A mudança de paradigma em Gestão Ambiental

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DESCARTANDO UM PARADIGMA
Prof. Dr. Artur Santos Dias de Oliveira
Fundação Universidade do Rio grande
Av. Itália s/n – Km 8 – Campus Carreiros – Rio Grande (RS)
e-mail: [email protected]
Departamento de Física
ABSTRACT
The aim of this paper is to show the importance of behavior changing necessity and the transition
from the Cartesian thinking model to the systemic understanding and the relationships between
nature and human existence, their interdependence to explain the life at the planet as well as
identify some procedures and activities in order to contribute for the life quality preservation and
improvement at Earth.
KEYWORDS: new paradigm, ecology, environment
RESUMO
Este trabalho busca mostrar a necessidade de uma mudança de comportamento e a transição da
forma de pensar, do modelo cartesiano para o pensamento sistêmico, o entendimento da presença
do homem na natureza e as relações de existência, interdependentes e indissociáveis, no planeta,
assim como identificar procedimentos e atividades, compatíveis com o novo pensamento, que
possam contribuir para a preservação e melhoria da qualidade de todo o tipo de vida na Terra.
PALAVRAS CHAVE: novo paradigma, ecologia, ambiente
INTRODUÇÃO
O conhecimento científico entrou em crise quando pesquisadores, mormente em Física,
considerada como o modelo para as demais ciências naturais, defrontaram-se com resultados que
fugiam das expectativas do que era para ser uma ciência exata. As pesquisas em Mecânica Quântica
mostraram que a certeza passava a dar lugar à probabilidade; a existência apresentava-se como a
tendência de existir; a matéria perdia sua característica definitiva de solidez. Encaminhava-se a
Ciência para uma direção oposta em relação ao processo de sua compreensão. As conseqüências
eram inevitáveis: tudo o que se estudou estava errado?
Em realidade, a nova percepção, trazida pelas experiências do mundo invisível da Física
Quântica, proporciona e impõe uma nova forma de pensar, eis que todo o nosso conhecimento está
atrelado ao modelo cartesiano, que adaptava-se à época de sua adoção, entretanto não permite mais
explicar o que acontece, à luz das novas descobertas.
Com base no pensamento cartesiano, não somente as máquinas, mas também os seres vivos são
considerados como um mero conjunto de componentes que associados passam a ter existência, e
sua compreensão pode dar-se através do entendimento de cada uma das peças, pela desmontagem
do todo. Uma das conseqüências mais sérias dessa maneira de pensar foi a fragmentação do
conhecimento.
A fragmentação do conhecimento, em função da adoção do modelo cartesiano, mecanicista, de
considerar o mundo, promoveu distorções de comportamento, capazes de provocar danos
ambientais importantes. Essa crise de percepção, desconsiderando o homem como fazendo parte de
todo o sistema, como indissociável dele, e a não observação da interdependência da teia de
informações que, em verdade, relaciona a troca de matéria, energia e informação, remete o homem
à pressa de tentar resgatar o que ainda é possível no sentido da qualidade de vida no planeta. Essa
nova consideração, esse novo paradigma, considera o homem como parte integrante e não como o
observador externo; identifica o ser humano com a própria natureza e não como seu dominador;
caracteriza as conseqüências das transformações do planeta, que o homem propicia, em relação
direta com a sua existência, eis que o ecossistema global é um todo interdependente, em que as
partes são indissociáveis e solidárias nas atitudes e nos efeitos. Quem faz, a si faz!
Destarte, procuramos, neste trabalho, elencar a fundamentação teórica a respeito do
pensamento sistêmico, associada à concepção de uma ecologia profunda, que coloca o homem
como parte integrante do meio ambiente e, dessa forma, discutir práticas possíveis de ação local no
sentido de contribuir para a melhoria da qualidade de todo o tipo de vida no planeta.
1- O PARADIGMA CARTESIANO E SUAS IMPLICAÇÕES
O conhecimento analítico que leva ao estabelecimento de especializações demasiadas produz a
perda da perspectiva de referenciais que permitam perceber o homem como ser participante do
mesmo meio, tornando-se ele mesmo a própria referência.
Os muros físicos das propriedades apropriam-se de rios, lagos, ilhas, vegetação e bens naturais
tão difusos quanto o ar que retorna rico em ácidos, quanto as águas que saem pródigas em dejetos
cloacais ou prenhes de metais pesados, quanto as árvores que perdem o seu verde original,
branqueadas por compostos clorados ou se substituem por outros verdes culturais, com a promessa
legal de irem para longe dali, não importando para onde, embora se saiba que longe é perto de
outrem (OLIVEIRA, 1999, p.43).
1.1- A ECONOMIA E O AMBIENTE
O modelo que parece regular a existência do homem, que se diz civilizado, é regido pela mão
sedutora da economia, sobre a qual refere-se Hazel Henderson, como não sendo ciência mas,
meramente política disfarçada (CAPRA, 1988, p.191).
Quando se falou em fundar uma cadeira de Economia Política em Oxford, há 150 anos, muitas pessoas
não ficaram absolutamente felizes ante a possibilidade... Edward Copleston, Prefeito do Oriel College não
quis admitir no currículo da Universidade, uma ciência ‘tão propensa a usurpar as demais’... Henry
Drummond, de Albury Park, que dotou a cadeira com recursos, em 1825, julgou necessário deixar clara a
sua esperança de que a Universidade mantivesse o novo estudo ‘em seu lugar’. O primeiro professor,
Nassau Senior, não estava certamente disposto a ser mantido em lugar inferior. Imediatamente, em sua
conferência inaugural, predisse que a nova ciência ‘se colocará na estima pública entre as primeiras das
ciências morais em interesse e utilidade’ e afirmou que ‘a busca da riqueza é para a massa da
humanidade, a grande fonte de aperfeiçoamento moral’.
(SCHUMACHER,1981, p. 35)
A economia passou a fascinar os seres humanos que passaram a fazer contas, como que numa
competição sem limites e sem regras naturais. A regulamentação do exercício econômico passou a
fazer parte da cultura. O processo de exclusão de parcelas fundamentais do sistema global passou a
ser a prática mais corriqueira. O homem excluía-se da natureza para dominá-la, segundo o seu
entendimento.
A partir dessa análise do conhecimento e a perda do senso de integração entre homem e
natureza, foi o ser humano traçando suas próprias regras, no sentido de usufruir de acordo com sua
forma egoísta de pensar, como se todo o resto estivesse a seu serviço.
1.2- O DIREITO E O AMBIENTE
O sustentáculo da economia é o direito positivo. À luz dos interesses antropocêntricos são
traçados os regulamentos humanos, desconhecendo a interdependência interativa entre ser humano
e meio. Esse modelo faz com que não se questione se uma norma é justa, ética ou que seja
eqüânime, senão que se perquira sobre a sua eficácia ou adequação ao momento político ou
econômico que se viva. O homem perde o todo como referência e dá-se origem a um referencial
simplificado que administre suas necessidades atuais. Cabe salientar que somente alguns homens
traçam as referências de toda a humanidade e de todo o lugar dela, nesse mundo globalizado dos
nossos tempos (OLIVEIRA, 1999, p.41).
Trocam-se, na linguagem corrente, direito significando justiça; econômico significando vital.
Liberdade assume o sentido de insubordinação; a moeda e seu poder de aquisição assumem a vez da
qualidade de vida.
1.3- CONSTATAÇÕES PREOCUPANTES
Até hoje, o homem degradou o ambiente por considerar os recursos naturais como bens de
consumo, ao seu dispor. Mesmo economicamente falando, não havia percebido o ser humano a
dilapidação dos recursos naturais, por óbvio que finitos. Acabaria por limitar no tempo as suas
atividades e o conforto capaz de ser retirado da exploração não seria mais do que temporário. A
sustentabilidade do planeta começa pelo entendimento de que outras gerações virão depois de nós.
Portanto, a escala de tempo é a dimensão ética do comportamento ecológico.
Destarte,” há que redefinir a Terra como capital (?) e não como bem de renda, com
identificação de seus três principais papéis: provisão de insumos para o processo econômico;
provisão direta de serviços ambientais (regulação climática, ciclos hidrogeoquímicos e assim por
diante) e absorção de resíduos” (MERICO, 1996, P.19).
Tanto como receptora de resíduos como fonte de materiais e energia, a biosfera vem
demonstrando fortes sinais de seus limites. Algumas das alterações impostas pelo processo
econômico parecem ser irreversíveis, outras, muitos difíceis de reverter. O que antes era
considerado serviço proporcionado gratuitamente pela natureza, tem aparecido fortemente
associado a custos. Talvez, pelo fato de que parte da natureza não seja apropriada nem por
indivíduos nem por nações, os custos da degradação ambiental e do consumo de recursos naturais
não têm sido computados nos processos econômicos.
Para que o processo econômico continue a ser produtivo, entretanto, um preço terá que ser pago
para a limpeza dos oceanos, rios e lagos, para se restaurar a qualidade do ar, para se recuperarem
solos, florestas, populações de peixes, para se restaurar a camada de ozônio... (MERICO, 1996,
p.23).
Merico (1996, p.25-27), citando estudiosos em relação aos limites do ambiente natural, tais
como Zylberstjan (1992), Vitousek et al. (1986), Goodland (1991) e Pimentel (1987), apresenta
um elenco de sintomas da agressão do homem ao seu meio, a saber:
a) Apropriação humana dos produtos da fotossíntese.
Os seres humanos utilizam o correspondente a 40 % do potencial global de energia produtora
de fotossíntese.
b) Aquecimento global.
A contínua utilização de combustíveis fósseis, como o carvão, petróleo, gás natural e, ainda, a
queima de florestas, tem transposto para a atmosfera uma quantidade imensa de dióxido de carbono,
modificando sua composição e alterando o clima do planeta.
Mantendo-se esse ritmo, a temperatura da Terra poderá se elevar em até 4,5o C, em média, até o
ano 2030 (Zilberstjan apud Merico, 1996).
c) Ruptura na camada de ozônio
Os gases CFC, pela presença de cloro, são os principais responsáveis pela depleção da camada
de ozônio na atmosfera, que retém a maior parte dos raios ultravioleta “b”, permitindo a existência
da vida. A relação entre o aumento da radiação, câncer de pele e cataratas é relativamente bem
conhecida: cada 1% de depleção da camada de ozônio resulta em 5% mais de câncer de pele, além
de queda do sistema imunológico, aumentando a vulnerabilidade das pessoas em geral e tumores,
parasitas e infecções (Goodland apud Merico, 1996).
d) Desertificação.
Erosão acelerada de solos, salinização e desertificação de áreas são aspectos profundamente
negligenciados nos processos de desenvolvimento e que afetam diretamente a sustentabilidade da
economia. Mais preocupante é que essa degradação é irreversível em uma escala de tempo
interessante para a humanidade. Perdas de solo de 10 a 100 ton/ha/ano podem exceder em até 10
vezes as taxas de formação do solo. Nesse contexto, calcula-se que 6 milhões de hectares por ano
são degradados por processos de erosão, salinização e desertificação (Pimentel apud Merico, 1996).
e) Extinção da biodiversidade
Estimativas conservadoras apontam taxas de extinção da ordem de 5000 espécies extintas por
ano, enquanto estimativas menos conservadoras apontam uma taxa de extinção de 150 000 espécies
extintas anualmente (Goodland apud Merico, 1996). É impossível calcular o número total de
espécies extintas por ação antrópica, uma vez que sequer conhecemos as espécies existentes.
f) Utilização indiscriminada de agrotóxicos nos alimentos
Poder-se-íam acrescentar a esse elenco de adversidades, acidentes e incidentes graves que o
nível de segurança que o ser humano propicia não é capaz de impedir:
a) Acidentes com radioatividade
São famosos os casos de Tree Miles Island, Chernobyl, Goiânia e mais recentemente no Japão,
conseqüências só o tempo será capaz de mostrar,
b) Derramamento de petróleo nos oceanos,
c) Lançamento de resíduos sólidos e líquidos sem controle de composição no ar, na água e
no solo.
A lista de irresponsabilidades poderia crescer de forma assustadora, se quiséssemos ser um
pouco mais rigorosos.
2- O NOVO PARADIGMA
Torna-se importante a mudança de paradigma, que conduza o ser humano a se considerar como
parte integrante e interdependente; particípe e co-responsável e, não, dono ou dominador. A
degradação ambiental, em função desse comportamento, já atinge níveis insuportáveis, fazendo com
que o ser humano passe a se preocupar seriamente, antes que o mal se torne irreversível . Além
disso, é fundamental que sejam pensadas algumas coisas importantes sobre a nossa existência:
Um número enorme de argumentos e de interpretações errôneas entre pessoas de boa vontade parece
ocorrer porque elas não trocam, já no princípio, algumas informações básicas sobre suas percepções. O
diálogo pode ser muito mais facilitado se cada um de nós esclarecer, antes de mais nada, qual a posição
em que vemos a nós mesmos no tempo e no espaço. Onde está você no sistema total? Como cidadão de
seu País? Como membro de uma comunidade local? Em sua maneira de ver, um milênio, um século,
cinco anos, três semanas é um ‘longo tempo’?
(HENDERSON, 1996, p. 93)
Buscamos em Branco (1989, p.61) e Capra (1996, p.53) as referências sobre os estudos de
Bertalanffy, um biólogo que formulou a teoria geral dos sistemas, em que o mesmo a utilizou para
a construção de uma biologia teórica moderna, em que a concepção organísmica fosse a base do seu
pensamento. Essa forma de pensar baseia-se na idéia de que o ser vivo, em lugar de ser constituído
apenas de um aglomerado de partículas encaixadas, representa, em verdade, um sistema organizado,
sede de contínuas mudanças e movimentos, em que a essência vital e o ânimo da existência não
estão ligados às partes, mas surgem da integralidade sistêmica. Isso serve ao ser humano.
Gostamos de caracterizar o ambiente da forma como nos percebemos inseridos nele. O
ambiente é o homem e o seu lugar. Mais do que isso, é o homem no seu lugar, no seu entorno e a
integração sistêmica que se dá entre o homem e o restante interativo, com as suas devidas funções
orgânicas de auto-regulação.
2.1- A CULTURA E OS PARADIGMAS
A figura 1, a seguir apresenta a evolução da cultura humana, mostrando a relação entre os
estágios de desenvolvimento e a crise de percepção que proporcionou o novo entendimento,
levando-nos a compreender que a integração com a natureza, que o pensamento sistêmico indica,
ocorreu no momento crítico de industrialização do mundo. Pensar, então, o mundo, para o futuro,
depende da escala de tempo que pretendamos utilizar. O novo paradigma, integrador, preconiza a
preservação dos recursos naturais pensando-se nas gerações futuras.
ESTÁGIOS DE DESENVOLVIMENTO COM O TEMPO
SEPARAÇÃO DA NATUREZA
ERA DO
CAÇADOR
ERA
AGRÍCOLA
ERA DA
INDÚSTRIA
COLETA
PARADIGMA CARTESIANO
INTEGRAÇÃO COM A NATUREZA
ERA DAS
COMUNICAÇÕES
ERA DAS
ERA DA
LIGAÇÕES
SUPERAÇÃO
PENSAMENTO SISTÊMICO
A MUDANÇA DE PARADIGMA COM O TEMPO
Fig. 1- A passagem do paradigma cartesiano para o pensamento sistêmico
2.2- A MUDANÇA DE PERCEPÇÃO
A preocupação dos seres humanos com a sua existência apresenta um crescimento de
percepção que conduziu, durante a história da humanidade, em função das necessidades de
integração entre todas as espécies da biosfera, o obrigatório sentimento de mudança de
comportamento. A figura 2, a seguir, caracteriza a adoção de um referencial ecocêntrico como
fundamental para a vida humana integrada. Assim, o homem passou de seu individualismo para
várias etapas de associações grupais, ainda sendo ele como referência, para um pensamento que
leva em conta não só os seus semelhantes como também todo o mundo vivo.
CRESCIMENTODE PERCEPÇÃOPESSOAL
A
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P
O
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PAÍS
GRUPOS
NAÇÕES
REGIÃO
ETNIA
RAÇAS
SEXO
ASSOCIAÇÕES
TRIBOS
PREOCUPAÇÃOCOMAS
GERAÇÕES FUTURAS
LEALDADES GRUPAIS
ALÉMDAS FRONTEIRAS
GEOGRÁFICAS
PARTILHAGRUPAL
SOLIDARIEDADE
FAMÍLIA
GRUPOS
VIZINHOS
RELAÇÕES INTERPESSOAIS
PARTILHA
SOLIDARIEDADE
INTERESSE
PESSOAL
NECESSIDADES DE
SOBREVIVÊNCIA
INDIVIDUAL
EGO
NÍVEIS SISTÊMICOS
Fig. 2- Passagem do antropocentrismo para o ecocentrismo
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ESPÉCIE
HUMANA
BIOSFERA
PLANETÁRIA
TODAS AS
ESPÉCIES
2- OBJETIVOS
O presente trabalho objetiva mostrar as maneiras de entender o comportamento das pessoas,
suas motivações, suas metas e seus instrumentos para o exercício efetivo da sustentabilidade, à luz
do novo paradigma que é o pensamento sistêmico.
As organizações produtivas, com certeza, reconhecendo os novos tempos, passaram a se
comportar diferente do passado. O termo ambiental passou a fazer parte do vocabulário de todos,
entretanto, os objetivos do seu uso são diversos. Neste trabalho, pretendemos mostrar as diferenças
existentes entre administração ambiental e gerenciamento ecológico, na prática, no sentido de que
se identifiquem posturas de mudanças efetivas ou formas de adequação ilusória ao mercado.
3- RESULTADOS
A partir do entendimento de uma nova ética eco-cêntrica, em que toda a forma de vida deve ser
encarada com o mesmo respeito, começa-se a entender a forma de o ser humano se relacionar com a
Terra e tudo o que isso significa.
3.1- REDEFININDO A TERRA
Referir-se à Terra, incluindo os seres vivos, como capital natural já é uma forma de reduzir a
natureza a um instrumento para uso humano, reduzi-la a um fator de produção como outro qualquer.
Por isso, é importante lembrar que este capital é a pré-condição básica, não somente para a
existência da produção, mas da existência da própria vida. É fundamental, portanto, a consideração
ética de que todas as formas de vida têm direito a existir, independentemente de seu possível uso,
identificado, para os seres humanos.
3.2- A CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA E A ADMINISTRAÇÀO AMBIENTAL
Há vários motivos que levam as organizações a produzir de maneira mais apropriada, segundo
o pensamento sistêmico, sendo que o nível de consciência dos empresários irá determinar o grau do
seu compromisso com o meio ambiente. A figura 3 mostra vários estágios de interesse na produção
que caracterizam, na sua totalidade, o grande mote para a administração com consciência ecológica.
ADMINISTRAÇÃO COM CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA
SOBREVIVÊNCIA
Economia com consciência ecológica
HUMANA
CONSENSO
Mercado com consciência ecológica
PÚBLICO
OPORTUNIDADE
DE MERCADO
Aquisição de novos mercados
REDUÇÃO DE
RISCOS
Diminuição de responsabilização por
danos ambientais
REDUÇÃO DE
CUSTOS
Otimização de recursos
INTEGRIDADE
PESSOAL
Atores identificados com a empresa
Fig. 3 – Motivos para a administração com consciência ecológica
Há, no entanto, uma tendência implícita na maneira como a economia funciona. Os bens e serviços
produzidos, ou seja, não naturais, têm preços, os quais podem ser observados no mercado, enquanto os
bens e serviços proporcionados pela natureza e as funções gerais dos ecossistemas não podem ser
comprados ou vendidos em nenhum mercado. Assim, se deixarmos que a alocação de recursos seja feita
pelo livre mercado, a tendência será de exaurir, estressar ou romper o equilíbrio do ambiente natural.
( MERICO, 1996, p.25)
Assim, há que se estar atento para a identificação do interesse dos empresários em relação ao
meio ambiente. Não raro, o interesse fundamental é a diminuição da responsabilização sobre danos
ambientais, o que significaria gasto adicional. Dessa forma, os empresários tornam-se simpáticos
aos ecologistas, investindo em processo ou otimizando recursos, de forma indireta. Cabe salientar
que nesse caso não existe uma mudança de paradigma, na prática, que norteie a produção, mas um
ajuste provocado por motivos legais, ligados à auditoria de cumprimento. Essa atitude é típica do
que se chama administração ambiental.
Em realidade, a consciência associada à ecologia profunda considera a economia que leve em
consideração a sobrevivência humana como fundamental, em sua total extensão, partindo da própria
empresa, considerada também como um sistema em si. Assim, começa o sentimento de administrar
com consciência ecológica, a consideração pelo social, interno, sendo que a economia com
consciência ecológica passa a ser uma conseqüência natural da sinergia promovida pelos diversos
interesses assinalados na figura 3.
ESTRATÉGIAS PARA ADMINISTRAÇÃO ECOLÓGICA
inovação
• diminuição do impacto ambiental
• vantagem ecológica ao
consumidor
•
cooperação
•
consideração do ciclo completo de vida
do produto
além do componente de marketing
comunicação
Fig.4- Características de uma administração com consciência ecológica
Os dias atuais começam a dar mostras de que alguma coisa está mudando no comportamento
das pessoas. Em primeiro lugar, a descoberta por parte dos empresários que a gestão ambiental de
suas empresas pode representar um mote de marketing verde, acarretando um lucro adicional,
promove uma aliança até há pouco tempo impensada, entre os ecologistas e os economistas.
A partir daí, podemos começar a pensar em um outro tipo de educação ambiental, capaz de
conduzir os meios de produção àquilo que se pode chamar de administração ecológica, um estágio
mais apropriado de entender os sistemas. O verde, sem o homem que o perceba, não é cor nenhuma.
A administração ambiental carece da dimensão ética, não questiona o paradigma dominante,
perpetua a ilusão da economia como uma ciência independente de valores e endossa a ideologia do
crescimento econômico. O lucro visível é ainda o único objetivo. A administração ecológica, ao
contrário, é movida pela ética ecológica. Envolve uma mudança de pensamento mecanicista para o
pensamento sistêmico, e de um sistema de valores baseado na dominação para um sistema de
parceria, diríamos mais, de cumplicidade com o meio. Substitui a ideologia do crescimento
econômico pela da sustentabilidade ecológica. Analisa as conexões entre questões ecológicas,
sociais e de diversidade (CALLENBACH et al., 1996, p.13).
A figura 4 apresenta as estratégias e os resultados de uma administração ecológica, com visão
de uma ecologia profunda.
A década de 80 promoveu em diversos países europeus, notadamente na Alemanha, a
consciência de que a prática ecológica nos negócios poderia reduzir os danos ambientais, além de
trazer benefícios econômicos. Além disso houve motivações oriundas da cidadania alemã, no
sentido da mudança do comportamento impróprio, poluidor. Portanto, não foi o despertar de um
pensamento autóctone, mas uma resposta ao clamor de uma sociedade que se dava conta da
necessidade de mudança. Esse marco teve como origem três acontecimentos:
a) O rápido aumento da conscientização ambiental entre a população em geral, o que teve
um efeito significativo entre as preferências do consumidor, juntamente com a ascensão
de um vigoroso movimento ecológico;
b) O surgimento do protesto tecnológico, dirigido principalmente contra a energia nuclear e
outras megatecnologias, como nova forma de protesto político e
c) A ascensão do Partido Verde e o seu êxito em introduzir temas ecológicos críticos no
diálogo político e no processo legislativo (CALLENBACH et al., 1996, p.25).
4- CONCLUSÕES
A leitura de mundo que nos é permitida para o momento, nos deixa algumas conclusões sobre
as possibilidades de práticas a adotar para a efetivação da mudança de paradigma.
Os novos conhecimentos científicos encaminham, certamente, na direção de um entendimento
que caracteriza um novo pacto com a natureza. Um pacto de identidade e de cumplicidade
permanentes. Assim, há que se descobrir a forma de promover a conscientização da humanidade,
com uma rapidez tal que a escala de tempo seja apropriada para a preservação do ambiente para as
futuras gerações.
O pacto a que nos referimos é o compromisso da ética para com todos os seres vivos e o
respeito devido; o tácito entendimento de que os seres humanos não podem se considerar senhores
do futuro.
A educação ambiental deve permear todo o conhecimento, promovendo a síntese integradora
do pensamento sistêmico, levando a mensagem, já concebida, que os processos ecológicos de
produzir são os que mostram mais vantagens econômicas.
Promover o entendimento entre ecologistas, academias e empresários para que sejam tomadas
atitudes em parceria, mostrando que estamos todos na mesma nave, cada um com sua contribuição e
sua limitação, deve ser uma prática permanente.
A economia deve levar em consideração passivos sócio-ambientais para a estipulação de
indicadores de qualidade de vida. A recuperação do ambiente deve ser prioridade inadiável,
economizando energia; utilizando fontes renováveis de energia; aproveitando recursos minerais
com parcimônia aceitável, considerando uma escala de tempo que permita às próximas (e as nem
tão próximas) gerações, a oportunidade da mesma utilização; não utilizando venenos, nem práticas
de destruição aos seres vivos; minimizando a utilização de embalagens; reutilizando produtos;
reciclando materiais; modificando-se processos produtivos, na direção desses objetivos, buscando
recuperar o ambiente danificado e diminuir a poluição.
A pobreza deve ser erradicada assim como a desnutrição. A educação que conduza à
consciência deve ser o caminho para os novos tempos.
O direito positivo deve regulamentar os modos de produção à luz do pensamento sistêmico,
mas a consciência ecológica, nos termos definidos por este deve ser o norte das ações. Assim, pense
o ser humano como um fio a teia da vida e não como sendo um fim em si.
Não há como voltar atrás no tempo, a cultura e a tecnologia fazem parte do nosso passado e do
nosso presente, entretanto, saber usufruir do conhecimento científico com vistas a procurar um
equilíbrio harmonioso, administrando a cultura com a natureza e pensar que no futuro outras
gerações tripularão esta mesma nave, encaminha o ser humano a sua única vocação intransferível:
ser feliz.
BIBLIOGRAFIA
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MERICO, Luiz Fernando Krieger. Introdução à economia ecológica. Blumenau. Ed. da FURB, 1996. 160 p.
OLIVEIRA, Artur Santos Dias de. Resíduos Culturais. Rio Grande. Ed. da FURG, 1999. 174 p.
SCHUMACHER, E. F.. O negócio é ser pequeno: um estudo de economia que leva em conta as pessoas. Rio de
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