Tudo o que pode correr mal, ocorrerá mais cedo ou mais tarde

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ID: 62471002
30-12-2015
Tiragem: 13992
Pág: 22
País: Portugal
Cores: Cor
Period.: Diária
Área: 26,00 x 31,24 cm²
Âmbito: Economia, Negócios e.
Corte: 1 de 2
Tudo o que pode correr mal,
ocorrerá mais cedo ou mais tarde
U
m futebolista disse
um dia que “prognósticos só [faria]
no final do jogo”.
Tinha razão no que
queria dizer, e
quem riu dele jogava muitíssimo
pior e falaria pouco melhor… É
sabido por quem se dedica um
pouco à teoria do risco que um
espaço de previsão demasiado
curto impede que funcionem as
leis da probabilidade, dos grandes números, da tendência para
a mediana e muitas outras sem
as quais prever passa a ser sinónimo de intuição ou… fezada.
Vamos então pela fezada:
Tudo o que pode correr mal,
ocorrerá mais cedo ou mais
tarde, como disse o Sr. Murphy;
2.
O modelo estratégico do
programa eleitoral do PS –
ainda mais “esticado” devido às
cedências ao BE/PCP – foi construído no quartil mais elevado e
otimista dos cenários existentes, os quais, além disso, têm
vindo a piorar nos últimos seis
meses;
3.
A Europa de que dependemos está paralisada pelas
suas contradições e isso significa
recuo e crise; os mercados
emergentes de que tanto dependemos (a começar por Angola)
só podem piorar em 2016/17;
9.
A provável eleição de Marcelo Rebelo de Sousa vai ser
um fator relevante na cenarização: bom intérprete da Constituição, muito experiente politicamente, vai agir no sentido da
moderação dos cenários, tentando evitar o trauma de eleições
sucessivas e tendencialmente
inúteis, e procurando forjar consensos que correspondam à tendência dominante dos cidadãos.
10.
Por isso, a previsão que
posso fazer é que tudo se
vai jogar entre (a) eleições em
Janeiro de 2017 ou reversão de
alianças que as evitem; (b) havendo eleições, vitória relativa
do PS (e então bloco central) ou
queda significativa do PS (e en-
A provável eleição
de Marcelo Rebelo
de Sousa vai ser
um fator relevante:
bom intérprete
da Constituição,
muito experiente
politicamente,
vai agir no sentido
da moderação dos
cenários, tentando
evitar o trauma das
eleições sucessivas.
tão governo de direita); (c) não
havendo eleições (se Costa as
temer e o PCP as não impuser)
bloco central “à 1983” ou coligação com CDS “à 1978”, em
qualquer dos casos para gerir
uma nova austeridade.
11.
E para não assustar ainda
mais os incautos ou desanimar os que insistem em ser
otimistas, não falo das previsões para o mundo; se o fizesse,
o pessimismo que julguem ver
neste texto pareceria o anúncio
de amanhãs que cantam ou a
concretização histórica do mito
da cornucópia... ■
O autor escreve ao abrigo do
novo acordo ortográfico
4.
Paula Nunes
JOSÉ
MIGUEL
JÚDICE
1.
Por isso, é praticamente
inevitável que o modelo do
Programa de Governo falhe;
mesmo que a estratégia pressionante do PCP/CGTP abrande;
5.
O PCP aguentará o Governo enquanto a sua análise
risco/benefício (aliás mais conservadora e pessimista do que a
de Centeno para o seu ‘business
plan’) o justificar;
6.
Será por isso altamente
provável que no final de
2016 (com a aprovação do Orçamento para 2017) ou quando
os indicadores forem mastigados pela Europa em 2017, ocorra
uma crise política grave, mesmo que não ocorra a tragédia de
todas as agências de ‘rating’
passarem a classificar como
“lixo” a dívida pública, o que
também apela à Lei de Murphy;
7.
António Costa sabe tudo
isto desde o princípio e
quer uma crise política para (a)
reforçar a sua força parlamentar passando a primeiro partido,
(b) reverter a política de alianças, deixando cair o PCP e recriando um bloco mais central
para as inevitáveis medidas de
austeridade que se seguirão;
8.
Também aqui está a apostar no quartil mais elevado
(com uma “estratégia Tsipras” –
já que temos que fazer o que nos
mandam, seja com os que mais
serão capazes de algo resistir),
mas neste caso não me parece
impossível o sucesso;
“O PCP aguentará o Governo enquanto a
sua análise risco/benefício o justificar. Será
por isso altamente provável que no final de
2016 ocorra uma crise política grave”.
ID: 62471002
30-12-2015
Tiragem: 13992
Pág: 1
País: Portugal
Cores: Cor
Period.: Diária
Área: 7,18 x 4,74 cm²
Âmbito: Economia, Negócios e.
Corte: 2 de 2
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