trabalho - enanpege

Propaganda
A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
O PROCESSO DE PRODUÇÃO HISTÓRICA DO ESPAÇO URBANO
EM APARECIDA (SP) E O PAPEL DA IGREJA CÁTOLICA.
IVO FRANCISCO BARBOSA1
MARCOS ANTÔNIO SILVESTRE GOMES2
Resumo: A produção do espaço urbano em Aparecida ocorre a partir da sua condição religiosa,
contudo o próprio processo de produção e reprodução do espaço só existe da ação dos agentes
sociais. Em Aparecida essa atuação acontece a partir da solidificação do papel da Igreja Católica, na
estruturação do espaço sagrado. Esse processo reproduz um espaço urbano voltado para profano (a
cidade), o comércio-religioso, resultando na proliferação do ramo de hospedagem na área central e
no aparecimento do primeiro grande grupo imobiliário nas áreas de baixa renda. Essas
particularidades juntamente com a inexistência normativa quanto a ocupação e o uso do solo tem
acarretado uma alta valorização do espaço em Aparecida, sobretudo na área central diretamente
vinculada ao espaço sagrado.
Palavras-chave: Produção do espaço; Agentes Sociais; Igreja Católica.
Abstract: The production of urban space in Aparecida occurs from its religious status, but the very
process of production and reproduction of the space there is only the action of social agents. In
Aparecida this performance happens from the solidification of the role of the Catholic Church, in
structuring the sacred space. This process plays an urban space facing profane (the city), tradereligious, resulting in the proliferation of hosting branch in the central area and the appearance of the
first large real estate group in low-income areas. These characteristics together with the absence rules
as the occupation and land use has led to a high appreciation of space in Aparecida, particularly in the
central area directly linked to sacred space.
Key-words: Production of space; Social agents; Catholic Church
1 – Introdução
A produção do espaço tem sido tema de grande relevância nos estudos das
ciências sociais e humanas na busca pela compreensão da formação e das relações
sociais no espaço. O espaço é uma produção das relações sociais no tempo,
decorre da ação de agentes sociais e deriva de uma complexidade de processos
sociais e econômicos.
Na cidade de Aparecida, no Estado de São Paulo, o processo de produção do
espaço se deu pela sua especialização religiosa, a comercialização do espaço
1
Mestrando em Geografia pela Universidade Federal Fluminense, Campus - Campos dos
Goytacazes, Rio de Janeiro – UFF. Email de contato: [email protected]
2
Docente Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal Fluminense (Campos
dos Goytacazes) e Professor Adjunto da Universidade Federal do Triângulo Mineiro - UFTM. Email de
contato: [email protected]
2477
A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
sagrado. Essa condição particular combinada com a atuação da Igreja e dos demais
agentes sociais na produção do espaço tem desencadeado na área central o
predomínio de empreendimentos voltados para o ramo hoteleiro e de comércioreligioso.
Esta centralização de construções voltadas as atividades de serviços e de
comércio, por sua vez tem impulsionado uma mudança na organização do espaço e
no seu conteúdo social. Trata-se, sobretudo, das mudanças no padrão de uso e
ocupação do solo, que tem direcionado as moradias para outros bairros da cidade.
Isto ocorre, em parte, devido à inexistência normativa em relação ao processo de
uso e ocupação do solo, cujo resultado é o aumento exponencial dos preços dos
imóveis localizados na área central urbana.
A discussão aqui proposta é parte das análises referente à pesquisa de
mestrado, em andamento, e tem o propósito, neste caso em específico, de analisar
o processo de produção histórica do espaço urbano em Aparecida, destacando os
principais agentes envolvidos, com relativo destaque para a atuação da Igreja
católica.
2 – Discussão
A história da produção do espaço em Aparecida confunde-se com a estória do
encontro da imagem sacra de Nossa Senhora da Conceição no rio Paraíba do Sul
em 1717, segundo consta, por pescadores locais (BARBOSA, 2007).
Esta versão milagrosa do achado da imagem sacra e do próprio surgimento
do município é a mais aceita, e pouco discutidos os processos e os agentes
envolvidos na produção deste espaço. A partir desta contextualização, compreendelos na dinâmica existente no período deste “achado”, implica entender a própria
função do município de Guaratinguetá, ao qual Aparecida emancipou-se em 17 de
dezembro de 1928.
A história de ocupação do município de Guaratinguetá remonta meados do
século XVII. Segundo Oliveira (2001), este povoado surgiu em 1630, com a
construção da capela de Santo Antônio. Em 13 de fevereiro de 1651, com o
estabelecimento de novas famílias este povoado passou à categoria de vila,
denominando-se Vila de Santo Antônio de Guaratinguetá.
2478
A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
No século XVIII, a Vila de Santo Antônio de Guaratinguetá destaca-se
juntamente com a Vila de Taubaté como uma das principais capitanias do Vale do
Paraíba, importância essa proveniente do ciclo do ouro, da cana-de-açúcar e
posteriormente o ciclo cafeeiro (HERMMAN, 1986).
Esses ciclos econômicos estimularam o aumento do povoamento e com a
descoberta da imagem sacra e dos milagres atribuídos, impulsionaram mudanças
importantes na região, culminando, inclusive, no surgimento do povoado e na
criação do Distrito de Aparecida em 1891, pela Lei Provincial nº 19, de 04/03/1842
(OLIVEIRA, 2001).
Por mais que o processo de formação desta localidade advenha do
descobrimento da imagem sacra, é importante apontar que no momento de criação
do distrito de Aparecida, a região da Vila de Santo Antônio de Guaratinguetá e de
outras vilas no Vale do Paraíba era de profundas transformações políticas,
econômicas e sociais. Essas transformações estiveram condicionadas pela principal
força produtiva do período, responsável pelas substanciais alterações na paisagem
da região, o ciclo cafeeiro (OLIVEIRA, 2001).
Esse advento econômico e social na região do Vale do Paraíba e na própria
Vila de Santo Antônio de Guaratinguetá conduziu uma intensa dinâmica demográfica
e no fortalecimento de um mercado interno. Esta prosperidade alcança toda a vila e
o próprio Distrito de Aparecida que passa a difundir-se também como eixo de
atração populacional advindo dos milagres atribuídos a imagem sacra (BARBOSA,
2007; MULLER, 1969).
A oscilação da produção cafeeira no Vale do Paraíba e o surgimento de uma
nova frente pioneira da cultura no Oeste Paulista alteram as condições
socioeconômicas nos núcleos urbanos existentes na região. É neste momento de
queda da produção cafeeira na Vila de Santo Antônio de Guaratinguetá que ocorre o
fortalecimento
dos ideais de
emancipação
do
Distrito
de Aparecida, da
transformação da sua especificidade na produção do espaço, o religioso
(BARBOSA, 2007; OLIVEIRA, 2001).
2479
A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
2.1 – A produção do espaço em Aparecida – a diversidade de agentes sociais
Como visto de forma pretensiosa a relação de proximidade histórica que
existe entre os municípios de Guaratinguetá e Aparecida, ao estudar o processo de
produção histórica do município de Aparecida é vital contextualizar a atuação de
outros componentes na produção e reprodução deste espaço.
O processo de produção do espaço não ocorre de forma invisível ou a partir
de processos aleatórios. Decorre das intencionalidades de diversos grupos atuantes,
com estruturas, processos e funções complexas que derivam segundo CORRÊA
(1989, p.10) “da dinâmica de acumulação de capital, das necessidades mutáveis de
reprodução das relações de produção, e dos conflitos de classe que dela emergem”.
O espaço é produzido pelo trabalho da sociedade ao longo do tempo, das
relações sociais que cercam o conjunto de diferentes usos que o homem atribui para
este espaço, como os espaços das atividades comerciais, de serviços, industriais e
residenciais (CORREA, 1989; CARLOS, 1994).
Em Aparecida os principais agentes sociais identificados na pesquisa de
campo e em dados oficiais históricos são: os promotores imobiliários, o Estado
(poder público municipal), a Igreja Católica e as camadas de baixa renda, aquelas
espoliadas na sociedade capitalista. A atuação da Igreja Católica como agente social
tem sido importante na produção e reprodução do espaço sagrado e profano.
Para Harvey (2005) a atuação do Estado deve pautar como um agente social
que atua na produção do espaço como veículo para os interesses da sociedade
capitalista, seja na produção, na circulação, na regulação da exploração do trabalho
e na reprodução do espaço industrial, através de políticas de provimento de bens
públicos, como infraestruturas sociais e físicas.
Para
Gottdiener
(2010),
empreendedores/especuladores
imobiliários
conseguem escolher áreas em qualquer parte do território de um município para
construírem o seu projeto de desenvolvimento dito urbano, e para isso reúnem
forças do comércio, do governo e da construção civil para solidificarem tal ideal.
Essas forças reunidas são visíveis quando observadas a localização dos
empreendimentos, que são aprovados em áreas em grande parte desprovidas de
infraestruturas e serviços básicos. Esses empreendimentos são resultados da
2480
A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
atuação em conjunto dos agentes sociais, que particularizam o solo ao interesse da
produção capitalista do espaço urbano (HARVEY, 2005).
No processo de produção do espaço urbano os agentes sociais de baixa
renda, pela margem limitada de inserção no mercado formal capitalista, sempre
foram dimensionados a ocuparem áreas irrestritas a moradias, normalmente em
condições insalubres, mal localizadas, distantes dos serviços públicos básicos e nas
áreas centrais deterioradas pelo abandono do capital privado, pela elite do passado
e das repartições públicas, como os cortiços nas áreas centrais, conjuntos
habitacionais e loteamentos periféricos (CORRÊA, 1989).
Da contextualização teórico-conceitual desses agentes sociais é prioritário
para esta análise apresentar o caráter específico do município de Aparecida, a
relação da religiosidade, as relações sociais e o espaço particular simbólico no
processo de produção do espaço urbano, o espaço sagrado e profano.
2.2 – A Igreja Católica como agente social e o espaço sagrado
Ao se adotar a Igreja Católica como um agente social é importante
compreender que sua atuação no espaço não ocorre de forma isolada.
Historicamente, mantém relações de relativa dependência do Estado, seja qual for a
forma de governo: uma monarquia, um parlamentarismo ou um presidencialismo
(OLIVEIRA, 2001).
A Igreja durante muito tempo prosperou sobre essa interação de
dependência, presente no Brasil colônia, e somente foi rompida com a criação do
Estado laico em 1891 na República Velha. Esta situação permitiu com que outras
religiões pudessem ampliar sua influência e competir com a Igreja Católica pelo
domínio
religioso
do
território
brasileiro.
Esta
situação
desencadeou
em
contrapartida uma atuação mais incisiva por parte da Cúria Romana em um
processo de Romanização do território brasileiro (OLIVEIRA, 2001).
A romanização atingiu o distrito de Aparecida, com a Congregação do
Santíssimo Redentor em 1894.
Este foi o primeiro sinal de um exercício mais
preponderante deste agente no espaço e no desenvolvimento de um futuro centro
mariano e na comercialização deste espaço (OLIVEIRA, 2001).
2481
A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
Com a construção da primeira igreja (Igreja Velha) em 1888 tem início uma
relação de forte conexão entre o Distrito e a religião. Este primeiro templo sinaliza o
estabelecimento e a materialização do núcleo de povoamento, o espaço sagrado
solidificado que transformaria o espaço profano, na produção do espaço do entorno,
na própria cidade de Aparecida (ROSENDAHL, 1996).
Para ROSENDAHL (1996, p.39), “é possível reconhecer o sagrado, não como
aspecto da paisagem, mas como elemento de produção do espaço”, onde neste
Distrito e posteriormente no município vivencia-se a importância desse aspecto
sociocultural na produção e reprodução do espaço.
Em Aparecida a materialização do sagrado e do profano sempre esteve
condicionada a atuação da Igreja Católica, como eixo central e de controle do
espaço urbano. Ao definir uma territorialidade em função do receptáculo, a do objeto
sacro, por meio desta materialização do sagrado forma-se o espaço profano (a
cidade), um espaço urbano que usufruiria desta condição para coexistir
(ROSENDAHL, 2012).
A partir dessa materialização do sagrado pela presença das igrejas e dos
outros objetos sagrados presentes na cidade, delineia-se em Aparecida uma
reprodução do espaço voltada ao profano, o comercio religioso.
Essa produção capitalista do espaço em Aparecida é configurada pela relação
predatória deste comercio religioso sobre o espaço urbano, e o resultado mais
clarividente desta ação está nos agentes sociais e na proliferação de hotéis e outras
atividades do comércio religioso.
3 – Metodologias
Neste estudo foram utilizadas referências bibliográficas através de pesquisa
direcionada, documentos históricos do acervo da Biblioteca Municipal e informações
documentais provenientes da Prefeitura Municipal da Estância Turística de
Aparecida, e materiais provenientes de meio eletrônico. Foram realizadas
entrevistas no formato de diálogo com a Secretaria de Governo e imobiliárias locais.
A abordagem será descritiva, exploratória e explicativa do objeto.
2482
A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
4 – Resultados
4.1 – O espaço urbano-comercial – o predomínio hoteleiro
Em Aparecida, o poder público municipal tem atuado como regulador das
condições para o processo de produção do espaço, com o provimento de bens
públicos na realização das obras infraestruturais, os quais são direcionadas ao
aporte do turismo-religioso como confidenciado em entrevista realizada com o
Secretário de Governo deste município, que menciona esta característica da
municipalidade em realizar alterações urbanística tendo em vista o atendimento ao
visitante.
Constatou-se em Aparecida que a produção do espaço é refém da produção
capitalista e da inexistência de legislação de uso e ocupação do solo compatível
com o processo de urbanização. Não há qualquer fiscalização efetiva das
construções dos tipos hotéis, pousadas e outras atividades comerciais, além de
medidas sanitárias e de corpo de bombeiros. As únicas normas3 que as orientam
são os Códigos de Postura, de Obras e Tributários, para os quais apenas
regulamentam medidas de política administrativa, regras de alvenarias e de cálculo
de IPTU, entre o Poder Público e os munícipes.
Os referidos códigos são ferramentas conceituais na fiscalização e não uma
regulamentação física da ocupação e uso do solo. Essa falta de fiscalização quanto
à criação de espaços comercias e residenciais em áreas pré-determinadas tem
refletido na propagação das construções de hospedagem.
O surgimento de hotéis e pousadas não tem se restringido à área central, mas
se propagado em grande parte do território. Todavia, como proposta de análise,
atentou-se para os localizados na área central. O resultado da pesquisa de campo
quantitativa apontou nos últimos cinco anos o surgimento de sete hotéis em áreas
de antigas residências na parte central da cidade (Tabela 1).
3
Prefeitura Municipal da Estância Turística de Aparecida
2483
A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
Tabela 1- Hotéis e Pousadas - 2010 a 2015
Nome
Rua
Bairro Ano
Hotel/Pousada San Lourenzo
Barão do Rio Branco
Centro 2014
Hotel Seminário Bom Jesus
Barão do Rio Branco
Centro 2013
Hotel Nossa Senhora do Rosário
Barão do Rio Branco
Centro 2012
Hotel Requinte
Barão do Rio Branco
Centro 2012
Hotel Vila Santa
Barão do Rio Branco
Centro 2015
Hotel/Pousada Capital da Fé
Av. Colombano Teixeira
Centro 2015
Hotel Porto Belo
Av. Colombano Teixeira
Centro 2015
Fonte: Prefeitura Municipal da Estancia Turística de Aparecida.
Com o surgimento desses novos empreendimentos sobre uma área ainda não
consolidada como área de predomínio de hotéis, e sim residencial e comercial,
vivencia-se neste espaço a tendência do espaço central voltado ao ramo turísticocomercial. Essas novas construções se juntam ao centro velho totalizando 107
hotéis4 dos 194 hotéis cadastrados e 36.000 mil leitos aproximadamente 5, formando
um espaço urbano adensado com o predomínio de construções verticais.
A pesquisa realizada junto aos agentes imobiliários (Vinicius Imóveis e Laua
Imóveis) acerca da valorização do espaço urbano em Aparecida, constatou-se que o
preço do m² na região central, localizada nas proximidades com o centro velho
(Igreja Velha), o espaço sagrado, variam de 3 mil m² a 10 mil m² dependendo da
localização específica e do padrão construtivo do imóvel.
Essa valorização do espaço urbano também ocorre nos imóveis destinados à
locação e à venda, sobretudo na área central, como pode ser verificado na tabela 2.
Da tabela 2 apresenta-se algumas considerações, os espaços verificados
eram destinados em grande parte às atividades comerciais, que diretamente
possuem um vínculo com o espaço sagrado, e os espaços destinados a vendas de
casas em grande parte não são incorporadas às imobiliárias. Esta situação, de
acordo com os relatos deve-se, à informalidade do processo de vendas e do alto
mercado de especulação imobiliárias que esses imóveis adquiriram devido à
demanda de hospedagem e surgimento de hotéis e pousadas por grande parte do
território.
4
5
Prefeitura Municipal da Estância Turística de Aparecida – Secretaria de Governo.
Sindicato dos Hotéis e Restaurantes de Aparecida e Vale Histórico.
2484
A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
Tabela 2 - Imóveis na área central de Aparecida - Locação e Venda
Fonte: Imobiliárias LAUA Imóveis e Vinicius Imóveis.
Para realização desta tabela foram analisados 50 anúncios dos quais 13 eram
destinados à venda em área comercial e residencial e 37 entre anúncios de locação
na área central e adjacentes.
Da análise das tabelas evidencia-se a padronização das construções e o alto
valor do espaço urbano nas proximidades com os grandes marcos religiosos na área
central e reafirma o caráter capitalista da produção do espaço religioso em
Aparecida, vide a localização dos imóveis na proximidade com o espaço sagrado
(Figura 1)
A análise da figura e do surgimento de novos hotéis tem demonstrado que a
expansão deste ramo tem se dado no sentido norte da área central. Isso se deve ao
Imóveis destinados a locação em Aparecida (área central)
Localização
Bairro
Tipo
Área (m²)
Locação
Rua Anchieta
Centro
Comercial
125,00
2.500,00
Praça N.S. Aparecida Centro
Comercial
44,00
3.500,00
Rua Monte Carmelo
Centro
Comercial
80,00
4.000,00
Praça Dr. Be. Meireles Centro
Comercial
124
6.365,00
Imóveis destinados a venda em Aparecida (área central)
Localização
Bairro
Tipo
Área (m²)
Valor
Rua Anchieta
Centro Comercial/Residencial 1.200,00 4.367.152,50
Praça N.S. Aparecida Centro
Comercial
1.260,00 6.445.200,00
Rua Monte Carmelo
Centro Comercial/Residencial 125,00
527.500,00
Rua João Alves
Centro
Comercial
104,00
790.600,00
2485
A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
adensamento no centro próximo ao espaço sagrado e aos valores dos imóveis nesta
“nova” parcela do espaço. Todavia, a análise foi realizada apenas na parte central 6
da cidade na dimensionando o valor do espaço urbano nos outros bairros.
Figura 1- Mapa Área Central - Hotéis e Pontos Sagrados
Fonte: Plano Diretor 2006 – Prefeitura da Estância Turística de Aparecida
Organização: Ivo Francisco Barbosa
4.2 – O espaço urbano periférico ao espaço sagrado e comercial
O município de Aparecida apresenta população de 35.0077, dos quais 34.534
habitantes residem na área urbana, configurando uma alta densidade demográfica
(289, 13 hab/km²), e um déficit habitacional de aproximadamente 3.500 unidades8.
Tem presenciado ao longo de sua história uma intensa transformação espacial
regida pela funcionalidade turístico-religiosa.
6
O recorte da área central foi obtido do Plano Diretor de 2006, a única ressalva se faz a incorporação do
Santuário Nacional na Figura para dimensionar a proximidade com o outro espaço sagrado (Basílica Velha).
7
CENSO 2010 – http://cod.ibge.gov.br/2354J.
8
Secretaria de Obras e Viação – Prefeitura da Estância Turística de Aparecida.
2486
A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
Esse processo tem provocado ao mesmo tempo no redimensionamento da
área central, com casas localizadas nesta área sendo revendidas para construção
de empreendimentos hoteleiros. Este fato tem inflacionado o mercado imobiliário em
Aparecida, sobretudo na área central. As áreas adjacentes, localizadas nas Zonas
de Expansão Urbana9, apresentam menor valorização, mas têm presenciado nos
últimos anos no surgimento de empreendimentos do ramo imobiliário.
Do diálogo realizado nas imobiliárias, buscou-se identificar quais eram as
demandas e o grupos interessados no espaço urbano central e adjacentes.
Constatou-se que há uma especulação imobiliária elevada em grande parte da área
central, com áreas físicas construídas de 100 m² a 1000 m² sendo vendidas a
valores de 300 mil a 6 milhões de reais. Em ambas as imobiliárias o maior volume
de mercado constitui-se de locações, com as vendas de casas na área central e
adjacentes sendo tratadas exclusivamente com os proprietários e os compradores
na grande maioria interessados em adquirir para construção de empreendimentos
de hotelaria.
Outra faceta notada, e identificada em campo e em entrevista são os
empreendimentos imobiliários em aprovação nos bairros Itaguaçu e Jardim São
Paulo e outro consolidado no bairro Vila Mariana, ambos os bairros caracterizados
como de baixa renda, todos pertencentes ao grupo MRV ENGENHARIA E
PARTICIPAÇÕES S.A. Destes, apenas o do bairro Vila Mariana, “Parque das
Gardênias” encontra-se terminado, com 512 apartamentos10, mas de baixa procura.
Verificou-se nos bairros que ainda não foram aprovados os projetos imobiliários que
há um relativo abandono do poder público local quanto a algumas infraestruturas
básicas, como falta de asfalto, esgoto e rede elétrica deficitária. Assim,
impossibilitando os projetos imobiliários, bem como a valorização deste espaço
urbano.
A mesma opinião foi partilhada pelas imobiliárias, a de baixa procura
residencial e comercial nos bairros da Zona de Expansão Urbana. Para os
entrevistados isso se deve a pouca atratividade dessas localidades, dificuldade de
9
Plano Diretor 2006 – Prefeitura da Estância Turística de Aparecida.
http://www.mrv.com.br/imoveis/apartamentos/saopaulo/aparecida/vilamariana/parquegardenias.
10
2487
A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
acesso aos bens públicos, postos de saúde, setor de serviços, capeamento asfáltico,
pouca iluminação pública, entre outros investimentos públicos.
A premissa acima proporciona alguns apontamentos. As localidades
escolhidas para implementação desses projetos imobiliários são em bairros com
população de baixo poder aquisitivo, e a ausência do poder público local com
investimentos públicos infraestruturais tem tornado este espaço urbano menos
atrativo para o capital, seja imobiliário ou comercial, como a ausência de hotéis.
Como também uma assertiva, foi notada no diálogo com o poder público local, uma
certa crendice que com o surgimento desse grupo imobiliário (MRV) na Zona de
Expansão Urbana, por si só impulsionaria o “desenvolvimento” dessas localidades,
na atração de comércio e de outros setores.
5 – Conclusões
Da análise espacial inicial identifica-se uma relativa dependência do turismoreligioso na produção do espaço, e que a atuação dos agentes sociais, poder
público local, promotores imobiliários e também da atuação da Igreja, tem
fundamentado este “desenvolvimento” urbano particular.
A inexistência de uma legislação específica quanto ao uso e ocupação do
solo compatível com o processo de urbanização tem proporcionado uma crescente
valorização do espaço profano diretamente ligado ao espaço sagrado, sobretudo na
área central. Todavia, pelo caráter inicial deste estudo não é possível efetuar uma
maior criterização e aprofundamento quanto à valorização do espaço nas áreas
adjacentes.
Quanto aos empreendimentos imobiliários, seu surgimento em bairros de
baixo poder aquisitivo pode incidir na proposição de um relativo déficit habitacional
em Aparecida, como também a baixa procura pode fornecer outros elementos na
análise: o aporte Estatal na manifestação desses empreendimentos, a “crise
econômica”11 vivenciada no período, a carência de infraestruturas básicas nessas
localidades, entre outros. Por se tratar de um estudo ainda incipiente, essas
11
Desaceleração econômica em 2015 causa reflexos nos
http://www.cartacapital.com.br/revista/854/alicerces-abalados-4404.html
programas
habitacionais.
2488
A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
conclusões ainda são preliminares e devem ser analisadas com maior rigor no
transcorrer da dissertação.
6 – Referências Bibliográficas
BARBOSA, B. L. Nossas Origens: Três séculos de História de Aparecida – SP.
Edição do autor, Aparecida – SP, 2007.
CARLOS, A. F. A. A (Re)Produção do Espaço Urbano. 1. ed. SÃO PAULO:
EDUSP, 1994.
CORRÊA, R.L. O Espaço Urbano. Editora Ática, 1989.
HARVEY, D. A produção capitalista do espaço. 1 ed. São Paulo: Annablume,
2005. Tradução de Carlos Szlak.
LEFEBVRE, H. A produção do espaço. Trad. Doralice Barros Pereira e Sérgio
Martins (do original: La production de l’espace. 4e éd. Paris: Éditions Anthropos,
2000). Primeira versão: início - fev.2006.
MÜLLER, N. L. O Fato Urbano na Bacia do Rio Paraíba do Sul – São Paulo. Rio
de Janeiro, IBGE, 1969.
OLIVEIRA, C. D. M. de. Basílica de Aparecida: Um templo para a cidade-mãe. 1ª.
ed. São Paulo: Olho D'água, 2001. v. 1.
ROSENDAHL, Z. Espaço e religião: uma abordagem geográfica. 2ª ed. Rio de
Janeiro: UERJ, NEPEC, 1996.
SANTOS, M. A Urbanização Brasileira – 5. Ed – São Paulo: Hucitec, 2013 –
(Estudos Urbanos;5).
__________. A Natureza do Espaço: Técnica e Tempo, Razão e Emoção. – 4.
Ed. 2. reimpr. – São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2006.
2489
Download