Leonardo da Silva Thomazini, Cenira Maria Lupinacci da Cunha

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VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física
II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física
Universidade de Coimbra, Maio de 2010
ANÁLISE GEOMORFOLÓGICA EM ÁREA DE EXPANSÃO URBANA: UM
EXEMPLO DO SUDESTE BRASILEIRO
Leonardo da Silva Thomazini; Pr.ª Dr.ª Cenira Maria Lupinacci da Cunha
[email protected] [email protected]
Universidade Estadual Paulista (UNESP)/Campus Rio Claro – Instituto de
Geociências e Ciências Exatas – Departamento de Planejamento Territorial e
Geoprocessamento
INTRODUÇÃO
Com o avanço do crescimento urbano, as cidades foram destinadas à produção do
capital, provocando uma acelerada ocupação do território em extensas áreas
desconexas e problemáticas. Sem que houvesse qualquer preocupação quanto ao
planejamento, o espaço natural foi sendo ocupado e degradado, surgindo assim, áreas
impróprias ao assentamento urbano.
Não havendo preocupação com relação à gestão ambiental urbana, as cidades
presenciaram um crescimento periférico e, conseqüentemente, uma ocupação e uso
irregular do solo em áreas impróprias para o assentamento urbano por serem
suscetíveis à erosão ou por estarem próximas a mananciais, não cumprindo com a lei
do Estatuto da Cidade que determina a “garantia do direito a cidades sustentáveis,
entendido como o direito à terra urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao
trabalho e ao lazer, para as presentes e futuras instalações” (Art. 2°). (BRAGA, 2003,
p.119). Assim, ocorrem efeitos negativos como degradação dos solos pelas erosões e
poluição dos mananciais através de resíduos sólidos e líquidos oriundos dos
assentamentos urbanos.
Assim, com o objetivo de identificar e mapear as áreas de maior susceptibilidade ao
desenvolvimento dos processos erosivos numa região periurbana, tem-se como objeto
de estudo a Bacia Hidrográfica do Córrego do Castelo (Figura 1). Esta bacia situa-se na
cidade de Bauru-SP, sendo limitada pelas coordenadas geográficas 22° 17’S e 22º 18’S
e 49° 3’W e 49° 6’W, sobre formações geológicas pertencentes ao Grupo Bauru,
localizado no compartimento geomorfológico do Planalto Ocidental, o qual se insere
na Bacia Sedimentar do Paraná, no Estado de São Paulo.
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Tema 3 – Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais
Figura 1: Localização da área de estudo em destaque modificada da base cartográfica
vetorizada;
Destaques em vermelho do Estado de São Paulo – Região Administrativa de Bauru (SP) –
Área Urbana.
Elaboração: Leonardo Thomazini; Orientação: Cenira Maria Lupinacci da Cunha
A maior parte do território do Estado de São Paulo se encontra na unidade
geológica da Bacia Sedimentar do Paraná. Esta, segundo IPT (a. 1981), constitui uma
unidade geotectônica estabelecida sobre a Plataforma Sul-Americana, a partir do
Devoniano, ou até mesmo do Siluriano.
Segundo o mesmo autor (p.46), “a subsidência dessa bacia, mesmo com caráter
oscilatório, permitiu a acumulação de grande espessura de sedimentos, lavas
basálticas e sills de diabásio”, que juntamente com uma inclinação homoclinal das
camadas paleozóicas e mesozóicas em direção ao interior da bacia, à oeste do Estado
de São Paulo, permitiram a formação de um grande grupo geológico, o Grupo Bauru,
recobrindo as lavas basálticas do Planalto Ocidental.
Para Almeida Filho (2000), na bacia do Rio Bauru, onde se insere a Bacia do Córrego
do Castelo, são encontradas as Formações Adamantina e Marília em proporções
semelhantes. Esta última se encontra nas regiões mais altas, recobrindo a Formação
Adamantina, que por sua vez, aparece nas “porções mais rebaixadas dos vales dos
principais rios, onde já foi removida pela erosão”. (IPT. a, 1981, p. 73)
Já a Formação Marília, “depositou-se em um embaciamento localizado ao término
da deposição Bauru, em situação parcialmente marginal, repousando geralmente
sobre a formação Adamantina”, localizando-se “entre os médios vales dos rios Tietê e
Paranapanema.” (IPT. a, 1981, p. 77).
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Assim, tanto Ross et. al. (1997) como IPT (b.,1981) afirmam que o Planalto Ocidental
Paulista, onde se insere a área estudada, abrange cerca de 50% de todo o território
paulista, sendo que para Ross (1997) “neste planalto pode-se identificar variações
fisionômicas regionais” (p.42), diferenciando algumas fisionomias dentro do Planalto
Ocidental.
Apresenta, também, entalhamento médio dos vales, inferior a 20 m, extensos
interflúvios na ordem de 1.750 e 3.750 m e declividades médias das vertentes
predominando valores entre 2 e 10%, [...] esta unidade apresenta um nível de
fragilidade potencial baixo, nos setores aplanados dos topos das colinas, entretanto
face às características texturais dos solos, os setores de vertentes pouco mais
inclinados são extremamente susceptíveis aos processos erosivos, principalmente
quando se desenvolvem escoamentos concentrados. (p. 42).
A baixa densidade de drenagem provavelmente deve-se as condições litopedológicas já que, segundo Santos e Castro (2006), o clima dominante é tropical
úmido, tipo Cwa na classificação de Koëppen, com duas estações bem definidas, uma seca
(maio-setembro) e outra chuvosa (outubro-abril), o que lhe atribui características de
mesotérmico de inverno seco. A precipitação anual fica ao redor de 1500 mm, a temperatura
média do mês mais frio é de 20° C e a do mês mais quente de 27°C. (SALOMÃO, 1994 apud
SANTOS e CASTRO, 2006, p. 49)
Os meses mais chuvosos são janeiro e fevereiro e o mais seco é agosto que se
caracteriza como o período de maior estiagem
Deste modo, a Bacia do Córrego do Castelo, no período chuvoso, recebe grande
quantidade de água pluvial ocupando as áreas de várzea, ocasionando enchentes,
destruindo obras públicas como ruas, pontes e até mesmo algumas casas dos
moradores que se assentaram em áreas impróprias a ocupação urbana, como
observado in loco. Além do aumento do escoamento superficial, estas condições
pluviométricas influenciam diretamente na formação dos processos erosivos lineares
da região (ROSS & MOROZ, 1997).
METODOLOGIA E TÉCNICAS
Com o intuito de atingir satisfatoriamente o objetivo proposto, a orientação
metodológica utilizada neste trabalho tem como base a Teoria Geral dos Sistemas.
Teoria esta usada por diversos pesquisadores como Strahler (1952), Culling (1957),
John T. Hack (1960) e Chorley (1962), citados por Christofoletti, (1979), sendo Chorley
(1962) o responsável por relacionar a abordagem sistêmica aos problemas
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Tema 3 – Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais
geomorfológicos. Porém, foi Aland D. Howard (1965) que analisou a dinâmica e o
equilíbrio nos sistemas geomorfológicos (Christofoletti, 1979).
A Teoria Geral dos Sistemas compreende os objetos de estudo como um conjunto
de elementos que se relacionam entre si. Cada elemento pode ser estudado
individualmente e cada conjunto pode ser considerado um sistema e estudado como
tal. “Um Sistema é um conjunto de unidades com relações entre si. A palavra
‘conjunto’ implica que as unidades possuem propriedades comuns. O estado de cada
unidade é controlado, condicionada ou dependente do estado das outras unidades”.
(Miller 1965, apud Christofoletti, 1979, p.1).
Quanto à composição dos sistemas, é preciso considerar a matéria, a energia e a
estrutura que constituem o sistema. Para a geomorfologia, considerando os fluxos de
matéria e energia é possível compreender, através da relação entre seus elementos, a
morfogênese do relevo e conseqüentemente sua estrutura. Tal metodologia,
juntamente com as técnicas cartográficas utilizadas, possibilitou a análise e
compreensão da distribuição espacial dos setores potencialmente suscetíveis aos
processos morfogenéticos na Bacia Hidrográfica do Córrego do Castelo.
Assim, as técnicas utilizadas no presente trabalho, a fim de alcançar o objetivo
proposto, constituíram-se na confecção da carta geomorfológica e de uso ocupação da
terra, descritas a seguir.
Carta Geomorfológica
As cartas geomorfológicas constituem-se em documentos complexos, pois abarcam
não somente as formas do relevo como também sua estrutura geológica, cronológica,
morfográfica e até as características morfométricas da área, segundo as considerações
de Tricart (1965). Ou seja, para a elaboração da carta geomorfológica “procura-se em
um único documento, registrar as características do relevo relacionadas ao sistema
morfológico e processo-resposta.” (CUNHA, 2001, p.62)
Assim, a fim de abarcar todos os aspectos que constituem a carta geomorfológica,
foi utilizada a base cartográfica concedida pela Prefeitura Municipal do município na
escala de 1:10.000. Já as fotografias aéreas datadas de 1996 na escala de 1: 10.000,
por sua vez, forneceram informações sobre a morfografia e os dados geológicos foram
obtidos por meio do levantamento bibliográfico.
A construção e utilização dos símbolos foram baseadas nas orientações de Tricart
(1965) e Verstappen e Zuidam (1975).
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Após a identificação dos elementos descritos acima, toda a área em estudo foi
mapeada por meio da técnica de interpretação estereoscópica das fotografias áreas. O
próximo passo foi a digitalização dos símbolos referentes às feições identificadas no
software AutoCad.
As informações referentes à litologia foram somente discutidas e serviram de base
às análises e não contempladas na carta geomorfológica devido a ausência de
documentos cartográficos de escala de detalhe que permitisse tal procedimento.
Como a área de estudo se encontra em uma região de expansão peri-urbana e a
base cartográfica apresenta algumas anomalias nas curvas de nível decorrentes da
ocupação urbana, foi importante mapear os efeitos antrópicos no relevo e separá-los
dos naturais. Assim, como os símbolos das rupturas são os mesmos tanto para as
estruturais como para os aterros topográficos, foi preciso diferenciá-los por meio da
cor, sendo que as rupturas de cor vermelha representam os efeitos antrópicos no
relevo e as pretas as estruturais.
A cor vermelha foi também usada no símbolo das drenagens canalizadas, a fim de
enfatizar que tal curso fluvial foi modificado diretamente pelo homem, visto que um
dos objetivos principais do trabalho é analisar a influência da urbanização no
desenvolvimento dos processos erosivos. Daí a necessidade em salientar as atividades
antrópicas sobre o relevo, principalmente nestes casos, onde segundo Penteado
(1974) a alteração na dinâmica de um rio a jusante pode acarretar no desenvolvimento
de processos erosivos a montante, pois, “O trabalho de escavação do vale, para o
estabelecimento do perfil de equilíbrio, é feito a partir da foz em direção à cabeceira
dos cursos d’água, isto é, por erosão regressiva” (p.87).
Carta de Uso e Ocupação da Terra
O levantamento da evolução da ocupação urbana e da ação antrópica sobre a Bacia
Hidrográfica do Córrego do Castelo foi feito através de estudos comparativos das
fotografias aéreas com o levantamento de dados em campo.
Para tal procedimento foi realizada a interpretação de pares estereoscópicos de
fotografias aéreas do ano de 1996, utilizando os princípios apresentados por Ceron e
Diniz (1966) na identificação das formas de utilização da terra, sendo estes: cor,
textura, forma da parcela, espaçamento e arranjo espacial. Já os trabalhos de campo
possibilitaram obter dados atualizados sobre tal uso na bacia.
A definição desta nomenclatura foi baseada no Manual Técnico de Uso da Terra
(IBGE 2006), bem como sua identificação pelo sistema de cores RGB (Red-Green-Blue).
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Tema 3 – Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais
De acordo com o mesmo autor, o sistema de classificação da cobertura e do uso da
terra é dividido em níveis dependendo da escala de análise, onde o Nível I é a Classe
(ex.: Áreas Antrópicas Agrícolas), o Nível II a Subclasse (ex.: Pastagem) e Nível III a
Unidade (ex.: Pecuária bovina extensiva para corte em pastos plantados). Entretanto,
“o sistema de classificação está aberto para a inclusão de níveis mais detalhados,
ressaltando-se que, quanto maior o nível de detalhamento pretendido, maior a
exigência de informação suplementar.” (IBGE, 2006, p. 37). Isto permitiu maior
flexibilidade à identificação e ao mapeamento dos usos.
Durante a identificação dos tipos de uso da terra, notou-se que seria importante
diferenciar, para uma melhor análise, as áreas densamente urbanizadas das destinadas
a expansão urbana. Isso porque, as áreas densamente urbanizadas por possuírem os
objetos urbanos já estabelecidos como ruas pavimentadas, aterros impermeabilizados,
sistemas de abastecimento de água e esgoto, entre outros, surte um efeito diferente
sobre o relevo em relação às áreas de expansão urbana, onde muitas ruas não são
pavimentadas, muitos lotes sem construções e ainda, têm-se uma freqüência menor
das alterações topográficas como cortes e aterros.
Outra característica encontrada foram espaços abertos em meio à urbanização,
denominados de “coberturas herbáceas”. Tais áreas são constituídas de uma
vegetação secundária, com muitas gramíneas e algumas árvores de porte pequeno a
médio. Não possuem nenhum tipo de atividade econômica, aparentando áreas de
especulação imobiliária.
Foi observada também, nas áreas próximas aos córregos, uma ocupação típica
destas áreas, que são as “mini-chácaras” ou “ocupação ribeirinha”. Como denominada
na carta de Uso da Terra, caracterizada por moradias de baixa renda, com caráter rural
e em áreas, muitas vezes, irregulares a tais ocupações
Assim, as áreas destinadas às rodovias e os estabelecimentos localizados próximos a
estas foram classificados como Comercial e Serviços. As áreas com plantações de pinos,
eucaliptos e outras culturas homogêneas foram classificados como Reflorestamento e
não como Silvicultura, pois estas nem sempre possuem o caráter comercial. Outro
fator de destaque é a presença apenas dos Pastos Sujos, pois possuem diversas
vegetações arbustivas e algumas cabeças de gados pertencentes aos moradores
ribeirinhos que os utilizam como força de tração em carroças ou na obtenção de
alimento pelo leite, não caracterizando tais áreas como criadoras de gado.
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ANÁLISE DOS RESULTADOS
Com o intuito de alcançar melhores resultados na análise dos dados, foi proposta
uma divisão da bacia hidrográfica em estudo (Figura 2) baseada nas cartas
Geomorfológica e de Uso e Ocupação da Terra. Esta divisão objetiva facilitar a
localização dos fatos abaixo apresentados referentes às alterações geomorfológicas
provocadas pelo uso da terra.
Figura 2: Divisão da área de estudo em setores para análise. I-Setor Nascente Oeste; IISetor Nascente Norte; III-Setor Córrego Palmital; IV-Setor Urbano margem direita; VSetor Urbano margem esquerda; VI-Setor Urbano Sul.
Elaboração: Leonardo Thomazini.; Orientação: Cenira M. L. da Cunha
O setor I possui no fundo de vale depósitos de sedimentos aluviais como
apresentado pela carta geomorfológica (Figura 3), propiciado pela característica do
córrego e fundo de vale plano.
Além disso, segundo a carta de Uso e Ocupação da Terra (Figura 4) a margem direita
da drenagem é destinada à expansão urbana, possuindo assim, arruamento não
pavimentado. Diferente dos arruamentos pavimentados que impedem a infiltração das
águas pluviais fazendo com que estas ganhem energia e cheguem ao rio em grande
quantidade e velocidade, os não pavimentados permitem que as águas penetrem, mas
muito pouco, pois são aterrados e batidos criando no solo uma camada que dificulta a
infiltração das águas. Assim, estes também colaboram com a concentração das águas
pluviais o que muitas vezes provoca o desenvolvimento de processos erosivos lineares,
como os sulcos.
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Tema 3 – Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais
Pode-se observar também a presença de terraços agrícolas próximos ao córrego,
denotando a presença antrópica influenciando no modelado do relevo. Além disso,
registrou-se a presença de vários sulcos erosivos, também oriundos do caráter côncavo
da vertente, juntamente com o desnível provocado pela ruptura topográfica e
intensificado pela expansão urbana ao entorno.
O Setor II (Figura 2) há no córrego do Castelo um processo de vossorocamento
ativo. Tal processo erosivo se intensificou com o aumento da carga d’água oriunda do
escoamento da rodovia Comd. João Ribeiro de Barros (SP-294), mais conhecida como
Bauru – Marília.
Mesmo estando numa área de pasto sujo, com terraços agrícolas que objetivam
amenizar o escoamento da água, constata-se que estes não são suficientes para
impedir que os processos erosivos lineares se desenvolvam, os quais são registrados
nos três estágios de desenvolvimento: sulcos, ravinas e vossorocas (Figura 3).
As vertentes possuem diversos sulcos erosivos e rupturas topográficas que
identificam a dinâmica do modelado das vertentes.
Assim, este setor, mesmo não estando numa área diretamente urbanizada, sofre
com as ocupações de entorno. É importante salientar a influência da rodovia sobre o
relevo, que não somente neste caso, mas em diversos outros contribuem para o
desenvolvimento dos processos erosivos, chegando a ser uma forma de ocupação
antrópica de grande impacto ambiental.
O Setor III (Figura 2) refere-se à área de drenagem do Córrego Palmital, um afluente
do Córrego do Castelo. Possui uma ocupação bastante diversificada, de acordo com a
análise da carta Geomorfológica (Figura 3). Este setor III, assim com o II, apresenta
diversos processos erosivos atuantes sobre o relevo os quais são intensificados pelas
atividades antrópicas.
Vários aterros e cortes topográficos feitos na construção da rodovia Mal. Rondon
(SP – 300) e também, uma vossoroca na parte de despejo das águas pluviais escoadas
pela rodovia, permitem inferir que a ocupação urbana exerce forte influência no
desenvolvimento de tais processos erosivos.
Foi possível identificar também, por meio da carta geomorfológica (Figura 3), a
presença de depósitos de sedimentos aluviais no baixo curso do Córrego Palmital. Por
este percorrer área de expansão e ocupação urbana, recebe grande quantidade de
águas pluviais juntamente com sedimentos carregados pelas enxurradas aumentando
assim, os sedimentos transportados pelo rio. (Foto 1)
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Outro aspecto importante a ser destacado neste setor é a ocupação ribeirinha,
caracterizada por moradias que indicam população de baixa renda. A importância em
identificar tais ocupações e mapeá-las, se deve ao impacto que estas exercem ao meio
ambiente, pois, além de estarem em áreas de preservação permanente (APP), os
caminhos abertos pelo gado funcionam como calha para as águas pluviais, originando
sulcos que podem dar origem a processos erosivos mais avançados.
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Tema 3 – Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais
Figura 3
Figura 4
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Sulco erosivo
Fundo de vale
Foto1: No canto superior direito, sulcos erosivos nas ruas não
pavimentadas provocados pelas enxurradas das águas pluviais
Fonte: Arquivo pessoal
Além disso, os dejetos (tanto humanos como animais) contaminam as águas do
córrego.
O Setor IV (Figura 2) possui desde a média vertente uma densa ocupação urbana,
constituindo a principal característica do setor.
Os sistemas de tubulação das águas pluviais diminuem a energia de escoamento
destas e, consequentemente, seu poder abrasivo, amenizando o surgimento dos
processos erosivos. Porém, tais águas chegarão ao fundo de vale com maior energia
em relação a um ambiente natural, modificando toda a dinâmica do rio e segundo
Penteado (1974) a da vertente também. Assim, os processos erosivos irão se
desenvolver onde o solo não está impermeabilizado, ou seja, da média para baixa
vertente.
Segundo a carta geomorfológica (Figura 3) há uma ruptura topográfica suave na
divisa da área urbanizada com os demais terrenos (pasto sujo, hortaliças, áreas verdes
e mata galeria), provavelmente ocasionada pela modificação que o assentamento
urbano provoca sobre o relevo, através da impermeabilização do solo, aterros e cortes
da vertente, alterando assim, a dinâmica desta.
No Setor V (Figura 2), predomina o uso urbano. Contudo, a partir da análise da carta
Geomorfológica (Figura 3) pode-se identificar ainda, feições erosivas localizadas
próximas ao principal afluente do córrego do Castelo no setor, que indicam a
dinamização de processos erosivos. Mesmo estando em área urbanizada, o entorno do
alto curso do afluente possui solo exposto, recebendo grande quantidade de águas
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Tema 3 – Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais
pluviais. Estes fatos, aliados às características lito-pedológicas da área, propiciam o
surgimento e desenvolvimento dos processos erosivos.
Mais uma vez, nota-se a presença de rupturas nos limites das áreas urbanas com as
outras áreas, localizadas próximas ao córrego do Castelo.
No último setor, o VI (Figura 2), segundo a análise da carta Geomorfológica, a
presença de processos erosivos lineares não é observada na área urbana.
A diferença de ocupação ocorre no fundo de vale próximo ao Córrego, onde
observa-se, segunda a carta de Uso e Ocupação da Terra (Figura 4) uma ocupação
ribeirinha, cobertura herbácea e uma pequena faixa de mata ciliar.
Em relação à carta geomorfológica (Figura 3), constata-se a presença de depósitos
aluviais os quais podem estar ligados também à ocupação ribeirinha, visto que a
presença de gado nas margens do Córrego propicia o surgimento de sulcos, seguidos
de exposição do solo e consequentemente uma maior carga de sedimentos lançados
na drenagem, que, associado com uma baixa declividade, contribui para tal deposição.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante das características geológicas da Bacia Hidrográfica do Córrego do Castelo,
bem como das análises realizadas através dos materiais cartográficos produzidos,
pode-se inferir que a área de estudo é propícia ao surgimento de processos erosivos.
Por estar sobre o domínio climático quente e úmido, com fortes chuvas no verão e
sem a cobertura vegetal primitiva caracterizada como Cerradão, as forças erosivas são
dinamizadas.
Os arenitos do grupo Bauru, pertencentes às formações Adamantina e Marília
presentes na Bacia, datadas do Cretáceo Superior e, portanto, caracterizadas por
sedimentação recente, dão origem a estrato pedológico pouco consolidado, o que
contribui ainda mais para o desenvolvimento dos processos erosivos. Além disso, as
águas pluviais, ao percolar pela formação Marília que aflora nas regiões mais altas,
encontram, nas regiões mais baixas, a formação Adamantina, com granulometria mais
fina. Esta discordância estrutural dificulta que as águas continuem infiltrando na
mesma velocidade. Assim, como a infiltração na formação Marília será mais rápida que
na Adamantina, ocorrerá uma saturação desta, acarretando na desagregação dos
grãos e, consequentemente, no desenvolvimento dos processos erosivos.
Contudo, o que se observou na análise das cartas foi que na área de ocupação
urbana densa (Figura 4) por estar o solo impermeabilizado, a presença de processos
erosivos é praticamente nula. Estes irão se desenvolver nas áreas periféricas a tal
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ocupação como, por exemplo, nos setores de pasto sujo, expansão urbana, entre
outras.
Assim, as regiões que mais apresentam desenvolvimento de processos erosivos,
segundo a carta Geomorfológica (Figura 3), são os setores II e III (Figura 2), onde a
principal ocupação é de pasto sujo, área de expansão urbana, de comércio e ocupação
ribeirinha. Inclusive, é nestes setores que ocorrem as duas maiores vossorocas.
A Bacia Hidrográfica, em sua maioria, apresenta baixas declividades, de acordo com
as características geomorfológicas da área, propiciando os assentamentos urbanos.
Contudo, a falta de planejamento e manejo das áreas destinadas à preservação, como
as áreas de APP (Área de Preservação Permanente) próximos ao Córrego, contribuem
no desenvolvimento dos processos erosivos.
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Tema 3 – Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais
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