os recursos tecnologicos no processo de ensino e aprendizagem de

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OS RECURSOS TECNOLOGICOS NO PROCESSO DE ENSINO E
APRENDIZAGEM DE MATEMÁTICA NA ESCOLA PÚBLICA DA
REGIÃO DE MIRANTE DO PARANAPANEMA DO ESTADO DE SÃO
PAULO
Fernando Henrique Neves1 –USC
Maria Lucineide Dióginis2 - USC
Jose Jailton Cunha3 - UNOESTE
Grupo de Trabalho - Didática: Teorias, Metodologias e Práticas
Agência Financiadora: não contou com financiamento
Resumo
O presente trabalho teve como objetivo analisar as contribuições das Tecnologias da
Informação e Comunicação (TICs) como recurso auxiliar nas aulas de matemática,
especificamente no processo de ensino. Assim, o presente trabalho refletiu sobre a utilização
das TICs visando melhorar o desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem nas
escolas pública do Município de Mirante do Paranapanema - SP. Para tanto, recorreu-se,
como pressuposto teórico, a estudos sobre ensino e aprendizagem, processos de formação de
professores de matemática, assim como teorias sobre Infomática Aplicada á Educação. A
metodologia utilizada na pesquisa constou de punho qualitativa, devido à sua abrangência e à
vantagem de proporcionar ao pesquisador o contato direto com o ambiente e com a situação
que está investigando. Com os resultados levantados , conclui-se que a utilização de recursos
da infomáica em sala de aula é orientada pelo paradigma instrucionista, em que o computador
é usado apenas como uma máquina de ensinar. Com essa constatação, apontou-se a
1 Mestre em Ciências da Educação pela Universidade San Carlos (USC), Assunção, Paraguai. Licenciado em
Matemática pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Presidente Venceslau – (FAFIPREV). Graduado
em Pedagogia pela Faculdade União Cultural do Estado de São Paulo (UCESP). Professor Coordenador do
Núcleo Pedagógico da Diretoria de Ensino da Região de Mirante do Paranapanema-SP. Tutor presencial do
curso de pedagogia na Universidade Anhanguera-Uniderp. E-mail:[email protected]
2 Mestre em Educação pela Universidade San Carlos (USC), Assunção, Paraguai. Licenciada em Geografia pela
Faculdade de Ciências e Letras de Presidente Venceslau. (FAFIPREV). Graduada em Pedagogia pela UNINOVE
BAURU-SP. Professora da rede Estadual Ensino Fundamental e Ensino Médio da EE PROF ZULENKA
RAPCHAN. Tutora presencial do Curso de Pedagogia na Universidade Anhanguera. E-mail:
[email protected]
3 Mestre em Educação pela Universidade do Oeste Paulista – UNOESTE, Pres. Prudente. Licenciado em
Educação Física pela Faculdade de Ciência e Tecnologia, Universidade Estadual Paulista, FCT/UNESP, Pres.
Prudente-SP. Graduado em Pedagogia pela Faculdade de Presidente Prudente (FAPEPE), União das Instituições
Educacionais do Estado de São Paulo (UNIESP). Docente dos cursos de Licenciatura em Educação Física e
Pedagogia da Faculdade de Presidente Venceslau (FAPREV). União da Instituições Educacionais do Estado de
São Paulo (UNIESP). E-mail: [email protected]
ISSN 2176-1396
15130
necessidade de investir na formação dos professores para utilização adequada e eficiente do
computador e de seus recursos de acordo com o paradigma construcionista, aplicando-os de
modo contextualizado e significativo. Mediante a este contexto, entendemos como
necessidade formar o professor de tal forma que o aluno seja considerado o construtor do
conhecimento e o professor mediador da aprendizagem. Concluímos que alunos e professores
tem consciência de que os recursos tecnológicos tornam as aulas desafiadoras e significativas.
No entanto, a fragmentação da formação continuada dificulta a implementação efetiva das
TICs em sala de aula.
Palavras-chave: Tecnologia de Informação e Comunicação. Abordagem Construcionista.
Aprendizagem Significativa. Formação Continuada de Professores. Matemática.
Introdução
Este artigo é um recorte da dissertação de mestrado intitulada “As tecnologias da
informação e o ensino de Matemática na escola pública: práticas presentes e perspectivas
futuras”. A pesquisa de mestrado foi desenvolvida no âmbito do Programa de Pós-Graduação
em Ciências da Educação da Universidade San Carlos (USC) e inserida na linha de pesquisa
“Tecnologia Educativa e Formação de professores”.
Nos dias atuais, um dos temas cruciais da educação se refere ao desempenho dos
alunos em Matemática. Esse desempenho é alvo de inúmeras discussões nos meios
acadêmicos, especialmente em relação ao processo de ensino e aprendizagem. Assim, o baixo
desempenho dos alunos em Matemática merece atenção especial e aponta para uma realidade
com múltiplas faces.
A essas constatações, agrega-se o fato de que os recursos tecnológicos são usados de
forma descontextualizada, isto é, as atividades e objetivos da utilização dos referidos recursos
não estão em sintonia com a vivência e a realidade do aluno.
Na perspectiva de contribuir com a mudança dessa realidade, realizamos este estudo,
selecionando professores e alunos de duas escolas da rede pública estadual do Estado de São
Paulo, sendo que uma delas se encontra localizada na cidade de Mirante do Paranapanema e a
outra no município de Costa Machado. As escolas serviram como fonte de investigação para a
análise dos dados coletados e selecionados.
Neste sentido, buscamos colher informações a respeito da exploração do uso dos
recursos tecnológicos nas aulas de matemática por parte dos professores e ao mesmo tempo,
identificar, se para os alunos este modelo de aula utilizando os recursos tecnológicos se torna
mais significativo do que o modelo trabalhado em sala de aula comum.
15131
Na categoria de pesquisadores e educadores, acreditamos que a utilização dos recursos
tecnológicos nas aulas de Matemática propicia aos estudantes, o estimulo e o despertar de
interesses e potencialidades, e desta forma promove condições para que a aprendizagem
aconteça de forma significativa.
Assim, o início dessa trajetória ocorreu com a observação dos ambientes que possuem
ferramentas tecnológicas (computador, internet), a sala de aula, o uso dessas ferramentas
pelos professores e alunos, a relação professor-aluno em situações de uso e não dos recursos,
a satisfação e o interesse demonstrado pelo aluno.
Partindo do pressuposto de que as tecnologias auxiliam o desenvolvimento intelectual
da criança, consideramos que as mesmas contribuem para a mudança do contexto escolar e
para que o conhecimento converta-se em fonte de poder, estimulando assim o trabalho do
pesquisador. Na pesquisa desenvolvida, procuramos aplicar um questionário que viesse a
valorizar as potencialidades de cada indivíduo e ao mesmo tempo identificar as facilidades e
dificuldades encontradas para utilizarem os recursos tecnológicos. As questões permitiram
que cada um dos participantes respondessem os questionamentos de acordo com a realidade
vivenciada nas aulas de matemática, proporcionando assim, a identificação do conhecimento
dos professores e dos alunos a respeito de softwares matemáticos, bem como, habilidades e
interesses.
Neste sentido, o objetivo geral deste estudo foi analisar as contribuições das
Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) como recurso auxiliar nas aulas de
matemática, especificamente no processo de ensino.
Os objetivos específicos se referem a identificar qual o conhecimento e domínio que
os professores detêm em relação à utilização das TICs nas aulas de matemática, em verificar
se a formação continuada dos professores favorece a utilização adequada das TICs e como
essas ferramentas são aplicadas no processo de ensino e aprendizagem.
Para tanto, a justificativa principal desta investigação está na necessidade da utilização
dos recursos tecnológicos de forma contextualizada em sintonia com a vivência e a realidade
do aluno. Além do mais, é consensual a opinião de que nos meios acadêmicos a utilização de
recursos tecnológicos possibilita a melhoria da qualidade de ensino e especialmente do ensino
da matemática.
15132
A formação do professor e a construção do conhecimento matemático na era da
Informática
Atualmente, estamos vivendo em um mundo altamente informatizado, tornando-se
notório o quanto os recursos tecnológicos vêm influenciando a vida das pessoas. O acesso à
informação por meio das tecnologias está cada vez mais presente, mudando a maneira de
construir conhecimento, de se relacionar e até mesmo de pensar (JOLY, 2002).
Partindo desse pressuposto, faz-se cada vez mais necessário o domínio da tecnologia,
principalmente dos recursos que o computador disponibiliza, para que as pessoas possam
estar em sintonia com o desenvolvimento da sociedade em que vivem. Diante desse contexto,
é possível observar o quanto as TICs tem-se expandido aos ambientes educacionais, dando
maior ênfase à utilização do computador e aos seus recursos, no intuito de serem usados como
ferramentas em busca da melhoria no processo de ensino e aprendizagem com foco nos
alunos.
Observando que os recursos tecnológicos estão cada vez mais presentes no ambiente
educacional, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) de Matemática (1997) ressaltam
que o computador pode ser entendido como recurso que integra várias mídias, apresentando
contribuição para a construção de conhecimento no ambiente escolar. Assim, os PCN (1997,
p. 35) sustentam que:
o computador pode ser usado como elemento de apoio para o ensino (banco de
dados, elementos visuais), mas também como fonte de aprendizagem e como
ferramenta para o desenvolvimento de habilidades. O trabalho com o computador
pode ensinar o aluno a aprender com seus erros e a aprender junto com seus colegas,
trocando suas produções e comparando-as.
É sabido que o computador por meio de seus recursos pode despertar a curiosidade e o
interesse dos alunos, pois esses equipamentos vêm acompanhados de multimídias, conexão
com a rede de Internet, programas que articulam jogos e informações educativas, dentre
outros que possibilitam uma forma diferente de acesso à informação e à construção do
conhecimento. Apenas a presença técnica do computador em sala de aula não é significativa
para o aluno, pois, de acordo com Almeida (1996), para que se possa fazer uso das TICs se
faz necessário o domínio dos recursos tecnológicos e de suas funções disponíveis, bem como,
o conhecimento das características e concepções subjacentes. Dessa forma, para que o
professor possa fazer uso do software de maneira mais adequada à situação de trabalho é
preciso que se tenha clareza quanto à ação pedagógica em questão.
15133
Assim, para que o uso do computador nas aulas possa efetivamente tornar-se
produtivo e interessante, é necessário que o professor mantenha coerência entre os objetivos
específicos que requeiram o uso desta ferramenta e os conteúdos a serem trabalhados. É
importante ressaltar que a simples presença do computador na escola não propicia mudanças
significativas conforme requer a introdução das TICs na educação. Nesse sentido, Valente
(1993, p.104) determina que:
[...] os computadores não devem simplesmente ser instalados como um novo recurso
educacional, precisam ser inseridos em ambientes de aprendizagem que facilitem a
construção de conhecimento, a compreensão do que o aprendiz faz e o
desenvolvimento das habilidades que são necessárias para atuar na sociedade do
conhecimento.
Desse modo, o docente precisa ter em mente que o uso do computador só se torna
significativo para a aprendizagem do aluno se este for usado de forma contextualizada. Para
que isso ocorra, Schlünzen (2000) propõe um ambiente de aprendizagem Construcionista,
Contextualizado e Significativo (CCS), definindo-o como favorável ao despertar do interesse
do aluno e motivando-o a explorar, a pesquisar, a descrever, a refletir e a depurar as suas
ideias, gerando a espiral de aprendizagem descrita por Valente (2002).
É essencial que o professor tenha um domínio suficiente dos recursos tecnológicos e
pedagógicos disponíveis para que possa fazer uso das TICs de forma mais adequada, levando
em consideração as concepções educacionais apresentadas de maneira a contribuir com a
aprendizagem dos alunos. Conforme Almeida (1996), ao fazer uso das TICs, a ação do
professor é fundamental, portanto, deve conhecer o conteúdo especifico de que trata o
software a ser utilizado, suas concepções educacionais, potencialidades, fragilidades,
vantagens e limitações.
Assim, para que a construção do conhecimento seja efetivamente favorecida, faz-se
necessário que o professor se posicione como mediador entre os alunos e o conhecimento,
pois o mero transmissor de informação que requer do aluno uma única resposta deve ser
deixado de lado. Portanto, evidencia-se a necessidade de uma mudança profunda nas práticas
pedagógicas do professor, para que possam compreender que o uso das TICs podem ser
ferramentas potencializadoras somente mediante ações que realmente contribuam para uma
aprendizagem significativa.
Diante desse contexto, é preciso ressaltar que, em muitas escolas, o uso do computador
se limita a uma aula de computação, em que o aluno aprende a utilizar de forma mecânica as
ferramentas do computador e não como fonte de informações para a construção do seu
15134
conhecimento. Desse modo, para compreender a importância da incorporação das TICs no
sistema escolar, em especial o uso do computador, é preciso considerar que a sua utilização é
orientada por pelo menos dois paradigmas: construcionismo e instrucionismo.
Posteriormente à definição dos questionamentos propulsores desta pesquisa e dos
objetivos propostos, explicitam-se os caminhos metodológicos percorridos para a viabilização
desta investigação. Para esclarecer nossos procedimentos, apresentaremos a seguir o
delineamento metodológico, o universo e participantes da pesquisa.
Caminhos Metodológicos
A pesquisa, caracterizada como qualitativa do tipo estudo de caso, foi desenvolvida
através de entrevistas semi-estruturadas, de estrutura flexível, pois, como afirmam Bogdan e
Biklen (1994,p.17), esse tipo de entrevista possibilita que o investigador “compreenda com
bastante detalhe, o que é que professores, diretores e estudantes pensam e como
desenvolveram seus quadros de referência”. Para a investigação a respeito desse contexto,
fizemos uso de questionários que foram respondidos por professores e alunos.
O trabalho foi iniciado com estudos bibliográficos sobre o tema para a construção do
referencial teórico e com uma pesquisa de campo de natureza qualitativa sobre o cotidiano de
duas escolas públicas da rede estadual de ensino da cidade de Mirante do Paranapanema, que
dispõe de salas de informática. Essa investigação contou com a utilização de técnicas, tais
como: da observação, da entrevista e do questionário, para verificar como, quando, em que
situação os professores e alunos recorrem a esses meios, quais as dificuldades enfrentadas na
sua aplicação e, em casos de não utilização, porque não o fazem.
A última etapa desta pesquisa consistiu na tentativa de encontrar os princípios
subjacentes ao fenômeno estudado e de situar as várias descobertas em um contexto mais
amplo, para que pudesse ter um processo de envolvimento do pesquisador confrontando as
evidências positivas e negativas com as teorias existentes para gradativamente desenvolver a
sua própria teoria (LÜDKE E ANDRÉ, 1995), fundamentado nos conhecimentos teóricos de
diferentes autores.
Para a revisão bibliográfica a respeito do tema foram utilizadas obras do acervo da
universidade, do acervo particular, público e da internet. Realizamos fichamento das leituras
realizadas,
destacando-se
resultados
de
pesquisas
feitas
pelos
(BARANAUSKAS, 1993; VALENTE, 2002; PAPERT, 1985), dentre outros.
autores
como
15135
Seleção do Universo da Pesquisa
No decorrer da realização da pesquisa, houve inicialmente a necessidade de definir os
critérios para a seleção dos alunos e dos professores que participaram das entrevistas para
responder aos questionários, bem como as escolas e séries que seriam analisadas.
Foram selecionadas duas escolas de ensino fundamental da rede pública estadual do
Estado de São Paulo, jurisdicionadas a Diretoria de Ensino da Região de Mirante do
Paranapanema (DE/RMP). As referidas escolas serviram como fonte de investigação que
permitiu analisar os dados coletados e selecionados.
Houve a preocupação de selecionar 05 (cinco) professores e 167 (cento e setenta e
sete) alunos, respeitando-se também as diferentes séries em que esses alunos se encontravam
matriculados, pois eram nessas mesmas séries que os professores selecionados atuavam no
momento da entrevista.
Com esta pesquisa, não se pretendeu generalizações sobre o uso dos recursos do
computador na educação, entretanto, esperamos que ela contribua com o processo de ensino e
aprendizagem auxiliado pelos recursos tecnológicos.
Visando delimitar o universo da pesquisa, realizamos um levantamento sobre as
escolas do município que atendessem à problemática da pesquisa, assim, fez-se necessário
selecionar as escolas que já fossem equipadas com as SAI. Tais informações foram
concedidas pela DE/RMP, apresentando dados sobre as escolas que estavam adaptadas com
as SAI, quais professores faziam uso da tecnologia e quais não faziam para complementar as
aulas.
Apresentação e análise dos dados
Com base nos pressupostos teóricos estudados, tivemos a cautela de olhar para cada
resposta coletada da forma mais coerente possível, criando um espaço para perceber a forma
como o ensino de Matemática era pensado para as escolas pesquisadas e que estratégias
poderiam ser utilizadas para aprimorar esse processo.
Analisando as respostas dos alunos em relação aos interesses durante a utilização do
computador e da internet, verificamos em praticamente todos os casos pesquisados a
referência a pesquisas, jogos e redes sociais, com destaque para o acesso a vídeos e imagens,
especialmente os que são disponibilizados pelo Youtube e Google.
15136
Sobre o uso e conhecimento de algum software matemático, todos os alunos disseram
desconhecer e não utilizar. Mencionaram, no entanto, a pesquisa ao Caderno do aluno. A
mesma unanimidade é percebida no que se refere às dificuldades enfrentadas nos laboratórios
de informática da escola: todos os alunos mencionaram a falta de computador e a falta de
tempo disponível para pesquisas na internet.
Sobre a contribuição que o uso de tecnologias pode oferecer ao processo de
aprendizagem, a maioria dos alunos mencionou que a utilização do Datashow nas aulas
permite visualizar imagens, figuras geométricas, vídeos relacionados com o assunto, tornando
assim as aulas mais interessantes (“mais legais”, “mais fáceis de entender”). Além disso,
mencionaram a possibilidade de aprender coisas novas e de se manter atualizado. Da mesma
forma, comentaram que as tecnologias tornam as aulas mais divertidas, estimulam a memória
e o trabalho mental, como também facilitam o entendimento do assunto abordado.
Segundo Neves (2012), para mudar o paradigma da abordagem instrucionista é
necessário propor atividades contextualizadas e planejadas a partir de um ambiente
Construcionista Contextualizado e Significativo (CCS), que possibilita ao aluno meios para
uma aprendizagem mais atraente e até mesmo divertida.
De modo geral, a partir dos dados coletados e sistematizados, é possível observar por
meio das respostas dos alunos que o uso dos recursos tecnológicos vem sendo trabalhado de
tal forma que não contempla os aspectos pedagógicos que compõem a proposta de formação
apresentada no referencial teórico estudado e apresentado no primeiro capítulo da presente
pesquisa.
Começamos nossa pesquisa na escola com a hipótese de que os métodos adotados pelo
professor para utilizar o computador no processo de ensino e aprendizagem seriam métodos
instrucionistas, que concebem o computador como máquina de ensinar e os alunos como
recipientes vazios, que assimilam somente aquilo que a atividade propõe, sem que haja
reflexão, depuração, ou a oportunidade de se construir o próprio conhecimento (VALENTE,
1993).
A confirmação dessa hipótese se deu a partir da análise das respostas dos professores
que também foram coletadas através da aplicação dos questionários. Com essa confirmação, a
presente pesquisa se justificava, pois não era objetivo apenas diagnosticar a situação do uso
do computador no contexto escolar focado no processo de ensino e aprendizagem, mas sim,
analisar se a utilização do computador estava acontecendo de forma ativa e reflexiva, se
professores e alunos tinham conhecimento das potencialidades que os recursos tecnológicos
15137
oferecem, e se os professores haviam mudado sua prática e a forma de ensinar a partir do uso
dos recursos que o computador disponibiliza.
Discutindo os resultados
Baseados nos pressupostos teóricos estudados, tivemos como ponto de partida a
hipótese de que o uso do computador na educação se resumiria apenas a uma versão
computadorizada dos métodos tradicionais de ensino, em que esse recurso seria utilizado
apenas como uma extensão do material4 disponibilizado pela Secretaria Estadual da Educação
do Estado de São Paulo (SEE/SP), configurando assim o seu uso em uma abordagem
instrucionista.
Assim, fez-se necessário olhar para cada resposta coletada da forma mais coerente
possível, criando um espaço para perceber a forma como o ensino de Matemática era pensado
para as escolas pesquisadas e que estratégias poderiam ser utilizadas para aprimorar esse
processo.
Dessa forma, compreendemos com os resultados coletados que na educação para
utilizar o computador existem diversas maneiras. Dentre essas maneiras, salientamos que a
abordagem construcionista é a mais importante, pois considera, a partir da mediação do
professor, o aluno como construtor de seu conhecimento (VALENTE, 1993).
Diante disso, consideramos que a maneira como vem sendo usados os recursos
tecnológicos não estimula a aprendizagem dos alunos, pois os professores não fazem uso de
um software matemático e nem trabalham com atividades que permitam que ocorra a
compreensão de um determinado conceito matemático, embora esses professores tenham
consciência de que o computador possui potencial para propiciar esses tipos de atividades. No
entanto, se sentem inseguros, pois não possuem a formação necessária para trabalhar com os
recursos do computador, conforme verificamos na análise das respostas dos professores.
Foi notório observar que a maioria dos alunos entrevistados não vê o computador
como uma ferramenta pedagógica que possa auxiliá-lo em suas atividades educacionais, ou
seja, eles veem o computador como uma ferramenta que os leva apenas ao divertimento.
Assim podemos observar que esses alunos não são modelados de forma a enxergar o
computador como uma ferramenta que poderá levá-los ao divertimento, unindo teoria e
4
Que compreende o caderno do aluno e do professor utilizado em sala de aula na disciplina de matemática, em
escolas públicas estadual de São Paulo
15138
prática a partir de um ambiente Construcionista Contextualizado e Significativo (CCS), que
possibilita ao aluno uma aprendizagem mais atraente e até mesmo divertida.
Por outro lado, foi possível observar que alguns alunos mencionam ferramentas de
pesquisas e até jogos educativos que servem de apoio para que possam realizar suas
atividades. Portanto, compreendemos que os alunos se interessam por uma aprendizagem
fundamentada no manuseio do computador.
Analisando essa situação, verificamos que a abordagem dos professores para uso do
computador se baseava na concepção instrucionista, em que o computador é compreendido
como uma máquina que ensina o aluno e este deve dar somente as respostas preestabelecidas.
Dessa forma, acreditamos que os professores ainda vivem na ilusão de que apenas colocar o
aluno diante de uma atividade qualquer no computador garantirá que está fazendo um trabalho
diferenciado, mediado pela tecnologia. Sobre essa questão, Barreto (2005, p.142) assinala que
“é possível afirmar que o discurso educacional tem incorporado as TIC como modo de
agregar novas possibilidades a processos pedagógicos”.
Desse modo, a partir do que já foi apresentado ao longo deste trabalho, o computador
por si só não faz nada: é o professor, mediador da aprendizagem, quem pode fazer a diferença,
promovendo uma aprendizagem significativa para os alunos, a partir da construção de um
ambiente CCS propício para o desenvolvimento de conceitos e conhecimentos. Sem essa
mediação, o uso do computador será apenas um passatempo, cheio de atividades
descontextualizadas que podem provocar a desmotivação do aluno.
No entanto, cabe ressaltar que, para o professor fazer uso dos recursos que o
computador disponibiliza de forma dinâmica e significativa, se faz necessário uma proposta
de formação continuada.
Logo, considerando o fato de que na escola devem ocorrer mudanças para a utilização
de todo potencial do computador, Valente (2002, não paginado) complementa tal afirmativa:
o uso do computador na criação de ambientes de aprendizagem que enfatizam a
construção do conhecimento apresenta enormes desafios. Primeiro, implica em
entender o computador como uma nova maneira de representar o conhecimento.
Segundo, requer a análise cuidadosa do que significa ensinar e aprender, bem como
demanda rever o papel do professor nesse contexto. Terceiro, a formaçao desse
professor envolve muito mais do que prover o professor com conhecimentos sobre
computadores.
Nesse sentido, é importante ressaltar que, conforme se observa nas respostas dos cinco
professores coletadas e analisadas no decorrer deste trabalho, tais professores têm uma visão
ampla relacionada ao uso do computador e entendem o quanto a sua potencialiade pode
15139
contribuir para o processo de ensino e aprendizagem. Entretanto, não fazem uso efetivo desse
recurso conforme vimos propondo desde o início do presente trabalho, construindo um
ambiente CCS, pois os mesmos se encontram com uma certa defasagem em sua formaçao,
necessitando, assim, de uma formação continuada.
Desse modo, uma das estratégias que poderia ser aplicada como forma de atender as
necessidades desses professores seria cursos de formaçao continuada que proporcionasse
condições para o professor construir conhecimentos sobre as técnicas computacionais e
entender por que e como integrar o computador em sua prática pedagógica.
Diante desse contexto, acreditamos que uma formaçao continuada que englobe essas
características seja a mais indicada para trabalhar com os recursos tecnológicos tendo como
objetivo sanar as dúvidas que geram nos professores mediante a utilizaçao desses recursos.
Contudo, o que temos visto em muitos estados e municípios é a implementaçao de projetos e
cursos de formaçao complementar do professor que não têm uma relação direta com os
problemas que ele enfrenta ao fazer ou ao tentar fazer uso do computador na escola e, nesse
caso, pouco contribuem para o fazer pedagógico e para a apropriaçao de novos conceitos
sobre o ensino e a aprendizagem, tanto de matemática como de um modo geral.
A partir das consideraçoes tecidas pelos professores participantes da pesquisa parece
ser claro que deveria ser oferecida aos professores uma proposta de formaçao continuada que
vise aprimorar os seus conhecimentos em relaçao ao uso dos recursos tecnológicos e
oportunizar situações de discussões que venham ao encontro dos dilemas enfrentados na
utilização de tais recursos em seu dia-a-dia na sala de aula.
Como proposta, por exemplo, a SEE/SP poderia oferecer curso aos professores de
matemática que envolva aspectos sobre a utilizaçao do computador em suas aulas. É
importante que os professores tenham contato com diversos softwares educativos e saibam
diferenciá-los, dado que a formação lhes deve propiciar o mais preciso entendimento sobre o
assunto para que tenham autonomia pedagógica na hora da escolha por um determinado
programa ou software que poderá ser utilizado em suas aulas, articulando assim teoria e
prática a partir de um ambiente CCS. Assim, Valente (2009, não paginado) acrescenta que:
o preparo do professor não pode ser uma simples oportunidade para passar
informações, mas deve propiciar a vivência de uma experiência. É o contexto da
escola, a prática dos professores e a presença dos seus alunos que determinam o que
deve ser abordado nos curso de formaçao. Assim o processo de formaçao deve
oferecer condições para o professor construir conhecimento sobre as técnicas
computacionais e entender por que e como integrar o computador na sua prática
pedagógica.
15140
Entretanto, ao reconhecermos que a formaçao do professor não se finda na formaçao
inicial e que os desafios do trabalho pedagógico geram outras necessidades formativas, a
formaçao continuada assume um papel decisivo para suprir algumas dificuldades decorrentes
da prática pedagógica e, assim, acreditamos que essa formaçao pode propiciar condições para
que os conhecimentos e competências profissionais construídos durante a formação incial
sejam revistos e reconstruídos no decorrer da carreira docente, num processo que promova o
desenvolvimento profissional do professor. Acreditamos ainda que a formaçao continuada do
professor deve ser repensanda, levando em consideração os saberes dos professores e as suas
necessidades, bem como as principais demandas da escola.
Considerando que o espaço da escola está intrinsecamente relacionado à formação
contínua dos professores, Nóvoa (1997) acrescenta que o desenvolvimento pessoal,
profissional, humano e organizacional da escola são fatores da profissão docente. Tardif
(2000) fundamenta essa proposição ao considerar que os conhecimentos “[...] são evolutivos e
progressivos e necessitam, por conseguinte, uma formação contínua e continuada. (p.07),
dado que o processo de constituição de saberes e aprendizagem da docência não se findam na
formaçào inicial.
Assim, concordamos com Tardif (2000), ao demonstrar que não podemos confundir os
saberes dos professores com os transmitidos em sua formaçao acadêmica, ou seja, aqueles
adquiridos no decorrer da licenciatura, tendo em vista que a epistemologia da prática
profissional tem como finalidade revelar quais são os saberes integrados de forma concreta
nas tarefas desempenhadas pelos professores. Em outras palavras, esse saber para o autor tem
um sentido mais amplo, que engloba os conhecimentos, as competências, as habilidades
(aptidões) e as atitudes, enfim, aquilo que é mais conhecido como um saber-fazer e saber-ser,
que, no caso específico deste estudo, envolve os saberes mobilizados pelos professores ao
ensinarem Matemática.
Por fim, apresentados os dados obtidos com a coleta de dados e uma breve intervençao
na formação dos professores, bem como a análise de todos esses resultados, torna-se possível
a compreensão de como se deu todo o processo de desenvolvimento dessa pesquisa. Assim,
serão apresentadas, a seguir, as Considerações Finais, apresentando os questionamentos e os
principais pontos levantados por esta investigação.
15141
Considerações Finais
Este estudo permitiu identificar e analisar a prática de professores que ensinam
Matemática no Ensino Fundamental articulando o processo de ensino dessa disciplina e a
utilização de TICs em sala de aula, e refletindo sobre as concepções e conceitos que
circundam essa interrelação; a informática e o uso do computador nas aulas; e, também, a
formação de professores de Matemática para uma prática docente diferenciada, mediada pelos
recursos do computador.
Pensando na melhoria da formação do professor, observou-se que o professor
necessita de respaldo teórico e prático, bem como conhecimento dos recursos que podem lhe
auxiliar, promovido por meio de cursos de aprimoramento que irão ajudá-lo a resolver as
situações específicas com as quais está lidando em sala de aula. Somente assim poderá
conduzir de maneira verdadeiramente satisfatória as aulas que ministra, auxiliando a
aprendizagem dos alunos.
No entanto, faz-se necessário compreender que apenas a introdução das TICs na
educação, por meio do uso do computador, não garante que a aprendizagem acontecerá ou
que contribuirá para a prática docente. É preciso entender que o computador constitui um
recurso tecnológico com potencialidades pedagógicas e com alternativas dinâmicas que
podem propiciar práticas docentes diferenciadas na educação. Dessa forma, seu uso precisa
ser baseado na abordagem construcionista, a partir de ambientes de aprendizagem CCS,
permitindo a construção de conhecimentos que sejam contextualizados com a realidade dos
alunos e significativos para a sua aprendizagem.
Em suma, diante dos estudos bibliográficos realizados e dos resultados obtidos neste
trabalho, acredita-se que esta investigação promoverá o surgimento de discussões
significativas a respeito do uso das TICs na educação e dos recursos do computador no
processo de ensino, na formação de professores, bem como práticas educacionais em geral.
Dessa forma, pode-se concluir que a formação continuada de professores se constitui de
forma insuficiente e aligeirada (TEDESCO, 1998), não sendo capaz de suprir as necessidades
diante do novo contexto, que exige dos profissionais uma série de capacidades e habilidades
que não estavam presentes nos cursos de formação inicial, como o caso da articulação da
teoria e da prática e sobretudo as especificidades do trabalho com as TICs.
15142
REFERÊNCIAS
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