AVALIAÇÃO DE CULTIVARES DE FEIJÃO NO SUDOESTE GOIANO Paulo Sergio Carmo1, Helder Barbosa Paulino1, Vilmar Antonio Ragagnin1* RESUMO: A busca por cultivares produtivas, com características agronômicas desejáveis, adaptadas a diferentes locais e épocas de cultivo, é uma constante. Neste sentido, o objetivo deste trabalho foi avaliar cultivares de feijoeiro comum, dos grupos carioca, preto e precoce em duas épocas de semeadura (safrinha e safra) no sudoeste goiano e comparando as cultivares quanto aos componentes primários de produção e adaptabilidade a colheita mecanizada. O delineamento experimental foi em blocos casualizados, com quatro repetições e doze cultivares: Pérola, BRS Estilo, BRS Horizonte, BRS Pontal, BRS Requinte, BRS Valente, BRS Supremo, BRS Grafite, BRS Campeiro, BRS Esplendor, BRS Radiante e Jalo Precoce. A semeadura realizada em período com maior temperatura (safra) causou redução no número de dias para o florescimento e maturação, e aumento na produtividade média de grãos. As cultivares estudadas mostraram alturas de planta e inserção da primeira vagem menor que 10 cm, sendo consideradas desfavoráveis à colheita mecanizada. Exceto à massa de cem grãos, todas as demais características mostraram-se, positivamente, correlacionadas com a produtividade de grãos. As cultivares estudadas apresentaram baixas produtividades, variando de 554,9 a 1639,6 kg ha-1, na safrinha, e de 675,8 a 1907,2 kg ha-1, na safra. Palavras-chave: Épocas de semeadura, fatores de produção, produtividade de grãos. EVALUATION OF COMMON BEAN CULTIVARS IN SOUTH WEST GOIÁS Abstract: The search for productive cultivars with desirable agronomic characteristics, adapted to different locations and growing seasons is a constant. In this sense, the objective of this study was to evaluate common bean cultivars of common bean plants, from carioca, early and black group in two different sowing seasons (off season and the crop) in southwestern Goias and comparing the cultivars in the primary components of production and adaptability to mechanical harvesting. The experimental design was randomized blocks with four replications and twelve cultivars: Pérola, BRS Estilo, BRS Horizonte, BRS Pontal, BRS Requinte, BRS Valente, BRS Supremo, BRS Grafite, BRS Campeiro, BRS Esplendor, BRS Radiante e Jalo Precoce. The sowing period held in higher temperature (harvest) caused a reduction in the number of days to flowering and maturation, and increased average yield of grain. The cultivars showed plant height and height of first pod insertion less than 10 cm and are considered unfavorable for mechanical harvesting. Except for the mass of one hundred grains, all other characteristics showed to be positively correlated with grain yield. The cultivars showed low yields ranging from 554.9 to 1639.6 kg ha-1, the second crop, and from 675.8 to 1907.2 kg ha-1 in first crop. Key words: Sowing time, production factors, productivity of grains. ________________________________________________________________________________________________________ 1 Universidade Federal de Goiás, Campus Jatai. Rod. BR 364 Km 192 Setor Industrial. CEP:75800-000 - Jatai, GO – Brasil. E-mail: [email protected]. Autor para correspondência. Recebido em: 10/07/2012 Aprovado em: 03/12/2013 Gl. Sci Technol, Rio Verde, v. 06, n. 03, p.23-34 , dez. 2013. P. S. Carmo et al. INTRODUÇÃO O feijão é um dos principais alimentos da dieta dos brasileiros. Devido à sua importância na alimentação humana, tem merecido grande destaque no cenário nacional e internacional por suprir às necessidades dos consumidores como fonte básica e barata de proteínas e calorias. É um produto de alta expressão econômica e social, visto que, juntamente com o arroz, é a base da alimentação nacional, fornecendo ricas quantidades de proteína vegetal e carboidratos, sendo a principal fonte proteica na alimentação da população menos favorecida. É ainda complementar, em termos de aminoácidos essenciais, sendo considerado, por especialistas, de excelente valor nutritivo. Além da importância do feijão na alimentação da população brasileira e mundial, a cadeia de produção, beneficiamento e comercialização geram ocupação e renda, principalmente à classe menos privilegiada (FACHINI et al., 2006). De acordo com Wander (2006), apesar de fazer parte da dieta dos brasileiros tem-se, nos últimos anos reduzido consumo per capita de feijão. O consumo per capita anual nacional de feijão reduziu 12% no período entre 1975 e 2002, passando de 18,5 kg, para aproximadamente 16,3 kg. Neste mesmo período o consumo per capita anual mundial reduziu 18%, passando de 2,8 kg em 1975 para 2,3 kg em 2002. (WANDER, 2006). Além do papel relevante na alimentação do brasileiro, a cultura apresenta importância econômica, social e cultural. Na cultura do feijoeiro, emprega-se elevada quantidade de mão-de-obra durante o ciclo da cultura. Estima-se que são utilizados, somente no estado de Minas Gerais, cerca de sete milhões de homens por dia-ciclo de produção na cultura do feijoeiro, envolvendo cerca de 300 mil produtores 24 (ABREU, 2009). A cultura do feijoeiro ocupou, no Brasil, uma área de aproximadamente 3,1 milhões de hectares, com uma produção de 2,5 milhões de toneladas no ano agrícola 2009/2010 (CONAB, 2010). A produtividade da cultura no Brasil é considerada baixa, uma vez que, utilizando técnicas mais adequadas de cultivo, existe a possibilidade de, em curto prazo, triplicar a produtividade média da cultura, que na primeira época (safra normal), no ano agrícola de 2009/2010, foi de aproximadamente 1.070 kg ha-1 (CONAB, 2010). Diante esta importância, a cultura está presente em todos os estados brasileiros, sendo, portanto, necessários testes para a seleção de cultivares mais adaptados às diferentes regiões do país. Nesse sentido, Pereira et al. (2010) comentam que a indicação de cultivares de feijoeiro comum obedece às normas do Registro Nacional de Cultivares do Ministério da Agricultura, que exigem a indicação das cultivares por estado e para cada época de semeadura. Assim, em seus estudos, observaram que para os estados do Paraná e Santa Catarina, a parte complexa da interação genótipos x épocas de semeadura tem pequena importância e, consequentemente, a classificação dos genótipos nas duas épocas é pouco alterada, não sendo necessária a indicação de cultivares para cada época. Algumas características objetivadas pelos melhoristas, com a arquitetura de planta, grau de acamamento e altura de inserção das vagens, visam atender à necessidade dos produtores quanto à colheita mecanizada, garantindo assim redução de perdas na qualidade do produto, devido ao contato das vagens com o solo (COSTA; RAVA, 2003). Assim, Ribeiro et al (2001) comentam que caracteres como número de grãos e legumes por planta, e números de grãos por legume têm maior correlação Gl. Sci Technol, Rio Verde, v. 06, n. 03, p.23-34, dez. 2013. Avaliação de cultivares de feijão... genética com o rendimento de grãos, devendo ser priorizados na seleção indireta em feijão carioca, sendo que os maiores efeitos diretos sobre o rendimento de grãos em feijão carioca estão relacionados a plantas com maior número de grãos por planta O feijoeiro comum é cultivado, no Brasil, em três épocas distintas. Feijão da safra “feijão das águas”, semeado de outubro a janeiro e colhido de janeiro á março, feijão da safrinha ”feijão da seca”, semeado de fevereiro a março e colhido de abril a maio, e feijão irrigado “feijão de inverno”, semeado de maio a setembro e cultivado sob irrigação (YOKOYAMA, 2000). No sudoeste goiano, o feijoeiro é cultivado na safra “feijão das águas” e na safrinha “feijão da seca”. Nesse sentido, Pereira et al.(2012) comenta que existem poucos estudos acerca a estabilidade e adaptabilidade de feijoeiros para a região Centro Oeste do Brasil, entretanto, em seu estudos observaram que as cultivares BRS Estilo, de grãos tipo carioca, BRS Campeiro e BRS Esplendor, de grãos tipo preto, possuem alta adaptabilidade e estabilidade de produção nas épocas de semeadura da seca e do inverno em regiões de cerrado com baixa altitude do estado do Mato Grosso. Neste sentido, este trabalho foi realizado com o objetivo de avaliar cultivares de feijoeiro comum dos grupos carioca, preto, manteigão e jalo, em duas épocas de semeadura no sudoeste goiano e verificar a produtividade das cultivares 25 concomitante à avaliação de fatores de produção da planta que influenciam diretamente na colheita. MATERIAL E MÉTODOS Foram conduzidos dois ensaios de competições de cultivares de feijoeiro comum, em duas épocas de semeadura (safrinha e safra), sendo realizados no município de Jataí, estado de Goiás, nos anos de 2009 e 2010. O primeiro ensaio foi realizado na Fazenda Paraíso, município de Jataí, em área cultivada em sistema de plantio direto, no período da safrinha 2009, anteriormente ocupada com a cultura de soja, localizado a 17º50’20” de latitude Sul e 51º29’09” de longitude Oeste de Greenwich, com altitude de 884 m. O segundo ensaio foi conduzido no período da safra 2009/10, na Fazenda experimental da Universidade Federal de Goiás, Campus Jataí, localizado a 17º58’27.5” de latitude Sul, e 51º43’01” de longitude Oeste, com altitude 670 m. O solo das duas localidades é classificado como Latossolo Vermelho-Amarelo distrófico, com textura argilosa (EMBRAPA, 1999). O índice de pluviosidade anual médio, do município de Jataí, é de 1.700 mm, com temperatura média anual de 22º C. As condições ambientais de distribuição de chuvas (precipitação pluvial) e temperatura do ar (máximas e mínimas) estão ilustradas nas Figuras 1 e 2. Gl. Sci Technol, Rio Verde, v. 06, n. 03, p. 23-34 , dez. 2013. P. S. Carmo et al. Precipitação 60 Temp. máxima 26 Temp. mínima 40 35 50 40 Temperatura (ºC) Precipitação (mm) 30 25 30 20 15 20 10 10 5 0 0 1/2 11/2 21/2 3/3 13/3 23/3 2/4 12/4 22/4 2/5 Data (dias/mês) Figura 1. Precipitação pluvial (mm) e temperaturas máximas e mínimas (ºC) ocorridas durante a condução do experimento com feijão, na safrinha de 2009. Jataí, GO. Precipitação Temp. máxima Temp. mínima 45 40 70 35 Precipitação (mm) 60 30 50 25 40 20 30 15 20 10 10 0 17/11 Temperatura (ºC) 80 5 0 27/11 7/12 17/12 27/12 6/1 Data (dias/mês) 16/1 26/1 5/2 Figura 2. Precipitação pluvial (mm) e temperaturas máximas e mínimas (ºC) ocorridas durante a condução do experimento com feijão, na safra de 2009/10. Jataí, GO. Gl. Sci Technol, Rio Verde, v. 06, n. 03, p.23-34, dez. 2013. Avaliação de cultivares de feijão... Antes dos ensaios de avaliação dos cultivares de feijão, foram coletadas amostras de solo de ambas as áreas e 27 realizada a análise química (Tabela 1), seguindo a metodologia proposta por Souza e Lobato (2004). Tabela 1. Análise química do solo, referente à camada de 0 a 20 cm, no local de condução dos experimentos de safrinha 2009 e na safra 2009/10. Jataí, GO. Época Safrinha Safra a Resina; pH P (H2O) mg dm-3 4,70 25,51a 5,58 5,58b b Melich M.O g dm-3 40,15 29,60 K 0,18 0,25 No ensaio conduzido na safrinha, as parcelas foram constituídas de 4 linhas, de 10 metros de comprimento, com espaçamento de 0,5 m entre linhas. Foram colhidas 2 linhas de 10 metros de cada parcela, totalizando área útil de 5 m² por parcela. No ensaio conduzido na safra, as parcelas foram constituídas de cinco linhas de cinco metros de comprimento, com espaçamento de 0,5 m entre linhas. Foi Ca 1,9 1,12 Mg H+Al cmolc dm-3 0,27 5,80 0,81 4,90 Al 0,26 0,12 CTC V 8,20 7,08 (%) 36,00 30,78 considerada como área útil 3 linhas centrais de plantas totalizando 6,75 m². Os tratamentos corresponderam aos cultivares de feijoeiro comum. As principais características morfo-agronômicas dos cultivares avaliados, seus respectivos grupos, ciclo, arquitetura da planta, ano de lançamento e adaptação a colheita mecânica estão apresentadas na Tabela 2. Tabela 2. Cultivares de feijoeiro comum e suas principais características morfo-agronômicas, utilizadas nos experimentos de safrinha 2009 e safra 2009/10. Jataí, GO. Cultivar Ciclo Grupo Arquitetura Lançamento Pérola N Carioca Semi-ereto 1994 BRS Estilo N Carioca Ereto 2006 BRS Horizonte SP Carioca Ereto 2004 BRS Pontal N Carioca Prostrado 2003 BRS Requinte N Carioca Semi-prostrado 2003 BRS Valente N Preto Ereto 2001 BRS Supremo N Preto Ereto 2004 BRS Grafite N Preto Ereto 2003 BRS Campeiro SP Preto Ereto 2003 BRS Esplendor N Preto Ereto 2006 BRS Radiante P Manteigão Ereto 2001 Jalo Precoce P Jalo Semi-prostrado 1994 N – normal (85 – 95 dias); P – precoce (75 dias); SP – semi-precoce (75 – 85 dias) Fonte: Fancelli, 2009. Três dias antes da semeadura do ensaio da safrinha realizou-se o controle de plantas daninhas com a dessecação com glifosato (3,0 L ha-1). A semeadura ocorreu em 01/02/2009, na forma mecânica no sulco Gl. Sci Technol, Rio Verde, v. 06, n. 03, p. 23-34 , dez. 2013. P. S. Carmo et al. de plantio, a uma profundidade de 3 a 5 cm e na proporção de 11 sementes por metro linear. A adubação foi realizada na linha de plantio com 330 kg ha-1 do formulado 08-2515. Após 25 dias de plantio (DAP) realizouse a adubação de cobertura com 150 kg ha-1 do formulado 25-00-15. No controle de plantas daninhas, foram utilizados Paraquatdicloreto (2 L ha-1) e Fenpropathrin (200 mL ha-1). Para controle de lagartas e pragas aéreas, foram realizadas duas aplicações de Methamidóphos (800 mL ha-1) e duas de Endossulfan (1,5 L ha-1). Para o controle da doença, foram aplicados os fungicidas Carbendazin (750 mL ha-1), Triazol (400 mL ha-1) e Thiofanate-methy (700 mL ha-1). Na semeadura do ensaio da safra, realizou-se a dessecação com glifosato (3 L ha-1) e, após três dias, foi feita uma adubação no sulco de plantio 350 kg ha-1 com formulado 08-20-18. Para a preparação da semeadura, usou-se uma semeadora para abertura dos sulcos de plantio. Realizou-se a semeadura em 17/11/2009, que ocorreu de forma manual. Foram semeadas 11 sementes por metro lineares a uma profundidade de 3 a 5 cm e cobrindo-se com terra dois a quatro centímetros. Foram realizadas duas -1 adubações (cobertura) de 75 kg ha de uréia. A primeira, aos dezesseis dias após a emergência (DAE) e a segunda, 30 DAE. Para o controle de plantas daninhas, pósemergente, realizou-se capina manual. Foram realizadas aplicações de inseticidas e fungicidas. Duas aplicações de mancozeb (2,5 kg ha-1) e methamidophos (800 ml ha-1) e uma aplicação de mancozeb (3 kg ha-1), azoxistrobina+cyproconazole (300 mL ha-1) e endossulfan (1,5 L ha-1). Foram avaliadas as seguintes características: número de dias para florescimento, determinado pelo número de dias transcorridos entre a emergência e o florescimento de 50% das plantas da parcela; ciclo da cultura, determinado pelo número de dias desde o plantio até a colheita; altura 28 de planta, medindo-se cinco plantas aleatoriamente da área útil de cada parcela, da superfície do solo até a extremidade da haste da planta; altura da inserção da primeira vagem, medindo-se a distância do nível do solo até a inserção da primeira vagem, de cinco plantas aleatórias da área útil de cada parcela; número de vagens por planta, de cinco plantas tomadas de forma aleatória da área útil de cada parcela; números de grãos por planta, contando-se o número de grão por planta em cinco plantas, tomadas de forma aleatória da área útil de cada parcela; massa de 100 grãos, determinada pela massa de 100 grãos amostrados ao acaso e corrigidos para umidade de 13%; produtividade, obtida pela colheita de grãos da área útil das parcelas, cuja produção foi pesada e convertida em kg ha-1, e corrigidos para umidade de 13%. Os dados obtidos foram avaliadas por meio da análise de variância e agrupamento das médias pelo teste de Scott Knott (SCOTT; KNOTT, 1974) a 5% de probabilidade, foi feita análise de correlação de Pearson, e a significância testada pelo teste de t student a 5% de significância, utilizando o programa estatístico Genes (CRUZ, 2006). RESULTADOS E DISCUSSÃO Os cultivares dos grupos carioca e preto apresentaram emergência aos seis dias após semeadura (DAS) tanto na safrinha, quanto na safra. Os cultivares BRS Radiante e BRS Jalo Precoce apresentaram emergência aos seis DAS, na safrinha, e aos sete e quatro DAS, na safra, respectivamente (Tabela 3). O florescimento pleno dos cultivares, dos grupos carioca e preto ocorreu aos 40 DAE, na safrinha, e aos 36 DAE, na safra. Os cultivares BRS Radiante e Jalo Precoce que floresceram, na safrinha, aos 26 e 28 DAE, e na safra, aos 27 e 30 DAE, respectivamente (Tabela 3). Gl. Sci Technol, Rio Verde, v. 06, n. 03, p.23-34, dez. 2013. Avaliação de cultivares de feijão... 29 Tabela 3. Número de dias para emergência após semeadura (EAS) e número de dias para florescimento após emergência (FAE) e número de dias para maturação após emergência (MAE). Jataí, GO. Grupo Cultivar EAS FAE MAE Safrinha Safra Safrinha Safra Safrinha Safra Pérola 6 6 40 36 88 84 BRS Estilo 6 6 40 36 88 84 Carioca BRS Horizonte 6 6 40 36 88 84 BRS Pontal 6 6 40 36 88 84 BRS Requinte 6 6 40 36 88 84 BRS Valente 6 6 40 36 88 84 BRS Supremo 6 6 40 36 88 84 Preto BRS Grafite 6 6 40 36 88 84 BRS Campeiro 6 6 40 36 88 84 BRS Esplendor 6 6 40 36 88 84 BRS Radiante 5 7 26 27 72 70 Precoce Jalo Precoce 5 4 28 30 74 70 A maturação dos cultivares dos grupos carioca e preto ocorreu aos 88 DAE na safrinha, e aos 84 DAE, na safra. Os cultivares BRS Radiante e Jalo Precoce mostram-se mais precoces em relação aos cultivares dos grupos carioca e preto. A maturação dos cultivares BRS Radiante e Jalo Precoce ocorreu aos 70 e 72 DAE, na safrinha e aos 70 DAE, na safra, respectivamente. No período de condução do ensaio da safra, ocorreram maiores volumes de chuvas (746,6 mm) com dias mais nublados, antecipando, assim, o ciclo da cultura de todos os cultivares. Segundo Fancelli (2009), a variação do ciclo dos cultivares do feijoeiro comum está em função de altitude, latitude e época de semeadura. Em regiões com mais de 600 m de altitude, o ciclo pode alongar-se por mais de cinco dias. Nas condições onde foram conduzidos os experimentos, acima de 600 m, o ciclo dos cultivares na safrinha alongou-se, em média quatro dias, mostrando comportamento contrário ao reportado por Fancelli (2009). No entanto, na safrinha, a cultura recebeu menos chuva e a temperatura média foi menor em comparação a safra (Figuras 1 e 2), causando redução no ciclo da cultura. Na safrinha, a temperatura média foi favorável ao desenvolvimento do feijoeiro, ficando em torno de 22,5º C ao longo do ciclo (Figura 1). Situação diferente ocorreu na safra, quando a temperatura média oscilou entre 20º C a 35º C (Figura 2). Com aproximadamente 15 DAS, verificou-se temperatura média próxima a 27º C e, a partir de 48 DAS, observou-se temperatura média acima de 25º C, aproximando-se de 30º C aos 57 e 72 DAS, coincidindo com as fases reprodutivas do florescimento pleno, início da formação e enchimento de vagens (Figura 2). Segundo Fancelli (2009), temperaturas altas afetam principalmente, os estádios reprodutivos, reduzindo o ciclo da cultura. O cultivar BRS Pontal agrupou-se com os grupos de maior altura de plantas tanto na safra quanto na safrinha, enquanto que, os cultivares BRS Radiante e Jalo Precoce, do grupo precoce, formaram um grupo com as menores alturas de plantas nos dois ensaios (Tabela 4). Quanto ao número de vagens por planta os cultivares BRS Gl. Sci Technol, Rio Verde, v. 06, n. 03, p. 23-34 , dez. 2013. P. S. Carmo et al. radiante e Jalo Precoce, do grupo precoce agruparam-se com os cultivares que apresentaram menores valores para esta característica, na safrinha, no entanto, na safra, Jalo Precoce ficou agrupado ente os cultivares com maior número de vagens por planta. Para a característica altura de 30 inserção da primeira vagem (IPV), houve formação de dois grupos tanto para safrinha quanto para safra. Os cultivares Pérola, BRS Estilo, BRS valente, BRS Radiante e Jalo Precoce agruparam-se entre os cultivares com menor IPV para os dois ensaios. Tabela 4. Médias de altura da planta (ALP), número de vagens por planta (NVP), altura de inserção da primeira vagem (IPV), e número de grãos por planta (NGP) do feijoeiro comum cultivado em safrinha e safra. Jataí, GO. Safrinha Safra Cultivar ALP NVP IPV NGP ALP NVP IPV NGP Pérola 85,9 a 18,4 a 7,3 b 74,8 a 56,5 b 18,2 a 5,4 b 84,9 a BRS Estilo 50,6 c 15,0 b 7,1 b 66,1 b 61,0 b 15,2 a 5,2 b 62,2 b BRS Horizonte 81,7 a 11,5 c 7,0 b 58,6 b 56,0 b 12,0 b 6,6 a 64,4 b BRS Pontal 81,4 a 15,2 b 8,2 a 73,8 a 73,1 a 14,9 a 5,0 b 75,7 a BRS Requinte 68,6 b 15,4 b 9,0 a 67,0 b 67,2 a 11,4 b 5,0 b 55,3 b BRS Valente 64,2 b 18,7 a 7,2 b 76,5 a 55,7 b 16,4 a 5,6 b 75,4ª BRS Supremo 65,6 b 21,6 a 7,0 b 83,6 a 54,2 b 15,8 a 6,4 a 89,4 a BRS Grafite 69,2 b 14,7 b 8,0 a 63,1 b 77,8 a 13,4 b 6,6 a 64,1 b BRS Campeiro 75,8 a 16,0 b 7,6 b 60,8 b 59,8 b 15,2 a 5,9 a 74,4 a BRS Esplendor 67,0 b 18,4 a 8,4 a 83,8 a 75,9 a 14,6 a 6,0 a 81,0 a BRS Radiante 36,4 d 9,7 c 7,2 b 33,0 c 35,6 c 9,8 b 4,4 b 34,8 c Jalo Precoce 35,9 d 7,7 c 6,9 b 26,0 c 46,0 c 15,9 a 5,0 b 64,4 b Média 65,2 15,2 7,6 63,9 59,9 14,4 5,6 69,2 CV(%) 10,9 19,5 10,8 21,4 16,2 17,3 11,6 22,0 Médias seguidas por letras iguais na mesma coluna não diferem entre si ao nível de 5 % pelo teste de Scott Knott. O cultivar BRS Grafite agrupou-se entre os cultivares com maior IPV nos dois ensaios. No entanto, os cultivares BRS Pontal e BRS Requinte agruparam-se entre os de maior IPV na safrinha e menor IPV na safra. Por outro lado, os cultivares BRS Horizonte, BRS Supremo e BRS Campeiro agruparam-se entre os de maior IPV na safra e menor IPV na safrinha. Para a característica número de grãos por planta (NGP) houve formação de três grupos tanto para safrinha quanto para safra. Os cultivares Pérola, BRS Pontal, BRS Valente, BRS Supremo e BRS Esplendor agruparam-se entre os de maior NGP. Os cultivares BRS Estilo, BRS Horizonte, BRS Requinte e BRS Grafite formaram o grupo intermediário para NGP, tanto para safra, quanto para safrinha. O cultivar BRS Radiante localizou-se no grupo de menor NGP para as duas safras. O observou-se que os cultivares que apresentaram maior altura de planta, também apresentou redução do número de grãos por Gl. Sci Technol, Rio Verde, v. 06, n. 03, p.23-34, dez. 2013. Avaliação de cultivares de feijão... planta. Conforme Del Peloso et al. (2003), a relação da altura da planta com o número de grãos por planta, é negativa. Observaram, ainda, que variedades com maior altura de inserção da 1ª vagem produzem menos vagem e menor número de grãos por planta. Santos (2004) obtiveram resultado em que a altura da planta não se correlacionou ao seu número de grãos, indicando, assim, a possibilidade de seleção de genótipos com maior número de grãos por planta e menor altura de planta. Observou-se que, para o número de vagens por planta, destacaram-se o cultivar BRS Supremo, BRS Valente, Pérola e BRS Esplendor, que possuem valores superiores diferindo significativamente das cultivares Jalo Precoce, BRS Radiante e BRS 31 Horizonte. Por outro lado, Hoffmann et al. (2007) mostram que o cultivar BRS Valente apresentou um número bem menor (9,0 vagens por planta) em Santa Maria Rio Grande do Sul. No que se refere ao número de grãos por planta, o cultivar BRS Esplendor apresentou valor superior (83,75) aos demais, diferindo significativamente dos cultivares Jalo Precoce e BRS Radiante, que obtiveram os menores valores. Com relação a NGV, foram formados três grupos sendo que os cultivares BRS Horizonte, BRS Pontal e BRS Supremo pertenceram ao grupo com maior NGV e os cultivares BRS Radiante e Jalo Precoce pertenceram ao grupo com menor NGV, tanto na safra quanto na safrinha (Tabela 5). Tabela 5 - Médias de número de grãos por vagem (NGV), massa de cem grãos (MCG) e produtividade de grãos (PROD) do feijoeiro comum cultivados na safrinha e safra. Jataí, GO. Safra Safrinha Cultivares NGV MCG PROD NGV MCG PROD Pérola 4,0 c 24,5 b 1103,2 a 4,6 b 21,5 c 1888,0 a BRS Estilo 4,4 b 23,8 b 1358,1 a 4,4 b 22,8 c 1907,2 a BRS Horizonte 5,1 a 24,2 b 1404,0 a 5,4 a 19,2 c 1358,1 b BRS Pontal 4,9 a 22,9 b 1306,9 a 5,1 a 19,8 c 1529,9 a BRS Requinte 4,4 b 18,3 c 1193,2 a 4,8 b 15,8 d 1009,6 b BRS Valente 4,1 c 19,3 c 1474,4 a 4,6 b 16,5 d 1283,5 b BRS Supremo 5,1 a 18,6 c 554,9 b 5,6 a 16,8 d 1203,7 b BRS Grafite 4,4 b 22,6 b 1302,2 a 4,7 b 21,5 c 1264,7 b BRS Campeiro 3,8 c 25,7 b 1113,7 a 4,8 b 21,8 c 1643,4 a BRS Esplendor 4,6 b 19,4 c 1639,6 a 5,5 a 18,0 d 1778,6 a BRS Radiante 3,4 c 40,2 a 586,3 b 3,5 c 27,2 b 675,8 b Jalo Precoce 3,3 c 40,5 a 736,6 b 4,1 c 35,5 a 1529,6 a Média 4,3 25,0 1147,8 4,8 21,4 1422,7 CV(%) 10,8 6,3 23,1 8,9 11,2 27,5 Médias seguidas por letras iguais, na mesma coluna, pertencem ao mesmo grupo, a 5% de significância pelo teste Scott-Knott. Para a característica MCG, observouse que o cultivar Jalo Precoce apresentou maior MCG tanto na safra quanto na safrinha e que os cultivares do grupo preto (BRS Valente, BRS Supremo, BRS Grafite e BRS Esplendor) formaram o grupo com menor MCG tanto na safra quanto na safrinha. Quanto à produtividade de grãos destacaram-se os cultivares Pérola, BRS Estilo, BRS Pontal, BRS Campeiro e BRS Esplendor pertencendo ao grupo mais produtivo tanto na safra quanto na safrinha. Gl. Sci Technol, Rio Verde, v. 06, n. 03, p. 23-34 , dez. 2013. P. S. Carmo et al. A análise de correlação mostrou que as características mais fortemente correlacionadas foram NVP e NGP, mostrando que os cultivares que apresentam maior número de vagens são aqueles que apresentam maior número de grãos. Por outro lado, observou-se que a MCG é negativamente correlacionada com as demais características (Tabela 6). Exceto para MCG, as demais características são positivamente correlacionadas sendo que a 32 ALP apresentou a maior correlação com a produtividade de grãos. A variação dos componentes da produção do feijoeiro colabora com a manutenção da estabilidade da produtividade de grãos, ou seja, no caso de um desses componentes ser prejudicado por qualquer fator, outro componente se eleva, estabilizando a produtividade (COSTA; VIEIRA, 2000). Tabela 6. Coeficiente de correlação entre as características altura da planta (ALP), número de vagens por planta (NVP), altura da primeira vagem (APV), número de grãos por planta (NGP) número de grãos por vagem (NGV), massa de cem grãos (MCG) e produtividade de grãos (PROD) do feijoeiro comum cultivados na safrinha e safra. Jataí, GO. Característica NVP APV NGP NGV MCG PROD ALP 0,5413* 0,8040* 0,7197* 0,7228* -0,7626* 0,6164* NVP 0,3323 0,9394* 0,5011* -0,6778* 0,4635* APV 0,5327* 0,6982* -0,7116* 0,3554 NGP 0,7450* -0,7993* 0,5370* NGV -0,7823* 0,3606 MCG -0,3919 *: significativo a 5% de significância pelo teste t. CONCLUSÕES REFERÊNCIAS A semeadura realizada em período com maior temperatura (safra) causou redução no número de dias para o florescimento e maturação, e aumento na produtividade média de grãos. Os cultivares estudados mostraram altura de planta e altura de inserção da primeira vagem menores que 10 cm, sendo consideradas desfavoráveis à colheita mecanizada. Exceto para a massa de cem grãos, todas as demais características mostraram-se positivamente correlacionadas com a produtividade de grãos. Os cultivares estudados apresentaram baixas produtividades, variando de 554,9 a 1639,6 kg ha-1, na safrinha, e de 675,8 a 1907,2 kg ha-1, na safra. ABREU, A. F. B. 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