UMA APRECIAÇÃO CRÍTICA ACERCA DO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO NA GRADUAÇÃO Nadja Maria Lima Maciel* RESUMO Este trabalho científico apresenta alguns pré-requisitos de habilidades e competências que são exigidas como condição mínima para a produção de um Trabalho de Conclusão de Curso na graduação. A pesquisa é compreendida como um campo do conhecimento que conduz à concretização das ideias e dos estudos, reconceptualizando a capacidade de ler e escrever textos dissertativos, de modo a organizar, selecionar e sintetizar informações – habilidades estas que praticamente qualquer indivíduo, com formação acadêmica ou não, exerce na vida cotidiana. Exige-se um determinado conhecimento da área científica em que se insere o trabalho em questão. A competência fundamental, indispensável para a aquisição de qualquer conhecimento científico, é a capacidade linguístico-comunicativa, que permite atribuir significados e interpretações ao mundo da percepção empírica, com base em métodos e procedimentos de reflexão e análise utilizados para articular teoria e a dimensão contextualizada no contexto histórico-social da investigação, a partir das conexões entre estes elementos. PALAVRAS-CHAVE: Graduação. Pesquisa. Trabalho de Conclusão de Curso. INTRODUÇÃO A partir de vivências pessoais e do levantamento de algumas situações sobre o componente curricular Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), em cursos de graduação, nas Universidades Estaduais da Bahia, emergiu o meu interesse por investigar os motivos que ampliam as dificuldades que discentes da área de * Docente da Universidade Estadual de Feira de Santana; ministra os componentes curriculares Metodologia e Estágio da Língua Portuguesa; Mestrado em Mídia e Conhecimento pela Universidade Federal de Santa Catarina; Doutoranda em Ciências da Educação-Universidade Trás-os-Montes e Alto Douro-Portugal. [email protected] Educação apresentam sobre o aprendizado do mencionado componente, principalmente quanto à inaptidão destes sujeitos para a produção de textos científicos. Produzir textos tornou-se uma problemática que acompanha o indivíduo ao longo do seu processo educativo e, não menos frequente, no campo acadêmico. Sabe-se que é uma ação comunicativa posterior à oralidade, mas que, para ser inteligível e funcional, deve ter precisão e clareza; portanto, requer uma leitura aprofundada como elemento imprescindível para escritura do texto. Significa dizer que à medida que o sujeito mergulha na leitura ele absorve a temática, suas normas e formas, bem como os elementos textuais com adequação da linguagem e ordenação de ideias.No TCC, o texto dissertativo pressupõe a síntese das principais competências de um sujeito letrado. Na visão de Xavier (2010, p.14), o texto dissertativo permite interpretar, analisar, relacionar fatos, informações e conceitos gerais, a fim de construir argumentos em favor de uma determinada tese. Após uma análise científica com determinados graduandos, verificou-se que a maior dificuldade no ato de pesquisa gira em torno da delimitação do objeto de estudo; para uns, selecionar a bibliografia constitui-se o aspecto mais complexo; ainda outros dizem que entendem formatação do texto científico como uma mera organização textual eletrônica. Além disso, o TCC requer a contribuição dos princípios de textualidade imprescindíveis em um trabalho acadêmico, quais sejam: intencionalidade que evidencia o objetivo central da produção; aceitabilidade que aponta os fatos de forma inquestionável; situacionalidade a qual se refere à pertinência contextual do texto; informatividade em que se apresentam as informações clássicas e inovadoras e intertextualidade para garantir a consistência teórica do ponto de vista do produtor. Propõe-se, então, realizar um levantamento detalhado em relação às questões sobre investigação científica tão comuns nos centros acadêmicos, com ênfase na comunidade dos cursos de graduação. Com isso, pretende-se aclarar um dos fatores que interferem na pesquisa, a saber: a importância dos docentes no processo de ensino e aprendizagem do referido componente. Estudos no tocante ao tema em epígrafe afirmam que os profissionais com experiência em pesquisas científicas nos cursos de mestrado ou doutorado,e conhecimentos sobre as normas oficiais de trabalhos científicos estão preparados para atuar na supracitada área. Entretanto, apesar de possuírem tais títulos, uma grande parte desses docentes pode não apresentar uma competência desejável para exercer tal ofício. Pedro Demo (2001) chama a atenção para pesquisa, revelando que não existe prática de ensino ou aprendizagem efetiva sem a prática da pesquisa. Sem ela, é impossível a produção do conhecimento, pois tanto docentes quanto discentes precisam da prática da pesquisa para construir o saber. Segundo o autor, a pesquisa precisa ser desmistificada, para que os estudantes tenham domínio sobre investigação no momento da escrita do TCC. Este trabalho tem como premissa básica abordar a pertinência acadêmica do TCC, com base nos aspectos apontados por Nascimento (2012, p. 35): originalidade – uma abordagem que consiste em descobertas com relação ao objeto de estudo e potencial para surpreender o escritor; criatividade – uma abordagem diferenciada e nova em relação ao objeto de estudo, demonstrando capacidade de serem encontradas soluções diferentes das já utilizadas por outros pesquisadores; relevância – uma abordagem em que se destaca a importância do estudo ou da pesquisa em relação ao objeto de estudo, em razão de se proporcionar uma contribuição significativa; viabilidade – uma abordagem na qual se tem a consciência da presença (ou não) de condições materiais, humanas e financeiras para desenvolver a pesquisa em relação ao objeto de estudo. É importante ressaltar que o conhecimento científico não exclui as outras formas de se conhecer a realidade. O que diferencia a atitude científica do senso comum é o fato de a ciência sempre desconfiar a veracidade das certezas existentes. Há sempre a curiosidade de se verificar os conhecimentos, com objetividade e critérios. Nessa perspectiva, o TCC não pode ser visto apenas como um trabalho de final de curso, mas sim como um olhar que retrate a dimensão defendida por Gil (1996, p. 20): “Etimologicamente, ciência significa conhecimento”. A ciência, como forma de conhecimento, pois atribuir o termo “científico” a alguma afirmação, imediatamente acrescenta mérito e confiabilidade ao que foi dito ou proposto. Para Demo (1987), a metodologia responde a questão instrumental do fazer ciência, não sendo, portanto, ciência em si própria. Dessa forma, é um erro supervalorizar a questão dos meios de se fazer ciência, sendo a proposta final o mais importante. Muitos teóricos compartilham da mesma ideia que o autor citado acima. Entender a importância da investigação, colocando-a em sua devida posição, representa um importante passo para o fazer ciência de forma criativa e consciente, potencializando o trabalho desenvolvido. Baseado em Giroux (1997, p.77), os graduandos aprendem metodologia que parecem negar a própria necessidade de pensamento crítico, em vez de aprenderem a refletir sobre os princípios estruturantes. Diante disso, pode-se afirmar que o TCC nos cursos de graduação tem se tornado um instrumento amplamente utilizado e reconhecido como meio de se investigar a realidade em instituições acadêmicas. DESENVOLVIMENTO Cervo (1996) afirma que a metodologia científica foi introduzida nos currículos dos cursos de graduação no início da década de 70 e que a abordagem apresentada não era acessível ao nível de conhecimentos e interesses dos estudantes. Supõe-se que o componente curricular Metodologia Científica sugere a inserção do estudante nas orientações de técnicas e métodos que serão alicerces para seus trabalhos acadêmicos e, posteriormente, profissionais. No âmbito da investigação, pode-se estabelecer uma analogia entre a afirmativa de Cervo e a realidade vigente, e verificar que a visão do autor é atual. De fato, é um componente imprescindível à produção científica, mas que ainda não conseguiu alcançar, talvez, a linguagem do discente para promover uma aprendizagem significativa. Para o interesse desse estudo, essas duas assertivas se completam, tendo em vista que produzir texto científico requer a apreciação da obra, ou obras – objeto de pesquisa – para a fomentação de constatações particulares, através de ferramentas que atentam para as normas acadêmicas vigentes. Minayo (1999, p. 42-43) afirma que metodologia é “mais que uma descrição formal dos métodos e técnicas a serem utilizadas, indica as opções e a leitura operacional que o pesquisador fez do quadro teórico”. Sobre essa afirmação, pode-se apontar que muitas lacunas são detectadas no decorrer e ao término dos estudos no componente em questão, uma vez que o foco central apresentado pelos professores é a exposição de normas e técnicas. Consoante Pádua (1999, p.30), quando se fala em pesquisa na universidade, muitas vezes, esta atividade tem sido entendida como o domínio de um conjunto de procedimentos, técnicas, sob a denominação de metodologia; nesta perspectiva, a questão do método é reduzida a uma simples aplicação de técnicas [...]. Talvez seja essa proposta de ensino, apresentada nas universidades, o grande motivo de intolerância por parte dos alunos. Sobre a transposição didática aplicada pelos docentes de Metodologia do Trabalho Científico, nos cursos de graduação, Targino (2006, p.2) menciona que “salvo honrosas exceções, qualquer docente, independente de sua área de atuação, é designado para ministrá-la”. Os resultados revelam exatamente o contrário. Se o docente não tiver a competência necessária, não terá fundamentação pedagógica para despertar no estudante o verdadeiro sentido social da fomentação da pesquisa científica. Sendo assim, é conveniente que o docente, ao invés de meramente apresentar normas que podem ser manuais acessíveis no mercado, orientem o discente a desenvolver uma postura crítica de leitura, produção e análise de textos. No TCC, a aplicabilidade das normas é uma condição sine qua non; todavia, como o discente irá adequar normas sem a aquisição de segurança para produzir o objeto de apropriação dessas normas que é o texto nas suas mais variadas representações? Sabe-se que, para apresentar um texto científico, no Brasil, faz-se necessária a observância dos padrões exigidos pela Associação Brasileira de Normas e Técnicas (ABNT). Entretanto, isso não constitui relevante aprendizagem se o ensino dessas normas for mecânico e se o estudante não desenvolver o mínimo de senso crítico, visto que uma das vertentes do ensino superior é a pesquisa. Observa-se que muitos cursos ainda não apresentam aos estudantes de graduação a experiência de produção de monografia, uma oportunidade significativa de expor o sujeito à produção de textos de elevada qualidade científica, e, quando positivo, a prática só acontece nos dois últimos semestres, apenas como cumprimento de uma etapa avaliativa de final de curso. Convém concordar com Targino (2006, p. 2), ao salientar que sem a pretensão de macular o ensino produtivo da graduação, presente em algumas universidades e faculdades, afirma-se que muitos dos problemas envolvidos na execução dos Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC) estão vinculados à pouca ênfase que é concedida ao ensino da metodologia científica, aliada a questões outras, como: desarticulação entre a matriz curricular, relegando a contextualização, incorporada, em nível teórico, nos fóruns de debate acerca do ensino em graduação; discussões evasivas sobre a relevância dos trabalhos monográficos; ausência de debates sobre ciência e conhecimento. Freitas (2006, p.1) aponta que “Ler e escrever ainda é o melhor exercício para quem pretende se expressar com um mínimo de competência e eficácia [...] que competência textual resulta da prática”. Ou seja, o sujeito precisa lançar mão de requisitos imprescindíveis a passar suas impressões e, por conseguinte, atingir o seu público. Com isso, faz-se mister o TCC ultrapasse os limites das normas, a fim de permitir ao discente desenvolver e/ou amadurecer a competência da comunicação e organização do pensamento, pois estando o método aliado a arte, inventividade, e estratégias certamente serão alcançados os objetivos mais relevantes para o discente, a constituição do saber científico estruturado a serviço do social e não apenas o ensino para atender requisitos de componentes curriculares acadêmicos. Penteado (1974, p.243) afirma que “a leitura é a base da arte de escrever”. Pode-se acrescentar, então, que não há escrita coesa sem a anterior organização e sistematização de ideias. O trabalho científico exercitado nas universidades pode ser oral, mediante palestras, comunicações, intervenções em seminários, ou escrito através de resenhas, resenhas comentadas, ensaios, papers, artigos, monografias, dissertação de mestrado ou tese de doutorado, ou relatórios de pesquisa. As normas de elaboração e apresentação de qualquer desses tipos de trabalho são, basicamente, as mesmas. Em qualquer destes tipos e seja qual for seu alcance, ocorre sempre um processo similar de produção de conhecimento, que tem características diferentes nos diversos campos científicos. Adquirir conhecimentos novos exige, como prérequisito, certas habilidades e competências, que são processuais. Segundo o teórico Demo (1987), cabe à pesquisa a atividade básica da ciência, sendo esta o fenômeno fundamental da geração do conhecimento. O autor considera que a atividade de transmitir conhecimento (docência) e a de absorvê-la (discência) é subsequente à pesquisa. Sendo assim, “Pesquisa é a atividade científica pela qual descobrimos a realidade” (DEMO: 1987, p. 23) A ciência pressupõe que sempre existe algo mais a se descobrir na realidade. Dessa forma, a investigação pode ser considerada como um processo interminável, nunca uma situação definida, da qual não haveria mais o que descobrir. Existem diversas formas de classificar a pesquisa conforme Demo (1987): a) Pesquisa Teórica: esquematiza e analisa quadros teóricos de referência. É fundamental que o pesquisador tenha domínio dos clássicos de determinado componente curricular; domine a bibliografia fundamental, conhecendo a produção existente; detenha espírito crítico, para não ser apenas um “colecionador de citações”, tendo capacidade de produzir com personalidade. b) Pesquisa Metodológica: refere-se aos instrumentos de captação e manipulação da realidade. Diz respeito à questão metodológica a atitude de dúvida, de indagação, de crítica à pesquisa. Discutir os caminhos (as metodologias) percorridos por outros pesquisadores, como forma de verificar se o que foi construído poderia o ser de outra forma; questionar se os caminhos foram os melhores, e o porquê de terem sido escolhidos. c) Pesquisa Empírica: está relacionada principalmente à questão experimental e observável dos fenômenos. Tende a ser quantitativa, e por conta dela, muitas técnicas de coleta e mensuração de dados foram aprimoradas e relacionadas a realidade concreta. d) Pesquisa Prática: testa possíveis ideias ou posições teóricas; pesquisa se teorias são especulações ou realidade e busca o posicionamento da teoria diante a realidade. A partir destas competências básicas, acontece a expansão e o aprofundamento do conhecimento em uma área particular e, no decorrer do processo, através da comparação e confrontação de diferentes informações, desenvolve-se a capacidade de exercer um julgamento crítico sobre as informações colhidas, de acrescentar e combinar informações, de refletir e tirar conclusões e, finalmente, de reorganizar o processo em uma linguagem acessível aos receptores e interlocutores potenciais. O primeiro momento do processo de trabalho, do qual irão depender, em grande parte, todo o processo e mesmo os resultados finais, é a definição e delimitação do objeto de estudo e investigação. Para tanto, o estudante de graduação adotará um manual de pesquisa que norteará sua produção. Uma indagação prévia, que deve ser esclarecida, é se existe alguma hierarquia entre temas possíveis, e se estes são mais adequados ao trabalho científico, ou mais legítimos. Todo e qualquer tema relativo ao mundo natural, social ou humano pode ser um objeto legítimo de estudo. O que define a legitimidade de um trabalho científico não é seu tema, mas o tratamento que se dá a ele e a exploração de seu potencial de produzir novos conhecimentos. Sendo assim, deve-se sublinhar que todo processo de pesquisa começa com a busca e subsequente delimitação da área de interesse a ser pesquisada. As condições básicas a serem preenchidas para esta finalidade são duas: em primeiro lugar, o objeto de estudo deve situar-se dentro do campo científico onde ocorre a formação e atuação do pesquisador; em segundo, deve preencher outras exigências específicas colocadas pela instituição onde o trabalho será produzido e avaliado, ou pelo fórum onde será apresentado. Uma introdução deve delimitar de forma simples, mas inequívoca, o objeto de estudo e o enfoque adotado, ao mesmo tempo em que apresenta brevemente a estrutura e os componentes do trabalho e a metodologia. Uma introdução com lacunas e uma delimitação do objeto com deficiência podem prejudicar a compreensão de todo o trabalho, além de dificultar a produção pelo discente. Para garantir o maior grau possível de veracidade e confiabilidade, existe uma série de técnicas simples de avaliação, aferimento e autenticação. Estas técnicas, obviamente, não podem ser as mesmas das Ciências Naturais – de experimentação e observação controlada – já que a natureza das Ciências Humanas e Sociais é diferente, mas, ainda assim, as fontes de informação da área humanística e sociológica podem e devem ser verificadas com rigor. Uma observação relevante é que qualquer documento – público ou particular – qualquer depoimento oral ou escrito, qualquer imagem, texto literário, narrativa, objeto – artístico, de uso cotidiano, ou outro – qualquer vestígio arqueológico, pode ser fonte de pesquisa, dependendo do enfoque e dos interesses de pesquisa. Um objeto, real ou simbólico, da realidade humana e social se torna fonte de investigação científica quando o pesquisador volta seu interesse crítico para ele e o utiliza para obter dados sobre uma determinada problemática a ser investigada, segundo critérios e procedimentos científicos. As técnicas de investigação desenvolvidas pelas ciências históricas – a chamada crítica de fontes – e utilizadas pelos historiadores para estabelecer a autenticidade e veracidade de suas fontes, são úteis para toda e qualquer pesquisa científica. A prática da crítica de fontes aguça o senso crítico e desenvolve a capacidade de estabelecer fatos prováveis em qualquer campo. Em um momento posterior, é necessário que o conhecimento prévio do pesquisador se efetive por meio de uma busca avançada em bibliotecas, arquivos, museus, sites, grupos de debate real ou virtual, seleção suplementar de material bibliográfico e, no caso de trabalho de campo e material empírico, através da primeira fase de coleta de fatos. Quanto mais conhecimento o pesquisador adquirir acerca do trabalho de seus antecessores na área de interesse e estudo, mais qualificadas serão as escolhas teóricas, o método e material empírico, mais bem argumentadas serão suas análises, mais originais serão as interpretações, mais sólidas e convincentes as conclusões. Para chegar a estes resultados, torna-se decisiva a seleção do enfoque a ser aplicado, do ângulo a partir do qual o objeto de estudo será observado. Com esta escolha, haverá um recorte da realidade que constituirá o objeto; é ele que confrontará os problemas ainda não solucionados e questões ainda não respondidas. Estas perguntas podem ser formuladas sob a forma de hipóteses – isto é, de afirmações condicionais sobre os resultados possíveis. A articulação de hipóteses facilita os momentos posteriores do trabalho, já que aponta para determinadas orientações teóricas, para ângulos precisos de análise e permite elaborar uma disposição inicial do trabalho, que ajuda a estruturar o processo de produção. A definição do enfoque teórico e de metodologia e os modelos de análise estão sempre ligados um ao outro: a metodologia deve adequar-se à linha teórica, e estas duas escolhas devem ser simultâneas. Se isto não acontecer, torna-se difícil implementar qualquer análise e a conclusão ficará confusa, posto que as teorias são hipóteses elaboradas, complexas e coerentes sobre conexões entre diferentes componentes do universo empírico, sejam estes fenômenos, relações ou representações e significados. A conformação de uma teoria depende, portanto, daquilo que se imagina que seja relevante para afirmar que talvez existam conexões. Esta primeira condição abre um amplo espectro de possibilidades, pois as teorias relevantes são aquelas que podem ser justificadas cientificamente, e é na ciência que se encontram os critérios de relevância imaginativa. Em segundo lugar, as teorias são construídas pela visão de ciência em questão, isto é, pela representação filosófica do que é ciência, de como se implementa uma análise científica e de como se adquire conhecimento científico, formulada a partir do conjunto de princípios, noções e critérios de qualidade científica vigentes na época, ou seja, o que é chamado de paradigma. Os paradigmas científicos e a própria definição de ciência dependem do contexto sociocultural e político, e variam consideravelmente com este. Portanto, que tipos de teorias são aceitas e legítimas em determinado momento depende de três fatores: a) os critérios que definem o conhecimento relevante, b) a visão filosófica de ciência e c) a tradição específica (metodológica e técnica) de pesquisa e produção de conhecimento em determinado campo. Estas condições para o trabalho teórico têm, para o pesquisador, um duplo resultado. Por um lado, delimitam com certo rigor o território dentro do qual pode mover-se, na busca de explicações coerentes sobre seu objeto, limites estes que, em princípio, não podem ser cruzados, sob o risco de afastar-se do campo da ciência. Por outro lado, as referidas condições abrem um espaço considerável para qualquer investigação, permitindo a formulação e aplicação de uma ampla gama de hipótese, suposições e combinações, desde que contidas dentro do paradigma vigente. A aceitação de uma determinada abordagem teórica, baseada talvez em teorias já existentes, mas modificadas, reformuladas, suplementadas e revistas pelo pesquisador, depende apenas da precisão analítica e coerência argumentativa do pesquisador, bem como de seu domínio dos paradigmas e de sua capacidade de operar dentro de seus limites, ou, no caso de pesquisadores avançados, pioneiros e visionários, a capacidade de desafiar, transcender e modificar o paradigma do componente curricular. Nesse cenário, faz-se necessário tratar a questão do método. Examinando-se os diversos instrumentos do processo científico, pode-se afirmar que a teoria tem a intenção de articular conexões internas entre os componentes do objeto de estudo e entre este e seu(s) contexto(s); o método é o instrumento que permite analisar concretamente estes componentes e relações; portanto, o método articula teoria e objeto. Desta constatação se segue que, sem um método adequado, torna-se inapropriada a reflexão teórica. Teoria sem método é estéril e inútil. Mas, já que o método é um elo entre teoria e objeto de estudo, pode-se afirmar que é irrelevante buscar uma definição substancial e essencial de método. Existe uma multiplicidade de métodos adequados (ou não) a objetos de estudo determinados, que defende a possibilidade de promover a interação do conhecimento científico, a partir das formas de repensar os saberes constitutivos do TCC, já que este perpassa pela reflexão que implica a imersão consciente do homem no mundo carregado de conotações, valores, intercâmbios simbólicos, interesses sociais e cenários políticos. Os diversos procedimentos metodológicos estruturam as problemáticas particulares de cada campo científico. Por exemplo, no campo da história, o método deve articular e estruturar três problemas, ou indagações: o tempo, o material empírico e a avaliação do alcance da análise, ou seja, da representatividade. Na literatura, o método deve articular e estruturar duas ordens de problemáticas específicas: a da produção do texto e a da interpretação/recepção. Dentro de cada uma delas, tem-se subcategorias de problemáticas, todas relacionadas entre si: o texto em si; o autor; o leitor; o contexto; a representação simbólica e metafórica da linguagem. Nem teoria nem método são dados óbvios e indiscutíveis: teoria e método sempre são resultado de um processo de escolha, exclusão e priorização dos aspectos que se querem destacar e ressaltar. Quando, no processo de trabalho, tomam-se decisões sobre os instrumentos teóricos e metodológicos que é preciso aplicar, faz-se necessário desenvolver uma argumentação em favor destas escolhas, já que qualquer objeto de estudo pode ser analisado a partir de muitos pontos de vista teóricos e por via da utilização de vários métodos. E, em muitos casos, é igualmente necessário assinalar também as possibilidades que, por determinadas razões, se excluíram de uma análise específica. A elaboração de uma estrutura provisória e guia de trabalho científico se modifica no decorrer do processo de estudo, pesquisa e escrita. No entanto, devese sempre, em um momento do processo de investigação, definir e articular uma estrutura provisória. Esta, apesar de ser modificada durante a elaboração do texto final, serve como um instrumento útil de direcionamento e organização. O índice provisório é um guia de trabalho, que preenche diversas funções: orientar e ordenar os diversos procedimentos (leitura, pesquisa bibliográfica, coleta de dados, leituras teóricas, elaboração de rascunhos e esboços de análise, dentre outros); organizar os vários processos de trabalho parciais; ajudar a manter um cronograma de trabalho; guiar a aplicação de teorias e interpretações à medida que se coleta mais dados; sintetizar os resultados parciais que se alcança no percurso; manter a conexão permanente entre hipóteses e análises parciais; preparar o esqueleto das conclusões; organizar o texto final, de modo a priorizar quantitativamente as partes mais importantes; servir como lista de verificação dos itens necessários ao texto final, de modo a permitir complementações e/ou supressões pertinentes. A escolha de técnicas de pesquisa e coleta de dados deve ser sempre uma consequência do método e da orientação teórica. Qualquer técnica pode ser utilizada em qualquer tipo de trabalho, no estudo de quase qualquer tema. No entanto, algumas técnicas são mais adequadas a determinados fins e objetos de estudo. É preciso ter claro que não existem técnicas melhores ou piores, apenas técnicas mais adequadas em alguns contextos, e o uso da técnica mais eficiente permite alcançar com maior precisão os objetivos do estudo. Em algumas situações de pesquisa, devem-se combinar diferentes técnicas e métodos quantitativos e qualitativos, ou diferentes enfoques: estatística e análise textual; enfoque biográfico e textual; estatísticas sociais e análise de discurso; questionários fechados, questionários abertos e entrevistas. O importante é saber o motivo de se utilizar uma técnica e para que e como serão usados os dados obtidos. Após esse momento, surge a análise que é o processo em que se começa a unir material empírico e teoria, através da aplicação de um método e em que se começa a verificar a coerência e relevância das hipóteses de trabalho para revisá-las, reunir fragmentos de percepção e entendimento, complementar abordagens, identificar contradições internas no texto, não necessariamente para eliminá-las, mas para refletir sobre elas, e, como resultado final destas operações, fazer emergir o significado de todo o processo. Nesta fase da pesquisa, percebe-se, com clareza, a importância de uma estrutura organizada, sistemática e direcionada de desenvolvimento do texto, da qual depende, em grande parte, o encadeamento lógico e progressivo da análise e sua coerência argumentativa. Qualquer análise deve ser lógica e bem argumentada, fundada em referências precisas e concretas ao material que constitui o objeto de estudo. Além disso, deve ser diversificada e abrangente, de forma a incluir os aspectos mais essenciais do tema. Para alcançar estes resultados, torna-se imprescendível que os objetivos estejam claros. Há, também, um aspecto das conclusões cuja inclusão, se não é indispensável, é sempre aconselhável: algumas observações sobre a continuidade das pesquisas e dos estudos sobre o tema. Nenhum tema é jamais esgotado e é da natureza da ciência abrir espaço e apontar para novas indagações, a partir de respostas e conclusões em que fragmentos de novos conhecimentos se articulam e consolidam. Mais conhecimento gera indagações mais qualificadas e aprofundadas e, na sua forma mais avançada, aponta sempre para novos caminhos de pesquisa e estudo. CONCLUSÃO Durante todo o processo de elaboração deste trabalho científico buscouse o repensar da aquisição de novos conhecimentos, a fim de saber articular as indagações corretas como elemento mais importante do que chegar a respostas definitivas e categóricas. O avanço e expansão do conhecimento científico se nutrem de indagações, problemas e dúvidas, e não de respostas, soluções e certezas. Foi proposto com esse trabalho científico analisar o processo de aprendizagem por parte dos estudantes universitários, bem como apontar e refletir sobre problemas relacionados ao componente curricular Metodologia do Trabalho Científico, mostrando que um grande número de cursos superiores, principalmente aqueles que formam educadores, os cursos de graduação, não oferecem aos discentes a oportunidade da realizar um trabalho científico, uma vez que suas grades curriculares, na sua maioria, a referida componente curricular e ministrada em apenas um semestre letivo, preferencialmente em um dos três primeiros, focando sua oferta nas normas estabelecidas pela ABNT – Associação Brasileira de Normas e Técnicas – NBR, sendo que nesses semestres pouco se produz de fato textos científicos. A pesquisa elege os graduados tendo em vista as contribuições que a Metodologia Científica poderia fornecer ao futuro profissional de educação, no sentido de preparar o estudante para a pesquisa e elaboração do pensamento crítico. Saber concluir um trabalho com a consciência de suas deficiências e omissões e com uma clara percepção de como se poderá, no futuro, ampliar e aprofundar o conhecimento sobre o tema é, talvez, uma prova de domínio do tema em particular e dos procedimentos científicos em geral. Além disso, apontar para novos potenciais de pesquisa é reafirmar tanto o caráter coletivo da produção de conhecimento científico quanto a inserção de qualquer contribuição específica e concreta de um pesquisador no contexto da comunidade acadêmica e de seu acervo comum de saber. Nenhum texto é fechado e completo, definitivamente; nenhum resultado de pesquisa, por mais cuidadoso, brilhante e original que seja, é final, indisputável e indiscutível. Um trabalho científico é um instrumento de comunicação e debate, primariamente no âmbito da comunidade acadêmica, e em segundo plano no âmbito da sociedade. Para que a comunicação entre seres humanos – inclusive pesquisadores e cientistas – ocorra, os participantes do processo comunicativo devem falar a mesma língua e serem capazes de transmitir e receber informações inequívocas. Isto só é possível se a expressão de seus conhecimentos, ideias e resultados ocorram em linguagem clara, precisa, coerente e lógica. Todo trabalho científico contem uma dinâmica dialética constante entre rotinas de aquisição, revisão e organização de conhecimentos e momentos de produção de novas percepções e entendimentos. As considerações sobre o TCC aqui apresentadas são as mais correntes e mais básicas, embora a ordem da exposição possa sofrer pequenas variações. Existem, sem dúvida, inúmeras outras possibilidades de variações e estruturas alternativas, que dependem do tema, da personalidade do(a) autor(a), do fórum a que se destina o trabalho, mas sua adequação e oportunidade devem ser ponderadas com muito cuidado. Pesquisadores em um estágio mais avançado de sua formação podem tomar liberdades maiores com este modelo de estrutura, ou mesmo permitir-se o uso de diversos procedimentos textuais menos convencionais, destinados a criar efeitos inesperados e menos rotineiros e a despertar o interesse do leitor. Face ao exposto, faz-se necessário mencionar que a estrutura e a disposição do trabalho científico devem ser adequadas ao tema e ao método. A discussão deve refletir claramente a metodologia de análise e a transição entre os temas dos diversos capítulos deve ser feita com coerência lógica e textual, tornando o texto bem encadeado e contínuo. O tema central precisa servir de orientador tanto na escolha da teoria e do método quanto na organização do texto – ser o eixo em torno do qual todas as demais seções e subtemas se organizam. O aparato teórico, os instrumentos de análise, as ferramentas metodológicas e técnicas devem sempre ser apresentadas após a apresentação inicial do objeto de estudo, sempre em relação a este e nunca como temas equivalentes e equiparados. Portanto, na perspectiva de retomar a definição de teoria, pode-se precisar a definição: teorias científicas são hipóteses elaboradas, complexas e coerentes sobre conexões entre diferentes componentes do universo empírico, sejam estes fenômenos, relações ou representações e significados, construídas a partir de um paradigma de ciência. A reflexão teórica, em um sentido amplo, acontece em todos os momentos e em todos os níveis do trabalho científico, mas a aplicação intencional e sistemática de determinadas hipóteses, organizadas em um conjunto coerente de pressupostos considerados relevantes para iluminar as conexões entre diferentes elementos da realidade a ser investigada acontecem em um momento específico do processo de pesquisa científica e se distingue da reflexão mais geral e difusa pelo significado com o qual se insere no paradigma científico vigente nesse campo determinado. Tanto os conceitos, as interpretações e os instrumentos teóricos quanto os procedimentos metodológicos utilizados devem ser apresentados e explicitados, tornando claras as diretivas e orientações teóricas e analíticas que inspiraram o autor do trabalho científico. Enfim, para formular e produzir uma conclusão, ou um conjunto de considerações finais sobre o tema, um estudo requer que todo o processo de pesquisa seja bem organizado e estruturado, e que as hipóteses de trabalho estejam claras e bem focadas. Na conclusão, o que se deve fazer é retomar, de forma resumida, tanto as diversas linhas de análise desenvolvidas quanto à(s) hipótese(s) inicial(is), alcançando um patamar superior de compreensão mais precisa das características e especificidades do objeto de estudo. A conclusão é um derivado lógico direto da investigação: não se apresenta dado novo na conclusão, e todos os elementos da análise devem ser considerados e incorporados e se forem irrelevantes no contexto devem ser excluídos do texto final. O Trabalho de Conclusão de Curso na graduação elege a pesquisa como eixo organizador das atividades de ensino e exige côo pressupostos questões em processo de investigação que articulam as dúvidas com a possibilidade de perspectivas de respostas, tendo em vista a construção da autonomia do sujeito que produz. A CRITICAL ASSESSMENT ABOUT FINAL PAPER ABSTRACT This scientific work presents some prerequisite of skills and competencies that are required as a minimum for the production of the Final Paper requirement. The research is understood as a field of knowledge that leads to realization of ideas and studies, re-conceptualizing the ability to read and write dissertation texts, in order to organize, select and synthesize information - these skills that almost any individual with academic training or not exercised in everyday life. It requires a certain knowledge of the scientific field in which it appears the work in question. The fundamental skill necessary for the acquisition of any scientific knowledge is a linguistic-communicative ability, which allows you to assign meanings and interpretations to the world of empirical perception, based on methods and procedures of reflection and analysis used to articulate theory and contextual dimension of the social-historical context of research, from the connections between these elements. KEYWORDS: Graduation. Search. Final Paper. REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS E TÉCNICAS. NBR 6023: informação e documentação – Referências – Elaboração. Rio de Janeiro, 2011. BARROS, Aidil de Jesus Paes & Lehefeld, Neide Aparecida de Souza. Projeto de Pesquisa. Petrópolis: Vozes, 1991. BURMEISTER, Tereza. Uma reflexão introdutória à natureza da comunidade acadêmica e sua relação com métodos e procedimentos científicos. UEFS, DLET, Feira de Santana, 2007. _____________. 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