Apostila 04 - oficina da pesquisa

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OFICINA DA PESQUISA
ÉTICA, POLÍTICA E SOCIEDADE
Prof. Msc. Carlos José Giudice dos Santos
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A FORMAÇÃO DA MORAL OCIDENTAL
A FILOSOFIA PATRÍSTICA
A FILOSOFIA MEDIEVAL
A FILOSOFIA DA RENASCENÇA
Períodos da Filosofia
Filosofia antiga - séc. VI a.C. ao séc. VI d.C.
Filosofia patrística - séc. I ao séc. VII
Grega
Latina
Filosofia medieval - séc. VIII ao séc. XIV
História
da
Filosofia
Filosofia da Renascença - séc. XIV ao séc. XVI
Filosofia moderna - séc. XVII a meados do séc. XVIII
Filosofia da Ilustração (Iluminismo) – meados do séc.
XVIII até início do séc. XIX
Filosofia contemporânea – meados do séc. XIX até hoje
FILOSOFIA PATRÍSTICA [1]
Alexandre, o Grande foi o maior conquistador o mundo
antigo, e o responsável pela unificação do mundo
grego. Quando ele morreu, as cidades-Estado gregas,
que viviam em um ambiente de cooperação graças ao
célebre general unificador, voltaram a ser inimigas.
Nos dois séculos seguintes o mundo assiste à
ascensão do Império Romano, que não tinham apreço
pela filosofia grega – com exceção do estoicismo – a
única contribuição grega (helênica) admirada pelos
romanos, que prega uma conduta virtuosa e obediente
às leis.
FILOSOFIA PATRÍSTICA [2]
De acordo com Chauí (2005), a filosofia patrística
inicia-se com as Epístolas de São Paulo e o Evangelho
de São João e termina no século VIII, quando teve
início a Filosofia medieval.
A patrística resultou do esforço feito pelos dois
apóstolos intelectuais (Paulo e João) e pelos primeiros
padres da Igreja para conciliar a nova religião – o
Cristianismo - com o pensamento filosófico dos gregos
e romanos, pois somente com tal conciliação seria
possível convencer os pagãos da nova verdade e
convertê-los a ela.
FILOSOFIA PATRÍSTICA [3]
Divide-se em patrística grega (ligada à Igreja de Bizâncio)
e patrística latina ou romana (ligada à Igreja de Roma).
A patrística foi obrigada a introduzir ideias até então
desconhecidas para os filósofos greco-romanos: a ideia de
criação do mundo, de pecado original, de Deus como
trindade una, de encarnação e morte de Deus, de juízo
final ressurreição dos mortos, etc. Precisou também
explicar como o mal pode existir no mundo, já que tudo foi
criado por Deus, que é pura perfeição e bondade.
Introduziu também a ideia de “homem interior”, isto é, da
consciência moral e do livre-arbítrio, pelo qual o homem se
torna responsável pela existência do mal no mundo.
SANTO AGOSTINHO (*354 / †430) [1]
É considerado o grande nome da patrística. Ele nasceu em
Tagaste (atual Argélia) e foi bispo de Hipona, cidade ao
norte da África.
De Santi (2013) afirma que Agostinho teve uma vida de
esbanjamento e luxúria até o 32 anos, quando influenciado
por Ambrósio, bispo da cidade de Milão, começou a ler um
relato da vida de Santo Antão do Deserto e teve uma
revelação espiritual que mudou a sua vida.
Assim como acontecera com Agostinho, Antão era filho de
ricos proprietários de terras e levou a sua juventude e
parte da vida adulta em uma vida confortável e perdulária,
mas quando perdeu seus pais, resolveu doar tudo aos [...]
SANTO AGOSTINHO (*354 / †430) [2]
[...] pobres e foi peregrinar pelo deserto, a exemplo de
Jesus Cristo. Agostinho ficou tão tocado por esta história
que resolveu entrar para a Igreja e regressar à África,
onde foi ordenado padre pouco tempo depois.
Agostinho retoma a dicotomia platônica referente ao
mundo sensível e ao mundo das ideias e substitui esse
último pelas ideias divinas. Segundo a teoria da iluminação,
o homem recebe de Deus o conhecimento das verdades
eternas: tal como Sol, Deus ilumina a razão e torna
possível o pensar correto (ARANHA, 1993).
Influenciado por seu passado, Agostinho tentou explicar a
existência do mal em um mundo regido por um Deus bom...
SANTO AGOSTINHO (*354 / †430) [3]
[...] e onipresente. Até então a Igreja via os homens como
simples marionetes de Deus, o que não explicava porque
optamos em fazer coisas erradas se estamos destinados a
fazer tudo o que Ele quer. Neste sentido, Agostinho inovou
ao propor que Deus foi bondoso ao dar ao homem a escolha
entre o bem e o mal (o livre arbítrio).
Logo depois da sua morte, o Império Romano cai e Hipona é
invadida pelos vândalos (uma tribo que vivia em constante
guerra contra Roma). Eles cruzaram as muralhas e
destruiram e incendiaram quase tudo na cidade, mas a
catedral e a biblioteca deixadas por Agostinho ficaram
intactas. Sua frase mais famosa é: “Amo o pecador, mas
odeio o pecado”.
FILOSOFIA MEDIEVAL [1]
A filosofia medieval é a filosofia da Idade Média. A Idade
Média é dividida em duas fases: Alta Idade Média
(aproximadamente do século VI - queda do Império
Romano do Ocidente até o século IX – por volta do ano
1000) e Baixa Idade Média (que tem início no século IX e
termina no século XV, quando começa a Renascença).
A Alta Idade Média (período das trevas) caracteriza-se
pela descentralização do poder, a formação de diversos
reinos independentes, a formação do feudalismo.
A Baixa Idade Média caracteriza-se pelo renascimento
das cidades, do comércio, o ressurgimento das artes e o
acirramento das lutas sociais e religiosas.
FILOSOFIA MEDIEVAL [2]
A filosofia medieval abrange pensadores europeus, árabes
e judeus. Foi o período em que a Igreja Romana dominou a
a Europa, ungia e coroava reis, organizava Cruzadas à
Terra Santa e criava, à volta das catedrais, as primeiras
universidades ou escolas. A partir do século XII, por ter
sido ensinada nas escolas, a Filosofia medieval passou a
ser conhecida com o nome de Escolástica.
A Filosofia medieval teve como influências principais as
ideias de Platão e Aristóteles, porém, adaptadas para
servir aos interesses da Igreja. Era baseada na
autoridade para poder dificultar a livre interpretação, e
não teve nenhuma concorrência até o século XII.
FILOSOFIA MEDIEVAL [3]
A metodologia da Escolástica era baseada em quatro
pilares: Lectio (leitura), Glossa (comentário), Quaestio
(questões) e Disputatio (discussão).
Basicamente, a filosofia medieval é a teologia, com
diversos nomes ligados ao cristianismo, mas também com a
contribuição de pensadores arábes.
Os principais nomes desta fase são São Tomás de Aquino
(escolástica) e os árabes Avicena e Averróis.
AVICENA (*980/ †1037)
Nasceu em Bucara (atual Uzbesquistão), e de acordo com
De Santi (2013), assessorou muitos príncipes persas como
médico e conselheiro.
Ele se considerava seguidor das ideias de Aristóteles, mas
não concordava que mente e corpo eram apenas uma coisa só.
Avicena promoveu o pensamento dualista – de que a mente
(ou alma) é distinta do corpo. Em outras palavras, a mente
permanece quando o corpo morre. Ele tenta explicar isso na
parábola do “homem voador”, quando diz “se eu ficasse
flutuando sem tocar nem ver coisa alguma, poderia não saber
que eu tenho um corpo, mas ainda assim saberia que eu
existo”, (ideia retomada 600 anos depois por Descartes).
AVERRÓIS (*1126/ †1198)
Nasceu em Córdoba (atual Espanha), e buscou conciliar o Islã
com as obras de Aristóteles, cujos pensamentos eram
considerados hereges no mundo mulçumano.
Como era muito considerado pelo califa, teve liberdade para
formular suas ideias. Para ele, o Alcorão só devia ser lido de
maneira literal pelos homens incultos – a elite esclarecida
precisava entender que o livro sagrado não passava de uma
versão poética da realidade.
Assim, pregava que quando uma leitura óbvia do Alcorão
entrasse em conflito com a leitura culta (feita pelos filósofos),
aquele preceito não deveria ser seguido ao pé da letra, mas
interpetado como uma parábola (DE SANTI, 2013).
SÃO TOMÁS DE AQUINO (*1225 / †1274) [1]
Nasceu em Roccasecca (atual Itália) e investiu nove anos de
sua vida escrevendo a obra intitulada Suma Teologica, um
total de 512 questionamentos filosóficos, quando aconteceu
algo estranho: ele viu um crucifixo levitando diante de si em
frente ao seu convento em Nápoles. Ele começou a orar e
sentiu que o próprio Cristo falava com ele.
De acordo com De Santi (2013), após essa experiência
mística, ele parou de escrever e começou a considerar uma
“ninharia” tudo o que havia escrito até aquele momento,
vindo a falecer 3 meses depois, com 49 anos de idade. Ele
tentava conciliar a ideia aristotélica de que o universo
sempre existiu com a ideia bíblica de que o universo havia
sido criado por Deus.
SÃO TOMÁS DE AQUINO (*1225 / †1274) [2]
Para Aquino, a ideia aristotélica do universo não ter um início
definido não impede o fato de ele ter sido criado por Deus,
que em sua onipotência, teria condições de criar um universo
eterno.
Na visão de Chauí (2005), Aquino é considerado um dos
teóricos mais importantes da naturalidade da política, para
quem, sendo o homem um animal social, a sociabilidade
natural já existia no Paraíso, antes da queda e da expulsão
dos seres humanos.
Após o pecado original, os seres humanos não perderam sua
natureza sociável e, por isso, naturalmente organizaram-se
em comunidades, deram-se leis e instituíram as relações de
mando e obediência, criando o poder político.
SÃO TOMÁS DE AQUINO (*1225 / †1274) [3]
Diferentemente de Santo Agostinho, para quem o pecado
tornara o homem perverso e violento, injusto e fundador da
Cidade dos Homens, injusta como ele, para São Tomás, os
humanos perderam a inocência original, mas não perderam a
natureza original que lhes fora dada por Deus. Por esse
motivo, neles permaneceu o senso de justiça, entendida
como o dever de dar a cada um o que lhe é devido, e com ela
fundaram a comunidade política.
A finalidade da comunidade política é a ordem – o inferior
deve obedecer ao superior – e a justiça – dar a cada um
segundo suas necessidades e méritos. Ordem e justiça
definem a comunidade política como o único instrumento
humano legítimo para assegurar o bem comum.
FILOSOFIA DO RENASCIMENTO
Compreende o pensamento de humanistas entre os séculos
XIV a XVII, que, segundo De Santi (2013), tentaram
“remover a poeira medieval”, inaugurando a filosofia secular,
ou seja, totalmente separada da igreja.
Essa ideia enganosa de que a Idade Média foi um período
obscuro vem sendo resgatada pela historia. A filosofia da
Renascença (que começou no final da Baixa Idade Média) é
chamada de Humanismo.
Esta fase tem obras incríveis – A Divina Comédia (Dante
Alighieri), Utopia (Thomas More), o Elogio à loucura (Erasmo
de Roterdã), O Príncipe (Nicolau Maquiavel) e Ensaios
(Michel de Montaigne).
DANTE ALIGHIERI (*1265/ †1321) [1]
Nasceu em Florença (Itália) e é mais reconhecido por sua
obra poética do que por suas ideias filosóficas. A sua obra
mais famosa é a Divina Comédia, uma bem escrita sátira à
igreja e à sociedade da época. O sucesso de sua obra foi tão
grande que ajudou a consolidar o dialeto de Florença como a
base da língua italiana (DE SANTI, 2013).
Outra obra sua (Monarquia) teve pouca repercussão na
sociedade, mas foi importante por defender a separação
entre as funções do império e da igreja.
Em Monarquia, Dante elimina o papel mediador do papa,
introduzindo teses naturalistas. Segundo ele, Deus, criador
da natureza, nos dotou de livre raciocínio e vontade que nos
permitem a perfeita condução do Estado: [...]
DANTE ALIGHIERI (*1265/ †1321) [2]
[...] "A potência intelectual é, em si, o guia e a forma de
todas as coisas. Do contrário, o homem não pode alcançar
seus fins”.
Ao colocar a autoridade temporal e política independente da
autoridade do papa e da Igreja, Dante considera que o
governante deve depender diretamente de Deus, o que de
certa forma prenuncia a doutrina do direito divino dos reis e
o fortalecimento da monarquia (ARANHA, 1993).
Em outras palavras, o Imperador teria o poder executivo e o
papa atuaria como mestre espiritual.
Thomas More (*1478/ †1535) [1]
Nasceu em Londres (Inglaterra) e foi o braço direito do Rei
Henrique VIII. Apesar disso, fez uma obra (Utopia) que,
inspirada na Cidade Bela (de Platão), faz uma crítica à
monarquia. Esta obra é considerada protossocialista.
Em sua obra, More denuncia (na primeira parte da obra) a
grave situação dos camponeses, que sem emprego no campo,
chegavam sem dinheiro nas cidades, onde roubavam para
comer e eram enforcados.
Na ilha Utopia (segunda parte da obra), existe liberdade
religiosa, assistência médica e ninguém passa fome. Os
interesses coletivos estão acima dos individuais e todo
mundo concorda com isso.
Thomas More (*1478/ †1535) [2]
Como se vê na obra Utopia, há uma crítica forte à Igreja e à
monarquia (principais proprietários de terras), mas apesar
disso, Thomas More teve liberdade para publicar este livro e
não foi perseguido por causa disso.
Tudo mudou entretanto quando ele foi contra a manobra do
Rei Henrique VIII de criar uma nova igreja (Anglicana)
porque o Papa não permitiu que o rei se casasse de novo e
tivesse, ao mesmo tempo, mais de uma esposa.
Segundo De Santi (2013), More foi contra e por causa desse
opinião, foi condenado à morte e enforcado. Ganhou uma
canonização (por ter se mantido fiel à fé católica) e uma
homenagem do seu amigo Erasmo de Roterdã (na obra Elogio
à Loucura).
Erasmo de Roterdã (*1466/ †1536) [1]
De Santi (2013) afirma que Erasmo era um monge que
criticava a doutrina da Igreja, detestava morar no convento
e não acreditava que a fartura material fosse um entrave
para uma vida cristã virtuosa. Nasceu em Roterdã (Holanda),
era filho bastardo de um padre, formou-se em teologia, mas
defendia uma educação longe dos clérigos, uma loucura para
os padrões dessa época. Apesar disso, dizia que a loucura
era uma das virtudes capazes de garantir a felicidade.
Essas e outras ideias tomaram a forma de um livro criado em
sete dias, em que a própria insanidade é a narradora da
história – o Elogio da Loucura – emque dirigiu críticas
mordazes a doutrinas e valores hipócritas da igreja, que ele
já não considerava uma instituição assim “tão santa”.
Erasmo de Roterdã (*1466/ †1536) [2]
Fora da forte influência da igreja na Itália, Erasmo era
considerado um teólogo do pensamento humanista, que prega que
o homem é o dono de sua própria vida. Ele ajudou diversos
pensadores a enfrentarem os dogmas do poder medieval,
propondo um educação livre do controle religioso.
Suas ideias inspiraram Lutero na Reforma Protestante, porém
Erasmo não se juntou ao movimento por ter um espírito
independente e não querer se filiar a nenhum dos extremos.
Para marcar essa posição de independência, criou uma obra contra
as ideias centrais de Lutero (Sermão sobre o Livre Arbítrio), em
que pregava que o homem pode fazer suas escolhas livremente,
mas não encontra a salvação sem a graça divina – defendendo um
contato mais sincero com Deus, sem padres, missas e
confessionários.
Nicolau Maquiavel (*1469/ †1527)
Maquiavel nasceu em Florença (Itália) e escreveu uma obra prima
da política (O Príncipe). As suas fortes ideias são atuais ainda
hoje e foram mal interpretadas por diversos governantes, o que
levou à criação do adjetivo “maquiavélico”, dado àquele que busca
o poder sem nenhum escrúpulo.
De Santi (2013) afirma que Maquiavel rompeu com a tradição
idealista platônica e resolveu mostrar nesta obra, como a política
realmente funciona na prática. Em sua obra prega que o
governante deve ser perspicaz como a raposa e, ao mesmo tempo,
feroz como o leão. Afirmava ainda que o líder podia fazer inimigos
e promover punições, desde que estivesse em busca de um “bem
maior”. Entretanto, ele também afirma que o líder não pode agir
como um louco, mas sim com extrema sabedoria. Apesar de
retratar a Itália de seu tempo, trata de temas atuais até hoje.
Michel de Montaigne (*1533/ †1592)
Este filósofo francês escreveu uma obra prima (Ensaios) e foi
responsável pela criação deste novo tipo de gênero literário.
Ele retomou os temas centrais do ceticismo contrapondo-se às
certezas de uma escolástica decadente. Dizia que “nada que é
humano me é estranho”.
Criticava a educação ligada à Igreja, postando-se contra a
memorização vazia e o exibicionismo intelectual, defendendo os
alunos que sabiam como articular o conhecimento e tirar as
suas próprias conclusões. Afirmava que “uma cabeça bem feita
vale mais que uma cabeça cheia”.
Em oposição à cultura da época, pregava que não se devia
importar com opiniões alheias, e que a busca da fama é aquilo
que corrompe o ser humano.
Bibliografia Consultada
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofando: introdução à
filosofia. 2. ed. São Paulo: Moderna, 1993.
CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. 13. ed. São Paulo: Ática,
2005.
DE SANTI, Alexandre (Editor). Guia da filosofia. São Paulo:
Abril, 2013.
MADJAROF, Rosana. Mundo dos Filósofos. 1997-2011.
<Disponível em: www.mundodosfilosofos.com.br>. Acesso em: 27
mar. 2015.
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