Compensação e doença Para entender um pou

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BIOLOGIA CARDIOVASCULAR
Compensação e doença Para entender um pou-
co melhor o universo da hipertrofia cardíaca, é preciso, em
primeiro lugar, investigar dois pontos essenciais: 1) se
todo ganho de massa do coração é prejudicial ao organismo e 2) que condições levam à hipertrofia cardíaca.
Vamos tomar como exemplo o coração de um atleta,
normalmente considerado mais eficiente no bombeamento de sangue, quando comparado ao de um indivíduo
sedentário saudável. Essa eficiência está diretamente relacionada à maior espessura dos ventrículos, bem como ao
aumento, em número e largura, das células musculares
que compõem o órgão (miócitos cardíacos). Essa hipertrofia
observada nos atletas é denominada fisiológica e considerada benéfica, porque não há produção de tecido fibroso
ou disfunção do órgão e é indispensável para atender à
maior exigência física associada ao esporte de competição.
No entanto, pessoas sedentárias também podem desenvolver hipertrofia cardíaca. Em geral, o fator que desencadeia o problema nesses indivíduos é alguma doença,
como aterosclerose (acúmulo de gorduras nas paredes dos
vasos sanguíneos), hipertensão, diabetes ou mesmo o infarto. Esses problemas dificultam o fluxo sanguíneo e,
portanto, exigem do coração maior esforço para bombear
o sangue, causando também aumento de massa do músculo cardíaco. Em curto prazo, essa hipertrofia compensa
a redução da capacidade de bombeamento, mas em médio e longo prazos ela – agora caracterizada como doença – predispõe o indivíduo a variações na frequência cardíaca (mudanças no ritmo dos batimentos cardíacos),
falência do coração e morte súbita.
O desfecho da hipertrofia cardíaca é complexo e envolve a atuação de diversas estruturas microscópicas, invisíveis a olho nu, e processos como a atividade neuronal,
a liberação de hormônios e citocinas (pequenas moléculas
produzidas pelo organismo, que levam e trazem informa-
Figura 2. No Brasil,
o número de mortes
por doenças
relacionadas
ao aparelho
circulatório vem
crescente, como
mostram os dados
do Sistema Único
de Saúde (SUS) para
o período entre
1996 e 2008
ção para os órgãos). Em conjunto, essas estruturas e processos são capazes de causar o visível aumento de massa
do coração.
Mensagens para as células Mas como a libera-
ção dessas moléculas pode aumentar em largura e número as células do coração? Para responder, temos que lembrar que todas as células do nosso corpo são unidades
minúsculas, mas, em conjunto, formam toda a nossa estrutura – pele, olhos, língua, coração etc. Cada célula
exerce um pequeno e importante papel em nossas atividades diárias, seja na fala, na visão, na sensação de gosto
e de dor e na produção de urina e sangue, por exemplo.
Portanto, mesmo que atuem em processos ‘automáticos’, como o bombeamento do sangue, que ocorre sem
termos consciência dele, é preciso que as células ‘saibam’ o que acontece fora delas, já que tudo em nosso
corpo está conectado. Os hormônios e citocinas são, portanto, as ‘mensagens’ enviadas a todas as células, para
informá-las do que está acontecendo no restante do organismo, de modo que possam trabalhar de acordo com
as necessidades do indivíduo.
Em um atleta, os hormônios e citocinas liberados
‘informam’ às células do coração que elas precisam se
multiplicar e aumentar em tamanho, visando suprir
as necessidades associadas ao grande esforço físico.
Entretanto, embora tenha um coração maior que o de
pessoas normais sedentárias, o atleta não apresenta qualquer patologia cardíaca. Já em pessoas obesas ou com
altos níveis de colesterol, por exemplo, também ocor­re a liberação de moléculas que induzem o crescimento
do coração. Nessas pessoas, porém, o aumento do ór­gão é acompanhado de disfunção cardíaca, podendo le>>>
var à morte.
320
310
300
NÚMERO DE MORTES (EM MILHARES)
POR DOENÇAS DO APARELHO CIRCULATÓRIO
BRASIL (DATASUS)
290
280
270
260
250
240
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
288 | DEZEMBRO 2011 | CIÊNCIAHOJE | 35
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