SOCIEDADE, POLÍTICA E EDUCAÇÃO NA OBRA DE THOMAS

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SOCIEDADE, POLÍTICA E EDUCAÇÃO NA OBRA DE THOMAS HOBBES
Clóvis Lopes Júnior * - UEM
Maria Rosemary Coimbra Campos Sheen *
RESUMO - Thomas Hobbes (1588 – 1679), considerado um dos mais importantes pensadores do século
XVII escreveu a sua principal obra, Leviatã ou Matéria, Forma e Poder de um Estado Eclesiástico e Civil,
num período em que a Inglaterra era palco de grande conflitos sociais. A pesquisa em andamento tem
como objeto de estudo o principal escrito de Hobbes, acima citado, pois nele está contido todo o
pensamento do autor, visto que, os seus demais escritos são uma preparação para a sua grande obra. Entre
os textos de Hobbes, o Leviatã, apresenta as articulações essenciais do problema humano no contexto
histórico vivenciado por ele. Encontramos nos seus textos toda uma vinculação entre a Filosofia Política,
o Estado, o Poder e a própria forma de compreender o homem e a educação. Hobbes partindo de uma
concepção de homem como sendo por natureza egoísta, desenvolve em sua obra uma teorização e defesa
do absolutismo. Assim se torna importante desvendar nos seus escritos a educação proposta por ele com o
objetivo de formar o homem para a obediência civil e assim alcançar a paz tão desejada.
Thomas Hobbes filósofo inglês (1588 – 1679), foi um dos mais importantes pensadores
do século XVII, pois além de se preocupar em responder às necessidades do seu período
histórico, seu pensamento exerceu grandes influências nos séculos seguintes e até hoje
exerce, orientando a prática política realizada na sociedade.
Suas obras buscaram responder questões do mundo histórico em que ele viveu, e neste
sentido a contextualização do seu pensamento é necessária para uma compreensão que
nos propicie seu estudo para além de suas idéias e sua filosofia. Enfim, tratar a filosofia
como um pensamento histórico. Existe nos escritos do autor toda uma vinculação entre
a Filosofia Política, o Estado, o Poder, a própria forma de compreender o homem e a
educação.
Dentre suas obras, no exílio em Paris, publicou, em 1642, o texto Sobre o Cidadão, o
mesmo período em que na Inglaterra se desencadeou a guerra civil. De volta à
Inglaterra, em 1650, sem se desviar dos interesses sociais, publicou mais duas obras:
Natureza Humana e Sobre o Corpo Político.
Sua obra mais conhecida, Leviatã ou Matéria, Forma e Poder de um Estado
Eclesiástico e Civil, publicada em Londres, em 1651, traz uma continuidade de estudos
e defesas que a vinculam às obras anteriores, mais ainda, nela está contida todo o
pensamento do autor, visto que, os seu demais escritos são uma preparação para esta
grande obra. Seu pensamento está dirigido para a discussão sobre a melhor forma de se
constituir um Estado que atenda às necessidades emergentes do seu tempo. Thomas
Hobbes se preocupou com os fundamentos desse Estado. Para a sua ordenação é
dirigida a filosofia política do autor.
No estudo desses fundamentos Thomas Hobbes estuda a natureza do homem e afirma
que todos são dotados de iguais potencialidades, e tudo aquilo que o homem conseguir
por meio dessas será seu de direito. Esta consideração está presente no capítulo XIII do
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Aluno do curso de Mestrado em Educação da Universidade Estadual de Maringá
Professora do curso de Pós Graduação em Educação da Universidade Estadual de Maringá
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Leviatã, “Da condição natural da humanidade relativamente à sua felicidade e miséria”,
e nele o autor encontra o elemento fundamental para propor a formação do Estado como
força maior para o estabelecimento da ordem e da paz. Thomas Hobbes faz referência à
igualdade da natureza humana, levada às suas últimas conseqüências. Segundo ele, a
discórdia ocorre quando dois homens se interessam por uma mesma coisa, impossível
de ser adquirida por ambos ao mesmo tempo, levando-os à destruição, seja pela busca
de sua própria conservação ou simplesmente pelo desfrute do prazer. Desta forma o
autor destaca três causas principais que provocam a discórdia entre os homens: a
competição, a desconfiança e a glória.
A primeira leva os homens a atacar os outros tendo em vista o
lucro; a segunda, a segurança; e a terceira, a reputação. Os
primeiros usam a violência para se tornarem senhores das
pessoas, mulheres, filhos e rebanhos dos outros homens; os
segundos, para defendê-los; e os terceiros por ninharias, como
uma palavra, um sorriso, uma diferença de opinião, e qualquer
outro sinal de desprezo, quer seja diretamente dirigido a suas
pessoas, quer indiretamente a seus parentes, seus amigos, sua
nação, sua profissão ou seu nome. (Hobbes, 1983, p. 75)
Hobbes partindo de uma concepção de homem como sendo por natureza egoísta,
desenvolve em sua obra uma minuciosa teorização e defesa do absolutismo. Partindo
desse pressuposto, torna-se claro que a única forma de manter os homens em respeito,
evitando uma guerra civil seria a instauração de um poder forte e centralizado. Para
Hobbes esse processo deveria ser realizado por meio de um pacto social entre os
homens, os quais abdicariam dos direitos que seriam inerente a sua natureza
transferindo-os para um representante encarregado de promover a paz. Muito embora a
origem do Estado resulte do estabelecimento de um contrato social, a sua efetivação, de
acordo com o autor, não se deu sem conflitos. Por isso, para que esse Estado fosse
aceito, os homens precisavam ser educados para a obediência civil.
[...] Se desaparecesse este temos supersticioso dos espíritos, e com ele
os prognósticos tirados dos sonhos, as falsas profecias, e muitas outras
coisas dele decorrentes, graças às quais pessoas ambiciosas e astutas
abusam da credulidade da gente simples, os homens estariam mais bem
preparados do que agora para a obediência civil. [...]
E esta devia ser a tarefa das Escolas, mas elas pelo contrário alimentam
tal doutrina. (Hobbes, 1983, p. 14)
Desta forma, embora Hobbes não seja um autor que tenha merecido destaque nas
páginas dos livros de história da educação, é inegável que sua obra teve esse caráter
educador do “homem novo”, produto da sociedade capitalista.
Thomas Hobbes sabia que a luta que estava a enfrentar não era uma luta de pequeno
porte. Sua convivência com Bacon (1561 – 1626) de quem foi secretário entre 1621 a
1626, sua leitura de Descarte (1596 – 1650) – com quem travou debate e até mesmo fez
algumas objeções às suas meditações - e outros homens da Ciência e da Filosofia
influenciaram o seu pensamento, do qual encontramos importante ressonância na
ciência e na prática política da atualidade.
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Por isso consideramos importante a realização de um estudo que procura aprofundar o
pensamento desse autor, ressaltando especialmente sua forma de conceber a educação
no limiar da sociedade burguesa.
A obra de um escritor do porte de Thomas Hobbes não é um trabalho descolado das
questões de sua época. Entendemos que a prática social na gênese da sociedade
moderna orienta e norteia os estudos do autor no exato sentido em que a consciência é
sempre uma expressão de uma forma histórica dos homens.
Desta forma o estudo de suas reflexões pode nos ajudar a entender não só como ele
buscou, pela teoria, por movimento na prática social, mas compreender as próprias
questões que sua época o motivou a escrever.
Na análise da Filosofia Política de Hobbes o problema que o presente projeto de estudo
levanta é a compreensão do egoísmo como forma de ser do homem na sociedade que
está a nascer e o papel social da educação por ele proposta a partir desta conceituação.
O problema em questão não se resume apenas em entender qual a educação proposta
pelo autor diante de um período histórico que assistia a uma guerra civil no seu país,
mas tentar compreender os recursos que o autor se utilizou para convencer os homens
de sua época a estabelecerem a instauração de um novo Estado que garantisse a vida dos
homens com acumulação individual mas, com ordem e paz para a humanidade.
Hobbes não vê a educação do homem que ele almeja na prática social sendo realizada
apenas pela soberania da razão que entendia não suficiente diante dos interesses
particulares das pessoas. A defesa desses próprios interesses o leva na sua obra a
defender a educação como forma de colocar ordem e paz na sociedade dirigida pelo
poder político do rei. Neste sentido o estudo da educação no pensamento do autor nos
ajuda a compreender o próprio papel que ele assume na luta que estava sendo travada na
Inglaterra na gênese do capitalismo.
Ao nos propormos estudar o pensamento de Thomas Hobbes num curso de mestrado na
área de Fundamentos da Educação não o fazemos por concordarmos ou discordarmos de
suas idéias. O que nos move a este estudo antes de qualquer outra coisa é a tentativa de
compreender num momento significativo da vida dos homens, ou seja, nos primórdios
da sociedade capitalista, todo um esforço não só no campo econômico, mas no terreno
da Filosofia para por movimento na história. Totalidade e contradição marcam no
terreno do método nossa compreensão da história e da filosofia e correspondentemente
das defesas feitas pelo autor, inclusive, a da educação que emana de sua obra.
Thomas Hobbes participou e se comprometeu com as lutas sociais de sua época. Neste
sentido, dentre as categorias de análise que orientam a pesquisa, destacamos ainda a
explicação filosófica do homem na obra do autor como um conceito que nasce na
história e que nos ensina que o que somos e o que fazemos coincide com a forma de
existirmos.
Ao mesmo tempo tentamos não perder uma compreensão da história que se faz
dialeticamente como contradição em processo. As condições objetivadas na vida
material impõem, numa dada qualidade de sua produção, novas necessidades ao fazer e
ao pensar dos homens. Nesse processo defendemos, pela análise histórica, que o
movimento no qual os homens e seus pensamentos ganham forma e significado, não só
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entram em contradição com a forma precedente de vida mas só podem ser alcançado no
seu significado pela consciência da totalidade. O que nos leva a defender que o método
de pesquisa na educação é um movimento que vai do objeto singular, no nosso caso a
filosofia de Thomas Hobbes, à uma totalidade maior que explica em seu significado
histórico: a defesa do Estado. Portanto, o estudo deverá ser realizado vinculando a
filosofia política do autor com o momento histórico em que ele viveu.
REFERÊNCIAS
HOBBES, Thomas. Leviatã ou matéria, Forma e poder de um Estado eclesiástico e
civil. São Paulo: Abril Cultural, 1984. Coleção os Pensadores.
HOBSBAWM, Eric J. Sobre história. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
MACPHERSON, C. B. Teoria política do individualismo possessivo de Hobbes até
Locke. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.
ANGOULVENT, Anne-Laure. Hobbes e a moral política. Papirus, s/d
TUCK, Richard. Hobbes. Edições Loyola
STONE, Lawrence. Causas da Revolução Inglesa 1529-1642 / Lawrence Stone;
tradução Modesto Florenzano. Bauru, SP: EDUSC, 2000.
HOBBES, Thomas. Behemoth ou o Longo Parlamento. Belo Horizonte: Ed. UFMG,
2001
HILL, Christopher. A Revolução Inglesa de 1640. Editorial Presença. 3ª. edição
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