ABSTRACT: The goal of this paper is to argue that the appreciative

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ABSTRACT: The goal of this paper is to argue that the appreciative and evaluative
suffIXes in the Portuguese have two distinct realities: one that does not change and
others that change the grammatical class of the root.
Este ensaio tem por objeto a descri~ao preliminar das afixa~oes apreciativa e
avaliativa do Portugues Brasileiro do seculo XIX. Os dados lingliisticos foram coletados
em periOdicos publicados naquele seculo pelos pesquisadores envolvidos nos projetos:
Projeto para a Hist6ria do Portugues Brasileiro e Estudos Diacronicos do Portugues,
coordenados pelos Profs. Drs. Ataliba Teixeira de Castilho (USP) e Clotilde A. A.
Murakawa (UNESP), respectivamente.
Camara Jr. (1974) defme Deriva~ao como a estrutura~ao de urn vocabulo, na
base de outro, por meio de urn morfema que 08.0 corresponde a urn vocabulo e introduz
no semantema urna ideia acess6ria que nao muda a significa~ao fundamental. Em
portugues, os morfemas segmentais nestas condi~oes 88.0 os que se pospoem ao
semantema e entram pois na classe de SUflXO.
Camara Jr. (1974) define semantemas como os elementos formais que
simbolizam na lingua 0 ambiente bio-social em que elafunciona. Para isso hli urn
'recorte' (cf. Cassirer, 1933) desse ambiente, correspondendo a urn conjunto de
segmentos fOnicos distintos, que 88.0 os semantemas da lingua. Eles entram em formas
mais complexas e autonomas, que 88.0 as palavras, ai passando a constituir 0 que se
chama .a raiz. As aplica~oes dos semantemas se multiplicam por meio do tipo de
morfema chamado lexical, cuja adj~ao a raiz cria novas palavras, especializando
ou ampliando 0 valor do semantema. Em portugues esses morfemas lexicais 88.0
fundamentalmente segmentos fOnicos que se seguem a raiz, isto e, sufixos. Mas, 0
semantema tambem multiplica as suas aplica~Oespela combina~ao com outra palavra
ou particula, 0 que da, em vez da palavra derivada, a palavra composta.
Os semantemas 88.0 elementos de valor concreto e particular, pois dizem
respeito aos fatos e a representa~ao dos seres. Os morfemas sao elementos de valor
abstrato e geral, pois dizem respeito as rela~oes entre as ideias. Semantemas e morfemas
guardam entre si rela~oes muito estreitas, muitas vezes sendo dificil separa-los; contudo
e necessaria a distin~ao para apreciar 0 valor de ambos. Neste sentido, parece possivel
considerar-se que os semantemas, enquanto ideias, pertencem ao lexico, e os modemas,
enquanto rela~oes, a morfologia.
No estruturalismo, a morfologia derivacional foi conceituada como a parte da
gramatica de uma lingua que descreve a forma~ao e estrutura das palavras, do ponto de
vista sincronico independente da dedu~ao dos elementos lexicais que historicamente
figuram nas palavras; ja as propostas nao-estruturalistas procuram verificar as formas
pelas quais a estrutura morfol6gica pode ser vista como objeto da mudan~a lingliistica e
a luz que essa mudan~a irradia nos sistemas morfol6gicos sincronicos.
Basilio (1980) diz que no modelo da teoria gerativo-transformacional, como
tambem na teoria lexicalista, a morfologia derivacional deve dar conta da competencia
do falante nativo no lexico de sua lingua, levando-se em considera~Ao cada palavra
como urn todo, nAo havendo lugar para urna morfologia derivacional conforme a
defmida tradicionalmente. 0 lexico apresentaria urna estrutura~Aosubjacente defmida,
sendo organizado de acordo com padroes especificos. As unidades basicas do lexico
seriam os radicais ou morfemas livres aos quais poder-se-ia ou nao pospor urn ou mais
tra~os categoriais.
Anderson (1992) enfatiza que a morfologia e 0 estudo das rela~oes entre
palavras, das unidades discretas que podem ser combinadas para formar palavras
complexas. A estrutura da palavra e dos seus constituintes implicam a elimina~Aodos
elementos de fronteira intema comuns nas discussoes morfol6gicas e os processos
derivacionais correspondem as Regras de Forma9ao de Palavras que operam
inteiramente dentro do lexico de uma lingua. A ideia e a de que ha urn sistema
estruturado de regras morfol6gicas dentro das linguas, subsidiando a organiza9ao dos
seus sistemas gramaticais, e a estrutura da palavra nao pode ser entendida como urn
produto interseccionando varias partes da gramlitica: fonologia, sintaxe, semfmtica e
lexico. Considera, 0 autor, a existencia de principios que definem 0 dominio gramatical
independentemente do fato de se poder localizar urn t6pico determinado da forma
convencional, resgardando-se, portanto, 0 lugar da morfologia na teoria gramatical;
sendo, ainda, tarefa da morfologia fomecer a ordem e a forma como as palavras sao
compostas e rtllacionadas entre si.
Ortega (1990), ao tratar da sintaxe intema e extema das palavras complexas,
diz que quando desencadeia-se urnprocesso de afixa~ao ou composi~Aoassiste-se a urn
fato, em principio, puramentemorfol6gico que tern sua proprias regras sinmticas de
combina~ao morfematica. Essas regras constituem a sintaxe interna da palavra.
Entretanto 0 processo de afixa~Ao em sua etapa final, quando 0 afixo ou
elemento adjungido encontra-se na cabe~a ou nucleo da palavra, desencadeia uma serie
de opera~Oesrelacionadas com a sintaxe oracional que ultrapassam 0 ambito da palavra.
Essas opera~Oes constituem a sintaxe externa da palavra e incidem na configura~ao
canonica da ora~ao muitas vezes determindas por mudan~as formais (categoriais) da
palavra. Assim tra~os de carater sintatico marcam os sufixos ja no lexico. Nurna ora~ao
como:
Joao (SNAg) bebe agua (SNO!Tema)
.......................-veI...
[+V-:]: subcategoriza-se urna base[+V---J
[+Adj]: marca-se ja no lexico esse sufixo com 0 tra~o categorial
[+Adj], bebe [(Ag) (Tema)]+ bebivel: 0 produto morfol6gico e a somat6ria da
imposi~ao dos tra~os do nucleo da palavra; isto e, dos tra~os sintaticos que absorve e
subsidia (propicia) 0 aparecimento (a adjun~ao) do tra~o categorial em questao. A nova
palavra sera urn adjetivo com determinadas caracteristicas verbais (aquele que absorveu
o suflXoda base a que se associou). A esse processo da-se 0 nome de sintaxe intema da
palavra; ou seja, e a parte dedicada a combinat6ria sintatica que guarda as regras de
forma~ao de palavras.
Paralelamente produz-se um processo pelo qual ao formar-se 0 adjetivo, um
dos argumentos do verbo, 0 Agente no caso, e elidido e 0 outro argumento, no caso 0
Tema passa a ocupar a posi93.0 sintatica de SNAg de uma Ora93.0 Predicativa. Por
exemplo: A ligua e bebivel. Esse processo sintlitico e proprio ao que se tem chamado de
sintaxe extema da palavra: urna parte da morfologia lexical que e indubitavelmente
pertinente a sintaxe oracional.
Dar conta da criatividade lexical consiste-se no objetivo a ser atingido quando
se procura verificar as maneiras pelas quais se expressam a rela93.0 entre a morfologia e
a sintaxe. Sincronicamente e em se tratando da sintaxe interna, as regularidades
sintliticas sistemliticas relacionadas com a forma93.0 de determinados tipos de palavras
permitem predizer que palavra pode ou n3.o ser criada. Apesar disso, pode-se formular
as caracteristicas sintliticas proprias de uma palavra derivada pelo fato de esta pertencer
a urn tipo morfologico determinado.
A deriva93.0 morfologica caracteriza-se ou pela conserva93.0 total dos
constituintes, ou pel a conserva93.0 parcial dos constituintes; ou, ainda, pelo acrescirno
de um novo constituinte. A guisa de exemplifica93.0: Os pedreiros constroem as casas e
A constru93.0 das casas pelos pedreiros; Os politicos criticam as decisoes
govemamentais e As decisoes govemamentais S3.0 criticliveis; A roupa e larga e A
roup a e alargada pela costureira.
As fun90es gramaticais, por sua vez, como sujeito e objeto podem associar-se a
papeis temliticos como sujeito ou objeto da a93.0, origem da a93.0 etc, havendo dois
fatores que determinam os papeis exercidos pelos sintagmas nominais: as propriedades
semfmticas inerentes as pe9as lexicas que S3.0 nucleo de seu sintagma e as fun90es
grarnaticais exercidas pelos proprios sintagmas dentro das ora90es.
As afixa90es apreciativa e avaliativa (diminutivos, aumentativos, pejorativos)
ainda S3.0,segundo Ortega (1990), problemas cllissicos para as linguas romanicas. Do
ponto de vista semantico, esses afixos S3.0considerados como um procedimento lexical,
pertencentes a um sub-con junto dos afixos derivacionais. Este fato semantico
corresponde a urn fato gramatical relevante: os sufixos apreciativos n3.o mudam a
categoria lexical da base a que se agregam.
Os sufixos diminutivos como -inha e aumentativos como -issimo transmitem
conteudos nocionais de carater conotativo, fazendo parte da fun93.0 expressiva e
emotiva da lingua gem sendo 0 referente 0 mesmo da base lexica.
Por outro lado, os sufixos aumentativos
como -an9a, -udo, -ado e os
diminutivos -ete, -eta irnprirnem conteudos apreciativos e depreciativos as bases a que
se agregam. Por exemplo:
1. La as figurinhas de jomal, aqui, as figuran~as do jomalismo.
2. Se e que 0 'Constitucional' ainda se anima li escrever artigos de fundo,
deante do ferrete armado do Conde de Oeiras.
3. lancei um olhar de esguelha para as irnedia90es do Mercadinho
4. Ah leitores, leitores, nem urn pedacinho de tarde se pode gosar aspirando
5. Havia ali bastante gente, na maioria roupetas cobrindo hombros fradescos
do semimlrio S. Jose
6. Exortamos 0 seu autor a que continue a affagar as musas, mormentc agora
que as louquinhas andao espavoridas, pela coroa~ao de Mercurio-rei absoluto que
impera sobre tudo e todos
7. urn completo sortimento de jaquetoes proprios para a csta~ao invemosa, e
cal~as de casimira de cor de todos os gostos e excellente quaJidade
8. as mais modemas c de gosto apuradissimo, gravatas clegantcs, regatas, a
Jockey Club, de crepe, fustao branco e de cores, de surah, percale e mais variedades de
gostos modemissimos
9. Este e 0 seculo
do rechonchudo redactor do Apostolo, dos endinheirados
c dos baroes
Os dados parecem demonstrar a necessidade de se fazer a rela~ao entre 0 valor
diminutivo ou aumentativo de urn sufixo e 0 seu valor apreciativo e/ou depreciativo
como propoe Rio-Torto (1993: 72).
A descri~lio apresentada ate aqui contemplou a ocorrencia de sufixos
diminutivos e aumentativos coadunando-se com a literatura corrente que afirma que os
chamados afixos apreciativos nlio mudam a classe gramatical da base a que adjungidos.
Entretanto, observe-se os seguintes exemplos:
1. vende-se urn grande material [[em born uso] e [barato] ]
.
A~.
2. ao Hotel do Commercio ...vende [[a dinheiro] e [barato] ] para vender muito
Adj.
3. os retratos de photographia simples timo-se ainda [pelo [pre~o baratissimo]]
Adj.
4. desconfiao [da barateza [do Gaucho]]
N
5. [A barateza [dos pre~os]]
N
6. urn grande armazem de seccos e molhados, ferragens, que vende [a [pre~os
baratissimos ]]
Adj
7. serviu bem os seus freguezes [[em boas obras] e [em barateza]]
N
8. especiaJista no fabrico de grades, portoes, bandeiras para portas, tumulos,
carramanchOes, etc., a vontade,[[gosto] e [barateza]]
N
9. que trabalha com perfei~ao e que vende [por [pre~os baratissimos]]
Adj.
10. Pexinchas! [A casa [da barateza]], em Morretes
N
II. A loja [do barato]. Aparentemente foi elidido neste exemplo 0 substantivo
'pre~o' ao qual 0 Adjetivo 'barato' esta qualificando.
Autores como Mattoso Camara (1976:222) dizem que -ez, -ez(a) foram formas
produtivas no Latim vulgar. Sandmann (1991: 34), por sua vez, diz que 'os sufixos
nomina is que se mostraram pouco produtivos foram, dentre eles -eza, como em: a
moreneza do socialismo de Brizola'. 0 autor diz ainda, a pagina 70, que fa utiliza~ao de
sufixos
como
-issimo (a), -errimo (a), -udo (a), -ice e -eza no Portugues
contemponineo
reunem as
fun~oes
de linguagem expressiva
e apelativa as
representativa e de apelo, ressaltando a for~a (for~a estilistica) do conteudo de unidades
lexicais'.
Tereja (1979) diz que a deriva~ao sufixal deve ser vista sob duas 6ticas
complementares:
0 aspecto categorial
ou de classes de palavras e seu aspecto
significativo ou semantico; somando-se a isto a necessidade de se averiguar se 0
adjetivo que e a forma-base para a nominaliza~ao realiza-se como uma fun~ao atributiva
ou predicativa.
o adjetivo, passa a ocupar uma posi~ao independente e do ponto de vista
lexical adquire uma autonomia semantica, quando funciona como predicativo; supondose para isso ao menos duas etapas: passagem do adjetivo atributivo para predicativo e de
fun~ao predicativa a substantiva~ao nominalizadora. Assim em 'la altura de esta
montanha', 0 vocabulo ou lexema 'altura' que significa 'dimensao vertical' pressupoe
como primeira etapa que a 'montanha' tenha a 'qualidade de ser alta' e que esta qualidade
tenha-se nominalizado como 'altura'.
Nesse processo produz-se uma mudan~a de fun~ao sintatica que carrega a
deriva~ao lexical nas suas duas vertentes: categorial e semantica.
A forma 'barateza' utilizada no Portugues jornalistico do seculo XIX, em
desuso ou pouco utilizada no seculo atual, parece ter urn comportamento paralelo ao
descrito por Tereja. Neste sentido vai tambem a proposta de Faitelson-Weiser,
apresentada em Rio-Torto (1993: 87) que propoe a existencia do que chamou de
'lexicaliza~ao exocentrica heter6gena'; isto e, ocorre a lexicaliza~ao exocentrica
heter6gena quando por efeito de urn sufixo pre-categorizador, 0 derivado passa a nao
mais pertencer a mesma especie gramatical e nem ao mesmo campo de defini~ao
semantic a da base.
As tres formas, baratol barateza/ baratissimo, co-ocorrentes no seculo XIX,
permitem 0 estabelecimento de uma grada~iio:
normaL
superlativo
barato
+
barateza
baratissimo
+
Observa-se tambem que 0 sufixo -eza muda a classe gramatical da base a que
se agrega nao ocorrendo 0 mesmo quando se adjunge 0 SUflXO -issimo. Assim:
barato (Adj.) -+ baratissimo (Adj.)
barato (Adj.) -+ barateza (N)
A descri~ao dos fatos lingiiisticos
do Portugues daquele seculo permite
observar que 0 ultimo par apresenta mudan~as de fun~iio sintatica e semantica em
rela~ao a sua forma-base, e que sobretudo procede, para 0 Portugues, 0 argumento de
que os sufixos apreciativos e avaliativos apresentam duas realidades distintas: aqueles
que niio mudam de classe gramatical (diminutivos e aumentativos nas suas formas
sinteticas) e aqueles que mudam a classe gramatical da base a que se agregam, nao
justificando
literatura ate
0
0
tratamento
momento.
dado aos sufixosapreciativos
e avaliativos
encontrados
na
RESUMO: A descri~iio dos Jatos lingiUsticos observados, no Portugues do seculo XIX,
permite argumentar que os SUflXOS apreciativos e avaliativos apresentam duas
realidades distintas: aqueles que niio mudam de classe gramatical e aqueles que
mudam a classe gramatical da base a que se agregam, noo justificando 0 tratamento
dado aos SUflXOSapreciativos e avaliativos encontrado na literatura atual.
PALA VRAS-CHA VE:
Gramaticais.
Morfologia
Derivacional,
AflXa~iio,
SUflXOS, Unidades
ANDERSON, S.R. A - Morphous Morphology. Cambridge Studies in Linguistics, 62.
Cambridge University Press. 1992.
BASiLIO, M. Estruturas Lexicais do Portugues: uma abordagem gerativa. Ed.
Vozes Ltda. Petr6polis (outras edi~oes: 1979,1988) 1980.
CAMARA Jr., J. M. Principios de Lingiiistica Geral. Livraria Academica: 43 ed. Rio
de Janeiro. 1974.
-----Historia e Estrutura da Lingua Portuguesa. Padrao Livraria Editora Ltda. Rio
de Janeiro. 1976.
ORTEGA, S.V. Fundamentos de Morfologia. Editorial Sintesis. Espanha. 1990.
RIO-TORTO, G. M. O. S. Forma~iio de palavras em portugues. Aspectos da constru~o
de avaliativos. Tese de Doutorado. Universidade de Coimbra. Portugual. 1993.
SANDMANN, A. J. Competencia Lexical - produtividade, restri~oes e bloqueio.
Editora UFPR. Curitiba. ·1991.
TEREJA, A. D. Gramatica y Derivaci6n Lexical, in Revista Espanola de Lingiiistica
(R.S.E.L.). ADo 9. Fasc. 2. 1979.
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