UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM QUÍMICA Estudo sobre o uso do NbCl5 como ácido de Lewis em reações de Diels-Alder no anel furano Deborah Araujo dos Santos Dissertação de Mestrado em Química Vitória 2013 Deborah Araujo dos Santos Estudo sobre o uso do NbCl5 como ácido de Lewis em reações de Diels-Alder no anel furano Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Química do Centro de Ciências Exatas da Universidade Federal do Espírito Santo como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Química, na área de Química Orgânica. Orientador: Prof. Dr. Valdemar Lacerda Júnior. VITÓRIA 2013 Estudo sobre o uso do NbCl5 como ácido de Lewis em reações de Diels-Alder no anel furano Deborah Araujo dos Santos Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação em Química da Universidade Federal do Espírito Santo como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Química. Aprovado(a) em 30/08/2013 por: __________________________________________ Prof. Dr. Valdemar Lacerda Júnior Universidade Federal do Espírito Santo Orientador __________________________________________ Prof. Dr. Kleber Thiago de Oliveira Universidade Federal de São Carlos __________________________________________ Prof. Dr. Reginaldo Bezerra dos Santos Universidade Federal do Espírito Santo Universidade Federal do Espírito Santo Vitória, agosto de 2013 Aos meus pais por terem me dado asas e me ensinado a voar. AGRADECIMENTOS Aos meus pais e à toda a minha família pelo apoio, compreensão e carinho sempre. Aos amigos feitos durante o curso. Em especial ao Thieres por ser além de namorado, um grande amigo. A todos os colegas de laboratório com os quais eu tive a oportunidade de conviver por todos esses anos. Principalmente à Ludmila por ter me acompanhado desde o início neste projeto. Ao Prof. Dr. Valdemar pela orientação e por todo o aprendizado proporcionado ao longo de quatro anos. À todos os professores do LPQO/LSO&M pela orientação direta e indireta. E aos outros professores do DQUI por contribuir com a minha formação. Ao Prof. Dr. Kleber e ao Prof. Dr. Reginaldo por aceitarem prontamente participar da banca de avaliação. À CBMM por fornecer parte do NbCl5 utilizado nas reações. Ao LabPetro DQUI/UFES pelas análises de ressonância magnética nuclear e infravermelho. Ao PPGQUI e DQUI pelo espaço cedido e financiamento para a participação em congressos. À CAPES pela bolsa. “A lei de ouro do comportamento é a tolerância mútua, já que nunca pensaremos todos da mesma maneira, já que nunca veremos senão uma parte da verdade e sob ângulos diversos.” Mahatma Gandhi LISTA DE FIGURAS Figura 1. Estrutura do NbCl5 no estado sólido. ......................................................... 22 Figura 2. Representação dos possíveis estados de transição da cicloadição de Diels-Alder. ................................................................................................................ 28 Figura 3. Interação em fase dos orbitais de fronteira do par dieno-dienófilo. ........... 28 Figura 4. Diagrama representativo de energias dos pares dieno-dienófilo............... 29 Figura 5. Regiosseletividade da reação de Diels-Alder em termos da TOMF. .......... 30 Figura 6. Estereosseletividade da cicloadição [4+2] explicada pela TOMF. ............. 31 Figura 7. Influência do ácido de Lewis nos coefientes dos orbitais do dienófilo. ...... 32 Figura 8. Exemplos de dienos usados em síntese. .................................................. 33 Figura 9. Exemplos de dienófilos usados em síntese. .............................................. 35 Figura 10. Espectro de RMN de ¹H do produto 72aa. .............................................. 47 Figura 11. Espectro de RMN de ¹H do produto 72ba da reação 19 (vide Tabela 5). 49 Figura 12.Espectro de RMN de H¹ predito para o produto de substituição eletrofílica no 2-metil-furano (38b). ............................................................................................. 49 Figura 13. Espectro de RMN de ¹H do produto 72bb da reação 47 (vide Tabela 8). 53 Figura 14. Espectro de RMN de ¹H do produto 72ad da reação 49 (vide Tabela 10). .................................................................................................................................. 55 Figura 15. Espectro de RMN de ¹H do produto 72ad da reação 51 (vide Tabela 10). .................................................................................................................................. 56 Figura 16. Espectro de RMN de ¹H do produto 72ad da reação 53 (vide Tabela 10). .................................................................................................................................. 56 Figura 17. Espectro de RMN obtido para o produto da reação entre 38a e 71e. ..... 58 Figura 18. Espectro de RMN de ¹H predito para o aduto 72ae................................. 58 Figura 19. Acetaldeído complexado com um ácido de Lewis numa relação anti com o grupo alquil. ............................................................................................................ 59 Figura 20. Espectro de IV do produto 72aa da reação 5 (vide Tabela 3). ................. 62 Figura 21. Espectro de RMN de ¹H do produto 72aa da reação 5 (vide Tabela 3) ... 63 Figura 22. Espectro de RMN de ¹³C do produto 72aa da reação 5 (vide Tabela 3) .. 64 Figura 23. Espectro de COSY do produto 72aa da reação 5 (vide Tabela 3) ........... 65 Figura 24. Espectro de HSQC do produto 72aa da reação 5 (vide Tabela 3) ........... 65 Figura 25. Espectro de RMN de ¹H do produto 72aa da reação 1 (vide Tabela 3). .. 66 Figura 26. Espectro de RMN de ¹H do produto 72aa da reação 2 (vide Tabela 3). .. 67 Figura 27. Espectro de RMN de ¹H do produto 72aa da reação 3 (vide Tabela 3). .. 67 Figura 28. Espectro de RMN de ¹H do produto 72aa da reação 4 (vide Tabela 3). .. 68 Figura 29. Espectro de RMN de ¹H do produto 72aa da reação 6 (vide Tabela 3). .. 68 Figura 30. Espectro de RMN de ¹H do produto 72aa da reação 7 (vide Tabela 3). .. 69 Figura 31. Espectro de RMN de ¹H do produto 72aa da reação 8 (vide Tabela 3). .. 69 Figura 32. Espectro de RMN de ¹H do produto 72aa da reação 9 (vide Tabela 3). .. 70 Figura 33. Espectro de RMN de ¹H do produto 72aa da reação 10 (vide Tabela 3). 70 Figura 34. Espectro de RMN de ¹H do produto 72aa da reação 11 (vide Tabela 3). 71 Figura 35. Espectro de RMN de ¹H do produto 72aa da reação 12 (vide Tabela 3). 71 Figura 36. Espectro de RMN de ¹H do produto 72aa da reação 13 (vide Tabela 3). 72 Figura 37. Espectro de RMN de ¹H do produto 72aa da reação 14 (vide Tabela 3). 72 Figura 38. Espectro de RMN de ¹H do produto 72aa da reação 15 (vide Tabela 3). 73 Figura 39. Espectro de RMN de ¹H do produto 72aa da reação 16 (vide Tabela 3). 73 Figura 40. Espectro de RMN de ¹H do produto 72aa da reação 17 (vide Tabela 3). 74 Figura 41. Espectro de RMN de ¹H do produto 72aa da reação 18 (vide Tabela 3). 74 Figura 42. Espectro de IV do produto 72ab da reação 42 (vide Tabela 6)................ 75 Figura 43. Espectro de RMN de ¹H do produto 72ab da reação 42 (vide Tabela 6). 76 Figura 44. Espectro de RMN de ¹³C do produto 72ab da reação 42 (vide Tabela 6). .................................................................................................................................. 77 Figura 45. Espectro de COSY do produto 72ab da reação 42 (vide Tabela 6). ........ 78 Figura 46. Espectro de HSQC do produto 72ab da reação 42 (vide Tabela 6)......... 78 Figura 47. Espectro de RMN de ¹H do produto 72ab da reação 27 (vide Tabela 6). 79 Figura 48. Espectro de RMN de ¹H do produto 72ab da reação 28 (vide Tabela 6). 80 Figura 49. Espectro de RMN de ¹H do produto 72ab da reação 30 (vide Tabela 6). 80 Figura 50. Espectro de RMN de ¹H do produto 72ab da reação 31 (vide Tabela 6). 81 Figura 51. Espectro de RMN de ¹H do produto 72ab da reação 33 (vide Tabela 6). 81 Figura 52. Espectro de RMN de ¹H do produto 72ab da reação 34 (vide Tabela 6). 82 Figura 53. Espectro de RMN de ¹H do produto 72ab da reação 36 (vide Tabela 6). 82 Figura 54. Espectro de RMN de ¹H do produto 72ab da reação 37 (vide Tabela 6). 83 Figura 55. Espectro de RMN de ¹H do produto 72ab da reação 38 (vide Tabela 6). 83 Figura 56. Espectro de RMN de ¹H do produto 72ab da reação 39 (vide Tabela 6). 84 Figura 57. Espectro de RMN de ¹H do produto 72ab da reação 40 (vide Tabela 6). 84 Figura 58. Espectro de RMN de ¹H do produto 72ab da reação 41 (vide Tabela 6). 85 Figura 59. Espectro de RMN de ¹H do produto 72ab da reação 43 (vide Tabela 6). 85 Figura 60. Espectro de RMN de ¹H do produto 72ab da reação 44 (vide Tabela 6). 86 Figura 61. Espectro de IV do produto 72ad da reação 49 (vide Tabela 10).............. 87 Figura 62. Espectro de RMN de ¹H do produto 72ad da reação 49 (vide Tabela 10). .................................................................................................................................. 88 Figura 63. Espectro de RMN de ¹³C do produto 72ad da reação 49 (vide Tabela 10). .................................................................................................................................. 89 Figura 64. Espectro de COSY do produto 72ad da reação 49 (vide Tabela 10). ...... 90 Figura 65. Espectro de HSQC do produto 72ad da reação 49 (vide Tabela 10)....... 90 Figura 66. Espectro de RMN de ¹H do produto 72ad da reação 50 (vide Tabela 10). .................................................................................................................................. 91 Figura 67. Espectro de RMN de ¹H do produto 72ad da reação 51 (vide Tabela 10). .................................................................................................................................. 92 Figura 68. Espectro de RMN de ¹H do produto 72ad da reação 52 (vide Tabela 10). .................................................................................................................................. 92 Figura 69. Espectro de RMN de ¹H do produto 72ad da reação 53 (vide Tabela 10). .................................................................................................................................. 93 Figura 70. Espectro de RMN de ¹H do produto 72ad da reação 54 (vide Tabela 10). .................................................................................................................................. 93 LISTA DE TABELAS Tabela 1. Principais minerais de nióbio com suas respectivas composições e teores de Nb2O5. .................................................................................................................. 19 Tabela 2. Registros de publicação nos últimos 10 anos sobre a reação de DielsAlder na Web of Science®. ....................................................................................... 27 Tabela 3. Rendimentos e proporções endo:exo de 72aa. ......................................... 46 Tabela 4. Comparação do melhor resultado de 72aa com diferentes metodologias descritas na literatura. ............................................................................................... 47 Tabela 5. Porcentagem de massa recuperada das reações entre 38b e 71a. .......... 48 Tabela 6. Rendimentos e proporções endo:exo de 72ab.......................................... 50 Tabela 7. Comparação do melhor resultado de 72ab com diferentes metodologias descritas na literatura. ............................................................................................... 51 Tabela 8. Rendimentos das reações entre 38b e 71b. ............................................. 52 Tabela 9. Comparação de diferentes condições reacionais para a obtenção de 72ac. .................................................................................................................................. 54 Tabela 10. Rendimentos e proporções endo:exo de 72ad........................................ 54 Tabela 11. Comparação do melhor resultado de 72ad com diferentes metodologias descritas na literatura. ............................................................................................... 57 Tabela 12. Principais bandas de IV do aduto 72aa. .................................................. 62 Tabela 13. Atribuição dos sinais do espectro de RMN de ¹H do aduto 72aa endo. .. 63 Tabela 14. Atribuição dos sinais do espectro de RMN de ¹H do aduto 72aa exo. .... 63 Tabela 15. Atribuição dos sinais do espectro de RMN de ¹³C do aduto 72aa endo.. 64 Tabela 16. Atribuição dos sinais do espectro de RMN de ¹³C do aduto 72aa exo. ... 64 Tabela 17. Principais bandas de IV do aduto 72ab................................................... 75 Tabela 18. Atribuição dos sinais do espectro de RMN de ¹H do aduto 72ab endo... 76 Tabela 19. Atribuição dos sinais do espectro de RMN de ¹H do aduto 72ab exo ..... 76 Tabela 20. Atribuição dos sinais do espectro de RMN de ¹³C do aduto 72ab endo . 77 Tabela 21. Atribuição dos sinais do espectro de RMN de ¹³C do aduto 72ab exo .... 77 Tabela 22. Principais bandas de IV do aduto 72ad................................................... 87 Tabela 23. Atribuição dos sinais do espectro de RMN de ¹H do aduto 72ad endo... 88 Tabela 24. Atribuição dos sinais do espectro de RMN de ¹H do aduto 72ad exo ..... 88 Tabela 25. Atribuição dos sinais do espectro de RMN de ¹³C do aduto 72ad endo . 89 Tabela 26. Atribuição dos sinais do espectro de RMN de ¹³C do aduto 72ad exo .... 89 LISTA DE ESQUEMAS Esquema 1. Reação de condensação catalisada pelo pentóxido de nióbio hidratado. .................................................................................................................................. 21 Esquema 2. Reação de homologação de β-ceto ésteres. ........................................ 22 Esquema 3. Reação de Diels-Alder catalisada pelo pentacloreto de nióbio. ............ 23 Esquema 4. Ciclização do (R)-citronelal na presença de NbCl5. .............................. 23 Esquema 5. Reação de Diels-Alder catalisada pelo NbCl5 fornecendo um intermediário na síntese da Bakkenolida A. .............................................................. 24 Esquema 6. Reação de Mannich catalisada pelo NbCl5........................................... 24 Esquema 7. Cianosililação de aldeídos e cetonas com o NbCl5. ............................. 24 Esquema 8. Substituição nucleofílica de álcoois benzílicos catalisadas pelo NbCl5.25 Esquema 9. Síntese de α-aminonitrilas catalisadas pelo NbCl5. .............................. 25 Esquema 10. Síntese de derivados de piranoquinolinas. ......................................... 25 Esquema 11. Acetilação de álcoois catalisada pelo pentacloreto de nióbio. ............ 26 Esquema 12. Reação de Diels-Alder clássica. ......................................................... 26 Esquema 13. Tipos de espécies que participam da reação de Diels-Alder. ............. 34 Esquema 14. Reação de cicloadição [4+2] com o furano......................................... 35 Esquema 15. Síntese do primeiro oxabiciclo via reação de cicloadição. .................. 36 Esquema 16. Síntese do anel cicloexadienol (43). ................................................... 37 Esquema 17. Reação de Diels-Alder utilizando um aleno como dienófilo. ............... 37 Esquema 18. Reação entre o furano e um éter alenil. ............................................. 38 Esquema 19. Síntese do ácido ftálico 4,5-cis-diidrodiol. .......................................... 38 Esquema 20. Sintese do cicloexeno-1,6-dicarbaldeído (55). ................................... 38 Esquema 21. Reação de Diels-Alder intramolecular catalisada pela β-ciclodextrina. .................................................................................................................................. 39 Esquema 22. Síntese do alcalóide da classe das pirrolofenantridinas (59). ............. 39 Esquema 23. Síntese do núcleo isoindol[1,2-a]isoquinolina (62). ............................ 40 Esquema 24. Síntese do metil 1-metil-3-oxo-7-oxabiciclo[2.2.1]hept-5-en-2carboxilato (67).......................................................................................................... 40 Esquema 25. Síntese através de uma metodologia one-pot de 3-hidroxiftalatos (70). .................................................................................................................................. 40 Esquema 26. Componentes usados nas reações de Diels-Alder catalisada pelo NbCl5. ........................................................................................................................ 44 Esquema 27. Proposta de mecanismo representada para a reação de Diels-Alder entre o furano (38a) e o acrilato de metila (71a). ...................................................... 45 Esquema 28. Reação de Diels-Alder entre o 38a e 71c........................................... 53 Esquema 29. Possíveis reações entre 38a e 71e. ................................................... 57 Esquema 30. Mecanismo proposto para a substituição eletrofílica no furano catalisada pelo NbCl5. ............................................................................................... 59 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS β-CD – β-ciclodextrina BHT – di-terc-butil metil fenol CBMM – Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração CCD – Cromatografia em camada delgada CNTP – Condições normais de temperatura e pressão GDE – Grupo doador de élétrons GRE – Grupo retirador de elétrons HOMO – Orbital molecular ocupado de maior energia IV - Infravermelho LHC – Grande colisor de Hádrons (Large Hadron colider) LUMO – Orbital molecular desocupado de menor energia TOMF – Teoria dos orbitais moleculares de fronteira RMN de ¹H – Ressonância magnética nuclear de ¹H RMN de ¹³C - Ressonância magnética nuclear de ¹³C LISTA DE SÍMBOLOS δ – Deslocamento químico Δ - aquecimento d – dubleto dd – duplo dubleto ddd – duplo duplo dubleto dt – duplo tripleto Hz – Hertz J – constante de acoplamento m - multipleto ppm – Parte por milhão s – singleto RESUMO O presente estudo tem como objetivo avaliar o uso do pentacloreto de nióbio (NbCl5) como catalisador em reações de Diels-Alder entre o anel furano e alguns dienófilos reativos. Alguns parâmetros como, temperatura, tempo reacional e proporção de catalisador foram variados a fim de se encontrar as melhores condições reacionais para cada par dieno/dienófilo. Os compostos de nióbio apresentam acidez de Lewis comprovada por vários estudos. Em especial, o NbCl5 demonstrou boa atividade como catalisador em diversas reações orgânicas. Desde a sua descoberta em 1928, a cicloadição [4+2], ou reação de Diels-Alder é amplamente estudada e utilizada na construção de anéis de seis membros. O notável interesse nessas reações se dá devido à possibilidade de se obter moléculas com elevada complexidade estrutural em apenas uma etapa reacional. A reação de Diels-Alder empregando o anel furano como dieno fornece o 7-oxabiciclo[2.2.1]hept-5-eno, um intermediário na síntese de diversos produtos naturais como derivados do ácido chiquímico, terpenos, prostaglandinas, entre outros. Um problema associado a essas reações é a baixa reatividade do furano como dieno, com isso diversos estudos vem propondo o uso de catalisadores ácidos de Lewis e pressões elevadas com o intuito de melhorar os rendimentos reacionais e a seletividade. O + E O NbCl5 E H 7-oxabiciclo[2.2.1]hepteno Nas reações em que o furano foi o dieno e o acrilato de metila o dienófilo, rendimentos maiores que os descrito na literatura foram obtidos especialmente a baixas temperaturas; o NbCl5 não foi ativo em nenhuma das condições reacionais testadas com o maleato de dimetila; nas reações em que a acrilonitrila participou como dienófilo os rendimentos foram baixos e observou-se a formação de subprodutos, possivelmente resultado de polimerização; as reações com a 2-cloro-acrilonitrila também apresentaram rendimentos baixos, mas com inversão da seletividade em relação ao observado para os outros adutos; e com base em um estudo teórico reportado na literatura, realizou-se uma tentativa de efetuar uma hetero Diels-Alder com o acetaldeído como heterodienófilo, entretanto há evidências da formação do produto de substituição no anel. Quando o 2-metil-furano foi o dieno as reações apresentaram subprodutos, não havendo formação do cicloaduto. Palavras-chave: pentacloreto de nióbio, reação de Diels-Alder, furano. ABSTRACT The present study aims at evaluating the use of niobium pentachloride (NbCl 5) as catalyst in the Diels-Alder reactions between furan ring and some reactive dienophiles. The influence of reaction parameters such as temperature, time and ratio of catalyst were varied in order to find the best reaction conditions for each diene/dienophile pair. Niobium compounds present Lewis acidity and it was verified by several studies. In particular, NbCl5 has shown good activity as catalyst in many organic reactions. Since its discovery in 1928, the [4+2] cycloaddition, or the Diels-Alder reaction is widely studied and used to construct six-membered rings. The great interest in these reactions is due to the possibility of obtaining molecules with high structural complexity in only one reaction step. The Diels-Alder reaction of furan ring as diene provides the 7-oxabicyclo[2.2.1]hept-5-ene with an intermediate for the synthesis of various natural products, such as derivate of shikimic acid, terpenes and prostaglandins. An issue associated with these reactions is the low reactivity of furan, thereby a variety of studies have proposed the use of Lewis acids catalyst or high pressures in order to increase reaction yield and selectivity. O + E O NbCl5 E H 7-oxabicyclo[2.2.1]hept-5-ene In reactions in which furan was used as diene and the methyl acrylate was the dienophile, the yields were better than those described in the literature, especially when low temperatures were studied. The NbCl5 was not active in any reactional conditions using dimethyl maleate. In the reactions in which acrylonitrile participated as dienophile, yields were low and the formation of byproducts was observed, due to polymerization. The reaction with 2-chloro-acrylonitrile also showed low yields but with inversion of selectivity compared to that observed in the other adducts. Based on theoretical studies reported in the literature, there was an attempt to perform a hetero Diels-Alder reaction with acetaldehyde as heterodienophile. However, there was evidences of a product resulted from an aromatic substitution. When the 2-methylfuran was used as diene, reactions showed only by-products, with no adduct formation. Keyword: niobium penthacloride, Diels-Alder reaction, furan. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 18 1.1 Nióbio ........................................................................................................... 18 1.1.1 Propriedades e Ocorrência .................................................................... 18 1.1.2 Reservas e Produção ............................................................................ 20 1.1.3 Aplicações ............................................................................................. 21 1.1.4. NbCl5: Propriedades e Aplicações na Química Orgânica Sintética ........ 22 1.2 Reação de Diels-Alder ................................................................................. 26 1.2.1 Dienos e dienófilos ................................................................................ 32 1.2.2 Reações de Diels-Alder com o anel furano ........................................... 35 2. OBJETIVOS ....................................................................................................... 42 3. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL .................................................................. 43 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO .......................................................................... 45 5. CONCLUSÃO .................................................................................................... 60 6. PERSPECTIVA DE TRABALHOS FUTUROS .................................................... 61 7. SEÇÃO DE ESPECTROS.................................................................................. 62 8. 7.1. Metil 7-oxabiciclo[2.2.1]hept-5-eno-2-carboxilato (72aa).............................. 62 7.2. 7-oxa-biciclo[2.2.1]hept-5-eno-2-carbonitrila (72ab) ..................................... 75 7.3. 2-cloro-7-oxa-biciclo[2.2.1]hept-5-eno-2-carbonitrila (72ad)......................... 87 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 94 18 1. 1.1 INTRODUÇÃO Nióbio 1.1.1 Propriedades e Ocorrência O nióbio foi descoberto em 1801 pelo britânico Charles Hatchett em um minério encontrado em Massachusets (EUA). Até meados do século XX o nióbio também era conhecido como colúmbio (Cb). A partir de 1950 o nome nióbio foi oficialmente adotado pela IUPAC.1,2 O nióbio (Nb) é classificado como um metal de transição de número atômico 41 e massa atômica relativa de 92,9064, ele é mononuclídico, ou seja, tem ocorrência na natureza em apenas um nuclídeo apresentando somente um isótopo natural, o 93Nb. O nióbio metálico quando puro é relativamente maleável e dúctil, contudo, impurezas o torna rígido, ele possui densidade de 8,57 g/cm 3; nas CNTP encontra-se no estado sólido, seu ponto de fusão e de ebulição são de, respectivamente, 2468 °C e 4744 °C. O nióbio metálico é um dos metais mais resistentes a corrosão, inclusive em meios ácidos e em metais alcalinos fundidos.1,2 Embora o nióbio exiba todos os estados de oxidação formais do +5 ao -1, seu estado mais estável é o +5. O estado de oxidação +4 é observado em alguns compostos halogenados, enquanto que os estados +2 e +3 aparecem em compostos clusters.1 A abundância do nióbio na crosta terrestre é de 24 ppm. O nióbio não é encontrado no estado livre na natureza e sim na forma de minerais quase sempre associados ao tântalo, pois ambos possuem uma elevada afinidade geoquímica. A ocorrência do nióbio é conhecida em mais de 90 espécies minerais, dentre eles os que mais se destacam estão apresentados na Tabela 1. As principais fontes de nióbio no Brasil e no mundo são a columbita-tantalita e o pirocloro.1,2 19 Tabela 1. Principais minerais de nióbio com suas respectivas composições e teores de Nb 2O5. Mineral Composição Teor máximo de Nb2O5 (%) (Fe, Mn)(Nb, Ta2)O6 76 (Na3, Ca)2(Nb, Ti)(O, F)7 71 (Ba, Sr)2(Nb, Ti)2(O, OH)7 67 (Ce, Na, Ca)2(Ti, Nb)2O6 20 Columbita-Tantalita3 Pirocloro4 Bariopirocloro5 Loparita6 20 A columbita-tantalita geralmente é encontrada associada aos pegmatitos, isto é, são termos finais do magma granítico que não entram na rocha primeiramente cristalizada. Os pegmatitos são rochas plutônicas, resfriadas lentamente abaixo da superfície da Terra. Neles encontram-se diversos minerais como: quartzo, feldspato, mica, terras raras, gemas, cassiterita (estanho), tungstênio, além da columbitatantalita.2 O pirocloro é encontrado em carbonatitos associados a intrusões alcalinas do período cretáceo superior, da era mesozoica. Os carbonatitos são comumente compostos de um ou mais dos seguintes minerais: nióbio, níquel, cobre, titânio, vermiculita (silicatos hidratados de alumínio e magnésio), apatita (fosfato), terras raras, barita (sulfato de bário), fluorita (fluoreto de cálcio), tório e urânio.2 1.1.2 Reservas e Produção Até a metade do século XX, a produção de nióbio era restrita, pois ele era obtido como subproduto do tratamento das columbitas e tantalitas, isto implicava em um preço elevado e uso limitado em um tipo de aço inoxidável e algumas superligas. Uma modificação significativa neste cenário ocorreu com a descoberta de reservas de pirocloro no Brasil e no Canadá. Atualmente, as três maiores reservas exploradas no mundo estão localizadas no Brasil (Araxá, MG; Catalão e Ouvidor, GO) e no Canadá (Saint Honoré, Québec) e encontram-se associados aos complexos alcalinos carbonatíticos.2 O Brasil é detentor das maiores reservas mundiais de nióbio e também é o maior produtor, seguido pelo Canadá e Austrália. As reservas estão concentradas nos estados de Minas Gerais (75,08%) em Araxá e Tapira; Amazonas (21,34%) em São Gabriel da Cachoeira e Presidente Figueiredo e Goiás (3,58%) em Catalão e Ouvidor. O Brasil é autossuficiente na produção de nióbio desde 1993, com demanda suficiente para atender o mercado interno e suprir quase a totalidade do mercado externo. 2 Quase todo consumo de nióbio (90%) é direcionado à indústria siderúrgica que produz aços microligados, na forma de ferro nióbio, e aços resistentes ao calor. O restante da produção é destinado à fabricação de superligas a base de óxido de nióbio de elevada pureza e outras finalidades.2 21 1.1.3 Aplicações O nióbio apresenta diversas aplicações e usos principalmente na indústria siderúrgica e em setores de tecnologia.2 Na indústria siderúrgica o nióbio metálico e outros elementos como o titânio e o vanádio são utilizados na fabricação de ligas de alta resistência, pois eles mantêm propriedades desejáveis no aço como a soldabilidade, tenacidade e conformabilidade, que são prejudicadas em aços com teor elevado de carbono. No caso do nióbio, normalmente, as adições são de 400 g de nióbio para cada tonelada de aço. Esta liga é usada na construção de oleodutos, gasodutos, plataformas de petróleo, bem como na construção naval, indústria automobilística, construção civil e fabricação de reatores nucleares.1,2 O nióbio é também utilizado na produção de aços inoxidáveis que são utilizados principalmente na indústria de peças automotivas e aeronáutica. Os aços inoxidáveis com nióbio apresentam maior durabilidade em condições de trabalho com temperatura elevada.2 Uma propriedade importante do nióbio é a supercondutividade, com isso ele pode ser aplicado em seu estado puro em magnetos supercondutores que compõem aparelhos de ressonância magnética nuclear e em aceleradores de partículas subatômicas. No Grande Colisor de Hándrons (LHC), por exemplo, há magnetos compostos pela liga nióbio-titânio, essa liga também pode ser utilizada em implantes cirúrgicos devido à baixa interação do nióbio com fluidos corporais.1,2 O óxido de nióbio de alta pureza (99,9%) é usado na produção de capacitores cerâmicos, lentes ópticas, ferramentas, peças de motores e materiais resistentes ao calor e a abrasão.2 O pentóxido de nióbio hidratado foi utilizado na década de 80 pela empresa Sumitomo – que atua na área de mineração, siderurgia, química e farmacêutica – na produção do 2,5-dimetilexa-2,4-dieno (3), um intermediário importante na síntese de defensivos agrícolas, a partir da condensação do 2-metilpropeno (1) com o 2metilpropanal (2) (Esquema 1).7,8 Nb2O5.nH2O O -H2O 1 2 3 Esquema 1. Reação de condensação catalisada pelo pentóxido de nióbio hidratado. 22 Embora catalisadores contendo nióbio tenham sido estudados em diversas reações catalisadas por ácido e suas atividades avaliadas por meio de várias técnicas, eles ainda não são amplamente utilizados como catalisadores na prática.1 1.1.4. NbCl5: Propriedades e Aplicações na Química Orgânica Sintética O pentacloreto de nióbio (NbCl5) é um ácido de Lewis de força elevada cuja atividade como catalisador já foi estudada em diversas reações orgânicas. Ele pode ser preparado de maneiras variadas, a metodologia mais simples consiste na cloração direta do nióbio metálico a altas temperaturas (300-350 °C). O NbCl5 é um sólido amarelo que sofre hidrólise facilmente, resultando em HCl e NbOCl3 ou Nb2O5.nH2O. Ele é solúvel em solventes não aquosos, como álcoois e acetonitrila, e forma complexos estáveis com vários ligantes doadores.9 A estrutura do NbCl5 no estado sólido constitui-se de unidade diméricas, nas quais o metal está envolto por um octaedro distorcido de átomos de cloro. O dímero é representado como dois octaedros dividindo um dos lados (Figura 1).9 Cl Cl Cl Cl Cl Nb Nb Cl Cl Cl Cl Cl Figura 1. Estrutura do NbCl5 no estado sólido. A aplicações do NbCl5 como catalisador em reações orgânicas são extensas e alguns exemplos recentes estão descritos a seguir. Yamamoto et al. (1996)10 usa o NbCl5 como catalisador na síntese de γ-ceto ésteres (5) a partir da homologação de α-trialquilestanilmetil-β-ceto ésteres (4) (Esquema 2) com rendimentos ótimos em relação a outros ácidos de Lewis. O R 4 CO2Et O NbCl5 34-88% R SnR'3 Esquema 2. Reação de homologação de β-ceto ésteres. CO2Et 5 R'3SnCl 6 23 A abertura de epóxidos catalisada pelo pentacloreto de nióbio apresenta bons rendimentos, contudo os autores observaram pouca seletividade dos produtos, que sofreram adição de solvente e de cloreto, eliminação de H+ e rearranjos.11 Em um dos seus estudos sobre o uso do pentacloreto de nióbio como ácido de Lewis na síntese orgânica, Constantino et al. (2002)12 usa esse catalisador na reação de Diels-Alder entre diferentes dienos cíclicos e enonas como dienófilos. Os autores obtiveram sucesso apenas na reação entre o ciclopentadieno (7) e a cicloexenona (8) (Esquema 3). Para os outros pares dieno/dienófilo, ou a reação não se procedeu ou ocorreram substituições eletrofílicas nos anéis. O O NbCl5 42-74% 7 8 9 Esquema 3. Reação de Diels-Alder catalisada pelo pentacloreto de nióbio. Andrade et al. (2004)13 utilizou diferentes ácidos de Lewis (NbCl5, TaCl5, InCl3) na ciclização do (R)-citronelal (10) resultando em uma mistura de isopulegol (11) e neo-isopulegol (12) (Esquema 4). Dentre os catalisadores usados, o NbCl5 foi o mais ativo e o menos seletivo. NbCl5 (10 mol%) CHO 10 OH OH 30-98% 11 12 Esquema 4. Ciclização do (R)-citronelal na presença de NbCl5. O pentacloreto de nióbio foi descrito como catalisador na reação de Diels-Alder entre o aldeído tíglico (13) e o dieno 14 fornecendo com rendimento razoável e excelente régio e estereosseletividade para o aduto que atua como intermediário na síntese da Bakkenolida A (16). Em etapas posteriores os autores obtiveram o epímeros 16 e 17 na proporção de 1:1 (Esquema 5).14 24 O O NbCl5 (25 mol%) BnO OBn 13 H H CH2Cl2 45% OHC ()-Bakkenolida A 16 O H 7-epi-()-Bakkenolida A O 15 14 17 H O Esquema 5. Reação de Diels-Alder catalisada pelo NbCl5 fornecendo um intermediário na síntese da Bakkenolida A. Wang et al. (2007)15, utilizam o NbCl5 como catalisador em reações de Mannich entre a acetofenona (18) e aldeídos 19 e aminas 20 aromáticas variadas (Esquema 6). Bons rendimentos foram obtidos em condições reacionais brandas. Os autores compararam o NbCl5 com outros ácidos de Lewis comumente empregados em síntese orgânica, e nas mesmas condições reacionais a atividade catalítica do NbCl 5 foi a mais pronunciada. CHO O R' NH2 O HN NbCl5 (10 mol%) CH3 R' R 19 18 EtOH, t.a. 76-96% R 20 21 Esquema 6. Reação de Mannich catalisada pelo NbCl5. A cianosililação de aldeídos e cetonas (Esquema 7) necessita de quantidades muito pequenas do NbCl5 para que rendimentos acima de 90% sejam alcançados em menos de uma hora de reação.16 O R R' 22 Me3SiCN 23 NbCl5 (1 mol%) t.a. 65-99% Esquema 7. Cianosililação de aldeídos e cetonas com o NbCl5. R' R OSiMe3 CN 24 25 Álcoois benzílicos secundários 25 sofrem substituições nucleofílicas centradas em átomos de carbono, nitrogênio, oxigênio e enxofre facilmente na presença de quantidades catalíticas de NbCl5, como descreve Yadav et al. (2007)17 (Esquema 8). OH X Nu-H ou R''-OH ou NH4SCN ou NaN3 R' R 25 NbCl5 (5 mol%) R' R CH3CN, t.a. 70-95% X = Nu, OR'', SCN ou N3 26 Esquema 8. Substituição nucleofílica de álcoois benzílicos catalisadas pelo NbCl 5. Majhi et al. (2008)18 descreve a síntese de α-aminonitrilas 30 a partir da reação simultânea entre aldeídos 27, aminas aromáticas 28 e o cianeto de trimetilsilila (29) catalisada pelo NbCl5 com excelentes rendimentos (Esquema 9). O NH2 Ar H R 27 Me3SiCN 28 HN NbCl5 (10 mol%) R CH3CN, t.a. 70-95% 29 Ar CN 30 Esquema 9. Síntese de α-aminonitrilas catalisadas pelo NbCl5. A reação de hetero Diels-Alder entre aldiminas 31 e o 3,4-diidro-2H-pirano (32) fornece derivados de piranoquinolinas 33 que apresentam ampla atividade biológica. A síntese desses compostos catalisada pelo pentacloreto de nióbio é decrita em condições reacionais brandas com rendimentos elevados em tempos reacionais entre 1 e 190 minutos (Esquema 10).19 R1 R2 N R5 O NbCl5 (50, 25 e 12,5 mol%) H H R2 R5 R4 31 R1 N H MeCN, t.a. 67-92% R3 O 32 33 R3 R4 Esquema 10. Síntese de derivados de piranoquinolinas. A acetilação de álcoois e fenóis catalisada pelo NbCl5 estudada por Yadav et 26 al. (2005)20 apresenta bons rendimentos com a seguinte ordem de reatividade: álcool fenólico>benzílico>alifático primário>secundário>terciário (Esquema 11). O OH R3 R1 R 2 NbCl5 (10 mol%) O 25-100% OAc R3 R1 R 2 O 34 35 36 Esquema 11. Acetilação de álcoois catalisada pelo pentacloreto de nióbio. Outros muitos tipos de reações catalisadas pelo NbCl5 são reportados na literatura demonstrando sua ampla aplicabilidade na química orgânica sintética. 1.2 Reação de Diels-Alder A reação de Diels-Alder é uma cicloadição entre um dieno conjugado e um segundo componente, denominado dienófilo, que contém uma ligação dupla ou tripla. No processo duas ligações σ são formadas à custo de duas ligações π (Esquema 12).21,22 Esquema 12. Reação de Diels-Alder clássica. Poucas reações podem competir com a cicloadição de Diels-Alder no que se diz respeito ao grau de complexidade estrutural que pode ser alcançado em apenas uma etapa sintética. Bem conhecida e amplamente estudada por muitas décadas, a reação de Diels-Alder permanece como um dos métodos sintéticos mais empregados na construção de anéis de seis membros. A elevada régio e estereosseletividade tipicamente exibidas por esse processo pericíclico e sua simples execução tem contribuído com a sua popularidade.23 Desde a descoberta da reação de Diels-Alder em 1928, milhares de artigos foram publicados a respeito de aspectos sintéticos, mecanísticos e teóricos. 22 Pesquisando o termo “Diels-Alder reaction” na plataforma de busca Web of Science® obtém-se mais de 22 mil publicações com inúmeros tipos de aplicação apenas nos 27 últimos 24 anos, sendo que mais da metade delas surgiram na última década; dentre todas as publicações mais de 2 mil tratam-se de revisões da literatura e todo ano esse número só aumenta.24 Tabela 2. Registros de publicação nos últimos 10 anos sobre a reação de Diels-Alder na Web of Science®. Ano de publicação Registros 2013 593 2012 1145 2011 1279 2010 1182 2009 1187 2008 1150 2007 1157 2006 1125 2005 1102 2004 1027 2003 1087 TOTAL 12034 A reação é classificada como uma cicloadição [4+2]; os números 4 e 2 indicam os elétrons envolvidos no rearranjo eletrônico e o número de átomos que originam o anel de seis membros insaturado. A reação de Diels-Alder pode ser intermolecular ou intramolecular e possui diversas condições experimentais descritas. A característica essencial da reação é que os dois componentes devem possuir caráter eletrônico complementar. A maioria das reações envolvem um dieno contendo um substituinte doador de elétrons e um dienófilo com substituintes retiradores de elétrons. Entretanto há outro grupo menor de reações nas quais dienófilos ricos em elétrons reagem com dienos deficientes em elétrons, essas reações com demanda inversa de elétrons, como são denominadas, também são empregadas em síntese.21 A reação de Diels-Alder é uma cicloadição pericíclica – quando a formação e a quebra das ligações são concertadas no estado de transição cíclico. Um estado de transição concertado síncrono (a formação das ligações ocorrem simultaneamente) e um estado de transição concertado assíncrono (a formação de uma ligação σ ocorrendo antes da outra) são sugeridos, e o caminho da reação depende da natureza dos reagentes e das condições experimentais. Uma reação de Diels-Alder concertada 28 e síncrona ocorre apenas com reagentes simétricos e apolares. A cicloadição de DielsAlder com materiais de partida não-simétricos é concertada, mas assíncrona. Cátions, ânions e radicais conjugados também participam de reações de Diels-Alder. Nesses casos, a cicloadição deixa de ser pericíclica, pois as duas ligações σ são formadas em etapas distintas (Figura 2).22,25 H H H H H H H X X H H E.T. síncrono H H H H H H X H H H H H X H Y H H E.T. assíncrono Z H E.T. polar-iônico Figura 2. Representação dos possíveis estados de transição da cicloadição de Diels-Alder. De acordo com a teoria dos orbitais moleculares de fronteira (TOMF), a reatividade, regioquímica e estereoquímica da reação de Diels-Alder são controladas pelas interações suprafaciais em fase do orbital molecular ocupado de maior energia (HOMO) de um componente e do orbital molecular desocupado de menor energia (LUMO) do outro (Figura 3).22 LUMO HOMO Figura 3. Interação em fase dos orbitais de fronteira do par dieno-dienófilo. A reatividade dos componentes de uma reação de Diels-Alder depende da diferença de energia dos HOMO e LUMO: quanto menor a diferença de energia, menor será a energia do estado de transição da reação em relação aos materiais de partida e mais rápida será a reação. Substituintes retiradores de elétrons diminuem as energias do HOMO e do LUMO, enquanto que os grupos doadores de elétrons aumentas essas energias (Figura 4).22,26 29 Figura 4. Diagrama representativo de energias dos pares dieno-dienófilo. A reação de Diels-Alder é reversível e a cicloadição é favorecida, pois duas ligações π são substituídas por duas ligações σ. A ciclorreversão ocorre quando o dieno e/ou dienófilo são moléculas particularmente estáveis (i.e. formação de anel aromático, molécula de nitrogênio, dióxido de carbono, acetileno, etileno, nitrilas, etc.) ou quando um dos reagente é facilmente consumido em reações subsequentes. A reação de retro Diels-Alder normalmente requer temperaturas elevadas para transpor a elevada barreira de ativação da ciclorreversão.21,22 A regiosseletividade da reação de Diels-Alder depende da natureza e do número de substituintes no dieno e no dienófilo, bem como das condições reacionais (catalisador, temperatura, pressão, solvente, etc.). Quando dois substituintes diferentes estão presentes no dieno, um deles funciona como dirigente e controla a regioquímica da reação.22 A regiosseletividade da reação é explicada pela TOMF com base nos coeficientes dos orbitais dos átomos que formam a ligação σ. A regioquímica é determinada pela sobreposição dos orbitais que possuem os maiores coeficientes. Quanto maior a diferença entre os coeficientes orbitalares dos átomos do dieno e do dienófilo que participam da reação, mais regiosseletiva será a reação (Figura 5).22,26 30 Favorecido GDE GDE GRE 1 GRE 1 2 3 2 4 Desfavorecido GDE GDE 1 1 2 X 2 3 4 GRE GRE GDE = grupo doador de elétrons GRE = grupo retirados de elétrons Figura 5. Regiosseletividade da reação de Diels-Alder em termos da TOMF. As reações de Diels-Alder são reações supra faciais o que preserva no cicloaduto a estereoquímica relativa dos substituintes em C1 e C4 e em C1 e C2 dos dienos e dienófilos, respectivamente. A estereoquímica relativa dos substituintes nos novos centros estereogênicos do aduto é fixada por duas aproximações supra faciais possíveis denominadas endo e exo.22 Espera-se que a adição exo seja a preferida, pois há menos interações estéricas repulsivas do que na adição endo, entretanto, o aduto endo é normalmente o produto majoritário devido à interações de estabilização secundária dos orbitais no estado de transição. A TOMF explica que a adição endo é cineticamente favorável, pois considera uma interação adicional não-ligante. Essa interação secundária dos orbitais não dá origem a uma ligação, mas contribui para diminuição da energia do estado transição endo em relação ao estado de transição exo.22,26 Estudos recentes apontam que em determinados casos em que experimentalmente o aduto endo é o produto majoritário ou o único, cálculos teóricos demostram que o estereoisômero endo é o produto cinético e o termodinâmico, devido à interações estereoeletrônicas estabilizadoras que se sobrepõem às interações repulsivas.27 31 O Sem ligação Sobreposição secundária Energia de estabilização ESTADO DE TRANSIÇÃO ENDO MeO Ligação Sobreposição primária O O O ESTADO DE TRANSIÇÃO EXO OMe Figura 6. Estereosseletividade da cicloadição [4+2] explicada pela TOMF. A descoberta de que ácidos de Lewis podem promover a reação de Diels-Alder se tornou uma ferramenta importante na química orgânica sintética. A presença de catalisadores ácidos de Lewis permitem que as cicloadições sejam realizadas em condições brandas, reações com dienos e/ou dienófilos pouco reativos são possíveis e a régio e estereosseletividade das reações podem ser modificadas.22 Os ácidos de Lewis podem acelerar as cicloadições. O efeito catalítico é explicado pela TOMF considerando que a coordenação do ácido de Lewis com um grupo retirador de elétrons no dienófilo aumenta o efeito retirador na ligação dupla ou tripla e diminui a energia do LUMO do dienófilo. A complexação com ácidos de Lewis ou a protonação influenciam tanto a energia quanto os coeficientes dos átomos de carbono do orbital LUMO do dienófilo.22 Um método comum de se aumentar a regiosseletividade das reações de DielsAlder se baseia no uso de catalisadores ácidos de Lewis. A partir da complexação dessas espécies com o dienófilo, a reação normal é promovida, uma vez que a diferença de energia entre o LUMO do dienóflo e o HOMO do dieno é diminuída, reduzindo assim a energia de ativação da reação (Figura 7). Além disso, essa estabilização é maior para o estado de transição endo, resultado do aumento da sobreposição secundária dos orbitais. O mais importante, no entanto, é o fato de que os ácidos de Lewis podem frequentemente inverter a regioquímica do aduto de Diels- 32 Alder e gerar produtos que não seriam observados numa reação conduzida termicamente.28 R R LUMO O AL LUMO O HOMO Me HOMO Me Figura 7. Influência do ácido de Lewis nos coefientes dos orbitais do dienófilo. Diversos ácidos de Lewis tem sido estudados e utilizados na reação de DielsAlder, desde os ácidos de Lewis mais comuns como AlCl3, TiCl4, SnCl4, ZnCl2, ZnBr2, etc., até complexos de lantanídeos e catalisadores quirais.22 As reações de Diels-Alder também podem ser aceleradas através de pressões elevadas (10-20 kbar) devido à diminuição no volume de ativação na formação do estado de transição. O uso de altas pressões é particularmente útil quando há impedimentos estéricos ou reagentes e/ou produtos instáveis termicamente impossibilitam a utilização de métodos convencionais para acelerar a reação. Enquanto que o aumento da temperatura reacional aumenta a velocidade tanto da reação direta como a da reação inversa, o aumento da pressão aumenta a velocidade somente da reação direta.23 1.2.1 Dienos e dienófilos A utilidade da reação de Diels-Alder em síntese vem da sua versatilidade e elevada régio e estereosseletividade. Um grande número de dienos e dienófilos, contendo diversos grupos funcionais, podem ser utilizados. Nem todos os átomos presentes no anel formado precisam ser átomos de carbono, de modo que heterociclos também podem ser construídos por meio dessa reação.23 Dienos conjugados podem ser reativos nas cicloadições desde que as duas ligações duplas assumam uma geometria cisóide. O dieno trans resultaria em um anel de seis membros muito desfavorável energeticamente. Dienos cíclicos são normalmente mais reativos do que aqueles de cadeia aberta (Figura 8).22-26 33 OMe O Me3SiO CO2Me N OMe CO2Me MeO2C O CO2Me Figura 8. Exemplos de dienos usados em síntese. Efeitos eletrônicos dos substituintes no dieno influenciam as velocidades das cicloadições. Substituintes doadores de elétrons no dieno aceleram as reações com dienófilos contendo grupos retiradores de elétrons (reação de Diels-Alder com demanda de elétrons normal), ao passo que grupos retiradores de elétrons ligados ao dieno aceleram a cicloadição com dienófilos que possuem substituintes doadores de elétrons (reação de Diels-Alder com demanda inversa de elétrons) (Esquema 13). As reações que não são sensíveis aos efeitos de substituintes no dieno e/ou dienófilo são classificadas como neutras.22,26 34 Reação de Diels-Alder não-ativada C C C C GDE = grupo doador de elétrons GRE = grupo retirador de elétrons Reação de Diels-Alder normal GDE GDE ou GRE GRE Ácido de Lewis Reação de Diels-Alder com demanda inversa de elétrons GRE GDE pressão GRE GDE ou Ácido de Lewis Reação de Diels-Alder intramolecular GDE GDE GRE ou GRE Ácido de Lewis n n Esquema 13. Tipos de espécies que participam da reação de Diels-Alder. Heterociclos aromáticos, como furanos, tiofenos e pirróis, são bem estabelecidos como dienos em reações de Diels-Alder apesar da sua aromaticidade e consequente diminuição na reatividade. Em geral, os furanos sofrem cicloadições [4+2] com diversos dienófilos, como alquenos, alquinos ou alenos ativados. Entretanto, diversos pesquisadores observaram diferenças distintas no que se diz respeito à rendimentos, tempos reacionais, condições reacionais necessárias e esterosseletividades, dependendo do padrão de substituição no anel furano e da natureza do dienófilo.23 Dienófilos são moléculas que possuem uma ligação dupla ou tripla. Diversos tipos distintos de dienófilos podem fazer parte da reação de Diels-Alder. Eles podem ser derivados do etileno, acetileno ou reagentes em que um ou dois átomos são heteroátomos (Figura 9). Nem todos os dienófilos reagem facilmente; a reatividade depende da estrutura. Geralmente para a reação “normal”, quanto maior o número de 35 substituintes retiradores de elétrons na ligação dupla ou tripla, mais reativo será o dienófilo.21 O O MeO2C O CO2Me O S O O C CO2Me O O N O CHO NO2 OEt O O Figura 9. Exemplos de dienófilos usados em síntese. Os grupos ativadores mais comumente encontrados para os dienófilos que participam da reação de Diels-Alder “normal” são CO, CO2R, CN e NO2. Ésteres e nitrilas acrílicas, ésteres acetilênicos, cetonas α,β-insaturadas e quinonas, por exemplo, são bastante utilizadas. Substituintes alquil, por outro lado, podem reduzir a reatividade do dienófilo através de efeito estérico. Éteres vinílicos e enaminas, são empregados em reações de Diels-Alder com demanda inversa de elétrons.21 Ligações carbono-carbono duplas ou triplas isoladas normalmente não participam de reações de Diels-Alder intermoleculares em condições normais, entretanto alquenos e alquinos cíclicos com elevada tensão angular participam.23 1.2.2 Reações de Diels-Alder com o anel furano A tendência do anel furano de sofrer cicloadição [4+2] com várias ligações π permite a construção rápida de intermediários sintéticos valiosos. A reação dá origem ao 7-oxabiciclo-[2.2.1]hept-5-eno (7-oxanorboneno) substituído que pode ser manipulado com elevada seletividade resultando em uma variedade de moléculas alvo (Esquema 14).23 O + O E E H 7-oxa-biciclo[2.2.1]hepteno Esquema 14. Reação de cicloadição [4+2] com o furano. 36 Derivados do anel 7-oxanorbonano são encontrados na natureza e alguns deles possuem atividades biológicas interessantes. Os 7-oxabiciclo[2.2.1]heptanos e seus derivados insaturados (7-oxabiciclo[2.2.1]hept-5-enos; 7-oxabiciclo[2.2.1]hept2,5-enos) podem ser submetidos a diversas reações, tornando-os bem úteis como intermediários na síntese total de produtos naturais.29 O desenvolvimento de métodos para construir novos substratos oxabicíclicos encontrou um interesse crescente no final da década de 1970, e logo as reações de abertura do anel foram aprofundadas. Contribuições significantes nessa área vieram com melhoramentos na reação de Diels-Alder no anel furano, que tem sido a metodologia mais estudada e aplicada na construção de 7-oxabiciclos[2.2.1]hept-5enos.30 A reação de Diels-Alder empregando o furano (38a) como dieno está entre uma das primeiras reações estudadas por Otto Diels e Kurt Alder na década de 1920. 31 Trabalho no qual os pesquisadores desenvolveram um novo método de sintetizar a norcantaridina (40) (Esquema 15). Atualmente, os cicloadutos derivados do furano são ponto de partida na construção de estruturas bem mais complexas.30 O O O 37 O O 38a O 39 O hidrogenação catalítica O O O O O 40 Esquema 15. Síntese do primeiro oxabiciclo via reação de cicloadição. O furano é um dieno relativamente fraco em reações de Diels-Alder e reagem com apenas alguns dienófilos bastante reativos formando os cicloadutos em rendimentos razoáveis. Diversas tentativas de aumentar os rendimentos dessas reações tem sido realizadas, como o uso de pressões elevadas e catalisadores ácidos de Lewis.23 Em estudos teóricos acerca da reatividade de heterociclos aromáticos de cinco membros (furano, tiofeno, pirrol e fosfol) como dienos em cicloadições, Musslimani e Mettee (2004)32 demonstraram que o efeito dos substituintes nesses heterociclos é semelhante àquele observado em dienos mais comuns, como o butadieno. Quanto mais eletro-doador é o substituinte, mais exotérmica é a reação e maior a constante de equilíbrio. Jursic (1998)33 determinou por meio da combinação de várias 37 abordagens teóricas que dentre os heterociclos aromáticos furano, pirrol e tiofeno, o furano é o mais reativo e, portanto, o melhor dieno para reações de Diels-Alder; o tiofeno é inerte e o pirrol tem reatividade intermediária. Alguns estudos com a utilização do furano em reações de cicloadição [4+2] realizados nas últimas décadas são mostrados a seguir. O sistema 7-oxabiciclo[2.2.1]hept-5-enil (42) é um intermediário importante na construção de anéis de seis membros funcionalizados. Brion (1982) 34, obteve bons rendimentos do biciclo 42 através da reação de Diels-Alder do furano (38a) com diversos dienófilos 41 catalisada por ZnI2. Bons rendimentos também foram obtidos na abertura do anel induzida por base (Esquema 16). O 38a O R1 ZnI2 R2 48 h, 40 °C R1 R2 i. (Me3Si)2N R1 ii. NH4Cl R2 OH 42 41 43 Esquema 16. Síntese do anel cicloexadienol (43). Uma classe de dienófilos que se submete facilmente a cicloadição de DielsAlder com o furano (38a) são os alenos que possuem pelo menos um grupo retirador de elétrons no carbono terminal. Essa reação fornece uma rota sintética simples para a obtenção de sistemas cíclicos funcionalizados contendo uma ligação dupla exocíclica.23 A reação de Diels-Alder entre 38a e alenos é descrita por diversos autores. Guildford e Turner (1983)35 reportam a síntese do aduto de Diels-Alder com o fenilsulfonilpropadieno (44) como dienófilo com 61% de rendimento e maior seletividade para o aduto endo (Esquema 17). Mais recentemente, Wang et al. (2011)36 utiliza um catalisador de ouro (I) na reação entre 38a e o éter alenil (47), o produto da cicloadição não foi observado, apenas o resultante de uma adição-1,4 (48) (Esquema 18). O 38a 100 °C SO2Ph 44 O O SO2Ph 61% SO2Ph 45 46 Esquema 17. Reação de Diels-Alder utilizando um aleno como dienófilo. 38 O [Ph3P)Au]SbF6 O O O 47 38a Alil 38% Alil 48 Esquema 18. Reação entre o furano e um éter alenil. Yang e Koreeda (1992)37 obtêm o ácido ftálico 4,5-cis-diidrodiol (51) – um dos produtos de degradação do ácido ftálico – partindo do anel 7-oxabicilo[2.2.1]hept-5eno 50, resultado da reação de Diels-Alder entre 38a e um éster fumarato 49. (Esquema 19). O OR O O COOR ZnI2 HO COOH RO O 49 38a 50 HO COOR COOH 51 Esquema 19. Síntese do ácido ftálico 4,5-cis-diidrodiol. Gustafsson e Sterner (1994)38 descrevem a síntese de cicloexeno-1,6dicarbaldeídos 55 – núcleo presente em diversos terpenóides isolados de plantas, fungos, insetos e moluscos, que apresentam atividade biológica – partindo da reação de Diels-Alder entre 2-alquilfuranos (52) e o 4,4-dietoxibut-1-inal 53 (Esquema 20). CHO O i. Diels-Alder R O CHO ii. Hidrogenação CH(EtO)2 52 53 i. Base ii. Proteção CHO TBDMSO CHO iii. Hidrólise do acetal 54 CH(EtO)2 R 55 Esquema 20. Sintese do cicloexeno-1,6-dicarbaldeído (55). A reação de Diels-Alder intramolecular é passível de ocorrer com o furano como dieno. O escopo dessa reação é bem amplo em relação ao dieno, dienófilo e a ligação entre os dois. O curso da reação de Diels-Alder intramolecular do anel furano (por exemplo velocidade, estereosseletividade) pode ser afetado por substituições em diferentes sítios do substrato.23 Sternbach e Rossana (1982)39 utilizaram a β-ciclodextrina em solução aquosa como catalisador em reações de Diels-Alder intramolecular (Esquema 21), formando sistemas policíclicos, interessantes na síntese de produtos naturais. Em comparação 39 com as reações não catalisadas em diferentes solventes, aquelas realizadas em solução aquosa de β-ciclodextrina apresentaram rendimentos melhores. R O O -CD R H2O O HO R OH R HO 57a R 56 R 57b Esquema 21. Reação de Diels-Alder intramolecular catalisada pela β-ciclodextrina. Padwa et al. (1998)40 investigou a reação de Diels-Alder intramolecular de amidofuranos 58 substituídos com uma olefina, a fim de criar uma metodologia de síntese de alcalóides da classe das pirrolofenantridinas 59 em poucas etapas reacionais (Esquema 22). O cicloaduto não é isolado, pois o par de elétrons não-ligado do nitrogênio auxilia na abertura do biciclo subsequentemente. CO2Me O N N Br O O 58 59 Esquema 22. Síntese do alcalóide da classe das pirrolofenantridinas (59). A reação de Diels-Alder intramolecular também é utilizada em uma das etapas da síntese no núcleo isoindol[1,2-a]isoquinolina 62 (Esquema 23), presente em alcalóides produzidos por diversas plantas medicinais. O autor modificou os grupos X, R1 e R2 a fim de estudar a influência da natureza do substituinte. Grupos doadores ou aceptores de elétrons em R2 diminuem os rendimentos do aduto de Diels-Alder, por causa do impedimento estérico gerado pelo substituinte. A natureza dos substituintes X e R1 tiveram um efeito menos significativo na reação.41 40 X X N X O R2 X R2 Hal N X MeCN O R1 exo-[4+2] Haleto N X R2 Haleto O R1 61 60 R1 62 Esquema 23. Síntese do núcleo isoindol[1,2-a]isoquinolina (62). Aragão et al. (2005)42 utiliza o 2-metil-furano (38b) e o 3-bromopropiolato de metila (63) como ponto de partida na síntese do metil 1-metil-3-oxo-7oxabiciclo[2.2.1]hept-5-en-2-carboxilato 66 em apenas três etapas reacionais. A primeira etapa da síntese foi uma cicloadição [4+2], na qual o aduto 64 foi formado majoritariamente (Esquema 24). CO2Me O Benzeno 38b Br 63 O MeONa Br refluxo 53% O OMe OMe CO2Me MeOH 87% CO2Me O H3O+ O 82% CO2Me 65 64 66 Esquema 24. Síntese do metil 1-metil-3-oxo-7-oxabiciclo[2.2.1]hept-5-en-2-carboxilato (67). Nas reações entre o anel furano substituído em C2 e o dimetil acetilenodicarboxilato (68), o IrCl3.3H2O promove a cicloadição seguida da clivagem do biciclo, fornecendo derivados de 3-hidroxiftalatos com até 98% de rendimento através de uma metodologia one-pot (Esquema 25). Nas reações em que o furano possui um substituinte um doador de elétrons a proporção do aduto de Diels-Alder 69 foi inferior à do 3-hidroxiftalato (70). Já a maior quantidade de cicloaduto foi observada quando o dieno possuía grupos retiradores de elétrons ou nenhum substituinte. 43 O R CO2CH3 IrCl3.3H2O (10 mol%) tolueno, 70 °C 48 h CO2CH3 67 68 OH O CO2CH3 CO2CH3 R CO2CH3 CO2CH3 R 69 Esquema 25. Síntese através de uma metodologia one-pot de 3-hidroxiftalatos (70). 70 41 Muitas outras reações de cicloadição envolvendo o anel furano são descritas na literatura com diversas aplicações. 42 2. OBJETIVOS Desenvolver uma metodologia de síntese de derivados 7-oxabiciclo[2.2.1]hept- 5-eno através de reações de Diels-Alder entre o furano e diferentes dienófilos catalisadas pelo pentacloreto de nióbio, avaliando a influência de alguns parâmetros nos rendimentos e seletividade das reações como: quantidade de catalisador, temperatura e tempo reacional. 43 3. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL Reagentes: Catalisador: Pentacloreto de nióbio - Aldrich, 99% e CBMM (Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração). Dienos: Furano - Fluka, padrão analítico, com 0,025% de 2,6-di-tert-4-metilfenol como estabilizante e Aldrich, ≥ 99%, com BHT como inibidor. 2-metil-furano - Aldrich, 99%. Dienófilos: Acrilato de metila - Aldrich, 99%. Acrilonitrila - Aldrich, 99,0%. Maleato de dimetila - Aldrich, 98%. 2-cloro-acrilonitrila - Acros Organics, 99%, estabilizada com 500 ppm de hidroquinona. Acetaldeído - Vetec, 99%. Dentre todos os reagentes utilizados, apenas o furano sofreu pré-tratamento de acordo com o que é descrito na literatura.44 Métodos analíticos: Cromatografia em camada delgada (CCD) – as análises de CCD foram realizadas em placa de sílica gel UV254 (250 μm, 20x20 cm) suportada em alumínio. Como eluente, utilizou-se uma mistura de acetato de etila e hexano numa proporção de 7:3. Alíquotas retiradas das reações foram diluídas em acetona e aplicadas na placa de sílica gel e após a corrida a placa foi revelada foi efetuada em câmara de iodo. Espectroscopia na região do infravermelho (IV) – os compostos sintetizados foram analisados no equipamento FTLA2000-102 fabricado pela ABB BOMEM. Os espectros foram adquiridos com resolução de 4 cm-1, 16 varreduras, com o acessório MIRacle, Pike Technologies = ATR Single Reflection, 45°, ZnSe, utilizando como branco a atmosfera. 44 Espectroscopia de ressonância magnética nuclear de ¹H e ¹³C (RMN de ¹H e ¹³C) – as análises foram realizadas no espectrômetro Varian 400 MHz, na sonda de 5 mm Broadband 1H / X / D. O CDCl3 foi utilizado como solvente. Os deslocamentos químicos (δ) estão representados em ppm em relação ao padrão interno TMS. Os espectros foram editados e preditos no software MestReNova. Métodos experimentais gerais: As reações foram realizadas em meio anidro e protegidas da luz. A uma mistura de 10 mmol do dienófilo (71a-e) e NbCl5 (0,005; 0,025 e 0,100 mmol) adicionou-se 11 mmol do dieno (38a-b) (Esquema 26). A mistura foi mantida sob agitação magnética em temperaturas ambiente, 0 °C e -20°C durante tempos variados. O acompanhamento qualitativo das reações se deu por meio de análises de CCD O R1 O R2 R4 + 38a-b R1 a H b CH3 X NbCl5 X R 2 R3 72a-b,a-e endo R3 71a-e a b c d e R2 R3 CO2CH3 H CN H CO2CH3 CO2CH3 CN H CH3 - R4 R4 H H H Cl H O X R4 R2 R3 72a-b,a-e exo X CH CH CH CH O Esquema 26. Componentes usados nas reações de Diels-Alder catalisada pelo NbCl5. Ao final das reações os produtos foram isolados por extração múltipla com acetato de etila, algumas gotas de solução saturada de bicarbonato de sódio foram adicionadas à fase aquosa, para neutralizar o catalisador. Após remover o solvente dos produtos extraídos, os mesmos foram analisados por espectroscopia de RMN de ¹H e ¹³C e infravermelho. Os rendimentos reacionais foram calculados a partir de uma relação %m/m entre o material isolado da reação e os materiais de partida (dieno e dienófilo). A proporção dos adutos endo e exo foi determinada pela relação entre os valores das integrações dos sinais dos hidrogênios da ligação dupla (6,70-6,20 ppm) dos respectivos adutos no espectro de RMN de ¹H. 45 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO O furano 38a é um dieno com reatividade relativamente baixa devido à perda da aromaticidade durante a reação de cicloadição. Por esse motivo, ele reage apenas com dienófilos bastante ativados fornecendo rendimentos razoáveis dos derivados 7oxabiciclo[2.2.1]hept-5-eno (72). Além disso, a reação de Diels-Alder com o furano como dieno tende a ser reversível, uma outra dificuldade em realizar essa reações.30 Neste sentido, dienófilos com grupos retiradores de elétrons (reativos) foram utilizados na avaliação do NbCl5 como catalisador nas cicloadições com o anel furano como dieno. O mecanismo da reação de Diels-Alder catalisada por ácidos de Lewis consiste inicialmente na complexação do ácido de Lewis – neste caso o NbCl5 – com um átomo com elétrons não-ligantes do dienófilo, o que diminui a energia do LUMO desse componente através da deslocalização dos elétrons π, resultando no aumento da velocidade da reação. Em seguida, ocorre o ataque concertado ao anel furano, cuja adição pode ser endo ou exo. O aduto endo é o produto cinético e favorecido por efeitos eletrônicos, já o aduto exo é o produto termodinâmico e efeitos estéricos governam a sua formação (Esquema 26).26 Cl5Nb O OCH3 NbCl5 H3CO O O O O CO2CH3 H exo H CO2CH3 endo Esquema 27. Proposta de mecanismo representada para a reação de Diels-Alder entre o furano (38a) e o acrilato de metila (71a). As reações foram realizadas sem solventes, primeiramente porque ambos dienos e dienófilos são líquidos e também por contribuir na aplicação de metodologias mais “verdes” na química orgânica sintética, resultando numa geração mínima de resíduos, já que a reação de Diels-Alder ocorre com economia total de átomos, e no momento da extração o NbCl5 é hidrolisado formando o Nb2O5.nH2O, um material com baixa toxicidade. 46 Inicialmente, realizou-se o estudo das condições ótimas para a reação entre o furano 38a e o acrilato de metila 71a (Tabela 3). Na determinação da proporção ideal de catalisador, com a utilização de 0,5 mol % e 2,5 mol% de NbCl5 alguma atividade foi apresentada em 24 horas de reação em temperaturas variadas, já com 10 mol% de catalisador no mesmo tempo reacional, os rendimento foram bons (41,9-77,4%), principalmente em temperaturas mais baixas. A diminuição do tempo reacional foi um outro fator que influenciou no aumento das taxas de conversão. Com isso, pode-se afirmar que começa a haver degradação dos produtos da reação com 10 mol% de NbCl5 num período entre 4 e 6 horas, neste caso, subprodutos, como materiais provenientes da reação de substituição no anel furano ou da polimerização do acrilato de metila (71a), não foram observados (Figura 10), portanto, provavelmente a retroDiels-Alder foi favorecida em tempos reacionais maiores. Tabela 3. Rendimentos e proporções endo:exo de 72aa. O CO2CH3 NbCl5 O O CO2CH3 38a CO2CH3 73aa 73aa endo exo 72a t.a. Rendimento (endo:exo) 2% (63:37) 0 °C 3% (66:34) 3 -20 °C 3% (61:39) 4 t.a. 16% (51:49) 0 °C 22% (65:35) 6 -20 °C 21% (65:35) 7 t.a. 42% (57:43) 0 °C 75% (59:41) -20 °C 77% (60:40) t.a. 50% (59:41) 0 °C 59% (62:38) 12 -20 °C 85% (61:39) 13 t.a. 58% (57:43) 0 °C 75% (65:35) -20 °C 99% (56:44) t.a. 47% (61:39) 0 °C 81% (58:42) Dieno Dienófilo NbCl5 (mol%) Tempo 1 2 0,5 5 2,5 8 9 10 38a 24 h 24 h 24 h 71ª 10 11 14 10 10 6h 4h 15 16 17 10 2h Temperatura 47 18 -20 °C 83% (62:38) Figura 10. Espectro de RMN de ¹H do produto 72aa. A síntese do 72aa via reação de Diels-Alder já foi descrita por vários autores34, 45-49 utilizando pressões elevadas e diversos ácidos de Lewis. Com o NbCl5 como catalisador observa-se rendimentos maiores em tempos reacionais inferiores aos previamente reportados (Tabela 4). Tabela 4. Comparação do melhor resultado de 72aa com diferentes metodologias descritas na literatura. Catalisador Solvente NbCl5 - - - Temperatura (°C) -20 40 Tempo (horas) 4 Rendimento (%) 99 1-2 meses 5045 85:15 -b endo:exo 58:42 -a CH2Cl2 t.a. 4 6246 -a CH2Cl2 60 6 9547 60:40 48 5534 33:67 17 6548 67:33 10 7649 70:30 14 4149 70:30 ZnI2 HfCl4 BF3.OEt2 Et2O - 40 -78 5 BF3.OEt2 CCl4 5 a pressão de 15 kbar; b não foi informado pelo autor. 48 Nas reações entre o 2-metil-furano (38b) e o acrilato de metila (71a) (Tabela 5) os tempos reacionais foram escolhidos de acordo com aqueles que apresentaram melhores resultados para as reações entre 38a e 71a (Tabela 3), que foram 2 e 4 horas. Devido à maior reatividade do 38b em relação ao 38a, avaliou-se também a influência da quantidade do catalisador e da temperatura. Tabela 5. Porcentagem de massa recuperada das reações entre 38b e 71a. O O CO2CH3 O CO2CH3 NbCl5 X CO2CH3 O 38b O 71a CO2CH3 CO2CH3 72ba endo Dieno Dienófilo NbCl5 (mol%) 19 2h 20 2,5 21 22 23 24 25 26 Tempo 4h 38b 71a 2h 10 4h 72ba exo t.a. % de massa recuperada 26 0 °C 49 t.a. 37 0 °C 90 t.a. 65 0 °C 56 t.a. 97 0 °C 76 Temperatura Através das análises de RMN de ¹H constatou-se que o produto isolado não corresponde ao cicloaduto 72ba, indicado principalmente pela ausência do sinal do hidrogênio da ponte (H1 e H4) em aproximadamente 5,0 ppm (Figura 11). Na tentativa de realizar as reações a -20 °C um material sólido e insolúvel em diversos solventes se formou no balão reacional, o que pode apontar a polimerização dos materiais de partida. Comparando o espectro de RMN de ¹H do produto obtido nas reações entre 38b e 71a com o espectro predito para o produto de substituição eletrofílica no 2-metilfurano (38b) observa-se que há sinais característicos desse composto no espectro do material isolado da reação (Figuras 11 e 12). O grupo metil no anel furano provoca uma deslocalização de cargas no anel favorecendo a substituição frente à cicloadição. 49 O 5 6 5 3 4 1 O 7 2 CO2CH3 8 9 6 7 4 3 1 2 CO2CH3 8 9 Ausência do sinal de H1 e H4 em ~5,0 ppm Figura 11. Espectro de RMN de ¹H do produto 72ba da reação 19 (vide Tabela 5). Figura 12.Espectro de RMN de H¹ predito para o produto de substituição eletrofílica no 2-metil-furano (38b). 50 As reações entre o 38a e a acrilonitrila 71b apresentaram rendimentos baixos (Tabela 6), tentativas de realizar a reação com solvente não foram bem sucedidas. Observou-se a formação de subprodutos que pode ser proveniente da polimerização da acrilonitrila competindo com a formação do aduto de Diels-Alder. Nas reações realizadas a -20 °C em 24 horas os cicloadutos não foram observados nas análises de RMN de ¹H. Tempos reacionais menores do que os das reações entre 38a e 71a foram testados no intuito de evitar a formação de subprodutos e aumentar os rendimentos, entretanto essas tentativas também foram mal sucedidas. A seletividade dos adutos 72ab foi em geral menor o que a observada para os adutos 72aa. Tabela 6. Rendimentos e proporções endo:exo de 72ab. O CN NbCl5 O O CN 38a CN 73ab endo 72b t.a. Rendimento (endo:exo) 4 (50:50) 0 °C 7 (50:50) 29 -20 °C 3 (-)a 30 t.a. 6 (52:48) 0 °C 6 (49:51) 32 -20 °C 8 (-)a 33 t.a. 6 (50:50) 0 °C 9 (50:50) -20 °C -a t.a. 14 (58:42) 0 °C 3 (57:43) 38 -20 °C 6 (56:44) 39 t.a. 18 (57:43) 0 °C 8 (57:43) 41 -20 °C 6 (59:41) 42 t.a. 8 (51:49) 0 °C 14 (59:41) Dieno Dienófilo NbCl5 (mol%) Tempo 27 28 0,5 31 2,5 34 35 36 37 40 43 aNão 73ab exo 10 38a 24 h 24 h 24 h 71b 10 10 10 2h 1h 40 min Temperatura 44 -20 °C foram observado os sinais do cicloaduto no espectro de RMN de ¹H. 14 (60:40) 51 Comparando os resultados descritos na literatura para as reações de cicloadição entre 38a e 71b usando outros catalisadores ácidos de Lewis e pressões elevadas com as reações realizadas com o NbCl5 observa-se que as outras metodologias foram mais eficientes (Tabela 7). Tabela 7. Comparação do melhor resultado de 72ab com diferentes metodologias descritas na literatura. a Catalisador Temperatura (°C) Tempo (horas) Rendimento (%) endo:exo NbCl5 t.a. 1 18 57:43 - 30 5 semanas 2550 61:39 -a t.a. 4 5546 -b ZnI2 40 48 10034 50:50 ZnI2c 40-60 48 3551 57:43 ZnCl2 t.a. 3 4852 55:45 ZnCl2/SiO2 t.a. 3 9052 65:35 pressão de 15 kbar; não foi informado pelo autor; zinco b c foi utilizado um grande excesso de iodeto de 52 As reações do 38b com 71b (Tabela 8) apresentaram bons rendimentos, entretanto o aduto de Diels-Alder não foi observado no espectro de RMN de ¹H, evidenciado pelo não aparecimento do sinal do hidrogênio da ponte (H1 e H4) em aproximadamente 5,0 ppm (Figura 13). Kienzle (1975)50 reporta essa reação com 58% de rendimento. Tabela 8. Rendimentos das reações entre 38b e 71b. O O CN CN NbCl5 X 38b O CN O 71b O CN CN 72bb endo Dieno Dienófilo 45 46 47 48 38b NbCl5 (mol%) Tempo 2,5 2h 10 2h 71b 72bb exo t.a. % de massa recuperada 43 0 °C 38 t.a. 71 0 °C 75 Temperatura 53 O 5 6 5 3 4 1 O 7 2 6 CN 7 8 4 3 1 2 CN 8 Ausência do sinal de H1 e H4 em ~5,0 ppm Figura 13. Espectro de RMN de ¹H do produto 72bb da reação 47 (vide Tabela 8). Nas reações entre 38a e o maleato de dimetila 71c (Esquema 28) não houve formação do aduto de Diels-Alder em nenhuma das condições reacionais testadas (proporções de catalisador de 0,5 mol%, 2,5 mol% e 10 mol%, a temperatura ambiente e 0 °C). Através do acompanhamento da reação por CCD, observou-se que mesmo depois de 24 horas o dienófilo não havia sido consumido. O 38a CO2CH3 CO2CH3 71c NbCl5 X O CO2CH3 CO2CH3 72ac endo O CO2CH3 CO2CH3 72ac exo Esquema 28. Reação de Diels-Alder entre o 38a e 71c. As metodologias de síntese de 72ac com outros ácidos de Lewis e pressões elevadas descritas na literatura apresentam bons rendimentos (Tabela 9). 54 Tabela 9. Comparação de diferentes condições reacionais para a obtenção de 72ac. a Catalisador Solvente Temperatura (°C) Tempo (horas) Rendimento (%) endo:exo NbCl5 - t.a. 24 0 - -a CH2Cl2 t.a. 8 9445 -b -a CH2Cl2 27 8 9046 81:19 ZnI2 - 40 48 5534 40:60 HfCl4 CH2Cl2 -20 5 9147 93:7 Pressão de 15 kbar; b não informado pelo autor. Para as reações entre 38a e a 2-cloro-acrilonitrila (71d) foram aplicadas algumas condições que resultaram em bons rendimentos para os outros adutos, como 71d é um dienófilo mais reativo, novamente duas proporções de catalisador foram testadas (2,5 mol% e 10 mol%) em duas horas de reação (Tabela 10). Tabela 10. Rendimentos e proporções endo:exo de 72ad. O Cl CN NbCl5 O O CN Cl 38a Dieno CN 72ad endo 71d Dienófilo Tempo 49 t.a. 50 51 52 53 54 Temperatura 38a 71d 2h 0 °C -20 °C Cl 72ad exo NbCl5 (mol%) 2,5 Rendimento (endo:exo) 18 (20:80) 10 10 (23:77) 2,5 2 (39:61) 10 19 (24:76) 2,5 8 (41:59) 10 20 (34:66) Os rendimentos no geral foram baixos (Tabela 10). A 0 °C e -20 °C os resultados foram melhores com 10 mol% de catalisador, já a temperatura ambiente o rendimento foi menor com uma quantidade menor de catalisador (Tabela 10, reação 50). A fim de justificar o rendimento da reação 50 (Tabela 10), essa reação foi repetida com os tempos reacionais de 1 e 4 horas fornecendo rendimentos de 12% e 6%, respectivamente, logo ficou evidente que a reação reversa é favorecida a essa temperatura, o que também pode justificar a maior proporção do aduto exo. 55 Observou-se através dos espectros dos produtos 72ad que houve um aumento no sinal da impureza entre 2,75-3,25 ppm em temperaturas reacionais menores, logo mais subprodutos foram formados, reduzindo o rendimento real da reação. (Figuras 14, 15 e 16) Sinal do cicloaduto Sinal da impureza Figura 14. Espectro de RMN de ¹H do produto 72ad da reação 49 (vide Tabela 10). 56 Figura 15. Espectro de RMN de ¹H do produto 72ad da reação 51 (vide Tabela 10). Figura 16. Espectro de RMN de ¹H do produto 72ad da reação 53 (vide Tabela 10). 57 Os rendimentos obtidos para 72ad foram inferiores aos alcançados com a utilização de outros ácidos de Lewis (Tabela 11). Por outro lado, uma maior seletividade para o aduto exo foi observada com a utilização do NbCl5. Tabela 11. Comparação do melhor resultado de 72ad com diferentes metodologias descritas na literatura. a Catalisador Temperatura Tempo Rendimento (%) endo:exo NbCl5 -20 °C 2 20 34:66 - 70 °C 18 1153 -a - 26 °C 4 semanas 3354 71:39 ZnI2 40 °C 48 6034 50:50 ZnCl2 t.a. 3 3052 67:33 ZnCl2/SiO2 t.a. 3 5552 38:62 não informado pelo autor. Jursic e Zdravkovski (1995)55, mostram através de cálculos teóricos que o formaldeído é mais reativo como dienófilo do que o etileno em seus estudos sobre a reatividade e estereosseletividade das cicloadições entre heterodienófilos com o furano. A fim de pôr em prova essa evidência teórica, realizou-se uma reação entre o 38a e o acetaldeído 71e com 2,5 mol% de NbCl5, a temperatura ambiente durante duas horas (Esquema 29). HO O O NbCl5 O H3C HO CH3 74 H3C 73 38a NbCl5 O 71e H X O O O 72ae CH3 endo O CH3 72ae exo Esquema 29. Possíveis reações entre 38a e 71e. Neste caso, pode ter ocorrido uma substituição eletrofílica aromática (reação à esquerda no Esquema 33), pois o espectro de RMN de ¹H do produto isolado (Figura 17) apresenta um sinal característico do anel furano em aproximadamente 7,3 ppm, sinal que não aparece no espectro de RMN de ¹H do aduto de Diels-Alder correspondente (Figura 18). 58 Figura 17. Espectro de RMN obtido para o produto da reação entre 38a e 71e. Figura 18. Espectro de RMN de ¹H predito para o aduto 72ae. 59 Algumas características relacionadas à reatividade do furano e da carbonila do aldeído podem ser consideradas na explicação da preferência na formação do produto de substituição (73 e 74) frente ao aduto de Diels-Alder (72ae) (Esquema 29). Estudos cristalográficos e computacionais mostram que os ácidos de Lewis assumem uma conformação anti na complexação com aldeídos (Figura 19) e isso pode gerar um impedimento estérico na aproximação do dieno. Além disso, os ácidos de Lewis aumentam a eletrofilicidade da carbonila tornando a substituição eletrofílica no anel furano mais favorável energeticamente, pois o intermediário é estabilizado por ressonância e não há quebra da aromaticidade deste heterociclo (Esquema 30).56 AL O H CH3 Figura 19. Acetaldeído complexado com um ácido de Lewis numa relação anti com o grupo alquil. Cl4Nb H O O CH3 O H H O O NbCl4 H H O NbCl4 -NbCl5 O O H H O NbCl4 -H+/+H+ CH3 OH Esquema 30. Mecanismo proposto para a substituição eletrofílica no furano catalisada pelo NbCl 5. 60 5. CONCLUSÃO O NbCl5 usado como catalisador nas reações de Diels-Alder com o furano (38) como dieno demonstrou boa atividade para o dienófilo menos reativo, o acrilato de metila (71a), em condições reacionais brandas. Outros dienófilos, com grupo apresentando maior efeito retirador de elétrons e, portanto, mais reativos apresentaram rendimentos baixos com este catalisador ou nem reagiram. No caso da acrilonitrila (71b) e da 2-cloro-acrilonitrila (71d), subprodutos foram observados especialmente a temperaturas mais baixas, com o maleato de dimetila como dienófilo (71c) não houve reação. As reações com o 2-metil-furano (38b) como dieno catalisadas pelo pentacloreto de nióbio não ocorreram no sentido de formar os adutos de Diels-Alder, assim como a reação com o acetaldeído (71e) como heterodienófilo. 61 6. PERSPECTIVA DE TRABALHOS FUTUROS Avaliar a atividade do NbCl5 em reações de Diels-Alder do anel furano com dienófilos menos reativos do que os utilizados neste trabalho. Testar para as reações que apresentaram baixos rendimentos condições reacionais mais severas, como refluxo e -78 °C. Empregar os adutos de Diels-Alder obtidos através da metodologia descrita na síntese de produtos mais complexos. 62 7. SEÇÃO DE ESPECTROS Os dados espectrais estão de acordo com o que é descrito na literatura para todos os adutos de Diels-Alder sintetizados.46,53,57 7.1. Metil 7-oxabiciclo[2.2.1]hept-5-eno-2-carboxilato (72aa) A caracterização completa do composto 72aa foi realizada com o produto da reação 5 (vide Tabela 3). O O 5 6 1 4 5 3 3 CO2CH3 2 4 8 7 72aa exo 6 1 2 CO2CH3 8 7 72aa endo Figura 20. Espectro de IV do produto 72aa da reação 5 (vide Tabela 3). Tabela 12. Principais bandas de IV do aduto 72aa. Grupo funcional C=C-H Número de onda (cm-1) 3010 C-C-H 2954 C=O 1734 C=C 1438 O=C-O 1200-1170 C-O-C 1020 63 Figura 21. Espectro de RMN de ¹H do produto 72aa da reação 5 (vide Tabela 3) Tabela 13. Atribuição dos sinais do espectro de RMN de ¹H do aduto 72aa endo. H 1 2 3 3’ 4 5 6 7 δ (ppm) 5,17 3,12 2,14 1,58 5,02 6,42 6,23 3,65 Multiplicidade ddd ddd m m ddd dd dd s J (Hz) 4,7; 1,5; 0,8 9,1; 4,8; 3,9 4,1; 1,7 ; 0,8 5,8; 1,9 5,8 ; 1,9 - Tabela 14. Atribuição dos sinais do espectro de RMN de ¹H do aduto 72aa exo. H 1 2 3 3’ 4 5 6 7 δ (ppm) 5,19 2,44 2,14 1,58 5,08 6,39 6,35 3,74 Multiplicidade dd dd m m ddd dd dd s J (Hz) 1,5; 0,8 8,2; 3,9 4,7; 1,6; 0,8 5,8; 1,8 5,8; 1,8 - 64 Figura 22. Espectro de RMN de ¹³C do produto 72aa da reação 5 (vide Tabela 3) Tabela 15. Atribuição dos sinais do espectro de RMN de ¹³C do aduto 72aa endo. C 1 2 3 4 5 6 7 8 δ (ppm) 78,7 42,7 28,6 79,1 137,1 132,6 51,8 172,6 Tabela 16. Atribuição dos sinais do espectro de RMN de ¹³C do aduto 72aa exo. C 1 2 3 4 5 6 7 8 δ (ppm) 80,9 42,7 29,1 78,0 137,1 134,6 52,1 174,2 65 Figura 23. Espectro de COSY do produto 72aa da reação 5 (vide Tabela 3) Figura 24. Espectro de HSQC do produto 72aa da reação 5 (vide Tabela 3) 66 A seguir (Figuras 25-41) estão apresentados os espectros de RMN de ¹H dos adutos 72aa obtidos nas reações 1 à 4 e 6 à 18 (vide Tabela 3). Figura 25. Espectro de RMN de ¹H do produto 72aa da reação 1 (vide Tabela 3). 67 Figura 26. Espectro de RMN de ¹H do produto 72aa da reação 2 (vide Tabela 3). Figura 27. Espectro de RMN de ¹H do produto 72aa da reação 3 (vide Tabela 3). 68 Figura 28. Espectro de RMN de ¹H do produto 72aa da reação 4 (vide Tabela 3). Figura 29. Espectro de RMN de ¹H do produto 72aa da reação 6 (vide Tabela 3). 69 Figura 30. Espectro de RMN de ¹H do produto 72aa da reação 7 (vide Tabela 3). Figura 31. Espectro de RMN de ¹H do produto 72aa da reação 8 (vide Tabela 3). 70 Figura 32. Espectro de RMN de ¹H do produto 72aa da reação 9 (vide Tabela 3). Figura 33. Espectro de RMN de ¹H do produto 72aa da reação 10 (vide Tabela 3). 71 Figura 34. Espectro de RMN de ¹H do produto 72aa da reação 11 (vide Tabela 3). Figura 35. Espectro de RMN de ¹H do produto 72aa da reação 12 (vide Tabela 3). 72 Figura 36. Espectro de RMN de ¹H do produto 72aa da reação 13 (vide Tabela 3). Figura 37. Espectro de RMN de ¹H do produto 72aa da reação 14 (vide Tabela 3). 73 Figura 38. Espectro de RMN de ¹H do produto 72aa da reação 15 (vide Tabela 3). Figura 39. Espectro de RMN de ¹H do produto 72aa da reação 16 (vide Tabela 3). 74 Figura 40. Espectro de RMN de ¹H do produto 72aa da reação 17 (vide Tabela 3). Figura 41. Espectro de RMN de ¹H do produto 72aa da reação 18 (vide Tabela 3). 75 7.2. 7-oxa-biciclo[2.2.1]hept-5-eno-2-carbonitrila (72ab) A caracterização completa do aduto 72ab foi realizada com o produto da reação 42 (vide Tabela 6) O 5 6 1 4 O 3 6 4 2 7 CN 72ab endo 5 3 CN 1 2 7 72ab exo Figura 42. Espectro de IV do produto 72ab da reação 42 (vide Tabela 6). Tabela 17. Principais bandas de IV do aduto 72ab. Grupo funcional C-C-H Número de onda (cm-1) 2961 C≡N 2242 C=C 1665 C-O-C 1020 76 Figura 43. Espectro de RMN de ¹H do produto 72ab da reação 42 (vide Tabela 6). Tabela 18. Atribuição dos sinais do espectro de RMN de ¹H do aduto 72ab endo H 1 2 3 3’ 4 5 6 δ (ppm) 5,23 2,94 2,30 1,55 5,14 6,57 6,31 Multiplicidade ddd dt ddd dd dd dd dd J (Hz) 4,7; 1,9; 0,8 9,4; 3,9 11,4; 9,3; 4,3 11,5; 3,7 4,7; 1,4 5,9; 1,9 5,7; 1,8 Tabela 19. Atribuição dos sinais do espectro de RMN de ¹H do aduto 72ab exo H 1 2 3 3’ 4 5 6 δ (ppm) 5,24 2,40 2,13 1,75 5,19 6,49 6,42 Multiplicidade dd dd dt dd dd dd dd J (Hz) 1,9; 0,8 8,6; 3,9 11,5; 4,1 11,7; 8,2 4,7; 1,6 5,9; 1,6 5,9; 1,9 77 Figura 44. Espectro de RMN de ¹³C do produto 72ab da reação 42 (vide Tabela 6). Tabela 20. Atribuição dos sinais do espectro de RMN de ¹³C do aduto 72ab endo C 1 2 3 4 5 6 7 δ (ppm) 78,8 26,2 31,4 78,9 137,6 136,6 121,7 Tabela 21. Atribuição dos sinais do espectro de RMN de ¹³C do aduto 72ab exo C 1 2 3 4 5 6 7 δ (ppm) 81,2 27,6 31,5 78,0 137,6 133,6 120,4 78 Figura 45. Espectro de COSY do produto 72ab da reação 42 (vide Tabela 6). Figura 46. Espectro de HSQC do produto 72ab da reação 42 (vide Tabela 6). 79 A seguir (Figuras 47-60) estão apresentados os espectros de RMN de ¹H dos adutos 72ab obtidos nas reações 27 à 41, 43 e 44 (vide Tabela 6). Figura 47. Espectro de RMN de ¹H do produto 72ab da reação 27 (vide Tabela 6). 80 Figura 48. Espectro de RMN de ¹H do produto 72ab da reação 28 (vide Tabela 6). Figura 49. Espectro de RMN de ¹H do produto 72ab da reação 30 (vide Tabela 6). 81 Figura 50. Espectro de RMN de ¹H do produto 72ab da reação 31 (vide Tabela 6). Figura 51. Espectro de RMN de ¹H do produto 72ab da reação 33 (vide Tabela 6). 82 Figura 52. Espectro de RMN de ¹H do produto 72ab da reação 34 (vide Tabela 6). Figura 53. Espectro de RMN de ¹H do produto 72ab da reação 36 (vide Tabela 6). 83 Figura 54. Espectro de RMN de ¹H do produto 72ab da reação 37 (vide Tabela 6). Figura 55. Espectro de RMN de ¹H do produto 72ab da reação 38 (vide Tabela 6). 84 Figura 56. Espectro de RMN de ¹H do produto 72ab da reação 39 (vide Tabela 6). Figura 57. Espectro de RMN de ¹H do produto 72ab da reação 40 (vide Tabela 6). 85 Figura 58. Espectro de RMN de ¹H do produto 72ab da reação 41 (vide Tabela 6). Figura 59. Espectro de RMN de ¹H do produto 72ab da reação 43 (vide Tabela 6). 86 Figura 60. Espectro de RMN de ¹H do produto 72ab da reação 44 (vide Tabela 6). 87 7.3. 2-cloro-7-oxa-biciclo[2.2.1]hept-5-eno-2-carbonitrila (72ad) A caracterização completa do aduto 72ad foi realizada com o produto da reação 49 (vide Tabela 10) O 5 O 4 6 3 4 6 Cl 1 2 CN 72ad endo 7 5 3 CN 1 2 7 Cl 72ad exo Figura 61. Espectro de IV do produto 72ad da reação 49 (vide Tabela 10) Tabela 22. Principais bandas de IV do aduto 72ad. Grupo funcional C-C-H Número de onda (cm-1) 2960 HC=CH 1600 C-O-C 1147 C-Cl 700 88 Figura 62. Espectro de RMN de ¹H do produto 72ad da reação 49 (vide Tabela 10). Tabela 23. Atribuição dos sinais do espectro de RMN de ¹H do aduto 72ad endo H 1 3 3’ 4 5 6 δ (ppm) 5,25 2,52 2,37 5,18 6,70 6,54 Multiplicidade ddd dd d dd dd dd J (Hz) 4,3; 1,6; 0,8 13,3; 4,3 12,5 1,6; 0,8 5,9; 1,6 5,9; 1,6 Tabela 24. Atribuição dos sinais do espectro de RMN de ¹H do aduto 72ad exo H 1 3 3’ 4 5 6 δ (ppm) 5,33 2,88 1,84 5,21 6,64 6,43 Multiplicidade dd dd d ddd dd dd J (Hz) 1,6; 0,8 12,5; 4,7 12,3 4,7; 1,6; 0,8 5,7; 1,7 5,7; 1,7 89 Figura 63. Espectro de RMN de ¹³C do produto 72ad da reação 49 (vide Tabela 10). Tabela 25. Atribuição dos sinais do espectro de RMN de ¹³C do aduto 72ad endo C 1 2 3 4 5 6 7 δ (ppm) 84,9 58,2 45,8 79,6 138,3 132,1 120,1 Tabela 26. Atribuição dos sinais do espectro de RMN de ¹³C do aduto 72ad exo C 1 2 3 4 5 6 7 δ (ppm) 87,6 51,4 44,3 79,4 140,4 132,6 118,4 90 Figura 64. Espectro de COSY do produto 72ad da reação 49 (vide Tabela 10). Figura 65. Espectro de HSQC do produto 72ad da reação 49 (vide Tabela 10). 91 A seguir (Figuras 66-70) estão apresentados os espectros de RMN de ¹H dos adutos 72ad obtidos nas reações 50 à 54 (vide Tabela 10). Figura 66. Espectro de RMN de ¹H do produto 72ad da reação 50 (vide Tabela 10). 92 Figura 67. Espectro de RMN de ¹H do produto 72ad da reação 51 (vide Tabela 10). Figura 68. Espectro de RMN de ¹H do produto 72ad da reação 52 (vide Tabela 10). 93 Figura 69. Espectro de RMN de ¹H do produto 72ad da reação 53 (vide Tabela 10). Figura 70. Espectro de RMN de ¹H do produto 72ad da reação 54 (vide Tabela 10). 94 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. NOWAK, I.; ZIOLEK, M. Niobium compounds: preparation, characterization and application in heterogeneous catalysis. Chem. Rev., 99, 3606-3624, 1999. 2. Economia Mineral do Brasil, Publicação do Departamento Nacional de Produção Mineral-DNPM, 2009. 3. Columbita-tantalita: http://pt.wikipedia.org/wiki/Tantalita, acessado em 25/08/2013. 4. Pirocloro: http://pt.wikipedia.org/wiki/Pirocloro, acessado em 25/08/2013. 5. Bariopirocloro: https://plus.google.com/photos/112529496238886036968/albums/5315057192 898901521/5435479997226410706?pid=5435479997226410706&oid=112529 496238886036968, acessado em 25/08/2013. 6. 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