04 - XX Congresso Brasileiro de Economia Doméstica

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A HISTÓRIA DA SAÚDE PÚBLICA BRASILEIRA NOS ANOS DE 1982
A 1988: O OLHAR DA REVISTA VEJA
Lívia Louísi Arruda da Silva1
Renata Souza Rolim2
Jacqueline Lima da Costa3
Fabiane Alves Regino 4
Raquel de Aragão Uchôa Fernandes5
RESUMO
A Revista Veja, criada em plena ditadura brasileira no ano de 1968, aborda temas diversos do
cotidiano da sociedade brasileira e tem grande visibilidade na imprensa do nosso país,
apresentando reportagens de caráter político, econômico, cultural, entre outros (MARQUES,
2007) e da saúde, que será o enfoque deste trabalho. O objetivo desta pesquisa foi analisar e
reconstruir a história da saúde pública no Brasil a partir dos principais momentos
apresentados pela Revista Veja no período de 1982 a 1988, sendo elaborado a partir de
revisão bibliográfica acerca do tema e análises dos conteúdos das matérias relacionadas à
saúde publicadas na Revista Veja, nas edições de número 696 a 1060. Por questões
metodológicas elencamos de forma aleatória, importantes eventos da saúde brasileira e que
deram base para as compreensões das matérias publicadas na Revista Veja, quais sejam: a
criação da Abrasco no ano de 1979 e do SUS em 1988, Movimento Sanitarista de 1986 e a
instituição da Constituição Federal Brasileira de 1988. Baseados nos eventos descritos acima,
a Revista Veja trás na capa da Edição 741, de outubro de 1982, a vitória do então presidente
João Figueiredo, abordando como grande conquista da população brasileira de voltar a
escolher seus presidentes e governadores pelo voto direto. A Revista coloca que dentre as
tantas “façanhas” concretizadas pelo presidente eleito, dá-se um destaque a ruptura com a
ditadura. Essa reportagem quando comparada ao contexto do final da década de 1970, deveria
retratar com maior ênfase a conquista das camadas populares brasileira, que se mobilizaram
exigindo liberdade, democracia e eleições diretas para a Presidência. Mas, na verdade se
limita a noticiar a vitória do presidente, João Figueiredo (1979-1985), que na realidade se viu
obrigado a acelerar a democratização do país. Nesse momento temos também o fim da
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Graduanda em Economia Doméstica (UFRPE) - E-mail: [email protected]
Graduanda em Economia Doméstica (UFRPE) - E-mail: [email protected]
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Graduanda em Economia Doméstica (UFRPE) - E-mail: [email protected]
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Economista Doméstica (UFV). Mestra em Ciências Sociais (UFBA). Professora Assistente do Depto. de
Ciências Domésticas da UFRPE - E-mail: [email protected]
5
Economista Doméstica (UFV). Mestra em Extensão Rural (UFV). Professora Assistente do Depto. de Ciências
Domésticas da UFRPE - E-mail: [email protected]
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censura pela imprensa, os sindicatos ganharam maior liberdade e autonomia e as greves
voltaram a marcar presença no cotidiano das cidades brasileiras (FILHO, 2008). Na edição
947 de outubro de 1986 há uma reportagem sobre as fábricas de bolsas para sangue, que
segundo estudos realizados pela Abrasco não possuem higienização adequada para
funcionarem. Dessas transfusões mal higienizadas provêm determinadas doenças como a
AIDS, malária, doença de Chagas e hepatite do tipo B. Após um ano desta publicação, na
edição 996 de outubro de 1987, a Revista Veja traz novamente esta temática, pois um novo
estudo feito pela Abrasco constatou que as transfusões e armazenamentos de sangue ainda
estavam sendo realizados de forma errônea, sem os cuidados microbiológicos necessários
para a respectiva coleta. As reportagens não revelam todo o contexto da época, pois, não
retratam a organização dos profissionais de saúde em defesa da profissão e direitos dos
pacientes, que resultou na criação da Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde
Coletiva (Abrasco) em 1979 e do Centro Brasileiro de Estudos da Saúde (Cebs) em 1976. A
partir dessas Associações desenvolveu-se o chamado Movimento Sanitarista em 1986, que
teve como produto principal a elaboração de um documento intitulado “Pelo direito
universal à saúde”. Ele ressaltava a necessidade do Estado Brasileiro se comprometer
definitivamente com a saúde da população. Esse Movimento de extrema importância para a
história da saúde pública brasileira, em nenhum momento é discutido ou apresentado nas
reportagens da Revista Veja dos anos referentes (FILHO, 2008). Publicado na Edição 1.039
de agosto de 1988, no caderno de medicina uma matéria aborda a temática da esquizofrenia,
relatando a descoberta de cientistas londrinos do gen causador desta doença. A criação do
Sistema Único de Saúde (SUS) não foi mencionada nas edições pesquisadas desse ano,
valendo salientar que este acontecimento foi um dos maiores ocorridos na saúde pública no
Brasil. O SUS é um dos maiores sistemas públicos de saúde do mundo, que abrange desde o
atendimento ambulatorial até o transplante de órgãos, garantindo acesso integral, universal e
gratuito para toda a população do país. Criado em 1988 pela Constituição Federal Brasileira,
visa oferecer consultas, exames e internações, buscando promover campanhas de vacinação e
ações de prevenção e de vigilância sanitária, para atingir, assim, a vida de cada um dos
brasileiros (TRINDADE, 2005). Nessa mesma edição, é possível perceber que o ano de 1988
representou um marco importante na sociedade brasileira, relacionados tanto a questões
sociais, econômicas e políticas. Um exemplo disso foram às ações ocorridas na gestão do
então presidente José Sarney, que se tornou popular pela criação do Plano Cruzado, que
segundo a Veja, representou a princípio um sucesso, mas que não demorou muito para
despencar, com a queda do Plano Cruzado, gerando uma inflação que chegou a 1% ao dia. A
matéria traz que Sarney já não era mais visto com bons olhos pelos parlamentares, esta
indisposição entre eles ficou clara numa votação realizada na Assembléia a favor ou não da
nova Constituinte. Sarney perdeu por 403 a 13, e a nova Constituinte entrou em vigor levando
o então presidente da Assembléia Ulysses Guimarães ao segundo turno. Dentre as reportagens
analisadas pode-se ressaltar que a Revista Veja não aborda todos os fatos importantes
ocorridos na saúde pública nos períodos investigados e elencados nesse trabalho, como o
Movimento Sanitarista e o SUS, que foram apenas mencionados em reportagens posteriores
as suas criações, não os identificando e pondo em pauta suas relevâncias. Portanto, as
reportagens focam fatos pontuais, mas inviabilizam todo o importante movimento de
construção das políticas públicas de saúde neste período.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
FILHO, C. B. História da saúde pública no Brasil. 4. Ed. SP: Ed. Ática, 2008.
LIMA, N. T. Saúde e Democracia. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2005.
MARQUES, M. S. C. Envelhecimento na Revista Veja. SP, 2007, 13 p.
REVISTA VEJA. O grande vitorioso. A vitória da abertura. São Paulo, n. 741, p. 36-40; p.
105, nov. 1982. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/acervodigital/>. Acesso em: 17 jun.
2009.
REVISTA VEJA. A cor do perigo. O medo do contágio: como se prevenir nas transfusões
de sangue. São Paulo, n. 996, p. 68-74, out. 1987. Disponível em:
<http://veja.abril.com.br/acervodigital/>. Acesso em: 24 jun. 2009.
REVISTA VEJA. Ferida, a fera fere. As manobras contra a Constituinte. São Paulo, n.
1.039, p. 32-44; p. 75, ago. 1988. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/acervodigital/>.
Acesso em: 06 jul. 2009.
REVISTA VEJA. Perigo a menos: governo interdita fábricas de bolsas para sangue. Reforma
no Cruzado. São Paulo, n. 947, p. 79, out. 1986. Disponível em:
<http://veja.abril.com.br/acervodigital/>. Acesso em: 21 jul. 2009.
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