universidade de uberaba

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UNIVERSIDADE DE UBERABA
PROGRAMA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
ESPECIALIZAÇÃO A DISTÂNCIA EM CAFEICULTURA IRRIGADA
UNIDADE DE ESTUDO V - METODOLOGIA DA PESQUISA
BLOCO TEMÁTICO II - CAMINHOS PARA A PESQUISA
AUTOR: DANIEL DURANTE PEREIRA ALVES
1
SUMÁRIO
1 – Entendendo as Várias Possibilidades do Método Científico ....................
1.1 – Pesquisa Qualitativa e Pesquisa Quantitativa .............................................
2 – Uma Metodologia Quantitativa da Investigação Adequada à Pesquisa
Agropecuária .........................................................................................
2.1 – Exemplo de uma Hipótese Científica .........................................................
2.2 – Pesquisa Observacional e Pesquisa Experimental ........................................
2.3 – Planejando uma Pesquisa Experimental ....................................................
2.3.1 – Pesquisas Com Um só Grupo Experimental .............................................
2.3.2 – Pesquisas Com Grupos Experimentais Independentes ..............................
2.3.3 – Pesquisas Com Tratamentos Múltiplos e uma Só Variável Independente .....
2.3.4 – Pesquisas com Múltiplas Variáveis Independentes ...................................
2.4 – Técnicas de Amostragem ........................................................................
2.4.1 – Amostra Casual Simples ......................................................................
2.4.2 – Amostra Sistemática ...........................................................................
2.4.3 – Amostra Estratificada ..........................................................................
2.4.4 – Amostra por Conveniência ...................................................................
3 – A Estatística como Ferramenta da Pesquisa Quantitativa ......................
3.1 – Distribuição Aleatória .............................................................................
3.2 – Medidas de Tendência Central .................................................................
3.2.1 – Média Aritmética .................................................................................
3.2.2 – Mediana .............................................................................................
3.2.3 – Moda .................................................................................................
3.3 – Verificação da Aleatoriedade de Uma Distribuição .......................................
3.4 – Medidas de Dispersão ............................................................................
3.4.1 – Variância, Desvio Padrão e Coeficiente de Variabilidade ............................
3.4.2 – Medidas de Dispersão sobre Amostras e Graus de Liberdade .....................
3.5 – Interpretando as Medidas de Tendência Central e Dispersão ........................
3.6 – Estimando o Tamanho das Amostras ........................................................
3.6.1 – Fórmula do Erro Padrão .......................................................................
3.6.2 – Fórmula para Estimativa do Tamanho da Amostra ...................................
3.7 – Interpretando Resultados: Os Testes de Hipóteses .....................................
3.8 – Algumas Considerações ..........................................................................
4 – Bibliografia ...........................................................................................
2
1 Entendendo as várias Possibilidades do Método Científico
Uma vez que já vimos as características mais gerais da ciência, que a distinguem
das outras formas de conhecimento, e que já vimos também as características mais
gerais das diversas formulações do método científico, cabe agora nos aprofundarmos nas
técnicas e métodos específicos ao tipo de pesquisa que nos interessa aqui. A saber, a
pesquisa agropecuária em geral e, mais especificamente, a cafeicultura irrigada. Neste
contexto, o aspecto metodológico mais importante para o desenvolvimento da pesquisa
são os métodos e técnicas estatísticas, que tanto nos ajudam a projetar um experimento,
como também a analisar e interpretar os dados obtidos deste experimento.
Mas antes disso, nos deteremos de maneira bastante rápida em uma questão
fundamental que diz respeito a todas as diversas possibilidades de desenvolvimento do
método. Possibilidades estas que se distinguem entre si na medida em que são
diferentes os diversos tipos de problemas e questões que buscamos respostas através da
atividade científica. Mesmo que concordem sobre os aspectos fundamentais do método
científico, um antropólogo que deseje investigar, por exemplo, qual a auto-imagem dos
menores abandonados que dormem na Praça da Sé, em São Paulo, usará procedimentos
e métodos de pesquisa bastante diversos de um agrônomo interessado em compreender
melhor os efeitos da adição de certos complementos minerais ao solo de uma cultura de
café irrigado no município de Catalão-GO.
1.1 Pesquisa Qualitativa e Pesquisa Quantitativa
Uma distinção fundamental que se faz na metodologia da pesquisa científica diz
respeito à utilização da matemática tanto para a produção quanto para a interpretação
dos dados de uma pesquisa. Diz se que uma pesquisa é quantitativa, ou utiliza uma
metodologia quantitativa quando a natureza dos dados desta pesquisa e as principais
técnicas de análise destes dados são numéricas ou matemáticas. Quando a natureza
tanto dos dados quanto das técnicas de análise destes não for numérica ou matemática,
dizemos que se trata de uma pesquisa qualitativa.
Vejamos alguns exemplos:
3
-
um engenheiro mecânico que pesquisa uma forma de diminuir o consumo de
energia de um sistema de irrigação por pivô central lida com dados tais como
velocidade, tempo, pressão, escoamento, aceleração, entre outros. Tais
dados são expressados numericamente e exigem técnicas numéricas de
análise e interpretação que caracterizam a sua atividade de pesquisa como
quantitativa;
-
um agrônomo interessado em comparar a eficiência de dois sistemas de
irrigação de café distintos, trabalha com dados tais como: volume de água
gasto por hora, taxa de crescimento, produtividade por pé de café, relação
custo/benefício, entre outros. Estes, apesar de serem dados menos abstratos
que os do exemplo anterior, também são em sua maioria expressos
numericamente e analisados por métodos matemáticos e estatísticos,
caracterizando assim a pesquisa como quantitativa;
-
um antropólogo pesquisando a auto-imagem de menores abandonados muito
dificilmente utilizará como ferramentas principais dados e métodos de análise
numéricos. Como medir numericamente auto-imagem? Muito provavelmente
o
antropólogo
utilizará
em
sua
pesquisa
categorias
da
psicanálise,
desenvolverá histórias de vida, estudos de caso. Poderá fazer análises
comparativas com a auto-imagem de crianças em outras situações. Talvez
até utilize, em um argumento ou outro, dados e informações numéricas. Mas
compreender a auto-imagem de um grupo social exige técnicas e métodos
não matemáticos, característicos de uma pesquisa qualitativa.
É importante notarmos que o que distingue a pesquisa quantitativa da qualitativa
não é a disciplina científica à qual a pesquisa se insere. Mesmo em ciências humanas fazse muita pesquisa quantitativa. Por exemplo, um cientista político pode estar interessado
em avaliar numericamente, em termos de porcentagem de apoio e rejeição, o impacto
que a adoção pelo governo de certo programa econômico teria em uma determinada
população. Uma pesquisa desse tipo exige métodos matemáticos e estatísticos, sendo
portanto quantitativa. O que distingue fundamentalmente a forma de pesquisar
quantitativa da qualitativa é o tipo de pergunta que o pesquisador quer responder e
como ele encaminha seu trabalho para obter as respostas. Questões relacionadas ao
4
significado dos fenômenos sociais, por exemplo, que levem em conta motivações,
crenças, valores são inadequadas para serem tratadas por métodos matemáticos e
estatísticos. Elas representam o universo onde se insere a pesquisa qualitativa.
Este universo é recente na história das ciências. Costumava-se considerar
científico apenas o conhecimento obtido através dos métodos quantitativos de pesquisa,
que possuem uma uniformidade e objetividade tal, que podemos dizer que o método
quantitativo é único para todas as disciplinas científicas. Tem por base a filosofia
positivista de Auguste Comte e está "apoiado na experimentação, mensuração e controle
rigoroso dos dados (fatos), tanto nas ciências naturais como nas ciências humanas. [...]
Sua objetividade seria garantida pelos instrumentos e técnicas de mensuração e pela
neutralidade do próprio pesquisador frente à investigação da realidade"(PÁDUA[1998],
p.31).
O que importa é termos em mente que os métodos e técnicas de pesquisa
quantitativa que veremos a seguir não são os métodos e técnicas de toda e qualquer
atividade científica. São apenas os métodos mais adequados ao tipo de pesquisa que
normalmente se faz na área agrícola. Há ciência fora dos procedimentos estatísticos
padrões. O fator fundamental que determina o tipo de metodologia que deve ser adotada
em uma pesquisa científica corresponde à identificação do tipo de problema ou questão
que se deseja compreender melhor através da pesquisa. Além deste fator, podemos
acrescentar também as convicções filosóficas do pesquisador. Este no entanto é um fator
secundário, uma vez que a questão geradora e hipóteses de uma pesquisa científica já
carregam embutidas as convicções filosóficas de seus proponentes que são relevantes
para a pesquisa.
1.1.2 Exercício
Descreva sucintamente duas pesquisas científicas que possam ser caracterizadas
uma como pesquisa qualitativa e a outra como pesquisa quantitativa.
2
Uma
Metodologia
Quantitativa
da
Investigação
Adequada
à
Pesquisa
Agropecuária
5
O Ponto de partida para a atividade científica é um problema, uma lacuna, uma
questão para a qual não temos uma resposta. É a chamada questão geradora da
pesquisa. Mas a questão geradora não é suficiente. É necessário mais: uma hipótese.
Uma hipótese é uma resposta provisória, uma estimativa, uma crença do pesquisador
sobre qual seria a solução para a questão geradora. Mas enquanto estimativa e crença,
uma hipótese não tem valor científico. Não é um produto da ciência. Uma vez que o
pesquisador possui uma hipótese, o próximo passo representa a elaboração de uma
pesquisa que possa confirmar ou rejeitar a hipótese. O objetivo de toda a atividade de
pesquisa é este: transformar hipóteses em teses. Em outras palavras, tornar crenças
incertas, palpites, em resultados mais seguros e confiáveis que possam carregar o status
de conhecimento científico, de teses científicas.
Para a grande maioria das pesquisas em agropecuária, especialmente para as
ligadas aos fatores físicos e biológicos dos cultivares, é conveniente adotarmos a postura
metodológica defendida por Karl Popper. Segundo a sugestão de Popper, uma pesquisa
bem projetada é uma tentativa de falseamento da hipótese. Pesquisar é testar hipóteses.
Se uma hipótese resiste a severos testes, severas tentativas de falseamento, então é
porque ela é forte o suficiente para tornar-se uma tese e adquirir o status de
conhecimento científico. Dessa forma, segundo (REY[1998], p. 31), "o planejamento de
uma pesquisa consiste na elaboração de um plano de observação, ou de experimentação,
destinado a contestar determinada hipótese, por mais justa e sólida que possa parecer."
Considere a seguinte hipótese:
(2.1) a adição de 5% de compostos orgânicos à água de irrigação de uma cultura
jovem de mudas de café aumenta em 50% a velocidade de crescimento das
mudas. Chamemos de X a variável que indica a presença de 5% de
compostos orgânicos na água de irrigação, e de Y a variável que mede a
taxa de crescimento das mudas. Nossa hipótese então representa uma
relação causal entre X e Y. Podemos rescrevê-la como: na presença de X, Y
deve a aumentar 50%.
Elaborar uma pesquisa que teste a hipótese 2.1 é elaborar uma experiência que
possa verificar que esta relação entre X e Y sempre se dá. Deve-se realizar experimentos
onde há ausência de X e onde há a presença de X sob circunstâncias diversas. O
6
pesquisador deve tentar imaginar alguma possibilidade em que esta relação não se daria
e verificar testando-a.
Apenas como notação, chama-se as variáveis como X, que precedem a outra e
que devem ser manipuladas pelo pesquisador para verificar a hipótese de variáveis
independentes, e as variáveis como Y, que podem ter seus valores alterados conforme a
alteração de X, de variáveis dependentes.
2.1.1 Exercício
Atribua variáveis às hipóteses abaixo, identificando as variáveis independentes e
as dependentes.
a) O cruzamento da espécie (A) de café com a espécie (B) produz um café híbrido
(AB) com produtividade (grãos por planta) 20% superior à produtividade do café
da espécie (A) e 30% superior à do café (B).
b) O tratamento de uma lavoura de milho com o composto (C) diminui, em 2 meses
de aplicação, a incidência da praga (P) em 85%.
c) Para manter a produtividade de lavouras irrigadas do café (A), o método de
gotejamento necessita de 40% menos água que o método de pivô central e 70%
menos que o método de asperção.
2.2 Pesquisa Observacional e Pesquisa Experimental
Podemos caracterizar uma pesquisa quanto a sua natureza sob duas categorias:
pesquisa observacional, que é própria de fenômenos em que o pesquisador não pode
influir nem produzir experimentos, mas tem que se limitar a observações, e a pesquisa
experimental, na qual o pesquisador, para verificar sua hipótese, pode interferir nos
valores da variável independente.
Por exemplo, se estivermos interessados em verificar como o regime de chuvas
afeta a incidência de pragas nas culturas de milho de uma certa região, não há nada que
possamos fazer a não ser observar. Não temos o poder de manipular a variável
independente (quantidade de chuva). Esta será portanto uma pesquisa observacional. Já
7
a verificação da aceleração de crescimento de mudas devido a adição de componentes
orgânicos à água de irrigação pode e deve ser desenvolvida como uma pesquisa
experimental, pois é possível manipular a variável independente (presença de compostos
orgânicos na água).
2.3 Planejando uma Pesquisa Experimental
Como já vimos, o que caracteriza a pesquisa experimental ou experimentação é a
possibilidade de manipulação das variáveis independentes pelo pesquisador. Assim, a
primeira tarefa do pesquisador é descobrir, através de sua hipótese, quais parâmetros
devem ser medidos, reescrever sua hipótese em termos de variáveis e identificar dentre
essas quais serão submetidas a manipulação, representando as variáveis independentes,
e quais serão as variáveis dependentes.
É fundamental que o projeto da pesquisa permita que se façam comparações, a
fim de sabermos como as variáveis dependentes reagiram às manipulações impostas às
variáveis independentes. Estas comparações serão cruciais para testarmos nossa
hipótese.
A diversidade dos fenômenos naturais e das condições de experimentação exigem
uma grande variedade de tipos de planejamento. Apenas a título de ilustração, seguem
alguns dos exemplos mais comuns.
2.3.1 Pesquisas Com Um Só Grupo Experimental
Neste tipo de pesquisa há um único grupo de sujeitos pesquisados no qual se fará
uma ou um conjunto de repetidas observações preliminares. Em seguida aplica-se um
incremento à variável independente e faz-se novas observações no grupo para avaliar os
efeitos de tal manipulação. Este tipo de pesquisa é muito comum quando se deseja
avaliar a resposta de determinados indivíduos a alguma droga ou tratamento.
2.3.2 Pesquisas Com Grupos Experimentais Independentes
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Aqui ocorrem dois grupos pesquisados, independentes, que devem se submeter a
condições distintas de alteração da variável independente. Por exemplo, podemos
projetar uma pesquisa para testar a hipótese 2.1 separando dois grupos experimentais,
submetidos a exatamente as mesmas condições, com exceção que no primeiro, em um
dado momento, adicionaremos componentes orgânicos à água da irrigação e no outro
não. Ao final de um período comparamos as alturas das mudas dos dois grupos. A
hipótese estará confirmada se as mudas do primeiro grupo forem em média 50%
maiores que as mudas do segundo. Caso isso não ocorra a hipótese está refutada.
2.3.3 Pesquisas Com Tratamentos Múltiplos e uma Só Variável Independente
Suponha que queiramos verificar como varia o crescimento de mudas de café
irrigado conforme a concentração de componentes orgânicos na água de irrigação. Para
isso podemos separar, por exemplo, 4 grupos pesquisados sendo que a eles, aplicamos,
respectivamente, concentrações de 5%, 10%, 15% e 0% de componentes orgânicos na
água de irrigação destes grupos. Fazendo observações preliminares e após um período
das aplicações, temos meios de avaliar como a concentração de componentes orgânicos
influencia no crescimento das mudas. Este é um caso de pesquisa com múltiplos
tratamentos e uma só variável independente.
2.3.4 Pesquisas com Múltiplas Variáveis Independentes
Neste caso mede-se, em um mesmo experimento, os efeitos de múltiplas variáveis
independentes. É claro que quanto maior o número de variáveis independentes, maior o
número de combinações possíveis para os casos a serem analisados. Considere um
experimento com duas variáveis independentes A e B, sendo que nos interessam duas
condições de análise (valores) para cada uma (A1, A2 e B1, B2). Temos dessa forma 4
possibilidades diferentes para o conjunto dos valores de A e B. São elas:
ocorrem
ocorrem
ocorrem
ocorrem
simultaneamente
simultaneamente
simultaneamente
simultaneamente
A1
A1
A2
A2
e
e
e
e
B1;
B2;
B1;
B2.
9
Este tipo de pesquisa permite a identificação de possíveis interações de fatores
diversos em um dado fenômeno. Se, por exemplo, quisermos verificar as interações dos
fatores componentes orgânicos e quantidade de água sobre o crescimento de mudas de
café irrigado, podemos planejar uma pesquisa com as variáveis independentes
quantidade de água e porcentagem de componentes orgânicos na água, e analisar os
resultados que as várias combinações possíveis destes fatores têm no crescimento das
mudas.
2.3.5 Exercícios
Quais, dentre os quatro tipos de modelagem experimental apresentados acima,
são mais adequados para as seguintes situações:
a) Deseja-se verificar como varia a produtividade de uma lavoura de café de acordo
com a quantidade de água disponível para irrigação.
b) Deseja-se investigar os efeitos que a aplicação da droga (X) tem em uma
população bovina.
c) Deseja-se verificar qual dos métodos de irrigação (gotejamento ou pivô central) é
mais eficiente (necessita de menos água).
d) Deseja-se verificar quais as opções mais produtivas com relação à quantidade de
água e porcentagem de componentes orgânicos na água de irrigação de uma
lavoura de café
2.4 Técnicas de Amostragem
Chamamos de população ou universo o total de elementos de um conjunto, como
por exemplo todos os pés de café de uma lavoura. Uma amostra representa um
subconjunto qualquer de uma população. Por exemplo, 5 pés de café desta lavoura,
tomados ao acaso, representam uma amostra. Os 10 pés de café mais altos da lavoura
representam outra amostra.
Quando fazemos pesquisa, em muitos casos não é possível obter dados de toda
uma população. Quando isto ocorre temos que trabalhar com uma amostra. Escolher
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uma amostra que seja representativa de toda a população para o desenvolvimento da
pesquisa é tarefa bastante importante. Para tal existem certas técnicas de amostragem,
que dependem da natureza da população e dos dados que se quer obter. Aqui vão
algumas delas.
2.4.1 Amostra Casual Simples
Composta por elementos selecionados ao acaso na população, de modo que todo
elemento da população tem igual probabilidade de compor a amostra. É recomendada
quando a população a ser estudada não se encontra organizada sob nenhum aspecto.
2.4.2 Amostra Sistemática
Composta por elementos selecionados de acordo com algum sistema. Por exemplo,
um sistema pode ser o seguinte: em uma lavoura de milho, toma-se para a amostra
todos os pés das filas pares cuja ordem da esquerda para a direita é um número múltiplo
de 3. Esquematicamente teríamos:
fila 1: 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13
fila 2: 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13
fila 3: 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13
fila 4: 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13
fila 5: 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13
Esta técnica de amostragem é recomendada quando a população a ser estudada
encontra-se organizada de alguma forma.
2.4.3 Amostra Estratificada
Composta por elementos pertencentes a todos os estratos da população. Os
estratos são subgrupos da população reunidos de acordo com certos valores de uma
variável. Por exemplo, podemos estratificar uma população de pés de milho de acordo
com o número de espigas que eles apresentam. Assim, podemos considerar que os pés
11
que têm de 0 a 2 espigas estão no estrato 1, os que têm de 3 a 4 estão no estrato 2 e
assim por diante. Uma amostra estratificada desta população deve conter pés de milho
de todos os estratos. Esta técnica é recomendada quando a característica que define os
extratos é importante em nossa pesquisa.
2.4.4 Amostra por Conveniência
Composta por elementos selecionados de acordo com critérios não objetivos de
conveniência. Suponha que se queira pesquisar a população de pássaros que está
atacando uma determinada lavoura. Prepara-se então algumas armadilhas ao longo da
lavoura. Os pássaros capturados representam uma amostra da população que ataca a
lavoura composta por conveniência  o fato de terem sido capturados. Este tipo de
amostra é bastante criticado pelos estatísticos pelo risco de não ser representativa de
toda a população, devendo ser evitada sempre que possível. No entanto, em casos como
o do exemplo, não há escolha.
3 A Estatística como Ferramenta da Pesquisa Quantitativa
Os métodos e técnicas estatísticos ocupam importante papel na atividade científica
em geral, sendo fundamentais para a pesquisa quantitativa. É, de fato, a utilização
destes métodos e técnicas que caracteriza uma atividade de pesquisa como quantitativa.
Segundo (REY[1998], p. 45),
"(...) a aplicação da estatística ao tratamento dos resultados de um experimento ou de uma
observação científica compreende dois aspectos. O primeiro é a apresentação dos dados de forma
sistematizada, clara e sintética, a fim de que se possa entender ou visualizar o comportamento das
variáveis observadas e, eventualmente, alguma relação que haja entre elas. Este é o aspecto
descritivo da estatística (...). O segundo é aquele que permite analisar os resultados e fazer
inferências, para a tomada de decisões quanto à aceitação ou rejeição das hipóteses formuladas:
essa é a função da inferência estatística".
Ou seja, a estatística é útil tanto para apresentar os dados de uma pesquisa
quanto para ajudar na decisão sobre a validade de uma hipótese. A estas duas funções
podemos acrescentar também a importância da estatística para o projeto dos
experimentos de uma pesquisa.
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Nosso objetivo aqui é apresentarmos uma breve descrição de certas técnicas
estatísticas que auxiliem a atividade do pesquisador, tendo sempre como base a
pesquisa agropecuária. Não temos a pretensão de sermos completos em nossa
exposição, que, como dissemos, tem apenas o caráter introdutório. Três textos foram
recorrentemente utilizados por nós durante a produção deste material e devem ser
consultados pelo estudante em caso de necessidade de aprofundamento do que aqui
expomos. São eles: GOMES[1984], REY[1998] e VIEIRA[1980].
3.1 Distribuição Aleatória
Em uma lavoura de café onde todos os pés são da mesma espécie, nascidos de
sementes idênticas, plantados em solo com as mesmas características e sujeitos às
mesmas condições climáticas, poderíamos logicamente supor que todos estes pés de café
devessem ter um desenvolvimento idêntico, possuindo todos, por exemplo, a mesma
altura. No entanto, sabemos que isso não ocorre. As variações nas alturas entre cada um
dos pés de café de uma tal lavoura são devidas a um enorme conjunto de fatores que
não podemos controlar nem ao menos perceber.
Este tipo de variação, que não possui uma causa definida, é chamada pelos
estatísticos de variação aleatória e possui propriedades específicas bastante estudadas,
que são de profunda utilidade na atividade do pesquisador. Por mais que a ciência
avance na compreensão dos fenômenos, suas causas e relações, sempre haverá espaço
para a aleatoriedade, e praticamente todos os tipos de medidas que os cientistas
realizam estão sujeitas à variação aleatória. No caso das pesquisas agropecuárias, onde
estão envolvidos fatores geográficos, biológicos, físicos, químicos, e muitos outros, a
variação aleatória é sempre significativa e deve ser considerada com cuidado.
Quando, para testar a hipótese 2.1, por exemplo, utilizamos dois grupos
experimentais e dizemos que o valor da variável Y (altura das mudas de café) no grupo A
é por exemplo 40 cm e no grupo B é 30 cm, isto significa que estes números 40 e 30
foram obtidos através de medidas em muitos pés de café do grupo. São números que
representam uma tendência de cada grupo à aquela altura média. As alturas reais de
cada uma das mudas do grupo variam aleatoriamente em torno destes números. Além
disso, junto com os números 40 e 30 precisamos informar quão longe ou perto deles as
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alturas reais dos pés estão. Qual o desvio médio dos pés de café com relação a estes
números, ou seja, quão homogêneas são as alturas das plantas de cada grupo.
Entender como atribuir valores a variáveis, como estimar a confiança e
representatividade dos dados obtidos, quão grande deve ser uma amostra a fim de que
ela seja suficientemente representativa de uma população são as principais funções da
estatística descritiva sobre as quais trataremos agora.
3.2 Medidas de Tendência Central
Uma medida de tendência central representa, como o nome sugere, um valor em
torno do qual os dados de um conjunto se distribuem. A mais comum delas é a média
aritmética. Também importantes são a mediana e a moda.
Quando, em uma pesquisa, utilizamos uma amostra (ou toda a população) para
atribuir valor a uma variável, tal como a altura das mudas de café de uma lavoura, o
valor que a variável deve assumir corresponde a uma medida de tendência central dos
valores desta amostra. Em geral utilizamos a média aritmética.
3.2.1 Média Aritmética
A média aritmética ou simplesmente média representa a soma de todos os valores
de um conjunto numérico dividido pelo total de elementos do conjunto.
Considere por exemplo uma amostra casual de 6 pés de café de uma lavoura, com
as seguintes alturas em centímetros: 176,
214,
267,
198, 235, 212. A média
aritmética desta amostra é:
m=
176214267198235212
=217
6
Utilizaremos a letra maiúscula M para representar a média de toda uma população
N. A letra minúscula m, em itálico, indicará a média de uma amostra extraída da
população.
A média aritmética é então obtida através da seguinte fórmula:
14
M=
∑X
N
∑ X=X
, onde
1
+X 2⋯+X N
.
3.2.2 Mediana
A mediana representa o valor central de uma seqüência de dados, quando esta
seqüência tem uma quantidade impar de elementos. Caso a seqüência tenha uma
quantidade par de elementos, a mediana representa a média aritmética dos dois
elementos centrais.
Considere, por exemplo as duas seqüências seguintes,
X: 123, 214, 175, 91, 188
e
Y: 214, 123, 214, 175, 91, 188
Colocando-as em ordem crescente temos:
X: 91, 123, 174, 188, 214
e
Y: 91, 123, 174, 188, 214, 214
Dessa forma, a mediana da seqüência X é 175, que é o valor central, e a mediana
da seqüência Y é (174+188)/2 = 181, que corresponde à média aritmética dos seus dois
valores centrais.
Denotaremos a mediana por Me.
3.2.3 Moda
A moda é o valor que ocorre com maior freqüência em uma seqüência de
números.
Assim, na seqüência 3, 4, 4, 6, 6, 6, 8, 9, 9, a moda é 6.
Ao passo que a seqüência X: 91, 123, 174, 188, 214 não tem moda, pois nenhum
valor se repete.
Já a seqüência 3, 4, 4, 6, 6, 6, 8, 9, 9, 9, tem duas modas, 6 e 9.
Denotaremos a moda por Mo.
15
3.2.4 Exercício
Considere a tabela seguinte como representando uma pequena lavoura de café,
onde os números representam as alturas dos pés em centímetros. Calcule a média
aritmética, a mediana e a moda das duas amostras sistemáticas, uma delas constituída
pelos números marcados de vermelho e a outra pelos números marcados com amarelo.
098 123 112 136 087 099 107 124 085 102 114 097
096 114 135 128 109 097 136 127 110 094 102 107
085 103 118 129 127 136 142 126 112 135 107 103
101 100 145 127 114 104 116 122 098 099 103 111
081 096 092 113 121 132 111 127 097 100 120 098
079 087 101 099 103 110 125 111 103 098 101 085
3.3 Verificação da Aleatoriedade de Uma Distribuição
Além de informarem os pontos em torno dos quais os valores de uma amostra se
distribuem, as medidas de tendência central nos dão uma outra informação bastante
importante. Quando tomamos uma amostra razoavelmente grande, a estatística nos diz
que em uma distribuição aleatória, os valores da média aritmética M, mediana Me e
moda Mo devem coincidir. Ou seja, devemos ter M = Me = Mo. Não se trata de obter
uma igualdade absoluta, mas a diferença entre eles não pode ser significativa. Se estes
valores diferirem significativamente, isso quer dizer que a distribuição dos valores da
amostra não é aleatória, devendo haver alguma causa identificável que provoca esta
distorção.
Tal fato é bastante útil para identificarmos certos fatores que podem estar
afetando os dados de uma pesquisa. Identificados estes fatores temos duas opções: ou
os isolamos, mantendo-os inalterados, ou, caso não seja possível, associamos uma
variável independente a eles e medimos sua variação no decorrer da pesquisa.
16
3.4 Medidas de Dispersão
Apesar de as medidas de tendência central corresponderem a valores em torno
dos quais os demais se distribuem, elas não têm poder de expressar quão agrupados ou
dispersos em torno deste valor central os demais estão. Olhando apenas para a média
aritmética das alturas de pés de café de uma lavoura, não temos condição de saber se a
maioria dos pés de café tem altura próxima à média ou se a altura dos pés da lavoura
varia muito. Este outro tipo de informação é obtida através das medidas de dispersão,
sendo o desvio padrão, a variância e o coeficiente de variabilidade as mais utilizadas.
Assim, quando em uma pesquisa utilizamos a média para atribuir valor a uma
variável, temos também que informar qual a dispersão dos valores medidos em torno
desta média. Esta informação, veremos mais adiante, será útil para calcularmos a
confiança e representatividade dos dados da pesquisa. A variância, o desvio padrão e o
coeficiente de variabilidade são as ferramentas estatísticas de que dispomos para
calcularmos esta dispersão.
3.4.1 Variância, Desvio Padrão e Coeficiente de Variabilidade
Como os dados de um conjunto se distribuem em torno da média, nada mais
natural do que medir o grau de dispersão de um conjunto de dados através do desvio
destes dados em relação à média, ou seja, através da diferença destes dados em relação
à média. A variância nada mais é do que a média dos quadrados dos desvios individuais
e o desvio padrão corresponde à raiz quadrada da variância.
Assim, considerando X uma seqüência de N números temos que a variância, que
denotaremos por S2, é definida pela seguinte fórmula:
2
2
S =
2
 X 1−M    X 2− M  ⋯ X N − M 
2
N
Ou, mais resumidamente:
17
N
2
∑  X −M 
i
S 2 = i= 1
N
Logo, o desvio padrão é dado por:
S=  S 2
Vejamos um exemplo. Considere o seguinte conjunto de dados:
X: 123, 214, 175, 91, 188
Note que
M=
12321491175188
5
⇒ M= 158,2
Assim, os desvios de cada um dos valores correspondem a:
M - 123 = 158,2 - 123 = 35,2
M - 214 = 158,2 - 214 = -55,8
M - 91 = 158,2 - 91 = 67,2
M - 175 = 158,2 - 175 = -16,8
M - 188 = 158,2 - 188 = -29,8
Portanto, a variância S2 é dada por:
2
2
35,2 2  −55,8  67,22  −16,8  −29,8 
S =
5
2
2
S 2=
1239 , 043113 , 644515 ,84282 , 24888 ,04
5
S2 = 2007,76
O desvio padrão é portanto a raiz quadrada de 2007,76, ou seja:
S=  2007 ,76=44 , 80
18
Note, pela fórmula que define o desvio padrão, que este representa uma grandeza
expressa na mesma unidade dos valores do conjunto de dados. Para que possamos
comparar o grau de dispersão de diferentes conjuntos de dados, lançaremos mão do
coeficiente de variabilidade (CV), que será definido como uma grandeza absoluta, ou
seja, independente da unidade.
Definimos o coeficiente de variabilidade CV como o valor percentual que o desvio
padrão S representa em relação à média M. Ou seja:
CV=
100×S
M
Vejamos um exemplo da importância do coeficiente de variabilidade.
Considere os dois seguintes grupos de dados que representam a idade em anos de
6 indivíduos:
3, 1, 5
e
53, 51, 55
No primeiro grupo a média de idade é de 3 anos, e no segundo de 53.
Os dois grupos têm a mesma dispersão
de dados, com desvio padrão
S = 2.
Acontece que as diferenças de idade no primeiro grupo são muito mais
significativas do que no segundo, pois representam nos indivíduos do primeiro grupo um
percentual muito maior em relação às suas idades do que no segundo. É claro que a
diferença de idade entre um bebê de 1 ano e uma criança de 5 é muito mais significativa
do que a diferença de idade entre dois adultos de 51 e 55 anos. É este tipo de
informação que o coeficiente de variabilidade capta. Veja:
No primeiro grupo temos:
Já no segundo grupo:
CV=
CV=
100×2
=66 , 67
3
100×2
=3,77
53
19
O coeficiente de variabilidade dos dados do primeiro grupo é muito maior do que
no segundo, apesar dos dois grupos possuírem desvios padrão com valores idênticos e
expressos na mesma unidade (anos).
3.4.2 Medidas de Dispersão sobre Amostras e Graus de Liberdade
Note que para os cálculos do desvio padrão, da variância e do coeficiente de
variabilidade ( respectivamente S, S2 e CV) apresentados acima, utilizamos a média
absoluta M, que como definimos em 3.2.1, é calculada a partir de todos os indivíduos de
uma população.
Acontece que, na prática das pesquisas, raramente tem-se o valor da média M.
Normalmente trabalha-se com a média amostral m, obtida de uma amostra que
tomamos como representativa da população. Neste
caso, o cálculo da variância e do
desvio padrão se alteram um pouco, em função do que chamaremos de graus de
liberdade, para refletir a diminuição da confiabilidade que o trabalho com a amostra
representa. Estes novos desvio padrão e variância calculados através de amostras são
denotados por s e s2 (letras minúsculas). Assim, considerando uma amostra X com N
elementos e média m, temos que as novas fórmulas para desvio padrão e variância são:
∑  X −m 
s=
2
2
i
N −1
s=  s 2
Note que além da média amostral m no lugar de M, no denominador da expressão
de s2, diferentemente do cálculo de S 2, ocorre a subtração de uma unidade do tamanho
da amostra.
Dizemos que um sistema baseado em uma amostra com N elementos possui (N-1)
graus de liberdade. Em sistema que não é baseado em amostra, ou seja, cujos cálculos
são feitos sobre todos os elementos da população, dizemos que há infinitos graus de
liberdade.
20
3.4.3 Exercício
Considere a mesma tabela do exercício anterior, que representa uma pequena
lavoura de café, onde os números correspondem às alturas dos pés em centímetros.
Considerando as médias das amostras vermelhas e amarelas, calculadas anteriormente,
calcule os valores do desvio padrão, da variância e do coeficiente de variabilidade para
cada uma das amostras.
098 123 112 136 087 099 107 124 085 102 114 097
096 114 135 128 109 097 136 127 110 094 102 107
085 103 118 129 127 136 142 126 112 135 107 103
101 100 145 127 114 104 116 122 098 099 103 111
081 096 092 113 121 132 111 127 097 100 120 098
079 087 101 099 103 110 125 111 103 098 101 085
3.5 Interpretando as Medidas de Tendência Central e Dispersão
Veremos agora como as medidas de tendência central e de dispersão são úteis
para atividade de pesquisa, informando sobre a confiança e representatividade dos
dados. Novamente alertamos que não entraremos em maiores detalhes estatísticos. Para
os que desejem se aprofundar no assunto, além da literatura já recomendada sugerimos
LITLE & HILLS[1976].
Considere uma amostra de 11 plantas escolhidas de uma lavoura de café. Seja
176cm a altura média de pés de café da amostra, com desvio padrão de 21,3 cm.
Temos: m=176 cm, s= 21,3 e N=11.
Mas como, com estes dados, responder às seguintes perguntas?
•
Dentro de que limites variam as alturas dos pés de café da lavoura em sua
maioria?
•
Qual a probabilidade de haver nesta lavoura pés de café com alturas superiores
a 230cm? Ou inferiores a 86 cm?
21
As respostas a estas perguntas são obtidas estatisticamente utilizando-se das
propriedades matemáticas da famosa curva de distribuição normal, ou curva de gauss. A
Curva de gauss corresponde a uma função matemática que descreve, em termos ideais,
o comportamento dos fenômenos com distribuição aleatória.
A primeira pergunta acima está procurando por um intervalo de confiança.
Podemos refazê-la, mais especificamente, da seguinte maneira:
•
Quais seriam os limites de altura entre os quais 95% dos pés de café da
lavoura se encontram?
A resposta a esta pergunta corresponde ao que chamamos de intervalo de
confiança de 95% de uma amostra. Ela é obtida através de uma equação simples,
envolvendo a média, o desvio padrão e os graus de liberdade. Chamemos de Li o limite
inferior e Ls o limite superior. Temos:
L i =m− t 0 ×s 
e
L s =m+  t 0 ×s 
Onde t0 é obtido através da consulta a uma tabela que depende do número de
graus de liberdade do sistema, do grau de confiança desejado e está presente na maioria
dos livros de estatística. Apresentamos a seguir uma versão resumida desta tabela
retirada de (GOMES[1987], p. 19).
N.° de graus de liberdade
2
4
10
15
20
30
40
60
120
∞
Valores de t0
4,30
2,78
2,23
2,13
2,09
2,04
2,02
2,00
1,98
1,96
Note que a tabela que apresentamos vale apenas para um grau de confiança de
95%. Para outros graus de confiança deve-se consultar outras tabelas.
Como, em nosso exemplo N=11, temos 10 graus de liberdade e portanto, t0=2,23
e os valores para Li e Ls são:
22
Li = 176 - (2,23 × 21,3) = 128,5
Ls = 176 + (2,23 × 21,3) = 223,5
Dessa forma, respondendo à nossa pergunta, diríamos: 95% dos pés de café da
lavoura têm altura superior a 128,5 cm e inferior a 223,5 cm. Ou, dito de outra forma, a
probabilidade de um pé de café desta lavoura ter altura entre 128,5 cm e 223,5 cm é de
95%.
Esta informação já nos diz algo sobre a segunda pergunta (as probabilidades de
haverem pés de café de alturas superiores a 230 cm ou inferiores a 86 cm). Como estes
valores estão além dos limites do intervalo de confiança de 95%, certamente há menos
de 2,5% de probabilidade de haverem pés de café menores que 86 cm, e também menos
de 2,5 % de probabilidade de haverem pés de café maiores que 230 cm.
3.5.1 Exercício
Considere novamente a tabela dos exercícios anteriores, que traz as alturas de
uma pequena lavoura de café. Arredondando o tamanho das amostras vermelha e
amarela para 10 graus de liberdade, obtenha o valor de t0 da tabela acima e calcule os
limites inferior e superior do intervalo de confiança para essas duas amostras. Qual o
significado deste intervalo de confiança?
3.6 Estimando o Tamanho das Amostras
Quando trabalhamos com amostras, como quase sempre ocorre na pesquisa
agropecuária, uma questão importante que surge é como estimar o tamanho de uma
amostra de modo que ela seja representativa da população. As técnicas de amostragem
que vimos em 2.4 são úteis para nos ajudar a produzir amostras não viciadas, cujos
elementos sejam realmente obtidos da população aleatoriamente. Mas, assumindo que
utilizamos uma técnica de amostragem correta, quantos elementos devem compor nossa
amostra de modo a que os dados dela obtidos sejam significativos?
23
A resposta a esta pergunta depende de quão próximo da média verdadeira
queremos que a nossa média amostral esteja. Antes de obtê-la, vejamos como calcular o
desvio padrão da média amostral.
Suponha uma lavoura de café da qual tomamos 4 amostras com 11 elementos
cada e calculamos a média das alturas dos pés de cada uma delas. Podemos agora
calcular o desvio padrão dessas médias.
Há, no entanto, uma maneira direta de calcular o desvio padrão da média, que
chamaremos de Sm, baseada nos dados de apenas uma amostra. Seja N o número de
elementos da amostra e s seu desvio padrão. O desvio padrão da média é dado por:
(3.6.1)
S m=
s
N
Com este desvio padrão sabemos calcular o intervalo de, por exemplo, 95% de
confiabilidade para a média, ou seja, um intervalo que, com 95% de certeza, conterá a
média verdadeira. Assim, de acordo com o que vimos em 3.5, em 95% dos casos:
m−  t 0×S m  <M<m+  t 0 ×S m 
Note que (t0 × Sm) corresponde ao incremento/decremento que quando aplicado a
m, define o intervalo de confiança da média. Este incremento/decremento é chamado de
erro padrão e denotado por D. Temos:

D=  t 0 ×S m  = t 0×
s
N

Podemos agora manipular algebricamente esta equação de modo a isolar N.
Temos:
(3.6.2)

s
N= t 0 ×
D

2
Um procedimento muito utilizado para estimar o tamanho que uma amostra deve
ter, consiste em trabalharmos, preliminarmente, com uma amostra piloto para que
possamos obter os valores de s e t0 da equação 3.6.2. Mas para que possamos calcular
24
N resta saber o valor de D. Como dissemos, o erro padrão D representa o
incremento/decremento que aplicado à média amostral m produz um intervalo que com
95% de certeza conterá a média verdadeira. O pesquisador determina então que tipo de
erro padrão seria aceitável em sua pesquisa, definindo assim o valor de D. Com isso ele
obtém todas as informações necessárias para calcular, através da equação 3.6.2, o
tamanho da amostra mais adequado à sua pesquisa.
3.6.1 Exercício
Considerando D=5cm, arredondando t0 para 2,23 (dez graus de liberdade em um
intervalo de confiança de 95%) e tomando o desvio padrão s obtido da amostra amarela
de nossa tabela de alturas de pés de café, calcule uma estimativa para o tamanho N de
uma amostra que garanta, com 95% de certeza, que a média verdadeira M da população
esteja compreendida no intervalo (m-5, m+5), onde m representa a média das alturas
desta amostra.
3.7 Interpretando Resultados: Os Testes de Hipóteses
Vamos agora dar uma rápida olhada nas possibilidades de utilização da estatística
como ferramenta para interpretar e tomar decisões com relação aos dados de uma
pesquisa.
Vejamos um exemplo. Há 3 meses atrás verificamos que 20% dos pés de uma
lavoura de café estavam infectadas com uma doença A. Hoje, suspeitamos que este
número aumentou e queremos verificar.
São duas as hipóteses a verificar:
H0: a proporção de pés de café doentes continua 20%.
H1: a proporção de pés de café doentes é maior do que 20%.
A primeira hipótese é conhecida como nulidade, por razões óbvias, enquanto que a
segunda é chamada de hipótese alternativa. Podemos reescrevê-las matematicamente
como:
H0: p = 0,2
e
H1: p > 0,2
25
Para verificar se o tratamento deu algum resultado basta tomarmos uma amostra
da lavoura de, digamos, 100 plantas e verificarmos quantas delas apresentam a doença
A. Se, por exemplo, 67 dos pés da amostra estiverem doentes, parece bastante razoável
concluir que a doença se alastrou e nos decidirmos pela hipótese H 1. Mas e se
encontrarmos 21, 22 ou mesmo 24 pés doentes? O que dizer? Estes valores certamente
dariam um percentual acima de 20% em relação a amostra, mas e em relação a lavoura
toda? Será que são suficientes para explicar uma rejeição de H0 e escolha H1?
Temos que estabelecer um limite a partir do qual consideraremos a hipótese H 0
rejeitada e optaremos por H1. Mas baseado em que escolheremos este limite? O que
significa, em termos estatísticos, dizer que só vamos abandonar a hipótese H 0 se
encontrarmos, por exemplo, 40 ou mais pés de café doentes em nossa amostra de 100?
Qual seria um bom limite para que a escolha de H 1, baseada neste limite, nos desse 95%
de certeza de que é de fato H1 que ocorre na população total?
Em geral, o que se faz é escolher um nível de significância para o teste. O nível de
significância representa a probabilidade máxima que admitimos para o erro de rejeitar H 0
quando H0 for verdadeira (o que neste caso é o mesmo que escolher H 1 quando H1 é
falsa).
Assim, no nosso exemplo, ao invés de atribuirmos arbitrariamente o número 40,
ou qualquer outro, como limite entre a escolha das duas hipóteses, escolhemos um nível
de significância para nosso teste, digamos 5%, e calculamos o limite numérico a partir
deste valor. O valor mais adequado para este limite será então aquele que garantir o
nível de significância de 5% que escolhemos.
Este é um exemplo simples mas bastante típico do tipo de situação em que a
inferência estatística propiciada pelos testes de hipótese auxilia os pesquisadores na
interpretação dos resultados de suas pesquisas. Existem inúmeros tipos de testes de
hipóteses diferentes, adequados a variadas situações. A escolha e aplicação do teste de
hipótese mais adequado em uma determinada circunstância nem sempre é tarefa
simples e em muitos casos exige a ajuda de um estatístico profissional. Dentre os testes
mais conhecidos estão o teste do qui-quadrado, o teste de variância, o teste do sinal, o
teste de Walsh e muitos outros. Não vamos nos aprofundar neste tópico, mas fica aqui
26
nossa
recomendação
de
leitura
ao
estudante
interessado:
VIEIRA[1980]
e
MILLER[1977].
3.7.1 Exercício
O que a expressão nível de significância quer dizer?
3.8 Algumas Considerações
Há muitos outros tópicos da estatística que são bastante importantes para a
atividade do pesquisador agropecuário, que sequer mencionamos aqui. Em especial,
podemos citar as noções de correlação e regressão, que certamente mereceriam ser
tratadas. Nosso intuito, ao apresentar neste curso de metodologia da pesquisa alguns
rudimentos das ferramentas estatísticas úteis à pesquisa agropecuária, não foi o de
instrumentalizar o estudante para realizar o trabalho estatístico das pesquisas, o que
seria esperado de um curso de estatística, mas apenas foi o de evidenciar o valor, a
força, a importância e o caráter fundamental da estatística para o desenvolvimento da
pesquisa
científica
agropecuária.
Esperamos
sinceramente
tê-lo
atingido
e
recomendamos fortemente ao estudante interessado que consulta a bibliografia indicada.
4. Bibliografia
VIIEIRA, S. Introdução à bioestatística. 3.ed. Rio de Janeiro: Ed. Campus, 1980.
REY, L. Planejar e redigir trabalhos científicos. 2.ed. São Paulo: Edgard Blücher, 1998.
LITLE, T. & HILLS, F. J. Métodos estatísticos para la investigación en la agricultura.
México: Ed. Trillas, 1976.
MILLER, S. Planejamento experimental e estatística. Rio de Janeiro: Zahar, 1977.
GOMES, F. P. A estatística moderna na pesquisa agropecuária. 3.ed. Piracicaba:
POTAFOS, 1987.
PÁDUA, E. M. M de
Metodologia da pesquisa: abordagem teórico-prática. 3.ed.
Campinas: Papirus, 1998.
27
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