INFRAESTRUTURA LOGÍSTICA E A EFICIÊNCIA DA EXPORTAÇÃO DE SOJA NO ESTADO DO MATO GROSSO Flávia Quintanilha Carla Mota dos Santos da Silva Manuel Lemos Alexandre Universidade Castelo Branco-RJ Escola Superior de Gestão e Tecnologia Úrsula Maruyama CEFET-RJ Departamento de Administração RESUMO A soja é uma das commodities mais relevantes para o desenvolvimento econômico do Brasil, atuando como geradora de divisas cambiais, com participação significativa na balança comercial do país. Assim sendo, este trabalho realiza a análise das principais rotas de escoamento da soja produzida no estado de Mato Grosso, atualmente o maior produtor e exportador local do grão. Por meio de levantamento documental e bibliográfico buscou-se identificar as barreiras existentes à infraestrutura logística da região. Os resultados obtidos pelos levantamentos permitiram observar que o estado de Mato Grosso dispõe de uma infraestrutura logística inadequada para o escoamento do grão e que é necessária a realização de investimentos para a viabilização de corredores de integração entre os modais de transporte, com a preponderância do uso do modal hidroviário complementado pelos modais rodoviários e ferroviários, por meio de infraestrutura logística integrada. ABSTRACT Soy is one of the most important commodities for Brazilian economic development, acting as foreign exchange contributor. This work analyses soy routes in Mato Grosso state, currently the grain largest producer and exporter. Through documentary and literature review existing barriers to the region logistics infrastructure are identified. The results allowed to observe that Mato Grosso state has an inadequate soy logistics infrastructure and that investments for integration corridors viability amongst modes of transport are required. 1. INTRODUÇÃO É indiscutível a importância do agronegócio para a economia do Brasil. Atualmente, segundo dados do CEPEA (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), a participação do Produto Interno Bruto do agronegócio (PIB agro) no PIB total da economia do país foi de 21,46% em 2015. A soja é o gênero com maior destaque, pois o país é um dos principais produtores e exportadores mundiais do grão. O mercado atual demanda maior agilidade e também qualidade num ambiente fortemente competitivo, pois as “operações globalizadas aumentam os custos e a complexidade da logística” (BOWERSOX; CLOSS. 2010, p.122). A maior parte da soja produzida no Brasil origina-se da região centro-oeste, mais precisamente do estado de Mato Grosso, no entanto o sucesso apresentado em produtividade não se repete em relação à infraestrutura logística. O atual cenário sugere que a ausência de investimentos em infraestrutura logística leva o estado a opções escassas de transporte e ao desequilíbrio da matriz, motivando ineficiência e desvantagens competitivas diante de seus concorrentes. Embora a concentração do cultivo da soja tenha mudado da região sul para a região centrooeste, o mesmo não ocorreu com a infraestrutura logística do país, que não seguiu na mesma direção. O estado que se encontra distante dos portos do sul e sudeste, apresenta dificuldade devido à precariedade de infraestrutura local, que dispõe de opções escassas para o escoamento da safra (CNT,2015). Desta maneira, considerando-se o atual posicionamento do estado do Mato Grosso na produção de soja, e o potencial que ainda há a ser desenvolvido, emerge a seguinte questão: o que é necessário para melhorar a eficiência do escoamento de soja destinada à exportação do estado de Mato Grosso para os mercados consumidores? A soja desempenha importante papel para a economia do país, que vem constantemente aumentando sua participação no comércio exterior. No entanto, a alta demanda de exportação reforçou a forte carência logística existente no Brasil, sobretudo em Mato Grosso, maior produtor do grão e que destina a maior parte de seu cultivo à exportação, e que vem demonstrando dificuldade para escoar seu produto até os principais portos do país. Sendo assim, dada a importância da soja para a economia do país, este trabalho dedica-se a investigar os motivos que levam o estado de Mato Grosso à perda de eficiência e competitividade nos corredores de escoamento da soja com vistas à exportação. 2. LOGÍSTICA INTERNACIONAL A logística internacional enquanto atividade logística propõe a análise metódica de alguns fatores essenciais para alcance de bons resultados, como: a economia do país, o mercado, a distância, as leis, a infraestrutura etc., que podem ser vistos como obstáculos às operações logísticas e, por isso, necessitam de maior avaliação (RODRIGUES, 2014). Quanto a isso, afirma Ludovico (2013, p.12): Operar por meio de fronteiras internacionais requer um conjunto de conhecimentos e experiências para atuar na variedade de ambientes que exige o sistema internacional. A administração desdobra suas atividades em um ambiente diverso de países que têm características econômicas, culturais, políticas e sociais distintas, assim como também difere a distância geográfica. O processo de decisão é mais complexo e nele existem alguns elementos essenciais apara a administração nacional, ou seja, questões aduaneiras, cambiais, fiscais, transporte, seguro, moeda, entre outros. O mercado internacional exige grande flexibilidade/aptidão para tomada de decisão, uso de novas ferramentas, busca constante por maior produtividade e controle das operações, ressaltando, desta maneira, a necessidade de profissionais cada vez mais qualificados. Não obstante, um aspecto que deve ser bem administrado são os custos logísticos, uma vez que os mesmos interferem imediatamente sobre os resultados obtidos pela empresa. Os custos logísticos devem ser averiguados a partir da soma de alguns fatores, como os custos resultantes de armazenagem e movimentação de materiais; de transporte; de embalagens; de manutenção de inventários; de tecnologia da informação; tributários não recuperáveis; de administração logística; nível de serviço e os custos decorrentes de lotes (RODRIGUES, 2014). Segundo Resende (2016), o resultado de uma pesquisa da Fundação Dom Cabral realizada em 142 empresas em todo Brasil constatou que houve crescimento de 1,8% em seu custo logístico no período entre 2014 a 2015. Isto representou um incremento de 11,52% para 11,73% do PIB. O item de maior representatividade no custo logístico das empresas foi o transporte de longa distância (50%), seguido pelo transporte urbano de carga (20%), armazenagem (15%), despesas administrativas (8%) e despesas portuárias (7%). Exatamente graças à complexidade e amplitude da supply chain, torna-se então necessário conhecer intensamente as diversidades que compõem um mercado e outro para que seja possível atuar assertivamente rumo à obtenção de vantagens competitivas. Neste sentido, Bowersox e Closs (2010) sugerem como principais diversidades a duração de ciclo de atividades; as operações; a integração de sistemas e as alianças. O ciclo das atividades é referente ao tempo (duração) da viagem em relação a algumas variantes, como: falha de comunicação; características das embalagens; intermediários; programação de linhas marítimas; extenso tempo dos transportes e desembaraços alfandegários. As operações correspondem à complexidade gerada por diversos fatores que compõem a execução da operação, como: estoques mais numerosos, quantidade de documentos necessários para operação, estocagem, fornecedores, equipamentos necessários etc. Já a integração de sistemas diz respeito à necessidade do uso da tecnologia para estabelecer resposta ágil às operações, através de intercâmbio eletrônico de dados/informações que sejam repassados a qualquer lugar do mundo. Levando em conta as ocorrências de tais diversidades, os desafios a serem superados pelas organizações que atuam no mercado internacional são ainda maiores, pois é necessário obter amplo conhecimento de outras diferenças como aspectos culturais, domínio de outros idiomas, regulamentações e documentos exigidos, dentre outras questões que possam contribuir para o melhor gerenciamento da cadeia de suprimentos, tornando estas organizações então aptas a operar em âmbito transnacional. 3. COMÉRCIO EXTERIOR A tendência à internacionalização de mercados levou ao surgimento de alguns atores essenciais aos negócios, como o governo, as organizações internacionais, os blocos econômicos, os grupos de interesse especiais, o intermediário e o facilitador. A atuação do governo é de extrema importância, pois é de sua responsabilidade estabelecer e aplicar as leis pertinentes às operações; os blocos econômicos são formados por um conjunto de países que geralmente apresentam características semelhantes e que estão próximos geograficamente, o objetivo dos blocos é formular acordos que visam maior integração econômica. O comércio internacional tem como base estabelecida, a concorrência leal entre as nações, sejam elas desenvolvidas ou em desenvolvimento. Pode-se concluir então que, apesar de o comércio internacional requerer operações bastante complicadas, elas podem gerar oportunidades e propiciar maior desenvolvimento econômico aos países. As exportações pelo método direto ocorrem quando a empresa fabricante encaminha sua mercadoria ao mercado internacional sem nenhum tipo de mediação. Esse modelo é geralmente utilizado pelas organizações que possuem intenção de exportar continuamente, e por isso investem na criação de um setor exclusivo, com profissionais capacitados para administrar todos os negócios referentes às exportações. Já o método indireto, por sua vez, refere-se às organizações que não exportam diretamente suas mercadorias fabricadas. Seus produtos são comercializados a outras organizações (trading companies) dentro do mercado interno, que por sua vez vendem os produtos ao mercado externo. Este modelo em geral é utilizado pelas organizações que não detêm conhecimento necessário na área. No que diz respeito às importações, as empresas que não quiserem optar pelo método direto, também podem efetuar de forma indireta, as quais, no Brasil, são chamadas de ‘importações por conta e ordem de terceiros’, realizadas por meio das organizações cadastradas no RADAR (Rastreamento da Atuação dos Intervenientes Aduaneiros) (SEGALIS et al., 2012, p. 140,141, 166; LUDOVICO, 2013, p. 34,35). 3.1 A exportação de soja no estado do Mato Grosso O agronegócio envolve um conjunto de atividades complexas que vão muito além da produção, implicando a atuação de diferentes setores. A atividade do agronegócio se faz através de diferentes ferramentas e categorias de trabalho que se integram para alcançar eficiência do negócio, formando assim, uma sólida ideia de cadeia agroindustrial. Esta ideia é ilustrada por Mendes e Junior (2007, p.45) ao explicarem que ele ultrapassa as fronteiras da ‘propriedade rural’ (agrícola ou pecuária) para envolver todos os que participam direta ou indiretamente do processo de levar os alimentos e as fibras aos consumidores”. Francisco et al (2015, p.16) ampliam esta compreensão ao distinguirem o escopo das atividades produtivas, dividindo-as em ‘antes e depois da porteira’: Os setores “antes da porteira” e “depois da porteira” são aqueles necessários à produção, como insumos, máquinas, fertilizantes, medicamentos de uso veterinário e sementes. Os setores “depois da porteira”, por sua vez, englobam as atividades de pós-produção, como beneficiamento, armazenamento, industrialização e distribuição. Ao ser considerado fator de grande importância na economia mundial, o agronegócio atualmente exerce participação fundamental para o crescimento de exportações, e ainda representa uma considerável parcela no PIB dos países produtores. “O agronegócio inclui um conglomerado de atividades com enorme efeito multiplicador nas economias dos países” (MENDES; JUNIOR, 2007 p. 51). Assim sendo, por sua relevância, o agronegócio é um setor que vem apresentando constante crescimento, por meio da “[...] incorporação de novas tecnologias na agricultura mundial” (MENDES; JUNIOR, 2007, p.149) uma vez que “[...] a produtividade de alguns importantes produtos agrícolas dobrou e até triplicou em alguns casos” (ibidem). . De acordo com dados da EMBRAPA (2014), os principais grãos produzidos e consumidos mundialmente, são: arroz, trigo, milho e soja. No entanto, a soja mostra maior expressividade no que diz respeito ao constante crescimento mundial. Ainda segundo a EMBRAPA (2014), esse elevado crescimento pode ser associado a alguns motivos, como: alto valor proteico para humanos e animais; dispõe em média de 20% de teor de óleo, que pode ser utilizado tanto para refeição humana quanto para fabricação de biocombustíveis; é muito utilizada para fabricação de proteína animal; possui padrão de commodity e, portanto, pode ser produzida e comercializada por vários países; o uso de novas tecnologias/métodos permitiu a ampliação de área e produtividade, e além disso vale salientar que o óleo de soja é o segundo mais consumido no mundo. A produção da soja mundialmente na safra de 2014/15 foi de 317,253 milhões de toneladas numa área plantada correspondente a 118,138 milhões de hectares, sendo os EUA responsáveis por 108,014 milhões de toneladas e o Brasil por 95,070 milhões de toneladas. Os principais países produtores da oleaginosa mundialmente são os Estados Unidos, o Brasil e a Argentina, porém, ultimamente a Índia também tem demonstrado crescimento bastante expressivo no setor. Quanto ao consumo do grão, destacam-se China, Estados Unidos, Brasil, Argentina e União Europeia. Com relação às exportações, sobressaem o Brasil e os Estados Unidos. (EMBRAPA 2014). 3.2 O agronegócio e a soja no Brasil O Brasil é um país que apresenta grande potencial para o setor do agronegócio. O histórico do setor vem apresentando ao longo dos anosuma incrível capacidade de produção. Segundo a EMBRAPA (2014), somente em relação aos grãos “em 1975, a colheita foi de 45 milhões de toneladas, expandiu-se para 58 milhões em 1990 e, finalmente, atingiu 187 milhões em 2013”. Conforme aponta estudos do IPEA (2014): Por conta de condições extremamente favoráveis para a contínua expansão desse mercado, como o farto espaço territorial, a existência de mão de obra acessível e diversas questões ligadas à conjuntura internacional, o país é visto por muitos especialistas como principal candidato ao posto de grande fornecedor alimentício global. O agronegócio no Brasil representa cerca de 6% do Produto Interno Bruto (PIB), e por isso é visto como importante estratégia para o desenvolvimento econômico do país (CNT,2016). O setor iniciou uma crescente participação na balança comercial brasileira a partir de 2003, ressaltando sua importância cada vez maior para a economia do país. As exportações do agronegócio em 2013 corresponderam a 36% do total das exportações, fator este, que contribuiu significativamente para a Balança Comercial (OCDE, 2015). O Brasil ocupa a posição de segundo maior exportador global do setor agrícola. Dentre os produtos do setor, o país se destaca como o maior abastecedor de açúcar, café e suco de laranja, e também um dos maiores de soja, além disso, é um grande produtor de arroz, carne bovina e milho. O crescimento no setor, é consequência de muito investimento, especialmente em relação ao uso de novos métodos, tecnologias e expansão de áreas plantadas que permitem ganhos de produtividade”. As inovações atuais da indústria de alimentos estão focadas no aumento de produtividade e no desenvolvimento de novos produtos, visando a ampliação e à participação em novos mercados” (BATALHA et tal. 2013, p.596). “Os maiores parceiros comerciais do Brasil são a União Europeia, a China, os Estados Unidos, o Japão, a Rússia e a Arábia Saudita” (OCDE-FAO, 2015, p.8). A China é hoje o maior aliado comercial do Brasil, e adquire a maior parte dos produtos do setor, seguida por União Europeia e Estados Unidos, respectivamente. Porém a crescente demanda vinda de outros países asiáticos indica uma forte tendência para mudanças referentes aos principais aliados comerciais do Brasil. No passado, a região sul foi a maior produtora de grãos do Brasil, e no momento atual é a região centro-oeste, mais precisamente o estado de Mato Grosso, que hoje é o principal produtor e exportador de grãos do país. O estado apresenta grande capacidade de produção e vem se destacando cada vez mais em relação à produtividade de soja, contribuindo expressivamente para exposição do Brasil no mercado mundial (EMBRAPA, 2014). Em virtude dos fatos mencionados, é possível observar a desenvoltura do Brasil no setor agropecuário, que demonstra nítida evolução a cada período de safra, e que detém notável posição no contexto mundial do agronegócio, se destacando notadamente pela produção e exportação de soja, cuja cultura é dita como a principal geradora de renda do país no setor. 3.3 O estado do Mato Grosso O Brasil é o segundo maior produtor mundial de grão de soja, perdendo apenas para os EUA (EMBRAPA, 2014). Na safra de 2014/15 o Brasil produziu 95,070 milhões de toneladas e deste total exportou 45,7 milhões de toneladas do grão (EMBRAPA, 2016). A região centro- oeste do país destaca-se com o estado do Mato Grosso, maior produtor brasileiro da oleaginosa, e que já vem ostentando este posto há cerca de 15 safras, segundo informações da CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento). Ainda de acordo com a CONAB, do total produzido pelo Brasil, na safra 2014/15 27,868 milhões de toneladas provieram do estado que possui cerca de 8,805 milhões de hectares de área plantada. Os dados apresentados revelam a atual imponência do estado em comparação aos demais produtores. Entretanto, inicialmente embora o estado de Mato Grosso dispusesse de abundância de terras a preços acessíveis, tinha o solo considerado como inadequado para o plantio da soja. O cultivo da oleaginosa na região centro-oeste do país, se deu a partir de uma série de programas de pesquisas realizadas em prol de sua produtividade, tendo inclusive a EMBRAPA e a Fundação Mato Grosso participação essencial nesta conquista, onde foram desenvolvidas técnicas de plantação adaptadas para regiões mais quentes, tornando a região apta para o cultivo do grão. Desta forma, segundo a EMBRAPA “em 1970, menos de 2% da produção nacional de soja era colhida no centro-oeste. Em 1980, esse percentual passou para 20%, em 1990 já era superior a 40% e em 2003 estava próximo dos 60%, com tendências a ocupar maior espaço a cada nova safra”. A cultura da soja no estado de MT foi fundamental para o desenvolvimento urbano do mesmo, pois algumas cidades como Lucas do Rio Verde, Sorriso, Nova Mutum, Rondonópolis surgiram a partir da sojicultora na região. Atualmente, além da soja, o estado também tem sua economia alicerçada na produção de milho, algodão e rebanho bovino, almejando ainda o crescimento não só da agricultura, mas também de outros setores, como piscicultura, turismo e polo joalheiro (APROSOJA MT; EMBRAPA SOJA; GOVERNO MT). No entanto, de acordo com a APROSOJA MT, “das 10 cidades com maior índice de desenvolvimento humano (IDH) do estado, nove têm na sojicultora sua base econômica”. Segundo Censo IBGE 2010, a população do estado de MT era de 3.035.122 habitantes (cerca de 1,59% da população brasileira), estando 81,9% na zona urbana e apenas 18,1% na zona rural. MT possui vasta extensão territorial, cerca de 903.357,91 km², tendo inclusive muitas áreas ainda inabitadas. Limita-se com os estados de Pará e do Amazonas ao norte, com Mato Grosso do Sul ao sul, com Goiás e Tocantins ao leste, e Rondônia e Bolívia a oeste. Dentre as regiões do estado, a região médio-norte é considerada a de maior relevância devido a sua capacidade de produção, destacando-se os municípios de Lucas do Rio Verde, Nova Mutum, Sinop e Sorriso. (IBGE; CNT; GOVERNO MT, 2010). Assim sendo, é possível considerar que o estado de Mato Grosso é importante para a economia do Brasil, já que o mesmo apresenta grande capacidade de produção de soja e também de outros produtos do agronegócio, além de ainda apresentar grandes possibilidades de expansão para o setor. 3.4 Principais rotas de escoamento de grãos destinados à exportação A maior parte da soja produzida em Mato Grosso tem como destino à exportação. Apesar do estado apresentar distâncias consideráveis ao sul e sudeste do país, o mesmo utiliza principalmente os portos de Santos (SP) e Paranaguá (PR) para escoamento do grão através dos modais rodoviário, ferroviário e hidroviário. Embora faça uso de três modalidades de transporte, o modal rodoviário é responsável por transportar a maior parte da soja gerada no estado. Desta forma, a soja com destino ao porto de Santos, segue primordialmente pelas BRs-158 e 364. Já com destino ao porto de Paranaguá a rodovia mais utilizada é a BR-163, porém rodovias como as BRs-376, 487 e 277 também são usadas para este trajeto. Segundo dados da CNT (2013), o total de extensão de rodovias no Brasil é de 1.713.885 km, sendo a maior parte não pavimentada (1.358.793 km), e apenas 202.589 km correspondem às pavimentadas. Na região centro-oeste, o total da extensão pavimentada é de 27.581 km, sendo 11.433 km rodovias federais, 15.360 rodovias estaduais e 788 km estaduais. No estado de Mato Grosso a extensão pavimentada corresponde a 7.587 km, destes 3.941 são rodovias federais e 3.646 km de rodovias estaduais. Ainda de acordo com pesquisas realizadas pela CNT (2015), as principais rodovias usadas para escoamento da carga até os portos mais utilizados do país, em grande parte, mesmo as pouco pavimentadas, encontram-se em condições insatisfatórias, demonstrando falta de sinalização, estreitamento, fissuras, asfalto desgastados, geometria irregular e/ou perigoso, dentre outros, necessitando assim de algum tipo de intervenção. Em relação ao modal ferroviário, o caminho mais empregado até o porto de Santos é realizado por meio de intermodalidade rodoferroviária pela Ferrovia ALLMN (América Latina Logística Malha Norte) que dispõe de cerca de 1.500 km de malha férrea de RondonópolisMT a Santos-SP. Outra opção é através do trecho pertencente a FCA (Ferrovia CentroAtlântica) que utilizando partes do traçado da MRS (Malha Regional Sudeste) e da ALLMP (América Latina Logística Malha Paulista) consegue conectar Goiás a São Paulo. Em direção a Paranaguá, apesar de existir condições favoráveis para realização do percurso por meio da intermodalidade rodoferroviária, os custos para prática da mesma a tornam inviável. (CNT, 2014). O total da malha férrea brasileira regulada pela ANTT, tem um total de 28.190 km de extensão, porém 22.219 km são em bitola estreita (1,00 m), 5.461 km em bitola larga (1,60 m) e 510 km em bitola mista. A região centro-oeste dispõe de 2.655 km de malha ferroviária (ALLMN, ALLMO e FCA), enquanto Mato Grosso apenas 337 km da ferrovia ALLMN. As condições quanto ao uso do modal ferroviário para o transporte do grão na região, envolve vários aspectos. Além da pouca oferta da malha, existem muitos problemas relacionados à falta de integração entre outras linhas e outros modais, numerosas passagens em nível críticas (PNs) e invasões nas faixas de domínio, que acabam impactando seu desempenho e inibindo sua utilização. O Brasil apresenta uma extensão hidrográfica total de 41.635 km, contudo, avalia-se que somente 20.956 km sejam economicamente navegáveis, de acordo com dados da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ, 2015), 19.764 km são utilizadas para o transporte de carga e 5.168 km para o transporte misto. O centro-oeste do país possui doze terminais de navegação interior que movimentaram no ano de 2013 8.409.332 toneladas, enquanto Mato Grosso possui apenas dois terminais, não havendo informações disponíveis quanto a movimentação de carga no mesmo. A utilização do modal no estado de Mato de Grosso, ainda é muito pequena, pois além de escassez de vias navegáveis e estruturas de apoio, parte das embarcações que atuam na região não se encontram em boas condições (CNT, 2016). Tendo em vista os atuais corredores de escoamento apresentados, fica evidenciado que apesar do estado de Mato Grosso se destacar em relação ao cultivo da soja, o mesmo demonstra grande carência em relação à infraestrutura de transportes, tendo poucas opções de escoamento e necessitando superar seus esforços constantemente para despachar a carga até o seu destino. 4. OBSTÁCULOS GERADOS PELA INFRAESTRUTURA LOGÍSTICA Atualmente muito se tem discutido acerca dos gargalos logísticos existentes no Brasil, e que reprimem o desenvolvimento do mesmo. A falta de investimentos em infraestrutura de transportes, incorre numa matriz desiquilibrada, preponderantemente dependente do modal rodoviário, provocando danos que são percebidos em todas as regiões do país, e ocasionando perdas significativas em relação a eficiência e eficácia do deslocamento de produtos e/ou mercadorias, assim como ocorre no estado de Mato Grosso. O estado de Mato Grosso, embora apresente certa disponibilidade para transportar a soja pelos modais ferroviário e hidroviário, ainda dispõe de alternativas muito limitadas, dada a pouca extensão da malha férrea e hidrográfica, que carecem de investimentos que as tornem mais amplas/numerosas e utilizáveis. O modal rodoviário é o mais empregado no estado de Mato Grosso para realizar o escoamento de grãos de soja destinados à exportação, e devido o estado localizar-se distante dos principais portos utilizados para esta operação, o custo do frete torna-se consideravelmente alto. Comparando o modal rodoviário aos modais ferroviário e hidroviário, percebe-se a diferença entre a capacidade dos mesmos, evidenciando o quanto de caminhões são necessários para transportar grandes volumes de cargas, caso da soja em grão, sendo possível dimensionar o caos que o excesso do mesmo ocasiona nas estradas e nos portos, gerando diversos prejuízos não só ao estado, mas ao país. Além do distanciamento, outros inúmeros fatores contribuem para o elevado custo logístico da região. As péssimas condições das estradas, aliada a longas distâncias percorridas, além de requererem maior uso de combustível, aumentam os índices de acidentes, bem como causam constantes avarias na frota de veículos, que acabam necessitando de maior manutenção, o que consequentemente colabora para que as frotas sejam mais obsoletas. As condições das estradas e da frota utilizada para o transporte da oleaginosa, ainda leva à perda da carga transportada durante o seu trajeto. Pesquisas realizados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), estimam que a maior parte das perdas aconteçam durante o transporte de longos trajetos. Tal desperdício, gera anualmente um prejuízo expressivo aos produtores do estado e a economia do Brasil. Segundo a CONAB (2010), “cada 1% de perda representa um prejuízo superior a 500 milhões de reais”. Outro obstáculo existente na região, ocorre no período de concentração de escoamento da produção de soja (geralmente entre os meses de março e junho), que se dá pela necessidade de escoar o grão imediatamente após a colheita, devido ao déficit de armazenagem existente no estado. Conforme EMBRAPA SOJA (2013), a capacidade de armazenamento do estado neste período era de 29 milhões de toneladas, sendo o ideal em torno de 54 milhões de toneladas. A incapacidade de armazenamento, inviabiliza a oportunidade de comercialização estratégica do grão, que poderia acontecer em uma circunstância mais vantajosa. Da mesma forma que, encarece o custo do frete no período, provoca congestionamentos nas estradas e nos portos, atrasos nas entregas e, por conseguintes custos adicionais, como a demurrage. Logo, a insuficiência de armazéns interfere consideravelmente nos sistemas logísticos, porém, do ponto de vista agrícola, o principal objetivo da armazenagem é o de conservar a qualidade dos grãos, minimizar perdas e armazenar o excedente. É possível então observar que a carência estrutural do estado reproduz efeitos negativos nos principais portos do país, uma vez que gera filas e consequentemente atrasos nas operações de transbordo e carregamento dos navios, impactando o valor pago pelo “prêmio no porto”, acentuando inclusive as várias deficiências já existentes nos portos brasileiros, e que também precisam ser solucionadas, como: lentidão nos processos aduaneiros, obsolescência tecnológica, maquinários insuficientes, excesso de burocracia, dentre outras. Atualmente, é exigido um conjunto extenso de documentos às mercadorias exportadas, principalmente no que se refere as modalidades aquaviárias e ferroviárias. Estima-se que para que as embarcações brasileiras consigam ancorar e desancorar nos portos do país, sejam solicitados mais de 40 tipos de documentos. Ademais, o setor de transporte é regulado por diferentes órgãos que nem sempre se entendem entre si, o que acaba gerando ainda mais embaraços ao setor, que ainda sofre com insuficiente quadro de profissionais, que por sua vez trabalham em horários reduzidos. Assim, com toda burocratização existente, as operações portuárias tornam-se demasiadamente lentas, e acabam contribuindo consideravelmente para o aumento dos custos logísticos, uma vez que geram frequentes multas e gastos excedentes com diárias de caminhões, provenientes do longo tempo de espera para liberação das mercadorias. Segundo Wanke (2010), a percepção negativa referente à infraestrutura burocrática, é sentida principalmente pelos exportadores de cargas a granel (como a soja em grão), já que as cargas conteinerizadas exibem maior simplificação. Além disso, entraves institucionais também inibe a atuação dos operadores logísticos multimodais, que sofrem com a falta de determinações concisas e elevada carga tributária, o que acaba desestimulando a prática do mesmo (MUSSI, 2014). Diante do exposto, o estado de Mato Grosso indica diversos entraves logísticos para o escoamento da soja à exportação, como: escassas opções de transporte e vias utilizáveis, carência de armazéns, perda de parte da carga, excesso de burocracia aos trâmites portuários etc., que vem proporcionando prejuízos expressivos (custos) que refreiam a competitividade do mesmo em face à comercialização no mercado externo, necessitando assim de investimentos que visem a melhoria do setor na região. 5. ALTERNATIVAS PARA A OTIMIZAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE SOJA É inegável que o estado de Mato Grosso seja um notável produtor agrícola, e que ainda possua características muito favoráveis no que diz respeito a sua surpreendente capacidade de aprimoramento e superação no setor, demonstrando a cada safra seu elevado potencial de crescimento. Apesar disso, o estado possui uma infraestrutura de transporte bastante ineficiente, apresentando diversos empecilhos para conduzir sua produção aos maiores portos exportadores do país, precisando de ações que visem consideravelmente melhorias no sistema de transportes da região. No que se refere ao modal rodoviário, algumas alternativas para sanar as dificuldades existentes atualmente nas principais estradas (BRs 158, 163, 277, 364, 376 e 487) utilizadas para escoamento do grão, são: pavimentação, restauração e duplicação das rodovias, criação de corredores exclusivos, instalação de sinalização, criação de pontos de apoio ao motorista. Além da criação de novas estradas que possam servir como opções de ligação ou até mesmo encurtamento de caminhos (CNT,2016). Quanto às ferrovias, as obras mais relevantes são: construção de novos trechos, que complementem os já existentes, construção de novas linhas, padronização das bitolas, remoção das invasões de faixa de domínio e das passagens de nível e modernização dos trens. As interferências mais relevantes para a região, são as construções das ferrovias: CuiabáSantarém, Ferrovia de Integração Centro-oeste (FICO) e o trecho ferroviário de Rondonópolis a Cuiabá. Já em relação às hidrovias, serão indispensáveis investimentos para abertura de novos canais, tornar algumas vias navegáveis com dragagens, derrocamentos etc., construção de novos terminais, subsídios para renovação das embarcações e construção de eclusas. Estima-se que a viabilização das hidrovias Teles Pires-Tapajós, Tocantins-Araguaia e Paraguai possam contribuir significativamente para eliminação de grande parte dos gargalos logísticos da região, e também para a diminuição dos custos, tendo em vista que o modal hidroviário exibe as melhores características para escoar carga de baixo valor agregado, como a soja em grão. A matriz de escoamento agrícola dos EUA, país com dimensões geográficas semelhantes à do Brasil, é predominantemente hidroviária. Nos EUA, a produção agrícola é escoada até os portos por hidrovias, saindo da região produtora até as barcaças pelo modal rodoviário (cerca de apenas 100 km) e seguindo até os portos pelo modal hidroviário (cerca de 2.000 km). Logo, o resultado desta escolha colabora para que o país seja substancialmente mais competitivo, uma vez que consegue aproveitar o modal mais indicado, reduzindo os custos com transportes. De acordo com pesquisas realizadas pela Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (ANEC) “essa distribuição da matriz de transporte, resulta em um custo de movimentação entre produção até o porto de US$20/t, comparado a US$98/t no Brasil”. (CNA, 2013). Outro investimento relevante diz respeito à necessidade de ampliação da capacidade de armazenamento de grãos, bem como a adaptação dos armazéns já existentes, com intuito de evitar, dentre outras coisas, os estrangulamentos decorrentes do escoamento da safra imediatamente após a colheita. Além dos aspectos levantados quanto aos investimentos necessários à infraestrutura, é indispensável que o governo atue em conjunto com os órgãos reguladores, buscando maneiras de minimizar a burocracia vigente, além de criar incentivos e fornecer informações que otimizem os processos, da mesma forma que estimule a utilização de outras modalidades de transporte, de modo a equilibrar a matriz local. Presume-se que a integração entre os modais de transporte seja a alternativa mais acertada para transportar a soja, uma vez que desta maneira é permitido aproveitar as vantagens relacionadas a cada modal na operação. Ademais, é primordial que o governo estabeleça maiores recursos ao setor, e que também impulsione e estabeleça condições vantajosas a iniciativa privada, de forma a encorajar a participação da mesma, garantindo maior segurança de retorno. Além disso, para sustentar o desenvolvimento econômico embasado nas exportações: (...) os governos do mundo todo têm estado constantemente sob pressão para melhorar a qualidade de infraestrutura logística, assegurando que as empresas usuárias de seus serviços sejam competitivas internacionalmente. É consenso que a infraestrutura logística forma um elo vital na cadeia total de comércio, contribuindo para a competitividade internacional de um país. (TONGZON et al. apud WANKE, 2010, p.151). Deste modo, conforme pesquisa realizada pela CNT (2014), as principais soluções para redução dos entraves institucionais, são: facilitar o financiamento para aquisição de novas embarcações, desobrigar os impostos pertinentes ao combustível, aumentar o horário de atividade dos portos, reduzir a quantidade de documentos solicitados nos portos, instaurar a simplificação e unificação tributária, e elucidar as normas de atuação da iniciativa privada. Sendo assim, tais fatores se constituem como essenciais para impulsionar o setor de exportação e favorecer a economia do país. Devido à relevância das exportações de soja para o desenvolvimento econômico do Brasil, e sendo o estado de Mato Grosso o principal produtor e exportador do grão, é imprescindível que o estado disponha de uma infraestrutura logística de escoamento de safra, que corresponda satisfatoriamente a sua capacidade de produção. Portanto, se faz necessário investimento e mudanças no sistema logístico da região, de maneira a equiparar sua eficiência em produtividade à forma de escoamento do grão, para que o estado não perca competitividade no mercado de exportação. Da mesma forma, os governantes precisam alinhar estrategicamente ações que se destinam a gerar maior agilidade nos processos portuários, incentivos às empresas por meio de isenções tributárias e estabelecimento de parcerias público-privadas que propiciem segurança e transparência às mesmas. 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS Dada a importância da soja para a economia do Brasil, onde a participação do estado de Mato Grosso é fundamental para a composição deste cenário, o mesmo que já é o maior produtor e exportador do grão no país, vem apresentando a cada safra condições e expectativas cada vez maiores de elevar seu nível de produtividade. No entanto, a necessidade de escoar volumes cada vez mais substanciais, vem provocando dificuldades para condução do grão, demonstrando que a infraestrutura logística da região não está acompanhando o crescimento da produção. Com o levantamento documental, à luz da pesquisa bibliográfica, foi possível observar a carência de infraestrutura local, bem como os prejuízos promovidos pela ausência de um sistema logístico que opere de forma integrada, otimizada e adequada ao escoamento da produção, considerando as especificidades da região e do próprio produto. Assim foram evidenciadas a carência estrutural e regulatória em todas as modalidades de transporte: poucas rodovias, ferrovias e hidrovias em condições adequadas para uso, frotas com idade avançada, excesso de burocracia, escassez de armazéns, dentre outros fatores, que tem como desdobramento uma matriz de transporte desbalanceada, originada pela utilização de um único modal de transporte. Dentre os fatores que carecem de atenção no estado do Mato Grosso para potencializar o escoamento de sua produção de soja, estão: a melhoria das estradas (pavimentação, sinalização e segurança); hidrovias navegáveis (construção de eclusas e novos terminais, dragagens e derrocamentos) e a maior oferta de ferrovias (construção de novas ferrovias e restauração de antigos trechos). Entretanto, a maneira mais atrativa para o escoamento da soja, seria por meio do modal hidroviário, auxiliado ou complementado pelos modais rodoviários e ferroviários, ou seja, a maneira mais eficiente seria a criação de corredores interligados, onde prevaleceria a utilização da intermodalidade ou da multimodalidade. A integração entre os modais esbarra na necessidade de redução da burocracia por meio da simplificação da operação, sendo fundamental o aprimoramento da legislação quanto à isenção ou redução tributária, bem como a criação de acordos claros quanto às responsabilidades estabelecidas, para que as empresas passem a enxergar esta opção como realmente vantajosa. Além disso, deve-se buscar a redução burocrática dos processos portuários de modo geral, contratar e capacitar um número maior de profissionais, bem como aumentar a carga horária do funcionamento dos portos. Por fim, para que as alternativas apresentadas sejam realizáveis, é imprescindível a atuação do governo em parceria com a iniciativa privada para fomentar investimentos robustos, que sejam bem planejados e bem executados, de maneira a gerar segurança, maior competitividade e, consequentemente, maior desenvolvimento econômico não só para o estado de Mato Grosso, como para todo o país. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANTAQ. 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Maracanã 229, Maracanã – Rio de Janeiro, RJ, Brasil