Os Dilemas do Brexit (II).

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Economia & Política – Os Dilemas do Brexit (II).
Por Carlos Dix Silveira*
O clima vigente no Reino Unido pós Brexit é de formidável ressaca. Tanto Cameron quanto seu opositor conservador
Boris Johnson, aparenta arrependimento pela realização do plebiscito. Bregret é o termo criado para demonstrar o
arrependimento (regret) e a insatisfação de expressivo número de súditos ingleses. Os eleitores favoráveis ao Brexit
estão perdidos diante da complexidade do processo de divórcio e da reação dos principais países da UE exigindo
pressa no desligamento aprovado. O processo será demorado e deve causar prejuízos às partes. Aliás, segunda-feira
(27) a Standard & Poor’s, última agência a se manifestar, cortou a nota do Reino Unido em dois degraus, de “AAA”
para “AA” e advertiu que pode reduzir ainda mais essa nota. Além da nota a agência reduziu a previsão de
crescimento do PIB em 2016 de 1,9 % para 1,6%, e de 2% para 0,9% em 2017 e 2018. "A perspectiva negativa
reflete o risco às expectativas econômicas, ao desempenho fiscal e externo, e ao papel da libra como moeda de
reserva, assim como riscos à integridade constitucional e econômica do Reino Unido caso haja outro referendo sobre
a independência escocesa", acrescentou a S&P. Também a Fitch informou ter rebaixado a nota do RU de “AA+” para
“AA” e avisou que esta nota pode ainda ser rebaixada na próxima avaliação em dezembro. A Moody’s cortou a
perspectiva de rating britânico de estável para negativa. A Moody's também manteve os ratings “AAA” da UE e “Aa1”
do Reino Unido.
O plebiscito mexeu também com a estrutura política do RU. Há um claro racha político entre os Conservadores e
também entre os Trabalhistas. A Escócia que votou contra o Brexit ameaça fazer um plebiscito para permanecer na
UE, separando-se do RU. É uma missão difícil. Os escoceses em 2014 realizaram consulta plebiscitária e a maioria
optou por permanecer no RU. Dizem analistas que também agora, mesmo com toda essa confusão do plebiscito, os
escoceses descontentes não conseguiriam sair do RU e ficar na UE. Este imbróglio vai permanecer ainda por muito
tempo complicando os mercados. O processo de união dos países europeus levou muitos anos para chegar ao
estágio atual. Logo, a saída de qualquer um deles do grupo não será rápido como pretendem alguns.
Rebaixamento do rating das agências, desvalorização importante da libra, demonstrações de protestos e insatisfação
popular nas ruas, ameaças de consulta popular na Escócia e País de Gales para saírem do RU são demonstrações
claras do descontentamento geral que a decisão do plebiscito gerou e do prejuízo que a consulta resultou. A
confusão é grande e se torna maior para uma sociedade democrata desacostumada a conflitos dessa natureza,
comum para os brasileiros que ora convivem com dois presidentes: o titular afastado e respondendo a processo de
impeachment e o transitório que substitui o titular até o fim do referido processo.
A economia brasileira opinam alguns analistas, não vai sofre grandes prejuízos com o Brexit. O RU importa 1,52%
das nossas exportações e nós importamos 1,63% do total importado. Talvez surja, isto sim, oportunidade de ampliar
nosso intercâmbio comercial com a necessidade dos britânicos de buscar novos mercados para compensar possíveis
perdas com a saída do mercado comum europeu e dos mercados com os quais a UE mantem acordo de livrecomércio. O RU é relativamente aberto ao comércio de produtos agrícolas o que propicia uma oportunidade para o
Mercosul e o Brasil em particular ampliarem acordos comerciais. A possibilidade de crise financeira no mercado
londrino poderia ser prejudicial ao Brasil que possui investimentos da ordem de 7% do total de investimentos
estrangeiros aqui. É uma hipótese difícil de ocorrer dada as medidas de fortalecimento da liquidez do sistema
financeiro internacional provocado pelo Brexit. Assim, é viável acreditar que passada a fase do “divórcio” entre as
partes, o Brasil possa obter mais ganhos do que perdas nessa confusão entre Reino Unido e União Europeia.
Enquanto isso, no cenário interno, assiste-se a operação Lava-Jato trabalhar em regime de quatro turnos limpando a
sujeira da corrupção que contamina toda a administração pública. Nunca antes, neste país, houve tanta roubalheira
promovida por um partido político instalado há quinze anos na presidência e por partidos aliados e eventualmente
adversários. É um triste espetáculo que o Brasil assiste diariamente como a uma novela, mas que pode, finalmente,
dar inicio a um novo modelo de gestão pública.
*Economista
04/07/2016
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