hipotermia em membro superior não afetado na hemiparesia

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Ensaios e Ciência
Ciências Biológicas,
Agrárias e da Saúde
Vol. XIII, Nº. 2, Ano 2009
Rachel Paes Guimarães
Universidade Estadual de Campinas
FCM / Unicamp
[email protected]
Thaís Botossi Scalha
Universidade Estadual de Campinas
FCM / Unicamp
[email protected]
Talita Aline Camilotti
Universidade Estadual de Campinas
Unicamp
[email protected]
Shirley Alves Mandu
Universidade Estadual de Campinas
Unicamp
[email protected]
Nubia Maria F. Vieira Lima
Faculdade Anhanguera de Campinas
unidade 3
[email protected]
HIPOTERMIA EM MEMBRO SUPERIOR NÃO
AFETADO NA HEMIPARESIA
Efeitos na motricidade e sensibilidade do membro
superior afetado
RESUMO
Objetivo: Analisar a sensibilidade e a motricidade de membro superior
acometido em hemiparéticos crônicos quando aplicada a técnica de
hipotermia de imersão do membro superior não acometido. Método: Estudo
prospectivo com cinco pacientes hemiparéticos divididos em dois grupos, o
primeiro realizando 10 sessões (n=3) e o segundo 20 sessões (n=2) compostas
de hipotermia do membro não afetado simultaneamente à estimulação
sensório-motora do membro superior afetado. Resultados: Houve melhora
da função motora de punho e mão, bem como da função sensorial destes
segmentos de forma variável entre os pacientes. Conclusão: O uso da
hipotermia de imersão do membro superior não acometido mostrou
melhora da motricidade e/ou sensibilidade em hemiparéticos crônicos,
contudo os escores sensoriais exibiram melhores incrementos que os
motores, especialmente naqueles com maior tempo de lesão.
Palavras-Chave: avaliação da deficiência; acidente vascular cerebral; paresia.
ABSTRACT
Objective: To evaluate sensory and motor function of the affected upper limb
of chronic stroke patients when the non-affected upper limb is submitted to
hypothermia. Method: A prospective study with 5 stroke patients divided in
2 groups, the first submitted to 10 sessions (n=3) and the second to 20
sessions (n=2) composed of hypothermia of the not affected limb
simultaneous to sensory-motor stimulation of the affected limb. Results:
There was variable improvement in the motor function of wrist and hand,
and improvement of the sensory function of these segments. Conclusion:
The use of hypothermia and immersion of the affected upper limb showed
improvement in the motricity and sensory scores in chronic stroke patients.
However, the sensory scores showed better increments, particularly for
those patients with longer time post-stroke.
Keywords: disability evaluation; stroke; paresis; hypothermia; upper
extremity.
Anhanguera Educacional S.A.
Correspondência/Contato
Alameda Maria Tereza, 2000
Valinhos, São Paulo
CEP 13278-181
[email protected]
Coordenação
Instituto de Pesquisas Aplicadas e
Desenvolvimento Educacional - IPADE
Relato de Pesquisa
Recebido em: 24/5/2010
Avaliado em: 20/8/2010
Publicação: 6 de outubro de 2010
67
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Hipotermia em membro superior não afetado na hemiparesia: efeitos na motricidade e sensibilidade do membro superior afetado
1.
INTRODUÇÃO
O Acidente Vascular Encefálico (AVE) é a causa principal de incapacidades motoras e
sensitivas em adultos. Estudos demonstram que 30-60% dos pacientes que sobrevivem ao
AVE apresentam déficit motor, necessitando de auxilio nas atividades de vida diária
(DUNCAN, 1992). A espasticidade é um sinal freqüente pós-AVE (CRUZ, 2003),
principalmente em membros superiores, gerando comprometimento da mobilidade
articular, desuso, algias, incoordenação motora e diminuição da destreza do membro
afetado na execução das tarefas diárias. Por sua vez, os déficits sensoriais ocorrem em
cerca de 40% dos pacientes (RAND, 1999). Estudos demonstram que a soma destes
déficits leva a um pior prognóstico funcional (DUNCAN, 1996; RAND, 1999).
Sabe-se que a recuperação das habilidades dos membros superiores após um
AVE é menos satisfatória do que aquela conseguida em membros inferiores, e
aproximadamente 34% dos pacientes com déficits após AVE permanece com perda
funcional significativa no membro superior (RAND, 1999). Foi verificado também que
após dois meses de hospitalização, mais de 50% dos hemiparéticos permaneceram com
desuso da extremidade superior, e 10% destes com comprometimento severo (RAND,
1999).
Há estudos com bons resultados de programas de reabilitação de membro
superior, com descrição dos métodos disponíveis e seus efeitos nas disfunções sensóriomotoras crônicas, voltados ao tratamento do membro afetado (KAWAHIRA, 2010;
RICCIO, 2010). Por outro lado, com relação ao membro não afetado, a diminuição do
input sensorial deste membro pode aperfeiçoar a sensibilidade do membro superior
afetado em hemiparéticos, através de anestesia do membro superior não parético (Voller,
2006). Uma vez que, após lesão encefálica ocorre hiperexcitabilidade do hemisfério não
afetado sobre o hemisfério acometido por aumento da inibição interhemisférica
(MURASE, 2004; SHIMIZU, 2002), as propostas terapêuticas para redução desta
hiperexcitabilidade sugerem a restrição do membro superior não afetado (KUNKEL, 1999)
e a anestesia deste membro em hemiparéticos (VOLLER, 2006). De fato, a inibição de
conexões entre os hemisférios que afetam a funcionalidade um do outro, i.e. “inibição
interhemisférica” (MURASE, 2004; VOLLER, 2006), é aplicada em terapia voltada ao
membro não afetado (VOLLER, 2006). Com relação às informações inter-hemisféricas,
acredita-se que exista um equilíbrio entre estas, mediado pelo corpo caloso (GERLOFF,
1998; FERBERT, 1992; BORROJERDI, 1996; MEYER, 1998; MATSUNAMI, 1984; MURASE,
2004; BAUMER, 2002).
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Rachel Paes Guimarães, Thaís Botossi Scalha, Talita Aline Camilotti, Shirley Alves Mandu, Nubia Maria Freire Vieira Lima
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Vários autores citam a analgesia como um dos efeitos fisiológicos da crioterapia,
além da redução do espasmo muscular e do metabolismo (KNIGHT, 1995; LEE, 1978;
PINHEIRO, 2006; FILHO, 2003; SANDOVAL, 2005). Sabe-se que a velocidade das reações
varia de acordo com a temperatura de um tecido, sendo que em temperaturas mais altas
as reações são aceleradas, uma vez que a hipotermia lentifica a velocidade da condução
nervosa das informações sensoriais, embora não a elimine totalmente. A transmissão
sensorial pode ser reduzida em até 29,4% após uma aplicação fria de 20 minutos,
mantendo estes resultados após 30 minutos da remoção da crioterapia (SANDOVAL,
2005).
Starkey (2001) relata que, para que ocorra a redução ideal do fluxo sangüíneo
local e efeitos terapêuticos sejam obtidos, a temperatura da pele deve atingir
aproximadamente 13,8 ºC, ao passo que cerca a 14,4 ºC deve ocorrer a analgesia. Com
relação à duração da terapia, após sete a dez minutos de aplicação da crioterapia, é
possível obter analgesia. Nesta situação, os pacientes relatam sensações de frio,
queimação, algia e dormência (DELISA, 2002).
2.
OBJETIVO
Analisar os efeitos na motricidade e sensibilidade do membro superior afetado de
hemiparéticos após hipotermia do membro superior não afetado.
3.
MÉTODO
Trata-se de um estudo de múltiplos casos prospectivos. Os procedimentos foram
executados em um ambulatório de fisioterapia e terapia ocupacional de Campinas-SP. O
projeto de pesquisa foi aprovado por Comitê de Ética em Pesquisa (CAAE 0332.0.146.00009), antes de ser conduzido. Os pacientes ou familiares foram esclarecidos a respeito dos
objetivos do estudo e procedimentos a serem realizados. Adicionalmente, foram
asseguradas aos participantes a confidencialidade de dados pessoais e a possibilidade de
esclarecimentos permanentes.
3.1. Participantes
Foram incluídos indivíduos com hemiparesia secundária a AVE único, independente do
hemisfério acometido, de ambos os sexos, com idade entre 20 e 70 anos, em tratamento
fisioterapêutico convencional e capazes de compreender comandos simples. Os pacientes
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Hipotermia em membro superior não afetado na hemiparesia: efeitos na motricidade e sensibilidade do membro superior afetado
deveriam apresentar função motora e/ou sensorial mínima de punho ou mão que foram
afetados (no mínimo 1 ponto no Protocolo de Desempenho Físico de Fugl-Meyer ou na
Avaliação Sensorial de Nottingham).
Os critérios de exclusão utilizados foram: AVE prévio ou cerebelar,
comorbidades neurológicas centrais ou periféricas, portadores de Diabetes Mellitus,
edemas ou feridas no local da aplicação da terapia, intolerância a crioterapia em geral e
hipertensão arterial não controlada por fármacos. Foram selecionados, consecutivamente,
cinco hemiparéticos, sendo divididos, aleatoriamente, em dois grupos: grupo que realizou
10 sessões (n=3) de hipotermia e grupo que realizou 20 sessões (n=2).
3.2. Instrumentos de medida
A “Avaliação Sensorial de Nottingham” (ASN) (LIMA, 2010) possui quatro itens: sensação
tátil; propriocepção; estereognosia; e discriminação de dois pontos. A subescala “Sensação
Tátil” (toque leve, pressão, picada, temperatura, localização tátil e toque bilateral
simultâneo nos dois hemicorpos) pode ser pontuada em 0, 1 ou 2, representando déficit
severo,
sensação
parcial
e
sensação
normal,
respectivamente.
A
subescala
“Propriocepção” é classificada de acordo com a execução do movimento, sua direção e a
posição articular, com pontuação que varia de 0 a 3. A estereognosia é avaliada através do
reconhecimento de diferentes objetos pelo hemicorpo afetado, podendo ser pontuada de 0
a 2. Finalmente, é testada a discriminação entre dois pontos no dedo indicador e região
tenar, recebendo pontuação de 0 a 2. Caso não fosse possível testar algum segmento era
atribuída pontuação 9, em concordância com o manual de aplicação do instrumento.
Neste estudo foram testadas as seções de punho e mão.
O Protocolo de Desempenho Físico de Fugl-Meyer (FM) (MAKI, 2006) mensura a
recuperação sensório-motora em paciente pós-AVE. Cada item é pontuado de 0 a 2, sendo
que quanto menor a pontuação pior a capacidade funcional do paciente (MAKI, 2006).
Utilizamos as seções destinadas à função motora do punho e mão.
3.3. Materiais
Utilizamos termômetro digital (marca Western®), recipiente plástico de formato circular
com dimensão de 392 cm x 139 cm (diâmetro x altura) com capacidade total de 8.650mL,
gelo, compasso, venda, caneta esferográfica, lápis, pente, tesoura, esponja, flanela, xícara,
copo, bola crespa pequena e moedas de R$ 0,01, R$ 0,10 e R$ 1,00.
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3.4. Procedimentos
Realizamos uma avaliação pré-tratamento do membro superior afetado (AF) pelos
instrumentos de medida escolhidos para o presente estudo. O membro superior não
afetado (NA) foi avaliado pelo item tato discriminativo da ASN. O tratamento do grupo 1
ocorreu em 10 sessões, e o do grupo 2 em 20 sessões, ambos realizando duas sessões
semanais com 30 minutos de duração cada. Realizamos avaliação após o tratamento para
os dois grupos, além de uma terceira avaliação após um mês da avaliação pós-tratamento
para o grupo dois (seguimento).
Foram colocados 500 mL de gelo e 4L de água em um recipiente e, quando a
temperatura atingisse 12 ºC, o punho e a mão do membro afetado eram imersos no
recipiente durante 30 minutos com temperatura variando entre 8 a 12 ºC (PINHEIRO,
2006; FILHO, 2003; SANDOVAL, 2005; STARKEY, 2001). Entretanto, em algumas sessões,
os pacientes não permaneceram por 30 minutos com o membro imerso, pois relataram
sensações álgicas; nesses casos a terapia com gelo foi realizada em 20 minutos.
Simultaneamente, foram realizadas atividades funcionais de alcance e preensão no
membro afetado (MA) ou mobilização passiva das articulações, seguidas de alongamentos
musculares em pacientes com espasticidade severa. Adicionalmente, era realizada a
estimulação da sensibilidade com esponja, bola pequena com e sem cravos, pinceis,
algodão, tapping, flanela e escova pequena. As mudanças dos escores dos instrumentos
foram expressas em porcentagem.
4.
RESULTADOS
As características dos pacientes estão na Tabela 1. Os pacientes 1 a 3 formaram o grupo 1 e
os demais, grupo 2.
Tabela 1 – Características dos pacientes.
Variáveis
Paciente 1
Paciente 2
Paciente 3
Paciente 4
Paciente 5
Sexo
M
M
F
M
F
Idade (anos)
41
52
48
73
42
Tempo pós-AVE (anos)
1,5
1,5
3
18
2
Isquêmico
Isquêmico
Isquêmico
Isquêmico
Hemorrágico
E
E
D
E
D
Tipo do AVE
Lado da hemiparesia
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Hipotermia em membro superior não afetado na hemiparesia: efeitos na motricidade e sensibilidade do membro superior afetado
Paciente 1
Este paciente executou as tarefas com o membro parético em todas as sessões, sem
dificuldades. Não apresentou algias ou desconfortos durante a crioterapia de imersão,
porém na primeira sessão foram necessários alguns períodos de retirada da imersão até
que se adaptasse à temperatura da água. Esta última manteve uma média de 7,98 ºC,
variando no decorrer do tratamento entre 5 e 12 ºC. Em sua reavaliação, este paciente teve
uma evolução de 18,75% na sensibilidade tátil do membro AF. O paciente obteve melhora
nos escores de discriminação de dois pontos (33%) e propriocepção de punho e mão
(25%). Na avaliação de estereognosia, o paciente evoluiu em 10% do seu escore inicial e na
FM obteve melhora de 16,6% na função da mão.
Paciente 2
Este paciente executou as mesmas tarefas que o paciente 1, mas demonstrando maior
dificuldade para executar a preensão do membro afetado. O paciente não apresentou
desconforto à temperatura da água (média de 7,72 ºC, tendo variação de 3,8 ºC a 12,4 ºC).
Em sua reavaliação, este paciente apresentou 42,85% de evolução da sensibilidade tátil no
membro AF. Na discriminação de dois pontos apresentou melhora do seu escore do
membro AF (50%). O paciente melhorou a propriocepção em 25% do seu escore inicial; na
estereognosia obteve evolução de 37,5% em relação ao seu escore inicial. No Protocolo de
FM, obteve uma melhora de 60% para o punho e de 56% para a mão.
Paciente 3
Este paciente realizou todos os exercícios propostos, não demonstrando desconforto ou
algias no membro imerso na água, cuja temperatura media era 8,38 ºC e variação entre 7,0
e 10,5 ºC. Em sua reavaliação, este paciente apresentou uma melhora de 28,57% na
sensibilidade tátil do membro AF, 50% de incremento na discriminação de dois pontos,
além de melhora de 25% na propriocepção. A estereognosia evoluiu 10% em relação ao
escore inicial que o paciente possuía. No Protocolo de FM, o paciente não apresentou
melhora da função motora de punho ou mão.
Paciente 4
Este paciente executou os exercícios da terapia em 20 sessões, com algumas dificuldades
de mobilização devido ao grau de espasticidade importante que apresentava. Não relatou
desconforto durante imersão do membro na água, cuja temperatura média era 7,56 ºC e
variação entre 6,0 e 9,5 ºC. Este paciente apresentou melhora de 41,6% na sensibilidade
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tátil no punho e na mão do membro afetado. O paciente apresentou e manteve escore
máximo na avaliação da propriocepção antes e após o tratamento, assim como no
seguimento. Na estereognosia, houve melhora de 18,2%, porém sem retenção da melhora
no seguimento. Na discriminação de dois pontos, houve melhora de 100% na palma da
mão e de 50% na ponta dos dedos, sendo que houve retenção dos mesmos valores no
seguimento. Não foi observada melhora no controle motor ativo de mão e punho
afetados.
Paciente 5
Este paciente apresentava predominância de déficits sensoriais com ausência de
espasticidade em punho e mão afetados. Em relação aos demais pacientes, este
demonstrou mais desconforto e algias no membro imerso na água, cuja temperatura
média era 12,3 ºC e variação entre 10 e 14,5 ºC. No entanto, o paciente 5 realizou as 20
sessões de reabilitação sensorial. Em sua reavaliação, este paciente apresentou uma
melhora de 16% na sensação tátil da mão e manteve essa melhora no seguimento. Não
houve melhora na sensação tátil do punho. Na estereognosia, houve uma melhora de
43%. O paciente apresentou e manteve escore máximo na avaliação da propriocepção
antes e após o tratamento, assim como no seguimento. Na estereognosia, houve melhora
de 31,8% e manutenção desta melhora no seguimento. Na discriminação de dois pontos,
houve melhora de 50% tanto na palma da mão, quanto na ponta dos dedos, pontuação
esta mantida no seguimento. Quanto ao controle motor, houve melhora de 20% em punho
e mão, e manutenção dos 20% em punho no seguimento, porém não havendo retenção
dos ganhos relativos à função manual.
As Tabelas 2 e 3 exibem as variações dos escores dos instrumentos de medidas
para cada paciente.
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Hipotermia em membro superior não afetado na hemiparesia: efeitos na motricidade e sensibilidade do membro superior afetado
Tabela 2 – Pontuações dos instrumentos nos períodos pré e pós-tratamento dos três pacientes (grupo 1).
Paciente 1
Pré
Pós
Paciente 2
Pré
Pós
Paciente 3
Pré
Pós
NA
AF
NA
AF
AF
NA
Sensibilidade
Tátil
20
16
20
19
3
20
14
20
20
6
20
14
20
18
4
4,33
Discriminação
de 2 pontos
3
3
4
4
1
2
1
2
3
2
3
1
3
2
1
1,33
Propriocepção
--
5
--
6
1
--
4
--
5
1
--
4
--
5
1
1
Estereognosia
--
20
--
22
2
--
16
--
22
6
--
20
--
22
2
3,33
Protocolo de
Fugl-Meyer
(punho e mão)
--
22
--
24
2
--
14
--
22
8
--
2
--
2
0
3,33
AF
NA
Média
Dif AF
NA
NA
Dif
AF AF
Dif
AF
Dif
AF AF
Variáveis
NA: Membro superior não afetado; AF: Membro superior afetado; Dif AF: Diferença
de escores do membro superior afetado (entre as avaliações pré e pós-tratamento).
Tabela 3 – Pontuações dos instrumentos nos períodos pré e pós-tratamento dos dois pacientes (grupo 2).
Paciente 4
Pré
Pós
Paciente 5
Pré
Pós
Média
Dif AF
NA
AF
NA
Dif
AF AF
Sensibilidade
Tátil
20
12
20
18
6
20
10
20
12
2
4
Discriminação
de 2 pontos
4
0
4
3
3
2
0
2
2
2
1,5
Propriocepção
--
4
--
4
0
--
4
--
4
0
0
Estereognosia
--
12
--
16
4
--
0
--
2
2
3
Protocolo de
Fugl-Meyer
(punho e mão)
--
8
--
13
5
--
34
--
38
4
8,5
Variáveis
NA
AF
NA
Dif
AF AF
NA: Membro superior não afetado; AF: Membro superior afetado; Dif AF: Diferença
de escores do membro superior afetado (entre as avaliações pré e pós-tratamento).
5.
DISCUSSÃO
O tratamento de hipotermia aplicado ao membro superior não afetado em pacientes
hemiparéticos resultou em ganhos sensoriais e motores no membro afetado destes
pacientes. Não há antecedentes, na literatura, sobre o uso da hipotermia em membros não
afetados, porém há relatos de que a anestesia cutânea e o bloqueio isquêmico da mão não
afetada geram melhora no desempenho motor e na discriminação tátil da mão parética de
pacientes pós-AVE (VOLLER, 2006; FLOEL, 2008; SMANIA, 2003). Aparentemente, a
melhora da função tátil na mão parética de pacientes hemiparéticos crônicos, submetidos
à anestesia da mão não afetada, é relacionada a uma diminuição do potencial inibitório
sobre a representação homóloga do hemisfério lesionado (FLOEL, 2008; VOLLER 2006).
Devido ao fato de todos os pacientes do presente estudo terem apresentado
melhora motora e sensorial quando submetidos à crioterapia, supõe-se que a hipotermia
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Rachel Paes Guimarães, Thaís Botossi Scalha, Talita Aline Camilotti, Shirley Alves Mandu, Nubia Maria Freire Vieira Lima
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tenha efeitos similares aos da anestesia cutânea e do bloqueio isquêmico, porém com a
vantagem de ser um recurso mais acessível e não invasivo. Contudo, a ausência de grupo
controle não permite a generalização dos efeitos desta técnica.
Comparando os resultados dos dois grupos, é possível notar que os indivíduos
do grupo 1 apresentaram melhora na propriocepção e estereognosia, ao passo que aqueles
do grupo 2 revelaram melhora na sensibilidade tátil, discriminação de dois pontos e
função motora de punho e mão afetados. Sugerimos que a melhora sensorial no grupo 2,
especialmente da função motora, seja devido ao maior numero de sessões a que este
grupo foi submetido. Para ambos os grupos, todas as modalidades sensoriais
demonstraram aumento de escores, exceto a propriocepção, no grupo 2. Sendo a
hipotermia um estímulo exterocepetivo, era esperado que a melhoria na propriocepção
consciente não se destacasse tanto quanto as outras modalidades sensoriais.
Estudos têm mostrado que pacientes com hemiparesia crônica que apresentam
déficits puramente sensoriais podem desenvolver comprometimento do controle motor
do membro afetado (SMANIA, 2003) e apresentar diminuição da propriocepção, além de
negligência deste membro (VAN DER LEE, 2003). Como exemplo, o paciente 5 do
presente estudo de caso apresentava predomínio de déficits sensoriais, mas demonstrou
melhora no desempenho motor após o tratamento. Adicionalmente, mesmo aqueles
pacientes com maior tempo decorrido após o AVE, apresentaram melhoria nas
modalidades sensoriais, embora não acompanhada de incremento da motricidade. O
incremento da sensibilidade demonstrado pelos pacientes no presente estudo foi de
grande significância, e mostra que o tratamento com hipotermia é eficaz, além de ser de
fácil aplicabilidade, apesar de poder causar certo grau de desconforto momentâneo ao
paciente.
Pesquisas sobre o tema são necessárias para análise dos efeitos da hipotermia em
hemiparéticos. Uma limitação do presente estudo foi a ausência de grupo controle e a
reduzida amostra analisada. Por tratar-se de uma técnica inédita, ressaltamos a
importância dos resultados, ainda que em uma amostra pequena.
6.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados do tratamento nos cinco pacientes sugerem que o uso da hipotermia de
imersão do membro não acometido conduz a uma melhora da motricidade e/ou
sensibilidade em indivíduos hemiparéticos crônicos. No entanto, os escores sensoriais
exibiram melhores incrementos que os motores, especialmente nos pacientes com maior
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Hipotermia em membro superior não afetado na hemiparesia: efeitos na motricidade e sensibilidade do membro superior afetado
tempo de lesão. A sensação tátil e a função motora do membro acometido foram afetadas
pela hipotermia do membro não afetado, mas a propriocepção consciente foi pouco
alterada pela terapia, em ambos grupos.
REFERENCIAS
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Rachel Paes Guimarães
Fisioterapeuta aluna de mestrado em neurociências pelo
departamento de fisiopatologia médica da UNICAMP,
especialista em neurologia no adulto pela UNICAMP, graduada
pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas.
Thaís Botossi Scalha
Possui graduação em Fisioterapia pela Universidade Estadual
Paulista Júlio de Mesquita Filho (2007) e pós-graduação em
Ensaios e Ciência: C. Biológicas, Agrárias e da Saúde • Vol. XIII, Nº. 2, Ano 2009 • p. 67-78
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Hipotermia em membro superior não afetado na hemiparesia: efeitos na motricidade e sensibilidade do membro superior afetado
Fisioterapia aplicada a neurologia adulto pala Universidade
Estadual e Campinas (2009).
Talita Aline Camilotti
Fisioterapeuta. Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Shirley Alves Mandu
Fisioterapeuta. Especialização em Neurologia Adulto pela
Unicamp (2007/2008). Graduação em Fisioterapia pelo Centro
Universitário Fundação de Ensino Octávio Basto (2006).
Nubia Maria Freire Vieira Lima
Graduação em Fisioterapia pela Universidade Católica do
Salvador (2003). Especialista em Fisioterapia aplicada a
Neurologia Adulto - UNICAMP (2005). Mestre em Ciências
Médicas pela UNICAMP - área de concentração Neurologia
(2009).
Ensaios e Ciência: C. Biológicas, Agrárias e da Saúde • Vol. XIII, Nº. 2, Ano 2009 • p. 67-78
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