquisa.
Sobre a faixa etária, ilustrada na figura 07, a
Prefeitura Municipal possui a maioria dos seus
colaboradores em uma faixa de idade entre os 31 a 50
anos, representando 58% dos funcionários ativos. Já os
que estão entre os 21 a 30 anos representam 22% dos
funcionários; entre os 51 a 60 anos representam 16% dos
funcionários e até os 20 e mais de 61 anos, cada um
representa 2% dos funcionários da Prefeitura Municipal.
FONTE: Dados da Pesquisa.
A figura 05 apresenta o número de funcionários
que responderam os questionários por Secretaria,
apresentando a melhor amostra a Secretaria de
Planejamento com 100% de questionários respondidos,
seguida pela Secretaria da Fazenda com 94% e a
Secretaria de Administração com 91%. Estas Secretarias
apresentaram melhor retorno devido a serem
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Figura 8: Escolaridade
Figura 10: Satisfação com o processo de comunicação
FONTE: Dados da Pesquisa.
FONTE: Dados da Pesquisa.
A figura 08 apresenta a escolaridade dos
funcionários que atuam na Prefeitura Municipal, em que
30% dos funcionários ativos possuem até o Ensino Médio
completo. Este dado se explica devido aos concursos que
na grande maioria das vagas exigem o Ensino Médio
completo. Também se destacou o número de funcionários
com Pós-graduação, que representa 28% do total, o
número de pós–graduados é elevado em função dos
professores que sempre estão se atualizando e também
por causa dos Secretários e Coordenadores que em sua
maioria possuem algum curso de Pós-graduação.
Em relação à figura 09, sobre o conhecimento
das ferramentas utilizadas na Prefeitura Municipal,
obteve-se um resultado positivo, com 80% dos
funcionários afirmativos aos questionamentos contra 20%
que disseram não conhecer as ferramentas de
comunicação. Alguns funcionários anotaram ao lado da
questão que conheciam as ferramentas, mas, em parte.
São muitas as ferramentas utilizadas pela
Prefeitura Municipal, nem todas são de conhecimento e
ou de acesso a todos os funcionários, como, por exemplo,
um operador de máquinas não tem acesso ao computador
no seu local de trabalho, utilizando-se de ferramentas
escritas e pessoais para se comunicar internamente.
Também é possível ressaltar o Ensino Superior
completo com 19% dos funcionários e o Ensino Superior
incompleto com 14% funcionários. Conforme a pesquisa,
e s te s r e s u l ta d o s s e d ã o d e v i d o a o s c a r g o s
comissionados, os CCs, que não possuem estabilidade
na Prefeitura Municipal. Estes buscam qualificação para a
busca de um novo emprego. Também se ressaltou os
cargos administrativos, como, por exemplo, o agente
administrativo, cuja exigência para o cargo é o Ensino
Médio completo, mas muitos declararam ter o Ensino
Superior incompleto ou completo, e também os cargos em
que a exigência mínima é o Ensino Superior completo. Já
os casos que representam 9% dos funcionários da
Prefeitura Municipal são os concursados mais antigos,
cujo concurso permitia que um funcionário fosse admitido
possuindo o Ensino Fundamental completo ou ainda
incompleto.
.
Na figura 10 está representado o resultado do
questionamento sobre a satisfação dos funcionários em
relação ao processo de comunicação interna da Prefeitura
Municipal, em que 61% se declararam como satisfeitos
contra 39% dos funcionários que se declaram não satisfeitos
com a comunicação interna na Prefeitura Municipal.
Salienta-se que muitos funcionários acrescentaram a sua
resposta que estão mais ou menos satisfeitos com o
processo de comunicação interna. Também acrescentaram
que o processo poderia ser melhor.
Neste questionamento, ainda que a maioria
declare satisfeita, existe um grande número de
insatisfeitos com o processo de comunicação.
Figura 9: Conhecimento das ferramentas utilizadas
Figura 11: Ferramentas mais utilizadas
FONTE: Dados da Pesquisa.
FONTE: Dados da Pesquisa.
A figura 11 demonstra quais são as ferramentas
de comunicação mais utilizadas pelos funcionários da
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REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
Prefeitura Municipal, destacando-se o telefone com 25%,
o diálogo com 19% e as reuniões com 19% também
possui um destaque o e-mail com 11%. Os dados
mostram que a maioria dos funcionários utilizam
ferramentas informais como o telefone e o diálogo.
Geralmente são mais rápidas, mas nem sempre as mais
eficientes, pois a informação repassada não fica
registrada, podendo trazer alguns problemas futuros aos
colaboradores e à Prefeitura Municipal. O e-mail já é uma
ferramenta mais segura. Também foram citados outros
meios de comunicação como o processo administrativo, o
Informativo Municipal no rádio, agenda interna, site da
Prefeitura Municipal e whatsapp.
as reuniões com 20 % cada e também o e-mail com 12%.
Os funcionários consideram que as ferramentas de
comunicação que geralmente levam e retornam a
informação mais rapidamente como as mais eficientes.
Geralmente as ferramentas escritas não chegam ao local
de destino, passam por despercebido ou são afixadas no
mural, local em que poucos dão atenção.
Figura 14: Classificação do Processo de comunicação interna
Figura 12: Ferramentas preferidas
FONTE: Dados da Pesquisa.
Já a figura 14 apresenta a classificação do
processo. Como os funcionários consideram o processo
de comunicação interna da Prefeitura Municipal. 44%
consideram o processo de comunicação da Prefeitura
Municipal regular, enquanto 41% consideram o processo
como bom, 8% consideram ruim, 5% muito bom e 2%
muito ruim. A grande maioria dos funcionários ficou no
meio termo tendenciado para bom. Considerando as
respostas deste questionamento é possível observar que
o processo de comunicação precisa ser melhorado.
FONTE: Dados da Pesquisa.
Outro questionamento realizado aos funcionários
foi sobre as ferramentas de comunicação que eles
preferem usar. Conforme a figura 12, as ferramentas
preferidas não mudam muito das ferramentas mais
utilizadas. Isso quer dizer que os funcionários utilizam as
ferramentas que lhes convêm. A figura 12 mostra que 27%
preferem o telefone como ferramenta de comunicação,
20% preferem o diálogo, 19% preferem as reuniões e 13%
preferem o e-mail. As demais ferramentas somam juntas
21% da preferência dos funcionários.
Figura 15: Classificação da utilização das Ferramentas
Figura 13: Ferramentas consideradas mais eficientes
FONTE: Dados da Pesquisa.
Conforme é possível observar na figura 15, que
ilustra as respostas dos funcionários quando
questionados sobre a forma de utilização das ferramentas
de comunicação interna na Prefeitura Municipal, 44%
consideram a utilização das ferramentas boa, mas 41% a
consideram regular, sendo que 9% a consideram ruim, 5%
muito boa e 1% muito ruim. As ferramentas de
comunicação interna vêm sendo utilizadas de forma
correta e estão tendo bons resultados, mas ainda devem
ser melhoradas, pois apresentam uma boa porcentagem
dos funcionários que consideram a utilização destas
ferramentas regular.
FONTE: Dados da Pesquisa.
A Figura 13 ilustra as ferramentas de
comunicação consideradas mais eficientes pelos
funcionários da Prefeitura Municipal. Neste
questionamento também não houve muita mudança em
relação às ferramentas mais utilizadas e as mais
eficientes, alterando a porcentagem, mas não a ordem,
sendo considerado o telefone com 22% a ferramenta mais
eficiente da Prefeitura Municipal, seguido pelo diálogo e
41
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Figura 16: As informações chegam em tempo hábil
uma informação incorreta no setor público pode trazer
sérios problemas ao prefeito, ao contribuinte e ao
funcionário, não podendo ser mais revertidos em função
da lei da transparência. É extremamente importante que
as informações sejam transmitidas e cheguem ao seu
destino de forma correta. 27% dos funcionários admitem
que recebem às vezes informações distorcidas e 4%
responderam que quase nunca receberam informações
incorretas. Já 30% dos funcionários declararam que
sempre receberam a informação correta.
Figura 18: Todas as informações são repassadas
FONTE: Dados da Pesquisa.
A figura 16 apresenta o resultado sobre mais um
questionamento que busca saber se as informações
chegam aos funcionários em tempo hábil para a
realização do trabalho ou tarefa. A maioria, 36%,
responderam que às vezes a informação chega em tempo
hábil para a execução do trabalho. Esse dado é um tanto
preocupante, pois muitas vezes tarefas importantes não
são realizadas devido à uma comunicação falha que não
chega rapidamente e no tempo certo. Já 34%
responderam que quase sempre recebe as informações
em tempo de realizar seu trabalho, 23% informaram que
sempre recebem as informações a tempo de realizar o
trabalho, 6% afirmam que quase nunca recebem as
informações no momento certo e 1% diz que nunca
receberam as informações no tempo correto.
FONTE: Dados da Pesquisa.
A figura 18 ilustra as repostas dos funcionários da
Prefeitura Municipal em relação à pergunta que
questionava se todas as informações necessárias para a
realização do seu trabalho são repassadas. A grande
maioria, 39%, respondeu que quase sempre todas as
informações são repassadas, sendo que 31% considera
que as informações sempre são repassadas em sua
totalidade e 23% respondeu que às vezes recebem todas
as informações necessárias para realizar o seu trabalho;
já 6% respondeu que quase nuca recebe todas as
informações e 1% respondeu que nunca recebeu todas as
informações necessárias para a realização do seu
trabalho. É muito importante que todas as informações
cheguem em sua totalidade ao seu destino. Sem ela, o
funcionário não realizará a atividade solicitada ou realizará
em parte ou de forma não satisfatória.
As informações sempre deveriam chegar a tempo
para que o trabalho seja bem feito e não ocorram transtornos
na organização. Muitas vezes um processo pode ficar
atrasado devido a uma comunicação falha, trazendo
transtornos e prejudicando o andamento deste processo
que, muitas vezes, tem prazo para ser executado. Em vários
casos o tempo perdido vai trazer prejuízos à organização em
questões de qualidade, bem como financeiros.
Figura 17: As informações chegam de forma correta
Muitas vezes esse problema pode estar
relacionado ao processo de comunicação interna falha e
ou às ferramentas inadequadas que estão sendo
utilizados pela Prefeitura Municipal.
Figura 19: Você já ficou sem receber alguma informação
FONTE: Dados da Pesquisa.
Questionados os funcionários sobre as
informações repassadas, se elas chegam de forma
correta, a figura 17 apresenta que 39% dos funcionários
responderam que quase sempre recebem a informação
de forma correta; isto quer dizer que em algumas ocasiões
estes funcionários receberam uma informação que não
condizia com a mensagem do emissor. Em alguns casos,
FONTE: Dados da Pesquisa.
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Figura 20: Frequência da utilização das ferramentas de
comunicação
Figura 22: Nota para a comunicação interna
FONTE: Dados da Pesquisa.
FONTE: Dados da Pesquisa.
Outro questionamento realizado aos funcionários
da Prefeitura Municipal foi sobre o acesso para diálogo
com seu chefe imediato. Conforme a figura 21, 62% dos
funcionários admitem que eles sempre têm acesso para
dialogar com seu chefe imediato. Este resultado se dá
pelo fato de que grande parte dos funcionários que
possuem um cargo de chefia é receptiva e sempre está à
disposição para dialogar com os demais funcionários,
ouvindo-os em todos os momentos.
Ao observar a figura 19 é possível identificar a
posição dos funcionários em relação ao questionamento
que busca saber se os mesmos já ficaram sem receber
alguma informação. Conforme a figura 24, 60% dos
funcionários declararam que já ficaram sem receber alguma
informação importante para a realização de seu trabalho. A
partir destes dados é possível constatar que o processo de
comunicação possui algumas falhas. Já 40% afirmaram que
nunca ficaram sem receber alguma informação que fosse
interessante para a execução do trabalho.
A figura 22 também mostra que 23% dos
funcionários quase sempre tem acesso para dialogar com
seu chefe imediato, 14% às vezes e 1% nunca.
A figura 20 apresenta a frequência em que os
funcionários da Prefeitura Municipal utilizam as
ferramentas de comunicação e 71% responderam que
utilizam as ferramentas diariamente, mostrando que há
necessidade de se comunicar diariamente em um órgão
público, utilizando-se de diversas ferramentas. Quase
todas as ações realizadas na Prefeitura Municipal têm a
necessidade da realização da comunicação entre dois ou
mais setores, pois geralmente um setor não consegue
iniciar a atividade e concluí-la. Ela deve passar por outros
setores para que seja concluída, como, por exemplo, a
compra de uma caneta. A Secretaria tem a necessidade
de adquirir uma caneta nova, então realiza um pedido ao
setor de compras, que gera a ordem de compra que
segue para contabilidade para empenho, volta para o
setor de compra que repassa a ordem empenhada para a
Secretaria que solicitou o pedido, a Secretaria vai ao
comércio retira a caneta e solicita a nota, esta nota vai
para a contabilidade que realiza o pagamento à empresa,
concluindo o processo.
Foi perguntado aos funcionários qual a nota que
mereceria o processo de comunicação da Prefeitura
Municipal: 27% dos funcionários deram nota 7 para o
processo de comunicação; 21% deram nota 8; 15%
deram nota 5 e 6 e 10% deram nota 9. Conforme esta
questão, os funcionários se apresentaram mais satisfeitos
com o processo de comunicação dando uma nota de 7 a
8, uma nota considerada boa para o processo de
comunicação da Prefeitura Municipal.
Figura 21: Acesso para diálogo com o chefe imediato
Figura 24: Resultados por Secretaria
FONTE: Dados da Pesquisa.
FONTE: Dados da Pesquisa.
Para análise da figura 22, é necessário observar
a figura 23, que representa o nível de satisfação.
Figura 23: Nível de Satisfação
FONTE: Dados da Pesquisa.
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REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
Analisando a figura 24, os funcionários de todas
as Secretarias dizem conhecer as ferramentas de
comunicação utilizadas pela Prefeitura Municipal,
destacando-se com o pior resultado entre as Secretarias,
a Secretaria de Obras, com 67%, e a Secretaria de Saúde,
com 71% dos funcionários que afirmam conhecer as
ferramentas de comunicação interna. A Secretaria de
Obras encontra-se mais isolada das outras e a informação
demora mais para chegar até ela. Muitas vezes a grande
maioria dos funcionários a recebem com atraso, pois
trabalham distantes da sede da Secretaria. O mesmo
caso ocorre com alguns ESFS, que estão mais distantes
da Secretaria de Saúde.
Planejamentos relataram que às vezes recebem a
informação de forma correta e a Secretaria de Educação
afirmou que sempre receberam as informações de forma
correta.
Ainda sobre a informação, nove Secretarias
relataram que quase sempre recebem todas as
informações repassadas, sendo que a Secretaria de
Planejamento e Administração afirmaram que ás vezes
recebem todas as informações e a Secretaria de
Educação relata que sempre recebeu todas as
informações repassadas.
Quando questionados, a maioria dos
funcionários de todas as Secretarias respondeu que já
ficaram sem receber alguma informação que fosse
pertinente a eles.
Em relação à satisfação com o processo de
comunicação interna, seis Secretarias se mostraram
afirmativas: Administração, Desenvolvimento Econômico
e Turismo, Educação, Fazenda, Politicas da Mulher e
Saúde. Três Secretarias empataram, isso quer dizer que
50% dos funcionários responderam que estão satisfeitos
e 50% responderam que não estão satisfeitos com o
processo de comunicação interna da Prefeitura Municipal.
Já os insatisfeitos com o processo foram a Secretaria de
Agricultura, Desenvolvimento Social e a Secretaria de
Obras novamente.
Sobre o acesso ao diálogo com o superior
imediato, quase todas as Secretarias responderam que
sempre tiveram acesso, menos os funcionários da
Secretaria de Habitação e Urbanismo, que informaram
que quase sempre têm acesso para diálogo com o seu
superior imediato.
Em relação à nota ao processo de comunicação,
a grande maioria das Secretarias deu sete, exceto as
Secretarias de Agricultura e Obras, que deram nota cinco
e a Secretaria de Saúde, que deu nota oito.
As Secretarias que se apresentaram como
insatisfeitas com o processo de comunicação o
classificaram como regular, também classificaram como
regular as Secretarias de Administração, Habitação e
Urbanismo, Planejamento e Saúde. Já as Secretarias de
Educação Gabinete do Prefeito, Desenvolvimento
Econômico e Turismo e Políticas da Mulher consideraram
o processo de comunicação interna como bom.
Analisando os resultados, as Secretarias de
Administração, Agricultura, Desenvolvimento Social,
Habitação e Urbanismo, Obras e Planejamento são as
mais insatisfeitas com o processo de comunicação
interna. As Secretarias de Agricultura, Desenvolvimento
Social e Obras estão mais insatisfeitas com o processo e
ferramentas. Já as Secretarias de Administração,
Planejamento e Habitação e urbanismos estão mais
insatisfeitos com o processo, mas ressaltando a
insatisfação com a informação.
Em relação às ferramentas, também as
Secretarias Agricultura, Desenvolvimento Social e a
Secretaria de Obras, que se demonstram insatisfeitos
com o processo de comunicação, consideraram o uso das
ferramentas de comunicação interna regular. As
Secretarias de Administração, Desenvolvimento
Econômico e Turismo, Habitação e Urbanismo, Fazenda,
Gabinete do Prefeito, Planejamento, que se mostraram
satisfeitas com o processo de comunicação classificaram
o uso das ferramentas como regular. Já as Secretarias de
Educação, Políticas da Mulher, e Saúde consideram o uso
das ferramentas bom.
Acredita-se que a insatisfação se sobressaiu nas
Secretarias de Obras, Desenvolvimento Social e
Agricultura pelo fato da grande maioria destes
funcionários trabalharem longe da sede da Secretaria e
muitos a campo. Já nas Secretarias de Administração,
Planejamento, e Habitação e Urbanismo a insatisfação se
explica pelo fata destas Secretarias trabalharem com
muita informação oriunda de outras Secretarias que
geralmente atrasam ou chegam incorretas atrapalhando a
execução das tarefas das mesmas.
Sobre a informação, oito Secretarias informaram
que às vezes recebem a informação em tempo hábil para
a realização do seu trabalho, são elas: Administração,
Agricultura, Desenvolvimento Social, Fazenda, Gabinete
do Prefeito, Habitação e Urbanismo, Obras e Saúde. Já as
Secretarias de Desenvolvimento Econômico e Turismo,
Educação e Políticas da Mulher responderam que quase
sempre recebem a informação em tempo hábil para a
realização do trabalho. A Secretaria de Planejamento
informou que quase nunca recebe as informações em
tempo hábil para a realização do trabalho.
Observando de um modo geral, após análise de
todos os gráficos e os dados específicos de cada
Secretaria, considera-se o nível de satisfação com o
processo de comunicação interna na Prefeitura Municipal
entre regular a bom.
4.3 AÇÕES E MELHORIAS
Em relação ao conteúdo da informação, os
funcionários de seis Secretarias relataram que quase
sempre recebem as informações de forma correta, são
elas: Agricultura, Desenvolvimento Econômico e Turismo,
Fazenda, Gabinete do Prefeito, Politicas da Mulher e
Saúde. Já as Secretarias de Administração,
Desenvolvimento Social, Habitação e Urbanismo, Obras e
O processo de comunicação interna na Prefeitura
Municipal foi considerado pelos funcionários como regular
a bom, apresentando pontos positivos e negativos.
Pontos Fortes
- O conhecimento das ferramentas de
44
REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
comunicação interna?”. A resposta à problemática está
evidente na análise e discussão dos resultados. A mesma
pode ser visualizada nas figuras 14, 16, 17, 18 e 22. Na
figura 14 foi observado que 44% consideraram o processo
de comunicação da Prefeitura Municipal regular e 41%
consideram o processo como bom, 8% consideram ruim,
5% muito bom e 2% muito ruim. Já na figura 16 a maioria,
36%, respondeu que às vezes recebe a informação em
tempo hábil para a execução do trabalho. Esse dado é
preocupante, pois muitas vezes tarefas importantes não
são realizadas devido a uma comunicação falha que não
chega rapidamente e no tempo certo. Ainda na figura 16,
34% respondeu que quase sempre recebe as
informações em tempo de realizar seu trabalho, 23%
informou que sempre recebe as informações a tempo de
realizar o trabalho, 6% indagaram que quase nunca
recebem as informações no momento certo e 1% diz que
nunca receberam as informações no tempo correto. Em
relação à figura 17, 39% dos funcionários responderam
que quase sempre recebem a informação de forma
correta. Isto quer dizer que em algumas ocasiões estes
funcionários receberam uma informação que não condizia
com a mensagem do emissor, 27% dos funcionários
admitem recebem às vezes informações distorcidas e 4%
responderam que quase nunca receberam informações
incorretas. Já 30% dos funcionários declararam que
sempre receberam a informação correta. E a figura 18 a
grande maioria dos funcionários, 39%, respondeu que
quase sempre todas as informações são repassadas,
sendo que 31% considera que as informações sempre
são repassadas em sua totalidade e 23% respondeu às
vezes recebem todas as informações necessárias para
realizar o seu trabalho, 6% respondeu que quase nuca
recebe todas as informações e 1% respondeu que nunca
recebeu todas as informações necessárias para a
realização do seu trabalho.
comunicação pelos funcionários, pois a grande maioria se
mostrou ciente das ferramentas que estão sendo
utilizadas.
- As ferramentas utilizadas são as preferidas
pelos funcionários e também são consideradas eficientes.
- A utilização das ferramentas foi classificada
como boa pelos funcionários entrevistados.
- O acesso para diálogo com o chefe superior foi
considerado muito bom, sendo que a grande maioria dos
funcionários declarou ter acesso para diálogo.
Pontos Fracos
- A classificação do processo de comunicação foi
considerada pelos funcionários como regular.
- As informações em sua grande maioria não
chegam em tempo hábil para a realização do trabalho.
- A informação nem sempre chega em sua
totalidade ou corretamente ao receptor.
- Muitos funcionários declaram que em algum
momento já ficaram sem receber alguma informação.
Ações e Melhorias
Seria importante que a Prefeitura Municipal
desenvolvesse um processo de comunicação adaptável a
todas as Secretarias com ferramentas definidas e que são
de acesso a todos os funcionários. O processo de
comunicação interna deveria ter um começo, meio e fim,
sempre utilizando o feedback, o qual não é utilizado
atualmente. O emissor nunca sabe como as informações
chegaram ao receptor.
Também é possível visualizar a reposta do
problema na figura 22, em que 27% dos funcionários
deram nota 7 para o processo de comunicação, 21%
deram nota 8, 15% deram nota 5 e 6 e 10% deram nota 9.
Conforme esta questão, os funcionários se apresentaram
mais satisfeitos com o processo de comunicação, dando
uma nota de 7 a 8, uma nota considerada boa para o
processo de comunicação da Prefeitura Municipal.
Analisando o objetivo geral e os objetivos
específicos propostos inicialmente no trabalho, pôde-se
verificar que todos foram plenamente alcançados no
decorrer do estudo.
Poderia ser utilizado um processo de
comunicação padrão, mas não inadaptável, pois algumas
Secretarias necessitaram de alguma adaptação conforme
as atividades que realizam e as suas necessidades.
O processo, após definido juntamente com suas
ferramentas, deverá ficar visível a todos os funcionários,
para que os mesmos o conheçam e o utilizem da mesma
forma.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo geral do presente estudo, que teve
como intuito identificar através de uma pesquisa
informações para analisar o nível de satisfação do
processo de comunicação interna na Prefeitura Municipal,
está representado na análise e discussão dos resultados.
O presente estudo teve como tema “Analisar o
nível de satisfação dos funcionários ativos com o
processo de comunicação interna em uma Prefeitura
Municipal , localizada na Região Noroeste – RS no
período de setembro a dezembro de 2014”. Para a
elaboração foram percorridos os passos que incluíram
pesquisas referenciais e práticas, concluindo-se com o
artigo ora apresentado. Ressalta-se que o estudo
envolveu todos os funcionários ativos da Prefeitura
Municipal que se disponibilizaram a responder questões
relacionadas com a comunicação interna.
O primeiro objetivo deste estudo que visava
apresentar como ocorre o processo de comunicação
interna, também foi alcançado, como pode ser visto pelos
resultados representados no item 4.1, figuras 1, 2, 3 e 4.
O segundo objetivo era identificar as ferramentas
de comunicação interna utilizadas também foi alcançado e
pode ser visualizado no item 4.1, e no item 4.2, figura 11.
Para conduzir a pesquisa e definir a análise,
antes de responder o problema do estudo, definiu-se o
mesmo como: “Qual o nível de satisfação dos funcionários
ativos da Prefeitura Municipal em relação ao processo de
O terceiro objetivo do estudo era mensurar o nível
de satisfação dos funcionários em relação ao processo da
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REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
MAXIMIANO, Antonio Cesar Amaru. Introdução à
Administração. 5º ed. São Paulo: Atlas, 2000. ISBN:
8522421641.
comunicação interna, também foi alcançado, o que pode
ser visualizado no item 4.2, figuras 14, 16, 17, 18, 19 e 22.
O quarto e último objetivo do trabalho era propor
ações no processo de comunicação, sendo este
alcançado e visualizado no item 4.3.
_____________Introdução à comunicação. 6° ed. São
Paulo: Atlas, 2004. ISBN: 8522436274.
PIMENTA, Maria Alzira. Comunicação Empresarial.
Campinas, SP: Alínea, 2006. ISBN: 8586491330.
Com as respostas dos objetivos específicos foi
possível identificar o nível de satisfação dos funcionários
ativos da Prefeitura Municipal com o processo de
comunicação interna o qual se encontra entre regular a bom.
PINHO, José Benedito. Comunicação nas
Organizações. Viçosa: UFV, 2006. ISBN: 8572692290.
As entrevistas realizadas com três funcionários
anteriormente selecionados, as quais foram realizadas de
forma direta. Os questionários abrangeram um número
considerável de funcionários, o que deu uma maior
confiabilidade aos resultados obtidos. Os funcionários que
participaram da pesquisa se sentiram valorizados ao
perceber que também são foco de estudo acadêmico e
que a sua opinião referente às questões comunicação
interna desperta interesse e que o resultado pode
influenciar em decisões que podem vir a beneficiá-los.
TAVARES, Maurício. Comunicação empresarial e
planos de comunicação: integrando teoria e prática.
São Paulo: Atlas, 2007. ISBN: 9788522447831.
Estudos acadêmicos proporcionam grandes
oportunidades para o desenvolvimento e enriquecimento,
tanto de parte da pós-graduanda, como dos funcionários
da Prefeitura Municipal de Três de Maio. Ao término desse
trabalho, é possível afirmar que o tema estudado é
atualmente de extrema importância para alcançar bons
resultados em qualquer tipo de organização. Depois de
cumpridos os objetivos estipulados inicialmente e certo de
que mesmo ainda havendo um grande campo a ser
explorado com relação a esse tema, a autora tem o
sentimento do dever cumprido.
O resultado obtido após as pesquisas realizadas
foi muito significativo para a pós-graduanda, pois
proporcionou um conhecimento amplo sobre o assunto
abordado e envolveu quase todos os funcionários da
Prefeitura Municipal, pois fez com que as pessoas
pensassem um pouco sobre a situação que se encontra a
comunicação interna em seu ambiente de trabalho. Fica o
desafio para futuros trabalhos que possam surgir
envolvendo assuntos citados servindo como base de
pesquisa ou até mesmo complementação mais
aprofundada de algum dos temas aqui expostos.
REFERÊNCIAS
ANDRADE, Rui Otávio Bernardes de; AMBONI, Nério.
Teoria Geral da Administração: Das origens às
perspectivas contemporâneas. São Paulo: M Books do
Brasil, 2007. ISBN: 857680011.
ARAUJO, Luis César G de. Gestão de Pessoas. São
Paulo: Atlas, 2006.ISBN: 8522442029.
CHIAVENATO, Idalberto. 2005. Gerenciando com as
pessoas: transformando o executivo em um
excelente gestor de pessoas: um guia para o
executivo aprender a lidar com sua equipe de
trabalho. 1 ed. Rio de Janeiro: Elsevier. ISBN:
8535216294.
_________, Idalberto. 2009. Recursos humanos: o
capital humano das organizações. 9 ed. Rio de Janeiro:
Elsevier. ISBN: 9788535233186.
46
REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
SEGURANÇA E MEDICINA DO TRABALHO EM UMA EMPRESA FAMILIAR
Cecília Smaneoto¹
Francine Fernandes²
SETREM³
RESUMO
O estudo consiste numa descrição acerca da Segurança e
Medicina do Trabalho, realizado em uma empresa familiar
atuante no setor de venda e prestação de serviços de
tintas, localizada no município de Três de Maio – RS,
visando analisar os níveis de compreensão, aceitação e
observância das normas de Segurança e Medicina do
Trabalho, demonstrando a importância e as formas de
prevenção, treinamento e necessidade desse
conhecimento, tanto por parte dos funcionários como
também dos gestores da empresa. Desenvolveu-se uma
pesquisa predominantemente qualitativa em forma de
estudo de caso, na qual se buscou responder ao
problema de pesquisa: Quais são os níveis de
compreensão, aceitação e observância das normas
relacionadas à Segurança e Medicina do Trabalho, por
parte dos funcionários e gestores da empresa? O estudo
de caso se justificou pela escassez de material acerca do
assunto, sendo os manuais e livros existentes
insuficientes para expor a importância do tema. Portanto,
para contemplar os dados reais da empresa, foram
aplicados questionários com perguntas fechadas aos
funcionários e gestores. Percebeu-se a necessidade de a
empresa implantar e assegurar a melhoria contínua dos
métodos de prevenção e de conscientização. O estudo
possibilitou apontar sugestões que podem ser
apresentadas aos gestores visando contribuir na área de
segurança e medicina do trabalho, objetivando a
promoção da saúde e a qualidade de vida.
ABSTRACT
The study consists of a description about Safety and
Occupational Health, held in an active familiar company in
the sale and delivery sector of services of paints located in
the city of Três de Maio - RS, aiming to analyze the levels
of understanding, acceptance and observance standards
of Safety and Occupational Medicine, demonstrating the
importance and ways of prevention, training and need this
knowledge, both by employees as well as managers of the
company. A predominantly qualitative research in a form of
study case was developed, in which it was searched for
answering the research problem: What are the levels of
understanding, acceptance and compliance related to
Occupational Health and Safety standards on the part of
employees and managers of the company? The study
case is justified by the lack of material on the subject, and
the manuals and books insufficient to explain the
importance of the topic. Therefore, to contemplate the
actual company data, questionnaires with closed
questions were applied to employees and managers of the
company. It was noticed the need for the company to
implement and ensure continuous improvement of
methods of prevention and awareness. The study enabled
point suggestions that can be presented to managers to
contribute in the area of Safety and Occupational Health,
aimed at promoting health and quality of life.
Keywords: Safety and occupational medicine.
Prevention. Awareness.
Palavras-chave: Segurança e medicina do trabalho.
Prevenção. Conscientização.
esforços através de treinamentos para mostrar como o
colaborador deve proceder para evitar acidentes e, assim,
melhorar o desempenho na produção. Com a importância
dada ao colaborador, surgiram manuais de legislação e
treinamentos para orientar a segurança do trabalho,
ações preventivas para conscientizar a importância da
prevenção tanto no ambiente de trabalho como fora dele.
A redução de acidentes acarreta a redução dos custos em
relação ao absenteísmo, a rotatividade ao desempenho
produtivo. Para os funcionários e familiares traz maior
motivação, maiores perspectivas e segurança.
1. INTRODUÇÃO
As empresas têm diversas obrigações para com
seus colaboradores, sendo de grande importância a
questão dos acidentes e o cumprimento das normas da
Medicina e Segurança do Trabalho, que fazem parte do
dia-a-dia das pessoas e são determinantes e
indispensáveis para o desempenho das tarefas. Em geral,
as pessoas passam a maior parte do seu tempo nos locais
de trabalho e o ambiente é decisivo para a qualidade de
vida no trabalho (QVT). Isso influenciará na qualidade da
produção, na quantidade produzida e no grau de
motivação dos funcionários. Portanto, as organizações
devem disponibilizar os equipamentos e as condições
estruturais necessárias ao bom desempenho das
atividades, assim como os colaboradores devem evitar
atos inseguros e sobrecarga de tarefas.
É neste cenário que surge a ideia de prevenção
buscando através de medidas de segurança eliminar ou
aliviar as consequências dos acidentes nos locais de
trabalho, o cumprimento destas medidas depende da
capacitação e da formação dos trabalhadores, cabendo
aos médicos, engenheiros, psicólogos, técnicos de
segurança no trabalho, enfermeiros a fiscalização e o
Sendo assim, a organização deve concentrar
¹ Professora orientadora
² Acadêmica do curso de Administração
³ Sociedade Educacional Três de Maio - SETREM, Av. Avaí, 370, Três de Maio – RS, e-mail: [email protected].
47
REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
acesso de informações a respeito da importância de obter
saúde e segurança no trabalho.
O método de abordagem, caracterizado por
Lakatos e Marconi (2001) como uma abordagem mais
ampla em nível de abstração mais elevado dos
fenômenos da natureza e da sociedade foram utilizados
para descrever a complexidade do problema e interpretar
as particularidades dos comportamentos ou atitudes
individuais, sendo eles o método dedutivo que de acordo
com Lovato, Evangelista e Gullich (2007) é uma
modalidade de raciocínio lógico que faz uso da dedução
para obter uma conclusão através de determinados
objetivos e o método qualitativo, justificada pelos mesmos
autores como “expressa através da subjetividade dos
resultados da pesquisa”.
Desta forma, este artigo tem como intuito
descrever sobre a Segurança e Medicina do Trabalho em
uma empresa familiar Bazar das Cores localizada no
município de Três de Maio – RS, visando analisar os
níveis de compreensão, aceitação e observância das
normas de Segurança no Trabalho, demonstrando a
importância e as formas da prevenção, capacitação e
treinamento.
2. MÉTODOS E TÉCNICAS DE PESQUISA
As etapas mais concretas da investigação, com a
finalidade mais restrita em termos de explicação geral dos
fenômenos abstratos, caracterizaram-se pela pesquisa
descritiva e estudo de caso.
Toda pesquisa se inicia com algum tipo de
problema ou indagação, conforme nos apresenta Gil
(2002). O problema que se deseja solucionar no estudo é:
Quais são os níveis de compreensão, aceitação e
observância das normas relacionadas à Segurança e
Medicina do Trabalho, por parte dos funcionários e
gestores da empresa?
Os procedimentos organizacionais que servem
de medição prática para a realização da pesquisa são, de
acordo com Lovato, Evangelista e Gullich (2007) as
chamadas técnicas. No presente estudo utilizaram-se a
técnica da coleta de dados, a observação e a entrevista.
Na entrevista foram elaboradas treze questões
fechadas entregues aos funcionários da empresa e doze
questões fechadas entregues aos gestores.
Corroborando Pinheiro (2010), os objetivos
identificam aquilo que se pretende fazer, medir ou provar
no decorrer do estudo, bem como aquilo que se pretende
alcançar. O presente estudo tem como objetivo geral
demonstrar a importância da segurança e medicina do
trabalho dentro da empresa em estudo. Através do
objetivo geral, chegou-se aos seguintes objetivos
específicos:
3. CAMINHO METODOLÓGICO
3.1SAÚDE E SEGURANÇA DO TRABALHO
- verificar o conhecimento por parte dos
funcionários e gestores da empresa sobre o assunto em
questão;
Segundo Araujo (2006), a saúde no trabalho tem
o compromisso de prevenir acidentes, analisando sua
ocorrência e trabalha no sentido da redução ou eliminação
das doenças ocupacionais e dos riscos acidentais. Além
disso, a saúde no trabalho visa manter a integridade física
e mental dos colaboradores, sempre com a intenção de
comportar um bom exercício dos serviços em um
ambiente benéfico e propício ao seu desenvolvimento.
- analisar o uso de epi's e a sua disponibilidade na
empresa;
- incentivar a melhoria contínua da segurança e
medicina do trabalho;
A saúde apresenta como formação e
complemento de seus objetivos, três conceitos que
explicam como ela é aplicada dentro das organizações,
sendo eles: promoção adequada nas condições
ambientais; controle dos fatores causadores de doenças;
prevenção, redução e eliminação das causas prejudiciais.
- promover a qualidade de vida no trabalho;
- conscientizar os funcionários e gestores da
empresa sobre a importância do tema abordado.
Para todo o estudo há uma justificativa que, de
acordo com Pinheiro (2010), deve ser clara e breve,
explicando a protuberância de se realizar a pesquisa e a
situação atual do conhecimento sobre o tema.
Já a segurança do trabalho tem como objetivo
manter e assegurar as estruturas da organização e que os
procedimentos executados durante a jornada de trabalho
estejam corretos, ou seja, garantir que as pessoas se
encontrem em um ambiente de trabalho seguro.
A venda e a prestação de serviço no ramo da
pintura estão cada vez mais escassas; atualmente não se
encontra mão-de-obra que atenda às expectativas do
contratante. Além disso, as empresas que ainda oferecem
esses serviços investem pouco ou quase nada no
treinamento e monitoramento de seus funcionários no que
se refere à segurança e medicina do trabalho, tema este
que deveria estar presente no dia-a-dia dos
trabalhadores.
De acordo com Araujo (2006), a segurança do
trabalho coloca como concepção e complemento de seus
objetivos, três condições as quais se referem de que
maneira ela é aplicada nas organizações: identificação
das principais causas; correção e manutenção das
estruturas físicas e prevenção, redução e eliminação dos
acidentes.
Assim posto, é de significativa importância a
realização de estudos sobre este tema para gerar o maior
número de informações possíveis, permitindo aos
gestores e funcionários da empresa melhorarem o seu
conhecimento sobre a segurança e medicina do trabalho,
garantindo, assim, uma qualidade de vida adequada.
3.2 ERGONOMIA
Conforme Costa e Costa (2009), a ergonomia
estuda a adaptação do ambiente de trabalho às condições
psicológicas e fisiológicas necessárias para os indivíduos,
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REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
Ÿ doença do trabalho (as doenças causadas
pelas condições do trabalho).
avaliando e projetando os postos de trabalho, seus
processos, equipamentos, sempre considerando e
projetando os postos de trabalho.
O acidente de trabalho se deve principalmente a
duas causas:
O objetivo da ergonomia não está limitado a
fatores do trabalho determinados pelas atividades; porém,
a sua principal finalidade é a melhoria das condições de
trabalho, garantindo ao trabalhador o bem estar durante
as atividades, evitando que o trabalho se constitua em um
risco para a saúde física e psicológica das pessoas.
I ato inseguro: é o ato praticado pelo homem, em
geral consciente do que está fazendo, que está contra as
normas de segurança.
II condição insegura: é a condição do ambiente
de trabalho que oferece perigo e ou risco ao trabalhador.
3.3 SEGURANÇA DO TRABALHO
Segundo Costa e Costa (2009), segurança são
técnicas aplicadas para garantir a proteção individual de
acidentes de trabalho, agindo sobre equipamentos,
instalações, locais de trabalho e processos, localizando
os agentes de risco, analisando e aplicando ações de
proteção e correção.
Figura 1: Processo de prevenção de acidentes
Corroborando Chiavenato (2010), dependendo
do esquema de organização da empresa, os serviços de
segurança têm a finalidade de estabelecer normas e
procedimentos, pondo em prática os recursos possíveis
para a prevenção de acidentes e controlando os
resultados obtidos. Muitos serviços de segurança não
obtêm resultados, e até mesmo fracassam porque não
foram devidamente desenvolvidos em seus vários
aspectos. O programa de segurança deve ser
estabelecido partindo-se do princípio de que a prevenção
de acidentes é alcançada pela aplicação de medidas de
trabalho adequadas e que só podem ser bem aplicadas
por meio de trabalho de equipe.
FONTE: Araujo, 2006.
Na figura 1 estabelecem-se resumidamente os
processos de prevenção de acidentes que conforme
Araujo (2006) estão presentes na segurança do trabalho
das organizações.
Para garantir a segurança dos trabalhadores, as
organizações estão investindo em programas de baixo
custo e de fácil aplicação, como palestras, treinamentos,
internet, implantação de sistemas e monitoramento, entre
outros. Reduzindo, assim, acidentes e doenças
decorrentes do trabalho e demonstrando ao empregado a
sua importância dentro da organização.
A maioria das organizações urbanas
brasileiras está isenta da atribuição formal de
ter em seus quadros a formação de serviços
ligados à saúde e segurança do trabalho. Isso
porque o número total de trabalhadores
empregados não é igual ou superior a 20 ou a
50, o que obrigaria a organização a formar
CIPA (Comissão Interna de Prevenção de
Acidentes) e SESMT (Serviço Especializado
em Engenharia de Segurança e em Medicina
do Trabalho), respectivamente,
independentemente do grau de risco da
atividade principal. Entretanto, a legislação é
bem clara ao expressar que em qualquer
estabelecimento que empregue trabalhador –
ou seja, mesmo para um único trabalhador –
o administrador terá a obrigação de fazer
cumprir as determinações relativas a
temática. (FILHO, 2001, P. 102)
3.3.1Comissão interna de prevenção de acidentes - CIPA
De acordo com Filho (2001), o objetivo da CIPA é a
prevenção de acidentes, buscando eliminar os riscos
através de solicitações à direção da empresa para adequar
a mesma às normas de segurança, higiene e medicina do
trabalho. Sendo assim, os seus membros fiscalizam e
protegem os demais funcionários, além de participar das
medidas de segurança e orientar os colegas quanto à
postura correta de como reagir aos métodos de segurança
no trabalho. Algumas das atribuições dos membros da CIPA
são: reuniões periódicas; programação de planos que visem
à proteção da saúde; sugestão de fiscalização;
conscientização de todos os colaboradores da importância
da higiene, medicina e segurança no trabalho; sugerir ou
reclamar destas questões aos superiores; promover todos
os anos o encontro da Semana Interna de Prevenção de
Acidentes do Trabalho (SIPAT) juntamente com o Serviço
Especializado em Engenharia de Segurança e Medicina do
Trabalho (SESMT).
Equiparam-se aos acidentes de trabalho:
Ÿ o acidente que acontece quando você está
prestando serviços por ordem da empresa fora do local de
trabalho;
Ÿ o acidente que acontece quando você estiver
em viagem a serviço da empresa;
3.3.2Serviço especializado em engenharia de
segurança e medicina do trabalho - SESMT
Ÿ o acidente que ocorre no trajeto entre a casa e
o trabalho ou do trabalho para casa;
Segundo Filho (2001), este serviço visa à saúde
e à integridade do trabalhador no ambiente de trabalho.
Tem a finalidade de prevenção, sendo integrados por
Ÿ doença profissional (as doenças provocadas
pelo tipo de trabalho);
49
REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
Figura 2: Exemplos de desgastes no trabalho em cada categoria
profissionais e empregados. É composto por médico,
engenheiro de segurança, enfermeiro, auxiliar de
enfermagem e técnico de segurança no trabalho. A sua
obrigatoriedade está condicionada ao número de
e m p r e g a d o s e a o r i s c o d a a t i v i d a d e . Te m
responsabilidade técnica, cabendo à CIPA comunicar as
irregularidades e aguardar a ação ou omissão da
SESMET e da empresa. O que ocorre em grande parte
das empresas é que os membros da SESMET são
empregados da empresa, o que limita os mesmos a só
avaliar tecnicamente os sintomas, sem procurar a causa
dos acidentes de trabalho. Contudo, o SESMET tem
auxiliado a CIPA, pois ambos buscam a prevenção de
acidentes ou doenças no trabalho.
FONTE: SPECTOR, 2005, p. 432
3.4 SAÚDE OCUPACIONAL
3.5 MEDICINA DO TRABALHO
“A saúde ocupacional é a ciência que trata do
reconhecimento, da avaliação e do controle dos riscos
ocupacionais”. (VIEIRA, 2005, P. 42)
Segundo MasterMed (2012), a medicina do
trabalho é a especialidade médica que lida com as
relações entre homens e mulheres trabalhadores e seu
trabalho, visando não somente a prevenção dos acidentes
e das doenças de trabalho, mas a promoção da saúde e
da qualidade de vida. Tem por objetivo assegurar ou
facilitar aos indivíduos e ao coletivo de trabalhadores a
melhoria contínua das condições de saúde, nas
dimensões física e mental, e a interação saudável entre as
pessoas e estas com seu ambiente social e o trabalho.
Saúde é a ausência de doença, sendo que o
ambiente de trabalho pode provocas doenças, causadas
pelos agentes agressores presentes no ambiente de
trabalho, conforme afirma Chiavenato (2010). Não
somente as doenças podem prejudicar a saúde do
trabalhador, mas também os acidentes de trabalho e o
estresse emocional.
A medicina do trabalho está construída sobre
dois pilares: a Clínica e a Saúde Pública. Sua ação está
orientada para a prevenção e para a assistência do
trabalhador vítima de acidente, doença ou de
incapacidade relacionados ao trabalho e, também, para a
promoção da saúde do bem estar e da produtividade dos
trabalhadores, suas famílias e a comunidade.
Porém, a saúde não deve ser limitada à ausência
de doença, como afirma Signorini (2000), mas deve ser
compreendida como o equilíbrio entre o bem-estar físico,
mental e social.
Segundo Webster (2005), os principais agentes
agressores que fazem parte do ambiente de trabalho são:
3.6 QUALIDADE DE VIDA
Ÿ Riscos físicos: temperatura, ruído, umidade,
pressões anormais, radiação ionizantes e não-ionizantes,
iluminação, ventilação, conforto, etc.
O corpo humano necessita estar em equilíbrio,
desfrutando de saúde física, mental, psíquica e
emocional, como afirma Sell (2005). Para isso, é preciso
garantir atividade física em condições adequadas, uma
boa alimentação, sono para alívio das tensões e cargas a
que o individuo está sujeito durante o seu dia-a-dia.
Ÿ Riscos químicos: gases, vapores, poeiras,
fumos, névoas, produtos químicos em geral.
Ÿ Riscos biológicos: vírus, bactérias, fungos,
parasitas, protozoários, bacilos, etc.
Araujo (2006) se refere a um mundo em
mudanças, quebra de padrões, novidades nos mais
variados campos da gestão de pessoas. Tudo isso é uma
verdade. Há poucos anos não se encontraria pessoas da
organização e seus superiores em uma mesma mesa
conversando sobre novos caminhos para as
organizações. Hoje a luta é pela manutenção do emprego
e sucesso das organizações.
Ÿ Riscos ergonômicos: postura, esforço físico,
ritmo de trabalho, transporte de peso.
Alguns ambientes de trabalho são tão perigosos
que as melhorias são exigidas por lei, conforme afirmam
Milkovick e Boudreau (2000). Uma das formas
encontradas pelas empresas é a indenização mediante
programas de remuneração e seguros, porém, uma forma
alternativa mais eficiente e com um custo menor é a
prevenção, em que são realizadas reestruturações para
diminuir os riscos de acidentes, além de treinamentos
para a segurança e prêmios para recordes de redução de
acidentes de trabalho.
3.7 QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO
Segundo Chiavenato (2009), não são apenas as
condições físicas de trabalho que importam. As condições
sociais e psicológicas também fazem parte do ambiente
de trabalho. Recentemente pesquisas comprovaram que,
para alcançar qualidade e produtividade, as organizações
precisam ser dotadas de pessoas participantes e
motivadas nos trabalhos que executam e recompensadas
adequadamente por sua contribuição. Assim, a
competitividade organizacional passa obrigatoriamente
pela qualidade de vida no trabalho. Para atender ao
cliente externo não se deve esquecer o cliente interno. A
50
REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
gestão da qualidade total em uma organização depende
fundamentalmente da otimização do potencial humano. E
isso depende de quão bem se sentem as pessoas
trabalhando dentro da organização.
a) adquirir o adequado ao risco de cada atividade;
b)exigir seu uso;
c) fornecer ao trabalhador somente o aprovado
pelo órgão nacional competente em segurança e saúde no
trabalho;
A qualidade de vida no trabalho representa o
grau em que os membros da organização são capazes de
satisfazer suas necessidades pessoais através de sua
atividade na organização. Conforme Chiavenato (2009),
diversos fatores para a qualidade de vida no trabalho são
observados, tais como: a satisfação com o trabalho
executado, possibilidades de futuro na organização,
reconhecimentos pelos resultados alcançados, o salário
percebido, benefícios auferidos, relacionamento humano
dentro do grupo e da organização, ambiente psicológico e
físico de trabalho, liberdade de decidir, possibilidades de
participar, entre outros. Além dos aspectos intrínsecos do
cargo, a QVT envolve também os aspectos extrínsecos e
contextuais. Ela afeta atitudes pessoais e
comportamentais importantes para a produtividade,
como: motivação para o trabalho, adaptabilidade e
flexibilidade a mudanças no ambiente de trabalho,
criatividade e vontade de inovar.
d) orientar e treinar o trabalhador sobre o uso
adequado, guarda e conservação;
e) substituir imediatamente, quando danificado
ou extraviado;
f) responsabilizar-se pela higienização e
manutenção periódica.
Cabe ao empregado quanto ao EPI:
a) usar, utilizando-o apenas para finalidade a que
se destina;
b) responsabilizar-se pela guarda e conservação;
3.8 VIDA SAÚDAVEL NO TRABALHO E QUALIDADE DE
VIDA
c) comunicar o empregador qualquer alteração
que o torne impróprio para o uso.
Segundo Sucesso (2002), o termo qualidade de
vida passou a integrar o discurso acadêmico a partir da
década de 90. Tem sido utilizado para avaliar as
condições de vida urbana, transporte, saneamento
básico, lazer e segurança, saúde física, bens materiais.
Cabe ao órgão regional do MTE (Ministério do
Trabalho e Emprego).
a) fiscalizar e orientar quanto ao uso adequado e
qualidade do EPI;
O mesmo autor ainda cita que uma empresa
possui uma série de valores partilhados pela maioria dos
que nela atuam. Quanto mais valores partilhados, mais
forte a cultura da organização. Uma cultura forte influencia
muito o comportamento das pessoas, definindo
claramente o que se espera delas. Quando o clima interno
é de grande concordância entre os membros, isso abre
espaço para um alto comprometimento e identidade com
a organização.
b) recolher amostras de EPI;
c) aplicar as devidas penalidades caso ocorra o
descumprimento de algum requisito.
Os equipamentos de proteção individual se
dividem conforme a área do corpo que necessita de
proteção. São eles:
a) Proteção da cabeça: capuz e capacete.
Conhecer a cultura e o modo como as pessoas
pensam é imprescindível; para isso, análises do clima
organizacional, da qualidade de vida dos colaboradores,
de seus interesses e opiniões, são a chave para uma boa
administração e interação entre todos.
b) Proteção dos olhos: óculos, protetor facial,
máscara de solda.
c) Proteção auditiva: protetor auditivo semiauricular.
3.9 EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL - EPI
d) Proteção respiratória: respirador purificador de
ar, respirador de adução de ar, respirador de fuga.
Segundo o Manual de Segurança e Medicina do
trabalho (2004), considera-se EPI todo dispositivo ou
produto, de uso individual utilizado pelo trabalhador,
destinado à proteção de riscos que ameaçam a
segurança ou a saúde no trabalho. Todo Equipamento de
Proteção Individual, de fabricação nacional ou importado,
só poderá ser posto à venda ou utilizado mediante
indicação do Certificado de Aprovação – CA, expedido
pelo órgão nacional competente em matéria de
segurança e saúde no trabalho do Ministério do Trabalho
e Emprego.
e) Proteção dos membros superiores: luva de
segurança (o material varia conforme a necessidade.
Choques elétricos, agentes biológicos, material cortante,
etc), creme protetor, manga, braçadeira, dedeira.
f) Proteção para os membros inferiores: calçados
(o material varia conforme a necessidade), meia, perneira,
calça.
g) Proteção do corpo inteiro: macacão.
A empresa é obrigada a fornecer aos
empregados, gratuitamente, EPI adequado e em pleno
estado de conservação e funcionamento. Cabe ao
empregador quanto ao EPI:
h) Proteção contra quedas com diferença de
nível: dispositivo trava-queda, cinturão.
51
REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
A figura 3 demostra que 94% dos respondentes
ao questionário são instruídos pelos gestores quanto à
precaução a tomar no sentido de evitar acidentes de
trabalho ou doenças ocupacionais, e 6% responderam
que não são instruídos.
4.1 HISTÓRICO DA EMPRESA
A empresa Bazar das Cores é conceituada na
venda e prestação de serviços no ramo da pintura e
acabamentos de casas novas e antigas, prédios,
apartamentos, entre outros, tanto internamente como
externamente, trabalhando no ramo há mais de quatro
anos, sendo que seu co-fundador, Luis Celso Moreira de
Camargo (mais conhecido como Chopp), tem mais de 25
anos de experiência na prestação de serviço.
Tem como sócios fundadores Geneci Miranda da
Mota Camargo e Luis Celso Moreira de Camargo. A
empresa deu início as suas atividades na Rua Travessa
Pedro Garrafa nº 221 no dia 15 de março de 2011,
mudando-se após dois anos para o endereço Rua
Horizontina nº 1153, e, no inicio do ano de 2015, adquiriu
sua sede própria, que fica na Rua São Paulo nº 383,
6
Centro de Três de Maio – RS.
Figura 3: Instrução aos empregados por parte dos gestores
FONTE: Fernandes, Smaneoto, 2015.
A empresa surgiu através da iniciativa de um dos
três filhos do casal, Marcelo de Camargo. Marcelo
procurou se informar a respeito de toda a parte contábil,
marketing, local, financiamento, entre outros. Após
definidos todos os procedimentos iniciais, o casal, ainda
um pouco indeciso para a abertura, decidiu apostar na
ideia do negócio próprio, vindo este apenas a crescer a
cada ano que passa.
A estratificação referente ao fornecimento dos
Equipamentos de Proteção Individual é confirmada na
figura 4.
Figura 4: Fornecimentos dos Equipamentos de Proteção
Individual
Para a comercialização, a empresa está
equipada com todos os materiais para pintura, as mais
conceituadas marcas de tintas, além das máquinas
necessárias para a pigmentação de mais de duas mil
cores, contanto também com o sistema Estúdio de
Ambientes, podendo simular a casa a ser pintada com as
cores desejadas pelo cliente.
Para a prestação de serviço, a empresa conta
com três equipes de pintores, sendo que os
coordenadores de duas das equipes são filhos dos
sócios, e o outro, coordenador, como já mencionado
anteriormente, é o proprietário, Chopp.
FONTE: Fernandes, Smaneoto, 2015.
Quanto à mobilização da empresa aos
funcionários para o treinamento e inspeção necessários
para a prevenção de acidentes é demostrada a seguir na
figura 5.
A empresa oferece ao cliente total comodidade,
ou seja, o cliente apenas terá o serviço de entrar em
contato com a empresa; após isso, algum dos
responsáveis irá até o cliente, onde quer que ele se
encontre e tratará do serviço que ele necessita.
Figura 5: Treinamento aos funcionários
4.2 ANÁLISES DOS QUESTIONÁRIOS
Para a avaliação da segurança e medicina do
trabalho na empresa foram elaborados dois
questionários; um entregue a cada um dos dezesseis
funcionários e outros dois, entregue individualmente aos
gestores.
4.2.1 Análises dos questionários entregue aos
funcionários
FONTE: Fernandes, Smaneoto, 2015.
Os resultados obtidos através de questionários
entregues aos funcionários da empesa são apresentados
em forma de gráfico para depois analisá-los.
Na figura 3, 62% dos respondentes afirmam
que a empresa incentiva quanto ao treinamento e
inspeção, e 38% afirma que não recebem incentivos
quanto ao assunto.
A instrução aos empregados, por parte dos
gestores, é evidenciada pela figura 03.
52
REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
Figura 8: Normas e procedimentos de medicina e segurança do
trabalho
Quanto à preocupação dos gestores em
relação aos funcionários, segue a demonstração na
figura 6.
Figura 6: Preocupação dos gestores em relação aos
funcionários
FONTE: Fernandes, Smaneoto, 2015.
FONTE: Fernandes, Smaneoto, 2015.
Fica evidente, na figura 6, com 100% de
aprovação, que os respondentes acham importante a
preocupação de seus gestores a respeito do tema que diz
relação com a preocupação dos mesmos com sua saúde
e qualidade de vida no trabalho, sendo que nenhum deles
apontou a questão de não achar importante esse assunto.
Nessa figura é claramente notável a resistência
dos funcionários quanto aos métodos e procedimentos de
segurança do trabalho. Por isso, vem a ser um dos pontos
mais importantes para esse estudo, podendo ser mudada
essa ideia pelos funcionários, que geraria um maior
resultado em termos de segurança e satisfação para a
empresa.
A análise feita quanto à postura que o funcionário
adota a respeito dos métodos e procedimentos de
segurança e medicina do trabalho são expostos na figura 7.
A estratificação de qualidade de vida no trabalho é
comprovada na figura 9.
Figura 9: Qualidade de vida no trabalho
Figura 7: Postura do funcionário
FONTE: Fernandes, Smaneoto, 2015.
FONTE: Fernandes, Smaneoto, 2015.
Confirma-se na figura 7, quanto á postura que o
funcionário adota mediante os métodos e procedimentos
de segurança e medicina no trabalho, que 56% dos
mesmos responderam que adotam uma postura boa e
receptiva; mas 44% nos respondentes se colocam de uma
forma resistente, ou seja, negativa a este tipo de
procedimento dentro da empresa.
A figura 9 comprova que 81% dos respondentes
afirmam que a empresa lhes proporciona qualidade de
vida no trabalho, e 19% responderam que a empresa
não proporciona qualidade de vida no trabalho.
4.2.2 Análises dos questionários entregue aos
gestores
A análise feita quanto às instruções aos
empregados por parte da empresa está representada na
figura 10.
Quanto às normas e procedimentos de medicina e
segurança do trabalho, é comprovada através da figura 8.
É possível estabelecer, a partir da figura 8, com
69% que os funcionários acreditam que as normas e
procedimentos de medicina e segurança no trabalho
atrapalham as suas atividades no dia a dia. Porém, 31%
dos respondentes não acreditam que essas normas os
atrapalhem nas suas atividades diárias.
Através da figura 10, pode-se comprovar que
todos os gestores da empresa instruem os empregados
sobre as normas de segurança e medicina do trabalho.
53
REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
Figura 10: Instrução aos empregados por parte dos gestores
É evidenciada na figura 12, quando questionado
aos gestores o que no ponto de vista deles deveria ser
melhorado na empresa quanto à segurança e medicina do
trabalho, 100% acredita que teria que haver maior
incentivo e treinamento.
5. CONCLUSÃO
Ao concluir este trabalho através da análise dos
dados coletados relacionado ao referencial teórico
apresentado, percebe-se a grande importância das
atividades de promoção da segurança e medicina do
trabalho com o objetivo de prevenir acidentes e garantir a
saúde dos colaboradores. Com isso, os gestores da
empresa devem investir mais nas ações educativas,
assegurando a integridade física e mental dos
colaboradores.
FONTE: Fernandes, Smaneoto, 2015.
A análise feita com relação às medidas de
precaução utilizadas é expressada na figura 11.
Figura 11: Medidas de precaução utilizadas pela empresa
Quanto ao objetivo geral de identificar o
conhecimento que os colaboradores da empresa Bazar
das Cores possuem a respeito da segurança e medicina
do trabalho, destaca-se que foi atingido, a partir dos
questionários e análise das respostas obtidas através dos
mesmos, podendo verificar, assim, através da
apresentação das tabelas, que de modo geral mostraram
que os colaboradores possuem o conhecimento sobre
segurança e medicina do trabalho.
Quanto aos objetivos específicos, foram abordados
os principais conceitos de segurança e medicina do trabalho,
utilizando a pesquisa bibliográfica, descrevendo a opinião de
diversos atores a respeito do tema proposto, cumprindo com
êxito o objetivo através do referencial teórico do presente artigo.
FONTE: Fernandes, Smaneoto, 2015.
É confirmada na figura 11, quando perguntado
quais precauções a empresa se utiliza para evitar acidentes
de trabalho, que 50% dos gestores fornece os EPEIS e o
treinamento necessário para a sua correta utilização.
Após a análise dos dados, ocorreu, ainda, a
sugestão de implantação de programas educativos com o
objetivo de que um maior número de colaboradores tenha
acesso às informações necessárias para a prevenção da
sua saúde dentro do local do trabalho, cumprindo assim
um dos objetivos específicos proposto.
Com porcentagem de 50% dos gestores, os
mesmo afirmam que deixam a cargo do funcionário as
providências necessárias sobre o tema abordado.
As informações obtidas através da pesquisa
foram repassadas à empresa, acompanhadas das
sugestões apontadas, para que possam utilizar-se do
presente artigo para a implantação de melhorias nas
transmissões de informações.
Conforme mostram os dados nessa figura 15, é
curioso que até mesmo por parte dos gestores acontece
desinteresse quanto à instrução do uso e importância dos
EPIS por parte dos funcionários com a empresa em estudo.
Em futuras pesquisas, sugere-se a análise do
impacto nos colaboradores quando participarem de
eventos de conscientização para a prevenção de
acidentes e riscos à saúde, podendo considerar se esteve
presente no evento e se o setor em que exerce as suas
atividades interferem nos conhecimentos adquiridos.
A análise do que deve ser melhorada na empresa
está expressa na figura 12.
Figura 12: Deve ser melhorado na empresa
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55
REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
INFLUÊNCIA DO TRATAMENTO DE SEMENTES E ARMAZENAMENTO NA QUALIDADE
FISIOLÓGICA DE GRÃOS PARA SEMEADURA DE SOJA
Carine Kronbauer¹
Letícia Dos Santos Holbig Harter²
SETREM³
ABSTRACT
The successful production of a crop basically depends on
the use of high quality of seeds and maintaining this
characteristic between harvesting and sowing. The use of
the fungal treatment can ensure good plant stand. Thus,
the objective of this work was to evaluate the effect of
fungal seed treatment during storage. The approach used
was quantitative, laboratory and statistical procedures.
The techniques were observation and analysis techniques
were content analysis, standard deviation, average,
Duncan 5% test, correlation and linear regression. They
used seeds from the cultivar BMX Tornado RR (6863 RSF)
produced and stored in Giruá. For the treatment three
fungicides were used (Carboxin + Tiram, Fludioxnil +
Metalaxyl - M and Carbendazim + Tiram) and control. The
processing of samples in seven times (120, 90, 60, 30, 20,
10 to 0 days before sowing) was carried out and seeds
analyzed immediately after treatment and at the time of
sowing. The physiological quality of grains for sowing was
evaluated through the germination and vigor tests as first
count germination, accelerated aging, field emergence,
emergence speed index, dry mass of seedlings and
seedling length. There was no negative influence of
antifungal treatments on seed quality during the evaluated
period. In the emergency field, treatments with fungicides
were better compared to the control. Physiological tests
show that there is the technical viability of soybean seed
storage treated with fungicide.
RESUMO
O sucesso da produção de uma lavoura depende,
basicamente, da utilização de sementes de alta qualidade
e da manutenção desta característica entre a colheita e a
semeadura. A utilização do tratamento fúngico pode
garantir bom estande de plantas. Com isso, o objetivo do
trabalho foi de avaliar o efeito do tratamento fúngico de
semente ao longo do armazenamento. A abordagem
utilizada foi quantitativa, procedimentos laboratoriais e
estatísticos. As técnicas de coleta foram observação e as
técnicas de análise foram análise de conteúdo, desvio
padrão, média, teste de Ducan 5%, correlação e
regressão linear. Utilizaram-se sementes da cultivar BMX
Tornado RR (6863 RSF), produzida e armazenadas em
Giruá. Para o tratamento utilizou-se três fungicidas
(Carboxina + Tiram, Fludioxnil + Metalaxil - M e
Carbendazim + Tiram) e o controle. Realizou-se o
tratamento de amostras em sete épocas (120, 90, 60, 30,
20, 10 e 0 dias antes da semeadura), sendo as sementes
analisadas imediatamente após o tratamento e no
momento da semeadura. A qualidade fisiológica dos
grãos para semeadura foi avaliada através dos testes de
germinação e testes de vigor como: primeira contagem da
germinação, envelhecimento acelerado, emergência em
campo, índice de velocidade de emergência, fitomassa
seca de plântulas e comprimento de plântulas. Não foi
verificada influência negativa dos tratamentos fúngicos
sobre a qualidade da semente nas épocas estudadas. Na
emergência a campo, os tratamentos com fungicidas
foram melhores em relação à testemunha. Os testes
fisiológicos mostraram que existe a viabilidade técnica do
armazenamento de sementes de soja tratada com
fungicida.
Keywords: Glycine max L. Fungicides. Germination.
Palavras-chave: Glycine max L. Fungicidas.
Germinação.
qualidade e da manutenção desta característica entre a
colheita e a semeadura.
1. INTRODUÇÃO
A soja (Glycine max L.) é uma commodity
agrícola de importância comercial indiscutível para o
Brasil. O aumento da importância da cultura no País se
deve não apenas à maior área cultivada, mas ao aumento
na produtividade devido ao emprego de novas
tecnologias. Produzir melhor dentre os princípios da
sustentabilidade é uma necessidade tanto para o produtor
quanto para a pesquisa. Nos últimos anos, os avanços
tecnológicos fizeram parte de mudanças ocorridas na
agricultura.
O teste de germinação tem sido amplamente
utilizado na avaliação da qualidade de diferentes lotes de
sementes. Entretanto, esse teste é realizado em
condições controladas de umidade, temperatura e
aeração. Dessa maneira, nem sempre uma alta
porcentagem de germinação em laboratório resulta em
um excelente desempenho no campo. Isso se origina na
ocorrência da diversidade de condições ambientais a que
as sementes estão sujeitas no campo e que podem afetar,
em maior ou menor escala, o estabelecimento inicial da
cultura. Desse modo, o uso de sementes de alta qualidade
pode ser decisivo no sucesso do investimento, sendo,
O sucesso da produção de uma lavoura
depende, basicamente, da utilização de sementes de alta
¹ Engenheira Agrônoma. Egressa do curso de agronomia da SETREM. Email: [email protected]
² Engenheira Agrônoma, Drª em Ciência e Tecnologia de Sementes - Professora do curso de Agronomia – SETREM. Email:
[email protected]
³ Sociedade Educacional Três de Maio – Av. Santa Rosa, 2504, Três de Maio – RS, e-mail: [email protected]
56
REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
portanto, indispensável ao produtor (POPINIGIS, 1985).
influência negativa quando a semente é tratada
antecipadamente com fungicida do que quando não
tratada. A aplicação do tratamento de semente no
momento da semeadura permite melhores índices de
germinação e vigor do que o tratamento antecipado em
120 dias. A antecipação do tratamento de semente
apresenta correlação negativa com a germinação e o
vigor dos grãos para semeadura. O tratamento de
semente com antecedência de 120 dias pode interferir
negativamente 20% na germinação e vigor das sementes
pelos testes de primeira contagem e envelhecimento
acelerado.
O tratamento pode garantir também bom estande
de plantas quando a semeadura é realizada em condições
desfavoráveis de temperatura e disponibilidade hídrica.
De acordo com Pereira et al. (1993 apud Krohn e
Malavasi, 2004), o fungicida pode propiciar proteção às
sementes, quando semeadas em condições adversas,
por um período de 4 a 12 dias, dependendo do vigor das
mesmas. Além do mais, o uso de substâncias químicas
em sementes, antes do armazenamento, poderia ter
algum efeito protetor, por eliminar patógenos,
principalmente os fungos de campo e de armazenamento.
A pesquisa teve abordagem quantitativa
(MARCONI; LAKATOS, 2006), com procedimento
laboratorial e estatístico (MARCONI; LAKATOS, 2007).
Diversos autores, segundo Krohn e Malavasi
(2004), demonstraram ser viável o tratamento fúngico de
sementes de soja antecipado, por não ter ocorrido efeito
negativo dessa prática na qualidade das sementes
durante e após o armazenamento e, de modo geral, houve
melhor conservação das sementes tratadas durante a
armazenagem em comparação às não tratadas. No
entanto, Krohn e Malavasi (2004), relatam que alguns
autores não evidenciaram resposta positiva quanto à
utilização desta técnica, sendo que recomendam que o
tratamento seja feito imediatamente antes da semeadura.
Contudo, segundo Zorato e Henning (2001), não há
influência dos tratamentos fúngicos antecipados sobre a
qualidade das sementes de soja (Glycine max L.).
Segundo Krohn e Malavasi (2004), o teste de germinação
não foi eficiente em mostra os benefícios, nem os efeitos
prejudiciais causados pelo tratamento fúngico, porém o
tratamento fúngico conferiu melhor emergência em
campo, evidenciando a proteção às sementes. No
entanto, as sementes que permaneceram tratadas por
período superior a quatro meses tiveram desempenho
inferior comparativamente às sementes tratadas nas
demais épocas.
O delineamento foi inteiramente casualizado com
quatro repetições. Para análise estatística as médias
foram submetidas à análise de variância e análise de
regressão polinomial.
Os materiais utilizados no presente estudo foram
grãos de soja para semeadura e fungicidas.
Quanto aos grãos para semeadura de soja foram
utilizados do cultivar BMX Tornado RR (6863 RSF),
produzidos na safra 2013/2014 nas condições
edafoclimáticas do município de Giruá. A amostra foi
subdividida, sendo que as sementes receberam os
diferentes tratamentos fúngicos em diferentes épocas:
120, 90, 60, 30, 20, 10 e 0 dias antes da semeadura, que
foi realizada em 15 de outubro.
O tratamento com fungicida constituiu-se da
aplicação de três fungicidas (Carboxina + Tiram;
Carbendazim + Tiram e Fludioxonil + Metalaxyl - M). Para
aplicação dos diferentes produtos as sementes foram
acondicionadas em sacos plásticos em que foram
adicionados os fungicidas e agitou-se até a distribuição
uniforme sobre a mesma. A testemunha (controle)
constituiu-se de sementes sem tratamento. Após o
tratamento, as sementes foram acondicionadas em sacos
de papel kraft. Todas as amostras foram armazenadas em
temperatura ambiente.
Dessa forma, como o assunto não foi considerado
como totalmente esclarecido, o presente estudo objetivou
comparar a influência do tratamento de sementes durante
o armazenamento, na qualidade fisiológica de grão para
semeadura de soja (Glycine max L).
2. DESENVOLVIMENTO
As análises da qualidade fisiológica ocorreram
imediatamente após as sementes receberem o
tratamento e no momento da semeadura. As sementes
tratadas no mês de junho foram analisadas em todas as
épocas de tratamento com o objetivo de avaliar a redução
da qualidade fisiológica ao longo do armazenamento.
2.1 ASPECTOS METODOLÓGICOS
Neste estudo foi avaliada a influência do
tratamento de semente e armazenagem na qualidade
fisiológica de grão para semeadura de soja, avaliada
pelos testes de qualidade fisiológica em laboratório de
análise de sementes e no campo no período de junho a
outubro de 2014. As análises foram realizadas no
Laboratório de Análise de Sementes da SETREM,
localizado no município de Três de Maio e a campo no
município de Giruá, estado do Rio Grande do Sul.
A qualidade das sementes será avaliada através
dos seguintes testes.
Germinação: o teste de germinação, segundo
Peske et al. (2012), tem como objetivo determinar o
potencial máximo de germinação de um lote de sementes.
O teste foi conduzido de forma adaptada com as Regras
para Análise de Sementes (BRASIL, 2009), com 200
sementes, distribuídas em quatro rolos de 50 sementes,
sendo realizadas quatro repetições de cada tratamento,
totalizando 16 rolos por tratamento, utilizando como
substrato o papel germitest, umedecido em água na
proporção de 3 vezes o peso do papel e colocadas em
O problema que foi estudado durante a pesquisa
é que a aplicação de fungicida como tratamento de
sementes ao longo do armazenamento apresenta
resposta positiva na qualidade fisiológica dos grãos para
semeadura de soja?
Em busca de solucionar tal problema apontaramse as seguintes hipóteses: A germinação sofre menos
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REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
temperatura constante de 25 °C. A avaliação foi realizada
no quinto e no oitavo dia após a semeadura.
emergência, de acordo com a fórmula proposta por
Maguire (1962).
Primeira contagem: o teste de primeira
contagem, segundo Peske et al. (2012), tem como
objetivo identificar a percentagem de plântulas normais,
sendo elas mais vigorosas. É um teste de vigor. Este teste
foi realizado em conjunto com o teste de germinação,
sendo no quinto dia realizada a avaliação da porcentagem
de plântulas normais.
Fitomassa seca: segundo Nakagawa (1999),
este teste tem como objetivo determinar o vigor relativo do
lote de sementes, avaliando o peso médio da matéria
seca de plântulas normais provenientes de sementes que
foram colocadas para germinar. A mensuração se efetuou
após a avaliação das plântulas emergidas, avaliadas no
10º dia após a semeadura, obtidas a partir do teste de
emergência no campo. As repetições de cada lote foram
acondicionadas em saco de papel kraft, identificados e
levados à estufa com circulação de ar forçada, mantidas à
temperatura de 72 °C até peso constante,
aproximadamente 48 horas. Após este período, a cada
repetição obteve-se fitomassa avaliada em balança com
precisão de 0,0001g.
Envelhecimento acelerado: objetivo do teste,
segundo Marcos Filho (1999), é a identificação precisa de
“diferenças importantes” na qualidade fisiológica dos
lotes. Pretende-se distinguir, com segurança, lotes com
maior ou menor probabilidade de apresentar bom
desempenho após a semeadura e/ou durante o
armazenamento, sendo que este teste fornece um
parâmetro de qualidade fisiológica mais sensível que o
teste de germinação. O teste de vigor foi conduzido com
quatro amostras de 200 sementes para cada tratamento,
colocadas em recipientes de plástico (caixa de gerbox)
contendo 40 mL de água destilada. As 200 sementes de
soja foram distribuídas em camada uniforme e única sobre
a tela que isola as mesmas do contato com a água.
Tampadas, em seu interior foi colocado papel mata
borrão para reter a água “suada”. Sendo assim, as caixas
foram acondicionadas e mantidas em câmara de
envelhecimento, a 41 °C e 100% U.R., durante 48 horas.
Vencido este período, as sementes foram colocadas para
germinar, de acordo com a descrição já efetuada para o
teste de germinação. A interpretação foi efetuada aos
cinco dias após a semeadura, computando-se as
percentagens de plântulas normais, anormais, sementes
duras e mortas e o resultado expresso em porcentagens
de plântulas normais.
Procedimento estatístico: o experimento foi
conduzido com delineamento inteiramente casualizado
com quatro repetições. Para análise estatística as médias
foram submetidas à análise de variância e análise de
regressão polinomial.
2.2. REFERENCIAL TEÓRICO
A análise de sementes, segundo Peske et al.
(2012), diz respeito ao conjunto de procedimentos
técnicos utilizados para realizar a avaliação da identidade
e a qualidade de uma amostra representativa de um lote
de sementes, sendo que a qualidade representa o
conjunto de atributos de natureza genética, fisiológica,
física e sanitária das sementes.
O destino final das sementes é o campo e,
portanto, o estabelecimento do estande constitui prioridade
para o produtor rural. A emergência das plântulas em
campo depende diretamente das condições do ambiente
e, como estas não são controláveis, a avaliação do
potencial fisiológico das sementes deve ser efetuada com
tal eficiência que permita identificar, de maneira
consistente, os lotes que apresentem maior probabilidade
de se estabelecer adequadamente em campo e
proporcionar o retorno esperado (MARCOS FILHO, 2005).
Emergência em campo: o teste de emergência a
campo tem como objetivo avaliar o vigor relativo entre
lotes, bem como a capacidade das sementes de
produzirem plantas a campo (PESKE et al., 2012). Foi
realizada em quinze de outubro, dentro da época
recomendada para semeadura da cultura, na região
Noroeste do Rio Grande do Sul, utilizando 200 sementes
por tratamento, distribuídas em quatro repetições de 50,
semeadas em sulcos de 2,00 m de comprimento, com
espaçamento de 0,50 m entre linhas e a uma
profundidade aproximada de 0,03 m. No décimo dia após
a semeadura foram computadas as plântulas emergidas
com tamanho superior a 5 mm.
Os resultados da avaliação do potencial
fisiológico obtidos em laboratório são mais facilmente
reproduzidos quando o ambiente, pré e pós-semeadura, é
favorável ao estabelecimento das plântulas. São vários
procedimentos que podem ser realizados para
determinação do potencial fisiológico de sementes de
plantas cultivadas (MARCOS FILHO, 2005), dentre eles
testes de germinação e vigor.
Índice de velocidade de emergência: segundo
Nakagawa (1999), este teste tem como objetivo
determinar o vigor relativo do lote, avaliando a velocidade
de germinação de sementes da amostra, em condições
de campo. Para este teste foram utilizando 200 sementes
para cada unidade experimental, divididas em quatro
subamostras de 50. A semeadura foi realizada
conjuntamente ao teste de emergência a campo.
Observações diárias foram realizadas a partir do dia em
que a primeira plântula emergiu, contando-se o número de
plântulas em cada linha, até que esse número
permaneceu constante. O índice de velocidade de
emergência foi determinado pelo somatório do número de
plântulas normais emergidas diariamente, dividido pelo
número de dias decorridos entre a semeadura e a
Germinação de sementes é a emergência da
plântula e suas estruturas essenciais do embrião (sistema
radicular, o coleóptilo e a parte aérea). Em laboratório é a
emergência da plântula e estruturas, de forma que se
possa ter um bom desenvolvimento da planta no campo
em condições favoráveis (MACEDO et al., 2014).
O objetivo do teste de germinação é determinar o
potencial máximo de germinação de um lote de sementes,
o qual pode ser usado para comparar a qualidade de
diferentes lotes e estimar o valor da semente para a
semeadura a campo (PESKE et al., 2012).
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REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
O termo vigor, é empregado para sementes que
engloba as características que determinam o potencial
para emergência e desenvolvimento rápido e uniforme de
plântulas normais, sob diferentes variações das condições
de campo; sendo assim, este conceito enfatiza o potencial
de desempenho das sementes sob diversas condições
ambientais, permitindo diferencia o vigor do processo de
germinação das plântulas (KRZYZANOWSKI et al.,1999).
Tabela 1: Teste de germinação (%) de grãos para semeadura
tratadas e armazenadas, analisadas no momento da semeadura
Segundo Marcos Filho et al. (2009), os testes de
vigor em sementes são utilizados com o principal objetivo
de identificar diferenças associadas ao desempenho de
lotes de sementes durante o armazenamento ou após a
semeadura, procurando destacar lotes com maior
eficiência para o estabelecimento do estante sob
variações das condições de ambiente.
¹ Médias seguidas pela mesma letra, maiúscula na coluna e minúsculas
na linha, não diferem entre si, pelo teste de Duncan a 5% de significância.
Observando os dados da Tabela 01, constata-se
que os grãos para semeadura tratados com Carbendazim
+ Tiram apenas apresentaram diferença estatística
significativa entre a época 60 e 30 dias antes da
semeadura. Já para o produto Fludioxnil + Metalaxil – M
os grãos que receberam tratamento aos 120 dias antes da
semeadura diferenciaram-se das demais épocas. Os
grãos para semeadura que foram tratadas com Carboxina
+ Tiram apresentaram diferença significativa entre a
época 0 e as épocas de 30 aos 120 dias.
As sementes devem ser armazenadas desde a
colheita até a época de semeadura na temporada
seguinte. Considerando que, ao serem colhidas, as
sementes são desligadas da planta-mãe, que até esse
momento era seu ambiente, passa a ser responsabilidade
do homem a conservação das mesmas nas melhores
condições (PESKE et al., 2012).
Quando se analisa o efeito dos diferentes
tratamentos em cada época (Tabela 01), constata-se que
aos 120 dias o produto Carbendazim + Tiram não se
diferenciou do controle; no entanto, ambos foram
estatisticamente diferentes dos resultados obtidos com os
produtos Fludioxnil + Metalaxil – M e Carboxina + Tiram,
os quais também não apresentaram diferença estatística
entre si.
O tratamento de sementes pode ser entendido,
de maneira genérica, como qualquer operação que
envolva as sementes, seja pelo manejo ou incorporação
de produtos biológicos ou químicos à sua superfície ou
interior ou utilização de agentes físicos, visando à melhoria
ou garantia do seu desempenho em condições de cultivo
(MACHADO, 1999).
Nos tratamentos realizados 90 e 60 dias antes da
semeadura apenas os grãos tratados com Carboxina +
Tiram diferenciaram-se dos demais. Aos 30 dias os
resultados obtidos constatam diferença entre os grãos
tratados com Carboxina + Tiram em relação ao controle e
ao produto Fludioxnil + Metalaxil – M (Tabela 01).
O tratamento de sementes é uma técnica que tem
por objetivo assegurar a qualidade sanitária das
sementes, através da aplicação de produtos químicos
eficientes para controlar fitopatógenos, principalmente
fungos associados às sementes ou presentes no solo,
além de atuar contra o ataque de pragas especificas do
solo, protegendo as plântulas durante o processo
germinativo e de emergência (ABATI et al., 2013).
De acordo com a Tabela 01, não se constatou
efeito negativo de dois dos tratamentos fúngicos
anteriores ao armazenamento, pois na maioria das
épocas a testemunha (sem tratamento) e as sementes
tratadas apresentaram o mesmo desempenho. As
sementes tratadas a partir de 20 dias antes da
semeadura, independente do tratamento fúngico, não se
diferenciaram do controle, tão pouco houve diferença
entre os tratamentos. Tais resultados são semelhantes
com os obtidos por Zorato e Henning (2001), Costa et al.
(1980) e Henning e Zorato (1997) que não verificaram
influência do tratamento fungicida na germinação de
sementes tratadas e não tratadas, durante e após cinco
meses de armazenagem.
Segundo Henning et al. (2010), o fungicida para
tratamento de semente, além de controlar patógenos
importantes transmitidos pela semente, é uma prática
eficiente para assegurar população adequada de plantas,
quando as condições edafoclimáticas durante a
semeadura não forem favoráveis.
2.3 RESULTADOS
Com relação ao armazenamento de sementes
tratadas com fungicidas, o principal aspecto a ser
abordado e até que ponto pode haver efeito prejudicial do
fungicida na qualidade fisiológica das sementes durante o
período de armazenamento.
Na avaliação do vigor pelo teste de primeira
contagem de germinação (Tabela 02), pode-se observar
que ocorreu um aumento significativo entre as diferentes
épocas de tratamento, sendo que de modo geral os
melhores resultados foram quando as sementes foram
tratadas no momento da semeadura.
Determinou-se a porcentagem de germinação
nos grãos para semeadura de soja em que se verificou
que a variação entre os tratamentos foi baixa, tanto para
sementes tratadas com as não tratadas ao longo do
armazenamento (Tabela 01).
Para o teste de primeira contagem (Tabela 02),
observou-se que os grãos tratados com Carbendazim +
Tiram não apresentaram diferença entre as épocas 10,
30, 60 e 120 dias. No entanto, os grãos que receberam
tratamento com Fludioxnil + Metalaxil – M não
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apresentaram diferença estatística entre as épocas 0 até
60 dias antes da semeadura e as tratadas com Carboxina
+ Tiram não apresentaram diferença a partir de 30 dias de
tratamento anterior à semeadura. Independentemente do
tratamento fúngico utilizado, a testemunha foi superior ou
igualou-se aos resultados obtidos. Na última época de
tratamento não houve diferença entre os tratamentos.
Nos resultados de emergência em campo,
observados na Tabela 04, foram evidenciados os
benefícios do tratamento de sementes, em que na maioria
das sementes tratadas apresentam desempenho superior
ao controle, sendo que para Zorato e Henning (2001)
ocorreu da mesma forma em que as sementes tratadas
apresentam um desempenho superior. Os autores
afirmam ainda que essa influência favorável dos
tratamentos fungicidas demostram que houve eficiência
quanto à proteção das sementes no solo, indiferentes às
épocas na maioria dos tratamentos.
Tabela 2: Teste de primeira contagem da germinação (%) de
grãos para semeadura tratadas e armazenadas, analisadas no
momento da semeadura
Tabela 4: Teste de emergência a campo (%) de grãos para
semeadura tratadas e armazenadas, analisadas no momento da
semeadura
¹ Médias seguidas pela mesma letra, maiúscula na coluna e minúsculas
na linha, não diferem entre si, pelo teste de Duncan a 5% de
significância.
No teste de envelhecimento acelerado (Tabela
03), que foi utilizado para estimar o vigor das sementes e
seu potencial de armazenamento foram percebidas
diferenças estatísticas mais frequentes entre as épocas
de tratamento nos diferentes produtos. O teste de
envelhecimento acelerado pode indicar alterações na
qualidade das sementes com o tempo de
armazenamento (PESKE et al., 2012), o que foi
constatado neste estudo.
¹ Médias seguidas pela mesma letra, maiúscula na coluna e minúsculas
na linha, não diferem entre si, pelo teste de Duncan a 5% de
significância.
Em resultados evidenciados por Krohn et al.
(2004), atribui que na maioria das vezes sementes
tratadas apresentam desempenho superior à
testemunha, sendo que este dado está evidente na Tabela
04, a qual demonstra que os grãos para semeadura
tratadas com fungicidas se destacaram das não tratadas.
Os resultados obtidos no teste de
envelhecimento acelerado (Tabela 03) os grãos tratados
com Carbendazim + Tiram apresentaram diferença entre
as épocas 10, 30, 90 e 120 dias. Nos grãos tratados com
Fludioxnil + Metalaxil – M apenas diferenciou-se os
resultados de 60 e 0 dias antes da semeadura, enquanto
que os tratados com Carboxina + Tiram não
apresentaram diferença a partir de 20 dias antes da
semeadura. Marcos Filho e Souza (1983) verificaram que
o tratamento fungicida, antes do início do período de
armazenamento, beneficiar a conservação do vigor.
No teste de emergência a campo os grãos
tratados com Carboxina + Tiram não apresentaram
diferença estatística independente das épocas em que
receberam o tratamento fúngico.
A velocidade de emergência, segundo
Krzyzanowski et al. (1999), é um dos conceitos mais
antigos de vigor de sementes. Este método se baseia no
princípio do que apresentar maior velocidade de
germinação de sementes são as mais vigorosas, pois o
índice calculado estima o número médio de plântulas
normais por dia.
Tabela 3: Teste de envelhecimento acelerado (%) de grãos para
semeadura tratadas e armazenadas, analisadas no momento
da semeadura
Nos resultados referentes ao índice de
velocidade de emergência -IVE (Tabela 05), pode-se
observar que não ocorreu aumento significativo no IVE
das sementes que receberam o tratamento com fungicida;
no entanto, comparado com sementes que não foram
tratadas com fungicida, houve diferença.
Tabela 5: Teste de índice de velocidade de emergência de grãos
para semeadura tratadas e armazenadas, analisadas no
momento da semeadura
¹ Médias seguidas pela mesma letra, maiúscula na coluna e minúsculas
na linha, não diferem entre si, pelo teste de Duncan a 5% de
significância.
Quando se compara dentro de cada época de
tratamento no teste de envelhecimento acelerado (Tabela
3), constata-se que aos 30 dias antes da semeadura
todos os tratamentos se diferenciaram. Na época 20 e 10
os resultados permitiram agrupar em dois grupos os
tratados com Carbendazim + Tiram e Fludioxnil +
Metalaxil – M que não diferenciaram entre si e
diferenciaram-se do Carboxina + Tiram e do Controle, os
quais também não se diferenciaram entre si.
¹ Médias seguidas pela mesma letra, maiúscula na coluna e minúsculas
na linha, não diferem entre si, pelo teste de Duncan a 5% de significância
Os grãos tratados com Carbendazim + Tiram
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REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
(Tabela 05) apenas os tratados no momento da
semeadura se diferenciaram das demais épocas e
também houve diferença entre 30 e 60 dias antes da
semeadura na avaliação do índice de velocidade
emergência. Nos grãos tratados com Fludioxnil +
Metalaxil – M houve diferenciação nos resultados obtidos
na época 120 e 0 dias antes da semeadura.
Tabela 7: Determinação do comprimento de plântula seca de
grãos para semeadura tratados e armazenados, analisados no
momento da semeadura
Na avaliação dentro de cada época, para o índice
de velocidade de emergência (Tabela 5), observa-se que
na época 0 não houve diferenças entre os tratados e na 10
os tratamentos Carbendazim + Tiram e Fludioxnil +
Metalaxil – M diferenciaram-se do controle.
¹ Médias seguidas pela mesma letra, maiúscula na coluna e minúsculas
na linha, não diferem entre si, pelo teste de Duncan a 5% de significância.
Nos testes de comprimento de plântulas e
fitomassa seca de plântula segundo Krzyzanowski et al.
(1999), o objetivo principal é estimar o vigor relativo do lote
de sementes. No teste de fitomassa seca de plântula
(Tabela 06) os resultados indicam que os valores sofreram
pequenas variações entre as épocas, sendo que entre os
tratamentos fúngicos também sofreram pequenas
variações, apresentando o Fludioxnil + Metalaxil – M com
os maiores pesos de fitomassa seca independente da
época, tendo uma variação maior quando comparando
com os grãos para semeadura sem fungicida.
A qualidade fisiológica avaliada pelo teste de
germinação (Figura 01) mostra que a semente não tratada
e a semente tratada com Fludioxnil + Metalaxil
apresentaram uma qualidade inicial inferior à qualidade
final; já com a utilização do tratamento Carboxina + Tiram
e Carbendazim + Tiram, apresentaram a qualidade
fisiológica inicial maior e tendo a perda gradual de sua
qualidade que é o que acontece naturalmente com as
sementes, pois, de acordo com Delouche (2002), a
deterioração é um processo irreversível e começa depois
que a semente alcança a maturidade fisiológica, a qual
apresenta deterioração zero e continua até ela perder sua
capacidade de germinar, ou seja, com a sua morte.
Tabela 6: Determinação da fitomassa seca de grãos para
semeadura tratados e armazenados, analisadas no momento
da semeadura
Figura 1: Análise de regressão linear com o teste de germinação
¹ Médias seguidas pela mesma letra, maiúscula na coluna e minúsculas
na linha, não diferem entre si, pelo teste de Duncan a 5% de
significância.
Na expressão vigor através da mensuração da
fitomassa seca (Tabela 6), constata-se que os grãos que
receberam tratamento fúngico Carbendazim + Tiram aos
20 dias anteriores à semeadura foi os que apresentaram
melhores resultados, já os que foram tratados aos 120
dias observou-se os piores resultados. Nos grãos tratados
com Fludioxnil + Metalaxil – M apenas houve
diferenciação entre as épocas 60 e 10 dias antes da
semeadura. Já os tratados com Carboxina + Tiram a
época que apresentou melhores resultados foram os
grãos tratados no momento da semeadura.
Os resultados referentes à primeira contagem da
germinação (Figura 02) na análise de regressão linear
mostrou que quanto maior o tempo de armazenagem dos
grãos para semeadura tratadas com fungicida maior a
queda da percentagem de vigor no teste de primeira
contagem, pois as sementes que não foram tratadas
permaneceram em um equilíbrio sem grandes variações
no teste, pode-se dizer que, quando há um tratamento das
sementes há um aumento na queda do vigor, sendo que
esse processo de perda de vigor e germinação é natural.
De acordo com os dados da Tabela 07 constatase que o tratamento com Fludioxnil + Metalaxil – M os
grãos tratados com mais de 30 dias anterior à semeadura
apresentaram redução na expressão do vigor pelo teste
de comprimento de plântulas.
Os resultados referentes ao teste de
envelhecimento acelerado (Figura 3) na análise de
regressão linear mostrou que os dados foram
semelhantes com os dados de primeira contagem, mas
houve queda mais acentuada do vigor no envelhecimento
acelerado, devido ao fato de que na condução de tal
metodologia as sementes são submetidas a condições de
estresse por alta temperatura e alta umidade, sendo que a
redução foi significativa tanto para as sementes tratadas
como para as que não são tratadas. Sabe-se que há uma
perda natural do vigor e da germinação, mas quando a
semente sofre um stress há um aumento maior na perda
de vigor e germinação.
Já os grãos para semeadura tratados com
Carboxina + Tiram, quando tratados 120 dias antes da
semeadura, sofreram redução na expressão do vigor pelo
teste de comprimento de plântula (Tabela 7) . Grãos para
semeadura tratados com Fludioxnil + Metalaxil – M e com
Carboxina + Tiram apresentaram maior comprimento de
plântulas do que os tratados com Carbendazim + Tiram e
o tratamento controle (Tabela 07) nas diferentes épocas
de tratamento.
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REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
O teste de envelhecimento acelerado avalia
resposta das sementes às condições de temperatura
umidade relativa elevada, pois tem como princípio
aceleração do processo de deterioração (ROSSETTO
MARCOS FILHO, 1995).
a
e
a
e
Com estas informações de Villela e Menezes
(2009), pode-se dizer que os resultados encontrados
estão de acordo. E, segundo Goulart et al. (1999), que
comprovaram redução da qualidade fisiológica de
sementes tratadas com carbendazin isolado e
armazenado por período superior a 60 dias. E quando o
fungicida é misturado com outros princípios ativos, o efeito
fitotóxico reduziu significativamente.
Figura 2: Análise de regressão linear com o teste de primeira
contagem da germinação
No teste de germinação, realizando a análise
inicial e final, pode-se observar que houve pequenas
variações em algumas épocas, não havendo
diferenciação, sendo que para os grãos para semeadura
não tratada não houve diferenciação (Tabela 8).
Tabela 8: Teste de germinação, primeira contagem e
envelhecimento acelerado (%) de grãos para semeadura,
tratados e armazenados com fungicidas em diferentes épocas
Figura 3: Análise de regressão linear com o teste
envelhecimento acelerado
² Médias seguidas pela mesma letra minúscula na linha não diferem pelo
teste de Duncan a 5% de significância. ² QI qualidade inicial e QF
qualidade final.
No teste de primeira contagem da germinação
houve diferenciação tendo queda de vigor acentuada
quanto à antecipação do tratamento, sendo que os dados
apontam que o período ideal para o tratamento para não
haver perda de vigor seria de no máximo 10 dias antes da
semeadura a campo. E nos dados dos grãos para
semeadura sem tratamento não houve diferenciação
entre a qualidade inicial e final (Tabela 8).
Segundo Villela e Menezes (2009), durante o
armazenamento, a deterioração das sementes não pode
ser impedida; entretanto, a velocidade do processo pode
ser minimizada por procedimentos adequados de
produção, colheita, secagem, beneficiamento, transporte
e armazenamento. O processo de deterioração em
sementes compreende uma sequência de alterações
bioquímicas e fisiológicas iniciadas logo após a
maturidade fisiológica, que acarretam redução de vigor,
culminando na perda da capacidade de germinação.
No teste de envelhecimento acelerado (Tabela
8), comparando-se a qualidade inicial e final, constata-se
que os grãos tratados com Fludioxnil + Metalaxil - M não
apresentaram diferenças em todas as épocas.
Na matriz de correlação (Tabela 9) pode-se
perceber que os valores apresentados não têm uma
correlação forte, devido a valores apresentados serem
menores que 0,70. Contudo, pode-se dizer que as
diferentes datas de tratamento não possuem correlação
com os valores dos testes em análise.
As sementes de soja apresentam longevidade
superior a 10 anos, se forem armazenadas sob condições
ideais. Entretanto, acondicionadas em embalagens
permeáveis e mantidas em condições de ambiente de
armazém, por exemplo, sob temperatura ambiental média
de 20 a 25°C e umidade relativa do ar de 65 a 70%,
mantêm a germinação por um período de entressafra de 6
a 8 meses, embora reduções marcantes de vigor possam
ser constatadas. Todavia, armazenadas em condições
climáticas mais adversas sofrem diminuição mais
acentuada de qualidade fisiológica, podendo apresentar
germinação inferior a 80%, ao final de 60 a 90 dias,
tornando-se impróprias para a semeadura. Deve-se
considerar ainda o fato de o vigor declinar
antecipadamente (VILLELA e MENEZES, 2009).
62
REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
Tabela 9: Matriz de correlação de grãos para semeadura
contagem de germinação nas sementes tratadas 120 dias
antes das sementes comparando com as sementes
tratadas no momento da semeadura; confirmando a
hipótese de redução de 20% no vigor.
Este trabalho, a exemplo de outros realizados
anteriormente, mostrou que existe a viabilidade técnica do
tratamento das sementes para posterior armazenamento,
sem prejuízo da qualidade fisiológica.
O tratamento fungicida conferiu melhor
emergência em campo, evidenciando a proteção às
sementes e aos fungos presentes no solo.
Existe a viabilidade técnica do armazenamento
de sementes de soja tratadas com fungicidas para
posterior utilização, não havendo efeito negativo dessa
prática sobre a qualidade das sementes durante e após o
armazenamento. Entretanto, a adoção dessa prática
requer precaução, uma vez que os lotes tratados são
impróprios para o consumo e comercialização.
3. CONCLUSÃO
A indagação de que o mercado de sementes no
Brasil é garantido ou não, não questiona a conveniência
de se tratar ou não as sementes de soja. Admite-se que o
tratamento seja feito efetivamente. O que se questiona
tanto é qual o momento em que deve ser feito.
REFERÊNCIAS
Com todos os levantamentos de dados
realizados através de vários testes, pode-se dizer que a
hipótese de que “a geminação sofre menos influência
negativa quando a semente é tratada antecipadamente
com fungicida do que quando não tratada” não foi
confirmada, sendo que no teste de germinação
independentemente da época e se foi tratado ou não
tratado não apresentou diferença estatística, pois os
resultados apontaram que sementes tratadas com 20 dias
de antecedência da semeadura não apresentaram
diferença entre os tratamentos e controle.
ABATI, Julia, BRZEZINSKI, Cristian Rafael, HENNING,
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soja com fungicidas sobre qualidade, durante a
armazenagem. In: Resultados de pesquisa de soja
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Referente à germinação e vigor, a hipótese diz “a
aplicação do tratamento de semente no momento da
semeadura permite melhores índices de germinação e
vigor do que o tratamento antecipado de 120 dias” a
hipótese confirma-se, sendo que no teste de germinação
as sementes tratadas no momento da semeadura
apresentaram índices superiores em relação às tratadas
antecipadamente em 120 dias. Enquanto que a
expressão do vigor, avaliado pelos testes de primeira
contagem de germinação, teste de envelhecimento
acelerado e comprimento de plântula também confirmam
a hipótese.
DELOUCHE, James C. 2002. Deterioração de
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0101/5494.
A hipótese: “a antecipação do tratamento de
semente apresenta correlação negativa com a
germinação e o vigor dos grãos para semeadura” não se
confirmou, pois os dados apresentados geraram tanto
valores negativos como positivos, sem apresentar
nenhuma correlação efetiva.
GOULART, Augusto César Pereira; FIALHO, Werlaine
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técnica do tratamento de sementes de soja com
fungicidas antes do armazenamento. Dourados:
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A hipótese traçada de que “o tratamento de
semente com antecedência de 120 dias pode interferir
negativamente 20% na germinação e no vigor da
semente”, confirmou parcialmente, pois no teste de
germinação as sementes tratadas com antecedência de
120 dias apresentaram germinação 13% inferior em
relação às sementes tratadas no momento da
semeadura; sendo assim, não confirmando a hipótese.
Quanto ao vigor, houve reduções de até 66% no teste de
envelhecimento acelerado e 39% no teste de primeira
HENNING, Ademir Amaral; FRANÇA-NETO, José Barros;
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64
REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
A GESTÃO DE DESIGN NA INDÚSTRIA DA MODA: REFLEXÕES SOBRE INOVAÇÃO E
DESENVOLVIMENTO EM EMPRESAS DE CONFECÇÃO NA REGIÃO FRONTEIRA
NOROESTE DO RIO GRANDE DO SUL
Vanessa Marin¹
Dieter Rugard Siedenberg²
ABSTRACT
This research searched to understand how the fashion
design management can contribute to the development
and innovation of the clothing companies of the North
West region of Rio Grande do Sul. It is about an applied
research whose data were interpreted in a qualitative way
through primary and secondary data, bibliographic
research, observation, photographic records and
interviews with the help of a questionnaire, applied to the
research individuals (entrepreneurs) coming from the
sample universe. The data were collected in seven
clothing companies in six cities in the region (sample
universe of this research) analyzing the design
management and innovation, as well as the participation of
these companies in the development process. It was
observed that the companies have a lot of difficulties in
managing the design process, mainly in the initial stage of
research and development of new products, due to the
lack of skilled labor and the little stimulus to the design. The
negative aspects evidence many aspects to be improved
and it is suggested to the companies that they prepare
themselves by learning and openness to change. It is
concluded that it is necessary to discuss ways of
management appropriate to the new competitive
standards promoting the improvement of the processes
that involve innovation and design, participating more
actively in the development as a whole. Thus, education
through design can be achieved through the intervention
of educational institutions, research and extension,
compatible with the characteristics of local context, and
this process may begin by academic research.
RESUMO
Esta pesquisa buscou compreender como a gestão de
design de moda pode contribuir para o desenvolvimento e
para a inovação das empresas de confecção da região
Fronteira Noroeste do Rio Grande do Sul. Trata-se de uma
pesquisa aplicada, cujos dados foram interpretados de
forma qualitativa, através de dados primários e
secundários, pesquisa bibliográfica, observação, registro
fotográfico e entrevista com o auxílio de um questionário,
aplicado aos sujeitos da pesquisa (empresários) oriundos
do universo amostral. Realizou-se a coleta de dados em
sete empresas de confecção de seis cidades da região
(universo amostral desta pesquisa) analisando-se a
gestão de design e a de inovação, bem como a
participação destas empresas no processo de
desenvolvimento. Observou-se que as empresas têm
muitas dificuldades em gerenciar o processo de design,
principalmente no estágio inicial de pesquisa e
desenvolvimento de novos produtos, devido à falta de
mão de obra qualificada e pelo pouco estímulo ao design.
Os pontos negativos evidenciam muitos aspectos a serem
melhorados e se sugere às empresas que se preparem
por meio do aprendizado e da abertura à mudança.
Conclui-se que é necessário que se discutam formas de
gestão apropriadas aos novos padrões de
competitividade promovendo a melhoria dos processos
que envolvem inovação e design, participando mais
ativamente do desenvolvimento como um todo. Assim, a
educação através do design pode se dar por meio da
intervenção de instituições de ensino, pesquisa e
extensão, compatíveis com as particularidades do
contexto local, sendo que tal processo pode se iniciar
através da pesquisa acadêmica.
Keywords: Development. Fashion. Design Management.
Palavras-chave: Desenvolvimento. Moda. Gestão de
Design.
1. INTRODUÇÃO
sociológico da moda, desenvolvendo nações e regiões
através da exploração econômica de sua estética cultural
em produtos de vestuário manufaturados pelas empresas
de confecção. Este estudo busca oferecer uma análise
mais aprofundada sobre este setor da sociedade e da
economia, ou seja, como a prática da gestão de design
reflete a cultura e pode contribuir para o desenvolvimento
através de uma gestão empresarial que valorize os
profissionais envolvidos neste sistema.
O design de moda é uma área do conhecimento
das Ciências Sociais Aplicadas e consagra-se atualmente
como um negócio em expansão, deixando de ser
sinônimo de glamour ou futilidade, considerado um
fenômeno social de grande importância econômica,
conforme Mendonça et alii (2013). Lipovetsky (1989)
expõe que é preciso inquietar a investigação desta grande
instituição essencialmente estruturada pelo efêmero e
pela fantasia estética ocidental. Observa-se, nesse
sentido, que a industrialização da moda participa do
progresso da produção capitalista, proporcionando a
estrutura para o desenvolvimento do sistema da moda, ou
seja, sem essa base econômica a moda não seria
possível. Pode-se afirmar, dessa maneira, que o design
acoplou a lógica industrial capitalista ao fenômeno
Embora esteja vastamente espalhada pelas
diversas regiões do Brasil, a cadeia produtiva da moda
ainda precisa promover políticas de desenvolvimento
industrial, tratando-se o design de moda uma área que
ainda não desenvolveu estudos específicos suficientes
para cada segmento e região brasileira (MENDONÇA et
alii, 2013).
¹ Professora da Faculdade de Design de Moda da SETREM; [email protected]
² Coordenador do Programa de Mestrado em Desenvolvimento da UNIJUÍ; [email protected]
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Existe, atualmente, uma significativa carência do
profissional (designer de moda) no mercado. De acordo
com a ABDI (2009) 75% das empresas de vestuário e
32,5% das têxteis carecem de mão de obra qualificada.
Da mesma forma, há pouco estímulo dos empresários em
desenvolver uma gestão de design adequada à realidade
local (MARIN, HETTWER E MARTINELLI, 2012),
diminuindo ainda mais o número de criações autênticas e
criativas e aumentando, por consequência, a prática da
cópia e imitação de produtos de marcas já consagradas.
A relevância desta pesquisa está em se levantar
uma oportunidade de estudo a partir de um problema
encontrado nas micro e pequenas empresas do setor de
confecção de moda, especialmente aquelas que se
encontram no interior, uma vez que ainda estão em um
estágio menos avançado de gestão de design. A
estruturação de uma gestão empresarial voltada ao
design facilita o entendimento e a comunicação de
estratégias, objetivos e ações que levem ao
desenvolvimento. É essencial que esse desenvolvimento
chegue até as pequenas empresas de confecção,
tornando-as aptas a enfrentarem a concorrência e as
constantes mudanças que se apresentam no cenário da
moda.
A principal problemática encontrada está na
ausência de pesquisa em moda, na falta de inovação,
gestão e estruturação de metodologias adequadas para
cada segmento, tendo em vista a grande pluralidade de
mercados, especialmente na região Fronteira Noroeste do
Rio Grande do Sul, em que se encontram indústrias de
confecção nos segmentos de roupa íntima, moda festa,
uniformes, fitness, camisaria, etc., cada qual com suas
especificidades. Assim, o problema da pesquisa em
questão é: de que maneira a gestão de design de moda
pode contribuir para o desenvolvimento e a inovação das
empresas de confecção da região Fronteira Noroeste do
Rio Grande do Sul?
2. DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA
2.1 METODOLOGIA ADOTADA
Esta pesquisa buscou a compreensão da gestão
de design que as empresas de confecção da região
Fronteira Noroeste adotam, analisando como suas
práticas estimulam, ou não, a inovação e o
desenvolvimento empresarial e socioeconômico.
O objetivo geral da pesquisa, por sua vez, foi
traçado como: analisar a importância da gestão de design
de moda para a inovação e o desenvolvimento,
considerando os diferentes segmentos de mercado das
empresas de confecção da região Fronteira Noroeste do
Rio Grande do Sul. Para que esse objetivo seja
alcançado, foi necessário, de modo mais específico:
Trata-se de uma pesquisa aplicada cuja
abordagem foi qualitativa. Quanto aos objetivos, esta
pesquisa foi descritiva e exploratória. Quanto ao tipo de
dados, foram utilizados dados primários, coletados pelos
pesquisadores, bem como dados secundários, oriundos
de outras pesquisas e estudos feitos pelo governo ou
outras entidades privadas. Quanto aos procedimentos
técnicos, além da pesquisa bibliográfica, utilizaram-se os
seguintes métodos:
- identificar as principais empresas e segmentos
de atuação de confecção de moda (vestuário e
acessórios) da região Fronteira Noroeste do RS;
- observação com registro fotográfico,
analisando-se visualmente o ambiente da empresa, rotina
e métodos de trabalho, o fluxograma produtivo, bem como
as tecnologias disponíveis e as fontes de informação de
moda de que cada empresa dispõe;
- verificar o nível de gestão de design das
empresas mais representativas em cada segmento de
mercado e como ele contribui para a inovação no setor;
- analisar os principais problemas e entraves
encontrados nas empresas de confecção no que diz
respeito à implantação de gestão de design em seus
diferentes segmentos de mercado de moda;
- entrevista com o auxílio de um questionário,
aplicado aos sujeitos da pesquisa oriundos do universo
amostral.
Os sujeitos selecionados para serem
entrevistados foram os proprietários das empresas
(gestores/empresários), quase todos envolvidos
diretamente no processo de desenvolvimento de seus
produtos. A população desta pesquisa é formada por
empresas dos diversos segmentos de confecção de moda
da região Fronteira Noroeste do Rio Grande do Sul,
conforme subdivisão feita pelos Conselhos Regionais de
Desenvolvimento do Rio Grande do Sul (Coredes).
- explicitar e descrever como a gestão do design
de moda contribui para o desenvolvimento e para a
inovação, propondo saídas viáveis para a questão.
Dessa maneira, essa pesquisa justifica sua
importância levando-se em conta que, atualmente, o
diferencial competitivo de muitas empresas do setor de
confecção de moda está na oferta de novos e atraentes
produtos que atendam aos desejos de consumo da
população. Conforme Caldas (2006) as tendências de
moda, que ditam os rumos deste complexo sistema,
possuem importância vital neste ciclo, bem como uma
gestão de design adequada e original. No Brasil, o design
é um diferencial que deve ser melhor desenvolvido, pois
agrega valor aos produtos e às marcas nacionais.
Inicialmente, foi feito um levantamento de todas
as empresas de confecção em cada cidade, de acordo
com o segmento de moda, apresentando, assim, um
panorama geral da região. Foram identificados 10
segmentos de mercado: Fitness, Uniformes e/ou
Camisaria, Moda Festa, Moda Casual, Malharia, Moda
Praia, Sportswear, Moda Íntima, Moda Couro e, por fim,
Cama, Mesa e Banho, Decoração ou Acessórios.
Destaca-se que muitas empresas atuam em mais de um
segmento de mercado.
“Na realidade, o design é uma linguagem da
cultura contemporânea que pode criar a diferença. Assim,
percebe-se que o investimento em design é importante
para a própria identidade cultural de um povo [...]”
(CALDAS, 2006, p. 148).
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REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
O universo amostral, composto pelas empresas
de dez segmentos de mercado nos vinte municípios da
região, foi levantado através do contato com as
prefeituras, Associações Comerciais e Industriais (ACIs) e
através de uma instituição de ensino superior de Três de
Maio. Além disso, identificaram-se as empresas em uma
busca pela internet e através do contato telefônico direto
com as mesmas, que também indicaram suas
concorrentes.
empresa de cada segmento de mercado para realizar a
visita e a observação, bem como a entrevista com
aplicação do questionário, cujo critério para esta seleção
foi buscar as empresas com produção industrial mais
representativa (com maior número de funcionários e/ou
produção mensal). O critério para a seleção da população
amostral, também, foi a acessibilidade e a disponibilidade
em atender aos pesquisadores.
O número total de empresas em cada cidade
encontra-se representado visualmente através do gráfico
da Figura 1. Já o número total de empresas por segmento
pode ser visualizado através do gráfico da Figura 2.
Dessa maneira, identificou-se um total de
quarenta empresas de confecção em toda a região
Fronteira Noroeste, das quais selecionaram-se sete
empresas, em seis municípios diferentes, para serem
investigadas com maior profundidade. Somente o
segmento de moda couro não foi contemplado nesta
pesquisa, pois a única empresa identificada, com apenas
três funcionários, não possui uma produção significativa e
está em processo de encerramento de suas atividades. As
empresas selecionadas foram as seguintes: uma
empresa do segmento de uniformes e/ou camisaria de
Horizontina; uma empresa do segmento de cama, mesa e
banho, decoração ou acessórios de Horizontina; uma
empresa do segmento de malharia de Boa Vista do
Buricá; uma empresa do segmento sportswear e de
uniformes e/ou camisaria de Três de Maio; uma empresa
do segmento de moda casual e fitness de Campina das
Missões; uma empresa do segmento de moda festa de
Santa Rosa; uma empresa do segmento de moda casual,
fitness, moda praia e moda íntima de Santo Cristo.
Figura 1: Número de empresas por cidade
2.2 REFERENCIAL TEÓRICO
As empresas do segmento de alfaiataria não
foram consideradas para esta pesquisa, por possuírem
um processo produtivo muito tradicional e caracterizado
como ateliê com produção customizada. Também não
foram consideradas as empresas do tipo facção, que são
essencialmente produtivas, sem realizarem
desenvolvimento de novos produtos, apenas cortam ou
costuram peças desenvolvidas por grandes magazines
nacionais. Os ateliês de costura também não foram
considerados nesta investigação, pois são empresas com
poucos funcionários e sem uma produção
industrializada/contínua, atendendo apenas pequenas
encomendas de clientes (foram identificadas várias
empresas deste tipo em toda a região).
O termo desenvolvimento, utilizado
isoladamente, nada significa, apesar de carregar uma
abundância de relações, não apresentando um conceito
universal (FURTADO, 1996). É o que afirma, também,
Siedenberg (2012), ao alegar que o termo traz em si a
relatividade e um conteúdo interdisciplinar em contínua
transformação, não somente relacionado a aspectos
quantificavelmente econômicos, mas também aos
aspectos sociais e ambientais, como cita a seguir:
Mais recentemente, quando a noção de
desenvolvimento foi se distanciando cada vez
mais do conceito de crescimento econômico
e passou a se relacionar com maior ênfase a
recortes territoriais específicos, acabou
reencontrando sua identidade e se
constituindo como uma nova área do
conhecimento de caráter interdisciplinar,
envolvendo e relacionando aspectos
econômicos, sociais e ambientais
(SIEDENBERG, 2012, p. 22-23).
FONTE: Elaborado pelos autores (2015).
Figura 2: Número de empresas por segmento
Frantz (2012) alerta para o fato de que o
crescimento da riqueza de uma nação não assegura uma
dinâmica de equidade social e cultural ou mesmo do
desenvolvimento em si, pois observa-se, em muitos
casos, que o aumento na geração de riquezas pode
ampliar as diferenças entre ricos e pobres. Nesse sentido,
“Sociedades mais democráticas e nas quais a educação,
a saúde e a criatividade são valorizadas, aumentam, por
sua vez, a capacidade de gerar riqueza e, por serem
assim, permitem que sua apropriação seja mais
equitativa” (FRANTZ, 2012, p. 270). Sachs (2001) coloca
a importância do crescimento econômico para o
desenvolvimento, desde que pensado de forma
adequada, a fim de minimizar os impactos ambientais
FONTE: Elaborado pelos autores (2015).
A partir do panorama numérico total das
empresas na região, procurou-se selecionar uma
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REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
negativos objetivando fins sociais e não capitalistas.
Torna-se inaceitável “[...] o crescimento selvagem, com
custos sociais e ambientais insuportavelmente altos”
(SACHS, 2001, p. 158).
de desenvolvimento, pessoal e empresarial. Para se
compreender o valor do design de moda na alavancagem
da inovação e do desenvolvimento, é necessário que a
gestão empresarial tenha noção de suas potencialidades
e impactos na economia e na cultura de um modo geral,
estimulando criações autênticas através de talentos
nacionais. O papel do design como elo integrador entre a
indústria e o mercado é um fator de competitividade na
agenda estratégica da economia nacional: eleva a taxa de
exportação com o desenvolvimento de produtos de nível
superior de qualidade; é um ativo no desempenho
empresarial em sua contribuição na manutenção e
conquista de mercados, na diferenciação de seus
produtos e serviços, na redução de custos de produção,
preservação ambiental, etc. (BRASIL, 2014).
Arbix e Zilbovicius (2001) expõem que as
políticas de desenvolvimento de meados do século XX
não poderão promover o desenvolvimento no século XXI,
novas estratégias deverão ser construídas para dar conta
de outros fenômenos. Hoje, o desenvolvimento
socioeconômico pode ser desencadeado por inúmeros
processos ou estratégias, visando melhorar a qualidade
de vida da população, inserida em um mundo globalizado
com dinâmicas territoriais distintas. Não há, todavia,
nenhum modelo exclusivo, predominante ou genuíno,
mas acredita-se que a educação possa ter um enfoque
especial. Gomes (2004, p. 13) destaca que “O ensino
superior é de capital importância para o desenvolvimento
cultural do país e para sua independência econômica e
política”. Os desafios que apresenta a relação trabalhoeducação e a nova função social dos sistemas educativos,
resultados da nova forma assumida pelas relações sociais
de produção, são o reflexo de uma crise do modelo de
desenvolvimento que sustentou a acumulação capitalista
das últimas décadas (FRIGOTTO, 1995).
Assim como desenvolvimento, o termo design é
vastamente utilizado no cotidiano, embora pouca
compreensão se tenha sobre a definição correta desta
atividade. Utiliza-se design para se referir à robustez de
um carro, ao formato de uma chaleira, para o desenho de
uma sobrancelha ou para a decoração de uma sala. O
mal-estar gerado pela falta de compreensão do termo é
trazido à tona por Costa (1998):
O Design debate-se entre Poética e
Pragmática, num Mercado profissional
indefinido e num Território teórico mal
aprofundado. [...] Não distinguindo trabalho
teórico de técnicas operativas, não
identificando, num e noutro, posicionamento
pragmático e atitude poética, confundindo em
nível dos conceitos esses dois campos, gerase instabilidade, à deriva entre pesquisa e
produção, deixando aberta a porta a incursões
incontroláveis (COSTA, 1998, p. 38-39).
As novas práticas sociais e a mudança de valores
e padrões culturais trazem novos paradigmas à gestão
empresarial, cujos ambientes devem ser facilitadores da
inovação e da tecnologia. Diante disso, torna-se mais
intensa “[...] a necessidade de reorganização dos modos
de gestão empresarial com a finalidade de compatibilizar
as organizações com padrões mais avançados de
competitividade” (WITTMANN, DOTTO e BOFF, 2004, p.
20). Hoje, fala-se em negócio e não em fábricas isoladas,
evidenciando a sinergia que as empresas adquirem
através de suas alianças. Para Casarotto Filho e Pires
(2001, p. 27) “Como as mudanças são rápidas, é mais
importante hoje ter um negócio bem concebido do que
uma fábrica bem projetada. A fabricação tem que ser ágil
para mudar conforme os negócios vão evoluindo”. A
gestão da inovação, neste sentido, pode se tornar uma
grande estratégia nos negócios.
A diversidade de conceitos que tentam descrever
a atividade inquieta teóricos que se debruçam em
encontrar uma definição precisa de design. Azevedo
(1998, p. 9) traz uma caracterização simples: “A palavra
design vem do inglês e quer dizer projetar, compor
visualmente ou colocar em prática um plano intencional”.
Löbach (2001) enquadra o design como uma atividade
que produz soluções novas para produtos industriais,
sendo o designer um produtor de ideias com capacidade
criativa para utilizá-las em diversas situações. Mozota,
Klöpsch e Costa (2011) resumem o design como a
intenção (plano ou objetivo) aliada ao desenho (modelo ou
esboço que dá forma a uma ideia). O desenho, portanto,
está intimamente relacionado com esta atividade projetiva
(GOMES, 2004), pois é uma forma de representar
visualmente o intuito do projeto, através da delimitação de
cores, formas, linhas, texturas e demais recursos gráficos
necessários para que se compreenda o produto que
pretende ser fabricado. Com relação aos equívocos que
envolvem o desenho e o design, lembra-se que, quando
houve sua inserção no Brasil, a terminologia inglesa era
proibida. Com relação à confusa tradução literal de design
para desenho, Fontoura (2002) explica:
Baxter (2011) apresenta que os diferentes níveis
de gerência em uma empresa devem operar encorajando
novas ideias e dando liberdade de criação, facilitando o
surgimento das inovações. Desta maneira, “Os
resultados, sob forma de produtos acabados é,
naturalmente, a parte mais importante do gerenciamento
da inovação” (BAXTER, 2011, p. 126). A gestão da
inovação se dá, portanto, em ambientes com boa
qualidade de recursos humanos que tenham tolerância,
fluxo contínuo de ideias e informações sem preconceitos,
ou seja, que permitam o empreendedorismo, sempre em
ambientes de incerteza, especialmente quando
relacionados ao sistema da moda. Para este mesmo
autor, inovar ou não inovar são, ambas, atitudes
arriscadas: a decisão de inovar demanda investimento,
cujo retorno é incerto; não inovar pode acarretar a
exclusão de um mercado devido à competição
empresarial.
Na falta de outro termo mais adequado no
português contemporâneo, diante da quase
impossibilidade de se restituir o uso no sentido
original da palavra, e sob a consciente pena de
cumplicidade com mais um estrangeirismo –
anglicismo – na língua portuguesa, utilizar-seá [...] o termo “design” no lugar de “desenho”.
Resgatar os conceitos do design poderia ser o
primeiro passo para a compreensão de seu potencial
criador e produtivo de modo que possa ser explorado por
indivíduos e empresas, em estratégias de crescimento e
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REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
Em 1988, numa plenária do 5º Encontro
Nacional de Desenhistas Industriais – 5º
ENDI, realizado em Curitiba, aprovou-se o
uso do termo “design” para designar
genericamente as atividades profissionais
relacionadas ao desenho industrial
(FONTOURA, 2002, p. 72).
palavra oca, que compreenda a disciplina
precisa da atividade de projeto aplicada à
produção industrial ou pós-industrial e passe
a se interessar por essa forma de expressão
cuja base repousa na incessante mudança
tecnológica; nessa forma de expressão que
se projeta para o futuro, sempre em busca de
articulações e significados novos e cujo
pressuposto nuclear é atender às demandas
de bem-estar físico, intelectual e emocional
do ser humano. [...] Enquanto isso, à nossa
volta, tudo continua por ser feito. Na
educação, na saúde, na moradia, no
transporte, na cultura e na construção da
dignidade de um povo. O design poderia ser
uma extraordinária ferramenta nesse esforço
(ESCOREL, 2000, p. 69).
Santos (2000) acredita que é preciso conhecer a
base conceitual do design para que se desenvolva um
modelo de gestão e operacionalização com enfoque
estratégico. Assim, o próprio conceito de design evoluiu,
inicialmente relacionado somente a projeto, hoje a
abordagem é mais ampla, relaciona-se à gestão
estratégica e está inserido em todas as áreas de uma
organização.
Puerto (1999) acredita que não basta só decretar
a necessidade do design – a empresa deve ser preparada
para criar um ambiente que proporcione sua inserção,
através da implantação de um departamento de design
que colabore com as decisões da empresa, rompendo as
barreiras, especialmente nas empresas mais tradicionais.
Novos projetos geralmente demandam mudanças,
sofrendo grandes resistências, principalmente em
empresas com linhas de produção racionais e
estandardizadas. Conforme Mozota, Klöpsch e Costa
(2011, p. 91) a gestão de design se relaciona “[...] ao
processo de mudança de um modelo de administração
taylorista, hierárquico, para um modelo organizacional
plano e flexível, que incentiva a iniciativa individual, a
independência e a tomada de riscos”.
O complexo caminho para o desenvolvimento de
produtos industriais alongou sua trajetória: não é
necessário somente saber projetar, é preciso se perguntar
por que projetar, ou seja, ir além do produto, analisar toda
a conjuntura de seu uso, os cenários futuros, dando
ênfase nas necessidades humanas fundamentais em
detrimento dos “[...] desejos efêmeros ou artificialmente
manipulados [...]” (BROWN, 2010, p. 19). Essa nova
metodologia de design, chamada design thinking ou
pensamento de design “[...] é o novo modelo de gestão
capaz de enfrentar os desafios e a complexidade do
mundo atual, não só no âmbito dos negócios como
também nos temas públicos, como a saúde, habitação,
educação e o lazer” (CENTRO DE DESIGN PARANÁ,
2006, p. 5). O design thinking ajuda, portanto, “[...] as
pessoas a articular as necessidades latentes que podem
nem saber que têm [...]” (BROWN, 2010, p. 38).
Os modelos de negócios no design brasileiro
vêm se diversificando cada vez mais para tentar
responder às demandas de mercado e ampliar sua
competitividade. Nesse sentido, é importante monitorar
sua conjuntura industrial para direcionar corretamente as
atividades de design no país, observando-se que:
Design Thinking, ou pensamento do design,
pertence a um campo ainda mais amplo e
estruturante do conhecimento da pósmodernidade, o pensamento complexo.
Representa um estilo cognitivo de pensar e
agir particular, que oferece caminhos e
respostas nos contextos complexos vividos
pelas organizações privadas, públicas e do
terceiro setor do século XXI. O pensamento
do design evolui, portanto, de um design do
“como fazer” (produtos, marcas) para o
design do “que fazer” (estratégia, gestão,
negócios) (BRASIL, 2014, p. 91).
Ÿ Desde 2004, vem ocorrendo um novo ciclo
de desindustrialização, com a indústria de
transformação perdendo participação no PIB.
Ÿ Na série histórica 2000-2010, vem
ocorrendo uma perda de participação da
competitividade das exportações de setores
mais intensivos em tecnologia e aumento da
participação das exportações nos setores
mais intensivos em recursos naturais.
Ÿ Há perspectivas de expansão em setores
mais focados no mercado doméstico, tendo
em vista a consolidação do mercado de
consumo de massas, resultante da
combinação do aumento da renda e da
redução de desigualdades sociais.
Ÿ O Brasil deve buscar estratégias para se
integrar às cadeias globais de valor e se
especializar em etapas de maior valor
agregado e conteúdo tecnológico (BRASIL,
2014, p. 71).
No Brasil, as empresas ainda investem pouco
em design, visto como algo supérfluo e que gera um custo
desnecessário, atrasando o desenvolvimento da
atividade. Caldas (2006) coloca que tal investimento pode
representar de 3% a 10% do total dos custos contra 20%
a 30% de retorno. Além disso, micro e pequenas
empresas têm dificuldade em contratar designers por
serem vistos como uma sofisticação desnecessária, o
que atrasa ainda mais o desenvolvimento do design
nacional. O mesmo autor ainda complementa que “À
ausência de uma cultura do design enraizada no Brasil,
soma-se a falta de instrumentos para a realização de uma
gestão eficiente do design” (CALDAS, 2006, p. 151).
Escorel (2000) apresenta sua crítica com relação ao
atraso desse tipo de visão empresarial e complementa
com seus significativos diferenciais:
Conforme aponta Rech (2006), a competitividade
na moda pode ser obtida pelo aperfeiçoamento do design,
promovendo parcerias entre fornecedores e clientes,
aumentando as exportações, reduzindo custos e
melhorando a qualidade, modernizando o setor como um
todo e valorizando aspectos intangíveis/imateriais.
Feghali e Dwyer (2004, p. 141) prospectam que a grande
vantagem competitiva na moda “[...] será a capacidade de
Talvez seja pedir muito de um país, que
insiste em valorizar a improvisação, a
malandragem, o artesanal e o uso leviano da
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mudar rapidamente com base na resposta do
consumidor. O desenvolvimento de produto será rápido,
orientado pela tecnologia e com foco apenas em funções
de valores estratégicos”.
também confirmado nas empresas visitadas. Somente
5,2% dos trabalhadores possuem educação de nível
superior completo e 5,9% incompleto, sendo que a maior
parte (36,8%) possui ensino médio completo e 23,4% não
concluiu o ensino fundamental, destacando-se que há
somente 845 trabalhadores com pós-graduação. A
indústria de vestuário e acessórios é caracterizada, em
sua maioria, por microempresas (81,8%), as empresas de
pequeno porte possuem 503 estabelecimentos (16%) e as
de médio porte, 67 estabelecimentos (2,1%). Existem
apenas duas empresas de grande porte. Esta indústria
emprega 23.349 pessoas no Rio Grande do Sul. As
pequenas empresas concentram 41,3% deste total.
Vogt (2003) explica que a indústria têxtil foi uma
das primeiras a se instalar no estado e no país durante as
primeiras décadas do século XX, exercendo a liderança
na indústria de transformação e destaca sua importância
no desenvolvimento da economia brasileira,
principalmente entre 1914 e 1950. Esta cadeia
heterogênea é a segunda maior empregadora da
indústria de transformação e a segunda maior geradora
do primeiro emprego. As 30 mil empresas registradas no
país possuem um parque produtivo de confecção que é o
quarto maior do mundo. Mendonça et alii (2013) apontam
o país como o quinto maior produtor têxtil do mundo,
representando 16,4% dos empregos e 5,5% do
faturamento da indústria de transformação. A moda
brasileira está entre as cinco maiores semanas de moda
do mundo. Além disso, o Brasil é o maior país do mundo
em quantidade de cursos superiores de moda, já
ultrapassando 40, segundo o Ministério da Educação. O
segmento têxtil/vestuário é o segundo setor maior
empregador do país, oferecendo cerca de 1,5 milhões de
empregos. É a quinta mais importante cadeia têxtil do
mundo, fica atrás apenas da China, Índia, Estados Unidos
e Taiwan. Outro dado importante é que 90% dos
estabelecimentos do setor são compostos por micro e
pequenas empresas, sendo que as líderes de grande
porte estão nos elos da cadeia de tecelagem e fiação, que
exigem maior tecnologia (ABDI e UNICAMP, 2008).
Os dados primários, coletados pelos
pesquisadores nas sete empresas visitadas, buscaram
levantar seis pontos principais, através da aplicação do
instrumento de coleta de dados (questionário):
1º: identificar a empresa em linhas gerais;
2º: fazer a leitura do perfil de seus funcionários;
3º: conhecer seus processos produtivos;
4º: averiguar a situação da gestão de design;
5º: levantar dados sobre atividades e produtos
inovadores;
6º: estabelecer uma relação entre as atividades
da empresa com fatores de desenvolvimento
socioeconômico local.
Esta cadeia é um dos pilares da industrialização
nos países pobres ou em desenvolvimento, pois suas
unidades de produção não requerem vultuosos custos
iniciais (RECH, 2006). Muitas etapas produtivas têm sido
deslocadas para regiões em que o custo de trabalho é
menor e as grandes empresas que comandam a cadeia
globalmente focam suas atividades para aspectos como
marca, desenvolvimento de produto, canais de
distribuição e comercialização. A autora também relembra
que é importante que o empresário tenha consciência de
que está produzindo moda e não apenas roupa.
A análise dos dados da pesquisa primária revelou
que há fatores positivos e negativos em todas as
empresas visitadas. De forma resumida, os fatores
positivos que se podem pontuar são:
- os produtos desenvolvidos são de excelente
qualidade e conforto e algumas empresas se tornaram
grandes referências em seus segmentos de mercado;
além disso, há uma preocupação constante com a
melhoria das modelagens e do caimento das peças;
2.3 RESULTADOS DA PESQUISA
- há grande abertura aos funcionários para o
diálogo e para as inovações, estimulando melhorias
contínuas, acontecendo com maior ênfase na introdução
de novas tecnologias, aumentando a lucratividade das
empresas;
Os dados secundários, oriundos de um estudo
realizado pela Unidade de Estudos Econômicos da
Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (FIERGS,
2014) denominado Estudos técnicos: Fotografia do
Mercado de Trabalho 2012, demonstram o perfil do setor
de vestuário e acessórios no Rio Grande do Sul. Eles
revelam que a região noroeste é a terceira do Estado em
empresas da indústria de transformação e possui
destaque no setor de confecção de vestuário. As micro e
pequenas empresas são as unidades em maior número,
assim como na região específica da Fronteira Noroeste,
evidenciando sua importância na economia gaúcha. As
mulheres são as grandes propulsoras desse mercado de
trabalho: 83,3% dos trabalhadores do segmento de
vestuário e acessórios são do sexo feminino. Nas sete
empresas visitadas nesta pesquisa, cinco mulheres
empreendedoras estão no comando de suas atividades.
O baixo nível de escolaridade dos funcionários,
especialmente na linha de produção, também é uma das
características das empresas de confecção, dado
- o maquinário do setor produtivo, em geral, é o
que recebe maiores investimentos nas empresas, sendo
bastante atualizado e adequado à produção industrial,
que apresenta muitas condições de ampliação do volume
de produção.
Já os principais pontos negativos evidenciam
muitas melhorias a serem implementadas pelas
empresas, sendo que eles são:
- a mão de obra é pouco qualificada e com baixa
formação profissional na área;
- as instalações são bastante precárias em quase
todas as empresas observadas, sendo que elas
apontaram que a ampliação e melhoria de sua planta
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70
REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
industrial seria um dos fatores de maior preocupação, o
que ajudaria a ampliar a capacidade de suas bases
produtivas;
pouca formação profissional;
- há falta de investimentos em design por
considerarem que não é necessário investir nessa
atividade;
- a distância geográfica da região em relação aos
grandes centros urbanos foi apontada por todas as
empresas como um dos maiores entraves nas rotinas
empresariais, bem como a entrada de produtos
importados e os altos impostos;
- há pouco tempo hábil disponível dos
empresários para repensarem seus processos de
pesquisa em moda;
- as principais barreiras à inovação são o medo
de abertura a mudanças e a falta de tempo em se
realizarem pesquisas;
- há precariedade na estrutura organizacional e
física que proporcione um ambiente adequado à gestão
de design;
- as definições de design são confusas e
obscuras;
- a distância geográfica dificulta novas pesquisas
de tendências;
- a formulação de estratégias empresariais dá
pouca ênfase ao design, sendo que há grande destaque
na etapa produtiva em detrimento de outros aspectos
estratégicos;
- há pouca abertura às mudanças;
- há pouco interesse na ampliação dos estudos
em design;
- a estética e o estilo visual é uma das principais
preocupações dos empresários quando desenvolvem
novos produtos, da mesma forma que a principal
finalidade do design nas empresas está no lançamento de
novos produtos que reforçam a imagem da marca;
- não há uma metodologia de design adequada
aos processos de confecção de moda;
- a criação de novos produtos dá muita ênfase
aos aspectos estéticos;
- a pesquisa e o desenvolvimento de novos
produtos acontece com muita frequência e as empresas
concordam que a gestão de design é fundamental, ou
seja, é a base pela qual tudo acontece e o que as coloca e
diferencia no mercado, porém não há uma estrutura e
uma metodologia de design adequada e o investimento
também não é significativo, da mesma forma que a mão
de obra não é suficientemente qualificada ou ela é de alto
custo para a empresa;
- a cópia ou adaptação de produtos concorrentes
é mais valorizada do que a criação de produtos originais.
Embora o parque fabril requeira
ampliação/melhoria, o elo “produção” possui menos
dificuldades, pois:
- o maquinário, as tecnologias e os materiais de
confecção são de boa qualidade e atualizados;
- as empresas do segmento de uniformes
esperam que os clientes venham até elas, para
realizarem seus pedidos, não visualizando ou se
antecipando a mercados potenciais através da oferta de
produtos diferenciados, revelando que há poucas
perspectivas em melhorar sua gestão de design, sendo
visto somente pelos seus atributos visuais;
- há a constante preocupação em melhorar a
qualidade da modelagem e dos acabamentos das peças;
- há plena capacidade de expansão das bases
produtivas.
Com relação à contribuição das empresas com o
desenvolvimento socioeconômico local, as respostas
estão ilustradas no gráfico da Figura 3.
- a prática da cópia de produtos concorrentes é
rotineira e considerada normal em quase todas as
empresas visitadas, embora todas tenham destacado que
a inovação e o lançamento de novos produtos são fatores
que as tornam mais competitivas no mercado;
Figura 3: Contribuição das empresas com o desenvolvimento
socioeconômico local
- a grande maioria dos empresários está
diretamente ligada no desenvolvimento de seus produtos,
monopolizando o poder de decisão sobre o que será
colocado em linha de produção, além de se dividir em
todas as demais funções da empresa, criando rotinas
enrijecidas e diminuindo o tempo de atenção que exige
cada setor da empresa.
Analisando-se as três etapas principais da
gestão industrial nas empresas de confecção (criação,
produção e venda/distribuição), observou-se que o elo
“criação” (desenvolvimento de novos produtos) é o mais
delicado, pois:
FONTE: Elaborado pelos autores (2015).
A partir de toda a análise do instrumento de coleta
de dados (questionário), elaborou-se um panorama da
gestão de design das empresas – destaca-se que estas
- a mão de obra possui baixa qualificação e
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REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
empresas (assim como algumas outras que não foram
elencadas para esta pesquisa) são as que possuem a
melhor estrutura e produção de seus segmentos em toda
a região Fronteira Noroeste, sendo que as demais ainda
precisam melhorar seus processos como um todo. Com
esses dados levantados, procurou-se verificar o nível de
gestão de design das empresas mais representativas em
cada segmento de mercado, ou seja, nas sete empresas
escolhidas para a realização desta pesquisa. A Figura 4
apresenta cada empresa e sua classificação,
especificando as mesmas em níveis e sua porcentagem
no total das empresas visitadas.
no cumprimento dela. Tal fato pode se justificar, ainda,
pela natureza/sazonalidade com que acontecem os
lançamentos de novos produtos, atestando que é neste
momento que as empresas veem maior uso do design.
Figura 4: Nível de gestão de design das empresas visitadas
Para se realizar esta classificação, levaram-se
em consideração as principais dificuldades das empresas
em criação, produção e venda/distribuição, além de
considerar se as empresas possuem planos, recursos e
objetivos para o design, ou mesmo analisando-se a
expertise e o conhecimento dos empresários dos
benefícios da gestão de design, além de se observar a
rotina da empresa e interpretar as respostas dadas ao
questionário da pesquisa. Para isto, baseou-se na escada
de design apresentada por Brasil (2014). Sendo assim, a
classificação da Figura 4 simplificou a questão em três
níveis de gestão de design: básico, intermediário e
avançado, sendo que suas principais características
consideradas foram:
FONTE: Elaborado pelos autores (2015).
- nível de gestão de design básico: não há gestão
de design ou ele está sendo utilizado de forma
esporádica, com resultados imprevisíveis e
inconsistentes, sendo parte imperceptível do processo de
desenvolvimento de produtos, executado por funcionários
não capacitados na área, com soluções baseadas na
percepção de funcionalidade e estética sem levar em
conta as metodologias adequadas;
Não se pode deixar de destacar que a empresa
do segmento de moda festa de Santa Rosa é grande
referência em design, tanto no desenvolvimento de novos
produtos, quanto em inovações e pensamento
estratégico. As empresas do segmento de cama, mesa e
banho, decoração ou acessórios de Horizontina e do
segmento de moda casual, fitness, moda praia e moda
íntima de Santo Cristo também caminham para este nível
de gestão em design.
- nível de gestão de design intermediário: gestão
em nível de projeto e funcional, em que a empresa já tem
plena consciência do que é o design, sua importância e
como implantá-lo na linha de produção, sendo a
responsabilidade de um profissional específico
desenvolver permanentemente novos produtos,
entendendo essa atividade como processo/método
voltado à usabilidade com foco no público-alvo, porém o
design ainda não é visto como uma ferramenta de
inovação, somente como auxiliar do departamento de
marketing para ressaltar o aspecto visual (estilo) dos
produtos;
3. CONCLUSÃO
A moda e sua presença no interior gaúcho, através
da atividade produtiva das diversas empresas de confecção
de vestuário ou decoração, é um dos elos que afetam o
processo de desenvolvimento. Nesse sentido, buscou-se
analisar como as melhores empresas da região Fronteira
Noroeste operam desde a criação, o desenvolvimento, até
a venda e distribuição de seus produtos.
A gestão de design é fundamental na
competitividade das empresas que compõem a cadeia da
moda, em virtude da alta concorrência e dos elevados
custos de operação desse sistema. Frente a isso, as
empresas têm buscado na inovação o seu diferencial
competitivo de mercado. Na região examinada nesta
pesquisa, observou-se que as empresas têm muitas
dificuldades em gerenciar o processo de design,
principalmente no estágio inicial de pesquisa e
desenvolvimento de novos produtos, seja por estarem
distribuídas em diferentes segmentos de mercado, seja pela
falta de mão de obra qualificada ou pela falta de união para o
fortalecimento do setor nesta parte do território gaúcho.
- nível de gestão de design avançado: a gestão
de design é um grande referencial e parte da cultura da
empresa, que investe em estratégias de diferenciação
focadas na inovação (o design é ferramenta, metodologia
e filosofia para alcançá-la); o designer atua junto com os
dirigentes da empresa, na sua visão e posicionamento
estratégico em relação ao mercado, para a criação de
uma cadeia de valores que envolve diretamente a
valorização dos ativos intangíveis da empresa.
A falta de estímulo à gestão de design e de
profissionais qualificados, portanto, são dois grandes
entraves que se observaram na análise desta pesquisa. O
uso de profissionais terceirizados para o desenvolvimento
de novos produtos (embora observado somente em duas
empresas) pode demonstrar a capacidade limitada nesta
demanda da empresa ou mesmo a falta de planejamento
A região em questão se encontra muito carente
no que diz respeito à pesquisa e à inovação, sendo
poucas as empresas que desenvolvem metodologias
72
REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
adequadas no desenvolvimento de seus projetos. Isso
também é bastante percebido no portfólio de produtos
apresentados, pobres em inovação e ricos em cópias ou
adaptações do que é produzido nos grandes centros,
como São Paulo.
do design pode se dar por meio da intervenção de
instituições de ensino, pesquisa e extensão, compatíveis
com as particularidades do contexto local e centradas em
fatores tecnológicos, de gerenciamento e de mercado,
além de fatores subjetivos e estéticos, como pontua
Puerto (1999). A pesquisa, além de acontecer nas
universidades, deve ser melhor estruturada dentro das
próprias empresas, de modo a se criar maior
compreensão e preparação das empresas frente aos
desafios deste milênio.
Algumas empresas, especialmente do segmento
de uniformes e/ou camisaria, não visualizam seus
produtos dentro do sistema da moda, pois acreditam que
esse tipo de produto não sofre a influência das novas
tendências de consumo, permanecendo no mercado com
pouquíssimas alterações de estilo. Isso se dá por não
compreenderem que o design não está somente nos
aspectos estéticos, mas também funcionais e
estratégicos da empresa, podendo contribuir no seu
desempenho como um todo. Já algumas outras
empresas, mesmo produzindo em segmentos de
mercado com alta influência de modismos, não
demonstraram muito interesse em aprimorar sua
metodologia de design no desenvolvimento de novos
produtos, preferindo permanecer em métodos
improvisados ou baseados em cópias.
Compreendeu-se que o caminho para o
desenvolvimento sempre será de e para pessoas, não
coisas, sendo que ele acontece pelas vias econômicas,
políticas, ambientais, criativas, empresariais, educativas,
socioculturais, dentre outras, como através do design
estratégico, levando-se em conta que cada ser humano,
grupo, território, empresa ou organização deve buscar
soluções próprias a partir de suas limitações e
potencialidades, tendo a consciência que esse processo é
incerto e pode gerar desconfortos.
Por meio da análise da dinâmica global do
desenvolvimento e da reprodução social dos diversos
agentes, chega-se ao entendimento que a educação cria
as melhores condições para a formação da cidadania,
bem como o design, por proporcionar uma leitura
contemporânea adequada às necessidades humanas e
sociais. A educação através do design possibilita a
expressão de potencialidades e capacidades,
melhorando o desempenho profissional e empresarial,
seja qual for o cenário que será apresentado no futuro.
As empresas visitadas já participam ativamente
do desenvolvimento da região Fronteira Noroeste, através
da geração de empregos diretos e pela teia de pessoas,
empresas e instituições indiretamente participantes de
seus processos produtivos. O design, neste contexto,
poderia trazer uma ampliação das possibilidades de
sucesso empresarial, refinando a gestão de design
através de projetos mais inovadores, diferenciados e ricos
em simbolismos, tornando-se destaques em seus
segmentos de mercado, como já o fazem algumas
empresas. Além disso, é necessário se antecipar aos
prognósticos que apontam para essas questões, antes
que as crises eventuais possam prejudicar o desempenho
ou a permanência das empresas no mercado. Conforme
destaca o Centro de Design Paraná (2006, p. 4) “[...] nem
sempre quem precisa de design sabe que precisa de
design”. Porém, empresas que operam
fundamentalmente com vestuário necessitam ter toda a
base produtiva baseada no sistema da moda, mas muitas
parecem não se dar conta disso.
Os níveis de gestão de design apresentados
foram exibidos com o intuito de alertar que ainda há um
vasto caminho que algumas empresas podem percorrer
na melhoria de seus processos, buscando acompanhar o
segmento de mercado do qual fazem parte e valorizar a
capacidade criativa de seus funcionários. Ficou
claramente visualizado, também, que as empresas que
estão em um nível mais avançado de gestão de design
são as que estão mais preocupadas em seguir inovando,
adaptando-se às mudanças socioeconômicas,
valorizando profissionais mais qualificados e investindo
mais em seus processos criativos. É difícil afirmar como
as demais empresas estão em atividade sem uma gestão
de design de moda minimamente estruturada,
provavelmente sempre haverá espaço para produtos
baseados na cópia, pois o mercado da moda dificilmente
estará protegido por direitos autorais – esta certamente
seria uma boa base para outra pesquisa. A depreciação
do design não está somente na gestão empresarial, mas
nos profissionais que ainda não conseguiram demonstrar
sua capacidade de atender às exigências dos
empresários e do mercado.
Ao se implementar a gestão de design na
organização, espera-se que haja uma mudança
comportamental oriunda da tomada de consciência da
importância dessa atividade e das implicações que ela
acarreta na rotina, como o maior desempenho de
competências, de participação e de trabalho integrado. A
imagem corporativa também melhora, bem como o
planejamento estratégico a longo prazo. É importante
salientar que a mudança pode acontecer de forma
gradual, ou seja, é preciso, inicialmente, buscar a
compreensão do design em todas as suas expressões
para, posteriormente, passar a se adotar medidas de sua
inserção na atividade industrial. Para o Centro de Design
Paraná (2006) pode-se ampliar as parcerias com centros
de ensino ou mesmo se criar algum tipo de associação
que possa estar à frente das demandas dos empresários.
Ampliar as ações para além da empresa, participando de
desfiles e exposições ou melhorando suas estratégias de
marketing e comercialização, também pode melhorar a
participação das empresas no mercado, envolvendo o
consumidor em testes de novos produtos.
Compreender as funções do design e seu
potencial criador e produtivo voltado a estratégias de
crescimento e de desenvolvimento, tanto pessoal quanto
empresarial, é a proposta maior que esta pesquisa
procurou demonstrar. A realidade social e o ambiente de
projetos de design são cercados pela incerteza e
imprevisibilidade, ou seja, nada é certo ou definitivo. A
subversão aos modelos dados através da
experimentação, neste caso, aliada à criatividade, pode
se mostrar um meio líquido de se navegar pelo processo
de mudança, adaptando-se com maior facilidade aos
Acrescenta-se, ainda, que a educação através
73
REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
novos caminhos que a sociedade vem percorrendo, que
se refletem nas práticas de consumo de produtos de
vestuário. O novo pode ser assustador, pois ainda não é
plenamente conhecido, porém é o que abre as portas
para que novas possibilidades possam ser visualizadas. A
gestão empresarial deve buscar ser agente de
transformação e inovação, não uma expectadora dos
acontecimentos, afinal, toda ação é um ato de
desenvolvimento.
ESCOREL, Ana Luisa. O efeito multiplicador do design.
São Paulo: Senac, 2000.
FEGHALI, Marta Kasznar; DWYER, Daniela. As
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A PERCEPÇÂO DOS ENFERMEIROS SOBRE ASSISTÊNCIA DA ENFERMAGEM NO CUIDADO
DAS ÚLCERAS DE PRESSÃO
Maria Salete Pianta Christ¹
Lisete Maria Sander Kunzler²
Vera Beatriz Pinto Zimmermann Weber³
ABSTRACT
A pressure ulcer (PU) is a pathology that affects a
proportion of nearly 100% of patients in bed in Intensive
Care Units (ICUs), it is one of the main causes of morbidity
and mortality in Rio Grande do Sul (RS) and Brazil, and it
needs the individual care of the Nursing professional. In
this sense it is more and more noticeable the need for
offering good services in the hospital institutions, making it
possible to maybe reach good results. The nurses are
fundamental in this process, because besides the patient
care, they manage their units and their teams organizing
them in the engagement with the service offered, which
leverages actions and services that prevent the risk of
Pressure Ulcers. This research aimed to investigate the
knowledge of Nursing professionals regarding to Pressure
Ulcers and what tools they use in order to prevent such
pathology in patients admitted in the ICU. It was important
to develop a qualitative and quantitative approach of the
exploratory kind. The collection of data happened through
a form, with open and closed questions about the theme.
To interpret the information collected, it was necessary to
use the technique of content analysis, in the resemblance
method and proximity of answers. The subjects of this
research were six nurses who work exclusively in the ICU
of an institution of middle size from the Northwest region of
Rio Grande do Sul. For this study, it was necessary to
attend to the scientific and ethical expectations from the
resolution number 466/12 of the National Health Council.
The data collected were analyzed and confronted with
existing bibliographies about the subject. During the
research it was possible to notice the Nurses working in
the same space, ICU, and having the same tools working
under the same current protocol, and they diverged a lot in
their answers, which show the difficulty in keeping the
proximity in actions of team work. It is important to observe
that such research seeks to orient and look for a
differentiated action with the nurses in order to avoid
Pressure Ulcers injuries, using quality tools, minimizing the
development of Pressure Ulcers and offering greater
quality of life to the patient.
RESUMO
A úlcera de pressão (UP) é uma patologia que afeta uma
proporção de quase 100% dos pacientes acamados em
Unidade de Terapia Intensiva (UTI), é uma das principais
causas de morbidade e mortalidade no Rio Grande do Sul
(RS) e Brasil, necessitando do cuidado individualizado do
profissional de Enfermagem. Nesse sentido, cada vez
mais se percebe a necessidade de oferecer bons serviços
nas instituições hospitalares possibilitando alcançar bons
resultados. Os Enfermeiros são fundamentais neste
processo, pois, além do cuidado ao paciente, gerenciam
suas unidades e suas equipes, organizando-as no
comprometimento com o trabalho prestado alavancando
ações e serviços que previnem o risco de UP. Esta
pesquisa teve como objetivo investigar o conhecimento
dos profissionais Enfermeiros a respeito das UP e as
ferramentas que utilizam para a prevenção em pacientes
internos na UTI. Seguiu-se uma abordagem
qualiquantitativa, do tipo exploratória descritiva. A coleta
dos dados realizou-se por meio de um formulário, com
perguntas abertas e fechadas acerca do tema. Para
interpretar as informações obtidas utilizou-se a técnica de
análise de conteúdo, observando
a semelhança e
aproximação das respostas. Foram sujeitos da pesquisa,
seis enfermeiros atuantes fixos na UTI, de uma Instituição
de médio porte da região noroeste do RS. Para este
estudo, foram atendidas as exigências cientificas e éticas
da resolução nº 466/12 do Conselho Nacional de Saúde.
Os dados coletados foram analisados e confrontados com
bibliografias sobre o assunto. Durante a pesquisa
percebeu-se que os Enfermeiros mesmo atuando no
mesmo espaço, UTI, e tendo as mesmas ferramentas de
trabalhando com o mesmo protocolo vigente, tiveram
divergências em suas respostas, o que mostra a
dificuldade em manter uma proximidade em ações de
trabalho em conjunto. Salienta-se, que esta pesquisa
procurou orientar e buscar junto aos Enfermeiros uma
ação diferenciada evitando lesões como UP, utilizando-se
das ferramentas de qualidade, minimizando assim o
desenvolvimento das UP e ofertando maior qualidade de
vida ao paciente.
Keywords: JNurse. Pressure Ulcer. Tools. Quality of Life.
Palavras-chave: Enfermeiro. Úlcera de pressão.
Ferramentas. Qualidade de vida.
1. INTRODUÇÃO
(UP), em pacientes internados na UTI, bem como
conhecer os possíveis tratamentos e cuidados prestados,
em um hospital de médio porte de um município da
Região Noroeste do Estado Rio Grande do Sul (RS).
O presente trabalho parte do interesse em
pesquisar esse tema, por ter surgido curiosidades e
dúvidas durante o estágio na Unidade de Terapia Intensiva
(UTI). Tem como objetivo central, avaliar a equipe de
Enfermagem referente aos conhecimentos relacionados à
conduta tomada na prevenção das Úlceras de Pressão
Apesar das inúmeras orientações a respeito,
observa-se que há muitos obstáculos enfrentados pelos
profissionais tentando melhorar a qualidade do
¹ Autora do TCC
² Professora Co-orientadora do estudo
³ Professora Orientadora do estudo
76
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atendimento, a partir de ações que minimizem o risco de
desenvolverem as UP, porém às vezes com pouco
sucesso. O complexo processo do cuidado na área da
Enfermagem não se restringe simplesmente no trabalho
técnico, mas também exige humanização ao cuidado do
paciente.
A presente pesquisa busca identificar a forma
que os profissionais enfermeiros atuam junto a uma UTI, e
no desenvolvimento de atividades de prevenção de UP
nos pacientes acamados.
Integram-se no estudo, os profissionais
enfermeiros que atuam em uma UTI geral de um hospital
de médio porte da Região Noroeste do Estado do RS,
sendo desenvolvida pela acadêmica do décimo semestre
do curso de Bacharelado em Enfermagem da sociedade
Educacional Três de Maio (SETREM), no decorrer do
segundo semestre de 2014.
Os Enfermeiros que trabalham na UTI, no
ambiente agitado dessa unidade, ao cuidado de pacientes
críticos, para manter uma conduta mais coerente acerca
do cuidado, necessitam de buscas constantes de
atualização na rotina da equipe de Enfermagem com
material bibliográfico de consulta rápida, conforme a
evolução do paciente, podendo assim monitorar melhor
seu quadro clínico (SCHELL; PUNTILHO; 2005).
De que forma os Enfermeiros de uma UTI Geral,
em uma instituição hospitalar de médio porte da Região
Noroeste do Estado do RS, direcionam o processo de
avaliação e cuidado na prevenção das UP em seus
pacientes?
Sabe-se que as UP são causas de muitos óbitos,
relacionados com infecções hospitalares, pela baixa
imunidade e septicemia, além do desconforto físico que
causa, deixando-o na desvantagem frente à sociedade
podendo ser também um foco recorrente e risco a
internação em UTI (MALAGUTTI; KAKHIARA 2011).
AS ÚLCERAS DE PRESSÃO E O CUIDADO
A enfermagem e a importância no cuidado das
úlceras de pressão ao paciente crítico na internação em
UTI. Dessa forma, a pesquisa foi desenvolvida e
fundamentada no protocolo e conhecimento da SAE, em
que se ampliará o referencial teórico, o qual tem como
base o material empírico.
A sistematização da assistência de Enfermagem
(SAE) garante qualificação na prática técnica científica do
atendimento, e assim soluciona os problemas que
poderão surgir diante da necessidade de se ter um
paciente acamado em leito de UTI (MURTA; 2007).
2.1 UP NA INSTITUIÇÃO HOSPITALAR
Conforme os autores Brêtas; Gamba, (2006) ao
descrever a situação de saúde do adulto brasileiro, é
fundamental reconhecer que o perfil de morbidade e
mortalidade nessa faixa etária tem se transformado a
cada dia, principalmente em razão do envelhecimento
populacional, dos movimentos migratórios, das mudanças
nos hábitos de vida e da oferta de serviços de saúde. E
que leva a pensar que a população idosa vai aumentar e o
nível de acamados poderá aumentar na mesma
proporção e que poderão desenvolver UP, se não houver
técnicas eficientes para minimizar essa incidência.
A UP é resultado do trauma mecânico aplicado
na pele e tecidos subjacentes, durante o processo do
cuidado propriamente dito, em que se espera uma
evolução e um resultado positivo, contornando o problema
(MALAGUTTI; KAKIHARA, 2011).
Os autores supracitados afirmam que UP são
eventos adversos, que acometem o paciente
hospitalizado e que estão diretamente ou indiretamente
relacionados com o cuidado da equipe de Enfermagem, e
esta deve estar familiarizada com os principais fatores de
risco na sua formação.
Pensando nessas hipóteses é que há a
necessidade de tornar uma prática nobre diante da
prevenção das UP, uma maneira adequada de prestar
assistência com segurança, sem ocorrência de situações
que poderão aumentar a incidência e risco das UP em
pacientes internados.
Isso nos mostra a importância do trabalho em
equipe, com a discussão de casos clínicos, pela equipe
multiprofissional, e a troca de informações, no sentido de
complementar a avaliação e diagnóstico do Enfermeiro no
campo profilático, contextualizando a manutenção da
integridade da pele (MALAGUTTI; KAKHIARA, 2011).
2. METODOLOGIA
A metodologia foi uma abordagem de cunho
qualiquantitativa, exploratória descritiva, que durante o
estudo sondou um conhecimento empírico das UP,
mediante esclarecimentos e coleta de dados, e, de tal
modo foi aplicado um formulário com questões abertas e
fechadas em relação à pesquisa. Para conclusão do
referido estudo respeitou-se as normas ética e bioética,
conforme as normas da Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT).
2.2 OS ESTÁGIOS EM QUE ESTÃO CLASSIFICADAS
AS UP
Os estágios em que estão classificadas as UP
são definidos como base de seguimento seguro, no qual
os profissionais conseguem avaliar mediante visualização
os aspectos reais UP, e enquadrá-la no estágio em que se
encontra para direcionar o tratamento correto.
É a equipe de Enfermagem que deve contrastar e
comparar as UP, conforme o leito em que a ferida se
apresenta. Esse critério fornece aos profissionais de
saúde uma metodologia para avaliar e classificar as UP,
seguindo os estágios I, II, III, IV, ou sem estágio, e assim
facilitando o diagnóstico no tratamento e cicatrização das
mesmas (SCHELL & PUNTILLO, 2005).
Para esse estudo foram seguidas todas as
normatizações previstas na resolução 466/2012 do
Conselho Nacional de Saúde do Ministério da Saúde
(CNS/MS), que trata de pesquisas envolvendo seres
humanos, bem como observando os quatro princípios da
Bioética: não maleficência, beneficência, justiça e
autonomia (BRASIL, 2012).
77
REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
Estágio I: é quando a pele apresenta uma
área de Eritema persistente, devido à
pressão ocasionada onde a pele se
encontra intacta, na vigência da pressão de
um dedo, geralmente localizada sobre uma
proeminência óssea, nesse caso a pele
encontra-se vermelha íntegra, em geral, a
inflamação pode reverter após a remoção da
pressão. Estágio II: é quando existe uma
área com uma lesão e com bolhas, em que
há perda parcial da espessura da derme, e
apresenta-se como uma úlcera rasa e
aberta, com o leito da ferida de coloração
vermelha rosa, sem esfacelo. Também
poderá ocorrer uma bolha intacta ou aberta,
preenchida por soro. Estágio III: é quando
existe uma erupção na área afetada,
formando uma lesão aberta. Perda total da
espessura do tecido. A gordura subcutânea
pode ser visível, mas os ossos, tendões ou
músculos não estão expostos e existe
esfacelo. Estágio IV: é quando a UP destrói
os tecidos desde a pele até os ossos,
tornando-o necrótico. Os achados incluem
secreção malcheirosa e túneis profundos. A
UP pode levar meses até um ano para
cicatrizar. Sem Estágios: é quando a
deformidade atinge também o tecido
adiposo, músculos, ossos e tendões numa
profundidade intensa
f) fricção e cisalhamento: retrata a dependência
do paciente para a mobilização, posicionamento e sobre
estados de espasticidade, contratura e agitação que
podem levar à constante fricção.
Quando se analisa ou avalia o grau de
dependência do paciente acamado, é para estabelecer
uma forma do cuidado, no sentido de evitar certos
conflitos e desordem na maneira de atuar, tendo em vista
a prestação do serviço dentro da técnica e da ética
profissional, possibilitando melhor qualidade de vida ao
sujeito acamado.
2.3 PROCEDIMENTOS E CUIDADOS DE
ENFERMAGEM PARA AS UP
Ao falar do cuidado de Enfermagem, acredita-se
que é a mais adequada expressão, o cuidado de
paciente; então, o objetivo do cuidar é promover o alívio, o
conforto e ajudar favorecer a possibilidade de cura
(WALDOW, 2007).
Ainda, conforme Waldow (2007), o cuidado é
imprescindível em todas as situações de enfermidades,
nas incapacidades e durante o processo de morte. Isso
evidencia a importância da prestação da assistência de
enfermagem e, assim, conseguir êxito em seus objetivos,
no cuidado ao ser humano e em sua individualidade.
Segundo Malagutti; Kakhiara (2011), o tratamento
de feridas crônicas como as UP, exige conhecimento, uma
avaliação global do estado de saúde do paciente,
juntamente com um foco mais preciso sobre a história da
ferida e o estágio em que se encontra. Para direcionar
corretamente a conduta é necessário a EB-Escala de
BRADEN, como protocolo a ser seguido, a fim de preparar
o leito da ferida encaminhando o processo de cicatrização.
Brêtas; Gamba (2006) relatam que o processo do
cuidado em Enfermagem é um instrumento que subsidia a
prática profissional do Enfermeiro.
2.3.1 A Enfermagem e o cuidado paliativo nas UP
O Enfermeiro possui autonomia para delinear o
planejamento de cuidados e estratégias a serem
instituídas na prevenção e tratamento de feridas,
prevenindo complicações ao paciente portador de UP,
objetivando a reabilitação precoce do paciente.
A isquemia acontece mais precisamente nas
regiões em que os ossos permanecem com
protuberâncias mais significativas, favorecendo o
aparecimento das lesões nos locais onde elas surgem
com mais frequência sendo, no sacro, tuberosidades
ciáticas, trocânter maior, calcanhares, maléolos e
cotovelos (MALAGUTTI; KAKHIARA, 2011).
Os Enfermeiros são considerados os pilares
numa instituição, pois não existe assistência focada ao
paciente e à família sem uma participação ativa e decisiva
do profissional de Enfermagem. (KNOBEL, 2005).
A EB é um protocolo eficaz, utilizado na avaliação
e tomado de decisão nas medidas preventivas a serem
adotadas, de acordo com o estágio e o leito da ferida.
2.3.2 Curativos e Técnicas Diferenciadas nos
Cuidados UP
De acordo com os autores, Malagutti; kakhiara
(2011), na EB, são avaliados seis fatores de risco no
paciente, a saber:
a) percepção sensorial: referente à capacidade
do paciente reagir ativamente ao desconforto relacionado
à pressão.
Segundo Malagutti; Kakhiara (2011), nas feridas
crônicas como UP, a oxigenação e irrigação dos tecidos
ficam prejudicados, pelas quantidades fluentes de
microrganismos que se alojam no leito da ferida, deixando
a mesma sem evolução para principiar a cicatrização,
necessitando de um desbridamento, para dar início a seu
processo de cura.
b) umidade: refere-se ao nível em que a pele é
exposta à umidade.
O processo de limpeza facilita a degradação de
tecidos inviáveis que retardam o processo de cicatrização.
c) atividade: avalia o grau de atividade física.
2.3.3 SAE – Sistematização da Assistência de
Enfermagem no Cuidado e prevenção as UP
d) mobilidade: refere-se à capacidade do
paciente em mudar e controlar a posição do seu corpo.
Sendo uma atividade privativa do Enfermeiro, a
SAE faz referência ao conhecimento, organização,
qualificação e prática norteando assistência técnica
científica, com visão holística, numa abordagem com cinco
e) nutrição: retrata o padrão usual de consumo
alimentar do paciente.
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REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
etapas diferentes de assistência na elaboração de um
protocolo a ser seguido pela equipe de enfermagem
monitorando as alterações e condições de risco, garantindo
o cuidado individualizado, no processo de Enfermagem
(PE); histórico de Enfermagem (HE); diagnóstico de
Enfermagem (DE); planejamento de Enfermagem (PE);
implementação de Enfermagem (IE); evolução ou
avaliação de Enfermagem (EE) (MURTA, 2007).
fechadas, sendo entregue no próprio ambiente de trabalho.
Para manter o anonimato dos participantes foram
identificados como E1, E2, E3, e assim sucessivamente. A
análise dos dados seguiu o modelo de análise do conteúdo,
em que foram relacionadas todas as questões que
compõem o instrumento de pesquisa. As respostas foram
discutidas e confrontadas com os autores referenciados no
estudo, gerando diferentes contextos sobre o tema. A partir
dessa discussão, optou-se em elaborar gráficos que
demonstram de forma clara os dados coletados com a
pesquisa, esclarecendo, assim, o conhecimento que cada
qual tinha a respeito do tema em questão.
2.3.4 Segurança do Paciente
O Ministério da saúde criou um programa de
segurança do paciente para o monitoramento e prevenção
de danos na assistência à saúde. Desde 2011, 192
hospitais da Rede Sentinela monitoram um conjunto de
eventos adversos no atendimento aos pacientes. Esse
programa é um protocolo básico de revisão e certificação
de atitudes antes do atendimento, para que se evitem erros,
consentindo segurança e qualidade de vida do paciente.
Quanto ao nível de conhecimento em relação às
UP, percebe-se que a totalidade dos profissionais
Enfermeiros que participaram da pesquisa se mostraram
sabedores sobre o assunto pesquisado.
Este dado é significativo, pois aponta para a
importância do Enfermeiro ter o conhecimento científico
relacionado à sua área de atuação, especialmente no que
se refere às necessidades e cuidados dos pacientes
internados e expostos às complicações inerentes à
internação hospitalar em UTI.
2.3.5 Escala de Braden
Malagutti; Kakhiara afirmam que:
[...] A Escala de Braden é aplicada para
identificar o risco para o desenvolvimento de
up. Incluindo os seguintes parâmetros:
percepção sensorial, mobilidade, nutrição,
atividade, bem como a presença ou
ausência de umidade, atrito e fricção.
Classificados de 1 a 4, quanto menor a
pontuação, maior o risco de a pessoa sofrer
uma solução de continuidade na pele
(MALAGUTTI; KAKHIARA, 2011, p. 163).
[...] Os programas educativos são
importantes por ajudar na previsão e
prevenção das lesões, sendo que a
instalação ou desenvolvimento das úlceras
de pressão são menores em pacientes mais
informados. Devem-se organizar programas
educativos para todos os níveis de
profissionais de saúde, familiares e
cuidadores com o intuito de prever o
aparecimento das feridas em indivíduos
acamados. O baixo nível educacional não
seria importante na reabilitação aguda, mas
sim na prevenção e no período de
acompanhamento (DELISA; GANS, 2002;
IRION, 2005).
Os autores supracitados revelam ainda que:
[...] A classificação das UP é definida de
acordo com o seu estágio (grau 1,2,3,4 e
SE). Para determinar a área e volume, é
utilizada uma fórmula matemática de
Kunding (17) (largura x 0,785) do
comprimento para a área; para o volume,
profundidade x 0, 327 da área
(MALAGUTTI; KAKHIARA, 2011, p. 166).
Figura 1: Fatores de risco Intrínsecos para UP
Segue o estudo sobre o Olhar dos Enfermeiros
sobre as UP; nesse caso, verificou-se a dificuldade
enfrentada pelos mesmos em conter as escoriações na
pele do paciente acamado e o desenvolvimento das UP.
O trabalho foi realizado de forma simples e controlada
para não apresentar erros na coleta de dados, definindo
desta forma a conclusão da referida pesquisa.
No gráfico 1 destacam-se os principais fatores
Intrínsecos apontados pelos profissionais no
desenvolvimento das UP em pacientes acamados: o
diabete mellitus e o edema como principais fatores
predisponentes para o desenvolvimento de lesões. Foi
citada ainda a temperatura corporal, idade avançada, pele
sensível e desidratada como fatores agravantes. Os
fatores intrínsecos são aqueles inerentes ao indivíduo, e
estão relacionados às variáveis do estado físico do
paciente, sendo a imobilidade o principal fator intrínseco,
podendo ser permanente ou transitório.
3. O OLHAR DOS ENFERMEIROS SOBRE A UP
Nessa etapa da escrita são apresentados os
resultados e análises dos dados obtidos através da
aplicação do questionário. Os sujeitos de pesquisa
correspondem a um universo total de seis Enfermeiros
que integram o quadro funcional da respectiva UTI. Eles
responderam a um questionário estruturado, a partir do
qual foram elaborados gráficos que apresentam os
resultados obtidos, com posterior análise e discussão dos
conteúdos das respostas.
Os Enfermeiros que participaram da entrevista
demonstraram ter conhecimento da UP, e das patologias
agravantes que agem em combinação na complexidade
para desencadear a UP.
A coleta de dados ocorreu através da entrega de
um instrumento de pesquisa a um mediador que repassou
aos colegas o questionário com perguntas abertas e
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Figura 2: Fatores de risco extrínsecos para UP
sistematizada para evitar fatores adicionais
que resultem na lesão do tecido formando
e n t ã o a U P. ( C A L I R I ; R U S T I C I ;
MARCHRY,1997).
Outros cuidados preventivos são buscados
intensivamente na intensão de prevenir, gerando técnicas
essenciais para contribuir no controle das UP, utilizandose de mecanismos de auxílio eletrônico para cicatrização
de feridas, como laser, ultrassom e estímulos elétricos.
Figura 4: Conhecimento sobre a Escala de Braden
Ao tratar de fatores extrínsecos que provocam
UP com os Enfermeiros, observou-se a preocupação
que apresentam em relação à UP, mantendo na prática
as técnicas para amenizar e controlar o surgimento das
mesmas.
Os fatores extrínsecos são aqueles
independentes do indivíduo e estão relacionados e
decorrentes da isquemia gerada pela compressão
prolongada na pele, em que existe uma superfície dura
promovendo a lesão do paciente. (DELISA; GANS, 2002;
SMELTZER; BARE, 2005).
A Escala de Braden é uma ferramenta utilizada
para colaborar e atuar junto à equipe de cuidadores,
facilitando o cuidado e minimizando risco de
desenvolvimento das UP. Percebe-se, também, que os
profissionais entrevistados poucos conhecem
plenamente a EB, seu valor na prática da saúde e o
benefício desta ferramenta, enquanto outros profissionais
de Enfermagem possuem pouco ou nenhum
conhecimento a respeito. Desse modo, observou-se a
preocupação diante da busca de subsídios e
contribuições para prevenção UP. Múltiplos fatores podem
levar a complicações na inexistência de uma evolução
técnica adequada no cuidado da UP. Poderá ter outro
desfecho com o conhecimento e uso desta ferramenta.
Neste cuidado se utiliza uma técnica de ponte,
que consiste na solução do limite entre a força
gravitacional e de atrito para o reposicionamento correto
do paciente; são cuidados necessários para minimizar a
incidência do surgimento das UP.
Figura 3: Métodos e ferramentas cuidados e prevenção UP
Nas variáveis clínicas como estadiamento e
mensuração das UP, estes são previamente
padronizadas. Para as feridas irregulares,
utiliza-se sempre as maiores dimensões.
Para a interpretação prática dos resultados
obtidos com a aplicação da EB, adotam-se os
níveis de riscos propostos pelos autores da
escala. Risco leve para escores 15 a 16; risco
moderado para escores 12 a 14 e risco alto
para escores iguais ou inferiores a 11
(ROGENSKI; SANTOS, 2005 pg. 475- 476).
No gráfico 3, os Enfermeiros entrevistados se
utilizam de algum suporte educacional, ou protocolo para
se manter atualizados frente à conduta, sustentando o
apoio necessário para o cuidado correto do paciente
acamado, prevenindo as UP. Segundo Faro (1999,
p.279), é necessário ensinar os familiares e profissionais
de saúde como cuidar da pele evitando as UP, a cada
ferida aberta o tratamento clínico fica praticamente
interrompido retardando o processo de reabilitação.
Figura 5: Conhecimento sobre a Escala de Braden
Devido às consequências que esta patologia
provoca em pacientes acamados, observou-se que os
Enfermeiros entrevistados buscam atualizarem-se
constantemente, para desempenhar um trabalho de
qualidade, abreviando os riscos de desenvolver as UP,
minimizando a grande incidência junto a pacientes
hospitalizados e acamados, obtendo retorno precoce do
cuidado prestado.
A figura 5 mostra o interesse dos participantes da
pesquisa na busca de preparo e qualificação no que se
refere às UP, já que houve dúvidas na adesão a um
sistema diferenciado do cuidado, sendo motivo da
permanência significativa do paciente em condições de
acamado por muitos dias, elevando trabalho e custos.
Neste contexto, percebe-se que aos poucos vai se
aderindo a essa nova técnica na maneira do cuidado, para
[...] Os pacientes restritos ao leito ou
cadeirantes, ou aqueles que são incapazes
de se posicionar são os mais propensos para
a formação de úlceras de pressão, portanto
devem receber atenção especial ou
80
REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
melhorar os indicadores dessa incidência.
Figura 8: Na prática diária UTI com base SAE
Figura 6: Existe educação continuada
Na figura 6 os Enfermeiros que participaram da
pesquisa, dividiram as suas respostas, 50% dos
entrevistados afirmam que em seu local de trabalho é
realizado a EC com a equipe de Enfermagem, a fim de se
manterem atualizados e informados com as novas
técnicas de qualificação, que sempre surgem na área de
trabalho para melhor cuidado ao paciente da UTI. Ao
mesmo tempo, os outros 50% dos entrevistados
confirmam que não há a educação continuada, colocando
uma confusa explicação mediante tal problemática. Existe
uma controvérsia entre os próprios colegas de trabalho.
Na figura 8 os Enfermeiros pesquisados
justificaram em suas respostas que o conhecimento em
relação à SAE favorece cuidado mediante boas ações,
baseado no oferecimento do conforto prestado ao
paciente.
A SAE foi algo que veio contribuir na qualidade e
melhoramento do serviço prestado pela equipe de
Enfermagem e ao usuário que necessita de cuidados,
com um objetivo definido, sua saúde.
A EC é um estudo constante e permanente que
se faz mediante intuito de programar uma forma
adequada de trabalho, sempre atualizada, no cuidado do
paciente acamado e em relevantes fatores
fisiopatogênicos das UP.
Figura 9: Existem dificuldades e entraves enfrentados nas UP
A fragilidade do atendimento se concentra no
aspecto do manuseio e conhecimento de ferramentas,
que poderão fazer a diferença na qualidade do serviço
prestado; nesse sentido, percebe-se a importância de
uma educação permanente, para que os profissionais
consigam ter o domínio e o conhecimento para um
atendimento seguro.
Na figura 9, a maioria dos Enfermeiros
entrevistados afirma que não há entraves na assistência
prestada à saúde.
Figura 7: Avaliação de risco das UP
Entrave é um empecilho que existe
interrompendo de certa forma a qualidade da assistência
prestada. Por isso, considera-se importante uma
educação permanente aos profissionais de Enfermagem
envolvidos no processo do cuidado.
É de fundamental importância o conhecimento
sobre a real função do Enfermeiro, o metaparadigma da
Enfermagem, esclarecendo qual é o público receptor dos
cuidados de Enfermagem, qual a finalidade da assistência
de Enfermagem (saúde), em qual ambiente essa
assistência é prestada e como ela deve ser executada e
formalizada (TANNURA; PINHEIRO 2010).
A figura 7 demonstrou que os Enfermeiros que
participaram da pesquisa, manifestaram-se favoráveis
quanto à aplicação da avaliação de risco para UP que
acomete o paciente acamado em UTI.
Considerando que este é maior para indivíduos
acamados, restrito à cadeira de rodas ou os que
apresentam limitada capacidade de reposicionamento.
Nesse caso, programar as medidas preventivas
específicas, proporcionando agilidade conforme seu
potencial de risco, inspecionando a pele diariamente.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho buscou reunir informações
sobre a prevenção e incidência das UP, em que os
participantes da pesquisa relataram que os pacientes que
apresentarem diabete mellitus e edemas estão mais
propensos à morte e isquemia celular deixando-os mais
vulneráveis a sofrerem de UP.
81
REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
A intensidade e o tempo são determinantes,
podendo haver colapso e trombose com significativa
destruição de tecido subcutâneo, e estas são as principais
causas de doenças, conciliando com outras patologias
agravantes capazes de favorecer o surgimento das UP.
médico-cirúrgico 10º ed. RJ Guanabara Koogan.
DELISA, GANS, 2002, IRION, 2005 Tratado de Medicina
de Reabilitação: Princípio e práticas 3ª ed. Barueri,
Manoel.
O tratamento das UP é em longo prazo em
pacientes hospitalizados e acamados, determinando uma
leva de recursos financeiros e humanos envolvidos para a
reabilitação total do paciente. Diante do exposto, sabese que as UP representam um problema de saúde pública
que consome recursos humanos e materiais. Esse
problema reflete na insatisfação dos profissionais pela
não obtenção dos resultados a que se propõem.
FARO, Ana Cristina Mancussi E.1999. Fatores de Risco
para úlceras por pressão: subsídios para prevenção.
Ver. Esc. Enfermagem USP; v 33 (3): p 279.
KNOBEL, Elias; Co-outores Claudia Regina
Laselva/Denis Faria Moura Júnior. 2005. TERAPIA
INTENSIVA, ENFERMAGEM- São Paulo: Editora
Atheneu.
Com os resultados obtidos no estudo percebeuse que a dificuldade sentida é imensa em relação às UP,
principalmente para conter a instalação das mesmas em
qualquer área ou atuação de saúde. Com a existência
dessa problemática desafiadora, mobilizam-se os
Enfermeiros a procurar conhecimentos que permitem ir
além das práticas tradicionalmente utilizadas no cuidado
das UP, investindo em novas técnicas, tendo em vista a
socialização de estudos experimentais para a obtenção
de bons resultados.
MALAGUTTI, Willian; KAKHIARA, Ristiano Térzia. 2011.
Curativos, Estomias e DermaTologa: Uma Abordagem
Multiprofissional. 2ª Edição; São Paulo; Martinari
MURTA, Genilda Ferreira. 2007. Saberes e Práticas:
Guia para Ensino e Aprendizado de Enfermagem. 3d,
vol3. São Caetano do Sul; Editora Difusão. Pg 253 – 256.
PADILHA, Alexandre Rocha Santos, RESOLUÇÃO;
HOMOLOGAÇÃO, CNS Nº 466/12, Ministro da Saúde.
Conselhosaude.gov.br/resoluções/2012/Reso466pdf2012
Espera-se que após estes conceitos introduzidos
neste estudo seja possível amenizar esse tipo de
problema reduzindo assim a instalação das UP, e quando
estas já instaladas, formaliza-se o atendimento com as
novas tecnologias em que o processo de cicatrização seja
prévio. Propõe-se uma avaliação sistemática e
estruturada do leito da ferida, com a finalidade em detectar
possíveis fatores que interferem negativamente no
processo de cicatrização.
ROGENSKI, Noemi Brunet; SANTOS, Vera Lúcia de
Gouveia. 2005. Estudo sobre a incidência de úlcera
por opressão em um hospital universitário. Rev. Latino
Ame-Enfermagem, Ribeirão Preto, v.13, n.3, p475-476,
Julho-Agosto
TANNURE, Meire Chucre; PINHEIRO Ana Mª. 2010 SAE
Sistematização da Assistência de Enfermagem, GUIA
PRÁTICO, 2ª Edição – Gen/ Guanabara/Koogan.
Reconhecendo o trabalho árduo e sem
finalização remetida pela equipe de Enfermagem para
prevenir as UP, conclui-se que esta pesquisa tornou-se
importante, obtendo maiores conhecimentos no controle
de medidas, no desenvolvimento de solução prática para
este problema, podendo precocemente definir ações que
auxiliem na prevenção e cura da UP. Consequentemente,
ao tratar desse problema na pesquisa podem-se definir
estratégias de prevenção e de cura, dando a oportunidade
assim aos pacientes atingidos de voltar a ter qualidade de
vida, ou seja, saúde. Desse modo, verificou-se a
relevância desse tema e a necessidade de discutir
mediadas de prevenção das UP. Além disso, é necessário
argumentar que esse estudo muito contribuiu para maior
conhecimento e enriquecimento acadêmico em relação a
esta patologia.
SCHELL, Hildy M & PUNTILLO, Kathleen A. 2005.
Segredos em Enfermagem na Terapia Intensiva. Porto
Alegre, Artmed.
WALDOW, Vera Regina. 2007. Cuidar Expressão
Humanizadora da Enfermagem. 2ªEdição Petrópolis RJ
Editora Vozes.
REFERÊNCIAS
BRÊTAS, Ana Cristina Passarela. GAMBA, Mônica Antar.
2006. Enfermagem e Saúde do Adulto. Barueri, São
Paulo, Manole.
CALIRI, Maria Helena L; RUSTICIA, Andréia Carla F;
MACHRY, A. L. Setembro. 1997. Prevenção de úlceras
de pressão em pacientes com lesão medular: só o
conhecimento é suficiente? II congresso Latino
Americano Estomaterapia. (Resumo) São Paulo.
DELISA, Joel A; GANS, 2002 SMELTZER, Suzanne
BARE, Brenda G.2005. Tratado de Enfermagem
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REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
ESTUDO DE TEMPOS E MOVIMENTOS NO SETOR DE SOLDA EM UMA METALÚRGICA
Maiquel Batista¹
Alexandre Chapoval²
SETREM³
RESUMO
A atual pesquisa apresenta como problema o estudo da
execução das atividades de uma indústria metal mecânica
voltada para a produção de peças, que atendem a linha
agrícola e automotiva, situada no noroeste do Rio Grande
do Sul, no período de agosto a novembro de 2014.
Procurando atender ao problema, buscou-se como
objetivo geral aplicar o estudo de tempos e movimentos
no processo de solda, abrangendo os conjuntos soldados
de maior valor agregado. Quanto à metodologia, utilizouse a abordagem dedutiva devido ao estudo basear-se na
organização e definição dos parâmetros envolvidos no
processo de solda, abordagem qualitativa como forma de
análise para identificar possíveis pontos de melhoria e a
abordagem quantitativa, vindo a integrar as abordagens
de forma que se possa tabular os dados analisados. Este
trabalho de pesquisa resultou na elaboração de uma
proposta envolvendo a criação de um roteiro de solda
para os conjuntos analisados como forma de padronizar a
execução das atividades de fabricação e em melhorias
relacionadas aos colaboradores, materiais e
infraestrutura.
ABSTRACT
The current research presents as a problem the study of
the implementation of the activities of a metal mechanical
industry focused on the production of parts that serves the
agricultural and automotive line, in the northwest of Rio
Grande do Sul, from August to November 2014. Trying to
attend to the problem, it was intended to implement the
general objective of the study of times and motions in the
welding process covering the higher value-added
weldments. As the methodology used to study due to the
deductive approach it is based on the organization and
defining the parameters involved in the welding process,
qualitative analysis approach in order to identify potential
areas for improvement, and from the quantitative
approach to integrate the approaches so that it is possible
to tabulate the data analyzed. This research led to the
development of a proposal involving the creation of a weld
joint roadmap for the analyzed as a way to standardize the
implementation of manufacturing activities and
improvements related to employees, materials and
infrastructure.
Keywords: Time. Motion. Proces., Improvemen.,
Welding.
Palavras-chave: Tempo. Movimento. Processo.
Melhoria. Solda.
influenciados pelo tipo de fluxo por onde percorre o
material dentro da empresa, processo de fabricação
escolhido para desenvolver um produto, tecnologia
empregada no processo e características do trabalho
envolvendo ergonomia (MARTINS 2005).
1. INTRODUÇÃO
As mídias digitais estão totalmente inseridas no
contextO mundo moderno está formado por vários tipos
de organizações, dentre as quais, muitas possuem o
ramo de atuação semelhante umas das outras, tornandoas concorrentes. Neste cenário competitivo, fica
evidenciada a corrida ao desenvolvimento nas melhorias
dos recursos disponíveis, visando a fidelização do cliente
por meio da satisfação das suas necessidades.
Segundo Barnes (1977), a parte ergonômica
também deve ser analisada, pois pessoas e máquinas
têm sua capacidade e eficiência limitada a diversos
fatores importantes que acabam interferindo na execução
de uma atividade. O objetivo da ergonomia é fazer o
estudo da adaptação das tarefas relacionadas ao homem
no ambiente de trabalho.
Desta forma, o trabalho realizado sobre as
premissas de uma organização bem estruturada se faz
importante para que a empresa consiga se destacar e
garantir seu lugar no mercado. Esta pesquisa vem a
contribuir com a área de Métodos e Processos, setor
capaz de influenciar fortemente nos ganhos relacionados
à redução dos desperdícios, sejam envolvendo
movimento, recursos humanos, layout dos equipamentos
e todo o arranjo físico pertinente ao processo.
Desta forma, pode-se notar que administrando os
recursos envolvidos no processo produtivo, de forma
simples e sem investimentos, as empresas podem
potencializar seus ganhos. Somente ao final, quando
todas as alternativas possíveis de gestão dos recursos
disponíveis forem escassas, a procura por investimentos
que utilizem recursos financeiros devem ser liberados ou
disponibilizados a produção. O trabalho em questão tem o
objetivo de explorar recursos disponíveis, primeiramente
fazendo o levantamento dos itens a serem estudados,
seguido pela coleta de dados, análise e apresentação de
Neste estudo a utilização da cronometragem do
tempo auxilia o pesquisador a qualificar e quantificar os
métodos empregados na indústria para medir o trabalho.
A eficiência e o tempo padrão de produção são
¹ Acadêmico do Curso de Engenharia de Produção – SETREM – [email protected]
² Professor orientador do estudo. Bacharel em Administração. Pós-graduado em Gestão de Negócios. Mestre em Engenharia
da Produção. Professor da Faculdade de Administração e da Faculdade de Engenharia de Produção da SETREM.
³ Sociedade Educacional Três de Maio - SETREM
83
REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
uma proposta de melhoria com os resultados envolvidos
no processo do setor de solda.
objetivo determinar, através de acompanhamento, um
tempo padrão ou tempo standard. Este tempo deve
corresponder ao desempenho considerado normal de um
operador qualificado, realizando uma tarefa, também
considerada normal, com base em um método de trabalho
previamente analisado e definido (BARNES, 1977).
O trabalho está estruturado em 3 partes. A
primeira é apresentado o referencial teórico de onde foram
adquiridos os conhecimentos referente ao assunto; a
segunda parte se refere ao estudo de caso em que são
abordados os procedimentos utilizados para coletas de
dados relacionados ao sistema e à cronoanálise
envolvendo o setor de solda e os conjuntos produzidos. Já
a terceira parte traz uma abordagem relacionada à
discussão e análise dos resultados, mostrando a
contribuição do desenvolvimento do mesmo à empresa.
Andrade (2008) defende a utilização dos
seguintes equipamentos no estudo do tempo: cronômetro
centesimal, prancheta e formulário. Já Zeigler (2007)
defende a utilização de elementos digitais, como câmeras
fotográficas e filmadoras, com o objetivo de reanalisar os
acompanhamentos se necessário, pois os recursos
capturados auxiliam na retirada de dúvidas e evidência
dos fatos.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.2.1 Divisão das Operações em Elementos
Graças a Frederic Winslow Taylor (1965-1915) a
ciência para estudar o trabalho foi desenvolvida, como ele
chamava Organização Científica do trabalho ou como
ficou conhecida Taylorismo. Como sua vida profissional
começou a partir do trabalho operário, Taylor teve
condições de observar o trabalho operacional e constatar
que o operário não procurava ter iniciativa própria para
achar meios que viabilizassem e aumentassem a
produção. Notou também que os operários tentavam
ganhar cada vez mais de seus patrões e de imediato
realizavam suas tarefas de forma facilitada para não
cansar ou aumentar a carga de estresse, pensando em
seu benefício somente (ANDRADE, 2008).
Para que o estudo seja mais detalhado, as
operações devem ser divididas em elementos da
operação. Em geral, a descrição do método de trabalho
coincide com a divisão dos elementos a serem
analisados. Quando uma operação é analisada no total, o
estudo não consegue precisar na identificação de
possíveis problemas, principalmente quando se tem a
identificação de diferenças grandes de tempo para peças
iguais, não sendo possível de identificar qual parte da
operação está causando a variação excessiva de tempo
(BARNES, 1977).
2.2.2 Cronometragem
A cronoanálise, por sua vez, não é apenas uma
ferramenta demonstrativa de resultados, mas também é
uma técnica fundamental e importante para auxiliar no
estudo e aperfeiçoamento dos métodos de trabalho,
favorecendo a prática da melhoria contínua (ANDRADE,
2008).
Durante o estudo de tempo, Andrade (2008) cita
dicas para o analista desempenhar seu papel com
eficiência, quanto ao posicionamento, que deve ser de
forma que não prejudique ou interfira na realização das
atividades do operador; quanto à prancheta e ao
cronômetro, que devem estar o mais próximo possível de
forma fixa ou segura apoiado sobre o abdômen. O analista
deve se posicionar da melhor forma que o permita analisar
o movimento total do operador, movendo somente os
olhos para observar a execução da atividade, suas
anotações e o cronômetro.
Antes de pôr em pratica a medição dos tempos
de operação é necessário que haja a descrição detalhada
do processo e suas operações, para que a padronização
destes recursos seja realizada visando determinar a melhor
maneira de executar o trabalho (BARNES, 1977).
2.1 ESTUDO DOS MOVIMENTOS
Quando se trata de método de análise,
destacam-se os mais usuais, o método repetitivo e o
método contínuo. A escolha do método mais adequado vai
depender da capacidade do analista, além do processo a
ser analisado influenciado pela velocidade de execução e
layout envolvendo o estudo (BARNES, 1977).
Para identificar os pontos fracos na execução de
uma tarefa, é essencial analisar todo o cenário envolvido,
pois questões de logística, deslocamento, esforço físico,
materiais, instalações, ambiente, equipamentos,
habilidades, entre outros, estão diretamente ligados ao
nível de eficiência de um método de trabalho (PEINADO;
GRAEML 2007).
2.3 ERGONOMIA
Após a análise de todos os fatores envolvendo o
arranjo do posto de trabalho é possível levantar os
principais problemas enfrentados, para que se possam
trabalhar melhorias que se tem por objetivo o
aperfeiçoamento das atividades introduzindo-se ao
processo métodos muitas vezes mais fáceis com o mínimo
de esforço admissível (PEINADO; GRAEML, 2007).
Quando um método de trabalho é desenvolvido ou
analisado, tem-se como objetivo encontrar ou conduzir a
combinação entre homem, máquina, equipamento,
ferramentas e materiais, de forma mais eficiente possível no
ambiente de trabalho. Neste ponto, podem ser verificadas e
estratificadas as funções que melhor são executadas pelo
homem ou pela máquina, pois ambos possuem limitações
de uso. Cabe a um analista dimensionar da melhor forma
sua interação (BARNES, 1977).
2.2 ESTUDO DO TEMPO
Através do estudo do tempo é possível analisar
as técnicas e métodos utilizados no processo e execução
de uma determinada tarefa. O estudo do tempo tem como
O objetivo da análise ergonômica está relacionado
à adaptação das tarefas e do ambiente de trabalho às
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necessidades sensoriais, perceptivas, mentais e físicas,
levando em consideração as capacidades, habilidades e
limitações do ser humano (MARTINS, 2005).
Anualmente são realizados cursos e treinamentos
no setor de solda, com o objetivo de garantir a qualidade dos
produtos fornecidos aos seus clientes. Desta forma, o
gráfico 2 (esquerda) monstra o número de horas cursadas,
levando em consideração cursos profissionalizantes
externos e internos. Assim, os operadores vão acumulando
horas de cursos no decorrer da sua carreira, em que o maior
percentual (57,14%) identifica os colaboradores que têm
entre 60 e 100 horas de curso de solda.
3. ESTUDO DE CASO
O trabalho foi desenvolvido junto a uma empresa
localizada no noroeste do estado do Rio Grande do Sul e é
uma empresa que faz parte do Polo Metal Mecânico. A
empresa possui certificações de qualidade com ênfase para
a certificação ISO 9001:2008. Também se destaca pela sua
filosofia de trabalho, contemplando investimentos em sua
estrutura, profissionalização de seus colaboradores, assim
como aquisição de novas tecnologias de processo com a
visão de garantir a qualidade de seus produtos, tornando-se
cada vez mais competitiva no mercado.
O gráfico 2 (direito superior) demonstra o
percentual do curso de desenho entre os colaboradores, em
que 57% apresentam 60 horas de curso e 43% apresentam
50 horas de curso. Neste setor o curso de desenho é prérequisito para que uma pessoa possa integrar a equipe de
solda, pois ela deve estar apta a traduzir as especificações
dos desenhos utilizados no setor.
Antes de começarem os trabalhos no setor de
solda, verificou-se a necessidade de conhecer mais sobre
o setor e os colaboradores que a ele fazem parte. Os
dados mostrados a seguir foram repassados pelo setor de
Recursos Humanos da empresa e declaram a situação
atual do setor no período de agosto de 2014.
Para o curso de metrologia existem colaboradores
que possuem curso certificado e outros que possuem
cursos sem certificação (os cursos sem certificação
geralmente são realizados internamente em empresas e
têm o objetivo de melhorar a qualidade da mão-de-obra). O
gráfico 2 (direita inferior) demostra essa realidade, em que
71,43% correspondem aos colaboradores com curso de
metrologia certificada e 28,57% representam os
colaboradores com curso de metrologia sem certificação.
O setor de solda atualmente é composto por 16%
dos funcionários, em que são realizados trabalhos
envolvendo solda leve e pesada, sendo o mesmo liderado
por um responsável, nomeado líder, com grande
conhecimento sobre as atividades do setor.
Quanto ao layout da solda, a empresa possui nove
cabines de solda na matriz e duas cabines de solda na filial
(em construção). Todos os aparelhos são calibrados
(terceiros), revisados (terceiros) e regulados (operadores)
seguindo um cronograma gerenciado pelo setor de
qualidade. As regulagens dos aparelhos de solda são
ajustadas conforme a necessidade do tipo de solda
especificado pelo projeto do cliente. Ainda no setor de solda
existem duas centrais de estoque de gabaritos, a central A
que fica aproximadamente 35 metros das cabines e a
central B com aproximadamente 15 metros de distância
das cabines de solda. A figura 1 ilustra parte do layout da
fábrica destacando o setor de solda e as centrais de
armazenamento dos gabaritos com quadros em vermelho.
A idade dos colaboradores no setor varia entre 25
e 30 anos, sendo que 71,43% são compostos por pessoas
na faixa de 30 aos 50 anos, gráfico 1 (esquerda).
Gráfico 1: Demonstrativo da faixa etária e grau de escolaridade
dos colaboradores
O gráfico 1 (direita) demonstra o grau de
escolaridade dos colaboradores do setor de solda,
evidenciando 42,86% para aqueles que têm o Ensino
Médio completo, 42,86% para os colaboradores com
Ensino Fundamental completo e 14,29% para os
colaboradores com Ensino Médio incompleto.
Em relação ao setup, hoje o mesmo não é
considerado no setor de solda, devido à adoção de
auxiliares de produção, denominados como “pagadores
de peças” pelos soldadores, no processo. Esse auxiliar é
responsável pelo deslocamento dos gabaritos, gravação
do código do fornecedor nos componentes que requerem
esse processo, sendo também responsáveis pelo
deslocamento e posicionamento das peças na cabine
para solda dos conjuntos.
Gráfico 2: Demonstrativo cursos e habilidades
Figura 1: Layout do setor de solda e centrais de gabarito
FONTE: Dados da empresa.
FONTE: Dados da empresa.
FONTE: Dados da empresa.
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O setor de solda tem como input componentes e
pré-conjuntos, abastecidos pelo setor de corte
(componentes de corte laser, serra, plasma e guilhotina),
setor de estamparia (componentes dobrados e
estampados), compras (porcas, parafusos e arruelas) e
ainda pelo setor de usinagem. E como output conjuntos
destinados aos setores de pintura (conjuntos soldados que
recebem pintura), montagem (pré-conjuntos soldados
utilizados nos conjuntos montados) e expedição
(conjuntos soldados e apenas rebarbados). A figura 2
ilustra o fluxograma pertinente ao processo de solda:
Quadro 2: Coleta dos tempos do sistema
FONTE: Dados da empresa.
3.2 ANÁLISE DO TEMPO E MOVIMENTO
Figura 2: Fluxograma do processo de solda
Tendo selecionado os conjuntos para o
desenvolvimento da pesquisa, o passo seguinte foi reunir
todos os envolvidos do setor de solda para uma breve
introdução sobre o método que seria utilizado para a
realização da coleta dos tempos e movimentos em
benefício da empresa, possibilitando a avaliação da
situação atual do setor de solda, relacionada à
infraestrutura, ao tempo de processo, à disposição de
gabaritos e à averiguação do estado dos equipamentos;
em benefício dos colaboradores, relacionando a questões
ergonômicas, envolvendo a atividade no setor e em
benefício do acadêmico, abrangendo a troca de
conhecimento prático e teórico com a estrutura
participante (empresa, sistema, processo, colaboradores
e orientadores do trabalho).
FONTE: Dados da empresa.
Quadro 1: Conjuntos selecionados
Deste modo, explicou-se a adoção da prática de
filmagem como método de captura dos movimentos
empregados no cumprimento das atividades e
posteriormente a análise das filmagens para retirada dos
tempos empregados na comparação.
A utilização da filmagem permite maior agilidade
e facilidade na execução da análise aceitando voltar ou
passar a cena quantas vezes forem necessárias. Propicia
uma análise mais completa, permitindo a visualização de
detalhes que podem ser cruciais na elaboração dos
resultados. A filmagem se mostrou de fácil acesso, pois
são necessários somente uma ou duas câmeras, um ou
dois tripés (dependendo da quantidade de câmeras
utilizadas), um computador e um software de vídeo (sendo
encontrados softwares gratuitos para download).
FONTE: Dados da empresa.
Após o levantamento dos conjuntos que seriam
analisados foram coletados os tempos tidos como padrão
no processo de solda pelo sistema. Esses dados foram
obtidos com a ajuda do setor de Métodos e Processos e
teve como objetivo conhecer a situação do tempo
cadastrado no sistema para comparação com o tempo
real de execução, posteriormente coletado através da
utilização do método de cronoanálise.
Para captura dos movimentos, utilizou-se uma
câmera posicionando-a de tal modo que conseguisse
capturar o deslocamento do operador na cabine, sua
movimentação corporal e o tempo levado na execução
da tarefa.
Após o término de cada filmagem, para análise
dos tempos e dos movimentos de cada conjunto, realizouse uma segunda filmagem com o objetivo de interagir com
o operador, em que o mesmo explicava como proceder
para montar os componentes no gabarito e executar a
solda na fabricação dos conjuntos.
No quadro 2 são mostrados os tempos de
operação, referentes ao processo de solda, cadastrados
no sistema de gerenciamento industrial. A análise do
tempo se faz importante para verificar a execução da
atividade e avaliar se a atividade está sendo seguida
conforme tempo proposto ou se há alguma alteração
desse tempo.
Para realização da filmagem dos conjuntos
utilizou-se uma câmera filmadora e um tripé,
posicionando-os adequadamente para capturar os
movimentos do operador na execução da atividade. No
momento da filmagem o operador foi instruído para que
agisse naturalmente, com o objetivo de diminuir a
interferência e alteração nos resultados por processos
86
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atípicos. No caso, de o analista perceber alguma
alteração, pararia a filmagem e voltaria a instruir o
operador para que o processo fluísse com a menor
influência possível.
de mudanças ou critério previsto), como forma de garantir
o desenvolvimento da empresa. A seguir, mostrou-se
através de um relatório o tempo padrão levantado a partir
da análise das filmagens realizadas na elaboração de
cada conjunto envolvendo o processo de soldado dos
componentes para fabricação dos conjuntos soldados.
Em média, filmou-se 30 minutos de atividade
para fabricação de cada conjunto, sendo que se utilizou o
tempo de 5 ciclos de produção como amostragem. No
momento da filmagem, o analista estava presente para
controlar a filmadora no processo de captura e analisar a
influência do meio.
3.2.1 Estudo do CONJUNTO E
O CONJUNTO E é uma proteção de tanque e é
encontrado em alguns modelos de tratores. É fabricado
pela empresa desde 2009. Atualmente representa 1,80%
do faturamento da empresa, com margem de lucro de
40% e tem cadastrado no sistema 3,13 minutos como
tempo de processo de solda. A descrição da operação,
que acompanha a ordem de fabricação e o desenho,
mostra apenas uma breve introdução e o local em que
deve ser soldado o conjunto E.
Na primeira filmagem, posicionou-se a filmadora
em um ângulo em que pudesse ser obtida uma filmagem
nítida e sem obstáculos, mostrando o ambiente e os
movimentos do operador, como mostra a figura 11. A
segunda filmagem tinha a finalidade de capturar a
explicação do processo de montagem dos componentes
no gabarito e posterior soldagem dos mesmos para utilizar
na fragmentação das atividades em elementos para
obtenção dos tempos.
Para fabricação do CONJUNTO E são utilizados
4 componentes diferentes, figura 4, que passam por
processos em distintos setores: Componente 1 (participa
na fabricação da peça o processo de corte plasma e
dobra), Componente 2 (participa na aquisição da peça, o
setor de compras), Componente 3 (participa na fabricação
da peça, o processo de corte guilhotina, dobra e solda) e
Componente 4 (participa na fabricação da peça o
processo de corte laser e solda).
Após a coleta de todas as filmagens dos
conjuntos soldados estudados, passou-se para fase de
análise das filmagens, em que se fragmentou o processo
de solda de cada conjunto em elementos e, a partir desses
elementos, foram estudados os tempos.
Ao começar a estudar a filmagem, o analista fixa
sua visão e audição em um ponto que será considerado
por ele como sendo o inicial de cada ciclo. Nesta pesquisa,
considerou-se o início do ciclo quando o operador toca o
primeiro componente e término do ciclo quando o
operador chega ao ponto inicial ou marco zero (toque no
primeiro componente após a estocagem do conjunto já
soldado).
Figura 4: Componentes do CONJUNTO E
Após a definição do ponto de início do ciclo,
dispara-se o cronômetro e contabiliza-se o resultado em
uma planilha do Excel.
A figura 3 mostra os momentos da filmagem de
um dos conjuntos soldados como forma de caracterizar e
demostrar como foram fragmentadas as atividades
envolvendo os conjuntos em elementos para melhor
analisar o tempo utilizado na execução das tarefas.
FONTE: Dados da empresa.
Na planilha com os dados coletados da filmagem
realizada, quadro 3, destaca-se a divisão do processo de
solda do CONJUNTO E em dois processos. O primeiro
contemplando 8 elementos, contabilizando 5 ciclos de
amostragem e o segundo dividido em mais 7 elementos,
contabilizando 5 ciclos de amostragem. Na análise deste
conjunto os resultados dos dois processos foram
somados juntos para se chegar ao tempo médio final.
Figura 3: Quebra da atividade em elementos
Quadro 3: Cronoanálise processo de solda CONJUNTO E
FONTE: Dados da empresa.
Atualmente, a empresa envolve o tempo
cadastrado no sistema na elaboração do custo, que,
consequentemente, influencia no preço de venda.
Portanto, deve-se ter cuidado com essa premissa e
avaliá-la constantemente (dentro de um período, a partir
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momento de manuseio da peça, figura 6.
Figura 6: Processo de solda do CONJUNTO E, 2° processo
FONTE: Dados da empresa.
Na figura 6 observa-se a peça fixa no gabarito
na direita e a peça sobre os fixadores do próprio gabarito
à esquerda, que pode vir a escorregar quando
posicionada sobre os fixadores devido aos mesmos
terem uma área de contato pequena sobre a peça
apoiada, ocasionando correção do posicionamento
provocado pelo deslize da peça.
3.2.2 Estudo do CONJUNTO G
O CONJUNTO G é uma proteção de tanque e é
encontrado em modelos de tratores simples. É fabricado
pela empresa desde 2009. Atualmente representa 1,57%
do faturamento da empresa, com margem de lucro de
28% e tem cadastrado no sistema 0,50 minutos como
tempo de processo de solda.
FONTE: Dados da empresa.
O tempo médio obtido na soldagem do
CONJUNTO E foi de 2 minutos e 25 segundos para o
processo 1 e 2 minutos e 12 segundos para o processo 2,
totalizando uma média final de 4 minutos e 37 segundos.
Neste conjunto, o menor tempo de realização da atividade
foi de 4 minutos e 27 segundos e o maior foi de 5 minutos
e 1 segundo.
No primeiro processo observou-se maior
variação nos elementos que tinham o manuseio de
fixadores e de porcas, figura 5, em que a luva de raspa de
couro tem influência negativa no manejo de peças
pequenas, diminuindo o tato do operador.
Para fabricação do conjunto são utilizados 3
componentes diferentes, figura 7, que passam por
processos em distintos setores: Componente 1 (participa
na fabricação da peça o processo de corte plasma e
dobra), Componente 2 (participa da aquisição da peça o
setor de compras) e Componente 3 (participa na
fabricação da peça o processo de corte plasma).
Figura 7: Componentes do CONJUNTO G
Figura 5: Luva de raspa de couro (esquerda) e fixador (direito)
FONTE: Dados da empresa.
Na planilha com os dados coletados da filmagem
realizada, quadro 4, destaca-se a divisão do processo de
solda do CONJUNTO G em 6 elementos, contabilizando 5
ciclos de amostragem.
FONTE: Dados da empresa.
Quadro 3: Cronoanálise processo de solda CONJUNTO G
Já no segundo processo, o elemento 6 se
mostrou com maior oscilação no tempo entre os demais
elementos, pois nesse elemento o operador posiciona a
peça sobre os fixadores presos ao gabarito em cima da
mesa para conseguir terminar a solda do componente 3, a
estrutura, ocasionando diferença de tempo dependendo
do nível de força e de rapidez exercida pelo operador no
88
REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
empresa está deixando de agregar custo na formação de
preço dos dois conjuntos.
A fim de calcular algumas variáveis, entrou-se em
contato com o RH para levantamento de dados referente
à mão de obra, para realização de uma análise do tempo
dos CONJUNTOS E e G que apresentaram uma variação
negativa na comparação de tempos deixando de agregar
custo aos produtos sobre a mão de obra. Segundo a
tabela de cargos e salários de setembro de 2014, o piso
salarial para um soldador é de R$ 1.201,90 para 220
horas, tendo assim um custo de mão-de-obra de R$ 5,463
sem contar os encargos.
FONTE: Dados da empresa.
O tempo médio obtido na soldagem do
CONJUNTO G foi de 1 minuto e 48 segundos, tendo como
menor tempo de realização da atividade a marca de 1
minuto e 42 segundos e o maior de 1 minuto e 54
segundos.
Quadro 6: Simulação com dados do sistema
As oscilações mais significativas podem ser
vistas nos elementos 3, 4 e 5, que envolvem o
posicionamento do componente no gabarito, execução de
solda, conforme necessidade do desenho e liberação do
conjunto do gabarito. Neste caso, todos os elementos
dependem da agilidade e da precisão do operador em
executar as tarefas, que, se executado de forma precisa,
pode promover uma maior regularidade no tempo da
atividade.
O quadro 6 analisa os CONJUNTOS E e G,
trazendo dados referente ao processo de solda para
eventual comparativo, em que se tem a descrição dos dois
conjuntos, o tempo cadastrado no sistema, uma estimativa
de produção (unidades/ mês), tempo de solda necessário
para produção (mês) e o custo da mão de obra (mês).
3.3 COMPARAÇÃO DOS TEMPOS
Quadro 7: Simulação com dados da cronoanálise
FONTE: Dados da empresa.
Atualmente o setor de Métodos e Processos é
responsável pela estruturação do processo envolvendo
os recursos necessários para a produção de um
determinado produto baseado nas exigências do projeto
do cliente.
FONTE: Dados da empresa.
Nesse processo, o setor de Métodos e
Processos fica incumbido de levantar os custos,
especificar a matéria-prima, equipamentos, ferramentas,
gabaritos, layout, processos, cadastramento e liberação
para programação de fabricação envolvendo o setor de
Planejamento e Controle, estipulação de tempo e preço
de venda para os produtos novos caracterizados como
amostra ou protótipo.
Já o quadro 7 analisa os CONJUNTOS E e G,
trazendo dados referente ao processo de solda para
eventual comparativo, em que se tem a descrição dos
dois conjuntos, o tempo encontrado na cronoanálise, uma
estimativa de produção (unidades/ mês), tempo de solda
necessário para produção (mês) e o custo da mão de obra
(mês).
O quadro 8 traz a diferença entre a comparação
dos tempos do sistema com os tempos de cronoanálise
relacionados aos conjuntos que apresentaram variação
negativa nesta comparação.
Terminada a cronoanálise, passou-se para etapa
de comparação dos tempos cadastrados no sistema com
os tempos obtidos na cronoanálise. Visto que para a
empresa o tempo está diretamente ligado à formação do
custo e consequentemente ao preço de venda, o quadro 5
tem o objetivo de mostrar a variação percentual obtida
nessa comparação.
Quadro 8: Simulação e comparação dos dados
Quadro 5: Comparação dos tempos, do sistema x cronoanálise
FONTE: Dados da empresa.
Comparando o custo da mão de obra obtida na
cronoanálise com o tempo do sistema o CONJUNTO E
apresentou uma diferença de R$ 33,87 que a empresa
deixaria de agregar ao custo de produção no mês e R$
406,49 em um ano. Na mesma comparação o
CONJUNTO G deixaria de agregar ao custo R$29,59 no
mês e R$ 355,10 em um ano.
FONTE: Dados da empresa.
Analisando o quadro 5 pode-se perceber que os
CONJUNTOS E e G apresentaram variação nos tempos,
pois o tempo cadastrado no sistema é menor que o tempo
real de execução da atividade de solda, mostrando que a
89
REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
Levando em consideração as variáveis descritas
anteriormente, a empresa está deixando de agregar custo
aos seus dois conjuntos, nesse caso tendo como
referência o custo da mão de obra.
operadores e consequentemente diminuição do tempo de
execução da atividade. E ganhos na qualidade de vida no
trabalho para os operadores, mostrando possíveis
melhorias ergonômicas no desenvolvimento das
atividades no setor e na vida.
4. ANÁLISE DOS RESULTADOS
O treinamento foi realizado para todos os
colaboradores do setor de solda, em que os assuntos
relacionados à produtividade foram tratados e mostrando
aos operadores como formas de melhorias ergonômicas
para melhor executar as atividades, com o objetivo de
diminuir a fadiga física e mental, a fim de que, ao saírem
do trabalho todos os sintomas relacionados ao mal estar
(dores, exaustão, estresse...) fossem diminuídos ou talvez
eliminados.
Ao término das análises, decidiu-se, por meio de
estudo, a definição de pontos de melhorias envolvendo o
processo de solda ao qual fazem parte os conjuntos
soldados, de forma a deixar uma proposta de melhoria como
legado para a empresa, que atenciosamente abriu suas
portas e permitiu a realização deste trabalho. Ao analisar as
orientações das operações que se encontram cadastradas
no sistema e atualmente acompanham as ordens de
produção, considerou-se a necessidade de criação de uma
descrição mais detalhada da atividade, levando em
consideração o processo de produção empregado para cada
conjunto soldado, analisado pelo estudo de tempos e
movimentos apresentados neste trabalho.
Por se trabalhar com a fabricação de conjuntos
metálicos, muitas vezes envolvendo peso considerável,
houve a necessidade de instruir os operadores para que
utilizassem ao máximo os meios de transporte como
empilhadeiras, carrinhos, talhas, mesas e paleteiras, para
fazer o deslocamento dos materiais, componentes e
gabaritos.
Essa descrição mais detalhada da atividade foi
enquadrada como um roteiro de produção e tem o objetivo de
padronizar a execução da atividade pelos operadores antigos
e agilizar o aprendizado dos novos operadores que começam
a fazer parte da empresa. Os roteiros foram desenvolvidos
com caráter documental; por isso foram desenvolvidos
portando, cada um, cabeçalho com identificação das
informações pertinentes ao conjunto. As informações do
cabeçalho visam orientar os operadores quanto ao nome da
empresa, nome do conjunto, setor de aplicação e a descrição
de dados referentes a controle como data da aprovação,
número da revisão e número do registro. Logo em seguida é
apresentado um sumário com os conteúdos abordados,
contendo quatro títulos dando referência aos componentes,
ao procedimento que deve ser seguido, as observações
destacadas para conclusão da atividade (aparece somente
quando necessário) e a legenda que mostra o significado das
setas utilizadas como guia na demonstração de
componentes, pontos de soldas e fixadores.
Lembrando-se que a preparação e arranjo do
material necessário para início da produção de um conjunto
é realizado por um auxiliar de produção, observou-se a
necessidade de orientá-lo quanto à distribuição dos
componentes seguindo uma sequência de montagem e um
posicionamento o mais próximo possível do gabarito, na
intenção de diminuir o deslocamento do operador.
Ao decorrer do desenvolvimento deste estudo
foram possíveis de serem levantados pontos de melhorias
através da aplicação de um check-list envolvendo o setor,
evidenciando, assim, melhorias nos gabaritos, instalações
e transporte. Algumas melhorias puderam ser realizadas e
outras ficaram apenas como proposta. Alguns gabaritos
apresentavam dificuldade de deslocamento devido a não
ter rodas, estarem com as rodas em mau estado de
conservação ou possuírem rodas pequenas que se
deslocavam na fábrica por, até mesmo, terrenos
irregulares. Também foi vista a necessidade de adequar a
altura de alguns gabaritos, mas devido aos gabaritos
pertencerem ao cliente e também ao alto investimento,
essa melhoria ficou apenas como sugestão. Já voltando
ao setor em uma cabine, observou-se a necessidade da
instalação de mais luminárias, pois os soldadores
estavam tendo dificuldades de visualização.
Seguindo o roteiro, começa a apresentação dos
componentes, trazendo a descrição ou o código do
componente seguido da quantidade entre parêntese,
além da figura de ilustração e o título do assunto. Após o
título são descritos e quantificados todos os componentes
utilizados para a fabricação do conjunto. O segundo título
do roteiro descreve o procedimento, trazendo instruções
quanto ao processo que o operador deve seguir para
execução das atividades para fabricação do conjunto,
envolvendo o posicionamento do gabarito e dos
componentes, pontos que devem ser soldados, além da
tradução das especificações da simbologia de solda
encontrada nos desenhos conforme projeto do cliente. No
final do roteiro são encontradas as observações
referentes aos cuidados que o operador deve tomar na
execução do processo de solda, seguido do último título
que mostra a legenda para as setas explicando a
coloração de cada uma com sua determinada função.
Devido à demanda de utilização de carrinhos
transportadores e mesas com rodas para facilitar o
deslocamento e melhorar a disposição das peças do
soldador à altura ideal, identificou-se a necessidade de
adquirir mais unidades de meios de transporte. Quanto ao
manuseio de componentes, a proposta deixada foi
referente à aquisição de luvas de vaqueta para solda dos
conjuntos que utilizam componentes menores difíceis de
manusear com a luva de raspa de couro que, devido à
espessura e o material, há a perda do tato do soldador.
No decorrer do estudo dos movimentos, através
da análise das filmagens, pontos de melhorias foram
observados, relacionados à postura e movimentação dos
operadores. Deste modo, foi proposto o desenvolvimento
de um treinamento relacionando esses pontos,
envolvendo ganhos produtivos para a empresa com a
possibilidade de redução da movimentação dos
Além da satisfação do cliente, a empresa está
preocupada com a viabilização dos seus processos e
melhor utilização dos seus recursos, mostra a
necessidade da empresa em se adaptar às exigências do
mercado, como forma de maximizar seus ganhos.
Segundo frase relacionada a Taiichi Ohno “os custos não
90
REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
foram feitos para calcular mas sim para reduzir”, faz-nos
lembrar a importância da relação da melhoria contínua
com o estudo dos métodos e processos de trabalho,
configurando assim a necessidade de redução dos
custos, aliados aos ganhos em produtividade, a
maximização dos resultados e, portanto, a conquista de
mercado, garantem a sobrevivência da empresa neste
mercado globalizado.
O CONJUNTO E conforme simulação deixou de
agregar ao custo o valor de R$33,87 para um mês e
R$406,49 para um ano e o CONJUNTO E o valor de R$
29,59 para um mês e R$355,10 para um ano, demonstrados
no quadro 16.
Quanto à análise dos movimentos, a quebra dos
ciclos em elementos se mostrou satisfatória quanto ao
método de estudo, pois através desse método foi possível a
identificação dos elementos que mais sofriam variação na
execução da atividade e, consequentemente, no consumo
de tempo. Os principais problemas encontrados foram
relacionados à disposição das peças para a solda dos
conjuntos e, consequentemente, a maior movimentação do
operador na cabine de solda para execução das atividades.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho teve como problema de
pesquisa o estudo da execução das atividades no
processo de solda, relacionados aos conjuntos soldados
em uma indústria metal mecânica. Buscando atender ao
problema de pesquisa, aplicou-se o estudo de tempos e
movimentos no processo de solda abrangendo produtos
de maior valor agregado.
Como forma de combater os problemas
encontrados, neste estudo foram apresentadas propostas de
melhoria envolvendo a criação de um roteiro de solda como
forma de padronizar os elementos do ciclo de fabricação dos
conjuntos, criação de um treinamento para os soldadores no
intuito de instruí-los sobre a disposição das peças
relacionando os cuidados ergonômicos e a verificação de
melhorias envolvendo o ambiente do setor, baseados nas
respostas obtidas na aplicação de um check-list.
Com a utilização do histórico de vendas do
período de janeiro de 2013 a abril de 2014, foi possível a
criação de uma planilha para estratificação dos conjuntos
a serem analisados. O quadro 1 mostra a lista de
conjuntos soldados selecionados da planilha, contendo o
histórico das vendas, levando em consideração sua
participação no faturamento de até 1%.
Concluiu-se, então, que o estudo dos tempos e
movimentos é uma ferramenta importante para analisar e
avaliar um processo produtivo. E à medida que novos
métodos, técnicas ou procedimentos são empregados
neste estudo, poderá haver ganhos em recursos e,
consequentemente, na formação de bons resultados
devido à dinâmica envolvendo os mesmos. Desta forma,
vale ressaltar que este estudo pode ser utilizado para
outros setores da empresa e novas técnicas poderão ser
utilizadas para creditar à análise maior harmonia, visto
que, segundo Taiichi Ohno, “a melhoria é um processo
contínuo que deve ser trabalhado diariamente”, este
estudo fica aberto a novas pesquisas.
As informações relacionadas aos conjuntos
foram obtidas através de pesquisas realizadas no sistema
de gerenciamento integrado e foram descritas no quadro
2 indicando o tempo de operação de cada conjunto
As informações sobre a localização do setor de
solda e das centrais de gabaritos foram demostradas na
figura 1 por meio do layout do setor de solda e suas
acomodações. Referente às informações pertinentes às
operações envolvidas no processo de fabricação de um
produto, são mostradas a partir da figura 2 com a
utilização de um fluxograma descrevendo os processos
que abastecem e os processos que são abastecidos pelo
setor de solda.
REFERÊNCIAS
Utilizando-se a cronoanálise com o método de
filmagem para a captura das atividades. Foi possível a
obtenção do tempo atual de execução de solda em cada
conjunto soldado, mostrados a partir do item 3.2 os estudos
de cronoanálise realizados em cada conjunto. Os tempos
estudados são expressos nos quadros 3 e 4 que se referem
à quebra dos ciclos em elementos para melhor estudá-los.
ANDRADE 2008 – Produtividade industrial sem
investimento/ Evermar Andrade – Rio de Janeiro:
Editora Ciência Moderna Ltda, 2008.
BARNES 1977 – Estudo de movimentos e de tempos:
projeto e medida do trabalho/ Ralph M. Barnes;
tradução 6ª ed. Americana [por] Sérgio Luiz Oliveira Assis
et al. – São Paulo, Edgard Blücher, 1977.
Com o resultado da cronoanálise foi possível
tabular os dados obtidos para comparação dos tempos
(sistema x cronoanálise), em que se identificou a
necessidade de revisão dos tempos cadastrados para o
CONJUNTO E (1,80% do faturamento) e o CONJUNTO G
(1,57% do faturamento) por apresentarem o tempo
cadastrado no sistema menor que o obtido com a
cronoanálise, com uma variação de respectivamente
67,77% e 27,78% na comparação dos tempos.
LOVATO 2013 – Metodologia da pesquisa/ Adalberto
Lovato – Três de Maio. Setrem, 2013.
MARTINS 2005 – Administração da produção /
Petrônio G. Martins, Fernando P. Laugeni – 2 ed. Ver.
Aum. E atual – São Paulo: Saraiva, 2005.
PEINADO; GRAEML 2007 – Administração da
produção: operações industriais e de serviços/
Jurandir Peinado e Alexandre Reis Graeml – Curitiba:
UnicenP, 2007.
Lembrando-se que a variável tempo é utilizada
na formulação do custo, a empresa está deixando de
agregar valor ao custo na fabricação dos conjuntos
soldados citados no parágrafo acima. Deste modo,
utilizou-se o quadro 6 e 7 com dados fictícios para mão de
obra na simulação do custo deixado de ser agregado no
período de um mês e após um ano.
SLACK et al. 2006 – Administração da produção / Nigel
Slack et al.,1 ed. – 10 reimpr. – São Paulo: Atlas, 2006.
91
REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
A AVALIAÇÃO ESCOLAR COMO INSTRUMENTO POTENCIALIZADOR PARA O ENSINO E
A FORMAÇÃO INICIAL
Jéssica Ceretta Corrêa¹
Marli Dallagnol Frison²
RESUMO
O objetivo deste trabalho foi investigar as metodologias e
as estratégias de avaliação presentes na maioria das
escolas de nível médio, no ensino de biologia, seguido de
uma reflexão sobre a formação docente do estudante de
Graduação em Ciências Biológicas, Licenciatura da
UNIJUÍ, da análise dos Parâmetros Curriculares
Nacionais no que diz respeito à avaliação e à análise de
livros didáticos do ensino médio em relação às formas de
apresentação de atividades avaliativas. O pressuposto
teórico adotado consiste na ideia de que os métodos de
avaliação deveriam ser utilizados pelo professor com a
intenção de melhorar o processo de construção da
aprendizagem dos educandos, para que a avaliação
escolar seja vista como um instrumento potencializador
para o ensino e a formação inicial. Logo, foi fundamental
discutir que a avaliação ocorre no decorrer dos processos
de ensino e de aprendizagem, tornando-se, assim,
instrumento de investigação sobre o conhecimento de
cada aluno sobre o coletivo do qual participam e sobre a
própria ação como docente.
ABSTRACT
The objective of this study was to investigate the
methodologies and assessment strategies present in most
high schools, the teaching of biology, followed by a
reflection on teacher training graduating student in
Biological Sciences Degree of UNIJUÍ, analysis the
National Curriculum Standards with regard to high school
textbooks evaluation and analysis related to the forms of
evaluative activities presentation. The theoretical
assumption is the idea that the evaluation methods should
be used by the teacher with the intention of improving the
construction process of learning of the students, so the
school evaluation is seen as a potentiating tool for
teaching and initial training. So it was important to discuss
that the evaluation occurs during the processes of
teaching and learning, thus becoming a research tool on
the knowledge of each student on the collective with the
participation and the action itself as a teacher.
Keywords: School learning. Biology. School evaluation.
Palavras-chave: Aprendizagem escolar. Biologia.
Avaliação escolar.
Podemos dizer que somos hoje o que somos
porque nos constituímos a partir das ações
que empreendemos, fruto de nossas
reflexões, questionamentos e desafios sobre
nós mesmos e das incorporações que
fazemos a partir das interações que
estabelecemos com os outros e com o
mundo, em um processo permanente de
avaliação. Quanto mais dialógico for esse
processo, mais consciência temos dele,
provocando mudanças, transformações em
nossas vidas, nos constituindo como sujeitos
individual e social.
1. INTRODUÇÃO
O presente artigo se refere ao Trabalho de
Sistematização em Ensino de Biologia (TSEB) do curso
de Ciências Biológicas Licenciatura da UNIJUÍ –
Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio
Grande do Sul. Escolheu-se para analisar e refletir a
temática avaliação.
Nos tempos em que vivemos, nos quais a
avaliação assume ainda uma perspectiva classificatória e
hierarquizadora dos conhecimentos e das pessoas, é
fundamental estarmos atentos para outras perspectivas e
sentido que perpassam nas discussões daqueles que
buscam melhoria no ensino e na educação escolar.
Cientes de que há, ainda, a necessidade de reivindicar
melhores condições de trabalho para professores e
estudantes, que garantam as possibilidades de realização
de outras formas de avaliar comprometidas com os
processos de emancipação dos sujeitos sociais.
As palavras do autor referem que as interações e
relações entre os sujeitos permitem a apropriação do
mundo em que vivemos, pois não nascemos
programados para agir, necessitamos de múltiplas
relações com outros seres humanos para sobreviver e,
assim, aprender a falar e a atribuir significado ao que
falamos e fazemos.
Ao entramos na escola, levamos conosco nossos
conhecimentos anteriores, que devem ser considerados
no processo de ensino e de aprendizagem, pois é a partir
deles que vamos construir novos conhecimentos,
estabelecendo uma relação de diálogo com o que está
para ser aprendido – conhecimento científico – e o
cotidiano.
A avaliação, em seu sentido amplo, apresenta-se
como atividade essencialmente humana associada à
experiência cotidiana de homens e mulheres. Ela faz parte
do nosso dia-a-dia e, muitas vezes, determina o nosso
modo de ser ou de agir. Nesse sentido, Loch (2012, p. 2),
refere que:
¹ Acadêmica do Curso de Licenciatura e Bacharelado em Ciências Biológicas (UNIJUÍ). ([email protected])
² Orientadora, Doutora em Educação nas Ciências (UFRGS), professora da Universidade Regional do Noroeste do Rio Grande
do Sul (UNIJUÍ), possui mestrado e graduação em Química. ([email protected])
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Segundo Loch (2012) cada pessoa é um ser
único e original, com experiências, histórias,
conhecimentos, possibilidades e limitações diferentes,
que o constituíram como é; a sala de aula é o espaço da
diferença, da heterogeneidade. Assumir a diferença, a
heterogeneidade como valor, como riqueza, tem um novo
sentido ético, pois ela nos potencializa para agir
socialmente. A qualidade da avaliação passa a estar em
sua capacidade de diálogo ao indagar, investigar, refletir
sobre os percursos, processos, procedimentos na
produção de conhecimento, contribuindo na criação de
meios que auxiliem na superação de limites encontrados
nessa produção, e não como algo a ser medido na busca
do que todos devem alcançar. Trata-se da busca da
superação da homogeneidade, do aluno ideal.
algumas das questões que têm me acompanhado durante
meu processo formativo e como futura professora: O que
avaliar? Que avaliação produz efeitos positivos nos
processos de ensino e de aprendizagem oferecidos aos
estudantes?
Portanto, o objetivo deste trabalho é investigar as
metodologias e as estratégias de avaliação presentes em
escolas de nível médio, no ensino de biologia, seguido de
uma reflexão sobre a formação docente da estudante de
Graduação em Ciências Biológicas Licenciatura da
UNIJUÍ, da análise dos Parâmetros Curriculares
Nacionais no que diz respeito à avaliação e à análise de
livros didáticos do ensino médio em relação às formas de
apresentação de atividades avaliativas.
A avaliação classificatória tem como
característica ser também quantitativa, expressa a
epistemologia positivista que conduz uma metodologia
em que a manipulação dos dados é mais importante do
que o processo, e os instrumentos precisam ser de
manuseio simples para permitir transmissão objetiva e
neutra do conhecimento. Nesta concepção, o
conhecimento é medido e classificado como objeto, e
inserido em uma hierarquia. Esta é a operação realizada
pela professora ao avaliar cada um de seus alunos.
Esteban (2003, p. 17), refere que:
2. DESENVOLVIMENTO
2.1METODOLOGIA
Este estudo se utilizou de teóricos que tratam da
avaliação escolar, tendo como foco o ensino de biologia e
a aprendizagem escolar em escola pública, fazendo um
contraponto entre avaliação autoritária e democrática e a
avaliação na universidade. Seguido de uma reflexão
sobre a formação docente da estudante de Graduação em
Ciências Biológicas Licenciatura da UNIJUÍ, da análise
dos Parâmetros Curriculares Nacionais no que diz
respeito à avaliação e à análise de livros didáticos do
ensino médio em relação às formas de apresentação de
atividades avaliativas, se estas contemplam a proposição
dos PCNs.
Assim, a professora encontra meios para
fragmentar o conhecimento nas disciplinas
escolares, fragmentar alunos e alunas em
partes observáveis, que podem ser
quantificadas, medidas, comparadas,
classificadas e receber um valor, que é
registrado e que informa a posição dos
estudantes na hierarquia da sala de aula, da
escola e da sociedade.
Um dos tipos de material utilizado para
investigação compreendeu os livros didáticos de biologia
utilizados em escola pública no ensino médio. As análises
dos livros se deram pelas diversas formas de se avaliar o
aluno, se neles constam exercícios que exigem apenas
repetir informações, exercícios que exigem interpretação
e atividades sistematizadoras que orientam para a busca
de informações que exigem investigação e produção de
ideias para além da simples reprodução.
Nessa perspectiva, o desenvolvimento e sua
formação se dão em estágios, em ciclos de vida; cada
estágio ou ciclo de vida tem características específicas,
atividades de dominância que precisam ser plenamente
vividas para serem desenvolvidas e não são
cronologicamente pré-estabelecidas como iguais para
todos. A qualidade da avaliação está em refletir, também,
sobre a organização do tempo escolar e suas implicações
na produção do conhecimento, providenciando o tempo
adequado para todos, não significando, com isso, apenas
dar mais tempo aos mais fracos. O que sabemos hoje nos
revela que aquilo que se considerava como deficiência ou
incapacidade para aprender podem ser processos
específicos de desenvolvimento ainda desconhecidos.
Livros são considerados documentos, que
segundo Ludke e André (1986), podem ser analisados
como tal, pois propiciam novas leituras e interpretações a
partir de suas informações.
Dessa forma, foram analisados os livros de
Biologia: SILVA, César; SASSON, Sezar; CALDINI,
Nelson. Biologia (2010). LINHARES, Sérgio;
GEWANDSZNAJDER, Fernando. Biologia Hoje (2011).
BIZZO, Nélio. Novas Bases da Biologia (2012). PEZZI,
Antônio; GOWDAK, Demétrio; MATTOS, Neide. Biologia
(2010).
Nesse sentido, a finalidade da avaliação tem um
aspecto crucial, já que ela determina o tipo de informações
consideradas pertinentes para analisar os critérios
tomados como pontos de referência e os instrumentos
utilizados no cotidiano da atividade avaliativa.
3.RESULTADOS E DISCUSSÕES
Os modelos tradicionais em que temos nos
baseado para avaliar já não satisfazem mais professores,
estudantes e seus responsáveis, que desejam superar a
lógica da exclusão que ainda se faz presente no cotidiano
escolar. Realizam-se frequentes questionamentos sobre
as provas, as notas e os conceitos para se pensar mais
livremente em outro curso para o processo de avaliação.
Nesse sentido, o presente estudo buscou responder a
Uma avaliação da aprendizagem emancipatória
é um processo que vem se desvinculando de
preconceitos e inseguranças, propondo uma busca por
novos caminhos que possam desafiar os envolvidos no
processo de ensino e de aprendizagem para uma prática
comprometida com reais objetivos de uma educação
escolar emancipatória. Há um movimento de reflexão
sobre a democratização das práticas escolares de modo a
93
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articulá-las a um amplo movimento de emancipação
social. Esse movimento de reflexão tem promovido uma
crítica à avaliação classificatória, como refere Esteban
(2003, p 30-31), ao afirmar que:
Objetivamente, podemos trabalhar com estas
duas concepções de avaliação. A primeira marca a vida
das pessoas pela forma que entendemos não ser a
apropriada. Ocorre que, geralmente, os excluídos na
escola são também os excluídos da sociedade. Daí a
necessidade de a escola considerar em seus processos
avaliativos as consequências das reprovações, ou melhor,
da não aprendizagem.
A avaliação, no processo de superação dessa
concepção, inscreve-se no conjunto de
práticas escolares e sociais que enfatiza a
produção do conhecimento como processo
realizado por seres humanos em interação,
que, ao conhecer-se conhecem: ao produzir o
mundo vão esgotando suas possibilidades de
vida individual e estreitando os laços que
unem cada uma à infinita rede da vida. A
avaliação realiza-se com a compreensão de
que o ato do conhecimento e o produto do
conhecimento são inseparáveis.
A avaliação com cunho classificatório pode trazer
enormes prejuízos aos alunos, pois, por meio dessas
práticas, criam-se preconceitos, inibições que podem
afetar todo o ano escolar (HOFFMANN, 2001), quando
não toda a vida de uma pessoa. Esta forma autoritária,
portanto, não faz sentido se desejamos cumprir a função
da escola, que é a de garantir a aprendizagem.
A avaliação da aprendizagem emancipatória
significa gerar um processo cumulativo de produção de
conhecimentos em um conjunto de procedimentos reversíveis
de ação e reações diferenciadas aos alunos e professores ao
longo dos processos de ensino e de aprendizagem. As ações
dos professores podem causar reações positivas nos alunos
levando-os a reconstruir o pensar e o fazer de ambos ao
longo do processo de aprendizagem.
A função da avaliação democrática é assegurar a
possibilidade de refletir e questionar as práticas usadas nos
processos de avaliação. Se um professor não permite que
o aluno participe, expresse suas dúvidas e inquietações,
não pode falar de avaliação democrática. A avaliação que
não possibilita a participação dos alunos e não proporciona
condições de escolha dos instrumentos e critérios não é
democrática e peca na relação educativa de constituição do
sujeito crítico e responsável pela sua história.
Entendemos que a avaliação se constitui
democrática quando propicia a aprendizagem, ou não
será avaliação. Quando se trata apenas de um ato
burocrático, deixa de ser processo e assume uma forma
que prejudica e marca de modo muito negativo a vida das
pessoas, não raro para toda a vida. Produz abandono
escolar, repetência e cria muitas dificuldades. Como
processo de construção do conhecimento, promove e
instaura processo formativo porque permite o desvelar
das potencialidades de quem aprende. É sobre essa
questão que trataremos na sequência de nosso diálogo.
Aos poucos vamos desvendando este termo
“avaliação”. E para continuar a reflexão é fundamental
analisar as diferentes concepções, as quais têm uma
vinculação profunda com as questões sociais. Nossas
compreensões nunca se pautam em situações neutras. A
prática docente, como afirma Freire (1996b, p. 109):
Implica em processos, técnicas, fins,
expectativas, desejos, frustrações, e a tensão
permanente entre teoria e prática, entre
liberdade e autoridade, cuja exacerbação,
não importa de qual delas, não pode ser
aceita numa perspectiva democrática, avessa
tanto ao autoritarismo quanto à
licenciosidade.
Melchior (1998) aponta algumas razões acerca
da importância da avaliação, tais como: i) melhorar o
processo e o resultado; ii) auxiliar o aluno a se motivar
para novas aprendizagens e ;iii)auxiliar o professor na
compreensão do processo de aprendizagem, na sua
autoavaliação.
Segundo Hoffmann (2001), a ação educativa é
sempre intencional e o desenvolvimento das atividades
educativas pressupõe a avaliação como parte integrante
do planejamento do processo de ensino e de
aprendizagem. A avaliação cumpre três funções básicas:
Somente um plano de trabalho bem elaborado e
assim desenvolvido pode possibilitar o processo de
avaliação dos alunos e do próprio trabalho do professor. É
essa postura – de compromisso com o trabalho
desenvolvido – que eleva a autoimagem do professor e,
em última instância, encaminha-o à auto-realização
profissional.
Função diagnóstica: permite verificação dos
progressos e dificuldades dos alunos e atuação do
professor, que, por sua vez, determinam modificações no
processo de ensino.
A disciplina de Didática, que faz parte do conjunto
de disciplinas que constitui o currículo do Curso de Ciências
Biológicas – Licenciatura contempla a temática da avaliação
e oferece oportunidade para análise de concepções
(compreensões, entendimentos) que se fazem presentes
nos processos avaliativos, como mostra o quadro 1:
Função formativa: tem por finalidade
proporcionar o feedback (retroalimentação) para o
professor e para o aluno, durante o desenvolvimento do
processo ensino-aprendizagem. Propicia a correção de
falhas, esclarecimentos de dúvidas e estímulo à
continuidade do trabalho para alcance do objetivo.
Quadro 1: Comparação entre a avaliação autoritária e
democrática, ocorrentes no PPC
Função somativa: tem o propósito de oferecer
subsídios para o registro das informações relativas ao
desempenho do aluno. Contemplará em seu interior tudo
aquilo que foi visualizado na função diagnóstica e
formativa.
Segundo Luckesi (2002), a avaliação serve para
FONTE: SANTIAGO, A.R, et al (2010).
94
REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
auxiliar cada aluno no seu processo de competência e
crescimento para a autonomia e é indicadora de novos
rumos. Serve também para compreender o estágio de
aprendizagem em que o aluno se encontra, objetivando o
avanço no processo.
de procedimentos que compõem a organização do
trabalho pedagógico na sala de aula e sua influência na
condução do processo de ensino.
O professor cumpre as exigências legais da
instituição – “dar/desenvolver/produzir aulas”, avaliar e
atribuir notas. O aluno, na maioria das vezes, mais
preocupado em aprovar na disciplina, em conseguir notas,
do que com a qualidade da sua formação profissional,
submete-se passivamente a esse ritual. A avaliação nesse
sentido é vista como classificatória; por outro lado, se o
professor dá oportunidade ao aluno de expor suas ideias
ou a oportunidade de corrigir uma prova, um relatório,
fazendo uma reflexão para a sua melhoria, deste modo,
pode ser tratada como uma avaliação emancipatória.
Ao caracterizar a avaliação emancipatória, numa
nova ótica, Loch, situa que avaliar, “é avaliar
participativamente, no sentido da construção, da
conscientização, busca da autocrítica, autoconhecimento
de todos os envolvidos no ato educativo, investindo na
autonomia, envolvimento, compromisso e emancipação”.
(2012, p.3)
Assim sendo, a aprendizagem emancipatória
transforma as práticas pedagógicas convencionais dos
docentes em uma prática que faça valer novas
concepções pedagógicas, ajudando o professor e o aluno
a encontrarem o caminho para viverem situações novas
de apropriação e produção de novos conhecimentos,
conectando-se cada vez mais à vida do aluno ao contexto
escolar.
Libâneo (2003, p.9) chama a atenção para a
importância da organização e gestão da instituição
educativa em relação ao trabalho do professor:
Não é possível uma efetiva mudança nas
práticas de ensino universitário sem ações
e mudanças na organização e gestão do
curso. A organização e gestão das
escolas têm sido abordadas de um ponto
de vista burocrático, administrativo,
envolvendo os níveis hierárquicos de
exercício do poder, os colegiados
acadêmicos e as formas de tomada de
decisões. Embora esses aspectos sejam
relevantes, não é nesse sentido que
afirmamos a relação entre a sala de aula e
a organização da escola, mas no sentido
de que tudo que ocorre na sala de aula
deve estar em consonância com o que
ocorre no âmbito das decisões em torno
do projeto pedagógico, dos objetivos de
ensino, do currículo, das formas
convencionadas de relações professoraluno e procedimentos de ensino.
As Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para
a Educação Básica indicam três dimensões básicas de
avaliação: avaliação da aprendizagem, avaliação
institucional interna e externa e avaliação de redes de
Educação Básica.
A avaliação da aprendizagem, que conforme a
LDB pode ser adotada com vistas à promoção,
aceleração de estudos e classificação, deve ser
desenvolvida pela escola refletindo a proposta expressa
em seu projeto político-pedagógico. Importante observar
que a avaliação da aprendizagem deve assumir caráter
educativo, viabilizando ao estudante a condição de
analisar seu percurso e, ao professor e à escola, identificar
dificuldades e potencialidades individuais e coletivas.
A avaliação institucional interna é realizada a partir
da proposta pedagógica da escola, assim como do seu plano
de trabalho, que devem ser avaliados sistematicamente, de
maneira que a instituição possa analisar seus avanços e
localizar aspectos que merecem reorientação.
Pelo exposto, fica claro então que mudanças mais
significativas em relação à avaliação da aprendizagem do
aluno no ensino superior dificilmente acontecerão por meio
de ações individuais isoladas, desvinculadas de um projeto
pedagógico curricular compartilhado e participativo, que
favoreça a reflexão conjunta e que não desconsidere o
papel que o contexto social exerce sobre a função que a
universidade tem na formação profissional e os riscos de,
por meio da avaliação, legitimar processos de exclusão e
discriminação na sala de aula universitária. Dessa forma,
possibilitar, por meio de reflexões conjuntas, a análise do
que é aparente e do que está subjacente às práticas
avaliativas no ensino superior é um caminho promissor
para descortinar a sua complexidade e as possibilidades
que ela coloca, quando integrada aos objetivos de ensino e
da formação profissional, para atuar a serviço da
aprendizagem do aluno.
A avaliação de redes de ensino é
responsabilidade do Estado, seja realizada pela União,
seja pelos demais entes federados. Em âmbito nacional,
no Ensino Médio, ela está contemplada no Sistema de
Avaliação da Educação Básica (SAEB), que mede a
qualidade de cada escola e rede, com base no
desempenho do estudante em avaliações do Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira (INEP) e
em taxas de aprovação.
3.1 A AVALIAÇÃO NO ENSINO SUPERIOR
Em relação ao processo avaliativo na
universidade, o que se percebe ao aprofundar os estudos
sobre a questão é que o ensino superior não está isento
dos problemas mais gerais constatados nesse campo e
que, tanto na teoria quanto na prática, a avaliação nesse
nível de ensino se reveste de rituais e atitudes
discriminatórias. Neste caso, a avaliação ocorre de adulto
para adulto. Talvez por isso seja menor a preocupação em
compreender o seu papel nos processos de ensino e de
aprendizagem, seus limites e possibilidades no conjunto
3.2O CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS DA UNIJUÍ E
REFLEXÃO SOBRE A FORMAÇÃO DOCENTE DA
ESTUDANTE DE GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS
BIOLÓGICAS- LICENCIATURA
O Curso de Ciências Biológicas foi concebido em
substituição à habilitação em Biologia do Curso de Ciências
oferecido anteriormente pela UNIJUÍ e foi ofertado a partir
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REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
de 2003, após aprovação pelo CONSU no final de 2002,
tendo como objetivo formar Biólogos competentes para o
estudo aprofundado da origem, organização e diversidade
de seres vivos, da relação deles entre si e com o ambiente,
além dos processos e mecanismos biológicos que regem a
sua formação, desenvolvimento, reprodução e
envelhecimento (UNIJUI, PPPLCB, 2009).
Tal aprendizagem deve ser fundamentada em
seus conhecimentos prévios, no questionamento, nas
aulas de experimentação e na pesquisa em sala de aula,
associadas às teorias cientificamente aceitas. Assim, ao
priorizar, nos fazeres pedagógicos, a interação entre os
conhecimentos prévios, o questionamento, a
experimentação e a pesquisa em sala de aula, associadas
às aulas teóricas, ajudam a promover a reformulação, a
reestruturação e a formação de conceitos pelos alunos,
privilegiando o saber pensar e o aprender a aprender.
Na última década, o Departamento de Biologia e
Química (DBQ), contando com o apoio institucional,
investiu na qualificação de seus docentes em diversas
subáreas da biologia. Esta qualificação se reflete no
número de mestres, doutorandos e doutores, os quais
atuam não apenas no ensino, mas também nos programas
de pesquisa do DBQ e de outros departamentos da
UNIJUÍ, através da execução de projetos bem como de
orientações de alunos em Trabalhos de Conclusão de
Curso e Projetos de Iniciação Científica. Ainda, nesses
anos, houve uma melhoria considerável no espaço físico,
através da construção de novos laboratórios e, somado a
isto, vários equipamentos foram adquiridos por intermédio
de projetos submetidos pelos pesquisadores/docentes do
DBQ e aprovados pela FAPERGS, CAPES e CNPq, entre
outras agências de fomento. (UNIJUÍ, 2009, p. 2).
3.4 ANÁLISE DOS PARÂMETROS CURRICULARES
NACIONAIS E DE LIVROS DIDÁTICOS DO ENSINO
MÉDIO
Os Parâmetros Curriculares Nacionais no Ensino
Médio apontam que na prática administrativa e
pedagógica dos sistemas de ensino e de suas escolas, as
formas de convivência no ambiente escolar, os
mecanismos de formulação e de implementação de
políticas, os critérios de alocação de recursos, a
organização do currículo e das situações de
aprendizagem, os procedimentos de avaliação deverão
ser coerentes com os valores estéticos, políticos e éticos
que inspiram a Constituição e a LDB, organizados sob três
consignas: sensibilidade, igualdade e identidade.
Diante destas constatações, e considerando que:
1– há uma crescente demanda pelo Curso de Ciências
Biológicas no Estado do Rio Grande do Sul e no País; 2 –
há um grande interesse demonstrado pelos alunos em ter
uma formação mais sólida em Biologia; 3 – o curso de
Ciências Biológicas teve sua criação já aprovada pelo
Conselho Universitário no ano de 1992; propõe-se a oferta
de um Curso qualificado, de forma a construir um
conhecimento significativo que permita ao biólogo uma
inserção responsável no contexto atual e com olhos abertos
às perspectivas futuras. Acreditamos ser este um projeto
viável e com potencial para melhorar a inserção e a
importância da Universidade na vida dos jovens estudantes
e na comunidade como um todo. (UNIJUÍ, 2009, p. 3).
Os PCNs consideram que, entre outras
características, o processo de avaliação deve:
Ÿ retratar o trabalho desenvolvido;
Ÿ possibilitar observar, interpretar, comparar,
relacionar, registrar, criar novas soluções usando
diferentes linguagens;
Ÿ constituir um momento de aprendizagem no
que tange às competências de leitura e interpretação de
textos;
Ÿ privilegiar a reflexão, análise e solução de
problemas;
O ensino da biologia no Brasil, apesar dos
avanços nas propostas curriculares, ainda requer soluções
de vários problemas nas relações ensino-aprendizagem
nas escolas. O aprendizado da biologia deve permitir a
compreensão da natureza viva e dos limites dos diferentes
sistemas explicativos, a compreensão de que a ciência não
tem respostas definitivas para tudo, sendo uma de suas
características a possibilidade de ser questionada e de se
transformar. Os assuntos relacionados à biologia são
relevantes para a compreensão de fenômenos e suas
correlações, pois eles promovem uma melhoria na
qualidade de vida, uma saudável relação com o meio
ambiente e condições de um pleno exercício de cidadania.
O que se percebe nas escolas, porém, é que tais assuntos
muitas vezes são pouco trabalhados no sentido de gerarem
significados, transformados em ação pelos alunos.
Ÿ possibilitar que os alunos conheçam o
instrumento assim como os critérios de correção;
Ÿ proporcionar o desenvolvimento da
capacidade de avaliar e julgar, ao permitir que os alunos
tomem parte de sua própria avaliação e da de seus
colegas, privilegiando, para isso, os trabalhos coletivos.
(PCNs, p. 137).
O professor deve, também, ter como parâmetro
para avaliação os objetivos mais específicos da disciplina,
o projeto pedagógico da escola e as finalidades do ensino
médio expressas na LDBEN.
Isso ocorre devido à sobrecarga de conteúdos, ao
exíguo tempo destinado a cada um deles, à seleção
descontextualizada, ao desconhecimento de como ocorre a
aprendizagem, à falta de valorização dos conhecimentos
prévios e dos questionamentos, à inexistência de aulas de
experimentação, ao desuso da pesquisa em sala de aula.
Tudo isso acarreta um ensino estático, desinteressante,
desvinculado do cotidiano, dificultando que o aluno seja
sujeito em seu próprio aprendizado.
A avaliação pode ser feita desde uma prova com
perguntas dissertativas até a execução de seminários e
debates, nos moldes do que propõem os PCNs.
Ao elaborar uma prova com questões
dissertativas, por exemplo, o professor precisa considerar
as características da avaliação propostas nos PCNs, ou
seja, privilegiar situações em que o aluno seja levado à
reflexão, à análise e à resolução de problemas. Ao propor
um seminário com a apresentação de temas, pode
96
REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
averiguara consolidação dos conteúdos referentes a esse
assunto. Estará, portanto, avaliando os resultados da
aprendizagem. A avaliação pode ser realizada sob a
forma de um estudo de caso ou de um debate sobre
diversos assuntos, explorando uma multiplicidade de
ações que permite, ao professor, averiguar os
conhecimentos adquiridos e verificar se o aluno é capaz
de correlacionar teoria e prática.
Os temas de natureza mais polêmica, como o
uso de transgênicos na alimentação, saúde coletiva,
clonagem terapêutica, efeitos da poluição sobre a célula,
desnutrição, entre muitos outros, ensejam a realização de
debates, desenvolvimento de projetos ou mesmo de
jogos que permitam ao professor avaliar o
desenvolvimento da consciência crítica e a condição
argumentativa dos alunos, sua formação ética e suas
posições quanto aos valores pessoais e sociais. Com
isso, avaliam-se processo e resultado.
Observou-se que, dos livros analisados, todos
possuem exercícios que exigem apenas repetir
informações dos conteúdos abordados nos textos e todos
possuem também exercícios que exigem interpretação.
Por fim, eles também possuem pelo menos uma atividade
sistematizadora que orienta para a busca de informações
que exigem investigação e produção de ideias para além
da simples reprodução, seja ela prática, de pesquisa ou
um experimento.
Ao analisar os livros didáticos de Biologia do
Ensino Médio, conforme podemos observar no Quadro1
os tipos de atividades propostas como sistematizadoras
das atividades/conteúdos trabalhados em aula.
O livro Biologia (2010) de SILVA, SASSON e
CALDINI no capítulo analisado, apresenta 7 exercícios
que exigem apenas repetir informações, 11 exercícios que
exigem interpretação e 3 atividades sistematizadoras que
orientam para a busca de informações que exigem
investigação e produção de ideias para além da simples
reprodução.
Com estas análises é importante ressaltar que os
livros didáticos possuem uma grande diversidade de
atividades propostas para serem desenvolvidas em sala
de aula, como também, atividades que envolvem
pesquisas e investigações fora da sala de aula. Trazendo
práticas experimentais indispensáveis para a construção
da competência investigativa dos estudantes.
No capítulo analisado do livro Biologia Hoje
(2011) de LINHARES e GEWANDSZNAJDER apresenta
4 exercícios que exigem apenas repetir informações, 4
exercícios que exigem interpretação e 2 atividades
práticas que orientam para a busca de informações que
exigem investigação e produção de ideias para além da
simples reprodução.
A utilização do livro didático em sala de aula
desempenha um papel importante na consolidação das
aquisições dos alunos, desde que incentive a reflexão e
não a mera memorização e aplicação mecânica de
fórmulas. Além disso, tanto a resolução quanto a correção
de exercícios fazem parte do processo de avaliação
formativa.
No capítulo do livro Novas Bases da Biologia
(2012) do BIZZO apresenta 6 exercícios que exigem
apenas repetir informações, 4 exercícios que exigem
interpretação e 1 experimento sistematizador que exige
pesquisa e busca de informações fora da sala de aula.
Com relação ao professor, em se basear
somente no livro didático no desenvolvimento de suas
aulas, cabe a ele refletir sobre isso, pois a melhor forma de
se tentar alcançar a autonomia intelectual é justamente
não se prender a um modelo fechado.
O livro Biologia (2010) do PEZZI, GOWDAK e
MATTOS, apresenta no capítulo analisado 10 exercícios
que exigem apenas repetir informações, 5 exercícios que
exigem interpretação e 1 atividade prática sistematizadora
que orienta para a busca de informações que exigem
investigação e produção de ideias para além da simples
reprodução.
4.CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho buscou apresentar a avaliação
como sendo um processo autoritário, como também
democrático, investigativo e libertador, ressaltando a
importância da coerência entre a proposta pedagógica e a
avaliação adotada, fundamentando-se numa
epistemologia do conhecimento.
Quadro1: Atividades analisadas nos livros de Biologia do
ensino médio
Diante de tudo que foi exposto, a avaliação é um
processo que se vale de instrumentos para produção de
informações sobre os processos de ensino e de
aprendizagem e, também, sobre o trabalho docente.
Resultados desses processos podem indicar a
continuidade das ações de ensino e aprendizagem,
inicialmente propostas, ou indicar mudanças necessárias
na ação do professor.
97
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Os Instrumentos podem ser provas e testes
escritos e orais, trabalhos individuais e grupais (relatórios,
textos, cartazes, painéis informativos, etc.), atividades dos
livros didáticos, entrevistas, observação...
HAYDT, Regina Cazaux. Avaliação do processo ensinoaprendizagem. São Paulo: Ática, 2000.
HOFFMANN, Jussara. Avaliação Mediadora: Uma prática
em construção da pré-escola á universidade. Porto Alegre,
2009
LINHARES, Sérgio; GEWANDSZNAJDER, Fernando.
Biologia Hoje. 1ª. ed. São Paulo. Editora Ática, 2011.
O trabalho se deu com enfoque na avaliação
como prática investigativa e emancipatória preocupada
em articular os potenciais dos alunos, e não em se
prender em estereótipos e conteúdos fragmentados.
LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da aprendizagem:
componente do ato pedagógico. São Paulo: Cortez, 2011
A complexidade das questões relativas à
avaliação, assim como dos diversos atores envolvidos
nesses processos, não permitem soluções imediatas com
intuito de reverter em curto prazo, porque ainda é
necessário muito estudo e pessoas dispostas a este
desafio. O que me inquieta, é que as escolas ainda não
demonstram estar totalmente preparadas para enfrentar e
resolver as fragilidades das práticas avaliativas.
MARTINS, José Prado. Didática Geral: fundamentos,
planejamento, metodologia e avaliação. São Paulo: Atlas,
1985.
Ministério da Educação (MEC), Secretaria de Educação
Média e Tecnológica (Semtec). Parâmetros Curriculares
Nacionais para o Ensino Médio. Brasília: MEC/Semtec,
1999.
Assim sendo, a avaliação da aprendizagem é
uma prática pedagógica, útil e necessária para analisar o
que se faz. E o papel principal do professor consiste em
auxiliar o aluno a aprender. Nessa perspectiva, Melchior
(2003, p. 17) propõe que:
MUNÍCIO, P. Como realizar a avaliação contínua.
Coimbra: Almedina. 1978
PEZZI, Antônio; GOWDAK, Demétrio; MATTOS, Neide.
Biologia. 1ª. ed. São Paulo. Editora FTD, 2010.
Se não houve aprendizagem, então não se
ensinou e o professor tem que questionar e
verificar onde está a falha, analisando todos
os elementos envolvidos no processo,
entendendo que sempre é um desafio avaliar
a aprendizagem em função da subjetividade
humana na relação com o processo
educativo.
SANT'ANNA, Ilza Martins. Por que avaliar? Como avaliar?
Critérios e instrumentos. 7. ed. Vozes. Petrópolis 2001.
SANTIAGO, Anna Rosa Fontella... [et al.]. Didática– Ijuí:
Ed. Unijuí. 2010. - 90 p. - (Coleção educação a distância.
Série livro-texto).
Desse modo, cabe partir dos educadores uma
real mudança, com olhar sensível e crítico perante os
desafios cotidianos, sem desistir ao primeiro impasse,
mas, ao contrário, que dê mais força e sabedoria para
melhorar essa prática, junto aos sujeitos que participam
das práticas pedagógicas.
SAUL, A.M. Avaliação emancipatória: desafio à teoria e a
prática de avaliação e reformulação de currículo. São
Paulo: Cortez, 1995.
SILVA, César; SASSON, Sezar; CALDINI, Nelson. Biologia.
10ª. ed. São Paulo. Editora Saraiva, 2010.
Nesse sentido, a escola deverá assegurar ao
aluno, uma boa formação, tornando- o capaz de realizar a
transposição dos conteúdos formais na interpretação do
cotidiano e na valorização dos conhecimentos não
formais gerados na comunidade e ao professor os meios
necessários para proporcionar ao aluno uma formação
contínua, de qualidade, que lhe garanta atualização
permanente para enfrentar os avanços da sociedade.
VASCONCELLOS, Celso dos santos. Avaliação:
concepção dialética libertadora do processo de
avaliação escolar. São Paulo: Libertad, 1995.
REFERÊNCIAS
BARREIRA, C., BOAVIDA, J. & ARAÚJO, N. (2006).
Avaliação formativa. Novas formas de ensinar e de
aprender. Revista Portuguesa de Pedagogia, 40-3, pp.
95-133.
BIZZO, Nélio. Novas Bases da Biologia. 1ª. ed. São Paulo.
Editora Ática, 2012.
Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio,
Resolução CEB nº 3 de 26 de junho de 1998.
ESTEBAN, Maria Teresa. Ser professora: Avaliar e ser
avaliada. In: ESTEBAN, Maria Teresa.org; Escola, Currículo
e avaliação; São Paulo. Cortez, 2003
FREIRE, M. A paixão de conhecer o mundo. 7ª ed. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1989. p.5.
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CONCEITOS E TENDÊNCIAS ALIMENTARES DE ALUNOS DE 4º E 5º ANOS DE SETE
ESCOLAS DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE TRÊS PASSOS - RS
Clenio Moacir Flesch¹
Luciane Sippert²
Danni Maisa da Silva³
4
UERGS
RESUMO
A definição dos hábitos alimentares dos indivíduos ocorre
especialmente até a juventude. Com base nisso, o
presente trabalho teve por objetivo avaliar os conceitos,
tendências e hábitos alimentares de alunos préadolescentes em algumas escolas urbanas e rurais da
rede municipal de ensino no município de Três Passos,
Rio Grande do Sul, Brazil. A pesquisa foi desenvolvida
considerando a circularidade do método científico. Os
dados foram coletados por meio da aplicação de um
questionário evolvendo 105 alunos, sendo 45 do meio
rural e 60 do meio urbano, com 93% deles tendo idade
entre 9 e 11 anos. Os resultados obtidos na investigação
demonstraram que há considerável semelhança entre os
conceitos de alunos do meio rural e do meio urbano. Os
dois grupos demonstraram que têm entendimento
satisfatório com relação a alimentos saudáveis e suas
escolhas destes são coerentes com isso. Nenhum dos
dois grupos expressou influência da mídia nas suas
escolhas, porém, quase metade dos alunos declarou se
importar ou se importar um pouco com o que os colegas
pensam sobre seus hábitos alimentares. Embora
resultados assim sejam animadores, é preciso ter cautela,
pois o grupo avaliado talvez não reflita os hábitos
alimentares da maioria dos jovens em idade semelhante.
ABSTRACT
The definition of people's eating habits happens especially
until youth. Based on this, the present study aimed to
evaluate the concepts, trends and eating habits of
Preteens students in some urban and rural schools in the
municipal school system in Três Passos, Rio Grande do
Sul, Brazil. The research was developed considering the
circularity of the scientific method.The data were collected
through a questionnaire evolving 105 students, 45 of rural
and 60 of urban areas, with 93% of them aged from 9 to 11.
The results shown on the investigation demonstrated that
there is considerable similarity between the concepts of
students from rural and urban areas.The two groups
demonstrated that they have satisfactory comprehension
regarded to healthy food and their choices of these are
consistent with it. Neither group expressed influence of
media in their choices, however, almost half of the
students declared to care or mind a bit with what
colleagues think about their eating habits. Although the
results are encouraging, care should be taken because the
group that was evaluated may not refclet the eating habits
of most young people in similar age.
Keywords: Food habits. Healthy food. Urban and rural
schools.
Palavras-chave: Hábitos alimentares. Alimentos
saudáveis. Escolas urbanas e rurais.
1. INTRODUÇÃO
De acordo com Moura (2010), a predileção
infantil por um ou outro alimento é influenciada tanto por
aspectos ambientais quanto pela própria genética. Há
também evidências de que algumas predileções
alimentares são inerentes ao indivíduo e que,
dependendo das opções alimentares que estão ao
alcance, as predileções adquiridas durante a vida podem
levar ou impedir o consumo de alimentos que não são
adequados nutricionalmente.
A definição de hábitos alimentares acontece na
infância, tendo em vista a maior receptividade às
informações e a absorção de novas tendências, incluindo
as provenientes do ciclo familiar e aquelas obtidas no
ambiente escolar (Herculano, 2010).Uma alimentação
que pode ser definida como saudável, engloba cinco
características fundamentais, como destaca Herculano
(2010), que seriam: respeito e valorização das práticas
alimentares culturalmente identificadas, garantia de
acesso, sabor e custo acessível, variada, colorida,
harmoniosa e segura.
A televisão é tida como o canal de comunicação
que possui maior influência sobre os adolescentes, tanto
por ser extremamente popular quanto pelo tempo que
¹ Graduado em Medicina Veterinária, UFSM; Especialista em Segurança Alimentar e Agroecologia, Uergs, Unidade em Três
Passos. Email: cleniofl[email protected]
² Orientadora. Licenciada em Letras, com habilitação para Língua Portuguesa e respectivas literaturas, UNIJUÍ; Especialista
em Ensino-aprendizagem de línguas, UNIJUÍ; Mestre em Educação nas Ciências, com ênfase em Letras, UNIJUÍ: Doutoranda
em Letras, na área de Teorias Textuais, Discursivas e Enunciativas, UFRGS, Professora Assistente de Língua Portuguesa da
Universidade Estadual do Rio Grande do Sul, Uergs. Email: [email protected]
³ Coorientadora. Graduada em Agronomia, UFSM; Mestre em Agronomia, UFSM; Doutora em Ciência do Solo, UFSM;
Professora Assistente em Ciência do Solo da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul, Uergs - Unidade Três Passos.
Email: [email protected]
4
UERGS , Unidade em Três Passos. Rua Cipriano Barata, 47 - bairro Érico Veríssimo. CEP: 98600-000. Fone: (55) 3522-2895.
99
REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
esses jovens dedicam a esse aparelho. Citando como
exemplo os Estados Unidos da América (EUA), o tempo
dedicado à televisão chega a superar o tempo que
passam na sala de aula e até mesmo o tempo que estão
na companhia dos pais. Estima-se que em países ainda
em desenvolvimento, como o Brasil, o comportamento
seja similar, tendo como motivo adicional de preocupação
que a maioria dos comerciais de alimentos na televisão
aberta destaca aqueles ricos em açúcar, gordura e sal.
Muitas vezes crianças e jovens estão envolvidos como
atores e mais problemático ainda é que mais de 90% dos
atores ou modelos são magros ou até muito magros, e
anunciam produtos com riqueza de calorias, o que pode
influenciar os jovens a pensar que o consumo de tais
alimentos não leva ao ganho excessivo de peso e que não
afetará negativamente sua saúde (MOURA, 2010;
MIOTTO e OLIVEIRA, 2006).
e tão precioso que é a saúde física, torna-se relevante
uma avaliação do entendimento contemporâneo dos
jovens no estágio de formação da personalidade sobre
alimento seguro e a importância de consumi-lo. Tendo isso
em mente, o objetivo geral desta pesquisa foi examinar
qual é o entendimento dos alunos do 4º e 5º anos sobre
um alimento saudável e o que influencia nas suas
escolhas, estabelecendo um paralelo entre as crianças
que residem no meio rural e os que moram em áreas
urbanas. Também se buscou avaliar a importância da
merenda escolar na vida desses jovens e suas
preferências individuais por um ou outro alimento.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
Na pesquisa foi considerada a circulidade do
método científico, que tem por fluxograma: problema →
planejamento amostral → planejamento redação do
questionário → realização de campo → obtenção dos
dados → análise estatística → discussão dos resultados
(MANZATO, 2012).
Nessa perspectiva, a vulnerabilidade dos
adolescentes às influências externas é fator relevante nas
suas escolhas. Tanto moda, linguagem, comportamento e
alimentação estão entre os campos que a interferência do
meio é vividamente observável. A televisão é um dos
fatores que inclina esse grupo etário a consumir cada vez
mais lanches e alimentos industrializados, como assegura
Moura (2010).
Figura 1: Circulidade do método científico
As crianças, de modo geral, definem seus
conceitos e preferências tendo por base características
dos produtos, entre elas: aparência, doçura, textura,
diversão, figuras de heróis, mágicas e ofertas de brindes.
De importância secundária, figuram as informações sobre
a composição dos alimentos, que são diretamente ligados
à sua qualidade nutritiva e, desta forma, ligados à saúde
de quem os consomem (MOURA, 2010).
Os alimentos industrializados são, sem dúvida,
uma causa de real preocupação. Quando se consome de
maneira excessiva açúcares, gorduras animais, ácidos
graxos saturados, gordura trans, sódio e redução dos
carboidratos complexos e fibras, quanto mais em paralelo
ao sedentarismo, incidem do aparecimento precoce de
doenças, assevera Toloni (2011). Somado a isso, são
dotados de aditivos e conservantes artificiais que, embora
atendam os limites máximos que a legislação permite,
ainda não tiveram seus efeitos devidamente avaliados
quanto ao uso em longo prazo (SCHUMANN, 2008).
Sendo assim, Sichieri (2000) reforça que se torna cada
vez mais importante a elaboração de uma proposta
voltada para o consumo de alimentos saudáveis, ao
alcance das pessoas em geral.
FONTE: Adaptada de Manzato (2012).
Para o desenvolvimento da metodologia
proposta, procurou-se seguir o seguinte Cronograma:
outubro de 2014 (formulação dos questionários) – 1ª
quinzena de novembro de 2014 (aplicação dos
questionários) – 2ª quinzena de novembro e 1ª semana
dezembro de 2014 (compilação dos dados e discussão
dos resultados) – 2ª quinzena de dezembro de 2014
(apresentação dos resultados à Secretaria Municipal de
Educação) e defesa de monografia.
2.1 O PROBLEMA
Em países que se encontram em fase de
desenvolvimento, citando apenas como exemplo o
México, as comunidades rurais já adotaram hábitos
alimentares muito parecidos com aqueles próprios da
população de áreas urbanas, inclusive com consumo
considerável de alimentos industrializados (ricos em
gorduras, açúcares e pobres em fibras). No Brasil, há
ainda uma escassez de dados referentes às preferências
e hábitos alimentares na área rural (Rivera e Souza,
2006). Desta forma, esta lacuna existente se pretendeu
preencher, pelo menos em parte, com a presente
pesquisa.
Desconhecimento a respeito dos conceitos e
tendências alimentares, além de possíveis fatores que
influenciam as escolhas dos jovens no município de Três
Passos/ RS.
2.2 PLANEJAMENTO AMOSTRAL
O presente trabalho foi realizado em Três
Passos/RS. A amostra foi escolhida a esmo ou sem
norma. A fim de simplificar o processo, o pesquisador
procurou ser aleatório, não realizando um sorteio por meio
de algum dispositivo aleatório confiável (MANZATO,
2012).
Para que seja possível tomar as medidas
necessárias em virtude da preservação de um bem único
100
REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
O público alvo da investigação científica foi os
alunos das Escolas Municipais de Ensino Fundamental
Bispo Pedro Fernandes Sardinha, Coroinha Daronchi,
Dom João Becker, Guia Lopes, João Padilha do
Nascimento, São José e Wally Elisa Hartmann. Entre
essas sete escolas da rede municipal de ensino do
município de Três Passos, quatro estão localizadas na
área rural, sendo que 45 alunos de 4º e 5º anos
responderam às perguntas. Foi necessário englobar dois
anos em cada escola por estarem em regime seriado. As
quatro escolas têm aulas no turno da tarde. Na área
urbana do município 60 alunos, de três escolas diferentes
foram incluídos. Uma dessas escolas é de período
integral, em regime de seriado de 4º e 5º anos e duas com
aulas em turno inverso, uma no da manhã e outra no da
tarde. Nessas duas escolas as turmas que contribuíram
com a pesquisa eram apenas as de 5º ano. Desta forma,
um total de 105 alunos responderam ao questionário.
investigação, tendo a reponsável concordado e fornecido
os contatos das escolas.
Foram agendadas com as escolas participantes o
dia, a hora e quais os alunos que seriam submetidos ao
questionário, sendo que os alunos foram previamente
comunicados a respeito da presença do entrevistador,
facilitando, desta forma, sua recepção (GÜNTHER, 2003).
Deu-se atenção ao modo de vestir do
entrevistador, que usou uma camiseta com a identificação
da Universidade na qual é pós-graduando (MANZATO,
2102), deixando clara a instituição conhecida e legitimada
a qual está ligado (GÜNTHER, 2003).
O entrevistador demonstrou apreciação
antecipada para estimular a confiança dos respondentes,
teve também consideração para com os jovens, fazendo
com que a tarefa parecesse breve, o esforço físico e
mental fosse reduzido e eliminou a possibilidade de
embaraços (GÜNTHER, 2003).
Foram 45 meninas e 60 meninos, sendo 13 com
nove anos, 57 com a idade de dez anos, 28 com a idade
de onze anos, 4 com doze anos, 2 com treze anos e um
com catorze anos. Desta forma, mais de 93% dos alunos
tem idade entre 9 e 11 anos.
As instruções apresentadas pelo entrevistador,
que envolveram uma breve explicação a respeito do
objetivo da sua presença no local e dos pontos do
instrumento investigativo, foram padronizadas e claras o
suficiente para que não fossem necessárias perguntas
por parte dos entrevistados, seguindo sugestão
metodológica de Günther (2003). A aplicação do
questionário foi composta de um período máximo de cinco
minutos para as devidas explicações e um tempo para
preenchimento de vinte minutos, sendo posteriormente
recolhidos. Poucas perguntas surgiram, e quando
apareceram, as explicações foram dadas sobre os pontos
mencionados para todo o grupo, tomando-se o cuidado
para que os alunos não fossem influenciados a dar uma
resposta diferente da que dariam.
2.3 PLANEJAMENTO DO QUESTIONÁRIO
Na formulação do questionário deu-se atenção à
lógica interna na estrutura de aplicação e a interpretação. A
primeira parte deixou visível a identificação de quem fazia a
pesquisa: Universidade, curso, entrevistador e número do
questionário (MANZATO, 2012; GÜNTHER, 2003). As
perguntas foram desenvolvidas de modo a serem claras e
objetivas, evitando interpretação errônea e não invasivas.
Apresentou perguntas para confirmação e checagem de
respostas de forma indireta, tendo sido usadas poucas
questões abertas e tomando-se o cuidado para que as
questões não fossem indutivas, respeitando sempre o
ponto de vista do respondente (MANZATO, 2012).
Embora fosse pequena, uma recompensa pela
sinceridade esperada nas respostas ao questionário
(GÜNTER, 2003), sendo esta uma camiseta com
identificação da Universidade sorteada por classe
participante. Foram sorteadas 10 camisetas com
identificação da Universidade com o objetivo de estimular
respostas sinceras por parte dos investigados.
O questionário foi composto de 13 questões, das
quais as primeiras nove tiveram como foco o objetivo
principal da investigação, parte esta composta de cinco
itens fechados com a quantidade de três até nove
alternativas, de acordo com Günther (2003); também
apresentou uma questão semiaberta e três abertas nessa
parte. As outras quatro proposições convergem para sexo,
idade, escola e turno de estudo. No questionário não foi
solicitado nome do respondente, visto que não interfere no
objetivo da análise investigativa.
Depois de respondidos os questionários em cada
classe, agradeceu-se a valiosa colaboração dos
respondentes, atitude esta considerada relevante por
Manzato (2012) e Günther (2003).
Depois da formatação das questões, o instrumento
de pesquisa foi submetido a um pré-teste com 37 alunos de
dois cursos de graduação da UERGS (Universidade
Estadual do Rio Grande do Sul) com o objetivo de detectar
falhas, perguntas dúbias e avaliar o grau de dificuldade das
questões, tendo em mente a capacidade compreensiva do
público alvo. As sugestões pertinentes e relevantes foram
aplicadas na adequação do questionário, sugestão esta
apresentada por Manzato (2012).
Os resultados obtidos foram extraídos dos
questionários e catalogados. As questões abertas tiveram
as respostas agrupadas de acordo com as expressões
espontâneas dos alunos quanto ao que consideram um
alimento saudável, exemplos de alimentos que
consideram saudáveis e suas preferências pessoais
dentre os alimentos fornecidos na merenda escolar.
2.4 REALIZAÇÃO NO CAMPO
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Entrou-se em contato com a Secretária Municipal
de Ensino do município, expondo-se o objetivo da
atividade e a forma como a investigação seria realizada,
além de identificação de quem participaria na
O presente estudo identificou as preferências
alimentares, fatores que influenciam essas escolhas e os
conceitos que eles têm sobre alimentos saudáveis. Foram
avaliadas as opiniões de 105 crianças, com 93% deles
2.5 OBTENÇÃO DOS DADOS
101
REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
estando com idade entre 9 e 11 anos.
cardápios diários. Cada aluno pôde optar por até três
alimentos entre as nove alternativas propostas; desta
forma, não devem ser somadas as porcentagens dentro
de cada um dos grupos de alunos, pois se trata da
proporção de alunos que fez menção àquele alimento. É
marcante a preferência por alimentos que não passaram
por processo de industrialização, exceto o pão. Na
comparação entre os alunos que frequentam as escolas
na zona rural e o da zona urbana, notou-se pequena maior
preferência por saladas pelos alunos da área rural,
enquanto que a maior preferência por frutas é mais
considerável na área urbana.
Quando se fez referência a alunos da área rural,
foram englobados 45 alunos que residem e estudam na
área rural. Ao mesmo tempo, quando se citou alunos da
área urbana, faz jus a 60 alunos que residem e estudam
na área urbana do município.
A primeira questão procurou contemplar as
preferências que os sujeitos da pesquisa teriam por certas
bebidas, o que está demonstrado no gráfico abaixo:
Figura 2: Preferências por bebidas pelos alunos com sede, Três
Passos/RS, 2014
Acreditando-se numa possível interferência dos
colegas sobre os hábitos alimentares, a Figura 4 permite
avaliar até que ponto o convívio escolar influencia os
hábitos alimentares do público alvo.
Figura 4: Preocupação dos alunos sobre o que os colegas
pensam sobre seus hábitos alimentares, Três Passos/RS, 2014
Na Figura 2, é possível visualizar que não houve
diferenças relevantes nas preferências dos alunos de
escolas da zona rural quando comparadas às dos alunos
que frequentam escolas na área urbana, exceto quanto
aos refrigerantes, que apresentam maior índice de
preferência entre os alunos que residem e estudam na
área urbana do município.
Figura 5: Fatores que influenciam os alunos a decidirem por um
ou por outro alimento, Três Passos/RS, 2014
Para avaliar as tendências dos jovens quanto aos
alimentos que mais os atraem, julgou-se relevante
questionar que tipo de alimento não poderia faltar na
alimentação diária dos sujeitos pesquisados, o que
podemos verificar na Figura 3.
Figura 3: Alimentos que não poderiam faltar no cardápio diário
dos alunos, Três Passos/RS, 2014
Embora haja alguma diferença entre os alunos
das escolas urbanas e das escolas em área rural, as
diferentes respostas convergem para certo grau de
equilíbrio no que tange a serem ou serem um pouco
influenciados, mas é marcante que quase a metade dos
alunos, independentemente se da área rural ou urbana,
são sempre ou às vezes influenciados pelo que imaginam
A Figura 3 apresenta as opções dos sujeitos com
relação aos alimentos que não poderiam faltar em seus
102
REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
que os colegas podem pensar. Isso está de acordo com
Moura (2010), que destaca que na idade de 8 a 12 anos,
quando passam à pré-adolescência, há um aumento da
influência da opinião dos colegas.
informações apresentadas. Ao contrário do desejável,
desde 2003, quando se tornou obrigatória a rotulagem
nutricional, as informações contidas nos rótulos se
tornaram mais complexas, dificultando seu entendimento
(PONTES, 2009).
Os altos investimentos feitos na promoção de
alimentos industrializados, na maioria das vezes não
podendo ser considerados saudáveis, entendeu-se como
pertinentes questionar os alunos sobre o que os leva a
fazer suas escolhas por determinado item, o que pode ser
avaliado na Figura 5.
A Figura 7 teve como base de construção dados
provenientes de uma pergunta aberta, em que os alunos
puderam expressar, de forma espontânea, com base em
suas próprias convicções, o que entendem a respeito do
que é um alimento saudável.
Figura 7: Características inerentes a um alimento saudável no
conceito dos alunos, Três Passos/RS, 2014
Na Figura 5 visualiza-se que as motivações que
levam à escolha dos alimentos estão quase que
alinhados entre os dois grupos de alunos, mesmo assim,
notamos que embalagens bonitas e a possibilidade de
ganhar um brinde influenciam um maior número de
alunos do meio urbano, enquanto que o preço gera maior
sensibilidade dos alunos no meio rural. A influência da
televisão, embora tenha sido apontada por alguns,
apresentou tendências pouco significativas. De acordo
com o já descrito por Miotto (2006), não houve
considerável associação entre as preferências
alimentares e a mídia.
As escolhas de alimentos, como vimos, com
60% dos alunos se dá por já terem provado esse alimento
e terem gostado dele. Porém, o simples fato de ter um
sabor agradável e uma bela aparência não caracteriza
necessariamente um alimento que se classifique como
saudável; por isso, compreendeu-se como fundamental
avaliar o entendimento e a preocupação dos alunos em
relação aos ingredientes contidos nos diferentes
alimentos, o que é ilustrado pela Figura 6.
A Figura 7 mostra que, apesar da explicação
dada pelo aplicador dos questionários, entre os alunos de
escolas da área rural e os de escolas da área urbana
citaram em 33,33% e 28,33% dos questionários,
respectivamente, exemplos de alimentos que consideram
saudáveis, principalmente frutas. É possível atribuir à
forma da pergunta dentro do questionário essa dificuldade
de entendimento do ponto. Porém, as demais respostas
dão ênfase ao razoável entendimento que os alunos têm
sobre o que é um alimento saudável.
Figura 6: Importância que os alunos dão à composição
nutricional dos alimentos, Três Passos/RS, 2014
Entre os pontos mencionados, as expressões
“sem veneno”, “limpo” e “nutritivo”, apresentam uma
diferença considerável entre os alunos que moram e
estudam na área rural e na urbana. Há claras evidências
que os alunos de escolas da área rural possuem maior
clareza no que se refere aos alimentos saudáveis, embora
seja necessário dar atenção aos 8,33% de alunos da área
urbana que mencionaram alimentos naturais (não
industrializados).
Uma das respostas dadas por um aluno de 11
anos da Escola Coroinha Daronchi, localizada na área
urbana do município, foi incomum, tendo ele usado as
palavras: “limpinho, saudável, gostoso e faz bem para
minha saúde e de todo mundo da minha vila”.
A Figura 6 mostra que os que se importam pouco
com os ingredientes que possam estar nos alimentos
foram de similar proporção entre alunos dos meios rural e
urbano, sendo que os que mencionaram que se importam
foram em maior número no meio rural. Ao contrário, um
número maior de alunos das escolas urbanas prefere não
se importar.
Para que se pudesse avaliar a relação
estabelecida pelos alunos entre o que para eles é um
alimento saudável e o que eles consideram que esteja
entre eles, achou-se próprio pedir que exemplificassem.
Os resultados estão apresentados na Figura 8.
Atualmente, mais de 70% das pessoas
consultam os rótulos dos alimentos no momento da
aquisição; porém, mais da metade dos que o fazem, não
tem compreensão adequada do que significam as
Nesse gráfico, os alimentos citados foram
distribuídos nas categorias da Pirâmide Alimentar, já com
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as alterações feitas nela em 2013, conforme anexo A. As
porcentagens expressas se referem ao índice de
prefência entre os alunos pelo alimento, portanto não
devem ser somadas.
Levando em conta que a grande maioria dos
alunos usufrui da merenda oferecida pelas escolas, foi
considerado importante analisar quais são os alimentos
preferidos pelos alunos dentre aqueles ofertados a eles. A
Figura 10 apresenta a predileção dos alunos.
Figura 8: Alimentos citados pelos alunos como sendo exemplos
de alimentos saudáveis, Três Passos/RS, 2014
Figura 10: Preferências dos alunos da zona urbana e rural
Ao observar os resultados obtidos a respeito das
preferências alimentares do alunos, apresentados na
Figuras 10, que foram obtidos através de pergunta aberta,
sendo que as porcentagens não devem ser somadas,
pois mostram a porcentagem dos alunos que
expressaram essa preferência, é possível perceber que
há uma diferença bem considerável entre os alunos das
áreas rural e urbana; o que pode ser vinculado a
diferentes tipos de alimentos e à frequência com que
esses são oferecidos aos alunos. Entretanto, é digno de
nota que a maioria dos alunos, independentes de onde
moram e onde estudam, preferem frutas, sanduíches,
cachorros-quentes e salada-de-frutas.
Na Figura 8, tendo em mente que esta foi uma
questão aberta, com possibilidade de múltiplas respostas,
vários pontos chamam a atenção: nenhum aluno citou
alimentos que estão no alto da pirâmide alimentar, como
óleos e gorduras, açúcares e doces; os alunos do meio
rural citaram alimentos dos grupos de carnes e ovos,
feijões e leguminosa, legumes e verduras e do grupo das
frutas aproximadamente o dobro de vezes que os alunos
da área urbana.
As instituições de ensino fundamental, de modo
geral, oferecem merenda escolar aos alunos e, sob a
orientação de nutricionistas, são feitos cardápios que
possam ajudar a atender as necessidades físicas das
crianças, sendo a maior parte desses alimentos
considerados saudáveis. O próprio consumo da merenda
escolar muitas vezes influencia a formação dos hábitos
alimentares. Dito isso, julgou-se importante avaliar o
índice e a frequência como que os alunos fazem uso
dessa oferta de alimento, estando os resultados expostos
na Figura 9.
4. CONCLUSÃO
Com esta pesquisa foi possível concluir que o
grupo de sujeitos que contribuíram com suas respostas já
têm razoável entendimento sobre o conceito do que seria
considerado um alimento saudável; isto é, um padrão
alimentar que atenda às necessidades biológicas e
socioculturais do indivíduo, além de seguro, não
permitindo que a mídia os influencie como tem feito com
outras crianças menores e/ou da mesma idade.
Figura 9: Proporção de alunos que consomem merenda
escolar, Três Passos/RS, 2014
Com relação às suas tendências, observou-se a
preferência por alimentos como frutas, verduras e legume,
feijão, pão e carne. Sendo assim, seus hábitos alimentares
poderiam ser considerados saudáveis e equilibrados.
Outra variável considerada foi os alunos estudarem
na zona urbana ou rural. Com relação a isso, os resultados
demonstraram que, embora o ambiente diferente, as
concepções e as escolhas alimentares são similares.
É provável que os hábitos alimentares desses
alunos não sejam parâmetro confiável a ser atribuído de
modo geral aos alunos nessa faixa etária, mas a pesquisa
mostra um importante indicativo de que a família e a escola
estão exercendo uma influência mais significativa do que
os meios de comunicação. A pressão que os colegas
exercem, muitas vezes passiva, é vista nesse grupo como
o principal fator externo que influencia suas decisões.
A Figura 9 ajuda a observar que há uma
diferença considerável entre os alunos da área urbana e
os da área rural, tendo resultados inversamente
proporcionais entre os alunos no consumo constante e
esporádico de merenda na escola, o que pode se dar em
virtude das características físicas da área em que moram
e os hábitos alimentares dos pais e a rotina da família.
Torna-se cada vez mais significativo que se
façam trabalhos envolvendo a educação e reeducação
alimentar nas escolas, bem como a intervenção de
políticas públicas que abordem a segurança alimentar.
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105
REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
COMPOSTAGEM NA ESCOLA: UMA PROPOSTA DE FERRAMENTA PEDAGÓGICA NO
DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Silvia Da Silva¹
Luciane Sippert²
Robson Evaldo Gehlen Bohrer³
4
UERGS
RESUMO
A Educação Ambiental (EA) na escola emerge como um
importante componente de transformação social,
tornando-se fundamental no processo de
conscientização. Nesse sentido, este trabalho teve como
objetivo mobilizar a comunidade escolar de uma escola
privada do município de Três Passos RS, para a
separação e destinação mais adequada dos resíduos
sólidos, especialmente a fração orgânica dos resíduos
produzidos em casa e na escola. Participaram do projeto
crianças do Ensino Fundamental, do 1° ao 5º ano. Tratase de uma pesquisa-ação. Para tanto, foi ministrada
palestra de sensibilização e conscientização, bem como
apresentação de vídeo sobre o tema. Além disso, foi
realizada oficina de compostagem, durante a qual foi
construída uma composteira de tijolos, em que
posteriormente os alunos puderam acompanhar todo o
processo de transformação da matéria orgânica. Para
avaliar a repercussão do projeto nas famílias, foram
encaminhados questionários. Os resultados sugerem que
a utilização de uma composteira como prática ambiental
sensibiliza, não apenas os alunos, mas toda comunidade
escolar, para os cuidados com a conservação dos
recursos naturais, mostrando-se como instrumento que
pode ser explorado e desenvolvido de modo a se tornar
uma ferramenta útil na promoção da EA. A repercussão do
projeto, embora tenha sido positiva, não foi a esperada, o
que sinalizou a necessidade de realização de novas
atividades, com maior regularidade, a fim de atingir
práticas mais sustentáveis e auxiliar na promoção da EA.
Palavras-chave: Resíduos sólidos.
Ambiental. Compostagem.
ABSTRACT
The environmental education (EE) at school emerges as
an important component of social change, becoming
crucial in the process of awareness. In this context, this
study aimed to mobilize the school community, a private
school in the city of Três Passos/RS, to separate and more
appropriate disposal of solid waste, especially the organic
fraction of the waste produced at home and at school.
Elementary school children, from the 1st to 5th grade
participated on this project. It is about an action research.
Therefore, a lecture about sensitization and awareness
was given, as well as video presentation on the topic. In
addition, composting workshop was held, during it a
compost bricks was built, where later the students were
able to follow the whole process of transformation of
organic material. To assess the impact of the project on
families, questionnaires were sent. The results suggest
that the use of compost as environmental practice raises
awareness, not only students, but the whole school
community, for the care and conservation of natural
resources, showing up as a tool that can be explored and
developed to become a useful tool in promoting EE. The
impact of the project, although it was positive, was not
expected, and signaled the need to perform new activities,
more regularly in order to achieve more sustainable
practices and assist in the promotion of EE.
Keywords: Solid waste. Environmental Education.
Composting.
Educação
1. INTRODUÇÃO
ameaçando toda a biodiversidade e as necessidades das
gerações futuras. Segundo Vital et al., “O lixo tem grande
importância na degradação do solo. Devido a sua grande
quantidade e composição, contamina o solo chegando até
mesmo a degradar os lençóis de água subterrânea”
(2012. p. 83).
A busca desenfreada pelo desenvolvimento
econômico, paralelo ao crescimento desordenado das
cidades, levou o ser humano a uma relação conflituosa
com o meio ambiente. Muitos são os problemas
relacionados a esse progresso e a geração de resíduos
sem a adequada separação e destinação são vistos
como uma das principais causas de contaminação,
comprometendo os recursos naturais e, com isso,
São grandes os desafios em busca de
alternativas que visem à diminuição dos impactos
ambientais provocados pelas diversas atividades da
¹ Graduada em Alimentos, UNIJUÍ; Especialista em Segurança Alimentar e Agroecologia, Uergs, Unidade em Três Passos. Email: [email protected]
² Orientadora. Licenciada em Letras, com habilitação para Língua Portuguesa e respectivas literaturas, UNIJUÍ; Especialista
em Ensino-aprendizagem de línguas, UNIJUÍ; Mestre em Educação nas Ciências, com ênfase em Letras, UNIJUÍ: Doutoranda
em Letras, na área de Teorias Textuais, Discursivas e Enunciativas, UFRGS, Professora Assistente de Língua Portuguesa da
Universidade Estadual do Rio Grande do Sul, Uergs. Email: [email protected]
³ Coorientador. Graduado em Engenharia Ambiental, UNISC; Mestre em Tecnologia Ambiental, UNISC; Professor Assistente em
Gestão Ambiental nos Cursos da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul, Uergs - Unidade Três Passos. Email: [email protected]
4
UERGS, Unidade em Três Passos. Rua Cipriano Barata, 47 - bairro Érico Veríssimo. CEP: 98600-000. Fone: (55) 3522-2895.
106
REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
A compostagem é o processo de transformação
de materiais grosseiros, como vegetais e estrume, em
materiais orgânicos utilizáveis na agricultura (NETO,
2002). Para Santos (2008), trata-se de um método
controlado de decomposição biológica de materiais
orgânicos, devido à ação de uma população mista de
microrganismos do solo, sendo influenciada pela
co mp o si çã o d o ma te ri a l d e p a rti d a (re l a çã o
carbono/nitrogênio – C/N, idealmente 30/1), aeração
(fornecimento de oxigênio) e umidade (GROSSI;
VALENTE, 2002). Para este autor, os resíduos que podem
ser ou não podem compostados e são classificados
conforme a tabela abaixo:
sociedade moderna. A abordagem desse tema no meio
escolar se faz necessária já nas séries iniciais de ensino.
Santos (2013) enfatiza a faixa de 4 a 6 anos como
momento crucial para a criança vivenciar e assimilar
valores, especialmente os relacionados ao meio
ambiente, pois se trata da realidade na qual está inserida.
Na conferência das Nações Unidas sobre o Meio
Ambiente e Desenvolvimento, a Rio 92, foi criado a
Agenda 21, importante documento que contempla ações
que visam o desenvolvimento sustentável do planeta. O
capítulo 21, que trata do manejo dos resíduos sólidos,
chama atenção para urgência em encontrar alternativas
que promovam a redução e a disposição final adequada
aos resíduos sólidos.
Quadro1: Resíduos compostáveis e não compostáveis
[...] a Assembleia afirmou que o manejo
ambientalmente saudável dos resíduos se
encontrava entre as questões mais
importantes para a manutenção da
qualidade do meio ambiente da Terra e,
principalmente, para alcançar um
desenvolvimento sustentável e
ambientalmente saudável em todos os
países [...]. (AGENDA 21, 1992).
FONTE: Adaptado de Grossi;Valente (2002).
A produção de resíduos sólidos urbano faz parte
da rotina da sociedade moderna, gerando a cada dia um
volume maior de descarte em aterros sanitários e lixões
das pequenas e das grandes cidades (DALLES E
TEIXEIRA, 2010). Conforme o capítulo 21 da Agenda 21
(1992, p.1): “Os resíduos sólidos, para os efeitos do
presente capítulo, compreendem todos os restos
domésticos e resíduos não perigosos, tais como os
resíduos comerciais e institucionais, o lixo da rua e os
entulhos de construção”.
A compostagem como ferramenta pedagógica,
além de demonstrar aos alunos a adequada destinação
dos resíduos, tem como resultado final o composto
orgânico que, segundo Oliveira (2005, p.1) “[...] quando
adicionado ao solo, melhora as suas características
físicas, físico-químicas e biológicas [...]”, podendo ser
adicionado a hortas e quintais agroecológicos.
Atualmente, a preocupação com o consumo de
alimentos saudáveis, aqueles livres de contaminantes,
como agrotóxicos, e com a conservação do meio
ambiente, resultou em mudanças nos hábitos alimentares
de muitas famílias. Tais mudanças também fizeram com
que a população urbana voltasse a realizar o cultivo
agroecológico de hortaliças. A contribuição dos quintais
para a produção global de alimentos geralmente é
ignorada nas estatísticas de consumo alimentar, porém,
tanto ao nível nacional como internacional, este sistema
contribui significativamente para a economia local e para a
segurança alimentar (MARSH e HERNÁNDES, 1996).
Entre os diversos constituintes do material
coletado nos resíduos sólidos urbanos, a matéria orgânica
merece destaque, pois corresponde a 52% do total
gerado. (GUIDONI, 2013).
No Brasil, percebe-se um avanço em relação ao
tratamento destes resíduos, conquistado através de
algumas políticas públicas em andamento; no entanto,
somente em 2010 é que surge uma lei específica sobre o
assunto, a Lei n° 12.305, de 02 de dezembro de 2010, que
institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos e
estabelece, entre outros, as diretrizes relativas à gestão
integrada e ao gerenciamento de resíduos sólidos, citando
a Educação Ambiental (EA) como um importante
instrumento para o alcance dos objetivos.
A agricultura urbana é realizada em pequenas
áreas dentro da cidade, ou no seu entorno e destinada à
produção de cultivos para o consumo próprio ou para a
venda em pequena escala, em mercados locais (ROESE,
2008). Além dos benefícios ambientais, o mesmo autor
cita como vantagens desta prática agrícola a promoção da
segurança alimentar, a utilização da farmácia caseira a
partir das plantas medicinais, a educação ambiental, a
atividade ocupacional da comunidade, a geração de
renda e a diminuição da pobreza.
A separação adequada dos resíduos possibilita a
utilização dos métodos de compostagem de resíduos
orgânicos, sendo a compostagem considerada uma
ferramenta que pode ser facilitadora no desenvolvimento
da educação ambiental (CARVALHO et al., 2012).
Segundo Vital (2012), esta é uma prática bastante antiga,
como está destacado na citação abaixo:
Nesta perspectiva agroecológica, Santos e Fehr
(2007) realizam um trabalho voltado especificamente para
a EA e com compostagem, em duas escolas públicas de
Araguari-RS, o qual foi desenvolvido com intuito de
envolver a comunidade escolar nas questões ambientais,
principalmente na problemática que envolve a
inadequada disposição de resíduos sólidos. Os resultados
demonstraram que a compostagem se mostrou uma
A prática da compostagem é bastante antiga;
por toda a história das civilizações há relatos
de que, desde muito tempo é utilizada pelo
homem do campo, onde o(a) agricultor(a)
utiliza restos de produtos orgânicos (VITAL et
al., 2012, p. 84).
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ferramenta estratégica e eficaz na difusão da EA nestas
escolas. Isto foi verificado por meio da grande
receptividade ao projeto proposto e dos resultados
obtidos. Nesse sentido, sentiu-se o interesse em realizar
uma pesquisa-ação voltada a esta temática em uma
escola privada com alunos do Ensino Fundamental.
com uma ação ou com a resolução de um
problema coletivo e no qual ospesquisadores e
os participantes representativos da situação ou
do problema estão envolvidos de modo
cooperativo ou participativo (THIOLLENT,
2009, p. 16).
Para tanto, foi realizada uma reunião com o corpo
pedagógico da escola para apresentação da proposta de
uma composteira, com fins didáticos – pedagógicos nas
atividades de EA já existentes. A sequência das atividades
contemplou a realização de palestra e apresentação de
vídeo sobre alimentação saudável e impactos ambientais
causados pelo homem, bem como abordou a destinação
de resíduos produzidos tanto nas residências quanto no
ambiente escolar. Além disso, foi realizada uma oficina de
compostagem, durante a qual foi construída uma
composteira, na qual os alunos puderam acompanhar as
etapas da decomposição da matéria orgânica. Por fim,
para avaliar a repercussão do projeto, foi encaminhado
um questionário (conforme Apêndice A) às famílias de 147
alunos participantes. O questionário apresenta 6 questões
com resposta fechada e 3 questões com resposta aberta.
A EA, segundo o “Tratado de Educação
Ambiental para Sociedades Sustentáveis e
Responsabilidade Global” assinado durante a conferência
Rio 92, refere-se a um processo de aprendizagem
constante, que tem como base o respeito a todas as
formas de vida. É pela educação que se promovem
valores morais e ações que contribuem para que haja
mudanças humanas e sociais, contribuindo para o
crescimento de sociedades mais justas e ecologicamente
equilibradas, que mantenham entre si relação de
interdependência e diversidade. Dessa forma, como
destaca Pereira et al. (2014, p. 105), “a responsabilidade
surge em nível individual, prosseguindo para a
coletividade em nível local, nacional e planetário”.
A qualidade de vida das futuras gerações
depende diretamente do tipo de EA que for promovida
pelas famílias e demais instituições. Isso, no entanto, não
depende apenas do querer ou não querer, especialmente
das escolas, uma vez que, de acordo com a Lei de nº.
3325, de 17 de dezembro de 1999, que instituiu a Política
Estadual de Educação Ambiental, em seu artigo 2º - “A
Educação Ambiental é um componente essencial e
permanente da educação estadual e nacional, devendo
estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e
modalidades do processo educativo, em caráter formal e
não formal” (BRASIL, 1999).
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A primeira atividade desenvolvida neste projeto
foi a realização de uma palestra, durante a qual foram
apresentadas imagens da situação atual do planeta em
relação aos impactos ambientais causados pelo homem,
abordando diferentes temas como, o ciclo da matéria
orgânica, alimentação saudável, cuidados com o solo
relacionando as informações à geração de resíduos
orgânicos e compostagem. Também foi exibido um
episódio da série animada Peixonalta, intitulado “O caso
do cheiro esquisito” no qual os personagens abordam o
tema compostagem, demonstrando a importância e
apresentando as etapas do processo. O real motivo da
realização da mesma se deve para posteriormente ser
realizada uma discussão inicial sobre resíduos sólidos,
compostagem e agroecologia. O comportamento e os
comentários das crianças durante a palestra
evidenciaram o interesse pelo assunto. As crianças
contribuíram com relatos do que já fazem em casa, como
separação dos resíduos, consumo diário de frutas,
legumes e verduras, compostagem, demonstrando,
também, um certo entendimento da situação atual do
planeta em relação à exploração do homem e o os
impactos ambientais causados pelas diversas atividade
da sociedade moderna.
Diante do exposto, este trabalho teve como
objetivo mobilizar e sensibilizar toda comunidade escolar
de uma escola privada do município de Três Passos - RS,
para a separação e destinação mais adequada dos
resíduos sólidos, especialmente a fração orgânica dos
resíduos produzidos em casa e na escola. Desta maneira,
os resíduos sólidos, que seriam destinados aos aterros
sanitários já superlotados, poderão ser convertidos em
recursos, como propõe Gliessman (2001).
2. MATERIAL E MÉTODOS
O projeto foi desenvolvido em uma escola privada
de Ensino Fundamental, situada no município de Três
Passos, Noroeste do Rio Grande do Sul, Brasil, que,
segundo dados do último Censo Demográfico (IBGE,
2010), possui uma área territorial de 268,396 km², com
aproximadamente 24.000 habitantes. As atividades
transcorreram no período de novembro de 2013 a agosto
de 2014.
Após a atividade de assistir ao vídeo “O caso do
cheiro esquisito”, a grande maioria contribuiu com
comentário evidenciando o envolvimento na atividade
proposta. Isso pode também ter se dado em virtude das
imagens ilustrativas que despertam o interesse e a
atenção das crianças. Considerou-se significativo
apresentar tal vídeo por considerar que o mesmo contribui
para a aprendizagem de uma forma lúdica, pois, como
destaca Neves (2001), o lúdico apresenta valores
específicos para todas as fases da vida humana. Assim,
na Educação Infantil e Adolescência o lúdico é
essencialmente pedagógico. A criança ou o jovem opõe
resistência à escola e ao ensino, pois. acima de tudo, ela
não é lúdica, não é prazerosa. Nesta perspectiva, também
se considerou significativo oportunizar uma oficina de
compostagem aos participantes do projeto, a qual foi
Participaram do projeto crianças do Ensino
Fundamental do 1° ao 5º ano e seus familiares, professores
e funcionários da escola.
O trabalho foi estruturado com base na pesquisa –
ação, pois este modelo de projeto necessita de uma
investigação de problemas in loco com o objetivo de
solução de um problema coletivo. Segundo Thiollent:
É uma pesquisa social com base empírica que
é concebida e realizada em estreita associação
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REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
desenvolvida em consonância com as orientações de
Grossi e Valente (2002).
Figura 3: Monitoramento do processo
Para compreensão do sistema de compostagem
de resíduos orgânicos foi construída, na escola, uma
composteira de tijolos, com as seguintes dimensões
(66cm altura x 60cm profundidade x 193cm comprimento)
dividida em três partes, modelo adequado para o local
escolhido e as necessidades da escola. A Figura 1 ilustra o
local em que foi construída a compostagem e o
envolvimento dos participantes na oficina.
Figura 1: Alunos do 4º ano durante a oficina de compostagem
A Figura 4 apresenta as etapas finais da
compostagem. Seguindo as orientações de Vital et al.
(2013), o composto somente estará pronto quando seu
volume for aproximadamente 1/3 do volume original, não
sendo possível identificar os componentes iniciais.
Para a produção do composto, os alunos
trouxeram os restos de alimentos produzidos em casa e
os produzidos na escola durante a hora do recreio, que
são ricos em nitrogênio (N), um nutriente importante para
que o processo bioquímico da compostagem aconteça,
bem como resto de corte de grama e folhas de árvores,
material rico em carbono (C), gerados no período de
manutenção do pátio da escola, como mostra a figura
acima. A escola não possui refeitório, por isso a
necessidade de introduzir na composteira resíduos vindos
da casa dos alunos. A coleta dos resíduos orgânicos e a
deposição dos mesmos na composteira ocorreram
durante um período de 30 dias. Conforme Figura 2, o
material recebido foi distribuído em camadas alternadas,
uma camada de resíduo orgânico e outra de folhas ou
restos de grama, sempre molhando a cada adição de
camadas, até atingir a capacidade da composteira.
Figura 4: Etapas finais da compostagem
Após um período de 4 meses o composto foi
peneirado, separando o material grosseiro como pedaços
grandes de matéria orgânica, para ser utilizado como
base para uma segunda compostagem. A escola não
possui horta, sendo o produto final destinado à jardinagem
da escola.
Figura 2: Distribuição das camadas de resíduos na composteira
Para avaliar a repercussão do projeto, foi
elaborado um questionário semiestruturado (APÊNDICE
A) aplicado junto às famílias. A seguir, estão as 9 questões
aplicadas, como também a discussão sobre os resultados
obtidos nas respostas dos estudantes. A primeira questão
se refere ao tipo de residência da família, cujos dados
estão apresentados na Figura 5.
Seguindo as recomendações de Grossi; Valente,
(2002), as etapas foram monitoradas sempre observando
temperatura e umidade, como mostra a Figura 3.
De acordo com dados do IBGE, censo
demográfico de 2010, em Três Passos, cerca de 7% da
polução vive em apartamentos e 93% em casas. Os
resultados obtidos no questionário, embora evidenciem
uma grande proporção de pessoas que residem em casas
apresenta uma grande diferença em relação ao que foi
constatado pelo censo. Tal diferença pode estar
relacionada ao tipo de público que frequenta a escola, que
por ser privada, prevalece uma classe social privilegiada
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REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
economicamente. No entanto, a partir desta constatação,
pode-se destacar a relevância de se trabalhar com a
compostagem, uma vez que, embora em porcentagem
menor do que a apresentada pelo Censo 2010 do IBGE,
77% das famílias residem em casas.
propor atividades que envolvam mais efetivamente as
famílias e sejam realizadas com uma frequência maior.
Outro fator que pode ter interferido foi o tempo existente
entre o início do projeto, construção da composteira e a
aplicação dos questionários. A Figura 8 apresenta o
resultado da porcentagem de alunos que comentou sobre
o projeto em casa.
Figura 5: Tipo de residência
Figura 8: Realização de comentário em casa sobre o projeto
Também se procurou saber o número de
membros de cada família ou número de pessoas que
residiam em cada casa ou apartamento. As respostas do
questionário revelam uma variação. O grupo apresenta,
na sua maioria, famílias compostas por 3 pessoas, o que
corresponde à média apresentada pelo Censo 2010, que
também constatou que cerca de 30% das famílias do
município de Três Passos são compostas por 3 pessoas,
29% por 2 pessoas e 23% por 4 pessoas. Os dados
referentes à presente pesquisa estão apresentados na
Figura 6.
Os dados acima relacionados à realização de
comentários sobre o projeto em casa, em relação aos
dados da Figura 7, são um pouco divergentes. Percebese assim que, embora os pais não tivessem
conhecimento do projeto, mais alunos comentaram a
respeito do mesmo, chegando a quase metade dos
participantes; no entanto, isso ainda dificulta um trabalho
de redução dos resíduos orgânicos destinados à coleta,
como também, aponta para a necessidade de discussões
e ações que promovam a ampliação dessa informação, o
que envolve diretamente ações relacionadas à EA. A
relevância de tal trabalho fica demonstrada nas respostas
apresentadas pelas famílias ao serem questionadas se
acreditavam ser importante abordar temas como
tratamento de resíduos sólidos já nas séries iniciais.
Figura 6: Número de membros por residência
Figura 9: Relevância da abordagem do tema “tratamento de
resíduos sólidos” nas séries iniciais
A Figura 7 apresenta um dos dados mais
importantes para esta pesquisa, pois diz respeito à
repercussão das atividades desenvolvidas na escola.
Figura 7: Conhecimento do Projeto pela família
Diante do resultado apresentado na Figura 9, é
possível afirmar que quase 100% das famílias
consideram o tema relevante, demonstrando com isso a
necessidade de incluir nas práticas pedagógicas projetos
como este, que promovam transformações
socioambientais e culturais. Na Figura 10, as respostas
obtidas demonstram que 95% das famílias, ou seja, a
maioria tem a preocupação em separar o resíduo seco do
resíduo úmido, indicando que existe uma consciência em
relação à destinação dos resíduos.
Os dados apresentados na Figura 7 demonstram
que apenas 40% das famílias tiveram conhecimento do
projeto em desenvolvimento na escola. Tais dados
demonstram a necessidade de se repensar a
continuidade do mesmo, bem como a necessidade de
Fato este que se deve também à existência de
um Consórcio Intermunicipal de Gestão Multifuncional
(CITEGEM), antigo Consórcio Intermunicipal dos
Resíduos Sólidos Urbanos (CITRESU), para o qual os
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REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
municípios encaminham os resíduos sólidos. Tal prática,
hoje, está sendo realizada como fruto de um trabalho de
conscientização que iniciou há vários anos,
provavelmente entre os anos de 1999 e 2000, quando
tiveram início as atividades do CITRESU envolvendo
alguns municípios da Região Celeiro (SCHEREN e
SIPPERT, 2013); dentre estes, o município de Três
Passos. Porém, estes resultados entram em contradição
com os dados apresentados por Junges (2013), a qual
constatou que nos dias de coleta de resíduos secos,
chegaram até ao CITEGEM cerca de 37 % de resíduos
orgânicos. Neste caso, pode-se questionar até que ponto
o que se afirmou no questionário está realmente
acontecendo. As 147 famílias, de classe média alta,
envolvidas no projeto, representam menos de 2% da
p o p u l a ç ã o d e Tr ê s P a s s o s . L o g o , n ã o h á
representatividade suficiente para comparar os dados
com os resultados para todo o município. Sendo assim,
reafirma-se a necessidade de se continuar com este
trabalho de conscientização que há mais de quinze anos
já vem sendo realizado, mas ainda não conseguiu atingir
seus objetivos plenamente.
hortas ou quintais que prezem pelos princípios
agroecológicos e também para a redução dos volumes de
resíduos destinados aos aterros sanitários, aumentando
assim sua vida útil.
Por outro lado, embora as famílias tenham
afirmado que realizam a separação seletiva dos resíduos
sólidos, a grande maioria ainda não realiza tratamento do
lixo orgânico através da compostagem, o que está
demonstrado na Figura 11.
Percebe-se, pelos resultados, que apenas 17%
das famílias realizam compostagem. Apesar de Vital
(2012) destacar que esta é uma prática antiga, conforme
mencionado na introdução deste trabalho, tal prática foi se
perdendo ao longo dos anos. Sente-se, portanto, a
necessidade de trazer novamente à tona tais questões,
para dar uma destinação mais adequada aos resíduos
orgânicos. Para tanto, torna-se relevante analisar os
motivos apresentados pelos sujeitos desta pesquisa para
a não realização de uma composteira em suas
residências, os quais são apresentados na Figura12.
Figura 10: Realização da separação seletiva dos resíduos
doméstico
Figura 12: Motivos para não realização da compostagem
Os dados demonstram que o principal motivo
apresentado pelas famílias é a falta de espaço adequado
para composteira e o segundo principal motivo é
justamente o desconhecimento da possibilidade de vir a
praticar a compostagem. Percebe-se que embora existam
estudos e manuais como o de Meira et al. (2003), que
apresentam alternativas de criação de composteiras até
em apartamentos, em caixas de madeira, lareiras, kits de
plástico, entre outros, estas ideias ainda não fazem parte
do conhecimento da população em geral. O que
justificaria também o motivo da falta de tempo
apresentada por alguns dos sujeitos pesquisados, que
viria ao encontro do que se mencionou anteriormente, que
na verdade seria também desconhecimento do assunto.
Outro dado relevante é a quantidade de resíduos
orgânicos que são encaminhados para o CITEGEM que,
segundo Junges (2013), corresponderiam a 62% do total de
resíduos recolhidos na área urbana do município, dado este
que é inclusive maior que a média nacional que seria de 52%.
Figura 11: Existência do tratamento dos resíduos orgânico
através de compostagem
Por fim, questionou-se de quem seria a
responsabilidade de trabalhar a EA, o que está
apresentado na Figura 13.
Figura 13: Instituições responsáveis pela EA
Tendo esses dados, torna-se ainda mais
significativa uma ação efetiva de EA, que promova uma
conscientização para a adequada destinação dos resíduos
orgânicos, os quais poderão ser destinados para
compostagem, cujo produto final pode ser utilizado como
fertilizante, vindo, portanto, a incentivar também a criação de
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Os dados acima apresentados demonstram
uma consciência de que trabalhar a EA não seria tarefa
apenas de uma ou outra instituição, quer seja familiar,
educacional ou governamental, mas que esta é uma
responsabilidade que deveria ser compartilhada, como foi
afirmado por 76% das famílias. Tais pressupostos estão
expressos na legislação brasileira.
percebeu-se que os resultados ficaram muito aquém do
esperado, ou seja, menos da metade das famílias
participantes conheciam o projeto. Além disso, este
percentual se refere apenas a 80 famílias das 147 famílias
pesquisadas.
Dessa forma, novas atividades podem e devem
ser desenvolvidas a fim de atingir práticas mais
sustentáveis e auxiliar na promoção da educação
ambiental.
Com isso, a Política Nacional do Meio Ambiente
(PNMA), Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, tem como
princípio a EA em todos os níveis de ensino, inclusive a
educação da comunidade, objetivando capacitá-la para
participação ativa na defesa do meio ambiente.
A Lei nº. 9.795 de 1999 que dispõe sobre a
Política Nacional de Educação Ambiental, trata em seu
texto os princípios da EA, que deve ser ampla e ter um
enfoque humanista e transdisciplinar, com o enfoque
holístico, democrático e participativo, com uma
concepção do meio ambiente em sua totalidade,
considerando a interdependência entre o meio natural, o
socioeconômico e o cultural, sob o enfoque da
sustentabilidade (BRASIL, 1999).
REFERÊNCIAS
AGENDA 21- Conferência das Nações Unidas sobre
Meio Ambiente e Desenvolvimento, 1992. Disponível
em: http://www.mma.gov.br/responsabilidadesocioambiental/agenda-21/agenda-21-global. Acesso em
05 nov.2014.
BRASIL. Agenda 21 Nacional. Ministério do Meio
Ambiente. Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento, 1992.
Estes são exemplos dentre outros documentos
de relevância mundial como é o caso da Agenda 21, que
reforçam o compromisso em buscar medidas de
mitigação, ou seja, diminuição dos impactos ambientais
causados pelo homem.
______. Lei n.º 9.795, 27 de abril de 1999. Política
Nacional de Educação Ambiental.1999.
______. Lei 12.305 de 2 de agosto de 2010. Institui a
Política Nacional de Resíduos Sólidos e da outras
providências. Diário Oficial da União, Brasília, 2010.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
______. Lei 3.325/99 de 17 de dezembro de1999. Rio de
Janeiro. Dispõe sobre a Educação Ambiental, institui a
política estadual de Educação Ambiental, cria o
programa estadual de Educação Ambiental e
complementa a lei federal Nº 9795/99 no âmbito do
estado do Rio de Janeiro, 1999.
A utilização de uma composteira como prática
ambiental sensibiliza, não apenas os alunos, mas toda
comunidade escolar, para os cuidados com a
conservação dos recursos naturais. Sendo assim, a
compostagem se mostra como instrumento que pode ser
explorado e desenvolvido de modo a se tornar uma
ferramenta útil na promoção da EA.
_____. Lei n.º 6.938 de 31 de agosto de 1981. Política
Nacional do Meio Ambiente. . Diário Oficial da União,
Brasília, 2010.
Os resultados do questionário indicam que existe
uma preocupação por parte dos entrevistados desta
pesquisa com as questões ambientais, visto que 95% das
famílias afirmam realizar a separação seletiva dos
resíduos. Resultado que surpreende e estimula a uma
reflexão sobre alguns fatores que possam ter contribuído
para tal comportamento.
CARVALHO, R.R; et al. A compostagem como
ferramenta de educação ambiental no instituto federal
do maranhão campus Codó. VII Congresso NorteNordeste de Pesquisa e Inovação (CONNEPI) Palmas,
Tocantins, 2012.
Levantou-se a hipótese de que as ações de
políticas públicas municipais estão contribuindo para este
processo de conscientização, uma vez que a família que
não fizer a separação não tem seus resíduos recolhidos e
encaminhados ao CITEGEM. O que não pode ser
considerado uma regra, pois conforme trabalho de Junges
(2013), a quantidade de resíduos orgânicos que chegam
ao Consórcio de Tratamento nos dias de coleta de resíduos
secos é muito grande, demonstrando uma falta de
conscientização sobre a separação correta dos resíduos.
DALLES, R.N; TEIXEIRA, I.R.V. Processamento de
adubo orgânico, a partir de resíduos domésticos, em
uma comunidade rural: uma proposta ecológica e
viável. REMPEC - Ensino, Saúde e Ambiente, v.3 n 3,
2010.
GLIESSMAN, S. R. Agroecologia: processos
ecológicos em agricultura sustentável. 2. ed. Porto
Alegre: UFRGS, 2001
GROSSI, M.G.L; VALENTE, J.P.S. Compostagem
Doméstica de Lixo. São Paulo: Fundacentro, 2002.
Outro resultado relevante está relacionado à
mobilização que se pretendia fazer com esta pesquisaação, visando à separação e destinação mais adequada
dos resíduos sólidos urbanos. Essa mobilização e
sensibilização aconteceram durante a palestra e a
construção da composteira; no entanto, pela dificuldade
em se manter a continuidade das atividades relacionadas
ao tema na escola, quando foi aplicado o questionário
para verificação da repercussão do mesmo nas famílias,
GUIDONI, L.L.C. COMPOSTAGEM DOMICILIAR:
IMPLANTAÇÃO E AVALIAÇÃO DO PROCESSO, 2013.
D i s p o n í v e l
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https://online.unisc.br/seer/index.php/tecnologica/article/v
iew/3640. Acesso em 05 set. 2014.
112
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O REGIONALISMO PRESENTE NA OBRA DE SAVIO MOREIRA: UMA REFLEXÃO SOBRE
AS VARIEDADES LINGUÍSTICAS
Eufrázia Nenê Miranda¹
Luciane Sippert²
UERGS³
RESUMO
O presente artigo trata das variações linguísticas que
acontecem em virtude dos rearranjos linguísticos feitos
pelos falantes para atender as suas necessidades
comunicativas, uma vez que o princípio fundamental da
língua é a comunicação. Nesse sentido, o objetivo desta
pesquisa é analisar como as variedades étnico-culturais e
regionais podem modificar, influenciar e particularizar a
fala e a escrita de um grupo, a partir da análise de tiras e
charges produzidas por Savio Moreira, publicadas no
Jornal “A Notícia”, no período de 2011 e 2012. Os
resultados demonstram que os dados analisados
apresentam marcas de uma variedade linguística
presente no Rio Grande do Sul, especialmente na Região
das Missões. Além disso, reforça-se o que vem sendo
discutido pela Sociolinguística de que os diferentes falares
devem ser considerados como variações e não como
erros. Quando tratamos as variações como erro,
incorremos no preconceito linguístico que associa,
erroneamente, a língua ao status. O português falado em
algumas regiões do Brasil, por exemplo, pode ganhar o
estigma pejorativo de incorreto ou inculto, mas, na
verdade, essas diferenças enriquecem esse patrimônio
cultural que é a nossa Língua Portuguesa. Conhecer as
peculiaridades da nossa língua permite ampliar a nossa
competência linguística e as habilidades relacionadas à
leitura em diferentes contextos.
ABSTRACT
This article deals with the linguistic variations that take
place due to linguistic rearrangements made by speakers
in order to meet their communication needs, since the
fundamental principle of language is communication. In
this sense, the objective of this research is to analyze how
the ethnic, cultural and regional varieties can modify,
influence and individualize the speech and writing of a
group, from the analysis of cartoons written by Savio
Moreira and published in the newspaper "A Notícia ", in the
period of 2011 and 2012. The results show that the
analyzed data present aspects of a linguistic variety from
Rio Grande do Sul, spoken mainly in the region called
Missões. In addition, the data demonstrate a
Sociolinguistics principle, which asserts that different
dialects and variations should not be regarded as errors.
Considering linguistic variation as error is a linguistic
prejudice that mistakenly associates language to social
status. The Portuguese variety spoken in some regions of
Brazil, for example, can be pejoratively considered as
incorrect or uneducated, but, in fact, such differences
enrich the cultural heritage that is the Portuguese
language. Knowing the peculiarities of a language allows
for the expansion of language skills and reading-related
skills in different contexts.
Keywords: Regionalism. Linguistic variation.
Sociolinguistics.
Palavras-chave: Regionalismo. Variação linguística.
Sociolinguística.
A Sociolinguística é uma das subáreas da
Linguística e o seu estudo é a língua em uso dentro das
comunidades de fala, correlacionando aspectos sociais e
linguísticos. Quanto ao conceito de Sociolinguística,
afirmam Votre e Cezário (2009, p. 141):
1. INTRODUÇÃO
A fala e a escrita fazem parte de nosso cotidiano
e não devem ser confundidas, porque a fala é natural à
pessoa, enquanto a escrita pode ou não ser aprendida. A
língua escrita e a língua falada são diferentes. Tais
diferenças são encaradas muitas vezes de forma
preconceituosa por alguns membros da sociedade, que
consideram um desrespeito à norma culta qualquer tipo
de variação linguística que não esteja de acordo com a
gramática normativa. Apesar da enorme diversidade e
variabilidade apresentada pela língua, no uso cotidiano,
falada no Brasil as pessoas tendem a transformar a
variedade linguística utilizada pelo outro em “erro”. Tais
questões têm sido estudadas atualmente pela
Sociolinguística.
A sociolinguística é uma área que estuda a
língua em seu uso real, levando em
consideração as relações entre a estrutura
linguística e os aspectos sociais e culturais da
produção linguística. Para essa corrente, a
língua é uma instituição social e, portanto,
não pode ser estudada como uma estrutura
autônoma, independente de contexto
situacional, da cultura e da história das
pessoas que a utilizam como meio de
comunicação.
¹ Licenciada em Letras com habilitação para o Espanhol e respectivas Literaturas, Universidade Regional Integrada do Alto
Uruguai e das Missões – URI – Santo Ângelo/RS; Pós-graduanda em Educação de Jovens e Adultos UERGS, São Luiz
Gonzaga-RS; Professora da área das linguagens (Língua Portuguesa) das Séries finais do Ensino Fundamental e Modalidades
finais do Ensino Médio EJA, da Rede Estadual de Ensino Pú[email protected]
² Orientadora. Licenciada em Letras, com habilitação para Língua Portuguesa e respectivas literaturas, UNIJUÍ; Especialista
em Ensino-aprendizagem de línguas, UNIJUÍ; Mestre em Educação nas Ciências, com ênfase em Letras, UNIJUÍ: Doutoranda
em Letras, na área de Teorias Textuais, Discursivas e Enunciativas, UFRGS, Professora Assistente de Língua Portuguesa da
Universidade Estadual do Rio Grande do Sul, Uergs. Email: [email protected].
³ UERGS, Unidade em São Luiz Gonzaga, Rua Marechal Floriano Peixoto nº. 4557, São Luiz Gonzaga - RS/ Brasil
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Todavia, esse conceito toma como alvo a
sociedade. Assim sendo, é importante que se enfatiem as
diferentes variações que se processam na língua e se dê
um espaço para o estudo das situações e fatores que
ocasionam tais mudanças.
histórica e política, porém seus estudos se voltaram
essencialmente para o organismo linguístico interno, uma
vez que ele concebia a língua como um produto
homogêneo e sua análise partia da observação como
comportamento linguístico de um indivíduo. O princípio da
homogeneidade linguística foi adotado pelos estudiosos
da glossemática e do gerativismo.
Delimitar o campo de pesquisa da
sociolinguística não foi tarefa fácil, já que muitos teóricos
do assunto levantavam questões envolvendo a
linguagem humana e todas as hipóteses possíveis de
formulação para o estudo da Sociolinguística eram
rejeitadas. Mas foi Bright (1966) um dos pioneiros na
definição do objeto de estudo do sociolinguista; definiu
que a diversidade linguística era o foco principal de estudo
dessa nova disciplina, a Sociolinguística. Indo além,
delimitando três ângulos fundamentais para esse estudo:
a identidade social do emissor, a identidade social do
receptor e as condições comunicativas. (BRIGHT, 1966
apud MONTEIRO, 2000, p.15).
As primeiras investigações acerca de estudos
sociolinguísticos surgiram a partir de William Bright (1966)
e Fishman (1972), os quais passaram a incorporar os
aspectos sociais nas descrições linguísticas. Bright
afirmava que "a diversidade linguística" é precisamente a
matéria de que trata a Sociolinguística. Segundo ele, as
dimensões desse estudo estão condicionadas a vários
fatores sociais, com os quais a diversidade linguística se
encontra relacionada nas identidades sociais do emissor e
receptor e na situação comunicativa. Essa área de estudo
linguístico, denominada sociolinguística, surge confusa e
desprovida de um grande marco teórico.
Preti (1987) afirma que a Sociolinguística pode
desempenhar um papel de investigadora e fornecer uma
excelente metodologia para os estudos da oralidade em
diferentes locais. Com esse método de investigação é
possível registrar diversos tipos de falas em diversas
localidades na mesma região, traçando o perfil
sociológico, econômico e cultural desse falante.
Dando prosseguimento aos estudos de Bright,
Labov (1972), que passa a descrever a heterogeneidade
linguística, pois para ele, todo fato linguístico se relaciona
a um fato social, e que a língua sofre implicações de
ordem fisiológica e psicológica. Labov ficou conhecido por
ser o representante da teoria da variação linguística.
Nesse sentido, este artigo tem como objetivo
analisar as variedades étnico-culturais e regionais que
podem modificar, influenciar e particularizar a fala e a
escrita de um grupo a partir da análise de tiras e charges
produzidas por Savio Moreira, publicadas no Jornal “A
Notícia”, no período de 2011 e 2012.
Dessa forma, a Sociolinguística é uma área da
linguística que estudará a língua através de fatores
externos, os quais caracterizarão a diversidade e a
heterogeneidade linguística.
2.1.1 Papel da sociolinguística
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
De acordo com Gadet (1987, p. 4), a
Sociolinguística é uma área da Linguística que estuda as
relações entre as variações linguísticas e sociológicas. O
sociolinguista tenta mostrar a variação da linguagem de
um falante para outro, como e por que está assim
determinada. Desde então, estudos foram avançando,
novos teóricos descrevem essa nova ciência –
Sociolinguística – que vem conquistando uma visão mais
ampla acerca da linguagem.
2.1 SOBRE A SOCIOLINGUÍSTICA
A Linguística, como é conhecida
contemporaneamente, tomou formas em tomo da década
de 1950, quando foi instituída como ciência, sob grande
influência dos estudos de Saussure. Apesar disso, é
sabido que essa área do conhecimento foi sendo
explorada, analisada e difundida desde os gramáticos
gregos e romanos e, por esse motivo, acabou
influenciando outras ciências como a Antropologia, a
Psicologia, a História, a Sociologia, dentre outras.
Além disso, para Baylon (2000 apud
MONTEIRO. 2000), a Sociolinguística se preocupa
essencialmente em descrever as diferentes variedades
coexistentes dentro de uma comunidade de fala. Hoje ela
engloba praticamente tudo o que diz respeito ao estudo da
linguagem em seu contexto sociocultural. Segundo o
autor, entende-se por sociolinguística “o estudo
sistemático do uso da língua na vida social, não há como
deixar de considerar a etnografia da comunicação como
uma subdisciplina da sociolinguística" (op.cit, p. 29).
Ainda, nesse sentido, a sociolinguística delineia e revela a
língua viva capaz de sofrer todas as modificações
possíveis, indo da política ao campo educacional,
envolvendo todas as ciências pré-existentes, a descrição
minuciosa de cada palavra gesticulada, expondo os
pormenores por mais imperceptível que possa parecer.
No entanto, qualquer comunidade formada por
indivíduos socialmente organizados dispõe de recursos e
métodos para os processos comunicativos que lhes são
próprios. Estes se valem das mais diversas possibilidades
significativas para facilitar este processo entre seus
constituintes e tornar possível a interação. Desde os
estudos mais remotos feitos acerca da linguagem buscouse encontrar respostas para entender a relação linguagem
e sociedade, haja vista que esses elementos estão
intimamente ligados, pois em qualquer período o homem
sempre utilizou uma forma de comunicação: nos
primórdios a comunicação oral e em seguida, a escrita.
Essas duas modalidades fazem parte de um sistema
linguístico de uma comunidade linguística, o qual permite
ao ser humano estabelecer contato com o outro e interagir.
O homem é um ser social. Essa afirmação já
bastante comentada desde Aristóteles, não há nada mais
verdadeiro do que ela. Afirmar que o homem é um ser
social nos faz pensar na lógica de que,
consequentemente, ele necessita se comunicar, e isso
Saussure, precursor da corrente estruturalista,
reconhecia a importância de natureza etnológica,
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vem de forma espontânea, através da fala individual do
usuário da língua. Entretanto, como destaca Infante: "[...]
toda a nossa vida em sociedade supõe um problema de
intercâmbio e comunicação que se realiza
fundamentalmente pela língua, o meio mais comum de
que dispomos para tal" (INFANTE, 1995, p 17).
é quando ele, o pesquisador, depara com a variação
fonológica, no sentido de perceber a pronúncia de certas
palavras, levando sempre em consideração o ambiente
em que se encontra o informante. Em relação a isso,
Monteiro afirma:
O ambiente e a ocasião em que a linguagem
é usada, acarretará algumas consequências.
Em palestras acadêmicas e ocasiões
cerimoniosas, por exemplo, é provável que o
falante selecione uma linguagem mais formal
do que em festinhas infantis ou almoços em
família. (MONTEIRO, 2000, p.71).
Portanto, essa língua passa por várias
modificações em sua trajetória e esta não chega intacta
até o seu receptador ou vice-versa, daí provoca a tão
estudada e comentada variação linguística, que, por ser
mal compreendida, gera desconforto e o preconceito
linguístico, que mede a "capacidade intelectual" do falante
nato da língua materna, como se esta fosse homogênea.
Jesperson, citado por Preti (1987, p.12)
considera que a fala de um indivíduo que esteja isolado
dentro de um grupo nem sempre é a mesma. "Seu tom na
conversação e, com ele, a escolha de palavras muda
segundo a cada meio social em que se encontra no
momento". O autor vai além dessa explicação, colocando
também as diversas formas e estilos de linguagem
utilizadas pelo falante em ocasiões diferentes. "A isto se
acrescente que a linguagem toma diferente colorido
segundo o tema da conversação: há um estilo para
declaração de amor, outro para a declaração oficial, outro
para a negativa ou reprimenda".
2.2 A VARIAÇÃO LINGUÍSTICA X SOCIOLINGUÍSTICA
A variação linguística, segundo alguns teóricos,
acontece em todos os níveis de elaboração da linguagem,
em função do emissor e do receptor, sempre levando em
conta região em que encontra (emissor ou receptor), faixaetária, classe social e profissão, sendo eles responsáveis
por essa variação. No caso do Brasil, pelo fato de ser um
país extenso e com uma população diversificada,
utilizando a mesma língua materna, sempre haverá a
heterogeneidade linguística dentro do mesmo estado ou
comunidade linguística.
Segundo Pretti (op.cit), embora essas teorias
sejam bastante relevantes, nem sempre é possível
relacionar com exatidão que um indivíduo de uma
determinada região, cultura, posição social, raça, idade,
sexo, etc., optaria de antemão, por uma ou outra estrutura.
Coloca, ainda, que "nem sempre é possível estabelecer
padrões de linguagem individual, de acordo com uma
variedade muito grande de situação que pudesse servir de
ponto de referência para uma classificação mais perfeita
dos níveis de fala". Assim, pesquisas sociolinguísticas
voltadas para a diversidade linguística devem ser
realizadas com muito cuidado, principalmente se ao
delimitar o campo de pesquisa e seus reais objetivos.
Valendo-se desses parâmetros, o pesquisador obterá os
bons resultados.
Por isso, o campo da pesquisa Sociolinguística
está delimitado ao estudo dos problemas que envolvem a
relação língua/sociedade. Sua principal tarefa é mostrar a
variação sistemática linguística da estrutura social e o
relacionamento causal em uma direção ou outra. Deste
modo, tanto a Sociolinguística como a Pesquisa
Sociolinguística trabalham com o mesmo objeto: a
diversidade linguística, descrevendo o falar em sua
magnitude, levando em conta a origem, idade, sexo,
escolaridade, aspectos financeiros... não para demarcar
os limites dos desníveis sociais, mas, para demonstrar
que o homem é um ser sociável e em qualquer situação é
capaz de se fazer entender e compreender a mensagem
proposta. Assim, na área dos estudos linguísticos ela se
articula com outras correntes da Linguística Aplicada: a
Psicolinguística e a Etinolinguística.
Bagno, em sua obra Sociolinguística, publicada
em 1997, "A língua de Eulália", procura mostrar que o uso
de uma linguagem "diferente", nem sempre pode ser
considerado um "erro de português". Esse modo diferente
das pessoas falarem pode ser explicado por algumas
ciências como a Linguística, a História, a Sociologia e até
mesmo a Psicologia.
Tarallo (1994), em Pesquisa Sociolinguística,
mostra que os falares regionais podem ser descritos e
mapeados com base em uma metodologia da linguagem
que subsidie o trabalho do linguista. Assim, a
Sociolinguística estudaria as relações entre as variações
linguísticas e as variações sociológicas, descrevendo o
falante em toda sua essência, não desprezando o
contexto em que se encontra, mas, levando em
consideração todo aspecto em que se encontra no
momento em que emite uma mensagem. Nesse mesmo
contexto, ele afirma que a língua, por ser um marcador
que identifica usuários ou grupos a qual pertence, pode
também ser o delimitador das diferenças sociais no seio
de uma comunidade.
Embora a nossa tradição educacional negue a
existência de uma pluralidade dentro do universo da
Língua Portuguesa e não aceite que a norma culta seja
uma das muitas variedades possíveis no uso do
português, a "Língua Portuguesa" está em constante
modificação e recebe notadamente a influência de
palavras pertencentes a outros idiomas, principalmente
dos imigrantes que chegam a todo o momento ao Brasil;
entre eles, portugueses, americanos, japoneses, alemães
e italianos.
Nos discursos proferidos pelo falante há uma préelaboração por mais simples que seja, sendo que: o
casual, a linguagem utilizada é aquela do dia-a-dia, sem
prévia elaboração. Já no discurso cuidado, o falante se
limita a responder as perguntas utilizando uma linguagem
mais elaborada. No estilo de leitura envolve mais atenção.
O pesquisador solicita do pesquisado a leitura de textos, e
Entre outras coisas, o Livro "A Língua de Eulália"
(BAGNO, 2003) mostra que na comparação entre o
português-padrão e o português–não-padrão o maior
preconceito apontado não são exatamente as diferenças
linguísticas que prevalecem, mas sim, as diferenças
sociais, mostrando que esses preconceitos são comuns,
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como por exemplo, o étnico: o índio "preguiçoso", o negro
"malandro", o japonês "trabalhador", o judeu "mesquinho",
o português "burro"; o sexual: a valorização do "macho"; o
cultural: o desprezo pelas práticas medicinais caseiras,
além dos socioeconômicos como a valorização do rico e o
desprezo pelo pobre; entre outros.
Considerando esse lugar, de excesso e de falta
que a fala ocupa em relação á língua na fundação da
linguística, é possível, pelo menos, assinalar com
Saussure, que “sem dúvida, esses dois objetos estão
estreitamente ligados e se implicam mutuamente(...)”
(op.cit.p.27).
Muitos mitos e preconceitos ainda existem em
relação à língua. Mas o pior preconceito é o que o próprio
falante tem de si mesmo, de seu modo de falar, de sua
variedade e cultura. Ainda se tem a visão de que a forma
correta de falar é que está nas gramáticas e de que para
se “falar corretamente” é preciso estudar bastante. Todos
esses preconceitos são um grande equívoco. Nenhum ser
humano é igual, seja na aparência física, moral ou
intelectual, cada um tem sua essência.
Nesse percurso podemos apreender o que é a
fala em relação à língua bem como as relações entre uma
e outra e, mais do que isso, empreender uma reflexão
sobre o lugar da fala na constituição da linguística.
Segundo Silveira (2007), os manuscritos saussureanos,
presentes na Biblioteca pública de Genebra e mesmo os
Escritos de Linguística Geral, trazem algumas
informações importantes sobre o processo de escrita de
Saussure, em especial no que diz respeito aos 'conceitos
incompletos', como é o caso da fala.
2.2.1 Fala, Dialeto e Signo Linguístico
A noção de incompletude, nessa reflexão, é
recuperada a partir da perspectiva própria da Psicanálise
em que a considera como essencial na constituição do
sujeito e, dessa forma, presente em suas manifestações.
A fala é a utilização oral da língua pelo indivíduo.
É um ato individual, pois cada indivíduo, para a
manifestação da fala, pode escolher os elementos da
língua que lhe convém, conforme seu gosto e sua
necessidade, de acordo com a situação, o contexto, sua
personalidade, o ambiente sociocultural em que vive, etc.
Desse modo, dentro da unidade da língua, há uma grande
diversificação nos mais variados níveis da fala. Cada
indivíduo, além de conhecer o que fala, conhece também
o que os outros falam; é por isso que somos capazes de
dialogar com pessoas dos mais variados graus de cultura,
embora nem sempre a linguagem delas seja exatamente
como a nossa.
É considerando a importância de um conceito
como fala, especialmente quando se trata da pesquisa
linguística que trabalha com a noção de sujeito a partir de
Lacan (1901-1980), que seguiremos a trilha saussuriana.
Na elaboração lacaniana, apoiada na reflexão freudiana, o
estatuto da fala ganha importância ao longo da sua
reflexão visto que é somente na fala que é possível ao ser
advir como sujeito.
Do ponto de vista estritamente linguístico não há
nada que distinga língua de dialeto. Ambos os sistemas
têm léxico (um inventário de palavras) e gramática
(conjunto de regras de como as palavras se combinam
para formar frases, parágrafos e textos). Quem fala um
idioma nacional e um dialeto regional é tão bilíngue quanto
quem fala dois idiomas. Então por que alguns sistemas
são chamados de idiomas e outros não?
Em tempo, a fala é a materialização da Língua na
variante fônica, sendo realizada através de um processo
de articulação de sons. Traduz-se no meio de
comunicação mais comum e eficaz por constituir a forma
que exige menos esforço e ser mais facilmente
compreendida pelas pessoas. Contudo, existe um
número significativo de população que apresenta
dificuldades em se comunicar através da fala
(BEUKELMAN & MIRENDA, 1998).
Hoje, costuma-se chamar de dialeto qualquer
expressão linguística que não seja reconhecida como
língua oficial de um país. Assim, um dialeto pode ser tanto
uma variedade linguística regional do idioma oficial quanto
uma língua sem qualquer parentesco com ele.
Na produção saussuriana o conceito de língua
tem sido capital. É a partir dele que se pode dizer da
fundação da chamada linguística moderna; é a partir dele
que a noção de sistema é elaborada e tem seus efeitos em
outras áreas de conhecimento. Ao realizar tal formulação
Saussure distingue língua e fala. Saussure chega a
estabelecer qual seria a Linguística da Língua e a
Linguística da Fala (cf. cap.IV da Introdução do Curso de
Linguística Geral de Ferdinand de Saussure). Mas, ele é
capaz de reconhecer a dificuldade dessa diferenciação:
“Cumpre reconhecer, porém, que no domínio do sintagma
não há limite categórico entre o fato de língua, testemunho
de uso coletivo, e o fato de fala, que depende da liberdade
individual” (SAUSSURE, 2008, p.145).
Na concepção da linguística estruturalista, o
signo linguístico é uma entidade psíquica indivisível,
composta por dois elementos: o significado ou conceito e
o significante ou a forma linguística na sua realização
fonética ou gráfica. O signo linguístico é arbitrário porque
não pretende assemelhar-se ao seu referente. Diversas
línguas atribuem diversos significantes a um significado
idêntico. As onomatopeias e as exclamações são
consideradas o único vestígio do signo motivado.
Atualmente nenhuma escola linguística contesta o
princípio da arbitrariedade. O sistema linguístico organiza
os signos em relações paradigmáticas e sintagmáticas.
Em comparação com outros signos, o signo linguístico é
praticamente imutável. A sua eventual modificação resulta
dos mecanismos da evolução da língua e não da volição
de um utente.
Mas como ele define fala? O conceito de fala na
elaboração saussuriana é um dos mais controversos. O
Curso de Linguística Geral o traz de forma negativa, ou
seja, ao construir o conceito de língua, Saussure deixa
surgir o que vem a ser a fala enquanto o que não é a língua.
A fala aparece enquanto excesso da língua. Saussure
também a situa como secundária nos estudos linguísticos.
Ela por si não seria capaz de ocupar o lugar de objeto da
linguística. A fala está em lugar de falta para a linguística.
Signo = significado (é o conceito, a ideia transmitida
pelo signo, a parte abstrata do signo) + significante (é a
imagem sonora, a forma, a parte concreta do signo, suas
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letras e seus fonemas). Logo, o signo linguístico é um
elemento representativo que apresenta dois aspectos: o
significado e o significante (SAUSSURE, 2008).
como os que se poderia exigir desse mesmo falante ao
proferir um discurso de posse em um cargo eletivo. A
conversa familiar teria caráter informal, livre, com pouca
elaboração. Já o discurso proferido por ocasião da posse
em um cargo público, forçosamente teria caráter mais
formal, elaborado e controlado.
2.2.2 Fala x escrita
Na linguagem, as modalidades oral e escrita se
completam, guardando cada uma suas propriedades
distintas. O fato de possuírem formas características não
pode nos levar à falsa noção de que são modalidades
destituídas de pontos de integração.
Como podemos ver, tanto os textos da
modalidade oral quanto os da escrita apresentam, em
determinadas circunstâncias de realização, traços de
formalidade ou de informalidade, elaboração e controle,
de acordo com o uso que se quer fazer.
Falar e escrever são formas diferentes de dizer e
expressar significados construídos na linguagem e pela
linguagem, dentro de uma situação interativa social.
Nesse sentido, Halliday (1989 apud MAC-KAY, 2000)
propõe que falar e escrever, enquanto formas diferentes
de dizer e modos diferentes de se expressar em
significados linguísticos, apresentam uma interface: a
analogia entre fala e escrita sustentada por três princípios.
Um deles é que a escrita não incorpora todos os
potenciais de significação da fala, pois deixa de lado as
participações para linguísticas e prosódicas e a fala não
apresenta os limites da sentença e do parágrafo; estas
diferenças, porém, são de sinais e não de conteúdo. O
outro é que não há necessidade de duas linguagens para
a mesma função, pois uma seria a duplicação da outra.
2.2.3 Da variação da língua: regionalismos
Ao se estudar a língua, os contextos
socioculturais em que ela ocorre são elementos básicos e,
muitas vezes, determinantes de suas variações,
explicando e justificando fatos que apenas
linguisticamente seriam difíceis ou até impossíveis de
serem determinados, pois, no dizer de Barbosa (1981
apud ARAGÃO,1990): “Língua, sociedade e cultura são
indissociáveis, interagem continuamente, constituem, na
verdade, um único processo complexo...”Percebemos
esse processo, ao analisarmos o “Regionalismo” na fala e
na escrita. Antes, convém esclarecer, que o regionalismo
é o conjunto das particularidades linguísticas de uma
determinada região geográfica, decorrentes da cultura lá
existente. Uma de suas principais expressões é o dialeto.
Pode-se dizer que Linguagem Regional é o conjunto de
características de uma língua - vocabulário próprio do
lugar, pronúncia, sintaxe - que tornam o falante de uma
dada região identificável a partir de seu discurso.
Linguagem regional não é erro ou defeito, nem indica
superioridade de uns ou inferioridade de outros. São
fenômenos que acontecem em qualquer língua e fazem
parte da riqueza cultural de um país e de um idioma.
Logo, cada modalidade serviria para uma
finalidade mais específica, sem perder sua característica
fundamental de ser “linguagem”. Por último, fala e escrita
suscitam diferentes aportes para a experiência: a escrita
cria o mundo das coisas/objetos e a fala, o dos
acontecimentos.
No entanto, quando se trata de oralidade e
escrita nos vêm à mente duas formas tão distintas da
língua que, a princípio, não podemos conceber uma
relação entre elas. Isto porque durante toda a nossa vida
ouvimos que a escrita deve ser correta, regular, formal,
perfeita enfim, e que a fala é lugar de informalidade, de
erros, de flexibilidade excessiva. Visão persistente e difícil
de ser modificada.
Uma definição geral sobre a variação linguística
se torna necessária para um melhor aproveitamento dos
textos inicialmente postos. Podemos entender por dialeto
as variações de pronúncia, de vocabulário e de gramática
pertencentes a uma determinada língua. Os dialetos não
ocorrem somente em regiões diferentes, pois numa
determinada região existem também as variações
dialetais etárias, sociais, referentes ao sexo masculino e
feminino e estilísticas.
Marcuschi (2001, p.25) estabelece que a “A
oralidade seria uma prática social interativa para fins
comunicativos que se apresenta sob variadas formas e
gêneros textuais fundados na realidade sonora”.
Apesar da oralidade ser uma prática social
interativa, o privilégio que a modalidade escrita da língua
desfrutou (e ainda desfruta) por largo período de tempo,
relegou a modalidade oral a um lugar não condizente com
a sua importância nas aulas de Língua Portuguesa.
Alguns dialetos são usados com diferentes
sotaques regionais como ocorre na norma culta da língua
portuguesa. Os sotaques então, não podem ser
confundidos com dialeto, pois o que caracteriza o sotaque
é apenas a diferença de pronúncia dos falantes.
A questão é que certas diferenças fonéticas entre
sotaque podem ser estigmatizadas pela sociedade, da
mesma forma como certas diferenças lexicais e
gramáticas entre os dialetos o são. O sotaque e o dialeto
de uma pessoa variam sistematicamente segundo a
formalidade ou informalidade da situação em que se
encontra.
Acerca da importância de uma e outra
modalidade de uso da língua, destaca-se a posição de
Marcuschi que afirma: “Oralidade e escrita são práticas e
usos da língua com características próprias, mas não
suficientemente opostas para caracterizar dois sistemas
linguísticos nem uma dicotomia” (2001, p. 17).
Os usos a que se reporta o autor dizem respeito
aos diversos gêneros textuais necessários às diversas
situações de interação, que se dão tanto na modalidade
oral como na escrita. Não se pode, portanto, exigir de um
falante que em uma conversa íntima com seus familiares
observe rigorosamente os aspectos formais da língua
A língua não é usada de modo homogêneo por
todos os seus falantes. O uso de uma língua varia de época
para época, de região para região, de classe social para
classe social, e assim por diante. Nem individualmente
podemos afirmar que o uso seja uniforme. Dependendo da
118
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situação, uma mesma pessoa pode usar diferentes
variedades de uma só forma da língua.
4. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS
Nas charges analisadas predominam nove
personagens, quais sejam:
Nessa dimensão, incluem-se as diferenças
linguísticas observadas entre pessoas de regiões distintas,
em que se fala a mesma língua. Exemplos claros desta
variação são as diferenças encontradas entre os diversos
países de língua portuguesa (Brasil, Portugal, Angola, por
exemplo) ou entre regiões do Brasil (Região Sul, com os
falares gaúcho, catarinense, por exemplo, e Região
Nordeste, com os falares baiano, pernambucano, etc.).
Ÿ Chiru velho, vaqueano experiente, profundo
conhecedor das lidas de campo, embora um tanto
atrapalhado...
Ÿ Dona Palometa, conheceu Chiru Velho em um
baile do rincão, casaram-se em 1950, é prenda louvada a
quatro ventos pelo Chiru velho...
Para elucidar a teoria até então esplanada,
analisaremos as influências que as variedades étnicoculturais e regionais podem exercer sobre a fala e a escrita
de um grupo. O que nos levará a possíveis identificações de
como essas diferenças étnico–regionais estão arraigadas à
cultura e aos costumes de uma região específica.
Ÿ Virso, não tem parentesco, parece se tratar de
um agregado, meio atrapalhado, pois lhe falta experiência,
que busca aprender com Chiru velho...
Ÿ Juracema, chinoca que o Virso conheceu no
Baile da Mariquinha, moça da cidade, que se assusta com o
vocabulário campeiro de Virso...
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Ÿ Porco batizado bento leitão de los libres. É
adversário ferrenho do Chiru Velho, leva ao pé da letra o
lema “não podemos se entregar pros home...”
O estudo realizado se caracteriza como uma
pesquisa teórico-empírica, de cunho qualitativo,
exploratória e interpretativa. Para tanto, serviremo-nos da
pesquisa bibliográfica para explicar e analisar o problema
a partir de referências teóricas publicadas em
documentos, buscando conhecer e analisar as
contribuições culturais ou científicas existentes sobre o
assunto. A pesquisa bibliográfica procura retomar e
analisar a bibliografia tornada pública em relação ao tema
em estudo. Segundo Lakatos e Marconi:
Ÿ Cavalo crioulo, “Flato”, é descendente do cavalo
de Bento Gonçalvez, segundo o próprio.
Ÿ Coruja, na verdade é o corujo, doutor, psicólogo,
ministro, que usa sua sabedoria para explicar aos animais
as atitudes dos humanos...
Ÿ Galo, Rei do Galinheiro, seu nome é “Pedro”, é
uma espécie de braço direito do porco. Também é
companheiro de mateadas ao amanhecer do Chiru Velho...
[...] é um procedimento reflexivo, sistemático,
controlado e crítico, que permite descobrir
novos dados ou fatos, relações ou leis, em
qualquer campo de conhecimento. Esta
pesquisa implica o levantamento de dados de
variadas fontes, quaisquer que sejam os
métodos ou técnicas empregadas. Os dois
processos pelos quais se podem obter os
dados são a documentação direta ou indireta
(1997, p. 43).
Figura 1: Personagens criados por Sávio Moura
Além da revisão bibliográfica, faremos a análise
de tiras e charges produzidas por Sávio Moura, a fim de
analisar como as variedades étnico-culturais e regionais
podem modificar, influenciar e particularizar a fala e a
escrita de um grupo. O referido autor nasceu em São Luiz
Gonzaga, em 1965. Formado em Administração de
Empresas pela URI, então bancário; cresceu em ambiente
impregnado pela cultura missioneira. Em 1994, passou a
colaborar como chargista do Jornal “A Notícia”, de São Luiz
Gonzaga e, hoje se dedica à conceituada e bem humorada
tira “É dura a vida no campo”, criada em 2006 para
participar de 2ª Mostra de Artes do Altelier Los Libres.
Marco fundamental que impulsionou a carreira artística
deste chargista, Levando Savio e seus personagens
cômicos a ter publicações em Jornais de renome, como
ZH, Jornal do Comércio e Folha de São Paulo.
FONTE: http://www.saviomoura.com.br/index.php?origem
=blog acesso em 18 de maio de 2015.
Tanto na criação dos personagens quanto na
produção das tiras observadas, texto escrito e imagético é
possível perceber o poder da variação linguística para
marcar uma identidade. Essa identidade pode ser de um
local, um gênero, uma etnia, ou qualquer outro grupo
social. No caso das tiras abaixo predomina a referência ao
campo, mais especificamente ao Rio Grande do Sul.
Figura 2: Cancha Reta
Os dados analisados se referem a tiras e charges
produzidas por Sávio Moura e publicadas no Jornal “A
Notícia”, periódico que circula às quartas e sextas no
Município de São Luiz Gonzaga, no período de 2011 /
2012, disponíveis no Blog do Sávio.
FONTE: Savio Moura (2015).
119
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porque as sociedades são divididas em grupos […]. O uso
de determinada variedade serve para marcar a inclusão
em um desses grupos, dá uma identidade para os seus
membros”. (PLATÃO & FIORIN, 2006, p. 110).
Figura 3: Gibi Chirú Velho & Virso
No Brasil, hoje, bem como no Rio Grande do Sul,
é irreal a equiparação da língua devido a muitos fatores
como: social, histórico, geográfico e cultural. Portanto,
necessitamos aceitar as mutabilidades e estudar o que as
provoca para entendermos o processo evolutivo
linguístico, pois a língua é um sistema vivo e pode ser
modificada por seus falantes de acordo com a situação
vivida e a adequação, via de regra, será regida pelo
contexto e pelos seus falantes.
A partir da análise das tiras de Sávio Moura foi
possível perceber o poder das variantes linguísticas que
marcam uma identidade. O uso de expressões que, a
grosso modo, dificultaria a compreensão de leitores de
outra região, pois expressões como “boca aberta”, “mariamole”8, são particularidades da fala de quem é nato dos
pampas do Rio Grande do Sul. Todavia, quem não possui
um bom conhecimento do contexto em que esta “tira”
circula, terá uma certa dificuldade para interpretar o gênero
textual. O conhecimento prévio do leitor é muito relevante
para interpretação de “tiras”, de “charges” e de outros
gêneros compactos. A leitura, apesar da individualidade do
ato realizado, é um ato social, pois existe um processo de
comunicação e de interação entre o leitor e o autor do
texto, ambos com objetivos estabelecidos anteriormente
dentro do contexto de cada um.
FONTE: Savio Moura (2015).
A fala possui algumas peculiaridades que não
são encontradas na escrita e são referentes à
funcionalidade e outros fatores que a escrita usa do outro
modo para se fazer entender. Assim, a linguística atual
revela que uma língua não é homogênea e deve ser
entendida justamente pelo que caracteriza o homem – a
diversidade, a possibilidade de mudanças. É preciso,
portanto, compreender que tais mudanças, como se
pensava no início, não se encerram somente no tempo,
mas também se manifestam no espaço, nas camadas
sociais e nas representações estilísticas.
Se eu sou de um local ou de uma etnia que fala
um dialeto (ou socioleto ou etnoleto)7 característico,
próprio do grupo, e vou para a escola em que a variedade
padrão é ensinada, não é só por causa dos valores
pregados pela escola que eu vou me identificar com essa
nova variedade a ponto de querer aprendê-la. Posso ter
motivos mais fortes para não perder as ligações afetivas e
culturais que me sustentam no meu grupo de origem. E
isso, via de regra, está intrinsicamente ligado à minha
identidade. A língua está inserida em práticas sociais, e a
sociedade não é uniforme. Além das regiões, diferem as
pessoas, as situações, as intenções comunicativas, as
experiências sociais, etc. Por essa visão, percebemos
que as pessoas não são vítimas da sua origem – porque
não conseguem se livrar dela – e nem são vítimas de um
sistema que tem o poder absoluto de mudá-las.
Contexto este, que se torna um fator essencial,
tanto na escrita, quanto na leitura. Principalmente nas
tiras, que muitas vezes utilizam recursos linguísticos
singulares, como a Pantomina9. Assim, é interessante que
no processo interativo da leitura, haja a manifestação dos
conhecimentos preliminares. No entanto, se o ledor não
conhecer o mínimo acerca dos arranjos linguísticos que
compõem um texto, provavelmente não conseguirá fazer
ilações relevantes entre o texto e sua “cultura”.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho realizado teve como objetivo analisar
como as variedades étnico-culturais e regionais podem
modificar, influenciar e particularizar a fala e a escrita de
um grupo, a partir da análise de charges produzidas por
Savio Moreira. Nesse sentido, constatamos que o
fenômeno “variação linguística” está presente a todo o
momento da formação e da estruturação de nossa língua,
pois, ao retornarmos à língua-mãe, o latim, percebemos
Ou seja, os falantes podem usar as diversas
variações nos seus repertórios verbais para marcar
identidades diferentes em situações diferentes, como
também para estabelecer a natureza das suas interações
com outras pessoas. “As línguas têm formas variáveis
7
Socioleto - Conjunto de traços linguísticos que caracterizam e identificam um grupo ou um estrato social. A formação de
socioletos decorre de fatores sociolinguísticos, como a idade, o sexo, o estatuto socioeconômico de um grupo, o nível de
instrução que alcançou e a proveniência étnica. Etnoleto é uma variação de uma linguagem falada por uma certa
etnia/subgrupo cultural e serve como uma marca diferenciadora de identidade social. O termo combina os conceitos de um
grupo étnico e de um dialeto.
8
Senecio brasiliensis Lees. Maria-mole, berneira, flor-das-almas, vassoura-mole. Família: Asteraceae
(compositae).Característicasgerais:Planta perene, herbácea, ereta, de 80-160 cm de altura. Folhas com a face inferior branco
e pequenas pétalas na cor amarelo – pubescente e a superior glabra, de 10-25 cm de comprimento. Reprodução por
sementes. Muito comum nos campos da fronteira e campanha/RS.
9
É a arte de contar histórias (algumas situações do cotidiano) utilizando apenas gestos, sem nenhuma palavra. Nas tiras do “É
dura a vida no campo” a pantomina é pouco utilizada, mas podemos observar algumas situações, o que torna a interpretação
ainda mais complexa, para quem não conhece o contexto.
120
REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
Augmentative and Alternative Communication:
management of severe communication disorders in
children and adults. 2.ed. Pensylvania: Paul H.
BrookesPublicationCo
que desde então, até os dias atuais, tivemos mudanças
renovadoras da língua. Além disso, percebemos o quanto
a língua sofre influências não apenas linguísticas, mas
especialmente de fatores socioculturais, geográficos e
etnográficos.
CUNHA, Celso Ferreira da. Gramática da Língua
Portuguesa. 12. ed. Rio de Janeiro: FAE, 1992.
As tiras e charges analisadas demonstram o
quanto as variedades étnico-culturais e regionais
particularizam a fala e a escrita de um grupo. O que por
um lado permite a identificação de uma variedade
linguística, reforçando a importância da análise do
contexto para a construção de sentidos durante a leitura,
por outro lado, traz à tona o preconceito linguístico que
tem sido um importante aspecto da exclusão social, mas
que não se justifica, de acordo com Bagno, uma vez que:
FIORIN, José Luiz; SAVIOLI, Francisco Platão. Lições de
texto: leitura e redação. 5 ed. São Paulo: Ática, 2006.
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três
artigos que se completam. São Paulo: Autores
associados. Cortez, 1983.
INFANTE. Ulisses. Curso de Gramática Aplicada Aos
Textos. Ed. Scipione. 1995.
não existe nenhuma justificativa ética,
política, pedagógica ou científica para
continuar condenando como 'erros' os usos
linguísticos que estão firmados no português
brasileiro há muito tempo, inclusive na fala e
na escrita dos cidadãos privilegiados. É
preciso reconhecer essas formas novas e
permitir o seu convívio tranquilo com as
formas consagradas pela gramática
normativa (2007, p. 161)
LAKATOS, E. M. e MARCONI, M. A. Fundamentos de
metodologia científica. São Paulo: Atlas, 1991.
MAC-KAY, A.P.M.G. Atividade verbal: processo de
diferença e integração entre fala e escrita. São Paulo,
Plexus, 2000, p.13-19.
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Da fala para a escrita:
atividade de retextualização. São Paulo: Cortez, 2001.
Obviamente, do ponto de vista da
sociolinguística, não existe um estágio melhor ou pior de
uma língua, desde que ela esteja sendo usada com
veemência por uma comunidade de utentes, servindo
todas as suas conveniências comunicativas e eloquentes.
Para o linguista, o único estado ruim para uma língua é
quando ela começa a perder falantes nativos e entra em
processo de oclusão.
MARTELOTTA, Mário Eduardo (org.). Manual de
Linguística, 1ª ed., 2ª reimpressão. São Paulo:
Contexto, 2009.
MONTEIRO, José Lemos. Para Compreender Labov.
Petrópolis - RJ: Vozes, 2000.
PRETI, Dino. Sociolinguística: Os Níveis da Fala. São
Paulo: Cia Editora Nacional. 1987.
Nesse sentido, Freire (1983) ressalta que “o ato
de ler não se esgota na decodificação da palavra escrita
pura, ele se antecipa e se alonga na inteligência do
mundo” (FREIRE, 1983, p.11). Podemos dizer, então, que
o que está escrito em um texto e/ou gênero textual (tira), é
o marco inicial para construirmos diálogos e reconstruir
significados sociais e pessoais, pois o texto e o contexto
devem interagir para que ocorra a produção de sentidos.
SAVIO MOURA. Cancha Reta. Disponível em:
http://www.saviomoura.com.br/index.php?origem=blog.
Acesso em: 18 de maio de 2015.
______. Gibi Chirú Velho & Virso. Disponível em:
http://www.saviomoura.com.br/index.php?origem=blog.
Acesso em 18 de maio de 2015
REFERÊNCIAS
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Sociolinguística. São Paulo: Contexto, 1997.
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incompleto’ em Saussure. In: SEMINÁRIO DO GEL,
56., 2008, Programação... São José do Rio Preto (SP):
G E L , 2 0 0 8 . D i s p o n í v e l e m :
<http://www.gel.org.br/?resumo=5031-08>. Acesso em:
09 set. 2014.
______. Preconceito Linguístico: O que é, como se faz.
São Paulo: Loyola, 1999.
TARALLO, Fernando. A pesquisa Sociolinguística.
4.ed. São Paulo: Ática, 1994.
ARAGÃO, Maria do Socorro Silva de. A linguagem
regional popular na obra de José Lins do Rego. João
Pessoa: FUNESC, 1990.
______. Português ou Brasileiro? Um convite à
Pesquisa. São Paulo: Parábola, 2001.
______Língua Materna: Letramento, variação e
ensino. São Paulo: Parábola, 2002.
______Nada na língua é por acaso: por uma
pedagogia da variação linguística. São Paulo:
editorial, 2007.
BEUKELMAN, D. R. & MIRENDA, P. (1998).
121
REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
MULHERES EM MOVIMENTO: UM ESTUDO SOBRE A PARTICIPAÇÃO POLÍTICA DA
MULHER TRABALHADORA RURAL BRASILEIRA¹
Rita de Cássia Maciazeki Gomes²
Lissandra Baggio³
4
Lilian Ester Winter
5
Tania Tornquiste
6
SETREM
RESUMO
Este artigo objetivou mapear a participação das mulheres
trabalhadoras rurais nos movimentos sociais do campo,
com ênfase no estado do Rio Grande do Sul. Para tanto,
realizou-se uma revisão da literatura com pesquisas no sítio
da Biblioteca Virtual em Saúde com os seguintes
descritores: movimento social, rural, mulher e gênero.
Também, foram considerados estudos oriundos da
Biblioteca Digital de Teses e Dissertações. Os estudos
destacaram o surgimento do Movimento de Trabalhadoras
Rurais atrelado às lutas pela terra e melhores condições de
trabalho em meados dos anos 80. A pauta de gênero
emergiu junto ao movimento sindical rural, alicerçado a
comunidades eclesiais de base religiosa ou laica. Entre as
primeiras reivindicações estavam as lutas pelos direitos
sociais e previdênciários. Mais tarde, as bandeiras
associadas às questões de gênero, relações hierárquicas,
divisão sexual do trabalho e a não constituição da mulher
enquanto trabalhadora rural foram incorporadas pelo
movimento. Mais de trinta anos depois de seu surgimento,
o Movimento de Trabalhadoras Rurais continua sua
caminhada, agregou-se a outros movimentos do campo e
segue sua trajetória de lutas pelos direitos das mulheres.
Para estudos futuros, recomenda-se o avanço de
pesquisas que estabeleçam conexões entre o
conhecimento produzido acerca do rural, em especial da
mulher do campo em sua dimensão política, através de
uma abordagem da subjetividade, avançando em um
campo interdisciplinar, complementar àqueles já
estudados. E ainda, a implementação de estudos que
compreendam e auxiliem no protagonismo das mulheres
na luta social desenvolvida no meio rural brasileiro.
RESUMEN
Este artículo tuvo como objetivo trazar la participación de
las trabajadoras rurales en los movimientos sociales
rurales, haciendo hincapié en el estado de Rio Grande do
Sul. Por lo tanto, llevó a cabo una revisión de la literatura
sobre la investigación en el sitio web de la Biblioteca
Virtual en Salud con las siguientes palabras clave:
movimiento social, rural, mujer y género. Asimismo,
consideraron que viene estudios de la Biblioteca Digital de
Tesis y Disertaciones. Estudios destaram la aparición de
lo Movimiento de las Trabajadores Rurales vinculado a las
luchas por la tierra y mejores condiciones de trabajo en los
años 80. La agenda de género surgió con el movimiento
de mano de obra rural, fundó las comunidades cristianas
de base religiosa o secular. Entre las primeras demandas
eran luchas por los derechos sociales y de pensión.
Cuestiones más tarde, las Banderas asociados de
género, las relaciones jerárquicas, la división sexual del
trabajo y el hecho de no establecer la mujer como
trabajador rural se han incorporado por el movimiento.
Más de treinta años después de su creación, el
Movimiento de los Trabajadores Rurales continúa su
caminar, se ha añadido a otros movimientos en el campo y
sigue su camino de la lucha por los derechos de las
mujeres. Para estudios futuros, se recomienda el avance
de la investigación para establecer conexiones entre el
conocimiento producido sobre el país, sobre todo el
campo de la mujer en su dimensión política, a través de un
enfoque de la subjetividad, avanzando un campo
interdisciplinario, complementario a los ya estudiados. Y,
sin embargo, la realización de estudios para comprender y
ayudar en el papel de la mujer en la lucha social
desarrollado en el Brasil rural.
Palavras-chave: Movimento Social. Espaço Rural.
Gênero.
Palabras clave: Género. Medio Rural. Movimiento Social.
nossa história social, política, econômica, cultural e,
portanto, marca como nossas subjetividades têm sido
produzidas” (IENO, 2013, P.17).
1. INTRODUÇÃO
Na história do Brasil, a questão da terra sempre foi
motivo de disputas, produzindo opiniões e posicionamentos
da população (MARTINS, ROCHA, AUGUSTO & LEE,
2010; ALBUQUERQUE, 2002). O espaço rural, além de
configurar um lugar pacato e tranquilo de se viver, também
é palco de embates e de lutas. Deste modo, “a questão da
terra, também no Brasil, marca direta ou indiretamente
Um breve panorama sobre o meio rural brasileiro
aponta, basicamente, o predomínio da produção agrícola
e o sistema de trabalho atrelado a dois modelos: a
pequena propriedade familiar, voltada para a produção de
alimentos e o assalariamento em grandes propriedades
¹ Projeto de pesquisa Cidade e Utopia: narrativas da vida no campo, desenvolvido com apoio do Programa de Incentivo a
Pesquisa SETREM (PIPS) da Faculdade Três de Maio, RS, no ano de 2012.
² Psicóloga, Mestre em Psicologia Social e Intitucional, Doutoranda em Psicologia Universidade do Porto, Bolsista CNPq.
([email protected])
³ Psicóloga, Mestre em Saúde Coletiva, Professora do curso de Psicologia da Setrem. ([email protected])
4
Psicóloga, Mestre em Desenvolvimento, Professora do curso de psicologia da Setrem. ([email protected])
5
Graduanda do curso de Psicolgia da Setrem ([email protected])
6
Sociedade Educacional Três de Maio – SETREM
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REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
monocultoras, com a produção voltada para a exportação.
Configuração esta que, mesmo com esta dupla função na qual a agricultura familiar está integrada ao mercado
interno e a grande produção está integrada aos mais
modernos sistemas do capitalismo global - o espaço rural,
ainda, nos dias atuais carrega um conjunto de adjetivos
que o identificam como um local antiquado, fora de uso e
desatualizado. Ao ocupar um lugar marginalizado no
imaginário social, por muitos passa a ser visto como
sinônimo de homogêneo e simplista. Caraterísticas estas
que contribuem para que seja pouco priorizado nos
estudos que investigam questões associadas aos modos
de vida instaurados neste espaço.
movimentos sociais do campo, com ênfase no estado do
Rio Grande do Sul.
2. MÉTODO
Trata-se de um estudo teórico com ênfase no
mapeamento da literatura cujo foco do delineamento
voltou-se para historização do processo de participação
política das mulheres trabalhadoras rurais nos
movimentos sociais do campo, com ênfase no estado do
Rio Grande do Sul. Para tanto, utilizou-se de pesquisa no
sítio da Biblioteca Virtual em Saúde – Psicologia Brasil
(BVS-Psi) com os seguintes descritores: “movimento
social”, “rural”, “mulheres” e “gênero”. Também, foram
considerados estudos oriundos de teses e dissertações
acessados pela Biblioteca Digital de Teses e Dissertações
(IDTD). A trajetória histórica do movimento de mulheres
trabalhadoras rural no Brasil e no RS guiou o norte das
discussões propostas no estudo.
Assim, toma-se o rural brasileiro como um
espaço de diversidade, em que se encontram desde
crianças até velhos, desde trabalhadores eventuais até
grandes empresários e fazendeiros, homens e mulheres
de várias etnias. Sujeitos em interações e relações nem
sempre equânimes em que se desenvolvem modos de
existência, aprendizagens, lutas e perdas pela terra e pela
sobrevivência, espaço em constante transformação
(MARTINS, ROCHA, AUGUSTO & LEE, 2010).
Compreendem-se os modos de vida, no meio rural,
permeados por simbolismos e significados, que
ultrapassam os limites territoriais em que se colocam em
questão crenças, normas de conduta e expectativas de
cada indivíduo que se tramam exigindo mudanças de
comportamento, e através das experiências vividas, das
exigências múltiplas e conflitantes que vão constituindo a
identidade do sujeito que vive no meio rural (PAULILO;
SILVA, 2007). Distante de outro modo, do espaço rural
como sinônimo do bucólico e edílico, outra faceta,
presente no imaginário social.
2.1 A TRAJETÓRIA DO MOVIMENTO DE MULHERES
TRABALHADORAS RURAIS NO BRASIL
A produção da literatura sobre o processo
organizativo das mulheres trabalhadoras rurais no Brasil
se mostra fragmentada e, por vezes, dificultada pela
escassa sistematização acadêmica. Fato esse que, de
antemão, aponta para a necessidade da produção de
estudos que forneçam visibilidade a partir do registro da
trajetória da mulher junto às diferentes realidades
brasileiras: do campo, da floresta, do sertão e das águas.
Ao escolher trabalhar com as produções
acadêmicas publicizadas, reconhece-se que este estudo
não abrange a totalidade das discussões e produções das
diferentes regiões do país. Apresenta, assim, uma
discussão e análise a partir dos artigos e dissertações que
se referem às experiências de Pernambuco, Ceará, Minas
Gerais, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
A mulher, por sua vez, ao longo do tempo esteve
associada a discursos, teorias, visões relacionadas à sua
capacidade de reprodução (NOGUEIRA, 2001). A
produção escrita tradicional, ainda hoje associa a mulher a
elementos essencialistas atrelados às coisas da casa, da
maternidade, dos filhos e da família, circunscrevendo-a,
assim, predominantemente na instância privada do lar.
Além disso, no que se refere aos contextos rurais, os
estudos apontam que as mulheres agricultoras, ao
mesmo tempo em que têm grande participação na
produção agrícola, principalmente de alimentos, nas
estatísticas oficiais seu trabalho e dedicação se mantêm
tendo pouca visibilidade (BRUMMER E PAULILO, 2004).
Segundo Paulilo e Silva (2007), na trajetória das
mulheres rurais está ligada ao trabalho com a terra,
inicialmente, invisibilidade e falta de remuneração. As
mulheres com as questões da propriedade se envolviam no
cuidado com a horta e com os pequenos animais, no
beneficiamento de alimentos e de artesanatos, sendo
responsabilizadas prioritariamente com o cuidado da família
e os afazeres domésticos, atividades naturalmente
associadas ao enredo da vida familiar. Ainda, segundo as
autoras, apesar do trabalho da mulher na terra ser diário, a
invisibilidade do seu fazer contribui para a pouca participação
na gestão econômica da família, baixa autoestima, pouco
conhecimento, dependência, opressão e discriminação.
Por entender que o meio rural agrega
especificidades próprias a um modo de vida, no qual está
incluída a participação política, voltamo-nos, neste estudo,
para uma breve análise das pesquisas em diferentes
campos de estudo, sobre as mulheres trabalhadoras
rurais que participam dos movimentos sociais do campo.
Sendo o rural um espaço permeado por uma
cultura patriarcal, de dominação masculina, o homem
aparece, por um lado, como companheiro ao estar
presente nas reivindicações das bandeiras de lutas, mas
também como o opressor ao ocupar um lugar delegado
pela sociedade capitalista que hierarquiza as posições de
“ser homem e de ser mulher” atreladas por relações de
forças e poder. Nesse sentido, é significativo o papel
político que a mulher trabalhadora rural teve ao longo da
história e ainda tem nas lutas sociais. Lutas essas em prol
da melhoria das condições de vida das mulheres e dos
homens trabalhadores do campo.
Ao longo dos anos, a superação da invisibilidade
A dimensão política da vida no campo aqui é
caracterizada pelas lutas e mobilizações sociais intrínsecas
a esse espaço de contradições econômicas, sociais,
culturais e de gênero. Contradições estas que se
processam de complexo, em suas significações e precisam
ser compreendidas à luz das configurações que lhe são
próprias, nas especificidades locais em que se produzem.
Tendo em vista esta contextualização
apresentada, este artigo objetivou mapear a participação
política das mulheres trabalhadoras rurais nos
123
REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
das mulheres rurais e de seu reconhecimento como
sujeito político tem sido verificado em organizações
sociais mistas, como os sindicatos, as associações e
cooperativas, pela instituição de espaços específicos
como as secretarias, coordenações e grupos de
mulheres. Constata-se que na última década, um conjunto
de políticas públicas direcionado às mulheres rurais foi
elaborado possibilitando a sua inclusão como
beneficiárias diretas, promovendo sua autonomia
econômica, através do acesso à documentação, políticas
de apoio à produção e à comercialização, além dos
direitos igualitários à titularidade da terra (MOURÃO,
2011). A inserção das mulheres em movimentos sociais do
campo possibilitou espaços de reflexão e de discussões
sobre as ações e modos de vida naturalizados no
cotidiano, bem como possibilidade de repensar posições
discursivas associadas à opressão e à violência dentro do
contexto familiar e comunitário (PAULILO E SILVA, 2007).
trabalhadoras rurais. Já na década de noventa, destaca
as discussões voltadas para as desigualdades de gênero
nas mais diversas esferas sociais. E o lançamento, em
1990, pela igreja católica da Campanha da Fraternidade
com o tema “Deus quer homem e mulher como
companheiros, iguais nos direitos porque os dois são
imagem e semelhança d'Ele” que incentivou o debate
sobre as condições de vida da mulher, tanto na cidade,
como no campo.
O movimento de mulheres rurais no nordeste,
para Sales (2007), constitui-se na multiplicidade de ideias
expressas nos grupos organizados; entre eles, o
Movimento de Mulheres Camponesas (MMC), os
Coletivos Estaduais de Mulheres das Federações de
Trabalhadores Rurais dos Estados, a Rede de Mulheres
Trabalhadoras do Nordeste, o Movimento Interestadual
de Quebradeiras de Coco e o Movimento de Mulheres
Trabalhadoras Rurais do Nordeste (MTR), sendo que no
Ceará, o movimento de trabalhadoras rurais teve forte
ligação com o MST e na FETRAECE. Assim, os grupos de
produção de mulheres rurais no Ceará, em geral, são
antecedidos por uma formação política. Para a autora, à
medida em que as mulheres começam a se organizar em
comissões, em coletivos, elas percebiam que, embora
não tivessem renda, desenvolviam atividades produtivas
semelhantes às dos homens.
A década de 80 marcou a efervescência dos
movimentos sociais de mulheres trabalhadoras rurais. No
contexto brasileiro, têm-se notícias de diferentes partes do
país de organizações de mulheres que se reuniram para
reivindicar seus direitos. Reivindicações estas, que
passaram a ser compartilhadas pelo movimento de
mulheres, movimentos populares e Movimento Sindical
Rural. Sendo uma das maiores conquistas alcançadas, a
inclusão na Constituição de 1988 para as trabalhadoras
rurais o direito ao título da terra independente do estado
civil, a extensão dos direitos trabalhistas dos segmentos
urbanos para as trabalhadoras do campo e o direito à
Previdência (CARDONA e CORDEIRO, 2010).
A participação em movimentos contribuiu para
que as mulheres pudessem romper com divisão de
papéis, os lugares predeterminados na família, no
trabalho, ao ocupar espaço no campo político. Sendo que,
ao “experimentar uma atividade produtiva rentável, as
mulheres não são as mesmas, já não se sentem tão
prisioneiras, estão mais abertas às multiplicidades do
mundo, sonham com liberdade e, assim, contagiam
outras mulheres, afetando e sendo afetadas por esses
desejos” (SALES, 2007, p. 442).A p a r t i c i p a ç ã o d a s
mulheres em movimentos produz tensionamentos nos
modos cristalizados no cotidiano da vida privada e pública
da comunidade.
No que se refere ao contexto nordestino, Cardona e
Cordeiro (2010) no texto “A previdência rural e a constituição
de modos de ser mulher trabalhadora rural no Sertão de
Pernambuco” apresentam a luta histórica da mulher para a
conquista da categoria de trabalhadora rural. As autoras, ao
realizarem uma cartografia das linhas que constituíram o
dispositivo “mulher trabalhadora rural” a partir da década de
80, salientam os seguintes pontos elementares: (1) o
“surgimento” do trabalho feminino na agricultura familiar
aliado às lutas femininas contra desigualdades de gênero e
pela ampliação dos direitos sociais para mulheres; (2) a
criação de espaços e de articulações sociais para discussão
sobre a vida das mulheres que vivem e trabalham na área
rural, como Movimento Sindical Rural, as agências de
cooperação internacional e ONGs feministas; (3) a
constituição da mulher agricultora como mulher trabalhadora
rural; (4) produção de textos, documentos, imagens da
nomeação mulher trabalhadora rural para além das fronteiras
regionais; (5) a implementação de políticas públicas, serviços
e legislação voltadas para as trabalhadoras rurais. Conforme
as autoras, o conjunto desses pontos encadearam forças
que possibilitaram o reconhecimento na Constituição
Brasileira da mulher como trabalhadora rural.
No sudeste, de acordo com Prado, Campici e
Pimenta (2004) no artigo “Identidade coletiva e política na
trajetória de organização das trabalhadoras rurais de
Minas Gerais: para uma psicologia política das ações
coletivas” o movimento de mulheres esteve associado a
uma matriz religiosa. Para os autores, a experiência
político-organizativa das mulheres do campo não
começou no domínio político-trabalhista da prática
sindical, mas sim em pequenos grupos, de matriz religiosa
ou laica. Espaços de encontros, nos quais as mulheres
começaram a refletir e questionar valores femininos
socialmente naturalizados, e debater sobre sua condição
de cidadãs excluídas e oprimidas. Segundo o
mapeamento realizado pelos autores, percebe-se que na
década de 50 emergiram as organizações trabalhadoras
do campo que deram origem ao Movimento Sindical dos
Trabalhadores Rurais. Movimento que agregava uma
diversidade unida na luta contra a exploração da classe
trabalhadora, tendo como pauta a regularização fundiária,
a defesa de melhores salários, direitos trabalhistas e
previdenciários.
Ainda, no que se refere ao nordeste, Sales
(2007), no artigo “Mulheres rurais: tecendo novas relações
e reconhecendo direitos” aponta a presença importante
dos eventos e lutas no contexto cearense. Entre os
acontecimentos marcantes nesta trajetória, destaca: (1) a
criação da década da mulher entre 1975 a 1985; (2) a
instalação do Ano Internacional da Mulher em 1975; (3)
em 1985, realização de doze encontros de mulheres
trabalhadoras rurais em diversas regiões do país; (4) em
1986, em Brasília, o primeiro encontro nacional de
As mulheres trabalhadoras rurais,
historicamente excluídas do espaço sindical,
aparecem como figuras centrais nesse
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processo pelo seu protagonismo nas
questões e demandas, sobretudo aquelas
vinculadas às relações de gênero e
participação da juventude e, especialmente,
por sua capacidade articulatória e de
mobilização no âmbito do movimento e dos
contextos políticos mais gerais (PRADO,
CAMPICI e PIMENTA, 2004, p. 302).
Segundo as autoras, em Santa Catarina o
movimento de mulheres rurais desde seu início contou
com influências das CEBs. Ao seguir o mapeamento
realizado no artigo constata-se que, nas décadas de 1980
e 1990, as lutas empreendidas pelo MMA/SC articulavam
em torno de gênero e classe pela conquista de direitos
trabalhistas e previdenciários. Quanto à cronologia em
relação às conquistas do movimento de mulheres as
autoras elencam: (a) 1991 a conquista da aposentadoria
aos 55 anos para a mulher, e aos 60 para o homem; (b) em
1992 os benefícios por acidente de trabalho; (c) em 1994 o
acesso ao salário-maternidade destinado à trabalhadora
rural, (d) 1997 realização da campanha “Nenhuma
Trabalhadora Rural sem Documentos”, promovida pela
Articulação Nacional de Mulheres Trabalhadoras Rurais
(ANMTR); (e) em 2003, por meio do Ministério do
Desenvolvimento Agrário (MDA), foi implantado o
Programa Nacional de Documentação, que remonta a
campanha de 1997.
Em relação à trajetória das mulheres trabalhadoras
rurais, em Minas Gerais, os autores ainda ressaltam: (1) o
início da organização em nível nacional das mulheres
trabalhadoras rurais em 1985, por ocasião do 4° Congresso
Nacional dos Trabalhadores Rurais; (2) o início da
articulação do movimento e das lutas sindicais oficializada a
partir de 1989, associado ao 1° Encontro Estadual das
Mulheres Trabalhadoras Rurais, que marca o delineamento
de questões da mulher trabalhadora rural na família, no
trabalho e no movimento sindical; (3) 5º. Congresso
Nacional de Trabalhadoras Rurais, em 1994 a primeira
mulher é eleita como diretora efetiva da Confederação dos
Trabalhadores na Agricultura (Contag). De modo geral, a
participação em Congressos Estaduais e Nacionais serviu
como âncoras de mobilização, ampliação e conquistas da
pauta das mulheres enquanto trabalhadora rural.
Para as autoras, o Movimento de Mulheres
Camponesas reforça lutas de classe e de gênero que
estavam em curso; insere-se, também, em contextos de
lutas na direção a um processo e se faz na direção da
unificação e do fortalecimento de lutas históricas. Em
âmbito nacional, a pauta se volta para a defesa da
consolidação do MMC, a partir da ótica feminista e
camponesa fortalecendo, assim, a luta dos trabalhadores
e trabalhadoras.
A identidade política configura-se, assim,
como aquele elemento que, ao mesmo
tempo, é possibilitado e constituído no interior
do processo mobilizatório e revela-se como
elemento mediador da consistência
interventiva dos grupos envolvidos na luta e,
nessa medida, promove transformações
subjetivas e objetivas tanto em indivíduos
particulares como nas diversas esferas
(espaço, lógica e prática) da vida cotidiana;
realiza, pois, a potência emancipatória das
formas de ação coletiva em diferentes
espaços da cotidianidade. (PRADO,
CAMPICI e PIMENTA, 2004, p. 314).
Nas diferentes regiões do país pode-se associar
o surgimento do Movimento das Trabalhadoras Rurais às
lutas das mulheres em prol dos direitos sociais e
previdenciários. Bem como as bandeiras de visibilidade
do trabalho da mulher e de sua atuação na esfera pública
para além do espaço restrito do ambiente familiar. Remete
ainda ao repensar das próprias mulheres sobre si
mesmas e de seu lugar no mundo.
A participação política é tomada, assim, como um
agente de mudança da condição pessoal e das relações
comunitárias. A participação do movimento social
contribuiu para o repensar sobre os modos de ser mulher.
A seguir, o estudo remete ao delineamento do
movimento de mulheres rurais do Estado do Rio Grande
do Sul.
2.2 A TRAJETÓRIA DO MOVIMENTO DE MULHERES
TRABALHADORAS RURAIS NO RS
Na região sul do Brasil, no artigo “Mulheres
agricultoras e mulheres camponesas: lutas de gênero,
identidades políticas e subjetividades”, Salvanaro, Lago e
Wolf (2013) analisam o movimento de mulheres
trabalhadoras rurais em Santa Catarina. Segundo as
autoras, no início da década de 80 foi criado o Movimento
de Mulheres Agricultoras de Santa Catarina (MMA/SC).
Anos depois, em 2004, associado a outros movimentos
rurais autônomos de mulheres do Brasil, consolidou-se
num movimento autônomo e nacional, o Movimento de
Mulheres Camponesas (MMC).
No estado do Rio Grande do Sul, o movimento de
mulheres trabalhadoras rurais em sintonia com o que
aconteceu no restante do Brasil tomou força no início da
década de 80. Momento em que as mulheres que viviam
no campo se uniram e começaram a se mobilizar em prol
de seus direitos sociais e previdenciários.
Segundo Falkembach (2007), no texto “MST,
escola de vida em movimento”, o Movimento de
Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) teve importante
papel na emergência do processo de politização dos
trabalhadores e trabalhadoras rurais. O movimento é
tomado, pela autora, como uma escola da vida, que, a
partir de uma política formativa, propiciou um repensar no
modo de ser de homens e de mulheres excluídos dos
processos capitalistas de produção e acúmulo de riqueza.
A fase inicial do movimento foi marcada pela
organização de agricultores/as em torno da conquista da
direção do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de
Chapecó e, no dia 1º de maio de 1983, no distrito de
Itaberaba, 28 mulheres, juntamente com religiosos e
agentes de pastoral, definiram os rumos iniciais do
movimento. Naquele contexto, a Comissão Pastoral da
Terra (CPT) e as Comunidades Eclesiais de Base(CEBs)
se constituíram como espaços para a
reflexão/organização das mulheres agricultoras
(SALVANARO, LAGO; WOLF, 2013, p.80).
Daron (2003) em sua dissertação “Educação,
cultura popular e saúde: experiências de mulheres
trabalhadoras rurais” destaca o protagonismo das
mulheres rurais do Rio grande do Sul na construção da
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mobilização nacional das mulheres, no período. Segundo
a autora, no sul do país, formavam-se caravanas de
mulheres da região, que mesmo em condições precárias
e com poucos recursos, reuniam-se a mulheres de outras
regiões, em marcha em direção a Brasília, para fazerem
ouvir suas vozes e suas pautas de luta. Reivindicações
estas, que passaram a ser compartilhadas pelo
movimento de mulheres, movimentos populares e
Movimento Sindical Rural.
pela emancipação, com base na troca de informações, no
convívio entre vários grupos de mulheres rurais.
Entre os eventos marcantes da época, Darón
(2003), recordará: a 1ª Assembleia Estadual do MMTR
realizada em 10, 11 e 12 de agosto de 1989 em Passo
Fundo/RS, com o lema: “Mulher que luta organizada gera a
nova sociedade”, em que foi criado o movimento de
Organização das Mulheres da Roça passa a ser Movimento
de Mulheres Trabalhadoras Rurais do RS (MMTR/RS). No
que se refere às pautas, a “previdência e saúde foram
definidas como lutas prioritárias, desdobradas nas
bandeiras de luta por reconhecimento da profissão de
trabalhadora rural, aposentadoria aos 55 anos para as
mulheres e aos 60 para os homens da roça, saláriomaternidade e saúde pública”. (DARON, 2003, p. 67)
As várias organizações populares, como as
oposições sindicais, que davam passos
importantes na conquista de novos sindicatos,
o Movimento Sem Terra, a Comissão Pastoral
da Terra, as pastorais sociais, especialmente
a Pastoral da Juventude Rural e a Pastoral
Rural, o Movimento dos Atingidos por
Barragens, na época chamado Comissão
Regional dos Atingidos por Barragens (Crab),
já tinham mulheres militantes e, ao mesmo
tempo, foram abrindo novos canais de
participação para elas do meio rural (DARON,
2003, p. 63).
O movimento da igreja associando a teologia à
libertação também contribuiu para a organização e
fortalecimento do movimento de mulheres. Para Schaaf,
as religiosas davam “consolo e esperança àquelas que, na
vida cotidiana, enfrentavam grande desigualdade e
fornecia-lhes argumentos da Bíblia para que se
levantassem contra a opressão e alcançassem a
“libertação” (SCHAAF, 2013, p. 415). Dessa forma, de um
lado, as religiosas passaram a incentivar a participação
das mulheres rurais nos movimentos sindicalistas e as
feministas reivindicavam vez e voz nas articulações e
decisões políticas. As religiosas desenvolveram junto às
agricultoras uma religião igualitária que serviria de
alternativa à vivência religiosa hierárquica liderada pelos
homens, inspiradas na Teologia de Libertação.
Para Brumer (2002) em “Previdência social rural e
gênero” o movimento de mulheres, já na década de 70,
tinha como bandeiras de lutas o movimento nacional pela
democracia e os direitos das mulheres em nível nacional
propulsores para as mobilizações das trabalhadoras
rurais. Nesta perspectiva, Schaaf (2003), em “Jeito de
mulher rural: a busca de direitos sociais e da igualdade de
gênero no Rio Grande do Sul” considera a Igreja Católica e
os movimentos feministas como elementos cruciais no
processo de formação do Movimento de Mulheres
Trabalhadoras Rurais–RS (MMTR-RS), sendo que foi
através destes movimentos que as trabalhadoras rurais
passaram a ter representatividade e visibilidade política.
Assim, conforme Schaff (2013), o movimento teve
maior possibilidade de desenvolvimento e crescimento nos
municípios em que havia uma maior liberdade de atuação
das religiosas bem como o apoio da Igreja.
Conte (2008), em “Um diálogo sobre as mulheres
a partir de Freire”, em relação à década de 70, pondera que
mesmo muitas mulheres já tendo participado de atividades
que saíam do âmbito privado e tomavam a dimensão
pública, o fato de ocuparem postos de trabalho,
questionarem poderes, direitos e empoderamento
constituía-se em algo bem mais complexo para a época.
Fato este que não foi aceito tranquilamente, por mais
progressistas que se diziam alguns partidos políticos,
sindicatos e movimentos sociais mistos, sendo apoiado ao
fortalecimento dos movimentos feministas que os avanços
em relação aos direitos foram possíveis. Assim, o
questionamento do lugar historicamente instituído à mulher
foi se dando aos poucos em meio a um campo de disputas.
Quando, entre 1984 e 1987, o sindicato trocou
o discurso religioso por um discurso socialista,
desapareceu a base ideológica da
organização em torno de assuntos femininos.
Nessa época, foi fundada a Central Única de
Trabalhadores no Estado - CUT-RS, e se
procurou uma base de apoio no campo. As
lideranças do sindicato identificavam-se com
o Partido dos Trabalhadores (PT), e o espaço
sindical formava parte da campanha em
vários municípios. A ligação do sindicato de
cunho combativo ao PT levou a um
distanciamento com a Igreja e foi recebida
pelos colonos com certa suspeita. (SCHAAF,
2013, p. 415)
Na década de 80, o movimento de mulheres
trabalhadoras rurais uniu forças “com o objetivo primeiro
de obtenção de direitos referentes à previdência social, tais
como aposentadoria e salário-maternidade, mas, à
medida que o movimento avançava, esses direitos se
subordinavam ao reconhecimento de sua condição
profissional de trabalhadoras rurais” (Brumer, 2002). No
que tange à organização do movimento, Darón (2003) irá
recordar que foi fundado por três grupos regionais de
Mulheres da Roça. O MMTR-RS se tornou um movimento
estadual e autônomo de agricultoras em 1989, embora já
existissem desde 1986. O MMMT- RS tinha como principal
objetivo a emancipação das mulheres rurais, através da
igualdade social e política na vida destas trabalhadoras
rurais no convívio com outras mulheres, ou seja, busca
Mesmo com a renovação dos sindicatos, as
agricultoras não tinham liberdade de participação formal e
os assuntos femininos dificilmente eram incluídos na
agenda dos sindicatos. A resistência masculina, em
contraste com o intenso envolvimento feminino, fez com
que essas trabalhadoras percebessem ainda mais a
desigualdade de gênero e reivindicassem sua autonomia,
não sendo mais subordinadas a qualquer entidade rural,
nem mesmo à Igreja. O embate de forças na constituição e
sustentação do movimento de mulheres trabalhadoras
rurais atravessou os anos e ainda se apresenta como uma
questão elementar para o movimento.
Tedeschi (2007) no estudo “Do silêncio a palavra:
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identidades e representações sociais de mulheres
camponesas no Noroeste do RS” afirma que as relações
de poder existentes e combatidas pelas agricultoras
acabam sendo perpetuadas por elas mesmas. Assim,
muitas vezes, as agricultoras que não exerceram liderança
no MMTR, não identificavam em seu discurso a
discriminação de gênero, a subordinação ao masculino e
nem ao movimento. Em seu estudo, os relatos das
mulheres apontaram
para
uma
postura
de
aceitação e consentimento da realidade vivida no campo.
Ainda, segundo o autor, as trabalhadoras não
mencionaram os novos desafios ou a necessidade de ir
além dos benefícios sociais, ou até mesmo de ir em busca
do “empoderamento”, sem se aperceberem das relações
de gênero que atravessam a luta pela conquista de direitos.
situação de vida no meio rural na época e à cultura
histórica patriarcal instituída no Brasil rural desde o
período da colonização” (DARON, 2003, p. 64).
Daron (2003), ainda relata que entre as importantes
conquistas do MMTR-RS estão: a) Programa de
Documentação e Valorização da Mulher Trabalhadora Rural,
cujo objetivo era promover o reconhecimento da profissão e
a viabilização dos seus documentos; b) implantação do bloco
da família produtora rural, no qual entram o nome da mulher,
do homem e dos filhos; c) Plantando Saúde, projeto que visa
à consolidação do trabalho realizado pelos grupos de
mulheres do MMTR/RS na área de plantas medicinais,
alimentação saudável e agroecologia; d) Mova – Movimento
de Alfabetização de Adultos, pelo qual milhares de
trabalhadoras rurais foram alfabetizadas; e) Programa RS
Rural, dirigido às mulheres trabalhadoras rurais,
possibilitando o financiamento para exercerem sua
capacidade empreendedora com autonomia e melhorar a
renda da família; f) Programa estadual de reforma agrária,
que possibilitou a posse da terra tanto para casais quanto
para mulheres solteiras; g) Programa de Crédito Rural, que
trabalha com financiamento a fundo perdido ou subsidiado
para produção agrícola, aberto a mulheres e homens; g)
Programa Rio Grande Ecológico, que destinava recursos
para produção, industrialização e comercialização de
produtos ecológicos; h) Programa Estadual de Agroindústria,
com apoio à geração de renda e aproveitamento do potencial
produtivo de agroindústrias familiares.
com algumas mulheres líderes, o
sindicalismo masculino
ganhou força no
campo, legitimando-se. A conquista de
“pseudo-espaços de igualdade” na esfera
pública acabou-se instalando pequenas elites
de mulheres a serviço do sistema patriarcal,
que assumem cada vez mais o discurso
masculino, e por outro lado, as mulheres que
não exercem mais a liderança ou que
participaram do MMTR estão imbuídas de
representações sociais que asseguram a
persistência das tradicionais relações de
gênero, poder e trabalho no campo
(TEDESCHI, 2007, p.8).
As reflexões apontadas por Tedeschi (2007)
problematizam o lugar que as discussões de gênero
ocupam dentro do movimento e apontam para a
necessidade de visibilidade e enfrentamento desta
questão pelas mulheres, bem como pelos homens.
Para Mourão (2011), em “Organizações
Produtivas de Mulheres Rurais” a sustentação e criação
de grupos de mulheres ao longo dos anos pode estar
vinculada à implementação de políticas públicas como o
Pronaf (1996), ao Pronaf Mulher (2003); à retomada dos
serviços de assistência técnica (ATER/ATES) e à criação
da Política Setorial de Mulheres (2004); bem como as
ações de compra dos produtos da agricultura familiar,
como o PAA (2003) e a realização de feiras da agricultura
familiar (2004). Entre os avanços nas políticas para
agricultura familiar estão os indicativos para a adoção do
enfoque de gênero e ampliação da participação das
mulheres. Sendo que, “apesar de estas políticas terem
impulsionado a organização de mulheres, o acesso
destes grupos a elas ainda precisa ser ampliado e
fortalecido (MOURÃO, 2011, p.9)” No que se refere à
caracterização dos grupos de mulheres trabalhadoras
rurais, Mourão (2011) dirá que os grupos de mulheres
rurais, em geral, eram pequenos. Variavam entre 5 a 20
integrantes e na maioria, embora tenham intenção de
formalização, optam pela não formalização e legalização
devido a exigências burocráticas, alguns custos e devido
ao fato de não possuírem sede própria. Assim, embora
várias políticas públicas tenham sido implementadas em
benefício às mulheres trabalhadoras rurais, considera-se
a garantia dos direitos sociais (aposentadoria, saláriomaternidade e auxílio-doença) na Constituição de 1988,
como a mudança de maior impacto relacionada à
categoria das trabalhadoras a partir da fundação do
movimento, ainda que tivessem entrado em vigor apenas
no início da década de 90. O próprio movimento MMTRRS considera que essa inclusão na Constituição foi uma
“recompensa” por seu esforço de vários anos.
Por sua vez, os avanços e conquistas, ao longo
dos anos, impressas pelo movimento são inegáveis. A força
do movimento de mulheres rurais, conforme Brummer
(2002), foi crescendo através da forte pressão junto aos
parlamentares e com a garantia de direito ao saláriomaternidade apenas em 1993, tendo sido regulamentado
no ano seguinte, embora já fosse um direito adquirido na
Constituição de 1988 às trabalhadoras urbanas.
Schaaf (2003), a partir dos relatos de mulheres
trabalhadoras rurais, aponta que as mulheres reconhecem
a importância da participação no movimento à medida que
puderam refletir questões ligadas ao corpo e ao valor da
mulher, informarem-se e repensar seu lugar ocupado de
geração em geração, em que geralmente corpo e sexo
eram atrelados ao pecado. A inserção e discussão desses
assuntos no MMTR-RS provocou instabilidade às tradições
consideradas dominantes no campo.
Daron (2003) salienta, ainda, que nesse
processo de discussões de problemas, as trabalhadoras
rurais acabaram se deparando com duas lutas: a primeira
seria referente à busca pelos seus direitos e melhores
condições de vida no campo e a segunda luta seria por
valorização enquanto mulheres que eram desvalorizadas,
discriminadas muitas vezes até mesmo violentadas. Ou
seja, lutas pelo direito de ser reconhecida como
trabalhadora rural e não continuar sendo sombra do
marido, já que na maioria das vezes nem documentos
pessoais e profissionais elas tinham. “Essa condição de
vida das mulheres agricultoras estava associada à
Partindo dessas reflexões, é possível afirmar,
com base nos estudos apresentados, que as discussões
de gênero, em que pesem os avanços e conquistas ao
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longo dos anos, ainda permanecem como um desafio. Um
dos focos está na integração e criação de novas políticas
para as mulheres que promovam arranjos de gestão
participativa, que possibilitem o fortalecimento de seu
papel no desenvolvimento territorial. Políticas públicas
que também sejam apoiadas pelo Estado e possam
estabelecer estratégias que promovam a afirmação da
identidade da trabalhadora rural, bem como da
socialização do trabalho doméstico e do cuidado,
fortalecendo, assim, a organização produtiva com a
perspectiva da autonomia tanto econômica quanto de
soberania alimentar.
intervenção que contribuam no processo do movimento
político das mulheres trabalhadoras rurais.
REFERÊNCIAS
ALBUQUERQUE, Francisco José Batista de. 2002.
Psicologia Social e Formas de Vida Rural no Brasil.
Psicologia: Teoria e Pesquisa. 18(1), 037-042.
BRUMER, Anita. 2002. Previdência social rural e
gênero. Sociologias (UFRGS), Porto Alegre, v. 7, p. 5081.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
BRUMER, Anita, PAULILO, Maria Ignez. 2004. As
agricultoras do Sul do Brasil. Dossiê Revista Estudos
Feministas.12(1): 360,Florianópolis.
Os estudos destacaram que o protagonismo das
mulheres no meio rural se deu em grande parte através de
dois movimentos. O engajamento à luta mais geral por
direitos trabalhistas e previdenciários, que imprimiram
condições mais dignas para se viver no campo e a luta, em
pautas específicas relacionadas às mulheres, entre elas: (a)
sindicalização das mulheres; (b) disputa da direção do
Sindicato dos Trabalhadores Rurais; (c) reconhecimento da
profissão; (d) aposentadoria; (e) auxílio-acidente de
trabalho; (f) auxílio-doença; (g) salário-maternidade.
CONTE, Isaura Isabel. 2008. Um diálogo sobre as
mulheres a partir de Freire. Universidade Regional do
Noroeste do Rio Grande do Sul (UNIJUI) Revista Eletrônica
de Ciências da Educação, Campo Largo, v. 7, n. 2, nov.
CORDEIRO, Rosineide de L. M.; CARDONA, Milagros C.
García. A Previdência Rural e a constituição de modos
de ser mulher trabalhadora rural no Sertão de
Pernambuco. In: SOUZA, Solange Jobim e; MORAIS,
Maria (org.) 2010. Tecnologias e Modos de ser no
Contemporâneo. Editora PUC RIO: 7 letras, Rio de Janeiro.
Constata-se que os avanços na organização dos
trabalhadores rurais, nas décadas de 70, 80 em diante,
tiveram forte influência das organizações comunitárias,
religiosas, sindicatos e movimentos, entre eles o
Movimento dos Sem Terra (MST). Dentre as pautas mais
gerais, nas quais as mulheres já eram protagonistas,
identificou-se a necessidade de uma auto-organização
com foco nas questões de gênero, pautando no contexto
da luta geral, questões específicas da vida das mulheres
trabalhadoras. Fato esse que incidiu nas conquistas
obtidas no campo dos direitos sociais para as mulheres,
principalmente no contexto da Constituinte de 1988.
DARON, Vanderléia Laodete Pulga. 2003. Educação,
cultura popular e saúde: experiências de mulheres
trabalhadoras rurais. Dissertação apresentada no curso
de pós-graduação em Educação, da Faculdade de
Educação da Universidade de Passo Fundo, RS.
FALKEMBACH, Elza Maria Fonseca. 2007. MST, “escola
de vida” em movimento. Cad. Cedes, Campinas, vol. 27,
n. 72, p. 137-156, maio/ago.
Disponível em <http://www.cedes.unicamp.br>
Após as conquistas da constituinte, como
mostram os autores pesquisados, a luta do movimento de
mulheres do campo se ampliou em direção à efetivação
dos direitos conquistados. Entre os desafios a serem
alcançados estão as discussão das questões de gênero,
em diferentes espaços, e a conscientização das mulheres
quanto ao lugar ocupado no rural brasileiro. Ainda, a
conquista de seu lugar enquanto proprietárias de terras,
ocupando um espaço público e de direito que hoje ainda é
ocupado, na maioria das vezes, pelos homens.
IENO, Genaro. Prefácio. In: LEITE, J. E DIMENSTEIN,
M (orgs) 2013. Psicologia e Contextos Rurais.
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osTecnicosAbertos/DispForm.aspx?ID=390. Acessado
em: 20 de novembro de 2013.
As pesquisas, estudos e análises sobre as
especificidades da “mulher militante do movimento social
do campo”, em diferentes áreas do conhecimento, em
especial, na sociologia rural e nos estudos feministas têm
avançado. Ainda que pese, este tema ainda se configure
incipiente no campo da Psicologia.
NOGUEIRA, Conceição. 2001. Feminismo e ‘Discurso’
do Gênero na Psicologia Social. Psicologia &
Sociedade : revista da Associação Brasileira de
Psicologia Social".13:1 107-128. ISSN 0102-7182
No que se refere aos estudos futuros, aponta-se
a necessidade de conexões entre o conhecimento
produzido acerca do rural, em especial da mulher do
campo em sua dimensão política, através de uma
abordagem da subjetividade, avançando em um campo
interdisciplinar, complementar àqueles já estudados.
Salienta-se, ainda, a necessidade de estudos que
compreendam o protagonismo das mulheres na luta
social desenvolvida no meio rural brasileiro. E na
operacionalização de estratégias reflexivas e de
PAULILO, Maria Ignez, SILVA, Cristiani Bereta da. 2007. A
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129
REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
MELHORES PRÁTICAS EM TI BASEADO EM ITIL PARA PROVEDORES DE ACESSO À
INTERNET NO VALE DO SINOS
Edson Inácio Wobeto¹
Samuel Henrique Hartmann²
RESUMO
No Brasil, o constante crescimento da demanda por
acesso à Internet fomentou o surgimento de novas
empresas que provem este serviço, aumentando assim a
concorrência neste mercado. Em paralelo, a
convergência de serviços para a Internet e a gama de
opções que os usuários de Internet possuem no mundo
on-line, tem os tornado cada vez mais dependentes deste
acesso e também mais exigentes, querendo um serviço
cada vez melhor. Para auxiliar a garantir a qualidade dos
serviços e gerenciar os processos operacionais de TI
(Tecnologia da Informação) foram criados modelos de
melhores práticas como o ITIL (Information Technology
Infrastructure Library). Com base neste contexto, este
trabalho visa analisar a aplicabilidade do ITIL em
pequenos provedores de Internet no Vale do Sinos, bem
como avaliar as dificuldades enfrentadas pelas empresas
deste ramo e região que já tenham feito a implantação
destes processos.
ABSTRACT
In Brazil, the constantly growth of demand for Internet
access promotes the emergence of new companies that
provide this service, increasing competition in this
market. Related to this, the convergence of Internet
services and the range of options that the Internet users
have in the online world, has left them increasingly
dependent and exacting on this access, looking for a
better service. To help ensure the quality of services and
manage the operational processes of IT (Information
Technology) best practices models were created as the
ITIL (Information Technology Infrastructure Library).
Based on this context, this research analyzes the
applicability of ITIL in small Internet service providers in
the Vale do Sinos, as well as assess the difficulties faced
by companies in this sector and region that have already
made the implementation of these processes.
Keywords: Governance. IT. ITIL.
Palavras- chave: Governança. TI. ITIL.
regiões vizinhas ao Vale do Sinos, que também operam
nas cidades deste vale, aumentando ainda mais a
concorrência. Na grande maioria das cidades do vale há
pelo menos uma grande operadora, como OI, GVT, NET
ou EMBRATEL e, em algumas delas, é possível ter as
quatro competindo com os provedores locais.
1. INTRODUÇÃO
A publicação do Market Share (quota de
mercado) de 2014 feita pela Anatel mostra que
pequenos provedores de serviços de Internet somam
9,35% do mercado de acessos fixos no Rio Grande do
Sul (RS). O baixo percentual do mercado atendido pelos
provedores de pequeno porte, evidencia que estes têm
um desafio muito grande na concorrência com as
grandes operadoras, que normalmente fazem parte de
grupos empresariais internacionais e possuem um alto
poder de investimento tanto em expansão de sua rede,
como em marketing, além de terem um maior poder de
barganha nas negociações com os clientes. A
governança dos processos de TI dentro dos provedores
de menor porte pode se tornar o diferencial competitivo
perante seus concorrentes de igual classificação, visto
que gerindo seus processos podem reduzir custos
operacionais e serem mais eficientes no suporte técnico
a seus clientes, agregando valor ao seu produto.
A crescente demanda por acesso à Internet em
residências e empresas, em parte, tem sido fomentada
pela convergência de serviços ofertados de forma online
por empresas privadas, públicas e também pelos
governos estaduais e federal. Pode-se ainda citar que,
além da grande quantidade de conteúdo de
entretenimento e cultura disponível nas páginas da web,
as redes sociais e sistemas de ensino a distância têm
tido grande colaboração para difundir o uso da Internet.
Segundo a pesquisa TIC Provedores de 2011,
disponível em http://www.cetic.br/pesquisa/provedores/
publicacoes, do Comitê Gestor da Internet (CGI.br), a
classificação de porte das empresas de provimento de
acesso à Internet seria a seguinte: grande se possuir
mais de 900 mil clientes, médio se possuir entre 20 e 900
mil clientes e pequenos se tiver menos de 20 mil
clientes. Já a ANATEL, em suas resoluções, considera
pequeno o provedor que possuir menos que 50 mil
clientes. A tabela 1 abaixo, ilustra a composição do
mercado de acessos fixos a Internet no RS.
De acordo com o site da Agência Nacional de
Telecomunicações (ANATEL), são 37 empresas com
sedes nas cidades do Vale do Sinos que estão
registradas e possuem licença para exploração de
Serviço de Comunicação Multimídia (SCM),
nomenclatura dada pela agência para transmissão de
dados e provimento de acesso à Internet. Existem ainda
outras tantas empresas deste ramo, com sedes em
¹ Mestre em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Maria, Professor da Faculdade de Administração e
da Faculdade de Tecnólogo em Redes de Computadores do Instituto Evangélico de Novo Hamburgo – IENH [email protected].
² Gerente Técnico – [email protected]
130
REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
Tabela 1: Composição de mercado no RS
2. REFERENCIAL TEÓRICO
FONTE: ANATEL 2014.
Para GASPAR;GOMEZ;MIRANDA (2010), os
negócios têm grande dependência da TI, fazendo com
que as boas práticas sejam adotadas com objetivo de
trazer resultados positivos, como redução de custos e
agilidade em seus processos, visto que estes
independem de fornecedores e tecnologias.
2.1 GOVERNANÇA DE TI
A pesquisa do Censo 2010, realizada pelo IBGE
(Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística), aponta
que no Vale do Sinos a média de residências em zona
urbana com acesso à Internet é de cerca de 34% do total.
A pesquisa aponta também que nas empresas esta
média fica próxima a 99%. De olho nesse mercado, além
das grandes operadoras, ou seja, aquelas que atuam em
diversos estados do país, estão as empresas locais de
provimento de acesso à Internet, que, segundo dados da
ANATEL, a quantidade de empresas licenciadas para
exploração de SCM, cresceram 412% desde 2010 no
Vale do Sinos.
Segundo Weill e Ross (2006) a Governança de
TI consiste em um ferramental para a especificação dos
direitos de decisão e responsabilidade, visando
encorajar comportamentos desejáveis no uso da TI.
A ISO/IEC 38.500 (ABNT 2009), diz que a
Governança de TI "é o sistema pelo qual o uso atual e
futuro da TI são dirigidos e controlados. Significa avaliar e
direcionar o uso da TI para dar suporte à organização e
monitorar seu uso para realizar planos. Inclui a estratégia
e as políticas de uso da TI dentro da organização".
De acordo com a classificação do Cadastro de
Empresas do IBGE (2008), pequenas e médias
empresas no Brasil têm as características a segui.
Fernandes e Abreu (2012), após analisarem
estes conceitos, concluíram que a Governança de TI,
como disciplina, busca o direcionamento da TI para
atender ao negócio e ao monitoramento para verificar a
conformidade com o direcionamento tomado pela
administração da organização. Afirma, ainda, que a
governança de TI não é somente de modelos de
melhores práticas como ITIL, CobiT, etc.
Pequenas empresas têm entre 5 a 99
empregados.
Médias empresas têm entre 100 e 499
empregados.
2.1.1 Fatores Motivadores da Governança de TI
Estão concentradas no setor de serviços. São os
maiores empregadores do país.
Considera-se a maior transparência da
administração o principal fator motivador da Governança
de TI, porém a mesma é motivada por vários fatores
como pode-se ver na figura 3.2:
"Os dirigentes dessas empresas são,
geralmente, pequenos empreendedores e self-made
men (homens que se fazem por si, com esforço próprio),
muitos sem uma trajetória de estudos formais e bastante
intuitivos"(FERNANDES; ABREU, 2012, p. 561,
tradução livre).
Figura 1: Fatores motivadores da Governança de TI
Quando considera-se que os provedores locais,
normalmente empresas com poder de investimento
limitado, concorrem com grandes operadoras, muitas
delas multinacionais, estima-se que para se manter ou
crescer neste mercado estas pequenas operadoras
tenham que buscar um diferencial, algo que atraia e
retenha clientes. Tendo em vista que o departamento de
TI em empresas de provimento de acesso à Internet é um
setor chave para o sucesso do negócio, a pressão por
executar seus processos de forma ágil e menos onerosa
possível para a empresa torna-se uma constante.
Perante este cenário, surgiu o problema de
pesquisa: de que forma a governança e as melhores
práticas em TI, aplicadas a pequenos provedores de
Internet do Vale do Rio dos Sinos, podem contribuir para
o crescimento, diferenciação e qualificação em
prestação de serviços?
FONTE: Fernandes; Abreu (2012).
Este trabalho apresentará apenas as duas mais
relevantes para o mesmo, que seguem:
Dependência do negócio em relação à TI, em
que Fernandes e Abreu (2012) afirmam que quanto mais
as operações diárias e as estratégias chave corporativas
dependem da TI, maior é o papel estratégico da mesma
para a organização.
Assim, o objetivo geral deste trabalho é
identificar dentre as melhores práticas em TI, baseado
em ITIL, os modelos de processos aplicáveis a pequenas
empresas de provimento de acesso à Internet na região
do Vale do Sinos.
A TI como prestadora de serviços: Atender a
131
REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
Figura 2: Distribuição dos livros da ITIL
expectativa que os usuários têm em relação à TI é
entregar projetos dentro do prazo e orçamento,
disponibilidade das aplicações e infraestrutura,
capacidade de expansão do negócio e resolução rápida
de incidentes. Isto requer postura e organização
orientadas à prestação de serviços e para que os centros
de serviços sejam eficazes e eficientes, necessita-se da
implantação de um sistema de Governança de TI
(Fernandes; Abreu, 2012).
2.2 BIBLIOTECA DE INFRAESTRUTURA DE
TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO - ITIL
2.2.1 O que é ITIL?
FONTE: o autor.
Segundo Gaspar, Gomez e Miranda (2010), ITIL
é um framework que reúne as boas práticas para o
gerenciamento de serviços de TI mais aceitas em todo o
mundo. ITIL é composta por um conjunto das melhores
práticas para a definição dos processos necessários ao
funcionamento de uma área de TI
(MAGALHÃES;PINHEIRO, 2007, p. 64), garantindo o
alinhamento entre TI e negócio, gerando assim valor à
organização.
3. METODOLOGIA DE PESQUISA
3.1 CARACTERIZAÇÃO DO ESTUDO
O estudo foi desenvolvido na perspectiva
qualitativa, descritiva e interpretativa, buscando
compreender a importância das Melhores Práticas em TI
e suas aplicações para os provedores de serviços e
acesso à Internet no Vale do Sinos.
Como ela não é uma receita de bolo, a ITIL
apenas demonstra as melhores práticas que podem ser
implementadas, e o como fica a critério de cada
organização.
Nesta pesquisa, fora usado como instrumento
de coleta de dados um questionário enviado, com
algumas perguntas fechadas e pré-definidas e outras
abertas às considerações dos respondentes, a
empresas do ramo de provimento de acesso à Internet
do Vale dos Sinos, assim como a pesquisa documental,
buscando adquirir informações necessárias para
responder ao problema desta pesquisa.
2.2.2 História da ITIL
Ao final da década de 1980 o governo britânico
sentiu a necessidade de disciplinar e permitir a
comparação de serviços de TI contratados de terceiros,
conhecido como outsourcing; desta forma, a Agência
Central de Comunicações e Telecom (CCTA),
atualmente conhecida por OGC, Office of Government
Commerce, montou alguns livros com descrições de
melhores práticas em TI.
3.2 CARACTERIZAÇÃO DO ALVO DA PESQUISA
As empresas do ramo de provimento de acesso
e serviços de Internet estabelecidas no Vale do Sinos,
que incluem as cidades de Araricá, Campo Bom,
Canoas, Dois Irmãos, Estância Velha, Esteio, Ivoti, Nova
Hartz, Nova Santa Rita, Novo Hamburgo, Portão, São
Leopoldo, Sapiranga e Sapucaia do Sul, são todas
consideradas de pequeno porte, segundo a
categorização da ANATEL, que se baseia no número de
clientes. Mesmo que algumas delas sejam parte de
grupos empresariais maiores, foi considerada como
relevante apenas a classificação supracitada.
Magalhães e Pinheiro (2007), além de citarem
uma pesquisa da Forester Research que dá conta de
uma estimativa de que 80% das empresas com
faturamento igual ou superior a US$ 1 bilhão, até 2008,
estariam adotando a ITIL. Os autores ainda apontam
alguns fatores motivadores para essa corrida de adoção
das práticas da ITIL, tais como, custos na entrega e
manutenção dos serviços de TI, medição de
custo/benefício por parte das empresas, frente aos
serviços de TI, avaliação de retorno dos investimentos
feitos nas áreas de TI, agilidade e quantidade de
mudanças nos serviços de TI.
A escolha desta delimitação de empresas para
a aplicação deste trabalho se deu em função dos
seguintes itens:
Ÿ redução da amostragem, frente à grande
quantidade de empresas do ramo no estado e no país;
2.2.3 Estrutura da ITIL
Ÿ as pesquisadas possuírem portes
semelhantes;
A ITIL está dividida em cinco livros que tratam
todos aspectos da gestão de infraestrutura de tecnologia
da informação e comunicação. Na figura 2 pode-se ver
como estes livros estão distribuídos, abordando de forma
mais específica cada um deles mais à frente:
Ÿ surgimento de novas empresas do ramo nesta
região.
3.3 INSTRUMENTOS E PLANOS DE COLETA DE
DADOS
Como a metodologia escolhida para a presente
pesquisa foi a qualitativa, optou-se por utilizar
132
REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
instrumentos comuns a ela, como: pesquisa aplicada no
método indutivo. Através deste método o autor pode
delimitar o universo de coleta de dados, tornando-o mais
reduzido e objetivo, porém extremamente relevante ao
estudo proposto, que, interpretados de forma integrada,
pressupõem uma abordagem mais adequada para
entender e analisar a realidade a ser investigada.
sócios proprietários atuar ativamente na área
técnica/operacional, aqui tratada por TI.
Ainda com intuito de conhecer mais sobre os
pesquisados, foi lhes questionado sobre a percepção
quanto ao que consideraram como fundamental para o
crescimento da empresa, em que 50% apontou que um
serviço de qualidade seria a chave do negócio. Conforme
o gráfico 1, nenhuma empresa citou o marketing como
fundamental e 25% apontaram que a união de preço
competitivo, excelência no atendimento e serviço de
qualidade são o que consideram de suma importância
para o crescimento do seu negócio.
Vergara (2005) indica que ao realizar a coleta
dos dados, o leitor deve ser informado de como o
entrevistador pretende obter as informações que
necessita para conseguir responder o problema. O plano
de coleta de dados foi construído com base nos objetivos
desse trabalho. Sendo assim, a coleta de dados foi
dividida em 2 (duas) partes:
Gráfico 1: Fundamental ao crescimento
1) bibliografia;
2) questionário.
Primeiramente, foi examinado o referencial
teórico sobre o assunto, através de livros, artigos e
revistas da área estudada. Em seguida, foi desenvolvido
um questionário de pesquisa na forma qualitativa.
Objetivando finalizar o processo de
planejamento de coleta de dados, contextualiza-se o
plano de análise de dados.
FONTE: O Autor.
As questões a seguir, referem-se ao mesmo
questionário aplicado aos provedores de Internet do Vale
do Sinos, e por serem de resposta aberta, fez-se uma
interpretação dos seus dados.
3.4 PLANO DE ANÁLISE DE DADOS
A análise de dados foi desenvolvida com base
no modelo descritivo, utilizando gráficos e tabelas como
apoio para a análise. O universo pesquisado se
concentrou em empresas com sede nas cidades do Vale
do Sinos e que possuem licença SCM, totalizando 37
empresas. Destas, o questionário foi enviado a 25
empresas, as demais o autor não conseguiu contato pois
os dados estavam desatualizados no cadastro que a
ANATEL disponibiliza livremente no seu site. Então, do
total, apenas 24,32% responderam à pesquisa que foi
aplicada durante o mês de julho de 2014.
Imagine a seguinte situação: Seu melhor
técnico recebe uma proposta e sai da empresa.
Como fica sua área técnica?
Análise: 62,5% dos pequenos provedores
possuem documentação das atividades da TI, o que
evidencia a importância dada pelas empresas a este
processo de gestão do conhecimento, tratado pela ITIL
como Gerenciamento do Conhecimento.
Tabela 2: Aplicação Questionário
A estratégia do negócio e a TI(operacional)
estão alinhadas? Descreva brevemente como.
FONTE: O Autor.
Análise: 7 das 8 empresas que responderam à
pesquisa afirmaram existir este alinhamento. Sendo que
algumas das respostas focaram mais em regras de
negócio, direcionadas a operação.
3.5 ANÁLISES DOS DADOS
Sua área técnica (TI/Operacional) possui
medições de desempenho? Quais os itens
avaliados?
De forma resumida, as informações obtidas
através das respostas do questionário aplicado aos
provedores do Vale do Sinos dão conta de que 62% das
empresas respondentes geram mais que 20 empregos e
que 63% possuem mais de 7 anos de existência da
empresa. Outros dados interessantes obtidos se referem
ao crescimento da base de clientes, em que 87% das
empresas afirmaram ter crescido mais que 10% no
período entre 2013 e 2014 e que apenas 38% dos
respondentes não tem o provimento de acesso como
atividade principal da empresa.
Análise: Apenas um provedor afirmou não
possuir indicadores de desempenho. Dentre os itens
mais apontados como avaliados está a quantidade de
chamados. A maioria cita sistemas de informação como
ferramentas auxiliares na geração dos indicadores.
Na área de TI/Operacional, através de
medições de desempenho, são detectados
problemas antes que seja tarde demais?
A relação do self-made men apontada no item 1
deste trabalho é evidenciada pelo fato de 38% das
empresas respondentes possuírem menos ou até 20
empregados e em 50% do total de respondentes um dos
Análise: Com certa frequência, foi o que
afirmaram 6 dos respondentes. Os indicadores de
133
REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
desempenho podem gerar um impacto
significativamente positivo para a TI, à medida que
servem como uma radiografia da estrutura atual,
possibilitando intervenções programadas, antecipando
atualizações estruturais e de softwares, evitando falhas
no serviço ou a percepção de problemas pelos seus
clientes. As medições de desempenho podem ser
associadas ao processo de gerenciamento da
capacidade abordado na ITIL, onde Gaspar; Gomez e
Miranda (2010) dizem que é preciso garantir a
performance acordada com o cliente agindo de forma
proativa para sua melhoria, além de dar apoio aos
demais processos. Considerando que apenas 25% dos
respondentes informaram que poucas vezes detectam
problemas a partir dos seus indicadores, é possível
afirmar que entre os pesquisados, os indicadores trazem
benefícios ao negócio.
Análise: 75% informaram que os serviços estão
de acordo com as prioridades do negócio, e os outros
25% apontaram que eventualmente ocorrem atrasos ou
mudanças, o que remete a um alto índice de
comprometimento da TI com as prioridades do negócio, e
indica um elevado nível de maturidade neste processo.
Sua empresa possui algum processo de
boas práticas do ITIL implantado?
Análise: Apenas uma empresa apontou que
possui processos da ITIL implantados. Em contrapartida,
todas afirmaram ter interesse em implantar os processos
da ITIL. Para esta pergunta foram considerados os
processos tais quais são descritos pela biblioteca.
Entende-se que outros processos já citados
anteriormente fazem parte da ITIL, porém podem não
estar em concordância com as boas práticas apontadas
na biblioteca. Considerando o interesse geral nas boas
práticas da ITIL, é possível afirmar que todas as
empresas respondentes compreendem a importância
deste framework para o seu negócio e esperam com a
sua implantação colher os benefícios que a ITIL pode
lhes trazer.
Sua área de TI possui um processo de
gerenciamento de mudanças?
Análise: 37,5% dos pesquisados não possui
um processo de mudança. "O objetivo do gerenciamento
de mudanças é garantir que as mudanças sejam
analisadas, registradas, autorizadas, priorizadas,
planejadas, testadas, instaladas, documentadas e
revisadas sempre de maneira controlada" (GASPAR;
GOMEZ; MIRANDA, 2010, p.227). As mudanças
realizadas sem um processo definido podem implicar em
grande prejuízo a TI/Operacional, pois podem envolver
uma interrupção nos serviços, gerando um impacto
negativo sobre a percepção de qualidade que os clientes
têm da empresa.
Caso tenha implantado um ou mais
processos da ITIL em sua empresa, discorra sobre as
dificuldades enfrentadas e benefícios obtidos.
Análise: A empresa que respondeu o
questionário informando que já possui processos da ITIL
implantados apontou como benefícios: organização das
áreas, rollback (desfazer a ação) efetivo e informação a
todos os afetados por mudanças ou interrupções. Outra
empresa informou que já realizou um mapeamento de
processos e vem trabalhando na implantação da ITIL e
aponta a falta de conhecimento e o tempo de
aprendizado como dificuldades para tal implantação.
Esta empresa e a empresa que já possui processos da
ITIL apontaram também como dificuldades a mudança
cultural necessária, sendo que uma delas expôs as
seguintes palavras: "as áreas enxergam inicialmente
como uma simples burocracia". Esta mudança cultural
está de certa forma atribuída ao perfil da alta
administração da empresa.
O ciclo PDCA é aplicado aos processos da TI?
Análise: O PDCA é um dos facilitadores na
tomada de decisões, e quando sua aplicação envolve
toda a equipe os resultados são extremamente
satisfatórios. Seis dos respondentes apontaram aplicar
este ciclo sobre os processos da TI, o que permite
concluir que nestas empresas os processos da área
operacional/TI estão bem definidos e seguidamente
passam por ajustes e melhorias.
A empresa aplica alguma prática de
transferência de conhecimento? Se sim, como é
feito?
Os processos operacionais estão mapeados
e suas regras de negócio devidamente
documentadas?
Análise: Treinamentos, Wiki e reuniões
periódicas foram os itens mais apontados nas respostas,
o que evidencia a preocupação com a formação dos
colaboradores e a nivelação técnica dos mesmos. Outro
dado importante é que 87,5% das respostas apontaram
os treinamentos como uma das principais formas de
transferência de conhecimento e 75% apontaram
ferramentas online de documentação do conhecimento.
Nas palavras de Probst, Raub e Romhardt (2002, p. 186):
A palavra falada é mais poderosa que os registros
escritos. É a melhor maneira de preservar e fixar
experiências de grupo. A fala está mais perto de nós do
que a palavra escrita. Isto auxilia na compreensão pela
preferência em treinamentos, conforme é possível
observar nos números acima expostos.
Análise: Foram obtidas 5 respostas positivas
para esta questão. As considerações acerca de regras de
negócio foram referentes à importância desta
documentação e da disseminação desta informação
entre os colaboradores da empresa, onde um dos
participantes aponta que isto inclusive colabora na curva
de aprendizagem dos novos colaboradores. Dos demais,
2 apontam que esta documentação se encontra em fase
de construção e melhoria e 1 apontou simplesmente não
ter, sem fazer considerações a respeito. O mapeamento
de processos, bem como a definição das regras de
negócio são imprescindíveis para a automatização dos
mesmos, bem como para sua adaptação a sistemas da
informação que possam ser utilizados dentro das
empresas.
Os serviços da TI / Operacional estão sendo
entregues com alinhamento às prioridades do negócio?
134
REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
A empresa fornece e gerencia os Acordos de
Níveis de Serviço (ANS ou Service Level Agreement SLA)?
da cultura da organização, além de imprescindível este
envolvimento para garantir o alinhamento do negócio
com a TI.
Análise: O SLA pode ser fator decisivo na
contratação de um serviço de Internet, principalmente
quando se fala em clientes corporativos. Conforme citado
no item 1, serviços como nota fiscal eletrônica, pagamentos
e serviços bancários online e outros serviços como
hospedagem de sites de comercialização de produtos via
Internet tornam as empresas dependentes dos serviços
prestados pelos provedores de serviços e acesso à
Internet. Assim, acordar e gerenciar os níveis de serviço
com o cliente é fundamental para conquistar a confiança
dele, gerando para o mesmo amparo legal sobre o que ele
contrata. Dos respondentes, 5 afirmaram fornecer e
gerenciar o SLA, os outros 3 informaram que não adotam
esta prática.
3.5.1 Analisar a aplicabilidade dos frameworks ITIL
às características dos pequenos provedores.
Com base nas informações coletadas através
da pesquisa aplicada aos pequenos provedores do Vale
do Sinos é possível perceber algumas características
que somadas às atividades de operação de um provedor
de serviços e acesso à Internet, agregam relevância para
a aplicabilidade dos frameworks ITIL.
"O advento da ITIL V3 trouxe ao modelo uma
grande gama de possibilidades de aplicação
nas organizações, das grandes corporações
até as empresas de pequeno porte, das
empresas com alto grau de maturidade em
seus processos até aquelas que ainda estão
iniciando seus passos na busca da qualidade
de serviços"(FERNANDES; ABREU, 2012,
p. 286).
Chiavenato (2010), afirma ainda que muitas
vezes empresas com enormes recursos financeiros e
tecnológicos não conseguem se viabilizar no médio ou
longo prazo e que dispor de recursos é uma vantagem,
mas não garante a sustentabilidade da empresa.
3.5.2 ITIL
To d a s e m p r e s a s q u e r e s p o n d e r a m o
questionário possuem mais que 3 anos de empresa,
sendo que apenas uma apontou não ter tido crescimento
superior a 10% no ano anterior. Esta relação comprova
que pequenos provedores, bem organizados,
conseguem se manter no mercado e até crescer, mesmo
enfrentando concorrentes de grande porte.
Gerenciamento de incidentes
"Um incidente pode ser uma falha de hardware,
falha de software, falha em um link, etc."(GASPAR;
GOMEZ; MIRANDA, 2010, p. 93). Estes incidentes
devem ser comunicados à central de serviços que é
responsável pelo registro e o acompanhamento até o
fechamento, que se dá com o recebimento da
confirmação de funcionamento pelo usuário. Estes
autores definem ainda que o escopo do gerenciamento
de incidentes é qualquer evento que pare ou possa parar
um serviço, citando que o registro até o fechamento é
denominado ciclo de vida do incidente.
Atentos também às evoluções e às sansões dos
governos, que cada vez mais têm direcionado as
empresas em geral a utilizarem a Internet para fazer
declarações, emitir notas fiscais e demais tarefas
burocráticas, percebe-se que o foco no segmento
corporativo é consideravelmente superior ao foco dado
por estas empresas ao mercado residencial.
De acordo com Fernandes e Abreu (2012) o
gerenciamento de incidentes o processo básico de
Gerenciamento de Incidentes consiste em nove passos,
que são fundamentais para a correta transição durante o
ciclo de vida do incidente, são eles:
Em consequência desta dependência de
acesso à Internet que o mercado corporativo passou a
ter, estes clientes passaram a exigir maior qualidade,
disponibilidade e estabilidade nos serviços que lhes são
prestados por parte dos provedores de acesso, ficando
evidente a preocupação dos provedores em suprir estas
necessidades, em que 50% dos respondentes, quando
perguntados sobre o que consideram fundamental para
o crescimento da sua empresa, indicaram a opção
serviço estável e de qualidade e outros 25%
consideraram uma união de preço competitivo,
excelência no atendimento e serviço estável e de
qualidade, conforme apresentado no gráfico 1 acima.
Identificação: Inicia-se o trabalho assim que
um incidente é identificado.
Registro: Todos os incidentes devem ser
registrados em algum sistema de informação, em que
deverão ficar armazenadas, além de outras informações
relevantes, data e hora do registro.
Classificação: É imprescindível que se registre
todos os tipos de chamadas. Esta classificação será útil ao
processo de Gerenciamento de Problemas na identificação
de quais são os tipos de incidentes mais recorrentes.
Com relação à estrutura organizacional os
pesquisados tiveram de responder uma pergunta sobre a
existência de um ou mais sócios/fundadores atuantes na
área operacional/TI. 50% das empresas o cargo de
Diretor Técnico é ocupado por um dos sócios ou
fundadores. Os fundadores da organização e, ao longo
do tempo, os seus dirigentes estabelecem uma maneira
própria de agir e interagir, ao criarem estruturas internas
para responder a interações externas, e ao transacionar
com o meio ambiente (ALMEIDA; FREITAS; SOUZA,
2011, p.21). Esta atuação direta dos sócios ou
fundadores junto à área da TI é fundamental na influência
Priorização: Inserir um código de priorização
determinado pelo impacto e urgência do incidente auxilia
a equipe de TI a priorizar a resolução de incidentes.
Diagnóstico: Inicialmente é executado pela
Central de Serviços, que tenta descobrir possíveis
sintomas e o que não está funcionando corretamente.
Caso a central não descubra, deve escalar para um
próximo nível.
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REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
Escalação: Caso o incidente não seja resolvido
pela Central de Serviço, ele deve ser escalado para outro
nível de suporte, com maior conhecimento técnico, para
que seja resolvido dentro do tempo hábil.
Gerenciamento de eventos
O conceito dado por Fernandes e Abreu (2012), é
que este processo é responsável por monitorar todos os
eventos que ocorrem na infraestrutura de TI, atestando a
normalidade da operação. Caso uma exceção seja
detectada, este processo deverá escalonar para
resolução técnica ou até para uma atuação hierárquica.
Definem ainda que eventos podem ser exceções como
incidentes, mudanças e problemas, mas também podem
ser advertências ou pedidos de informação.
Investigação e diagnóstico: Determina a
natureza da requisição, cada grupo de suporte por onde
o incidente for escalado deverá investigar o que
aconteceu de errado e fazer um diagnóstico.
Resolução e recuperação: Assim que
encontrada uma solução a mesma deve ser aplicada e
testada.
Este processo de gerenciamento está
diretamente ligado à pergunta 8 listada no quadro do item
4.4.1, pois auxilia diretamente na prevenção de incidentes
e problemas através de um trabalho proativo.
Fechamento: A Central de Serviço deverá
categorizar o motivo, documentar e fazer o fechamento
formal do incidente junto ao usuário. Caso esteja
implantada uma pesquisa de satisfação, a Central
deverá solicitar ao usuário o preenchimento da mesma.
Os eventos podem ser classificados como:
Informativo - Ex.: quando uma tarefa agendada
foi concluída.
A seguir, uma representação gráfica dos passos
supracitados e o fluxo do ciclo de vida do incidente.
Alerta - Ex.: o uso do disco rígido do servidor X
está em 85%.
Figura 3: Fluxo do Gerenciamento de Incidente
Exceção - Ex.: Quando o software de inventário
detecta um software não homologado instalado em uma
estação.
Gerenciamento de problema
Para Gaspar, Gomez e Miranda (2010), este
processo é responsável por identificar a causa-raiz dos
problemas, oferecendo soluções definitivas, que evitarão
a recorrência de incidentes e minimizarão os efeitos
negativos que os incidentes e os problemas podem gerar
na visão que os clientes possuem da empresa. Cabe
ressaltar que incidente não é um problema, e que também
não poderá virar um, pois são registros diferentes com
atividades diferentes.
Manter informações sobre problemas e soluções,
bem como soluções de contorno, são fundamentais para
que a organização possa reduzir o impacto de incidentes.
Esta função do Gerenciamento de Problemas tem relação
direta com o Gerenciamento de Conhecimento, pois
ferramentas como o banco de dados de erros conhecidos
serão utilizados por ambos.
FONTE: Apostila ITIL V3 Foundation - TI Exames.
Existem dentro do gerenciamento de incidentes
alguns papéis definidos como o do Gerente de Incidentes
que tem nas suas obrigações a constante busca pela
eficiência e eficácia do processo, produzir informações
gerenciais e relatórios, gerenciar o trabalho das equipes de
primeiro e segundo nível, gerenciar incidentes graves,
desenvolver e manter processos e procedimentos. Outros
papéis se referem às equipes de suporte, cujo primeiro
nível é feito pela Central de Serviços e suas atividades
incluem registro, classificação, escalação, resolução e
fechamento de incidentes. Já o segundo e terceiro nível são
responsáveis pela investigação, diagnóstico e recuperação
dos incidentes. O segundo nível é normalmente uma equipe
própria com maior conhecimento técnico e o terceiro nível
podem ser fornecedores externos (terceirizados).
Como um dos objetivos deste processo é
identificar e facilitar a correção de erros antes que os
clientes percebam, ele pode ser classificado como um
elemento proativo e aliado ao Gerenciamento de Eventos
corrobora a importância da monitoração e medição de
desempenho.
Gerenciamento de Nível de Serviço
Este processo é muito importante para um
provedor de serviços e acesso à Internet, conforme citado
por Gaspar, Gomez e Miranda (2010), com ele conseguese manter um claro entendimento entre a organização e
os clientes, melhorando a satisfação dos mesmos. Ele é
responsável por garantir a existência de metas
específicas para cada serviço, monitorar e aumentar a
satisfação dos clientes, garantir que seja entregue o que o
cliente contrata, assegurar a proatividade para melhorar
Fazer um bom gerenciamento dos incidentes,
sempre respeitando os Acordos de Nível de Serviço
também é uma forma de agregar valor ao serviço
prestado pelo pequeno provedor. Dar a devida
importância e priorização ao incidente registrado, muitas
vezes pelo usuário, poderá ser um dos fatores de decisão
no momento de renovação de um contrato.
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os serviços com custos justificáveis ao negócio e manter
um relacionamento com o cliente a fim de conhecer
melhor suas necessidades e expectativas. Faz parte do
escopo desse gerenciamento:
forma síncrona os ciclos de produção dos serviços (que
consomem demanda) e os ciclos de consumo de
serviços (que geram mais demanda) (FERNANDES;
ABREU, 2012, p. 264). Para Gaspar, Gomez e Miranda
(2010) este gerenciamento é responsável por analisar a
necessidade de recursos de TI para acompanhar o
negócio. Este processo deverá analisar, monitorar e
documentar os padrões do negócio para que seja capaz
de prever as demandas atuais e futuras.
Ÿ levantar, documentar e acordar os requisitos de
nível de serviço (RNS).
Ÿ gerenciar o acordo de nível de serviço (ANS) e
o acordo do nível operacional (ANO) com base no
monitoramento do desempenho dos serviços que estão
sendo entregues.
Caso a demanda não seja gerenciada de forma
eficiente, poderá ser uma fonte de risco para o provedor
de serviço devido à incerteza da demanda. O excesso de
capacidade pode acarretar custos que o negócio talvez
não consiga recuperar, visto que o cliente não pagará por
capacidade ociosa a menos que isto tenha algum valor
para ele. Por outro lado, a insuficiência de capacidade
poderá gerar insatisfação dos clientes pois certamente
afetará a qualidade dos serviços.
Ÿ revisar regularmente os serviços para
desenvolver um programa de melhoria (Service
Improvement Program -SIP) com base nas reclamações e
elogios que recebidos dos serviços que estão sendo
entregues.
Importante também citar alguns conceitos
básicos, relevantes a este gerenciamento, definidos
pelos autores Gaspar, Gomez e Miranda (2010).
Considerando que 7 dos 8 respondentes da
pesquisa apontaram ter um crescimento superior a 10%
no último ano, o gerenciamento da demanda se torna um
processo indispensável para o provedor, que poderá,
após realizar o levantamento do PAN, projetar a
aquisição de recursos para suprir a crescente demanda.
Requisitos de nível de serviço - são as
necessidades dos clientes em relação ao serviço de TI.
Acordo de nível de serviço - é um acordo
documentado entre o cliente e a organização, onde são
definidas as responsabilidades para ambos.
Gerenciamento da capacidade
"Assegura que a capacidade da infraestrutura
de TI absorva as demandas evolutivas do negócio de
forma eficaz e dentro do custo previsto, balanceando a
oferta de serviços em relação à
demanda[...]"(FERNANDES;ABREU, 2012, p. 269), em
complemento, pode-se citar Gaspar, Gomez e Miranda
(2010) que apontam que quando se fala em capacidade
se pensa em performance, que precisa ser garantida da
forma que foi acordada com o cliente, atuando de forma
proativa e dando apoio aos demais processos.
Acordo de nível operacional - é um contrato
ou acordo com um fornecedor interno, regrando a
entrega de um serviço. Este normalmente é informal.
Contrato - É um acordo formal entre a
organização e um fornecedor externo.
Fornecedor - Empresa terceirizada que é
responsável pelo provisionamento de serviços ou
produtos necessários para que a organização
(operação) possa entregar seus serviços aos clientes.
O Gerenciamento da Capacidade possui três
subprocessos, citados e conceituados por Gaspar,
Gomez e Miranda (2010):
Quando questionado aos pequenos provedores
do Vale do Sinos se suas empresas fornecem e
gerenciam o ANS, 5 empresas afirmaram fornecer e
gerenciar o ANS com seus clientes; destas, apenas uma
respondeu que teve um crescimento inferior a 10% no
último ano. Com isso, pode-se observar que este
gerenciamento, entre outras atividades, auxilia no
crescimento da empresa, pois ao estreitar o
relacionamento entre a empresa e o cliente e gerenciar
as expectativas do mesmo através de indicadores que
comprovam a eficiência dos serviços prestados, a
probabilidade de fidelização dos clientes é aumentada
devido à satisfação com os serviços recebidos. Em
conjunto a isto, a organização deve ficar atenta na
manutenção do alinhamento do planejamento
estratégico do negócio com a TI, garantindo
investimentos para que, além de suportar o crescimento,
a TI continue respeitando as metas de serviços, trazendo
uma vantagem competitiva à organização frente a
concorrentes que não façam este gerenciamento e
também não investem no mesmo.
Gerenciamento da capacidade do Negócio:
Responsável por analisar a necessidade e os planos da
empresa e transformá-los em requisitos para a
infraestrutura de TI para garantir a performance atual e
futura.
Gerenciamento da capacidade do Serviço:
objetiva coletar informações sobre o uso dos serviços
oferecidos aos clientes para entender se o desempenho
dos serviços estão conforme o acordo firmado, mesmo
em momentos de pico.
Gerenciamento da capacidade do
Componente: Este subprocesso foca nos componentes
da infraestrutura de TI, com o objetivo de conhecer o seu
uso, prevendo seu desempenho e permitindo a entrega
dos serviços conforme o ANS.
Os provedores de pequeno porte pesquisados
apontaram crescimento na sua base de clientes, o que de
certa forma pode ter refletido na capacidade de cada um
deles, principalmente para os que disseram ter crescido
mais que 10% no último ano, talvez então gerando um
Gerenciamento da demanda
Gerenciamento da demanda visa gerenciar de
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investimento para alinhar a demanda à capacidade,
tarefa esta que deve ser compartilhada com a alta
gerência da organização e inserida no alinhamento
estratégico. O processo de Gerenciamento de Demanda
aliado ao Gerenciamento de Capacidade auxilia no
equilíbrio do investimento, para que não se tenha
desperdício de recursos, o que é muito importante para
as empresas, principalmente as pequenas.
infraestrutura de provedores de Internet podem gerar
indisponibilidade. Porém, apenas um respondente
apontou que possui o Gerenciamento de Mudança
implantado baseado na ITIL.
Gerenciamento do conhecimento
O objetivo do gerenciamento do
conhecimento é assegurar que a informação
certa seja entregue até o local adequado ou
pessoa competente, no momento certo para
permitir que a decisão certa seja realizada. A
meta da gestão do conhecimento é permitir
que as organizações possam melhorar a
qualidade da gestão de tomada de decisão,
assegurando que a informação e os dados
sejam confiáveis e seguros estando
disponíveis durante todo o ciclo de vida
(GASPAR;GOMEZ; MIRANDA, 2010, p. 238)
Gerenciamento de disponibilidade
Para Fernandes e Abreu (2012), este processo
visa assegurar que os serviços de TI sejam projetados
para atender e preservar os níveis de disponibilidade e
confiabilidade requeridos pelo negócio, assim,
minimizariam os riscos de interrupções através de
atividades de monitoramento físico, solução de
incidentes e também a constante melhoria da
infraestrutura.
Alguns dos benefícios da gestão do
conhecimento:
Os objetivos deste processo são:
Ÿ capacitar o prestador de serviços para que
seja mais eficiente e melhore a qualidade do serviço,
aumentando a satisfação do cliente e reduzindo o custo
do serviço.
Ÿ desenvolver e manter um planejamento de
disponibilidade, que reflita as necessidades atuais e
futuras do negócio;
Ÿ avaliar o impacto que cada mudança possa ter
no planejamento da disponibilidade;
Ÿ assegurar que os prestadores tenham uma
compreensão clara e comum do valor que os seus
serviços oferecem aos clientes e da forma que os
mesmos são realizados.
Ÿ implantar medidas proativas para melhorar a
disponibilidade do negócio sempre que o custo seja
justificável.
Esta gerência, além de melhorar a qualidade no
processo de tomada de decisões, facilita e agiliza a
resolução de incidentes, auxilia também na iniciação de
novos integrantes nas equipes técnicas. A
documentação e a transferência de conhecimento é
muito importante para o desenvolvimento do negócio.
Todos os provedores que responderam à pesquisa
citaram as formas como fazem hoje o compartilhamento
de informações e conhecimento. Apenas 32,5% deles
afirmaram que a sua área operacional ficaria um pouco
afetada caso o melhor técnico saísse da empresa.
Nestes casos, seria recomendável o Gerenciamento e
disseminação do conhecimento.
Conforme visto no gráfico 1 apresentado
anteriormente, serviço estável e de qualidade é um dos
principais itens apontados como fundamentais para o
crescimento das empresas. No provimento de serviços e
acesso à Internet, qualidade e estabilidade estão
relacionadas diretamente com a disponibilidade dos
serviços e podem ser fatores decisivos na contratação ou
renovação dos serviços com o provedor. E, portanto
devem ser monitorados e gerenciados.
Gerenciamento de mudanças
"Gerenciamento de mudanças visa
assegurar o tratamento sistemático e
padronizado de todas as mudanças
ocorridas no ambiente operacional,
minimizando assim os impactos decorrentes
de incidentes/problemas relacionados a
estas mudanças na qualidade do serviço e
melhorando, consequentemente, a rotina
operacional da organização"(FERNANDES;
ABREU, 2012, p.273).
3.5.3 Avaliar as dificuldades enfrentadas na
implementação e gestão processos aderentes ao
ITIL
Dentre as empresas pesquisadas, apenas duas
apontaram dificuldades com relação à implementação
dos processos da ITIL, pois foram as únicas entre as
respondentes que já implementaram ou pelo menos
iniciaram uma tentativa de implementar. Observa-se que
a implantação e gestão dos processos da TI é um desafio
às organizações, visto que somente duas empresas
iniciaram este processo e relataram problemas. As
seguintes respostas foram obtidas junto às empresas:
"As maiores dificuldades foram a mudança cultural, falta
de conhecimento no modelo e tempo de aprendizado". A
outra empresa trouxe a seguinte resposta quando se
referiu ao processo de Gerenciamento de Mudanças: " as
áreas enxergam inicialmente como uma simples
burocracia".
O escopo do Gerenciamento de Mudança é
bastante amplo pois cobre desde a base de ativos de
serviço e itens de configuração, até o ciclo de vida do
serviço. Assim, este gerenciamento pode ser utilizado
inclusive para realizar melhorias no Gerenciamento de
Serviços de TI.
Como 62,5% dos pesquisados responderam
que já possuem um processo de gerenciamento de
mudanças, percebe-se a preocupação dos pequenos
provedores do Vale do Sinos com o planejamento de
suas ações, visto que boa parte das mudanças em
A implantação da Governança de TI (e a sua
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REVISTA SETREM - Ano XIV nº 26 - JAN/JUN 2015 ISSN 1678-1252
manutenção) é uma jornada sem fim. O sucesso da
implantação da Governança de TI depende
fundamentalmente de um gerenciamento da mudança
organizacional (FERNANDES; ABREU, 2012, p.185).
empresas. Entre os benefícios citados por Fernandes e
Abreu (2012), está a redução de riscos. Caso ações de
melhoria preventiva sejam tomadas em relação aos
pontos negativos do processo, a redução de custos
operacionais e melhoria da imagem perante os clientes
corroboram através do aumento da confiabilidade e
satisfação em relação aos serviços.
"Todas as organizações desenvolvem uma
cultura"(MAXIMIANO, 2005, p. 451). Este autor cita que
existem dificuldades nas pessoas em compreender e
processar mudanças ambientais, assim como uma
resistência interna generalizada à necessidade de
mudança.
"Outros benefícios poderão ser percebidos
indiretamente, tais como a redução do custo
das oportunidades de negócio perdidas (as
melhores práticas da ITIL têm sido utilizadas
como embasamento técnico para análise e
seleção de propostas de prestação de
serviços) ou falta de capacitação para o
atendimento dos serviços" (FERNANDES;
ABREU, 2012, p.289).
Rezende e Abreu (2013), colocam que há uma
formação de grupos dentro das organizações e estes
visam alcançar seus objetivos, criando uma cultura e um
clima organizacional, e que a conciliação dos interesses
destes grupos com os da empresa são muito
importantes. Também é possível citar Wagner III e
Hollenbeck (2006), que colocam que uma das funções
básicas da cultura organizacional é ajudar os membros a
dar sentido a seus ambientes, ajudando a explicar os
motivos e a forma que as coisas acontecem. Estes são
reflexos da cultura Mesoorganizacional.
Medições feitas pelo Gartner Group mostram
que a migração de uma situação em que não há qualquer
processo de Gerenciamento de Serviços de TI para a
adoção completa das melhores práticas poderá reduzir o
custo total de propriedade (TCO) de uma organização
em até 48% (fonte: www.itilsurvival.com).
Conforme Gaspar, Gomez e Miranda (2010), no
início da implementação sempre haverá muitas
reclamações, dizendo até que a TI se burocratizou, mas
que essas mudanças culturais não acontecem do dia
para a noite e que devem ser feitas gota a gota. Ainda,
conforme estes autores, esta visão de burocracia se
transforma no momento que a organização passa a
reconhecer a TI como uma geradora de valor em
serviços.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os pequenos provedores de acesso têm
crescido significativamente no Brasil nos últimos anos, e
a cada ano surgem novas empresas neste ramo para
concorrer por uma parcela, da também crescente,
demanda por acesso à Internet.
Essa concorrência hoje não se dá apenas entre
os pequenos provedores. Estes já vêm há algum tempo
concorrendo com as grandes operadoras. Os pequenos
provedores têm se especializado e aumentado a
capilaridade da sua rede, deixando de atender apenas as
periferias, regiões que normalmente as grandes
operadoras não atuam, em contrapartida as grandes
operadoras passaram a atuar em regiões mais
periféricas das cidades em busca de novos clientes.
Quanto à dificuldade de aprendizado e o tempo
que isto leva, Fernandes e Abreu (2012) recomendam
que a implementação do modelo seja feita de forma
gradual, partindo de um escopo reduzido de operações,
e trabalhando novos processos à medida que os demais
estiverem rodando. Ressaltam ainda que todos os
modelos de melhores práticas podem precisar de
adaptações em função das características de cada
organização.
Para o cliente que está cada vez mais exigente
esta concorrência tem trazido bons resultados através de
serviços mais qualificados e preços mais justos.
3.5.4 Analisar como Governança de TI pode suportar
e contribuir com o crescimento de pequenos
provedores.
E é nesta qualificação dos serviços que entram
as melhores práticas de TI, em que, através da ITIL, os
pequenos provedores podem passar a gerenciar seus
processos de TI, reduzindo custos e entregando serviços
com maior disponibilidade e qualidade, batendo assim de
frente com as grandes operadoras; porém, com um
diferencial importante, os pequenos provedores estão
próximos aos seus clientes.
Para Kotler (2009), a empresa deve dar o
máximo ao cliente, excedendo assim as expectativas de
qualidade dos clientes. Ao atender suas expectativas,
consequentemente, os clientes lembrarão das boas
experiências em relação aos serviços prestados e
indicarão a empresa, formando a conhecida divulgação
boca a boca.
Percebe-se dentre os respondentes da
pesquisa um baixo nível de maturidade no
gerenciamento de processos; porém, embora as
empresas não utilizem o embasamento em ITIL ou até
ambos em complemento, muitas delas já possuem, de
um modo ou de outro, a gestão de alguns processos.
Com isso, os objetivos propostos neste trabalho foram
atingidos, embora que se o nível de maturidade fosse
maior entre os respondentes, outras abordagens
poderiam ser feitas.
Os processos da TI em provedores de Internet
estão diretamente relacionados ao produto destas
organizações, que na realidade se trata de um serviço.
Considerando a área de TI de um provedor como todo o
corpo técnico operacional responsável pela implantação,
gestão e manutenção do parque tecnológico da
empresa, suas ações têm impacto direto no resultado
operacional da organização.
A Governança de TI, através dos modelos de
melhores práticas, trazem benefícios diretos às
Além da limitação do nível de gestão de
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processos dos provedores respondentes, pode ter
havido uma baixa adesão a respostas da pesquisa pelo
fato do autor deste trabalho ter vínculo empregatício em
uma empresa de provimento de acesso situada dentro
do universo estudado. Outro fator limitante é que o autor
deste não encontrou bibliografia ou estudos específicos
do ramo de atividade que foi objeto de estudo.
construtivos do sucesso. Porto Alegre: Bookman,
2002.
SISTEMAS ANATEL. Lista de Prestadores de Serviço
com SCM no RS. Disponível em:
<http://sistemas.anatel.gov.br/stel/consultas/ListaPresta
dorasServico/tabela.asp?pNumServico=045> Acesso
em: 28 Abril 2014.
O presente estudo trouxe significativos
conhecimentos para o autor, que atua na área. Estima-se
também que este trabalho possa colaborar com
empresas do ramo no gerenciamento dos serviços de TI.
VERGARA, Sylvia Constant. Projetos e relatórios de
pesquisa em Administração. 6ª edição. São Paulo:
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Gestão do Conhecimento: os elementos
140
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