UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CURSO DE PSICOLOGIA CRIANÇAS HOSPITALIZADAS: a utilização do desenho na avaliação de respostas emocionais obtidas antes e após a intervenção dos “Terapeutas da Alegria” VANESSA ROMANIO TAX Itajaí (SC), 2007 VANESSA ROMANIO TAX CRIANÇAS HOSPITALIZADAS: a utilização do desenho na avaliação de respostas emocionais obtidas antes e após a intervenção dos “Terapeutas da Alegria” Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí. Orientadora: MSc. Giovana Delvan Stühler Itajaí (SC), 2007 Dedico este trabalho à minha mãe e minha irmã, que sempre me ajudaram e estiveram ao meu lado, e são meus exemplos do que é ser uma boa pessoa. Tudo o que eu sou hoje é resultado do imenso amor que vocês me deram. Eu as admiro muito e quero retribuir todo esse carinho com o meu amor e eterna gratidão. 4 AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus, por ter me abençoado ao me fazer encontrar pessoas maravilhosas, que me ensinam e me fazem progredir sempre. À minha mãe, Gilmarize Romanio, minha maior mestra, que me ensina a ser melhor e ter determinação sempre, por isso consegui realizar mais essa etapa em minha vida. Agradeço ao Francisco Pêssego pela preocupação comigo, pelas caronas e compras de última hora, e por cuidar bem da minha mãe. À minha irmã, Joyce Romanio, que mesmo longe se faz muito presente, através de seus conselhos e exemplo, me direcionando ao caminho certo. Agradeço ao meu cunhado, Guilherme Fontanella, que sempre alegra nosso espírito quando está por perto e é meu irmão de coração. Agradeço ao meu namorado e amigo, Thiago Dias Miranda, não somente pelo carinho, atenção, paciência e amor, mas por sempre estar ao meu lado, inclusive na coleta de dados desta pesquisa – me motivando, orientando, acreditando e me fazendo acreditar em minha capacidade. Te amo muito! Ao meu pai, Claudius Julius Lancelot Tax (que eu amo muito), pelo interesse e participação em minha vida, se preocupando sempre com o meu bem-estar e felicidade. Agradeço também a Nilda Batista, por sempre tratar a mim e a minha irmã com carinho, e por cuidar tão bem do meu pai. Agradeço também às minhas avós, Maria de Lurdes Romanio e Ursula Tax, minhas segundas-mães, obrigada pelas comidinhas caprichadas, pelo carinho, e principalmente por me incluírem sempre em suas orações. Agradeço imensamente à minha orientadora, Giovana Delvan Stühler, pessoa muito especial, por acreditar no meu projeto e aprimorá-lo a cada dia, com muita atenção, paciência, confiança, e sempre um reforço positivo! Muito obrigada! Agradeço às professoras Márcia de Oliveira e Josiane Prado, que gentilmente aceitaram participar da minha banca examinadora, e também contribuíram muito com seus conhecimentos na realização do projeto deste trabalho. Agradeço à todas as minhas amigas, e ao grupo Terapeutas da Alegria, por serem amigos que me ensinam muito todo o dia e que me incentivaram a realizar este estudo. Principalmente agradeço aos coordenadores Thatianne Abreu, Renato Cândido, Marcos Bittencourt e Lorena Chaves – por me ajudarem e acreditarem no meu trabalho. Agradeço também a todas as crianças e mães que participaram da coleta, e as enfermeiras do hospital (sempre simpáticas e receptivas). À todos, o meu muito obrigada! 5 “(...) É nesse cenário que se desenrolam cenas que mudam nossa vida para sempre, mostrando-nos novas maneiras de olhar o mundo, ensinando-nos que a única certeza que temos é a do presente, quando estamos em contato com a essência de uma criança que quer, mais do que qualquer coisa, ser criança e brincar, apesar das adversidades. Como é possível que isso aconteça? Palhaços e crianças têm isso em comum: uma total falta de necessidade de explicar ou responder tais perguntas, porque simplesmente estão muito ocupados vivendo o presente, procurando preenchê-lo com alegria”. (Wellington Nogueira – Fundador dos Doutores da Alegria, 1998). 6 SUMÁRIO RESUMO .....................................................................................................................7 1 INTRODUÇÃO .........................................................................................................8 2 EMBASAMENTO TEÓRICO ..................................................................................11 2.1 A Instituição Hospitalar; o Psicólogo Hospitalar e a Humanização da Assistência de saúde ...........................................................11 2.2 Hospitalização Infantil .......................................................................................16 2.3 O Brincar, a Arteterapia e o Desenho ..............................................................21 2.4 Os Terapeutas da Alegria .................................................................................28 3 ASPECTOS METODOLÓGICOS ...........................................................................35 3.1 Participantes ......................................................................................................35 3.2 Quadro de Participantes ...................................................................................37 3.3 Instrumentos ......................................................................................................38 3.4 Procedimentos para a Coleta dos Dados ........................................................38 3.5 Procedimentos para a Análise dos Dados ......................................................39 3.6 Trajetória da Pesquisadora ..............................................................................40 3.7 Procedimentos Éticos .......................................................................................41 4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ......................................42 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................79 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................84 7 APÊNDICES ...........................................................................................................90 7.1 Apêndice A – Termo de Consentimento da Instituição ................................ 91 7.2 Apêndice B – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ...................... 92 7.3 Apêndice C – Roteiro para entrevista semi-estruturada ...............................94 7 CRIANÇAS HOSPITALIZADAS: a utilização do desenho na avaliação de respostas emocionais obtidas antes e após a intervenção dos “Terapeutas da Alegria” Vanessa Romanio Tax Orientadora: MSc. Giovana Delvan Stühler Defesa: junho de 2007. Resumo: No trabalho com crianças hospitalizadas devem ser considerados alguns conceitos referentes à humanização do ambiente hospitalar, sendo necessários esforços para diminuir o sofrimento físico e psíquico das mesmas. O presente estudo teve como objetivo investigar possíveis mudanças na percepção da situação de internação e nas emoções de crianças hospitalizadas, após a intervenção dos “Terapeutas da Alegria” – grupo que utiliza o brinquedo de forma específica através da figura do palhaço, para levar alegria, descontração e brincadeiras às mesmas. Participaram do estudo onze crianças de 6 a 12 anos de idade (nove do sexo feminino e duas do sexo masculino), em situação de primeira internação, independente da patologia. Foram utilizados como instrumentos de coleta de dados: o desenho, realizado antes e após a intervenção dos “Terapeutas”, seguido de explicação da criança sobre o mesmo, e uma entrevista com os acompanhantes. Os dados foram analisados a partir do referencial da análise do comportamento, através da qual foi possível observar que a intervenção dos “Terapeutas da Alegria” assume a propriedade de estímulo condicionado capaz de eliciar respostas positivas nas crianças, competindo com o estímulo aversivo representado pelo ambiente hospitalar. Os desenhos antes da visita dos “Terapeutas” retrataram a experiência da criança dentro do hospital, cujos temas foram: desejo da volta para casa, procedimentos hospitalares, camas, agulhas, solidão. Os desenhos após a visita dos “Terapeutas” apresentaram diferença na elaboração, temas e relatos mais felizes, e a criança passou a desenhá-la na companhia de outras pessoas (como os palhaços, o acompanhante ou a equipe de saúde). O relato dos acompanhantes destacou a importância desta intervenção, visto que o sorriso é um indicador importante da recuperação das crianças e torna a hospitalização mais positiva. Palavras-chave: análise do comportamento, desenho, criança hospitalizada. 8 1 INTRODUÇÃO Antes mesmo de conhecer as intervenções dos “Terapeutas da Alegria”, esta atividade me interessava muito, na medida em que eu sempre acompanhava artigos dos “Doutores da Alegria” - os quais atuam com a mesma proposta. Porém, quanto mais me interessava por este assunto, mais eu me indagava sobre até que ponto esses “palhaços” realmente mudavam a percepção do hospital para a criança hospitalizada. A oportunidade de participar do Projeto “Terapeutas da Alegria”, me fez perceber, logo na primeira intervenção e de maneira assistemática, que os resultados eram visíveis. Assim, analisar esta situação de forma mais sistemática mostrou-se importante, pois estes resultados legitimariam uma intervenção humanizadora - capaz de proporcionar à criança a oportunidade de deixar sua condição de “ser doente”, para poder ser o que ela é, uma criança. A internação hospitalar, por ser uma experiência desagradável, pode causar danos irreparáveis às crianças. Durante a internação elas apresentam diferentes reações, tornando-se muitas vezes irritáveis, agressivas, depressivas ou ansiosas. Esta ansiedade causada pela hospitalização se manifesta através de alguns comportamentos, incluindo o choro excessivo, o mau humor, o negativismo, a agressão ou uma grande passividade (MITRE; GOMES, 2004). No trabalho com pacientes infantis, principalmente, devem ser considerados alguns conceitos referentes à humanização do ambiente hospitalar. São necessários esforços para diminuir o sofrimento físico e psíquico da criança hospitalizada, considerando que esta é um ser intimamente dependente de outro ser - que também sofre com o aparecimento da enfermidade. A doença pode ser vista a partir de um 9 ataque ao organismo como um todo, inclusive no aspecto emocional, o qual fica muito comprometido. Deve-se, portanto, atentar para alguns fatores da situação de hospitalização, repensando modelos de atendimento que visam à minimização do sofrimento da criança hospitalizada, tendo como princípio a promoção de saúde (MASETTI, 2003). Estudos sobre a atividade lúdica da criança (TOSTA, 2002; SOUZA; CAMARGO; BULGACOV, 2003), comprovam a importância do brincar para o desenvolvimento sensório-motor e intelectual infantil, sendo que este é um dos instrumentos mais eficazes para diminuir o estresse. Tratando-se de crianças hospitalizadas, o brincar tem um importante valor terapêutico, pois influencia no restabelecimento físico e emocional, e possibilita tornar o processo de hospitalização menos traumatizante e mais alegre - fornecendo assim, melhores condições para que este período interfira o mínimo possível no desenvolvimento da criança. Com o mesmo propósito do brincar, os “Doutores da Alegria”, influenciados pela arte do “Clown Care Unit” (iniciada nos Estados Unidos por Patch Adams e Michael Christensen), levam risadas, motivação e momentos de distração para crianças hospitalizadas. Na cidade de Itajaí, este grupo é chamado de “Terapeutas da Alegria” e ao contrário dos “Doutores” (formado exclusivamente por atores), é constituído por estudantes da UNIVALI. A missão deste grupo é ser uma organização proeminentemente dedicada a levar alegria a crianças hospitalizadas, a seus acompanhantes e a equipe de saúde – realizando uma transformação na realidade hospitalar - considerando que as crianças em situação de hospitalização necessitam de ações que possam minimizar seu sofrimento (ADAMS, 1999). Partindo dessas questões, a presente pesquisa teve como objetivo investigar através de desenhos de crianças hospitalizadas e entrevistas com os 10 acompanhantes das mesmas, a percepção da situação de internação e as respostas emocionais das crianças antes e após a visita dos “Terapeutas da Alegria”. Optou-se pelo desenho, por este ser uma das formas utilizadas pela criança para expressar suas emoções e sua compreensão do momento vivenciado, conforme sua etapa de desenvolvimento. A apresentação deste estudo seguirá a seguinte ordem: na primeira parte, o embasamento teórico, no qual os temas sobre a instituição hospitalar, o psicólogo hospitalar, a humanização da assistência de saúde, a hospitalização infantil, o brincar no hospital, a arteterapia e sobre a intervenção dos “Terapeutas da Alegria” são abordados. Em seguida, os aspectos metodológicos, os quais descrevem os métodos que foram utilizados para a coleta dos dados, assim como a metodologia utilizada na análise e discussão dos resultados. No capítulo seguinte, a apresentação e discussão dos resultados, e para finalizar, nas considerações finais, buscou-se identificar os dados mais significativos deste estudo. 11 2 EMBASAMENTO TEÓRICO 2.1 A Instituição Hospitalar; o Psicólogo Hospitalar e a Humanização da Assistência de saúde A palavra hospital tem origem no latim hospitalis, derivado de hospitalidade, que significa hospedaria ou albergue. Os hospitais surgiram na antiguidade e sua existência esteve associada a serviços religiosos - em templos que egípcios, gregos e babilônios dedicavam às divindades protetoras da saúde, e que funcionavam também como escolas de medicina ou de tratamento de pessoas enfermas. Até o final do século XVII, o hospital não era um instrumento terapêutico, mas sim um lugar destinado à exclusão, pois confinava todos os segmentos da população considerados nocivos para a sociedade: como loucos, prostitutas, pobres, além de pessoas doentes que estavam destinados à morte – visando à salvação da alma destes, e não a cura (BALLONE, 2005). Somente a partir das descobertas de Pasteur, com o advento da medicina higiênica e a associação desta com a disciplina, o hospital foi transformado em um espaço eminentemente médico, um dispositivo essencialmente de cura, onde a morte passa a ser negada, escamoteada – sendo vista como um fracasso da instituição médica (CREPALDI, 1999). Atualmente, a função hospitalar abrange desde mecanismos de promoção de saúde preventiva até os cuidados de reabilitação e a possibilidade de propiciar um final da vida com qualidade. Entre estes extremos, o hospital também possui funções como efetuar diagnósticos, permitir a cura, orientar a comunidade sobre os cuidados com a doença, assistir aos familiares dos doentes e, também, executar 12 pesquisas no campo da saúde, as quais possibilitam um aperfeiçoamento profissional (PETROFF, 2004). É válido destacar que a qualidade de vida num hospital não significa apenas ter uma atenção diferenciada por parte dos funcionários, mas primeiramente, ter recursos que garantam as necessidades básicas dos pacientes do hospital. Neder (2003) destaca esse fator ao discutir a qualidade de vida na instituição hospitalar, sendo que esta qualidade implica em que saúde, educação e subsistência digna, pelo menos, estejam recebendo a devida consideração, incluindo as necessidades básicas como alimentar, vestir e habitar. Segundo o Ministério de Saúde (1999), o hospital é parte integrante de uma organização médica e social, cuja função básica consiste em proporcionar à população assistência médica sanitária completa, tanto curativa como preventiva, sob quaisquer regime de atendimento, inclusive o domiciliar, cujos serviços externos irradiam até o âmbito familiar, constituindo-se também, em centro de educação, capacitação de Recursos Humanos e de Pesquisas em Saúde, bem como de encaminhamento de pacientes, cabendo-lhe supervisionar e orientar os estabelecimentos de saúde a ele vinculados tecnicamente. O hospital moderno, tecnologicamente avançado, busca a terapêutica, com vigor e afinco cada vez mais diferenciados, negligenciando então, quase que rotineiramente, o caráter humano dos sujeitos que necessitam de cuidados em função de estarem acometidos por uma doença (CREPALDI, 1999). O trabalho do psicólogo tem adquirido, nos últimos anos, reconhecida importância na promoção de saúde e melhoria da qualidade de vida das pessoas vinculadas a instituições hospitalares (envolvendo ações de prevenção, ações educativas e a própria intervenção), atendendo à demanda de pacientes e 13 população institucional. Entretanto, essa prática ainda está sendo construída, já que foi somente a partir do final do século XX (e no Brasil a partir da década de 60) que psicólogos começaram a atuar em hospitais (MYIAZAKI et al, 2001; STARLING, 2001; GORAYEB; GUERRELHAS, 2003). A demanda sempre existiu, mas passou a ser valorizada quando surgiram psicólogos preparados e habilitados para atuar junto aos pacientes, seus familiares e profissionais envolvidos no atendimento do doente. Conforme Campos (1995), a relevância do desenvolvimento dos Serviços de Psicologia no âmbito hospitalar veio ao encontro da necessidade de minimizar o sofrimento gerado pelo adoecimento, pelo impacto do diagnóstico - às vezes grave e sem prognóstico de cura - e pela diversidade de tratamentos por vezes prolongados e dolorosos. Os atendimentos realizados pela Psicologia Hospitalar visam dar apoio e suporte psicológico tanto ao paciente quanto aos familiares e à equipe de profissionais da saúde que, na maioria das vezes, necessitam de um espaço onde possam expressar as suas mais diversas dificuldades. A atuação do psicólogo juntamente com a criança busca minimizar o impacto da hospitalização, na medida que o significado da doença para a mesma pode depender de fatores como: idade, natureza da doença, habilidade da criança para compreender o fenômeno, experiência anterior e situação familiar. O psicólogo pode estar favorecendo o desenvolvimento infantil, através do brincar e outras atividades, para ajudar e permitir às crianças expressarem seus sentimentos, e assim facilitar a intervenção da equipe de saúde. Assim, torna-se necessário, primordialmente, incentivar o compartilhar de sentimentos e promover a autodescoberta, para que a criança possa reconhecer, aceitar e expressar suas emoções (ANGERAMI-CAMON, 2001; GABARRA; NIEWEGLOWSKI, 2005). 14 Chiattone (2003) pontua que no trabalho em Pediatria, o psicólogo atuará tentando diminuir o sofrimento da criança quando: ela teme um exame ou medicamento; quer falar de si, da doença e da família; chora pela ausência dos familiares; precisa de orientação para entender o processo de hospitalização e os procedimentos ao qual será submetida (tal como cirurgias e tratamentos invasivos); quando há necessidade de repouso, dieta ou controle de líquidos; precisa permanecer em isolamento; a permanência no hospital é prolongada ou ocorrerá com freqüência; quando se torna apática e não-comunicativa; não recebe visitas; sente-se insegura, angustiada ou precisa eliminar e esclarecer fantasias e medos; torna-se rebelde e agressiva com a equipe ou demais adultos; quer falar sobre a morte; é um paciente em fase terminal; apresenta condutas anormais ou regredidas, e em outras situações diferenciadas. A autora acrescenta ainda que o psicólogo deve focar-se em incentivar a criança a realizar atividades produtivas e expressivas (tal como o brincar) e que diminuam as sensações de culpa, medo, punição, ansiedade e abandono decorrentes da hospitalização. O psicólogo hospitalar vem integrar a equipe do hospital, juntamente com outros profissionais, pela necessidade de tornar esse ambiente mais humanizado, percebendo o paciente não somente como um corpo doente, e sim o vendo de forma mais global. Pode-se dizer, então, que a crescente busca pela humanização da assistência de saúde viabilizou também um espaço a ser conquistado pela psicologia hospitalar (PETROFF, 2004). A humanização do atendimento médico vem sendo muito questionada, principalmente quando se considera a criança doente, já tão naturalmente frágil e vulnerável. Muitas propostas surgem para tornar a Pediatria menos “dura”, menos normativa e menos distante do ser da criança. Dando início, assim, a reivindicação 15 de algumas mudanças significativas: como a permissão para que a criança permaneça internada com um acompanhante, e a criação de um espaço para que a criança pergunte sobre sua doença, esclarecendo dúvidas e diminuindo a ansiedade que poderia dificultar seu tratamento (CREPALDI, 1999). Nesse sentido, justifica-se a reflexão sobre a humanização, que deve considerar a valorização dos diferentes sujeitos implicados no processo de produção de saúde. Na questão da humanização no ambiente hospitalar, devemos salientar sua importância num momento em que existe uma situação de doença, e que, por muitas vezes, o processo de assistência ao paciente acaba sendo mecânico e padronizado (ROLIM; CARDOSO, 2006). Essa intenção humanizadora se traduz em diferentes proposições, tais como: melhorar a relação médico-paciente; organizar atividades de convívio e lúdicas, como as brinquedotecas, e outras ligadas às artes plásticas, à música e ao teatro; implementar novos procedimentos na atenção pediátrica, na realização do parto - o parto humanizado e na atenção ao recém-nascido de baixo peso; amenizar as condições do atendimento aos pacientes em regime de terapia intensiva; denunciar a "mercantilização" da medicina; criticar a "instituição total" e tantas outras proposições (PUCCINI; CECILIO, 2004). No Brasil, desde a homologação do Estatuto da Criança e do Adolescente em 1990, os hospitais são obrigados a proporcionar condições para a permanência em tempo integral de um dos pais ou responsáveis nos casos de hospitalização infantil. Mais recentemente, o governo federal implantou uma política nacional de humanização das instituições públicas de atendimento e promoção de saúde. Este projeto, denominado “Humaniza-SUS”, busca aprimorar as relações entre os usuários, profissionais e comunidade, favorecendo a autonomia e co- 16 responsabilidade dos gestores para otimizar o atendimento, tornando-o mais acolhedor e ágil (OLIVEIRA; COLLET, 1999). A humanização da assistência ao paciente é um ponto primordial para o cuidado. Assim, torna-se imprescindível à organização de um ambiente sensível, saudável, com redução das ansiedades e conflitos dos sujeitos envolvidos principalmente tratando-se da internação de uma criança (DURMAN; DIAS; ESTEFANELLI, 2002). 2.2 Hospitalização Infantil O período de hospitalização é uma experiência estressante para a criança, visto que a doença envolve profundas adaptações às mudanças no seu cotidiano. Alguns autores investigaram essa temática (ANGERAMI-CAMON, 2004; NICOLETTE, 2002; ROMANO, 2002; CHIATTONE, 2003; MASETTI, 2003) e afirmam que o cenário do hospital destitui a criança de sua função: ser criança. Os aparelhos computadorizados, as luzes que piscam, os incontáveis números de fios que limitam o movimento da criança - o soro, transfusão de sangue, as pessoas desconhecidas com suas roupas brancas e comportamentos estereotipados, as crianças destituídas de suas roupas e brinquedos; de modo que todos esses quesitos dificultam a superação da condição de ser, apenas, paciente. Os efeitos da hospitalização no desenvolvimento da criança poderão variar de acordo com sua faixa-etária (CHIATTONE, 2000): • 0 a 18 meses: sensação de abandono, tensão, agitação, insegurança, temor à aproximação, irritabilidade, apatia, estados depressivos e ansiosos, isolamento social, transtornos da alimentação e sono; 17 • 18 meses a 3 anos: culpa pela própria hospitalização, intensa sensação de desproteção e abandono, temor à perda de amor e à separação, percepção concreta da doença e hospitalização afetando a vida cotidiana, sofrimento intenso, não compreende a hospitalização, dificuldade de adaptação, fantasias assustadoras, ansiedade diante de procedimentos, perda da autonomia, aumento dos comportamentos de vínculo e regressão, luta para manter habilidades adquiridas, intensa reação contra restrições da doença, agressividade; • 3 a 6 anos: dor como punição, regressão (lambuzar-se regressivo, recusa a mastigação, perda do controle esfincteriano, chupar o dedo), anorexia, masturbação, retardo do ingresso na escola (aumento da dependência, raiva por ser diferente); • 6 a 12 anos: raiva, culpa, ressentimentos por ser diferente, interesse pelo além da morte, reações de angústia e luto, faltas escolares, insegurança, ansiedade, aumento das queixas físicas, diminuição de habilidades cognitivas e capacidade de concentração, frustração de sonhos e projetos. Desta forma, as reações da criança à doença e à hospitalização dependem também do nível de desenvolvimento psíquico na ocasião da internação, grau de apoio familiar, tipo de doença, tipos de procedimentos médicos utilizados e especialmente, do repertório de habilidades de enfrentamento que a criança dispõe (BALDINI; KREBS, 2003). Comparando o significado de saúde e de doença na percepção de crianças, Moreira e Dupas (2003) entrevistaram 14 crianças na escola e 13 crianças hospitalizadas, totalizando 27 crianças. E observaram que, para essas crianças a saúde tem um significado semelhante: representa a projeção da liberdade, bemestar, e revela as responsabilidades para possuí-la. Quanto à concepção da doença, 18 observa-se que a criança da escola tem dificuldades para compreendê-la, enquanto a criança hospitalizada vê a doença como algo que a separa da família, dos amigos, que ocasiona um rompimento nas suas atividades do dia-a-dia. Assim, a criança pode vir a encarar a doença como uma agressão externa ou uma punição, trazendo experiências traumáticas durante a hospitalização. As crianças geralmente relatam muita culpa por realmente acreditarem que erraram e em virtude disto estão sendo punidas, e este pode ser destacado como um fator que causa o intenso descontrole emocional da criança hospitalizada. Sendo que, somente quando esta entender o verdadeiro sentido do aparecimento de sua doença poderá aliviar seus sentimentos de culpa e punição (CHIATTONE, 2003). As crianças hospitalizadas também podem experimentar sentimentos relacionados à perda de controle em relação à doença, somados à perda de controle sobre seu próprio ambiente, sendo que tais sentimentos podem ter efeitos nocivos à auto-estima e à autoconfiança do indivíduo. A possibilidade de pacientes pediátricos perceberem que têm controle sobre o ambiente aumenta se tiverem maior conhecimento da situação e se confiarem nas pessoas à sua volta. Quando a presença da equipe de saúde significa algo doloroso, desagradável ou ameaçador, as crianças apresentam padrões comportamentais de fuga e esquiva, buscando sair da situação de internação, não se envolvendo em brincadeiras, evitando entrar em contato com experiências novas, deixando de explorar, experimentar ou participar de processos de tomada de decisão (DUPONT; SOARES, 2005). Pode-se dizer que a emoção da criança hospitalizada é produto do contexto em que ela está vivendo, da situação de sofrimento em que está inserida, pois o contexto hospitalar e a situação de sofrimento da doença são, também, constitutivos de suas emoções. É fato que trabalhar com emoções é uma questão fundamental 19 em psicologia, principalmente tratando-se de crianças hospitalizadas, na medida em que elas não possuem motivação para lidar com suas emoções inerentes a situação de hospitalização (SOUZA; CAMARGO; BULGACOV, 2003). Um modelo de atuação clínica que se mostra eficaz é a análise do comportamento emocional da criança hospitalizada. Esta se baseia na teoria da aprendizagem social, partindo do pressuposto de que o ambiente, as características pessoais e o comportamento situacional determinam uma pessoa - sendo o comportamento um fenômeno dinâmico e em construção. Neste modelo teórico, a emoção, o pensamento, a sensação física e o comportamento são interrelacionados, interagindo e modificando-se (STALLARD, 2004). Um dos recursos que a análise comportamental faz uso na prática clínica é a Análise Funcional ou Análise de Contingências. Trata-se da busca de identidade sistemática dos determinantes do comportamento, ou seja, os eventos ambientais antecedentes e conseqüentes que o controlam. Interpretar um comportamento significa compreender porque ele ocorre daquela forma e naquela situação. Para isto, não basta observar sua topografia, mas é necessário identificar em que situações ele ocorre e quais conseqüências produz no ambiente (MARINHO, 1994 apud MARINHO; CABALLO, 2001 p.9). Segundo Korpella (2002), as emoções podem estar ligadas a um ambiente, o qual também pode provocar sensação de privacidade, controle e segurança. Crianças se isolam ou se escondem pela necessidade de escapar de uma pressão social, sendo que somente dos 6 aos 12 anos as crianças exploram mais o ambiente que estão inseridas. Para muitas pessoas, as emoções se alteram de acordo com a mudança de ambiente, podendo gerar estresse e alterações significativas de humor. O hospital, por ser um ambiente assustador para a criança, constituí-se, de acordo com a teoria cognitivo-comportamental, como um estímulo aversivo. 20 Estímulos aversivos são aqueles que reduzem a freqüência do comportamento que os produzem (estímulos punidores positivos) ou aumentam a freqüência do comportamento que os retiram (estímulos reforçadores negativos). Frente a um estímulo aversivo, o indivíduo pode emitir comportamentos de fuga (evitação do estímulo na presença deste) ou de esquiva (evitação quando o estímulo aversivo ainda não está presente). Outra situação aversiva é a frustração, que consiste na situação em que o estímulo reforçador é inacessível ao organismo por fatores de impedimento diversos, dentre eles o fator tempo (situações em que o indivíduo precisa esperar para receber o reforço), ou situações de conflito no qual a opção por determinado tipo de reforço implica necessariamente na frustração de não obter o outro. A aceitação, por outro lado, significa tolerar as emoções associadas com um estímulo aversivo sem fugir, escapar ou atacar; ficando em contato com os estímulos que evocam sentimentos dolorosos (RANGÉ, 2001). Estudando o desenvolvimento psicológico da criança, Zannon (1991) discute aspectos da intervenção comportamental no ambiente hospitalar em nosso país, com destaque para a despersonalização dos pacientes, decorrente da cultura hospitalar que pode ser caracterizada pelo reforçamento de comportamentos deprimidos. Dessa forma, parece inevitável encontrar no hospital crianças com depressão. Na recuperação deste paciente as condições emocionais e comportamentais ajudarão em muito, não apenas no ímpeto de recuperação do processo de hospitalização em si, mas especialmente, na forma como a doença foi configurada e sedimentada em seu imaginário. É fundamental, portanto, criar mecanismos para promover um ambiente que não reforce esses comportamentos e ajude a criança a enfrentar as dificuldades da hospitalização e da doença. 21 2.3 O Brincar, a Arteterapia e o Desenho Entre as possíveis estratégias utilizadas por crianças para enfrentar condições estressantes encontra-se o brincar. Em todas as idades o brincar é realizado por puro prazer e diversão, criando uma atitude alegre em relação à vida e à aprendizagem, sendo que as atividades lúdicas e criativas são essenciais e autênticas para a vida da criança. Através das atividades lúdicas a criança assimila valores, adquire comportamentos, desenvolve diversas áreas de conhecimento, exercita-se fisicamente, aprimora habilidades motoras e, também, integra-se ao ambiente que a cerca (SANTOS, 1997; MOYLES, 2002). O termo "brincar" é usado para definir um conjunto de atividades que se assemelham entre si por seu caráter lúdico. Brincar na infância é o meio pelo qual a criança vai organizando suas experiências, descobrindo e recriando seus sentimentos e pensamentos a respeito do mundo, das coisas e das pessoas com as quais convive, por isso: quanto mais intensa e variável for a brincadeira e o jogo, mais elementos oferecem para o desenvolvimento mental e emocional infantil. Através das brincadeiras as crianças vivem situações ilusórias e aprendem a elaborar o seu imaginário, e muitas vezes até a buscar a realização de seus desejos, mesmo que sejam irrealizáveis (FERRAZ, 1999 apud VALLADARES, 2003, p. 24). No ambiente hospitalar é provável que a criança experimente mais dificuldades em se expressar do que na sua rotina diária (em casa ou na escola). Por meio do brincar a criança se comunica com o mundo e se expressa, gerando uma fonte de dados que propicia a compreensão do desenvolvimento infantil, na medida em que as atividades lúdicas envolvem emoções, afetividade, estabelecimento e ruptura de vínculo. E desta forma pode-se compreender também a dinâmica interna infantil, já que através do brincar a criança exprime seus 22 sentimentos, realiza seus desejos, favorece seu desenvolvimento afetivo e cognitivo; o que a ajuda a conhecer e a dominar seu próprio corpo e a manter as relações sociais (MITRE; GOMES, 2004; MOTTA; ENUMO, 2004; VALLADARES, 2004). Do ponto de vista da criança, o interesse e o uso da brincadeira devem-se principalmente ao efeito imediato que têm ao se divertir e se entreter. Ao brincar no hospital, a criança altera o ambiente em que se encontra, aproximando-o de sua realidade cotidiana, o que pode ter um efeito positivo em relação a sua hospitalização. Com isso, de acordo com Motta e Enumo (2004), a própria atividade recreativa, livre e desinteressada, tem um efeito terapêutico, quando se considera terapêutico tudo aquilo que auxilia na promoção do bem-estar da criança. O brinquedo, no hospital, assume o significado de instrumento, com funções específicas e formas próprias de aplicabilidade. Chiattone (2003) divide os tipos de brinquedos em duas categorias, o brinquedo livre e o brinquedo dirigido. As atividades com o brinquedo livre são desenvolvidas com todos os materiais que se encontram disponíveis, em atividades que são desenvolvidas pela criança, mas orientadas e observadas por um coordenador. As crianças se posicionam dentro das brincadeiras diante de determinados assuntos que são orientados por um coordenador quanto à elaboração das questões que emergirem. As atividades com o brinquedo dirigido são previamente estruturadas e dizem respeito ao trabalho com temas específicos, relacionados a uma problemática que pode ser individual ou de um grupo de crianças. Estas atividades têm por objetivo facilitar a elaboração de sentimentos em relação a uma determinada questão e elaborar estratégias de enfrentamento. A manipulação do material está diretamente ligada ao momento da vida das crianças e facilita a verbalização dos sentimentos encobertos. No caso específico da aplicação de técnicas lúdicas em 23 hospitais, os brinquedos abordam temas hospitalares, como por exemplo: bonecos que representam a família, o paciente e a equipe hospitalar; bonecos que deixam à mostra os órgãos internos; instrumentos cirúrgicos, de exames e de procedimentos médicos em miniaturas de plástico; maquetes de hospitais e enfermarias; carrinhos de ambulância; roupas idênticas às da equipe; materiais utilizados pela equipe de enfermagem; e livros de histórias em que o tema esteja ligado ao período de hospitalização ou processo de saúde-doença (CHIATTONE, 2003). Conte e Regra (2000) apontam que o brincar pode ajudar de várias formas no processo psicoterapêutico, sendo que um dos recursos que oferece é identificar como se dão às interações entre a criança e as pessoas de seu ambiente. Neste sentido, o brincar possibilita junto ao cliente a identificação destes comportamentos de maneira descontraída. Freqüentemente o processo de identificação e operacionalização dos comportamentos-alvo são feitos juntos aos pais e outros membros da família. No entanto, através do brincar a própria criança pode contribuir, completando as informações fornecidas pelos pais. A inclusão de brincadeiras, visando o relaxamento da criança, foi sugerida por Löhr (1998) em seu estudo sobre a intervenção psicológica em crianças com câncer em tratamento. A autora aponta a atividade lúdica como uma estratégia cognitivo-comportamental, através da qual a criança pode obter um certo controle sobre a situação a ser enfrentada. Para realizar tal controle, uma gama de atividades podem ser benéficas, dentre elas: brincadeiras estruturadas, pintar desenhos, usar das técnicas de relaxamento, da distração, e da construção de imagens indutoras de relaxamento. Para tanto, utiliza-se também a chamada Arteterapia, pois esta integra os conhecimentos advindos da Psicologia às atividades artísticas, trabalhando com o 24 potencial terapêutico, pedagógico e de crescimento pessoal contido em todas as formas de arte, através de técnicas expressivas e vivenciais (desenho e pintura, colagem, modelagem e escultura, dramatização, contar histórias, música, dança e expressão corporal, relaxamento e visualização criativa) para facilitar o reconhecimento e desenvolvimento de potenciais, o tratamento do sofrimento psíquico, e o autoconhecimento (VALLADARES, 2004). Por meio destas técnicas pode-se compreender mais profundamente a vida infantil (aspectos motores, cognitivo, perceptivo, afetivo, cultural), daí a importância desse processo para os profissionais da Arteterapia que lidam com crianças. E o mais relevante não é somente o produto final construído pela criança, mas toda a trajetória do processo, através da qual podem-se captar tanto seu nível de desenvolvimento como seu comportamento como um todo (VALLADARES, 2003). A Arteterapia motiva a criança para exercitar sua criatividade de forma natural, além de afastá-la do desagradável, da dor, da ansiedade, da monotonia, propiciando a exteriorização de impulsos agressivos, medos e temores. Assim, possibilita à criança expandir seus potenciais e recursos para que o seu desenvolvimento transcorra de maneira saudável e integrada, desenvolvendo sua criatividade, aumentando a sua autoconfiança e auto-estima, e facilitando sua aprendizagem (CARVALHO, 2001). Utiliza-se a Arteterapia no ambiente hospitalar por esta oferecer oportunidades que levam a criança a aceitar com mais naturalidade as situações indesejáveis, auxiliando na adaptação às rotinas hospitalares do pré-operatório e a restabelecer o equilíbrio emocional. O trabalho com as modalidades expressivas permite gerar um processo de organização do real e de sua criação, implicando na transformação de significados (VALLADARES, 2004). 25 No trabalho com várias modalidades expressivas no contexto hospitalar, destaca-se uma atividade também realizada através da Arteterapia: o desenho. Segundo Machado (2001), antes mesmo de a criança conseguir utilizar a escrita formal, ela representa a realidade através do desenho – que é parte constitutiva do processo de desenvolvimento e que, portanto, acaba possuindo uma narrativa que para o adulto muitas vezes pode não ser compreensível. Com o desenho, a criança simboliza e expressa o que sente, questionando o mundo externo e conseguindo lidar melhor com seus conflitos. O desenho como atividade expressiva pode ser utilizado em crianças hospitalizadas para revelar suas angústias, medos e pensamentos. A premissa de que a criança desenha menos o que vê e mais o que sabe de um objeto é um ponto de concordância entre diferentes concepções teóricas sobre o desenvolvimento do desenho. Como processos complexos, a memória e a imaginação transparecem no desenho por meio dos esquemas figurativos dos objetos reais que fazem sentido para a criança e que estão carregados de significação. No momento em que a criança desenha (atividade expressiva), ela materializa em seu desenho a imagem que criou internamente para dar conta das suas emoções, confirmando a idéia de que, por meio da materialização, a criança conhece, organiza e elabora sua emoção (FERREIRA, 2003). Através do desenho infantil é possível também realizar a análise funcional. Autores como Meyer (1997), Silvares e Meyer (2000) e Vandenberghe (2002) mostram a importância da análise funcional, no sentido de conhecer os procedimentos para a elaboração da mesma, identificando e operacionalizando os comportamentos-alvo, seus antecedentes e conseqüentes e a inter-relação entre os três, formulando hipóteses sobre esta inter-relação. A análise funcional é uma etapa 26 importante na avaliação comportamental que propiciará a decisão sobre as técnicas e procedimentos adequados para a intervenção, estabelecendo-se assim, mudanças comportamentais que levem o cliente a uma melhor adaptação ao seu ambiente. A análise funcional é, então, a identificação das relações entre os eventos ambientais e as ações do organismo. Para estabelecer estas relações deve-se especificar a ocasião em que a resposta ocorre, a própria resposta e as conseqüências reforçadoras. Quando as relações entre esses eventos são de dependência temos as “contingências de reforço”. Silvares e Meyer (2000) e Vandenberghe (2002) ressaltam a importância da identificação e operacionalização dos comportamentos submetidos à análise funcional, na qual o desenho da criança constitui-se em um instrumento facilitador na interação entre terapeuta e paciente. Os autores Renzo e Castelbianco (1997) ressaltam que o desenho deve ser considerado não apenas como uma modalidade de expressão ou de representação da realidade, mas também como o resultado de atividade intencional envolvendo aspectos cognitivos e emotivos no ajuste da criança com a realidade que convive. A criança dos seis aos doze anos de idade passa por alterações significativas em sua vida, uma vez que, nesse período, seu raciocínio apresenta-se mais lógico: sendo que ela já compreende mais corretamente os fatos, amplia suas relações e se distancia do convívio familiar, movendo-se no contexto social em direção aos grupos de pares. Também o percurso evolutivo da arte infantil segue paralelamente ao desenvolvimento geral da criança. Os desenhos de crianças nesta faixa-etária possuem as seguintes características específicas (CARVALHO; VALLADARES, 2006): • Ela simboliza o objeto de acordo com sua aparência visual. Nessa fase, há a tendência da reprodução da realidade para os objetos, personagens, locais etc. 27 A cor também é realista, então, substitui a transparência pela opacidade e preocupase com o acabamento, deixando aparecer as proporções e a linha de contorno; • Aumenta a busca por detalhes e o desenho da criança mostra mais claramente as influências das mediações sociais, históricas e culturais. Seu cotidiano aparece mais claramente nesse universo representativo de pessoas, animais, brinquedos, objetos, natureza, produções culturais e sociais de sua época, como televisão, histórias em quadrinhos, desenho, jogos, brincadeiras; • Aparecem os planos deitados (axial e irradiante) e também há a criação de planos e sobreposições. A criança usa a descontinuidade, o rebatimento, a transparência, a planificação e a mudança de pontos de vista. Ela mantém a linha de base e o céu, mas ainda não apresenta a luz, a sombra e a tridimensionalidade, é apenas seu início; • O desenho da casa, por exemplo, torna-se mais objetivo e realista, desprovido de fantasia como acontece em idade inferior, assim, normalmente a criança, ao fazer a fachada exterior da casa, com freqüência introduz no desenho seres humanos, objetos e a natureza. Possui uma visão mais integrativa da casa, pois a percebe como um lar, com suas denominações de calor, proteção, e amor: este desenho simboliza o local onde encontra afeto e segurança. Partindo do pressuposto de que o desenho da criança externaliza sua realidade conceituada (ou seja, o que a criança sente), e de que é esta realidade significada pela figuração e pela palavra que acompanha e também interpreta o que a mesma desenha, pode-se averiguar o quanto o desenho de uma criança hospitalizada poderá demonstrar suas emoções, mesmo se estiverem em constante modificação, pois, o que a criança desenha depende do conhecimento ativo que a mesma possua do ambiente a ser representado (FERREIRA, 2003). 28 Finalmente, o valor narrativo do desenho tem sobretudo um significado simbólico. Ele nos mostra a maneira como a criança, através das coisas, vive os significados simbólicos que ela lhes atribui. É a reunião de seu mundo imaginário que se reflete no seu desenho. O que ela não pode nos dizer de seus sonhos, emoções, nas situações concretas, ela nos indica pelos seus desenhos (GRUBITS, 2003). De acordo com Petroff (2004), os desenhos operam também em um nível metafórico, tendo relação entre dois modos de expressão: o icônico e o lingüístico. Quando são questionadas sobre o significado de seus desenhos, as crianças freqüentemente respondem “eu não sei”; isto pode querer dizer que a criança ainda não tem habilidade com a pintura ou desenho, como também que aquele desenho não tem um significado lingüístico. No entanto, com o desenvolvimento da criança, ela passa a desenhar apenas aquilo que tenha correspondência na linguagem escrita e oral, ou seja, um significado. 2.4 Os Terapeutas da Alegria A importância do brincar e do conhecimento de modalidades expressivas que possam minimizar o sofrimento de crianças na situação hospitalar ganhou relevância social principalmente a partir do trabalho do médico Patch Adams (1999), nos Estados Unidos, cuja história pessoal foi popularizada através de filme. No trabalho de Adams, o brinquedo é utilizado no contexto hospitalar de forma específica, através da figura do palhaço (técnicas do teatro clown), com a função de alegrar o ambiente e amenizar as sensações desagradáveis da hospitalização. 29 Em 1986, Michael Christensen, diretor do Big Apple Circus de Nova York, apresentava-se numa comemoração em um hospital daquela cidade, quando solicitou uma visita às crianças internadas que não poderiam participar do evento. Improvisando, substituiu as imagens do internamento por outras alegres e engraçadas. Essa foi a semente do Clown Care Unit - grupo de artistas especialmente treinados para visitar crianças internadas em hospitais dos Estados Unidos. A partir da atuação de Christensen e Adams, o clown no hospital se disseminou por diversas partes do mundo, tendo representantes como Wellington Nogueira, aqui no Brasil – o fundador dos “Doutores da Alegria”, tornando-se referência para outros conhecerem e seguirem seu trabalho (BALIEIRO, 1997). Como já foi citado, situações críticas como a hospitalização, demandam em alto grau de elaboração na medida em que geram ansiedade e medo em relação aos acontecimentos nem sempre compreendidos. Nesse sentido, o humor permite à criança explorar fatos que, por obstáculos pessoais, não são possíveis de serem realizados de forma consciente. Tal acesso permite a liberação da energia investida no problema, que então pode ser utilizada em outros pontos importantes na recuperação da saúde (MACHADO; MARTINS, 2002). Segundo Masetti (2003), a possibilidade dessa liberação se dá pela estrutura de funcionamento dos processos humorísticos, que é descrita como análoga aos mecanismos presentes nos sonhos e que serve de instrumento importante para lidar com conflitos e para a manutenção do equilíbrio físico e mental. Para a autora, o sorriso é a expressão observável de todo esse processo. Os efeitos benéficos do riso, segundo Jara (2000), são reconhecidos por profissionais médicos e psicólogos. Dentre estes efeitos são citados a melhora da circulação sanguínea, o relaxamento muscular, a oxigenação dos pulmões, 30 eliminação de toxinas e produção de endorfinas, contribuindo também para o esquecimento das experiências ruins e confiança em um futuro melhor. De acordo com Lambert (2001), o riso promove a liberação de endorfinas, que promovem bem estar geral, melhora a circulação e a pressão arterial e fortalece as defesas orgânicas. O autor acredita ainda que rir e sorrir são modos de nos expressarmos de forma agradável e exprimirmos nosso prazer de viver. Adams (1999) relata que as tensões têm efeito na fisiologia, e que elementos como humor, amor, surpresa, curiosidade, paixão, perdão, alegria e entusiasmo, estimulam o sistema imunológico contra infecções, fortalecem as células que combatem o câncer, e afetam na forma das pessoas cuidarem de si e dos outros. Com o objetivo de trazer o sorriso, humor, o brincar, a arte e a alegria para a criança hospitalizada e ser um instrumento para a minimização do sofrimento causado pela internação, existem projetos como os “Terapeutas da alegria”. Este é um projeto de extensão da Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI, existente também em Tubarão e Joinville (SC). O projeto, atualmente, é formado por quase 50 alunos da área da saúde em Itajaí, e visita semanalmente três hospitais da região: o Hospital Universitário Pequeno Anjo, o Hospital Maternidade Marieta Konder Bornhausen (ambos em Itajaí), e o Hospital Santa Inês (em Balneário Camboriú). O grupo é formado exclusivamente por estudantes (sem qualquer tipo de pretensão artística ou treinamento), os quais possuem a oportunidade de desenvolver o espírito interdisciplinar e sensibilizado no atendimento ao paciente, exercitando uma abordagem integral e humanizada, trabalhando voluntariamente. A ação voluntária presente na sociedade brasileira desde o século XVI ganhou novas e importantes dimensões nos últimos dez anos, sendo que esse movimento vem se 31 caracterizando pelo crescente envolvimento de pessoas que expressam sua solidariedade e cidadania doando seu tempo, trabalho e talento para causas sociais (FONSECA, 2005). Assim, utilizando a figura do palhaço que acredita ser médico ou um “besteirologista”, o voluntário passa a fazer parte do dia-a-dia das enfermarias, concentrando-se no presente e na construção de uma relação lúdica com as crianças. O trabalho do palhaço é regido por uma regra fundamental, a da verdade e transparência, o jogo é espontâneo, improvisado e baseado na troca entre ambos; pois o palhaço aprende a viver da fantasia - da mesma maneira que a criança (AQUINO; MARTA, 2004). E a fim de valorizar ainda mais esta troca, os “Terapeutas” fazem uso até mesmo de um vocabulário próprio, o qual remete a criança ao seu próprio universo: o da imaginação e da brincadeira. Deste modo, o que era soro vira “água de coco”, o equipo do soro é o “canudinho”, a primeira cirurgia é a “extração do mau-humor” ou o “transplante do nariz vermelho”, assim, o ofício do palhaço passa a indicar um novo sentido para a realidade hospitalar (FRANÇANI; ZILIOLI, 2000). Porém, não se trata somente de recreação, já que os “Terapeutas” trabalham com músicas temáticas (incentivando a boa alimentação, higiene e o levantar do leito), as quais também informam sobre procedimentos invasivos (medo de injeções e cirurgias, por exemplo), que além de alegrar o ambiente, ocasionam conforto aos pequenos pacientes - tornando de fácil acesso, para as crianças, o entendimento de sua rotina hospitalar, além de tornar emergentes os anseios das mesmas (FRANÇANI; ZILIOLI, 2000). Françani e Zilioli (2000) realizaram um estudo sobre a “Companhia do Riso”, grupo que utiliza o mesmo tipo de intervenção dos “Terapeutas” e tem como objetivo 32 resgatar o riso da criança hospitalizada através da arte e do Teatro clown. Observaram que a presença do palhaço no ambiente hospitalar resulta em algumas transformações no mesmo: o espaço hospitalar tornou-se mais informal e descontraído e a fantasia, alegria e o riso tornaram-se mais freqüentes; identificando então uma intervenção concreta que valoriza o processo do desenvolvimento infantil. Em um estudo sobre os clowns dos “Doutores da Graça”, Aquino e Marta (2004) puderam compreender a visão da criança, foco do trabalho realizado pelos palhaços doutores. Notaram que a criança troca com o palhaço experiências que está vivendo ou já viveu, de forma a liberar suas emoções verdadeiras com a verdade que o palhaço propõe. Os autores apontam que, na opinião das crianças, o palhaço tem o poder de diminuir as dores das mesmas, isso porque ao brincar a criança distrai-se e o tempo parece não existir. Pelos discursos das crianças também foi possível perceber que estas se sentem mais fortes, por acreditarem na brincadeira, o que lhes trás mais autonomia e liberdade. A possibilidade de controle da criança, permitindo ou não a entrada dos palhaços em seu quarto, é mais um fator que lhe dá autonomia e colabora para sua recuperação. Num contexto em que não lhe é permitido dizer nada, essa condição recupera um sentimento importante de controle da situação da doença e de seu corpo. As mães e acompanhantes também apontaram importantes mudanças no comportamento das crianças após as sessões denominadas “Plantões da Graça”. Revelaram que as crianças ficaram mais alegres, sorridentes, demonstrando um menor medo da internação. Os membros da equipe de enfermagem ressaltaram também a importância dos “Plantões da Graça” para as mães, apontando o envolvimento das mesmas, tendo em vista que o efeito psicológico positivo na criança também repercute em seu acompanhante (AQUINO; MARTA, 2004). 33 Um outro estudo realizado por Machado e Martins (2002) em uma enfermaria pediátrica de um hospital público, com nove crianças de 3 a 12 anos de idade, teve o objetivo de verificar mudanças no comportamento e aspecto emocional das crianças a partir de brincadeiras com o palhaço. Antes da intervenção do palhaço, foram solicitados desenhos livres com histórias, posteriormente, promoveuse brincadeiras com o palhaço e, por fim, novo desenho e história. Desta maneira, foram observadas alterações entre os desenhos realizados antes e depois da intervenção em seus diversos aspectos. Sendo constatado que a intervenção facilitou a expressão e a elaboração da ansiedade e dos conflitos advindos da hospitalização, na medida em que as crianças puderam descarregar sua agressividade e demonstrar uma nova forma de vivenciar a situação de hospitalização. Masetti (1998), também analisou desenhos e histórias de crianças hospitalizadas antes e após a intervenção dos “Doutores da Alegria”, sendo que estas foram divididas entre grupo-pesquisa (crianças que receberam a visita dos palhaços) e grupo controle (crianças que não receberam a visita dos palhaços). Concluiu assim, que o grupo-pesquisa apresentou de três a quatro vezes mais alterações em seus desenhos do que o grupo controle. A alteração mais presente foi a modificação das histórias contadas após a visita dos palhaços, observando-se um enriquecimento de conteúdo, enredos positivos e maior incidência de final feliz. Outras alterações foram: aumento do tamanho dos desenhos, maior uso de cores, mais nitidez ou aprimoramento das formas. Todas essas alterações indicam que, de alguma forma, houve uma expansão de movimentos da criança e de sua forma de se posicionar diante da hospitalização. 34 A autora ainda afirma que a melhora da expressão das crianças durante a internação é o ponto mais marcante da atuação dos palhaços, de forma que o trabalho dos “Doutores da Alegria” promove uma mudança de comportamento facilmente percebida pelos pais e pelos profissionais de saúde. Nos resultados da pesquisa, inclusive, as enfermeiras relataram que a atuação dos “Doutores da Alegria” colabora para a melhoria de sua imagem profissional, na medida em que, através das brincadeiras em parceira, elas podem se perceber não apenas como quem dá injeções ou medicamentos, mas também como alguém que pode levar alegria às crianças. Com relação aos profissionais e ao hospital, notou-se a diminuição do estresse da rotina hospitalar e a facilitação do trabalho pela melhora do contato com as crianças, pais e profissionais. Houve uma melhora da imagem do hospital e uma mudança de comportamento dos profissionais, que passaram a sentir-se mais dispostos para o trabalho. Inclusive, nos relatos destes profissionais, eles observaram que as crianças começaram a falar mais, ficar mais ativas, a brincar, a se alimentar e a expressar a expectativa de que os palhaços voltem. Observaram também que as crianças passaram a encarar a hospitalização de forma mais positiva, melhorando assim o contato e a colaboração com a equipe e com o tratamento médico, diminuindo também a ansiedade da internação. Esses resultados, segundo a autora, são decorrentes da utilização do humor, de um sistema eficiente de comunicação e de um conjunto específico de valores e crenças que os “Doutores” possuem sobre a realidade hospitalar (MASETTI, 1998). 35 3 ASPECTOS METODOLÓGICOS A presente pesquisa enquadra-se numa perspectiva qualitativa, de modo que trabalha com valores, crenças, hábitos, atitudes, representações, opiniões e adequa-se a aprofundar a complexidade de fatos e processos particulares e específicos a indivíduos e grupos. A abordagem qualitativa é empregada para a compreensão e percepção de fenômenos, observando seqüências, testemunhos e o contexto; para uma maior compreensão com ênfase em generalidades (MINAYO, 1999). 3.1 Participantes Os participantes foram onze crianças, nove do sexo feminino e duas do sexo masculino, pertencentes a faixa-etária de 6 a 12 anos de idade, em situação de primeira internação em período menor que uma semana, independente da patologia, e internadas no Hospital Universitário Pequeno Anjo - HUPA. Tais exigências tornaram-se relevantes pelo fato destas crianças possuírem maior maturidade para realizar a atividade que era proposta (o desenho), e também porque estas receberam pela primeira vez a visita dos “Terapeutas”, já que os mesmos visitam o hospital uma vez por semana. A fim de melhor visualizar a identificação dos participantes, foi elaborado o quadro 1, o qual apresenta os dados pessoais da criança, o motivo da internação, o período da internação (até o momento da pesquisa), o acompanhante e a unidade em que a criança se encontrava. Cada criança participante recebeu um nome fictício utilizando nomes de “doutores”, baseado na característica da criança que mais se 36 sobressaiu durante a pesquisa, visto que os “Terapeutas da Alegria” identificam seus participantes deste modo (como por exemplo: “Dr. Sabe-Nada”, “Dr. Tropa”, “Dr. Costela”). 37 3.2 QUADRO 1: Identificação das crianças participantes desta pesquisa. Nome da criança Sexo Idade Escolaridade Motivo da internação Período Acompanhante Unidade Dra. Feliz D.M. F 8 anos 3ª série Fratura de fêmur (acidente de carro) 6 dias Tias SUS Dr. Desenhista C.G. M 12 anos 7ª série Fratura de rádio (infecção hospitalar) 7 dias Mãe SUS Dra. Risadinha K.G. F 7 anos 2ª série Pneumonia e bronquite 1 dia Mãe Particular Dra. SabeTudo B.G F 9 anos 3ª série Cardiopatia 7 dias Mãe Particular Dra. Espirro M.E. F 9 anos 5ª série Pneumonia 2 dias Mãe Particular Dra. Costurada J.D. F 11 anos 6ª série Apendicite 5 dias Avó SUS Dra. Fala Nada P.M.S. F 10 anos 3ª série Apendicite 4 dias Mãe SUS Dra. Quer Alta K.R.V. F 10 anos 4ª série Meningite Viral 2 dias Pai SUS Dra. Docinho I.S.S. F 10 anos 4ª série Pneumonia 1 dia Tia e Prima SUS Dra. Simpatia P.F. F 11 anos 6ª série Infecção Urinária 4 dias Mãe SUS Dr. Espetado G.M.S.M. M 10 anos 4ª série Meningite Bacteriana 7 dias Mãe e Pai Particular 38 3.3 Instrumentos Foram utilizados dois instrumentos: desenhos dirigidos feitos pelas crianças, antes e após a intervenção dos “Terapeutas da Alegria”, sendo que foi fornecido lápis-de-cor e uma folha sulfite para que as mesmas realizassem um desenho considerando a seguinte instrução do pesquisador: “Você deverá fazer um desenho sobre o que está sentindo neste momento, e depois contará para mim o que desenhou”. E uma entrevista com o acompanhante da criança - com o objetivo de investigar se os mesmos perceberam uma melhora no comportamento da criança hospitalizada após a visita dos “Terapeutas da Alegria” (Apêndice C). 3.4 Procedimentos para a Coleta dos Dados O responsável pelo Hospital Universitário Pequeno Anjo – HUPA, autorizou a coleta de dados, mediante a assinatura do termo de consentimento (Apêndice A). Antes do início da coleta de dados, foi obtida a assinatura do acompanhante da criança no termo de consentimento livre e esclarecido (Apêndice B). A coleta de dados foi realizada nas sextas-feiras – dia da apresentação dos “Terapeutas” no HUPA – entre os dias 16 de março e 6 de abril de 2007. Os procedimentos para a coleta de dados foram os seguintes: ao chegar em cada leito se estabelecia um breve rapport explicando às crianças e aos seus acompanhantes os objetivos da pesquisa e, após a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, era solicitado que a criança realizasse um desenho representando como ela está se sentindo, e depois o explicasse. Neste mesmo dia, por volta das 12 horas, os “Terapeutas” visitaram o hospital e 39 interagiram com esta criança. Então, logo após a visita do grupo, era solicitado novamente que a criança realizasse um novo desenho, com o mesmo propósito do primeiro. Também foi realizada uma entrevista com os acompanhantes destas mesmas crianças, logo após a realização do segundo desenho, com o objetivo de investigar se a interação com os palhaços influenciou no comportamento da criança. Esta entrevista foi gravada, para o melhor registro das informações coletadas. 3.5 Procedimentos para a Análise dos Dados Os dados foram analisados a partir da observação do comportamento das crianças e de sua produção gráfica, antes e após a intervenção proposta, sob o referencial da análise do comportamento, já que esta se mostra eficaz na análise do comportamento emocional da criança hospitalizada. Baseada na teoria da aprendizagem social, parte do pressuposto de que o ambiente, as características pessoais e o comportamento situacional determinam uma pessoa - sendo o comportamento um fenômeno dinâmico e em construção (STALLARD, 2004). A análise da entrevista realizada com os acompanhantes das crianças foi considerada como forma de aprimorar a compreensão dos dados obtidos através dos desenhos das crianças participantes. Na análise dos desenhos foram observadas as diferenças de características (de estilo, cores, formas, tamanhos, histórias, representações), e as alterações no relato da criança sobre seu desenho, ou em sua percepção da situação de internação em relação aos dois momentos. 40 3.6 Trajetória da Pesquisadora A experiência como “Terapeuta da Alegria” possibilitou que eu diferenciasse meu modo de agir ou de me aproximar de cada criança participante deste estudo, selecionando um meio de abordá-la sem que a mesma se retraísse ou se intimidasse. Por fazer parte dos “Terapeutas da Alegria”, também tive a oportunidade de encontrar algumas enfermeiras conhecidas - que foram essenciais para a realização da coleta de dados, na medida em que me auxiliavam na indicação de crianças, fornecendo informações relevantes, por já conhecerem a seriedade e o envolvimento dos “Terapeutas” com o hospital. O trabalho com crianças, principalmente as hospitalizadas, envolve muitos desafios. Durante este estudo, alguns obstáculos resultaram na definição do número de participantes, na medida em que havia dias em que estavam internadas uma ou duas crianças com as características pertencentes a este estudo; e em outros dias, o hospital comportava quatro ou mais – porém, o fato de alegarem dor, estarem acompanhadas por um menor de idade, preparando-se para alta ou cirurgia, ou em isolamento, limitava muito o acesso aos participantes. Um dos obstáculos foi a restrição física de algumas crianças, na medida em que elas não podiam se locomover a fim de realizar os desenhos, porque uma das mãos ficava presa recebendo o soro ou apresentavam fraturas nos braços; outras crianças apresentavam desconforto – por não estarem acostumadas a desenhar com a prancheta apoiada em seu colo e deitadas. Outros obstáculos, na realização de ambos os desenhos, foram: a diversidade do grau de instrução, idade, educação e cultura das crianças e dos acompanhantes; o ânimo das crianças o qual variava conforme a gravidade de sua 41 debilidade física e emocional (algumas apresentavam muito sono, devido ao uso de medicamentos); e as freqüentes interrupções. Outro aspecto refere-se ao momento da coleta, onde antes da criança começar a fazer seu desenho, os acompanhantes eram informados que não deveriam fazer sugestões enquanto a criança realizava a atividade, porém, alguns insistiam em comentar ou criticar o desenho da criança. Interrupções para o uso de medicamentos, troca de curativos, tomar banho, ir ao banheiro, assistir televisão, ou mesmo a chegada da equipe de saúde ou de outros acompanhantes, eram freqüentes. Tais interrupções aumentavam o tempo médio de realização dos desenhos de 30 minutos para até uma hora. A imprevisibilidade da alta médica também fez com que algumas crianças não continuassem sua participação na pesquisa, já que os médicos periodicamente visitavam as crianças ao meio-dia, ou seja, no intervalo entre os dois desenhos. 3.7 Procedimentos éticos A presente pesquisa está de acordo com a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, na medida em que possui a anuência por escrito dos sujeitos da pesquisa ou seu representante legal, mediante a explicação completa e pormenorizada sobre a natureza da pesquisa, benefícios previstos, potenciais riscos e incômodos que podem ocorrer em decorrência do estudo. Tal anuência é o termo de consentimento livre e esclarecido. 42 4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Apresentam-se neste capítulo os desenhos realizados por cada criança, o comportamento verbal da mesma a respeito de seus desenhos e as informações acerca de sua internação. Em seguida apresenta-se a visão da pesquisadora sobre os desenhos e sobre o comportamento da criança durante a atividade, bem como as informações coletadas juntamente com os acompanhantes das crianças participantes. 1ª criança: Dra. Feliz Internada há 6 dias, em decorrência de um grave acidente de carro, que resultou no falecimento de sua mãe. A criança teve fratura de fêmur, apresentava escoriações no braço direito e no queixo, e estava sendo confortada por suas tias. Ela falou sobre sua mãe (mostrando até fotografias), e se dizia “feliz”. Apresentou comportamento de chorar no segundo desenho, pois o enfermeiro entrou no quarto e realizou um procedimento invasivo (aplicação de medicamento endovenoso no pé). Em seguida, solicitou à tia uma massagem. 43 Desenho 1: “Estou feliz, porque minha mãe está com Jesus e estou feliz porque não aconteceu nada comigo. Me desenhei muito feliz porque vou sair do hospital e porque minha mãe está no céu me cuidando”. Desenho 2: 44 “Esse é o palhaço com a cabeça de batata-frita. Desenhei ele porque achei ele bem engraçado. Gostei do nome do cachorro dele, quero que eles voltem”. “Ele veio aqui pra deixar a gente feliz, a gente ficou muito mais feliz e ele sempre vai voltar aqui pra ver as crianças doentinhas”. Dra. Feliz relatou que não conseguiria desenhar do jeito que gostaria, pois apresentava uma fratura em seu braço direito e os desenhos tiveram que ser feitos com sua mão esquerda. No desenho 1, como pode ser observado, a criança a desenhou sozinha, com sol e nuvens. Porém, existe um traço que a separa destes elementos, o que nos leva a sugerir um isolamento decorrente de sua situação ou do ambiente hospitalar que impõe esta condição a ela. No desenho 2, não aparecem o sol e as nuvens, mas o palhaço indica a lembrança da visita dos “Terapeutas da Alegria”. Cabe aqui ressaltar que embora a internação desta criança tenha sido resultado de um grave acidente que causou a morte de sua mãe, a criança parecia estar muito conformada e tranqüila; talvez até pelo reforço que as suas tias forneciam a ela – ressaltando muitas vezes, inclusive durante a realização desta coleta, que sua mãe estava “no céu”, “com Jesus” e “cuidando da gente”. Provavelmente em virtude deste reforço, do falecimento de sua mãe ser muito recente, ou pelo fato da criança não estar em casa ou em um local onde costumava ter a presença de sua mãe; o conceito de morte para a criança pareceu algo muito normal, principalmente tendo em vista sua própria fala. Os cuidados com Dra. Feliz também pareceram muito intensos por todos (familiares e equipe de enfermagem), na medida em que estes cuidados acabaram reforçando um comportamento regredido no modo em que a criança falava e na 45 opção de tomar o leite na mamadeira, por exemplo. De acordo com Oliveira (1997), esse comportamento regredido é bastante comum no ambiente hospitalar, onde crianças grandes são colocadas em berços e alimentadas através de mamadeiras, e apesar delas gostarem destes tratamentos em um primeiro momento, isso acaba lhes causando profunda indignação por elas ficarem confusas a respeito de sua própria independência. Na entrevista realizada com a tia da criança, esta afirmou que sua sobrinha está, durante a internação, aparentemente “manhosa, chorona, reclamona, ela está mais difícil, está aproveitando os mimos de todos os lados”; o que leva a perceber que apesar das próprias tias estarem reforçando esses comportamentos, ao mesmo tempo elas estão percebendo que as atitudes da criança mudaram em decorrência deste reforço. Também na entrevista, foi relatado que a criança gostou da intervenção dos “Terapeutas da Alegria”, argumentando que Dra. Feliz nem chorou ou reclamou de dor enquanto os “Terapeutas” estavam no quarto e um enfermeiro entrou para aplicar a medicação. Deste modo, a entrevistada afirma que esta intervenção poderia mudar o comportamento de algumas crianças que ficam constantemente assustadas quando são internadas. Assim, pode-se perceber que para Dra. Feliz a visita dos “Terapeutas” representou um estímulo positivo, o qual competiu com os estímulos aversivos presentes durante sua hospitalização. Pois, mesmo o desenho 1 apresentando um tema “feliz”, ele mostra o isolamento da criança em virtude de sua hospitalização; mas no desenho 2 ela deixa de representar esta solidão, e representa o que a distraiu e a tirou daquele ambiente. Assim, os “Terapeutas” mostram-se como estímulos capazes de suscitar respostas emocionais mais positivas na criança, frente aos estímulos aversivos presentes no momento de internação. 46 2ª criança: Dr. Desenhista Internado há 7 dias, foi para o hospital para tratar de uma fratura em seu braço mas contraiu uma infecção hospitalar. As enfermeiras do hospital pediram para realizar a coleta de dados com ele, pois, segundo elas, a criança era “um desenhista”, que realizava retratos de toda a equipe do hospital. Desenho 1: “Este sou eu mesmo... Até as pintinhas que eu tenho desenhei igual”. “Me desenhei triste, qualquer criança fica triste quando fica bastante no hospital”. “Sinto tristeza por estar aqui e fome. Só ficaria feliz se fosse embora”. 47 Desenho 2: “Resolvi desenhar assim porque gostei dos palhaços, eles estavam até de uniforme de enfermeiro, achei que eles eram enfermeiros porque cuidam da gente”. O Dr. Desenhista, por já ter 12 anos de idade, parecia compreender o motivo de sua internação e se mostrava inconformado. Tanto que, nos dois desenhos, mesmo com a presença do palhaço no segundo, a criança desenhou-se triste e retraída, aparentando até mesmo sintomas depressivos. A riqueza de detalhes em ambos os desenhos sugere que o Dr. Desenhista procurou retratar como ele realmente se percebia naquele momento: triste, sozinho, pequeno em relação aos outros – pela condição que sua doença impõe. Um pouco antes da visita dos Terapeutas da Alegria, a mãe do Dr. Desenhista informou que ele teve um “acesso de fúria”, sendo que a criança solicitou à enfermeira salgadinho e refrigerante, e quando não foi atendido ficou em pé na cama e “quase subiu pelas paredes”. A mãe argumenta que seu filho está aparentemente revoltado com sua situação, pois, segundo ela, a criança entende que não deveria estar internado apenas por ter fraturado um braço. 48 Percebeu-se também que sua mãe estava muito tensa, e inclusive pediu para “desabafar” acerca do comportamento do filho. Assim, supõe-se que o comportamento de angústia da mãe estava relacionado com as reações agressivas que a criança tinha frente a sua condição de estar internado. Quando sua mãe emitiu o comportamento de choro, o Dr. Desenhista fechou-se repentinamente. Chiattone (2003) aponta que as reações de culpa e sensação de punição, ansiedade e depressão, podem ser destacadas como causadoras do intenso descontrole emocional da criança internada. As manifestações de ansiedade (ou este “acesso de fúria” que a criança apresentou), são causadas por temores, dúvidas, sensação de culpa, alterações da sua auto-imagem e autoconceito (sendo que Dr. Desenhista estava triste também por estar “inchado”), sentimento de desvalia e fantasias decorrentes da situação de doença e, principalmente, pelas intercorrências advindas da hospitalização, como os procedimentos agressivos, longos períodos de internação, e as vivências traumáticas no hospital. Na entrevista com a mãe da criança, ela confirma que seu filho não está mais triste, e sim, “revoltado” por estar no hospital. Argumentando que “hoje mesmo quando deu aquela crise, ele ficou muito nervoso, revoltado, respondeu até e falou que sabia que iria ter que ficar muito tempo aqui”, devido à infecção hospitalar. “Daí deram comida pra ele e ele melhorou, porque ele não gosta da comida daqui”. A mãe do Dr. Desenhista aponta que o comportamento dele teve mudanças consideráveis em decorrência da internação, já que, quando está em casa o paciente “é brincalhão e não é nem um pouco sério como ele está agora”. Assim, pode-se perceber o quanto o hospital é um estímulo aversivo para esta criança, na medida em que Dr. Desenhista emite comportamentos de fuga, evitando e se fechando frente ao ambiente hospitalar. 49 A respeito da reação do paciente com a visita dos “Terapeutas da Alegria”, a entrevistada falou que ele ficou contente, e “até chegou a rir”, sendo que “aqui ele é um menino mais sério, é difícil ele rir aqui. E a hora que os Terapeutas chegaram ele pode rir um pouco”. A entrevistada ainda argumenta que, assim como fizeram com seu filho, os “Terapeutas da Alegria” podem fazer as crianças rirem um pouco, e esquecer a seriedade que existe no hospital, o que seria importante para a recuperação das crianças: “a gente vê pela gente, que é adulto, quando estamos doentes pagamos para ninguém chegar perto, mas se vem alguém pra fazer a gente rir, sempre melhora um pouco. E com as crianças também é assim, elas querem palavras de ânimo, chamego mesmo, e com os Terapeutas as crianças conseguem isso. Por isso, achei bem legal”. A visita dos “Terapeutas da Alegria” realmente fez o Dr. Desenhista (que estava tão fechado e calado) sorrir, e talvez por isso, ele lembrou de representar o palhaço no desenho 2. Interessante observar o comentário da criança neste desenho, argumentando que achou que os palhaços fossem enfermeiros “porque cuidam da gente”; então na visão da criança os “Terapeutas” não vieram somente fazer uma visita, e sim continuar tratando ou cuidando das crianças hospitalizadas através da figura do palhaço. Por aparentemente possuir sintomas depressivos, esta criança é um caso difícil de ser analisado. Porque mesmo o desenho 2 sendo muito diferente do desenho 1, por retratá-lo acompanhado, possuir cores e representar o palhaço; a criança a desenhou aparentemente triste e pequena em relação ao “Terapeuta” – considerando, também, que esta criança em especial teve a capacidade e a preocupação em retratar-se com precisão em ambos os desenhos. Pode-se dizer que o estímulo positivo, neste caso, não foi suficiente para minimizar a angústia que 50 o Dr. Desenhista sente por sua internação, por esta ser resultado de algo que era para ser simples, porém, transformou-se em uma complicada situação. 3ª criança: Dra. Risadinha Internada há um dia, é a criança mais nova que participou da coleta de dados (apenas 7 anos de idade). Fazia uso de nebulizador e somente parava de realizar seus desenhos para arrumar o aparelho. Veio transferida de um outro hospital. Desenho 1: Onde você está neste desenho? “Não sei”. “Estou feliz... Porque estou em outro hospital”. “Ficaria mais feliz se eu fosse para casa”. 51 Desenho 2: “Fiz com régua para o hospital ficar mais retinho”. “Os pássaros estão ali porque gostam, eles são livres pra ir pra qualquer lugar”. O sentimento de felicidade presente no relato do desenho 1, pode sugerir a satisfação da criança por ter sido transferida para o Hospital Universitário Pequeno Anjo - HUPA, um hospital com melhor estrutura física e profissionais especializados no tratamento de crianças. Inclusive, de acordo com sua mãe, Dra. Risadinha apresenta uma maior tranqüilidade desde que foi internada no HUPA, sendo que não apresentava tal comportamento no primeiro hospital. O HUPA é referência no atendimento infantil, preza a humanização, conta com uma estrutura moderna e equipe de saúde especializada; porém, ainda assim, é evidente o desejo da criança em estar em casa – fato este presente em todos os relatos das crianças participantes desta coleta de dados. Segundo Bellato (2001), na sua pesquisa sobre a vivência da hospitalização pela pessoa doente, não importa a estrutura ou o ambiente do hospital – ele continua sendo impessoal e angustiante; 52 sendo que o único motivo que pode dar alento ao paciente é a esperança do retorno para a casa, para a família, e para a vida cotidiana em seu lar. Pode-se supor que pela idade da criança, seus desenhos foram o que menos obtiveram explicações, pois enquanto a pesquisadora questionava Dra. Risadinha a fim de explorar a situação representada no desenho, a criança apenas ria – aparentando timidez. Porém, sua limitação ao não saber responder onde estava no desenho 1, pode sugerir que o contexto hospitalar e o real motivo de sua internação não foram devidamente assimilados ou compreendidos pela criança. De acordo com Baldini e Krebs (2003), as crianças com sete anos de idade não compreendem a sua internação, e acabam formulando informações incorretas a respeito da mesma, resultando em preocupações acerca da morte, do desaparecimento, de pessoas que não voltam, ou pelo temor de se perder para sempre – o que geralmente se percebe pela resposta de ansiedade da criança. A mãe de Dra. Risadinha, afirmou que sua filha é sempre quieta, porém, este comportamento tornou-se ainda mais evidente durante sua internação no primeiro hospital. A respeito da visita dos “Terapeutas da Alegria”, aponta que percebeu sua filha “mais contente e rindo bastante”. Assim, a entrevistada afirma que esta intervenção pode até mesmo mudar o comportamento das crianças hospitalizadas, deixando-as “mais animadas e distraí-las um pouco”. No desenho 2, ficam evidentes algumas mudanças em relação ao desenho 1, como por exemplo, a preocupação da criança em realizar um desenho simétrico. A utilização de régua a fim de realizar um desenho mais simétrico, foi observada também na pesquisa de Masetti (1998), na qual a autora utiliza os mesmos procedimentos realizados nesta coleta de dados. Os desenhos que apresentaram 53 maior preocupação no aprimoramento das formas foram justamente os que foram realizados após a visita dos palhaços ao hospital. A autora aponta que essas alterações indicam que, de alguma forma, houve uma expansão de movimentos da criança e de sua forma de se posicionar diante da hospitalização, sugerindo que essas mudanças se dão na criação de uma realidade lúdica do palhaço com a criança no hospital. Outra mudança foi o fato da criança ter representado no desenho 2 o ambiente em que se encontrava: o hospital. Isso sugere que a intervenção dos “Terapeutas da Alegria” resultou para a criança na organização de sua própria situação. Este resultado pode fazer com que a criança perceba o ambiente em que está inserida e entenda ou elabore melhor sua internação. Porém, os pássaros representados neste desenho, podem fazer uma referência a limitação que a mesma vivência por estar doente e em um hospital, que a restringe em “ir para qualquer lugar” tal como os pássaros. Os pássaros representados também podem sugerir o desejo da criança em estar na mesma posição que eles, ou seja, fora do ambiente hospitalar. 4ª criança: Dra. Sabe-Tudo Internada há 7 dias, diagnosticada com cardiopatia há quatro anos, mas esta é a primeira vez em que foi internada – a fim de observar sua reação a um novo tipo de medicamento. A criança encontrava-se de alta hospitalar. 54 Desenho 1: “Desenhei o hospital grande e colorido porque fico feliz quando olho para ele”. E porque você está tão pequena ao lado dele? “Não sei”. Desenho 2: “Este é um paraíso sem doença”. “Queria estar nesse paraíso, porque todos ali devem estar mais felizes”. 55 Dra. Sabe-Tudo pareceu bastante comunicativa, inclusive durante a entrevista realizada com a sua mãe, pois respondia às perguntas antes mesmo da entrevistada. A criança estava aparentemente tranqüila e despreocupada, sugerindo que sua internação foi bem aceita por ela. Na entrevista com a mãe da criança, observa-se que Dra. Sabe-Tudo não demonstrou reações negativas frente a internação: “ela foi bem tratada, e até gostou de perder aula”. Frente aos procedimentos médicos invasivos o mesmo comportamento foi adotado: “ela nunca chora, sabe que tudo isso é pro bem dela, e nem fica com medo”. A entrevistada argumenta que a aparente aceitação de sua filha à internação é em função da educação que foi fornecida à criança: “eu e meu marido nunca colocamos medo nela, até quando ela vai tirar sangue ela fica olhando, e ainda diz que gosta”. Por envolver aprendizagem e discriminação, a compreensão e percepção da dor pela criança dependem de seu nível de desenvolvimento cognitivo, história passada e experiências dolorosas. E é fato que, quanto mais medo e ansiedade associados à situação a criança apresentar (em virtude também de outras experiências dolorosas), mais intensa será sua percepção de dor e pior a expectativa gerada para procedimentos futuros (GUIMARÃES, 1999). Tendo em vista seu comportamento tranqüilo frente à internação, pode-se compreender porque a criança representou o hospital colorido, com proporções grandes, e com as mesmas características de uma casa. Porém, a sua autorepresentação ao lado do hospital, bem menor do que este, sugere um sentimento de impotência frente a sua condição - por ser portadora de uma doença sem cura ou tratamento, que se agrava na medida em que a criança cresce. Por mais que Dra. Sabe-Tudo compreenda o motivo de sua internação, ela parece também entender 56 que mesmo se permanecer internada a fim de recupera-se e receber alta médica, ela ainda não estará curada. Em um estudo realizado com o objetivo de compreender a vivência da criança com doença crônica, as autoras Vieira e Lima (2002) observaram que estas crianças compreendem precocemente a gravidade de sua doença. Isso acontece por elas terem seu cotidiano modificado pelas freqüentes hospitalizações, exames e efeitos colaterais de medicamentos, pelos limites ditados pela doença e tratamento, assim como o desconforto das rotinas rígidas a que são submetidas - as quais ocasionam mudanças, especialmente no processo de escolarização. Frente a intervenção dos “Terapeutas da Alegria”, a criança relatou para sua mãe que “gostou da visita, porque eles eram bem animados”. A mãe de Dra. SabeTudo afirma que sua filha “ficou rindo bastante quando dois deles tentaram sair juntos pela porta e caíram no chão”, e também expressou seu desejo de que esta intervenção acontecesse mais vezes, pois “existem muitas crianças que ficam meses aqui sem fazer nada, só assistindo TV, sem brincar, se divertir ou conversar com alguém da idade delas. Então os Terapeutas vêm e elas conseguem se distrair”. Enfim, pode-se dizer que a visita dos “Terapeutas” foi um estímulo positivo para a criança, pois, mesmo o hospital sendo grande e colorido para a Dra. SabeTudo no desenho 1, ele é maior que ela mesma, e limita seu desenho ao ambiente em que a própria criança estava – sem outras representações; sugerindo que seu espaço se resumia a ele. No desenho 2, a criança parece representar a alegria e liberdade de estar em um “paraíso sem doença”: se, no primeiro desenho ela estava sozinha e pequena, agora ela está acompanhada e cercada por uma paisagem, ao invés do ambiente hospitalar. Sugere-se então que o estímulo positivo, ao competir 57 com o estímulo aversivo do ambiente hospitalar, se sobressaiu, resultando em uma representação que leva a criança a vivenciar outras situações além da sua própria internação. 5ª criança: Dra. Espirro Internada há 2 dias, devido a uma infecção pulmonar. A criança e sua mãe – que a estava acompanhando – estavam cansadas, pois não haviam dormido na noite anterior, já que a criança tossia e sentia calor em virtude de uma febre. Dra. Espirro ainda estava quieta e sonolenta durante a realização dos desenhos. Desenho 1: “Estou falando ha! que chato porque o hospital só seria legal se eu estivesse brincando. A menina na cama está triste, ela acha chato ficar só assistindo TV e deitada. Ela queria brincar, mas não pode porque está no hospital”. 58 Desenho 2: “Não estou mais triste porque não estou mais só assistindo TV”. “Estou mais feliz porque tem dois palhaços para fazer companhia”. Mesmo com a companhia de sua mãe no hospital e com a constante presença da equipe de saúde, Dra. Espirro representou-se sozinha no desenho 1 – e esta foi uma característica comum entre os desenhos das crianças que se retrataram dentro do hospital. Esse distanciamento de outras pessoas pode sugerir a visão da criança de que a doença a difere dos demais, ou seja, de qualquer outra pessoa que não esteja na mesma situação que a criança (CHIATTONE, 2000). No desenho 1, a criança ressalta um tema freqüentemente discutido em estudos sobre o ambiente hospitalar: o brincar. A aparente angústia que a criança expressa por não realizar atividades lúdicas, leva a confirmar a premissa de que as crianças consideram o brincar uma estratégia positiva para o enfrentamento da hospitalização. Segundo Motta e Enumo (2004), de um modo geral, o brincar está presente nas pretensões da criança quando está hospitalizada: ela quer brincar e 59 parece não ter exigências ao selecionar o tipo de brincadeira que gostaria de fazer. Isso pode acontecer pela privação comumente imposta no ambiente hospitalar em relação ao brincar. Toda criança tem em seu repertório comportamental formas de enfrentar situações adversas particulares e, no caso da hospitalização, estas parecem atuar no sentido da promoção de um ambiente mais familiar e menos ameaçador. Deste modo, uma intervenção que visa a inserção de estratégias de enfrentamento mais eficazes, deve levar em conta o que já existe em seu repertório, no sentido de estender e tornar significativa ou eficaz a sua aplicação. É nesse sentido que se aplica a utilização do brincar no hospital (MOTTA; ENUMO, 2004). No desenho 2, a criança parece ter encontrado uma forma de deixar de assistir a televisão, de não estar mais triste, ter companhia e, principalmente, de brincar, através da presença da figura do palhaço. Tanto que a televisão (que parecia ser a única forma de distração da criança no hospital) não foi ao menos representada neste desenho. Através do relato de Dra. Espirro a respeito do desenho 2, pode-se perceber que ocorreu uma mudança no humor da criança retratada: a criança que era triste agora está feliz. Inclusive, neste desenho, o sorriso da criança foi enfatizado em vermelho – diferentemente do desenho 1. A mãe da Dra. Espirro, apontou que sua filha está quieta desde que chegou ao hospital, e que “ela só fala quando reclama de dor ou está desconfortável”. No primeiro dia de internação, a criança estava ainda mais retraída e receosa, devido aos procedimentos que eram realizados e à medicação que lhe foi receitada. Com a intervenção dos “Terapeutas da Alegria” a entrevistada percebeu que sua filha se divertiu e riu bastante: “ela ficou apreensiva no começo, mas como é bastante curiosa, ficou atenta a tudo o que eles (os palhaços) faziam”. A mãe percebeu que 60 durante a visita dos “Terapeutas” a criança conversou e interagiu com os palhaços, e este foi um dos raros momentos em que Dra. Espirro não assistiu à televisão, durante seu período de internação. 6ª criança: Dra. Costurada Internada há 5 dias, submetida a uma cirurgia de apendicite no dia anterior à coleta. Dra. Costurada estava acompanhada por sua avó, e estava sonolenta devido ao uso de medicamentos. Desenho 1: “Está tudo escrito no desenho. Desenhei os dois lados do hospital: um é feliz, porque estou melhorando; e outro é triste, porque eu quero ir para casa”. 61 Desenho 2: “Aqui sou eu e minha vó saindo do hospital e indo para casa”. “Estou muito feliz no desenho porque estou sem os pontos na barriga e sem dor. Minha vó também está feliz, e está descansada e não vai mais precisar cuidar de mim”. Nos desenhos da Dra. Costurada pode-se observar que, apesar do hospital ser referência no tratamento de crianças, prezar a humanização e ser um local que proporciona melhora ou cura; ainda assim a criança ressalta em ambos os desenhos o desejo de ir para casa. No desenho 2 a criança representou exatamente isso – o que no desenho 1 a entristecia (o fato de não poder ir para casa), agora aparece como uma realização, (mesmo sem esta criança ter uma previsão de alta). O relato do desenho 2 indica não precisar mais ter os cuidados dos adultos, talvez uma referência ao desejo de ser independente e livre, e que sair do hospital é parar de sentir dor. Dra. Costurada relatou que sentiu muita dor antes de chegar ao hospital e teve medo quando soube que iria ser submetida a um procedimento cirúrgico: “ainda bem que eu dormi”. 62 A criança mostrou-se muito apegada a sua avó – que a estava acompanhando (de forma que repetidas vezes olhava para sua avó quando deveria responder o significado de seus desenhos, esperando até que a mesma repetisse a pergunta realizada). Ainda no desenho 2, torna-se evidente a preocupação da criança com o bem-estar e descanso de sua avó, confirmando a ligação que existe entre as duas. Essa ligação afetiva entre a criança e sua família é imprescindível para assegurar que as bases de formação psicológica do futuro adulto sejam mantidas intactas. A criança pode encontrar-se em situação de privação do convívio familiar por diferentes motivos, sendo um deles a hospitalização. Entretanto, sabe-se que é no convívio familiar que a criança busca apoio, orientação, referências de tempo, proteção para o desconhecido e para o sofrimento. Se a criança pode contar com a assistência desse familiar, poderá ser mais capaz de suportar os sofrimentos e ansiedades advindos com a situação de doença e hospitalização (COLLET; ROCHA, 2004). O desenho 2 se destaca em relação ao desenho 1, pois este último mostra que a criança não atribui nenhum aspecto positivo ao ambiente hospitalar, além da cura. No desenho 2, ela apresenta uma resolução centrada em seu desejo de ir para casa, de forma que, segundo Masetti (1998), essa expectativa se formula como um objetivo dentro da situação de hospitalização, o que é muito positivo, pois pacientes que mantêm um objetivo de vida apresentam melhores índices de recuperação física. Pode-se perceber que a visita dos “Terapeutas” fez a criança redimensionar a realidade. De acordo com Masetti (1998), a presença de um palhaço, como conceito aparentemente tão oposto a realidade hospitalar, tem a capacidade de 63 suspender momentaneamente a lógica dos pensamentos e a dinâmica dos sentimentos vividos pelas crianças. Isso abre espaço para que elas percebam novos processos que acontecerão a partir da visão do mundo do palhaço, ou seja, com a lembrança da alegria. A avó da Dra. Costurada disse que sua neta é sempre muito quieta e que não fala com ninguém do hospital, “ela só conversa com aquele moço (um enfermeiro) que entrou aqui”. Sobre a reação da criança com a visita dos “Terapeutas da Alegria”, a entrevistada falou que sua neta ficou bastante atenta, “nem piscou, tava morrendo de sono quando eles chegaram, mas ela quis participar, porque a irmã dela já tinha sido internada aqui e falou dos palhaços”, argumentando que Dra. Costurada ficou curiosa para saber se os “Terapeutas” continuavam freqüentando o hospital, e que “foi só eles saírem que ela dormiu”. De acordo com a entrevistada, ela acredita que os “Terapeutas” podem deixar as crianças mais tranqüilas, ao mostrar para as mesmas que o hospital é um lugar bom, já que os pacientes “estão aqui para se recuperarem”. “Os palhaços alegraram muito as crianças, e também trouxeram lições importantes, pra lavar a mão e os alimentos para não pegar lombriga”. 7ª criança: Dra. Fala Nada Internada há 4 dias, recuperava-se de uma cirurgia de apendicite. Embora Dra. Fala Nada se comunicasse num tom quase inaudível, parecia bastante a vontade no ambiente hospitalar. 64 Desenho 1: “Ela está feliz porque está assistindo TV, e porque está melhorando para ir embora”. “Mas aqui não é só legal porque têm TV, mas porque aqui todos cuidam da gente, por isso essa menina está feliz”. Desenho 2: 65 “Estou indo pra casa com minha mãe carregando minha mala, agora eu já estou sem doença, antes eu era diferente, agora já estou igual a minha mãe”. “Estou muito feliz no desenho, pois não vou mais ficar doente e ter que ficar deitada o dia inteiro... vou até poder ir para a escola”. Um fato que chamou atenção durante a coleta de dados com essa criança, foi sua satisfação e alegria em poder estar em um quarto com ar-condicionado e televisão. De acordo com a criança, ela não tinha acesso a esses aparelhos em sua casa. No desenho 1, então, a criança representou justamente esses itens, e de acordo com seu relato, pode-se perceber que a criança está feliz e consegue identificar que estar no hospital é para sua própria recuperação e que resulta, conseqüentemente, na volta para casa. Porém, mesmo com o sentimento de felicidade presente no desenho 1, a criança desenhou-se sozinha - sem a companhia de sua mãe ou da criança do outro leito. Esse distanciamento de outras pessoas foi identificado em outros desenhos neste estudo, como já citado anteriormente, e evidencia o fato da criança sentir-se solitária por ser a única que está portando uma doença. Mesmo com o auxílio ou presença de outros, a única pessoa que vivencia a doença e suas conseqüências (dor, medicamentos, cirurgias e etc.) é a própria criança. No desenho 2, já que através de seu relato observa-se que a criança não se representou doente, ela inclui a figura de sua mãe. Então, nas representações de Dra. Fala Nada, fica evidente a influência que a intervenção dos “Terapeutas da Alegria” teve no comportamento emocional desta. Pois, no desenho 1 a criança parece estar “presa” a realidade que vivencia no hospital, e no desenho 2 representa outra realidade, abordando seu desejo de ir para casa e não ficar mais doente. 66 Considerando Ferreira (2003), a qual pontua que o desenho de uma criança hospitalizada poderá demonstrar suas emoções, mesmo se estiverem em constante modificação, o que a criança desenha depende do conhecimento ativo que a mesma possua do ambiente a ser representado. Esse conhecimento ativo, no caso da Dra. Fala Nada, estava restrito ao ambiente que a mesma se encontrava. Então, com a intervenção dos “Terapeutas”, esse conhecimento tornou-se abrangente através de sua imaginação – representando o desejo que a criança tem de melhorar e voltar para sua casa. Na entrevista com a mãe da criança, a mesma relata que Dra. Fala Nada ficou “um pouco triste” por ter que ir para o hospital, mas agora estava mais alegre, já que “a pior parte (a cirurgia) já passou”. A reação da paciente com a visita dos “Terapeutas”, de acordo com sua mãe, foi de curiosidade, já que a criança havia visto o trabalho dos palhaços na televisão, mas também ficou tímida com a visita. “Achei que ela se animou bastante com os palhaços. Não achei que ela fosse gostar, porque ela tem medo de palhaços, mas esses do hospital ela gostou”. 8ª criança: Dra. Quer Alta Internada há 2 dias, recuperava-se de uma meningite viral. A criança já estava sem soro na realização do desenho 1, e soube (um pouco antes da realização do desenho 2) que receberia alta na próxima manhã. O médico da criança não parecia concordar em dar alta para a criança, mas foi bastante influenciado pela mesma, que manifestava sua vontade de ir para casa na Páscoa. 67 Desenho 1: “A cara de alegria é porque daqui a pouco vou poder brincar e comer o que quero. A cara triste é porque estou trancada e com dor no braço que tinha soro”. Desenho 2: 68 “Estou alegre porque o médico me deu alta”. “Estou sentindo alegria porque minha família vem aqui arrumar minha mala e me buscar pra passar a Páscoa em casa”. Nos desenhos de Dra. Quer Alta, pode-se perceber a alegria que a criança sente por somente pensar em ir para casa e voltar a brincar, resgatando sua rotina. Através de seus desenhos, torna-se evidente que o hospital representa sentir dor e “ficar trancada” – ou seja, a criança sabe que está no hospital não por opção própria, e sim porque precisa estar. No desenho 1, percebe-se a ambigüidade que a situação da hospitalização é conceituada pela criança. Tanto que, para Dra. Quer Alta, sair do hospital representa escolher sua própria rotina e poder se desprender da maneira de alimentação que o hospital exige. De fato, o hospital é, para as crianças, um local de proibições: já que não se pode andar pelos corredores, jogar bola, tomar ar fresco, falar alto, conversar com outras crianças, brincar ou escolher o que quer comer. No desenho 1, também evidencia-se as oscilações de humor que a criança apresenta durante sua hospitalização. Na entrevista realizada com o pai de Dra. Quer Alta, ele relata que sua filha demonstra reações diferentes quanto à sua situação, sendo que uma hora ela está “muito feliz e outra triste, pedindo para ir embora”. Isso pode caracterizar uma instabilidade de humor na criança, a qual subitamente manifesta modificações em seu estado emocional, com ou sem causas que as justifiquem. No desenho 2, Dra. Quer Alta, ainda a representa no hospital, mas como recebe a notícia de que terá alta, ela não está deitada em seu leito – talvez para representar que agora não está mais doente e por isso poderá ir para casa. 69 Na entrevista com o pai da criança, foi relatado que ela demonstra sua tristeza ficando bastante quieta e “não se mexendo para nada, nem para assistir TV”. Isso ocorre principalmente nas situações em que são realizados os procedimentos médicos invasivos, que deixam a paciente visivelmente triste. O pai da Dra. QuerAlta relatou a importância da visita dos “Terapeutas da Alegria”, pois, segundo ele, sua filha pareceu mais comunicativa e alegre, rindo bastante e até levantando do leito. Deste modo, ele acha que esta intervenção é uma oportunidade para a criança “sair um pouco do hospital e brincar”. O entrevistado comentou que, depois que os palhaços saíram, a criança falou da visita e relembrou todos os momentos, enquanto contava para sua mãe que acabava de chegar, sendo que sua filha “ficou muito animada, e acabou me animando também”. 9ª criança: Dra. Docinho Internada no dia anterior a coleta de dados, devido a uma pneumonia. A criança subitamente começou a passar mal, e foi levada as pressas para o hospital – o que mobilizou toda sua família. No momento da coleta de dados ela estava acompanhada por sua tia e prima, já que a mãe da criança estava descansando em casa. 70 Desenho 1: “No desenho eu estou feliz, porque estou na floresta, sem sentir dor e sem ninguém perto. Aqui eu estou triste, porque que meus irmãos vão comer meu chocolate... eu estou aqui e eles não”. Desenho 2: 71 “Estou feliz porque vou sair daqui e minha mãe vai guardar meus chocolates, pra eu comer quando puder. No desenho eu estou feliz e brincando, mas não estou sozinha... estou indo pra casa dos meus amigos brincar com eles”. No desenho 1 a criança a desenhou fora do hospital, afirmando que ela, naquele momento, estava triste, representando o seu desejo de estar em casa. Mas, por estar fora do hospital no desenho, a criança fala que a representou feliz, sem sentir dor e sem ter ninguém por perto – revelando sua vontade de ficar sozinha, sem todos os cuidados necessários para a condição de estar hospitalizada. O desenho 2 possui mais detalhes e sua história também aponta diferenças, já que neste a criança revela que não está mais triste, e sim feliz pois irá sair do hospital. Cabe aqui ressaltar que esta criança não tinha previsão de alta, deste modo, pode-se observar que a intervenção dos “Terapeutas” contribuiu para a mudança no comportamento emocional da mesma. Apesar dos dois desenhos terem representações parecidas, o desenho 2 está mais elaborado e apresenta uma resolução positiva – mesmo não sendo real. Isto significa que brincar com os palhaços fez a criança enxergar além do ambiente em que se encontrava – tornando, assim, mais fácil para a mesma enfrentar sua condição. A entrevista foi realizada com sua prima (filha da acompanhante da criança, tem 19 anos de idade), pois sua tia havia saído e só iria retornar no final da tarde. A entrevistada afirmou que o comportamento de sua prima mudou bastante com a internação, já que “mesmo fazendo pouco tempo (que ela está internada), já percebi que ela mudou bastante. Em casa ela é diferente, é mais alegre, brincalhona; aqui ela está muito quieta, não fala nada, só responde com a cabeça”. Sua prima achou que Dra. Docinho pareceu bastante surpresa com a visita dos palhaços, “ela parecia 72 não acreditar que era verdade”, sendo que a paciente foi abordada no corredor do hospital por um palhaço, que conversou com ela e a criança “até começou a dançar, nem parecia que estava no hospital”. “Achei muito bonito o trabalho deles. Quando estava lá embaixo vi eles entrarem e fiquei imaginando como a Dra. Docinho reagiria, já que até eu fiquei feliz por ver eles. Ela reagiu da melhor maneira possível, por até ter conversado com os palhaços, achei que depois da visita ela ficou mais alegre, agora nem quer deitar na cama, só fica sentadinha com as pernas para fora, parece que quer ir lá para o corredor de novo”. 10ª criança: Dra. Simpatia Internada há 4 dias, devido a uma infecção do trato urinário – ITU. Estava acompanhada por sua mãe e foi muito receptiva, principalmente quando soube que poderia participar desta pesquisa. Desenho 1: 73 “Eu desenhei a Mia... Ela é parecida comigo, mas ela faz novela. Ela está feliz, pois não está no hospital e pode ir para aula, passar a Páscoa com sua família. Ela gosta do hospital, mas não gosta de sentir dor ou de ficar só deitada. Ela queria só ficar na escola, igual seus amigos”. Desenho 2: “Aqui são as coisas que me lembram dos palhaços: é o lápis com o coelho, um óculos cor-de-rosa, um palhaço com cara de coelho, e o coração que os palhaços pediram pra eu desenhar quando eles estavam aqui. Desenhei tudo isso porque fiquei feliz com a visita deles”. “Eles me deram um óculos para enxergar a vida mais cor-de-rosa, eu gostei muito porque até as paredes daqui ficaram mais bonitas”. No desenho 1, pode-se perceber que, mesmo representando uma personagem que não é a própria criança, ela apontou em seu relato aspectos de sua própria vida, como o estar no hospital e o desejo de ir para aula como seus amigos – 74 sugerindo que, de fato, a personagem e Dra. Simpatia tinham mais aspectos em comum do que somente o físico. Porém, talvez a criança não a desenhou no lugar da “Mia” por não conseguir se imaginar fora do ambiente hospitalar. A personagem, por estar fora do hospital, está feliz, mas esse fato pode não ser congruente com o que Dra. Simpatia sentia, naquele momento, pois mesmo gostando do hospital, existe o sentimento de dor, que para esta criança é um estímulo aversivo. A criança representa no desenho 2 objetos e lembranças da visita dos “Terapeutas”. A intervenção deste grupo também inclui um processo de comunicação, no qual os palhaços deixam como lembrança balões com formas de cachorro, marcas de maquiagem no rosto, e lembranças de datas festivas (como na Páscoa, em que os palhaços levaram lápis de escrever com enfeites de coelho). Segundo Masetti (1998), essa ação serve para religar a criança à interação, mesmo na ausência dos palhaços – servindo como uma lembrança que a remete à intervenção realizada. Cada vez que vê os objetos deixados, a criança pode lembrarse das brincadeiras, revivendo a experiência pela qual passou. Esse fato também ajuda a transformar a realidade em sua volta, como se os objetos tivessem uma função psicológica: a recordação da experiência vivida serve para fazer o paciente acreditar na sua capacidade de brincar, fantasiar, rir, apesar da situação de doença e hospitalização. Dos itens desenhados pela Dra. Simpatia após a visita dos “Terapeutas”, os “óculos que deixam a vida mais cor-de-rosa” receberam destaque, talvez por propiciar que as paredes e o próprio hospital recebessem outra cor, ou uma visão diferente da que a criança estava enxergando durante sua internação. Na entrevista, sua mãe falou que Dra. Simpatia foi bastante compreensiva em relação à internação, “acho que fiquei com mais medo que ela. Qualquer dor que 75 ela sentia doía muito em mim, por isso vim pra cá para cuidarem dela, agora ela está bem melhor”. Sobre a visita dos “Terapeutas”, a mãe da criança relatou que Dra. Simpatia riu bastante e pareceu entrar na brincadeira: “eles ficaram bastante tempo aqui e ela ficou encantada com aquilo, quando eles foram embora ela estava rindo sozinha, falando alto, toda animada, até estranhei porque pelo menos aqui (no hospital) ela não é assim, ela fica mais quieta aqui”. 11ª criança: Dr. Espetado Internado há 7 dias, não recebeu a visita dos “Terapeutas” na semana anterior, porque se encontrava em isolamento devido a meningite bacteriana que havia contraído. Começou a ter febre no final da manhã, o que o desanimou, pois achava que ganharia alta hospitalar em breve e poderia voltar para casa. Desenho 1: “Estou decepcionado... já achei que tinha melhorado tudo, mas deu febre de novo”. “Eu ia desenhar eu aqui e todo espetado, mas no próximo eu desenho. Assim, todo 76 espetado, é o jeito que eu fiquei a semana inteira no hospital... Sai gente de todo o canto, entra, espeta e vai embora”. Desenho 2: “Desisti de me desenhar espetado porque iria ficar muito feio, então me imaginei fora daqui, brincando, fica mais legal assim”. “Estou rindo neste desenho porque não tem agulhas no braço, e eu nem estou preso no quarto, preferi só ter um ataque de riso”. No desenho 1 fica visível a tristeza da criança e sua decepção, sendo que ele pensava que iria receber alta no próximo dia, mas a febre adiou sua volta para casa. Ele fala de sua situação no hospital, como se tivesse ficado mais forte (recebendo, com isso, o orgulho de sua mãe) já que estava acostumado a ficar “todo espetado”. Antes desta internação, Dr. Espetado disse que tinha medo de vacina, mas “depois que tive que fazer a pulsão com uma agulha maior do mundo, nunca 77 chorei com essas daqui”. Revelou também o jeito que ele entende as rotinas dos enfermeiros, como se eles apenas entrassem, fizessem ele “sofrer” (espetando-o com as agulhas) e fossem embora sem se importar com essa conduta e com o paciente. No desenho 2, a criança desiste de se desenhar “espetado” por agulhas, por considerar que “ficaria muito feio”, talvez revelando sua visão de que esses procedimentos não o agradam, já que o desenhar fora do hospital e brincando ficaria “mais legal”, pois representaria longe de qualquer procedimento invasivo. A entrevista foi realizada com a mãe e o pai de Dr. Espetado, simultaneamente, já que sua mãe não estava presente durante a intervenção dos “Terapeutas” e, então, não poderia responder as questões sobre esse assunto. A mãe da criança afirma que no hospital Dr. Espetado está muito diferente: “aqui ele fica bem mais quieto. Bastante coisa muda”. A respeito da reação da criança frente aos procedimentos médicos invasivos, sua mãe afirma que ele “não reage de maneira negativa, não chora nem nada. Na verdade eu até me surpreendi com ele, como ele foi forte e entendeu tudo o que acontecia com ele”. A respeito da visita dos “Terapeutas”, seu pai relatou que durante a intervenção Dr. Espetado estava sonolento, já que estava com 38 graus de febre, e os enfermeiros haviam colocado “Dipirona direto na veia”. Entretanto, Dr. Espetado foi bastante receptivo com os “Terapeutas”, brincando e contando histórias, “mesmo caindo de sono ele queria aproveitar a oportunidade de falar com os palhaços, que aqui é o que mais se aproxima de uma brincadeira”. Durante a intervenção, uma rede de televisão entrou no quarto para filmar a visita à Dr. Espetado, sendo que a repórter questionou o que ele achava desses palhaços no hospital e a criança respondeu que “era bom e diferente”. Seu pai ainda afirmou: “ele estava triste com a 78 febre que tinha parado e começou de novo, mas agora parece estar mais tranqüilo, está brincando com o lápis do coelho (deixado pelos Terapeutas) o tempo todo”. A partir destes relatos e da análise realizada nos desenhos, arriscaríamos afirmar que o principal objetivo da intervenção dos “Terapeutas da Alegria”, que é possibilitar às crianças e adolescentes hospitalizados, suas famílias e profissionais da área da saúde a experiência da alegria em meio a tensão do ambiente hospitalar, foi constatado. Por meio da arte, existe um poder de comunicação que está além das palavras – como no uso de desenhos feitos por crianças. O desenho, em cada etapa da evolução das atitudes intelectuais, perceptivas e motoras das crianças, representa um compromisso entre suas intenções narrativas e seus meios. A comunicação dos resultados por esta forma de expressão ampliou a possibilidade de compreensão dos efeitos da interação dos palhaços com as crianças. 79 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente estudo foi realizado com 11 crianças internadas no Hospital Universitário Pequeno Anjo - HUPA, analisando seus desenhos antes e após a visita dos “Terapeutas da Alegria”, a fim de verificar as mudanças entre as representações artísticas e os relatos da criança sobre seu desenho. Para aprimorar a compreensão dos dados obtidos pelos desenhos dos participantes, foi realizada uma entrevista com seus acompanhantes. Pelos desenhos, as crianças representaram com riqueza suas experiências dentro do hospital, prevalecendo este tema no desenho 1. Dicotomia, fragmentação e longos espaços vazios predominaram nas folhas de papel, além da expressão do desejo da volta para casa, de procedimentos hospitalares, camas, agulhas, sem médicos, sem enfermeiras, sem mães — enfatizando o anonimato e distanciamento vivenciado dentro do espaço hospitalar. Na análise dos desenhos foram observadas as diferenças de características (de estilo, cores, formas, tamanhos, histórias, representações) ou alterações na percepção da situação da internação para a criança internada em relação aos dois momentos. Assim, foi possível observar que no desenho 2 o tema escolhido (antes focado em tristeza e hospitalização) mudou; as crianças eventualmente utilizaram mais cores, régua, representações maiores – indicando um aumento da expansão de movimentos da criança e de sua forma de se posicionar diante da hospitalização. Minimizar a angústia da criança durante a hospitalização é um dos objetivos da proposta dos “Terapeutas da Alegria”. Sendo que, objetivando também a distração da criança, levando-a em sua imaginação para um lugar longe daquele ambiente hospitalar hostil, os palhaços atuaram como um estímulo positivo – na 80 medida em que a criança foi capaz de desenhar um outro tema que não a remete para a sua situação (da hospitalização, limitação, perdas, isolamento) naquele momento. Em todos os desenhos 2, as crianças mudaram os temas representados, de diferentes formas. O fator mais ressaltado foi o seguinte: no desenho 1 a criança a representava sozinha – destacando o sentimento de isolamento que a mesma sente por estar doente, por ser “diferente”; e no desenho 2 a criança passa a estar acompanhada: ou pelo palhaço (nos desenhos do Dr. Desenhista, Dra. Espirro); ou pelo acompanhante (Dra. Costurada, Dra. Fala-Nada), ou por outras pessoas, como o médico (Dra. Sabe-Tudo, Dra. Quer-Alta). Isso leva a perceber que com a intervenção dos “Terapeutas”, o distanciamento e solidão que a criança sente por estar hospitalizada torna-se para ela irrelevante. Desta forma, permitindo-se enxergar os palhaços como crianças, ou como pessoas que estão na mesma situação que ela; a criança começa a inserir-se como igual às outras pessoas – gerando um novo ponto de vista, que a aproxima da condição de ter saúde e recontextualiza a realidade vivida. Em outros desenhos as crianças modificaram seus relatos após a atuação dos palhaços, apresentando resoluções ou temas melhores e mais positivos. Esta foi a característica dos desenhos da Dra. Docinho, Dra. Risadinha, e do Dr. Espetado. E nos outros desenhos as crianças representaram somente a lembrança da visita dos Terapeutas, sem desenhar ela mesma, este foi o caso da Dra. Simpatia e da Dra. Feliz. Por meio de mecanismos como regularidade e repetição, a memória dá significado aos eventos e assim constrói uma realidade. Para facilitar a memorização e a constância dos fatos, muitas vezes ela os aprisiona em um único significado, 81 deixando-os imóveis. Assim, a possibilidade de perceber outras realidades, significados ou sentidos na atuação do palhaço, leva a criança a reconstruir sua própria realidade – através da alegria, distração, humor, vínculo que ela vivencia durante a intervenção do grupo. Pode-se afirmar, então, que esse estímulo eliciador de respostas positivas (a visita dos “Terapeutas”) disputa com o estímulo aversivo (situação da hospitalização) e assim resulta em um novo “estado” da criança. Este estímulo capacita a criança a pensar e a expressar novas idéias que proporcionam novos temas, os quais abordam não mais suas dificuldades decorrentes da hospitalização, mas sim a distração e a alegria que encontrou enquanto enfrentava tal momento. Assim, a criança valoriza novas situações na realização de seu segundo desenho, situações estas que não remetem as situações de angústia representadas no primeiro desenho. O hospital onde esta pesquisa foi realizada é referência no atendimento infantil, preza a humanização, conta com uma estrutura moderna e equipe de saúde especializada; porém, ainda assim, é evidente o desejo da criança em estar em casa, com sua família, amigos, indo para aula e realizando sua rotina diária. Frente a isso, percebe-se a preocupação da criança em ter sua independência e autonomia – sem ser infantilizada, com restrições quanto a sua alimentação, ou sem precisar de um adulto cuidando da mesma a todo o momento. Com crianças mais novas, como Dra. Risadinha que tem apenas 7 anos e parece não assimilar corretamente o processo de internação, os “Terapeutas” possuem a função de organizar a situação para a própria criança. Este resultado pode fazer com que a criança perceba o ambiente em que está inserida e entenda ou elabore melhor sua situação, possibilitando também que a criança não adquira 82 conceitos incorretos a respeito de sua internação e aceite melhor este período – colaborando com os procedimentos realizados. A oportunidade de observar estas crianças antes, durante e após a visita dos palhaços, permitiu observar que o humor destas melhorou muito após a intervenção. Se as crianças eram tímidas, desanimadas e introspectivas, elas passavam a falar mais na presença dos palhaços e, inclusive, a forma que elas estavam deitadas na cama se alterava. Elas pediam para as mães sentá-las na cama, ou as mesmas se sentavam eretas a fim de participar melhor da intervenção dos palhaços, sendo que esta posição permanecia mesmo após a intervenção. Nas entrevistas realizadas com os acompanhantes das crianças, percebeuse ainda mais o valor que eles próprios e as crianças atribuem à visita dos “Terapeutas”. Os acompanhantes relataram que as crianças passaram a rir mais, ficaram mais alegres e animadas, e, para os pais, o sorriso funciona como um indicador importante de recuperação física dos filhos, ajudando a diminuir a ansiedade e tornando a percepção da hospitalização mais positiva. A forma de aproximação e contato do palhaço com a criança propicia aos pais a percepção de um cuidado especial e individualizado com ela. Além disso, para os pais, a mudança na condição emocional da criança, a partir da atuação dos palhaços, é de importância fundamental na sua própria condição emocional. A intervenção dos “Terapeutas” permite ao espectador redimensionar a realidade, trazendo com isso uma sensação de liberdade – fato que foi observado nos desenhos das crianças após a intervenção. O palhaço cria novas relações entre os fatos e quebra a lógica da previsibilidade, ao propor soluções inusitadas para uma determinada situação. Quando o palhaço afirma que o soro é “água de coco”, que seus óculos “servem pra ver a vida mais cor-de-rosa”, ou perguntam se a 83 criança é um herói de histórias em quadrinhos; eles criam uma nova realidade, muito distante daquela que a criança vivencia no ambiente hospitalar. Assim, sua presença abre a possibilidade de perceber os acontecimentos por novos ângulos – ampliando a realidade habitualmente construída. Pode-se destacar que, utilizando o humor como recurso essencial os palhaços desempenham seu trabalho junto a pacientes hospitalizados, auxiliando-os a superar os traumas inerentes aos processos de enfermidade e internação, restituindo o brincar e a alegria como parte integrante de suas vidas. Assim, o mais revolucionário na intervenção dos “Terapeutas” é o relacionamento com o lado da criança que quer brincar; pois, por mais grave que seja o estado clínico de um paciente, existe ali uma essência saudável que pode ser desenvolvida através da arte. Finalizando, o presente estudo oportunizou uma reflexão sobre este tema, enfatizando a relevância desta prática humanizadora no atendimento à crianças hospitalizadas. Os resultados desta investigação contribuem para uma maior compreensão sobre a intervenção dos “Terapeutas”, na medida em que esta forma de interagir pode tornar as crianças mais comunicativas e cooperativas frente a procedimentos e exames – assim, também contribuindo para a prática dos profissionais de saúde. Inclusive, a intervenção dos “Terapeutas” – por valorizar o vínculo, o contato, o atendimento individualizado – pode ser vista como um modelo a ser seguido por profissionais da saúde, em prol da humanização dessa assistência. 84 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ADAMS, Patch. O amor é contagioso. São Paulo: Sextante, 1999. ANGERAMI-CAMON, Valdemar Augusto (Org.). Psicologia hospitalar: teoria e prática. 2.ed. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2001. ________________. Tendências em Psicologia Hospitalar. 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Sendo que serão realizados desenhos com as crianças internadas, e entrevistas com os acompanhantes das mesmas, a fim de verificar até que ponto a proposta de humanização e mudança na realidade hospitalar dos “Terapeutas da Alegria” – grupo que utiliza a figura do palhaço para levar alegria, motivação e conforto para as crianças hospitalizadas – contribui para a alteração de respostas emocionais negativas frente à hospitalização. Está ciente, também, do período de participação dos voluntários para esta pesquisa, e que esta não envolve qualquer risco a seus voluntários, sendo que garantimos total sigilo e o direito de recusar a participação a qualquer tempo. Os dados coletados poderão ser utilizados tanto para fins acadêmicos, como para a publicação em eventos ou revistas cientificas, sendo comunicado a esta instituição a possibilidade de divulgar o nome da mesma. Local:_____________________________________ Data:____/_____/_________. Assinatura (de acordo): ______________________________. 92 7.2 APÊNDICE B TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Você está sendo convidado(a) para participar, como voluntário, de uma pesquisa. Após ser esclarecido(a) sobre as informações a seguir, no caso de aceitar fazer parte do estudo, assine ao final deste documento, que está em duas vias. Uma delas é sua e a outra é do pesquisador responsável. Em caso de recusa você não será penalizado(a) de forma alguma. INFORMAÇÕES SOBRE A PESQUISA: Título do Projeto: Crianças hospitalizadas: a utilização do desenho na avaliação de respostas emocionais obtidas antes e após a intervenção dos “Terapeutas da Alegria”. Pesquisador Responsável: Giovana Delvan Stühler E-mail: [email protected] Pesquisadores Participantes: Vanessa Romanio Tax Telefone para contato: (47) 9918 1808/ E-mail: [email protected] Esta pesquisa tem como objetivo investigar, através de desenhos de crianças hospitalizadas, o quanto a proposta dos “Terapeutas da Alegria” - grupo que utiliza a arte e a figura do palhaço para levar alegria, descontração, e brincadeiras à crianças hospitalizadas - ameniza respostas emocionais negativas decorrentes da hospitalização. Para este fim, participarão da pesquisa crianças internadas no Hospital Universitário Pequeno Anjo - HUPA, de 6 a 12 anos de idade, em situação de primeira internação em período menor que uma semana; e também os pais ou acompanhantes da mesma. Sendo que com os pais ou acompanhantes será realizada uma entrevista, com o objetivo de investigar se estes perceberam alguma melhora no comportamento da criança internada após os “Terapeutas da Alegria” visitarem a criança; e com as crianças será solicitado para que as mesmas realizem um desenho antes e outro após a visita dos “Terapeutas da Alegria” representando o que sentem no momento da realização da atividade – para posterior observação das mudanças nestes, e também serão registradas as expressões verbais da criança durante esta atividade. O período de participação dos voluntários para esta pesquisa será de um dia, já que os desenhos das crianças serão coletados pela manhã e ao final do dia, e a entrevista com os responsáveis da criança será realizada após o término do segundo desenho. Esta pesquisa não envolve qualquer risco a seus voluntários, sendo que garantimos total sigilo e o seu direito de retirar este consentimento a qualquer tempo. Nome do Pesquisador: Assinatura do Pesquisador: 93 CONSENTIMENTO DE PARTICIPAÇÃO DO SUJEITO: Eu, _________________________________, RG _____________________, CPF____________________ abaixo assinado, concordo em participar do presente estudo como sujeito. Fui devidamente informado e esclarecido sobre a pesquisa, os procedimentos nela envolvidos, assim como os possíveis riscos e benefícios decorrentes de minha participação. Foi-me garantido que posso retirar meu consentimento a qualquer momento, sem que isto leve á qualquer penalidade. Local e data:_________________________________________________________ Nome:______________________________________________________________ Assinatura do Sujeito ou Responsável:_____________________________________ Telefone para contato:_________________________________________________ 94 7.3 APÊNDICE C ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA Entrevista nº________. 1. DADOS DE IDENTIFICAÇÃO Nome do paciente (somente iniciais): Idade: Sexo: Escolaridade: Motivo da internação: Período de internação: Nome do entrevistado: Parentesco: 2. ROTEIRO DA ENTREVISTA 2.1 Qual a reação do paciente frente à situação da internação? 2.2 Como o paciente reage aos procedimentos médicos invasivos (injeções, medicações, cirurgias ou qualquer outro tipo de intervenção)? 2.3 Como foi a reação do paciente frente a visita dos “Terapeutas da Alegria”? 2.4 O(A) Sr(a) observou mudanças no comportamento do paciente após a visita dos “Terapeutas da Alegria”? Quais?