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FILOSOFIAS EDUCACIONAIS PARA SURDOS: O QUE SUAS
FAMÍLIAS SABEM SOBRE ISSO?
Enock Pereira Eleutério1
Wagner Teobaldo Lopes de Andrade2
RESUMO
A família tem um papel fundamental no desenvolvimento do indivíduo e deve ser
incentivada a participar dos eventos ocorridos na vida de seus membros. Desta
forma, é importante que os familiares de crianças surdas conheçam as filosofias
educacionais para o desenvolvimento desta criança, a fim de participar ativamente
no processo terapêutico. Este estudo teve como objetivo investigar o conhecimento
das famílias de surdos sobre as filosofias educacionais para estes sujeitos, as
formas de comunicação que as filosofias promovem, bem como verificar a fontes
dessas informações e constatar a participação destes cuidadores no processo de
escolha da modalidade linguística principal de seus filhos. O estudo foi realizado em
um centro de referência em atenção à criança com necessidades educacionais
específicas, em João Pessoa (PB). Foram realizadas entrevistas com 23 pessoas
cuidadoras das crianças, com grau de parentesco próximo (pai/mãe, irmã(o) etc),
abordando aspectos relacionados à educação e comunicação dos surdos,
especialmente com relação às possibilidades que os surdos tem para se comunicar.
Dentre outras questões, foi observado que as famílias conhecem as formas de
comunicação do surdo, formas estas que foram fornecidas por um fonoaudiólogo.
Apesar de os familiares estarem satisfeitos com a filosofia educacional com base na
qual a criança está sendo reabilitada, eles referem não terem participado do
processo de escolha. Conclui-se que apesar da satisfação dos familiares com
relação à filosofia educacional adotada pelo profissional no processo terapêutico, as
famílias de surdos devem ser orientadas previamente e participar ativamente do
processo de escolha, a fim de facilitar o sucesso da intervenção.
PALAVRAS-CHAVE: Fonoaudiologia, Oralidade, Língua de Sinais, Família,
Intervenção.
ABSTRACT:
The family has a key role in developing the individual and should be encouraged to
participate in events in the lives of its members. Thus, it is important that the families
of deaf children are aware of the educational philosophies for the development of that
child, to participate actively in the therapeutic process. This study aimed to
investigate the knowledge of the families of deaf people on educational philosophies
for these subjects, forms of communication to promote the philosophies, and to verify
the sources of this information and see the participation of caregivers in the process
of choosing the main linguistic modality of their children. The study was conducted in
1
Fonoaudiólogo. Especialista em Fonoaudiologia Educacional pelo Instituto de Desenvolvimento
Educacional/Faculdade Redentor.
2
Fonoaudiólogo. Doutorando em Linguística pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Professor
do Departamento de Fonoaudiologia da UFPB.
2
a referral center for care of children with special educational needs, in João Pessoa
(PB). Interviews were conducted with 23 people caring for children, with a degree of
close relatives (parent, brother, sister etc.), addressing aspects related to
communication and education of the deaf, especially with regard to the possibility that
deaf people use to communicate. Among other issues, it was noted that the families
know the ways of communication of the deaf, that were provided by an audiologist.
Although family members are satisfied with the educational philosophy under which
the child is being rehabilitated, they report not having participated in the selection
process. It is concluded that although family satisfaction with respect to the
educational philosophy adopted by professionals in the therapeutic process, this
family should be advised in advance and actively participate in the selection process
in order to facilitate the success of the intervention.
KEY-WORDS: Phonoaudiology, Orality, Sign Language, Family, Intervention.
INTRODUÇÃO
A educação dos surdos é um assunto inquietante, em razão das dificuldades
que insurgem e suas inerentes limitações. As propostas educacionais voltadas para
os alunos surdos objetivam estabelecer um apropriado desenvolvimento de suas
capacidades.
Frequentemente, as famílias de surdos apontam que a dificuldade da
comunicação é acompanhada de transtornos que promovem grandes prejuízos
como: dificuldade de compreender as necessidades da criança, problemas de
socialização e o aparecimento de comportamentos agressivos por parte dos filhos
(NASCIMENTO, 2002).
Sob o ponto de vista social, Vygotsky (1993) discorda da teoria de que as
crianças com alguma deficiência ou cujo desenvolvimento foi impedido por um
defeito, não podem ter oportunidades semelhantes às de outros indivíduos. O autor
considera que estas crianças não são menos desenvolvidas, mas são crianças que
se desenvolvem de modo diferente e que seus problemas são de ordem social e não
de cunho biológico.
No que diz respeito ao indivíduo surdo, observa-se que esta inadequação
social, conforme Vygotsky (1993), está relacionada a dificuldades de interação
através da linguagem oral, na qual se concentra a dificuldade de acesso à língua
maximizaria as dificuldades linguísticas.
A família tem um papel fundamental no desenvolvimento do indivíduo e na
manutenção de seus componentes, fazendo necessário que haja incentivos e
estímulos ao desenvolvimento de um potencial e cuidados na forma de apoio e
3
orientações. Diante disto, há um entendimento que as instituições de saúde e
educação devem estar habilitadas para acolher as famílias que necessitem de apoio.
Identificar as necessidades das famílias e estabelecer um programa de
acompanhamento e orientação direcionado mostra-se de grande relevância,
sobretudo, se o empenho profissional for fundamentado no que as famílias precisam
ou querem para si ou para os seus. Neste aspecto, podem-se considerar as
filosofias educacionais como uma questão-chave no desenvolvimento do surdo, de
cuja escolha a família deve fazer parte.
No âmbito educacional, o conhecimento das filosofias educacionais pelos
professores é fundamental e, em geral, já está sedimentado naqueles que atuam
com surdos. No âmbito familiar, no entanto, a orientação pelos profissionais nem
sempre é colocada em primeiro plano.
Deve-se lembrar que a escolha do modelo educacional adotado pela escola e
pelos reabilitadores deve ser feita pelos pais ou responsáveis pela educação das
crianças surdas. Há que se destacar que essa decisão não se restringe somente a
uma alternativa educacional, e que o conhecimento irá influenciar em aspectos da
comunicação. Entre eles, a forma de comunicação e o seu reconhecimento como
deficiente (visão clínica) ou diferente (visão culturalista) (TORRES, 2005). Ainda
segundo este autor, quanto antes for feita a escolha entre o oralismo, o bilinguismo
ou a comunicação total, melhor será para o desenvolvimento da criança.
Não obstante as vantagens do processo de inclusão em nossas escolas,
parece não ser ainda ampla a divulgação dessas filosofias às famílias, o que dificulta
aos pais saberem da importância e da necessidade de selecionar a mais apropriada
para a educação dos seus filhos. Profissionais de diversas áreas, a exemplo dos
fonoaudiólogos, vêm atuando com direcionamento de suas atividades para a nobre
missão da educação. A proximidade da Fonoaudiologia com a Educação se deu
desde épocas remotas, quando profissionais ligados ao magistério exerciam
atividades equivalentes, envolvidos com adequação de sotaques estrangeiros
decorrentes do fenômeno de imigração (CAVALHEIRO, 1997).
O trabalho de educação da criança surda é realizado a custo do empenho da
escola, fonoaudiólogos e da participação efetiva da família, cada qual com atitudes
dirigidas e diversificadas, mas sempre com propósito de promover a reabilitação e
inserção social da criança. Necessária se faz a construção de um vínculo dentro de
uma confiança mútua entre os indivíduos no processo, estabelecendo-se uma
4
relação em que a família, por meio de trocas, poderá compreender e participar de
modo construtivo do processo de aprendizagem (ABBUD, 2002).
Nos trabalhos desenvolvidos por fonoaudiólogos no atendimento às crianças
surdas sempre se fazem presentes orientações e informações acerca de
metodologias e filosofias educacionais aplicáveis.
Diante da necessidade de estabelecer reflexões sobre as formas mais
apropriadas de viabilizar a educação das crianças surdas, é importante que se tenha
uma visão sobre as filosofias educacionais mais adequadas para o desenvolvimento
da aprendizagem infantil e se faça uso daquela que mais se aproxima do perfil
individual da criança, a partir de uma análise de vantagens e desvantagens. Dentre
as possibilidades estão o oralismo, o bilinguismo e a comunicação total.
O oralismo é fundamentado na idéia de integração do indivíduo na
comunidade ouvinte, preconizando a necessidade da aprendizagem da linguagem
oral (SOUZA, 2004). A prática do oralismo é realizada através de leitura orofacial
com o aproveitamento dos recursos da amplificação sonora. É abolido de forma
consistente o uso de gestos, língua de sinais e alfabeto digital (POKER, 1995).
Dorziat (1997) afirma que o oralismo visa à interação do indivíduo surdo na
comunidade de ouvintes, condicionando-o ao aprendizado da língua oral. Segundo a
autora, considera-se que para efetivação de uma comunicação, a pessoa com
surdez deve oralizar bem, sendo, pois, o principal objetivo desta filosofia promover a
reabilitação da criança surda em direção à “normalidade”, à “não surdez”
(GOLDFELD, 2002).
De acordo com Goldfeld (2002), o oralismo visa à integração da criança com
surdez na comunidade de ouvintes dando-lhe condições de desenvolver a língua
oral, evitando-se formas de gesticulações, considerando-se, portando, como a única
forma aceitável de comunicação.
Segundo a autora, o oralismo concebe a surdez como uma deficiência que
deve ser minimizada por meio de estimulação auditiva, possibilitando a aquisição da
língua nativa de seu país, levando a criança a integrar-se na comunidade ouvinte.
Almeida (2000) acredita e defende a idéia de que deve ser dada ao surdo a
oportunidade para comunicar-se através da fala, criando-se meios favoráveis, como
uso de aparelhos amplificadores para melhor aproveitamento do resíduo auditivo.
Nessa perspectiva, o trabalho pedagógico a ser desenvolvido com a criança
surda não deve ter por base apenas os diferentes graus de perda auditiva, mas
5
explorar a funcionalidade da sua audição residual e sua interferência no
desenvolvimento da linguagem, aspectos estes que irão direcionar propostas de
atividades (POKER, 1995).
A comunicação total defende a utilização de qualquer recurso linguístico, seja
a linguagem oral, a língua de sinais ou códigos manuais para comunicar-se em
formas aplicáveis ao seu interlocutor.
A comunicação total é a prática de uso de sinais, leitura orofacial,
amplificação sonora e alfabeto digital para oferecer inputs linguísticos para o surdo,
já que ele pode expressar-se na(s) modalidade(s) linguística(s) ou forma(s) de
comunicação de sua preferência (STEWART, 1993).
O objetivo é fornecer à criança a possibilidade de desenvolver uma
comunicação real com suas famílias, professores e colegas, para que possam
construir a sua subjetividade.
Na comunicação total, verifica-se a prática simultânea de diversos códigos,
como a língua de sinais, a datilologia (alfabeto manual ou digital), o português
sinalizado e outros, com estruturação na própria língua de sinais (GOLDFELD,
2002). A autora ressalta que esta filosofia, embora destaque a importância da
aprendizagem oral, enaltece a necessidade de que sejam priorizados aspectos de
desenvolvimento cognitivo, emocional e social.
Os profissionais que adotam a comunicação total em suas práticas educativas
percebem o surdo de uma forma diferente dos oralistas: o indivíduo surdo não é
visto apenas como um possuidor de uma patologia merecedora de cuidados
médicos, mas ressalta, sobretudo, o potencial humano. Nesta perspectiva, a surdez
marca de forma significativa as relações sociais e o desenvolvimento afetivo e
cognitivo dos indivíduos (CICCONE, 1996).
Para Ciccone (1996), uma característica importante da comunicação total é a
valorização da família, oportunizando o acompanhamento de valores e significados,
formando em conjunto com a criança sua subjetividade. Conforme a autora, a
comunicação total leva em consideração aspectos importantes do desenvolvimento
infantil, ressaltando a relevância da participação dos pais ouvintes na educação de
seus filhos surdos.
A referida filosofia acredita que o uso de duas modalidades simultâneas para
ações comunicativas pode atenuar o bloqueio existente entre a criança com a surdez
e os ouvintes, afastando estas crianças das consequências do isolamento (POKER,
6
1995). Esta autora acredita que um grande resultado alcançado da adoção da
comunicação total foi o favorecimento da inclusão dos surdos nas escolas regulares
facilitando a comunicação do professor com os alunos surdos, e promovendo
situações de instruções destes alunos.
O bilinguismo surge como uma filosofia em que o surdo deve adquirir como
sua primeira língua a de sinais, considerada a linguagem dos surdos, e como
segunda, a língua oficial do seu país. O surdo deve adquirir a língua de sinais com a
comunidade surda, o que facilita o desenvolvimento de conceitos e suas relações
com o mundo (GOLDFELD, 2002).
Esta filosofia preconiza o uso da língua de sinais, que deve ser oferecida à
criança surda precocemente e o ensino da língua nativa (no caso do Brasil, a língua
portuguesa) como segundo língua, na modalidade oral e/ou escrita.
Segundo Quadros (1997), o bilinguismo almeja tornar possível à criança
surda o acesso às duas línguas no seu processo de desenvolvimento. Essa autora
cita ainda a importância desta proposta por levar a criança ao conhecimento da
linguagem em uma outra modalidade, a partir de sua língua natural.
Duas vertentes ocorrentes nesta filosofia norteiam a sua prática. Uma
defende a idéia de que deve ser oferecido à criança surda o aprendizado da língua
de sinais e, de forma separada, a modalidade oral, em um mesmo momento. Outra
vertente acredita que se deve dar, em uma primeira ocasião, apenas a língua de
sinais e, posteriormente, a modalidade escrita da língua oficial do país (POKER,
1995).
Diante deste panorama, é possível constatar que, cada uma à sua maneira,
as três filosofias educacionais contribuem para a instrução e formação dos surdos.
Estas abordagens abrem espaço para reflexões na busca de um caminho
educacional que de fato favoreçam o desenvolvimento pleno dos alunos surdos,
contribuindo para que sejam cidadãos em nossa sociedade.
Sabendo da importância do apoio familiar no sucesso da intervenção
educacional do surdo, este estudo teve como objetivo investigar o conhecimento das
famílias de surdos sobre as filosofias educacionais para estes sujeitos, bem como
verificar a fontes dessas informações e constatar a participação destes cuidadores
no processo de escolha da modalidade linguística principal de seus filhos.
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MATERIAL E MÉTODO
A pesquisa foi realizada em um centro de reabilitação, vinculado ao Governo
do Estado da Paraíba, localizado na cidade de João Pessoa/PB, que promove
acompanhamento multiprofissional aos portadores de vários tipos de deficiência
(física, auditiva, visual e mental), síndromes e transtornos do comportamento, da
linguagem e da aprendizagem, com o objetivo de habilitar, reabilitar, profissionalizar
e inserir o sujeito com necessidades educativas especiais no mercado de trabalho.
São desenvolvidos, ainda, programas de prevenção e orientação familiar quanto ao
desenvolvimento das habilidades linguísticas e das atividades de vida diária.
O trabalho foi desenvolvido na coordenadoria que realiza reabilitação de
crianças, jovens e adultos surdos. Além de terapia fonoaudiológica e psicológica aos
surdos, é oferecido serviço de audiometria e otorrinolaringologia, orientação
psicossocial e cursos de LIBRAS em diversos níveis para funcionários da instituição,
pais e parentes de surdos e demais interessados. A filosofia educacional adotada
pela instituição é o bilinguismo, no entanto, alguns fonoaudiólogos utilizam recursos
e técnicas do oralismo.
A coleta dos dados se deu através de uma entrevista composta por oito
perguntas semi-estruturadas aplicadas a 23 pessoas de surdos, com idades entre 8
e 14 anos, atendidos na instituição (Apêndice A).
Foi definido, como critério de inclusão, o tempo máximo de início da
(re)habilitação na coordenadoria (um ano) devido ao fato de haver a possibilidade de
os responsáveis pelo surdo não se recordarem do momento em que este iniciou o
processo de reabilitação, assim como as orientações fornecidas pelos profissionais.
Foram excluídos os familiares que tinham idade inferior a 18 anos, surdez
conhecida de qualquer grau, deficiência intelectual ou transtorno psiquiátrico
conhecido e que não apresentarem parentesco com a criança ou adolescente surdo
reabilitado na coordenadoria.
O delineamento do estudo foi observacional, descritivo e transversal. O
projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres
Humanos do hospital Agamenon Magalhães sob o número 437/2009 (Anexo A).
A entrevista foi realizada pelo pesquisador, individualmente com cada sujeito
e conteve perguntas sobre o conhecimento acerca das formas de comunicação do
surdo, o conhecimento das filosofias educacionais, a fonte de informação sobre as
8
filosofias educacionais e se eles foram orientados e participaram do processo de
escolha da modalidade linguística adotada pelo investigador.
A avaliação dos resultados foi feita de forma quantitativa, através de
percentuais expostos em gráficos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A princípio, as famílias foram interrogadas sobre as formas de comunicação
que podem ser trabalhadas com os surdos pelos professores ou reabilitadores.
Dentre os sujeitos, 70% afirmaram conhecer várias formas de comunicação que
podem ser expressas por estes indivíduos (Gráfico 1), destacando-se a língua de
sinais (Gráfico 2), com maior ocorrência, com um percentual de 78%. Alguns sujeitos
referiram conhecer mais de uma forma de comunicação do surdo.
Gráfico 1 – Distribuição dos familiares segundo o conhecimento das formas de comunicação dos
surdos (João Pessoa, 2010).
9
42,00%
Gestos
43,00%
Fala
78,00%
Língua de Sinais
0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
50,00%
60,00%
70,00%
80,00%
Gráfico 2 – Distribuição dos familiares segundo as formas de comunicação utilizadas pelos surdos
(João Pessoa, 2010).
A língua de sinais, para Goldfeld (2002), é concebida como um meio de
consolidação da identidade social, sendo esta apropriada como uma primeira língua.
Algumas famílias também relataram a linguagem gestual (42%) como uma forma de
estratégia comunicativa que pode ser adotada por estes indivíduos nas suas
diversas interações comunicativas.
O gráfico 3 revela um dado bastante marcante: 83% dos familiares
revelaram desconhecer as filosofias educacionais, não obstante conheçam as
formas de comunicação proporcionadas por estas filosofias. Pode-se considerar um
índice deveras elevado em razão do que estas representam para o individuo surdo,
por ser não somente uma alternativa educacional, mas um fator influente nas
práticas comunicativas.
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Gráfico 3 – Distribuição dos familiares da pesquisa com relação ao conhecimento das filosofias
educacionais (João Pessoa, 2010).
Dentre os indivíduos que referiram conhecer as formas de comunicação
proporcionadas pela filosofia educacional, destacou-se o bilinguismo (44,12%),
prática adotada pela instituição. Em seguida, foram citados o oralismo (30,88%) e a
comunicação total (25%) (Gráfico 4).
Bilinguismo
44,12%
Oralismo
30,88%
Comunicação Total
0,00%
25,00%
5,00%
10,00%
15,00%
20,00%
25,00%
30,00%
35,00%
40,00%
45,00%
50,00%
Gráfico 4 – Distribuição dos familiares com relação à filosofia educacional que conhece (João
Pessoa, 2010).
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Nestes parâmetros observados, constata-se a pouca divulgação destas
filosofias entre as famílias. Faz-se necessária a implementação de ações com
planejamento de orientações a serem conduzidos pelos reabilitadores e para
apropriação das famílias, favorecendo a escolha de uma forma comunicativa
específica, adequada para cada indivíduo que lhe permita melhor desenvolver suas
aptidões sociais, culturais e desenvolvimentistas.
Este fato pode estar relacionado à falta de esclarecimentos, que poderiam ser
oferecidos através de uma assistência melhor desenvolvida nos contatos entre
famílias e educadores.
A este respeito, Abbud (2002) visualiza a construção de um vínculo, diante de
uma confiança mútua, no estabelecimento de uma relação em que a família por meio
de trocas poderá compreender e absorver um modo construtivo de aprendizagem.
Quando questionadas sobre quem informou o sujeito sobre as referidas
filosofias educacionais, dentre os sujeitos que referiram ter sido informados sobre as
filosofias educacionais, 48% dos familiares afirmaram que obtiveram estas
informações através de fonoaudiólogos, enquanto que 9% afirmaram que foram
informados quando em contato com médicos. Ressalte-se que alguns familiares
referiram ter sido informados por fonoaudiólogos e médicos (Gráfico 5).
12
48,00%
Fonoaudiólogo
9,00%
Médico
43,00%
Nunca foi informado
0,00%
5,00%
10,00%
15,00%
20,00%
25,00%
30,00%
35,00%
40,00%
45,00%
50,00%
Gráfico 5 – Distribuição dos familiares com relação à fonte de informação sobre as filosofias
educacionais (João Pessoa, 2010).
Com referência a isto, pode-se verificar um importante trabalho que é
desenvolvido pela Fonoaudiologia na relação com os surdos, procurando levar
ensinamentos nas atividades de habilitação e reabilitação, numa forma assistencial e
educacional. A este respeito, Cavalheiro (1997) destaca a atuação do fonoadiólogo
no direcionamento de suas atividades de educação dos indivíduos surdos, onde se
fazem
presentes orientações
e
informações
de metodologias
e filosofias
educacionais aplicáveis. O fonoaudiólogo destaca-se entre os demais profissionais
orientadores pelo fato de passar mais tempo com as famílias.
O bilinguismo foi referido pelos familiares como a filosofia educacional mais
preconizada pelos reabilitadores no processo terapêutico (44%). A comunicação
total vem em seguida (30%), ao passo que o oralismo foi relatado por apenas 9%.
Além disso, 17% das famílias não souberam responder (Gráfico 6).
13
44,00%
Bilinguismo
30,00%
Comunicação Total
9,00%
Oralismo
17,00%
Não sabe responder
0,00%
5,00%
10,00%
15,00%
20,00%
25,00%
30,00%
35,00%
40,00%
45,00%
Gráfico 6 – Distribuição dos familiares segundo a filosofia segundo a qual seus filhos são habilitados
(João Pessoa, 2010).
Com relação à participação dos sujeitos na escolha da filosofia educacional,
percebeu-se que ela não aconteceu com 70% dos sujeitos (Gráfico 7).
14
4,00%
26,00%
Não
Sim
Não Respondeu
70,00%
Gráfico 7 – Distribuição da participação na escolha pela família da filosofia aplicada nos filhos (João
Pessoa, 2010).
Apesar de grande parte dos sujeitos não ter participado do processo de
escolha da filosofia educacional, 83% acreditam que a filosofia adotada pelos
reabilitadores é a mais apropriada para o desenvolvimento de seu filho (Gráfico 8).
Gráfico 8 – Distribuição dos familiares sobre a opinião acerca da adequação da filosofia educacional
para a criança (João Pessoa, 2010).
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CONCLUSÕES
Ao final desta pesquisa, percebeu-se que, apesar de os familiares
conhecerem as formas de comunicação do surdo, especialmente a língua de sinais,
eles não têm conhecimentos básicos sobre as filosofias educacionais. Este
conhecimento torna-se importante para que os familiares possam, adequadamente,
escolher juntamente com a equipe de reabilitação, a filosofia educacional que
acredita que trará melhores resultados para o desenvolvimento da criança.
Entre as filosofias educacionais conhecidas, destacou-se o bilinguismo. O
fonoaudiólogo se destacou como o profissional que promoveu a orientação da
família com relação ao processo terapêutico da criança.
A filosofia educacional realizada pela equipe de reabilitação mais referida
pelos familiares foi o bilinguismo e, apesar de a família não ter participado do
processo de escolha da filosofia educacional, os familiares consideraram esta
filosofia a mais adequada aos propósitos do desenvolvimento da criança.
Ressalta-se, no entanto, a necessidade de uma maior participação das
famílias no processo educacional de seus dependentes, procurando obter
informações em relação às diversas formas de melhor integração educacional.
Há ainda a se notar um grande paradoxo diante do dualismo entre a
adequação das filosofias educacionais e os conhecimentos que as famílias possuem
sobre elas. O grande questionamento que se faz é: como essas famílias consideram
a filosofia adotada como a mais apropriada se não conhece as demais? Isto mostra
a importância premente de orientar os familiares dos surdos a fim de que eles
possam participar de forma efetiva do processo terapêutico da criança surda.
Estas filosofias, como se sabe, representam para os surdos não somente
formas de comunicação mas sobretudo construção de cidadania e visão de mundo.
REFERÊNCIAS
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parceria. Psicologia: teoria e prática, São Paulo, v. 4, n. 2, p. 41-48, 2002.
ALMEIDA, E.O.C. Leitura e surdez: um estudo com adultos não oralizados. Rio de
Janeiro: Revinter, 2000.
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escola. In: LAGROTTA, M.G.M.; CÉSAR, C.P.H.A.R. A Fonoaudiologia nas
instituições. São Paulo: Lovise, 1997. p. 81-8.
16
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DORZIAT, A. Metodologias específicas ao ensino dos surdos: análise crítica,
programa de capacitação de recursos humanos ao ensino fundamental. Brasília:
Secretaria de Educação Especial/MEC, v. I, 1997.
GOLDFELD, M. A criança surda: linguagem e cognição numa perspectiva
sociointeracionista. 3. ed. São Paulo: Plexus, 2002.
NASCIMENTO, L.C.R. Fonoaudiologia e surdez: uma análise dos percursos
discursivos da prática fonoaudiológica no Brasil. 2002. 99 f. Dissertação (Mestrado
em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas,
Campinas, 2002.
POKER, R.B. Troca simbólica e desenvolvimento cognitivo em crianças
surdas: uma proposta de intervenção educacional. 1995. Dissertação (Mestrado em
Educação) – Faculdade de Filosofia e Ciências, UNESP, Marília, 1995.
QUADROS, R.M. Educação de surdos: a aquisição da linguagem. Porto Alegre:
ArtMed, 1997.
SOUZA, M.F. A inclusão do educando surdo no ensino no Brasil. Monografia de
conclusão de curso - Universidade Cândido Mendes, Niterói, 2004.
STEWART, D.A. Pesquisa sobre “uso de língua de sinais na educação da
criança surda”. São Paulo: TecArt, 1993.
TORRES, S. Deficiência auditiva infantil: psicopatologia e tratamento. In: CABALLO,
V.E.; SIMON, M.A. (Org.) Manual de psicologia clínica infantil e do adolescente:
transtornos específicos. São Paulo: Santos, 2005. p. 241-268.
VYGOTSKY, L.S. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1993.
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APÊNDICE A
ENTREVISTA
Dados de identificação:
Nome: ______________________________________________________________
Grau de escolaridade: ___________________________________
Parentesco: ______________
1. Você conhece as formas de comunicação que o professor e o reabilitador podem desenvolver no
surdo?
( ) Sim
( ) Não
2. Quais as formas de comunicação que você conhece?
( ) Fala
( ) Língua de sinais
( ) Gestos
( ) Outros
3. Já ouviu falar em filosofias educacionais para o surdo?
( ) Sim
( ) Não
4. Se sim, quais as filosofias que você conhece?
( ) Oralismo
( ) Bilinguismo
( ) Comunicação Total
5. Quem lhe informou sobre estas filosofias?
( ) Professor
( ) Fonoaudiólogo
( ) Médico
( ) Outro profissional _________________________________________________
( ) Nunca foi informado
6. O seu filho é (re)habilitado segundo que filosofia?
( ) Oralismo
( ) Bilinguismo
( ) Comunicação Total
( ) Não sabe
7. Você participou do processo de escolha da filosofia para o desenvolvimento do seu filho?
( ) Sim
( ) Não
8. Você considera esta filosofia a mais apropriada para o desenvolvimento do seu filho? Por que?
( ) Sim
( ) Não
_________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
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