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Análise tipológica: levantamento e categorização de edifícios históricos
do centro de Anápolis, GO.
1
Débora Cristine Guerra de Carvalho (IC)*. Fernando Antonio Oliveira Mello (PQ)
1
[email protected]
Universidade Estadual de Goiás. Campus Anápolis de Ciências Exatas e Tecnológicas Henrique
Santillo. BR 153, Nº3105 Fazenda Barreiro do Meio. Caixa Postal 459. CEP: 75132-400. Anápolis,
GO.
Resumo:
Um breve olhar pelo centro da cidade de Anápolis revela ainda a permanência de edifícios em estilo
colonial, eclético, art-déco e modernista. Edificações que mantêm grafados na paisagem da cidade
vestígios da história e da memória local. Provavelmente, os casarões coloniais são resquícios da
ocupação do território ocorrida no século XIX. Já do século XX, os edifícios ecléticos, déco e
modernistas supostamente coincidem com o período da chegada maciça de imigrantes, da
modernização vinda com a ferrovia e de possíveis influxos vindos com a construção de Goiânia e de
Brasília. Não obstante, o intenso processo de renovação de áreas centrais não somente da cidade do
interior Goiás, mas da maioria das cidades brasileiras, sobreleva a importância da catalogação de seu
patrimônio edificado como registro documental da arquitetura passadista. Diante dessa constatação o
objetivo desse trabalho é contar a história de Anápolis vista através da arquitetura. O recorte temporal
previsto vai da origem da cidade ao final da década de 1950, tido pela historiografia da arquitetura
como final do auge da produção da arquitetura modernista. Como etapas de pesquisa estão previstas
o mapeamento de edificações históricas ainda existentes – levantamento tipológico - categorizandoas por época e estilo de construção.
Palavras-chave: Arquitetura. História. Anápolis.
Introdução
Ao observarmos o conjunto de edifícios conformadores do centro de Anápolis, nos
deparamos com uma amostragem do complexo fenômeno que envolve a forma
arquitetônica em sua dimensão histórica. Conjunto que apresenta diferenças
profundas relacionadas, principalmente, com as estruturas elementares sob os quais
estes edifícios foram concebidos.
Esse conjunto, a arquitetura histórica que compõe o centro de Anápolis, será o
objeto de investigação desse trabalho que tem como propósito o mapeamento e
categorização da arquitetura produzida em tempos passados.
Tal categorização se insere na abordagem tipológica da arquitetura que, desde
séculos atrás, é alvo de estudos e pesquisas acadêmicas. A necessidade de uma
codificação da arquitetura levou aos estudos de tipos ainda no século XVIII e XIX.
Por essa época, o tratadista francês Quatremère de Quincy definiu o conceito de tipo
como oposição ao de modelo. Para Quincy, o tipo é a razão originária das coisas,
objetivando fornecer uma ideia ou intenção, enquanto o modelo é fechado, completo
e preciso. (COUQUHOUN, 2004)
Mais próximo ao nosso tempo, Argan (1992) defendeu o conceito de tipologia não só
como sistema de classificação, mas também como processo criativo, classificando-o
em três categorias relativas à configuração geral do edifício, aos seus elementos
construtivos e aos elementos ornamentais.
Na mesma linha, Rossi (2001) discutiu a arquitetura da cidade e a importância da
continuidade histórica ao estudar os elementos compositivos da cidade e as formas
de agrupamento para formar o bairro, identificando o tipo como elemento
fundamental da arquitetura. Dessa maneira, o tipo estaria mais fortemente ligado à
lógica da forma e estruturação urbana, que propriamente à sua função.
Da escola italiana o conceito de “tipologia edilícia” passou a gravitar na morfologia
urbana, método de análise que investiga os componentes físicos espaciais (lotes,
ruas, edifícios, áreas livres) e socioculturais (uso, apropriação e ocupação) da forma
urbana e como eles variam em função do tempo. Estudos que vêm sendo
amplamente usados na elaboração de planos de preservação histórica ou de
renovação de cidades.
É com essa intenção que surgiu o objetivo dessa pesquisa: levantar, mapear e
categorizar a arquitetura histórica do centro de Anápolis buscando destacar a
interdependência
entre
tipos arquitetônicos,
a
estrutura
da
cidade
e
as
transformações no tempo, no sentido de contribuir para preservação do patrimônio
cultural edificado.
Material e Métodos
Esse é um trabalho de natureza qualitativa e utiliza a pesquisa documental,
bibliográfica e de campo para obtenção dos dados.
Num primeiro momento, com o trabalho de campo, foram mapeadas as edificações
históricas ainda existentes no centro de Anápolis. Tais edificações foram, então,
categorizadas segundo os tipos arquitetônicos apresentados por Reis Filho (2004).
Num segundo momento, através da pesquisa documental, coletou-se informações
em acervos públicos e particulares sobre as origens e vínculos históricos das
edificações mapeadas. Nesse estágio o foco esteve na coleta de informações em
jornais de época e na obtenção de fotografias que registraram as transformações da
cidade. Informações também buscadas em fontes secundárias como livros e artigos.
Os dados obtidos foram sistematizados tanto em mapas quanto em formato de
cronologias.
Resultados e Discussão
A passagem pela história de Anápolis levou ao reconhecimento de quatro momentos
principais de sua formação: a mineração no Centro-Oeste; a chegada dos
imigrantes; da ferrovia; e o momento da construção das duas novas capitais na
região: Goiânia e Brasília. Dados considerados de maior relevância por ter sido
possível visualizar seu rebatimento na formação do espaço da cidade, foco dessa
pesquisa.
Paralelo aos levantamentos da história local, o mapeamento das edificações
permitiu visualizar a produção da arquitetura produzida nos períodos acima. Ao
correlacionarmos história e produção da arquitetura foi possível estabelecer três
períodos, que conduziram as análises e as demais discussões: arquitetura da
mineração; arquitetura da ferrovia e dos imigrantes; arquitetura entre capitais (Fig.
1).
Figura 1 – Resquícios da arquitetura histórica de Anápolis. Fonte: Acervo do autor.
Arquitetura da mineração:
Além da capela, cuja construção está ligada à origem da cidade, as edificações
construídas nesse período seguiam o padrão descrito por Reis Filho (2004) para as
casas do período do Brasil Colônia: edificação na parte frontal com fachada na
testada do terreno; telhados com duas ou quatro águas; estrutura autônoma de
madeira com base de pedra; paredes de taipa de mão ou de pilão; janelas e porta
regulares em madeira.
Arquitetura da ferrovia e dos imigrantes:
O retorno à história de Anápolis mostrou que a produção de café e a chegada da
ferrovia na década de 30 alavancaram o desenvolvimento local, estimulando tanto
as atividades comerciais quanto a agricultura. Paralelamente, tanto a mobilidade
vinda com a ferrovia quanto o capital econômico gerado pela produção cafeeira,
intensificou o fluxo de imigrantes, vindos entre os anos de 1912 e 1935. (LUZ, 2009)
Foi, portanto, um momento de remodelagem da cidade para se adequar aos novos
tempos e às novas exigências. O ecletismo se apropriou dos novos materiais de
construção, que vieram no bojo da Revolução Industrial, como: o ferro, o vidro, os
ladrilhos hidráulicos. Assim, o estilo foi tomado como instrumento de demonstração
de progresso, de urbanidade e de status, realizando uma transição entre os antigos
paradigmas arquitetônicos e uma nova conjuntura política, econômica e social.
(REIS FILHO, 2004)
Como uma inquietude renovadora típica do período, o ecletismo chegou também às
habitações de Anápolis. Difundiu-se o tipo de casa urbana com porão alto, jardim
lateral, varanda em perfis metálicos e, claro, com suas fachadas ricamente
decoradas e arrematadas por platibandas. Esquema básico que se desdobrou em
versões monumentais e modestas (Fig. 2).
Arquitetura entre capitais:
Em décadas distintas, outros dois fatos históricos repercutiram nos influxos culturais
que acarretaram em mudanças na paisagem urbana de Anápolis: a construção das
capitais Goiânia e Brasília. A primeira foi o marco do Art Déco na região e a segunda
do Modernismo Carioca.
Em Anápolis, a arquitetura de linhas geometrizadas foi aplicada em galpões
industriais; no conjunto abrigou a sede da administração pública, como em Goiânia;
em lojas e residências. No geral, o déco imprimiu suas marcas, seja em construções
novas ou em fachadas reformadas, junto a diferentes segmentos da população. De
casas burguesas a populares, é possível ver, ainda hoje, as linhas geometrizadas
especialmente os volumes, os vãos e as superfícies escalonadas.
Já a década de 1950 trouxe novas influências com o projeto e a construção de
Brasília. Novamente, Anápolis situada entre as duas capitais, receberia influencia
das novidades. Dessa vez, a sintaxe corbusiana chegava ao sertão, sobretudo,
através das obras de Oscar Niemeyer construídas em Brasília (Fig. 3).
Considerações Finais
Ainda que construídas com algum atraso quando comparado às periodizações feitas
por historiadores da arquitetura brasileira, condição que se deve a ocupação tardia
da região Centro-Oeste, foi possível verificar que estão presentes no centro de
Anápolis vestígios da grande maioria de estilos que compõem o acervo da produção
da arquitetura brasileira no período aqui investigado. Conjunto que revela, como
mostrado, o trajeto da formação da cidade ao longo do tempo e de suas
especificidades espaçotemporais.
Referências
ARGAN. Giulio Carlo. História da arte como história da cidade. São Paulo: Martins
Fontes, 1992.
COLQUHOUN, Alan. Modernidade e tradição clássica. São Paulo: Cosac & Naify,
2004.
LUZ, Janes Socorro. A (re)produção do espaço de Anápolis/GO – a trajetória de uma
cidade média entre duas metrópoles, 1970-2009. 2009. 349 f. Tese (Doutorado em
Geografia) – Instituto de Geografia, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia.
REIS FILHO, Nestor Goulart. Quadro da arquitetura no Brasil. São Paulo:
Perspectiva, 2004.
ROSSI, Aldo. A arquitetura da cidade. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
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