Herança Filosófica ainda assombra Humanistas

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Herança Filosófica ainda assombra Humanistas
Fernando de Barros e Silva
Quando publicou seu primeiro livro "O Comportamento dos Organismos", em 1938, Burrhus Frederic Skinner foi
recebido com frieza pela crítica. O livro encalhou; sua segunda edição só saiu na década de 60. No último sábado
(18/08/90), Skinner morreu aos 86 anos. Era, então, o maior nome da psicologia behaviorista e um dos pensadores mais
controvertidos da segunda metade deste século.
Skinner foi uma pedra no sapato dos humanistas. Tratou os conceitos de liberdade e dignidade humanas como "mitos"
que deveriam ser desconsiderados pela ciência. Entre as acusações que acumulou em vida, estava a de ser um
"psicólogo de ratos" e ter concebido uma sociedade nos moldes totalitários. Boa parte da ira que Skinner provocou
nasceu do impacto de livros que extrapolavam os limites da psicologia.
Em "A Tecnologia do Ensino"(1968), o "pai" do behaviorismo radical, como era chamado, lançou a teoria do "ensino
programado". Defendia que "máquinas de ensinar" seriam mais eficazes do que professores em sua tarefa pedagógica.
Os alunos deveriam ser educados da mesma forma que animais eram induzidos a responder a estímulos determinados
dentro do laboratório.
Skinner já havia ido mais longe em "Walden 2", romance de 1984. O livro descreve uma sociedade imaginária
funcionando segundo os postulados behavioristas. Nela, não há classes sociais, propriedade privada, violência ou
privilégios. Este mundo, Skinner o imaginava como resultante de condicionamentos complementares. Numa passagem,
o autor descreve uma cena em que cabras pastam no jardim de uma casa e tira disso a seguinte conclusão: as cabras
ficam alimentadas ao mesmo tempo em que fazem a manutenção do jardim. "Walden" seria um país onde tudo
funcionasse dessa forma. Os críticos do "paraíso terrestre" proposto por Skinner diziam que seu preço era a redução dos
indivíduos a simples peças de uma "engenharia social" (expressão do próprio Skinner).
"'Walden 2', foi mal compreendido; o projeto do livro não é totalitário, é movido por um espírito iluminista", diz Maria
Amália Andery, 37, professora da faculdade de Psicologia da PUC que acaba de fazer sua tese de doutorado sobre o
romance. Segundo ela, as críticas que se pode fazer ao Skinner pensador social são duas: "Sua postura era cientificista;
ele acreditava que os problemas humanos poderiam ser resolvidos através da ciência". Além disso, diz Maria Amália,
"Skinner não pensa a passagem do mundo atual para a sociedade behaviorista; ele toma isso como um pressuposto, o
livro começa pela descrição dessa sociedade".
No campo da psicologia, a contribuição fundamental de Skinner foi uma invenção à primeira vista banal: uma caixa capaz de
isolar animais em laboratório e estudar seu comportamento em condições tidas como ideais. A invenção foi batizada de
"caixa de Skinner".
"Sua caixa é uma espécie de teoria materializada que institui o comportamento como objeto e garante o rigor de seu
controle e de sua previsão", diz o professor de filosofia Bento Prado Jr., 53. Para ele, a caixa "também marca os limites
da psicologia skinneriana, já que essa não pode abandonar o recinto do laboratório sem se descaracterizar e cair nas
noções vagas do senso-comum".
Bento Prado não está sozinho ao apontar a fragilidade da teoria skinneriana quando esta sai da "caixa". Osmyr Faria
Gabb Jr., 40, coordenador do Núcleo de Fundamentos da Psicanálise e da Psicologia da Unicamp, diz que o
behaviorismo "foi para o espaço" quando saiu do laboratório. "Quando se debruçou sobre as situações reais de interação
social, o skinnerianismo foi desastroso. Na vida não há como controlar as variáveis que se controlam em laboratório",
afirma.
Luis Claudio Figueiredo, 44, professor do instituto de Psicologia da USP, discorda que a teoria de Skinner se esfacele
quando enfrenta o mundo. "Ele desenvolveu técnicas de controle e previsão do comportamento que foram fundamentais
para o progresso da psicologia e da psicofarmacologia", diz Figueiredo. "O método de Skinner funciona no tratamento
de crianças excepcionais e tem aplicações inegáveis na pedagogia", completa.
Figueiredo distingue duas dimensões na obra skinneriana. Uma é sólida e deriva dos resultados obtidos em laboratório. A
segunda foi desenvolvida sem a base experimental e deve ser tomada como "interpretação", não como ciência. "Este é o
ponto mais vulnerável de sua obra, mas também o que o tornou conhecido fora da universidade", diz Figueiredo.
Segundo ele, Skinner "sabia da fragilidade dessas posições, mas alimentava a polêmica, era um agitador cultural". Se a
análise for correta, Skinner atingiu o alvo. Morreu catalizando atenções e provocando polêmicas.
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Produzido em: 13 June, 2017, 05:37
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