APRESENTAÇÃO Este livro tem como objetivo apresentar o produto das reflexões realizadas a partir de uma série de encontros entre geógrafos espanhóis e brasileiros realizados no âmbito de um programa de intercâmbio fundado no diálogo – e apoiado nas pesquisas realizadas por cada um – em torno do modo como a geografia pode construir um pensamento sobre o mundo moderno a partir da metrópole. A colaboração entre os Departamentos de Geografia da Universidade de São Paulo e de Geografia Humana da Universidade de Barcelona vem de longa data. Sob a iniciativa do professor Milton Santos, professores brasileiros e catalães participaram, desde o início dos anos 90, de vários seminários, cursos e programas de intercâmbio, inclusive com a presença de alunos da pósgraduação na condição de bolsistas (bolsas-sanduíches), como parte de seu programa de doutorado em Barcelona. Essa colaboração culminou com a investidura do professor Milton como doutor Honoris Causa da Universidade de Barcelona, em novembro de 1996. A partir de 2000, as equipes de Geografia urbana dos dois Departamentos, coordenados pelos professores Ana Fani Alessandri Carlos e Carles Carreras, decidiram ampliar o nível dessa colaboração. Nesse sentido foi acordada a necessidade de estabelecer um plano conjunto de pesquisa em torno de temas comuns a serem desenvolvidos em cada uma das Universidades, com a finalidade de atualizar o debate interno da disciplina, abordando analiticamente os fenômenos que interessam à problemática da espacialidade e da territorialidade nos respectivos contextos históricos. Abre-se assim a expectativa de promover o tratamento temático de fenômenos das sociedades contemporâneas, de trocar metodologias de trabalho e debater os enfoques de análises. Este livro que o leitor tem agora nas mãos é, de fato, o primeiro resultado tangível da nova etapa. ******** A pesquisa, que está sendo realizada com o tema “Globalização e transformações socioespaciais nas metrópoles do século XXI: Barcelona e São Paulo”, tem por objetivo analisar as metamorfoses do espaço urbano nas metrópoles de São Paulo e Barcelona, no momento atual, tendo como pano de fundo o processo de mundialização, entendido como circunstância de constituição e definição da sociedade urbana, enquanto expressão da divisão do trabalho aprofundada. As metrópoles assumem um papel central, seja na constituição e no entendimento da realização do processo de acumulação, seja enquanto processo de reprodução do espaço. Hoje, a organização econômica em escala global coloca problemas teóricos relevantes para o pensamento que se defronta com a extensão, com a intensidade e com as peculiaridades que o fenômeno urbano manifesta. Tanto que, para a articulação sistêmica global que interessa às instituições e processos dotados de universalidade, a reprodução do espaço urbano aparece como limite e possibilidade da reprodução social, denunciando o urbanismo como ideologia. Assim, esse intercâmbio acadêmico coloca em foco o entendimento da reprodução do espaço urbano em um mundo globalizado, bem como o entendimento desse processo, colocando em xeque a construção de um “pensamento” sobre a metrópole como possibilidade de entendimento da crise urbana, explicada enquanto “contradição do processo de reprodução do espaço” a partir de estratégias diferenciadas. Sob o prisma da valorização do espaço, a mundialização, como processo de extensão e aprofundamento da formação social capitalista, ocorre desencadeando contradições novas as quais, via de regra, se sobrepõem às contradições preexistentes, implicando metamorfoses do espaço. O movimento lógico de valorização do capital, a partir da intervenção mediadora do Estado no espaço, por meio de políticas urbanas, visa à reprodução dos investimentos pela integração de circuitos e momentos (do capital) em único processo, de forma que em uma outra escala como momentos de um fluxo contínuo, o espaço integra, sob qualquer pretexto, a reprodução social. Nessa direção, o fenômeno urbano estaria manifestando sua universalidade? Para, por meio das metamorfoses do espaço metropolitano, chegar ao entendimento do processo de urbanização no mundo moderno. É a questão que os autores deste livro se colocam. Nessa perspectiva, a problemática do espaço se revela como aquela de sua reprodução, e a análise do conteúdo do processo de urbanização envolve também a construção de um conhecimento sobre a produção social do espaço a partir da geografia, mas sem desconsiderar que esse tema não é específico à geografia. 8