Curso de Enfermagem Artigo de Revisão O USO DA TRAQUEOSTOMIA EM PACIENTES NA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA THE USE OF TRACHEOSTOMY IN INTENSIVE CARE UNIT PATIENTS Sandra Jaco Rocha Nogueira1, Verônica Neves da Cunha Pereira1; Judith Trevisam 2 1 Acadêmicas do Curso de Enfermagem 2 Professora Especialista Resumo Introdução: a traqueostomia é um dos procedimentos cirúrgicos mais antigos e consiste na abertura da traqueia com a colocação de uma cânula em seu interior, estabelecendo comunicação direta entre ela e o meio externo. Dentre os benefícios encontrados com sua realização podem ser citados: redução da taxa de auto extubação e da mortalidade. Ela é indicada principalmente para os pacientes com necessidade de ventilação mecânica prolongada ou obstrução de vias aéreas. Porém o momento ideal para sua realização ainda é incerto. Objetivo geral: Identificar as principais indicações para uso da traqueostomia, e o momento ideal para a sua realização. Objetivo especifico :Conhecer os benefícios e as complicações do uso de traqueostomia nos pacientes de unidade de terapia intensiva através de uma revisão de literatura; . Materiais e Métodos: revisão bibliográfica, qualitativa. Foram realizados uma busca nas bases de dados Lilacs, MedLine, PubMed e Scielo utilizando os termos traqueostomia, indicação, complicação,enfermagem. Foram selecionados 26 artigos. Resultados: As indicações para a traqueostomia mais comuns foram: tubo orotraqueal e VM prolongada, desobstrução e proteção de vias aéreas, higiene pulmonar, prevenção de lesões laríngeas e conforto para o paciente. Nos benefícios se enquadram a facilidade do manuseio, fácil acesso às vias áreas, redução do risco de aspiração, entre outros. As complicações são divididas em precoce, tardia e mista, onde a hemorragia e a infecção são mais comuns. A traqueostomia é realizada de dois tipos precoce (48 h) e tardia (14-16 dias), e o local adequado é o centro cirúrgico. Considerações finais: O profissional de enfermagem deve conhecer as indicações, os benefícios e as complicações da traqueostomia, a fim de participar ativamente, junto à equipe multiprofissional. Palavras-chave: Traqueostomia, Indicação, Complicações, Enfermagem Abstract Introduction: Tracheostomy is one of the oldest surgical procedures and consists of opening the trachea with the placement of a tube inside her, establishing direct communication between it and the external environment. Among the benefits found with their achievement can be cited: reduction in the rate of self extubation and mortality. It is mainly indicated for patients requiring prolonged mechanical ventilation or airway obstruction. But the ideal time for its realization is uncertain. General Objective: To identify the main indications for use of tracheostomy, and the ideal time for its completion. Specific Objective: To know the benefits and complications of the use of tracheostomy in intensive care unit patients through a literature review. Materials and Methods: Literature, qualitative review. Were carried out a search in the databases Lilacs, Medline, PubMed and Scielo using the tracheostomy terms, indication, complication, nursing. A total of 26 items. Results: The most common indications for tracheostomy were: tracheal tube and prolonged MV, clearance and airway protection, pulmonary hygiene, prevention of laryngeal lesions and patient comfort. The benefits fall into the easy to handle, easy access to the airways, reducing the risk of aspiration, among others. Complications are divided into early, late and mixed, where the bleeding and infection are common. A tracheostomy is performed two types early (48 h) and late (14-16h), and the right place is the operating room. Final Thoughts: The nursing professional should know the indications, benefits and complications of tracheostomy in order to actively participate with the multidisciplinary team. Keywords: Tracheostomy, Indication, Complication, Nursing Contato: [email protected]; [email protected] Introdução A traqueostomia (TQT) do grego trachea (artéria dura) e tomia (incisão) é um dos procedimentos cirúrgicos mais antigos, que consiste na abertura da traqueia com a colocação de uma cânula em seu interior, estabelecendo comunicação direta entre ela e o meio externo (Sakae et al., 2010; Fraga et al.,2009; Yaremchuk, 2003). A primeira descrição de traqueostomia é datada a mais de três mil anos, no antigo Egito, sendo utilizada como cirurgia de emergência nos casos de obstrução de vias áreas, porém somente em 1960 é que o procedimento começou a ser realizado com uma frequência maior, em decorrência da intensificação dos cuidados respiratórios (Urban et al., 1999) O procedimento cirúrgico da traqueostomia foi descrito primeiramente em livros de medicina hindu nos anos 1500 a. C., atribuído a Asclepíades, em Roma. Somente no século XVI o médico italiano Antônio M. Brasovala relatou, com sucesso, a realização desse procedimento em um paciente com abscesso na traqueia (Fraga et al., 2009) A partir daí houve grande avanço na técnica cirúrgica da traqueostomia, mas foi em meados dos anos 60, com o surgimento de ventiladores com pressão positiva e o surgimento das unidades de terapia intensiva (UTI), que a traqueostomia finalmente conquistou o espaço no tratamento de pacientes críticos (Viana; Palazzo; Aragon, 2011) Segundo Viana, Palazzo e Aragon (2011) sua popularização se deve principalmente aos grandes benefícios alcançados, tais como a redução da taxa de autoextubação e da mortalidade, possibilidade de fonação, ingestão oral e melhora nos cuidados de enfermagem. A técnica utilizada hoje em dia foi padronizada no século XX, e permanece pouco inalterada nos dias atuais (Rickz et al., 2011; Vianna; Palazzo; Aragon, 2011). A traqueostomia pode ser realizada por duas abordagens, percutânea ou cirúrgica aberta (Sakae et al., 2010). Tradicionalmente a traqueostomia cirúrgica aberta tem sido feita por muitos cirurgiões em sala operatória e, em muitas instituições, estes permanecem o método e local de escolha (Gomes; Chaves, 2011). Mas também é descrita como um dos procedimentos cirúrgicos mais comuns nas Unidades de Terapia Intensiva (Macedo et al., 2011; Mendes;Ranea; Oliveira, 2013). Na abordagem cirúrgica aberta duas suturas circunferenciais são realizadas em torno da face lateral do anel abordado, e colocados sobre o tórax a fim de produzir tração na traqueia e facilitar a passagem da cânula para dentro do lúmen (Durbin, 2005). Nesse momento, a cânula deve ser preenchida pelo obturador, um dispositivo que funciona como um guia, garantindo a passagem com menor risco de gerar um falso trajeto (Cook; Mulrow; Haynes, 1997). Após a cirurgia aberta, o trato permanece estável de 3 a 5 dias (Silva et al., 2009). Existem alguns fatores que podem complicar a recolocação em via áerea estável como obesidade, pescoço curto, anormalidades anatômicas, secreção copiosa no trato respiratório e excessiva quantidade de tecido de granulação (Silva et al., 2009). A traqueostomia pode ser classificada quanto a sua finalidade (preventiva – utilizada para complementar outros procedimentos cirúrgicos ou endoscópicos que possam gerar obstrução das vias áreas ou dificuldade respiratória; curativa – usada em situações cuja finalidade é a manutenção das vias aéreas; e paliativa – utilizada em pacientes terminais, em que não há nenhuma possibilidade de tratamento, e o intuito é apenas promover conforto respiratório), quanto ao momento de realização (de urgência – quando o paciente necessita de intervenção rápida, em decorrência de quadro de insuficiência respiratória; e eletiva – realizada em pacientes com vias aéreas controladas) e quanto ao tempo de permanência (temporária – aquelas que após determinado tempo são fechadas; ou definitiva – aquelas que passam a ser via de ventilação permanente) (Ricz et al., 2011). O conhecimento sobre a traquesostomia e suas implicações ao paciente crítico são extremamente importantes para um melhor manejo, e execução de assistência com maior qualidade. Portanto, o objetivo deste trabalho foi conhecer os benefícios e indicações do uso da traqueostomia e o momento ideal para sua realização, quando justifica-se pela grande quantidade de pacientes internados nas UTI que fazem o uso desse dispositivo traqueostomia. Além de identificar as principais complicações . Perfeito et al. (2007) referem que a traqueostomia na Unidade de Terapia Intensiva é viável e com baixo índice de complicações, mesmo quando realizada em pacientes graves. Mas em contrapartida, Silva et al. (2009), identificaram que o nível de conhecimento dos profissionais referente ao manejo desse procedimento em situação de emergência foi insuficiente, justificando a necessidade de treinamento das equipes. Materiais e Métodos Foi realizada uma pesquisa bibliográfica, qualitativa, utilizando-se as bases de dados Lilacs, MedLine, PubMed e Scielo. Os termos “traqueostomia”,“indicação”,“complicações” e “enfermagem” foram utilizados para a busca, de forma separada e também combinados. Suas respectivas traduções para inglês também foram utilizadas para a pesquisa. Após a leitura dos trabalhos encontrados também foi realizada a busca de novos artigos dentre as referências bibliográficas dos trabalhos separados, visando garantir uma pesquisa mais abrangente. Critério de inclusão O presente trabalho incluiu os seguintes estudos: artigos originais em língua inglesa e portuguesa, realizados em pacientes de unidades de terapia intensiva, em relação à beneficio, indicação, complicações e cuidados com a traqueostomia, que foram publicados nos últimos 14 anos (1999 – 2013), artigos mais antigos também foram utilizados desde que trouxessem informações importantes em relação ao assunto e que não foram mais abordadas em outros trabalhos e revisões bibliográficas sistemáticas e narrativas, ensaios clínicos randomizados ou não, estudos de coortes, relatos de casos e dissertações. Critérios de exclusão: Serão excluídos todos os estudos com as seguintes características: não relacionados ao tema, fora do espaço temporal determinado e em idiomas diferentes do inglês e/ou português. Foram realizadas as buscas e encontrados 16 artigos nas buscas iniciais dos termos escolhidos. Realizou-se a leitura dos resumos e 12 trabalhos foram incluídos dentro da revisão. Os demais 4 artigos foram excluídos, porém da leitura de suas referências bibliográficas encontrou-se mais 14 artigos que foram buscados na internet e incluídos também no trabalho. O trabalho foi escrito seguindo as normas do Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa (NIP) – ICESP/PROMOVE, 2014. Resultados e Discussão A indicação da traqueostomia tem íntima relação com o seu histórico, visto que primeiramente era utilizada para a desobstrução das vias aéreas e posteriormente mais Indicação associada à prevenção de alterações na via aérea e melhora ou tratamento dos cuidados respiratórios (Fraga et al., 2009). Nos artigos pesquisados, apenas 11 trouxeram relatos de indicações para a realização da traquestomia, conforme mostra a tabela 1. O que não significa que são apenas esses os critérios para traqueostomizar um paciente (Aranha et al., 2007; Fraga et al., 2009; Gomes;Chaves, 2011; Itamoto et al., 2010; Macedo et al., 2011; Mendes; Ranea; Oliveira, 2013; Rickz et al., 2011; Sakae et al., 2010; Silva et al., 2009; Sousa et al., 2009; Vianna; Palazzo; Aragon, 2011). De acordo com Ricz et al. (2011) as indicações da traqueostomia podem ser agrupadas da seguinte maneira: permitir a ventilação mecânica, como casos de intubações orotraqueais; uso de manobras, cujo intuito é liberar a obstrução de via aérea; permitir a higiene pulmonar e a ventilação de pacientes com debilidade na musculatura respiratória. Em pacientes pediátricos ainda podemos acrescentar como indicação para a realização da traqueostomia na UTI as lesões neurológicas, anormalidades craniofaciais e paralisia de cordas vocais (Carron et al., 2000). Segundo Itamoto et al. (2010) antigamente o principal motivo da utilização da traqueostomia em crianças era a obstrução de via aérea superior decorrente de origem infecciosa, porém, nos dias de hoje, as principais indicações são a intubação orotraqueal (IOT) prolongada, a obstrução de via área proveniente de malformações craniofaciais,como por exemplo, Síndrome de Tracher-Collins, a estenose laringo-traqueal, e por fim, a hipoventilação, normalmente associada a doenças neurológicas, como exemplo a paralisia cerebral. Tabela 1 - Indicações da traqueostomia (11 artigos) % (dos indicações) Tubo orotraqueal e VM prolongada trabalhos com 9 (82%) Desobstrução e proteção de Vias Aereas 6 (54,5%) Higiene pulmonar 6 (54,5%) Prevenção de lesões laríngeas 3 (27%) Conforto e segurança do paciente 2 (18%) Diversos são os benefícios obtidos com a realização da traqueostomia nos pacientes de Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Dentre os principais podemos citar: facilidade no manuseio do paciente pela equipe de enfermagem, possibilidade de fonação e alimentação oral, maior conforto, menor taxa de auto-extubação, redução do insucesso no desmame da Ventilação Mecânica, principalmente na traqueostomia precoce, melhor higiene das secreções pulmonares e altas para unidades menos complexas ou para casa, mesmo com suporte ventilatório (Macedo et al., 2011; Vianna; Palazzo; Aragon, 2011; Rickz et al., 2011; Gomes; Chaves, 2011; Sakae et al., 2010; Mendes; Ranea; Oliveira, 2013; Aranha et al., 2007; Pasini et al., 2007). Rumbak et al (2004) encontraram benefícios na redução da mortalidade, pneumonia associada à Ventilação Mecânica, tempo de internação na Unidade de Terapia Intensiva e tempo de Ventilação Mecânica em pacientes submetidos à traqueostomia precoce até 48 horas do início do suporte ventilatório. As vantagens e benefícios relacionados à utilização da traqueostomia são inúmeros. Sousa et al. (2009) destaca como benefícios a redução do risco de aspiração gástrica, o acesso fácil às vias aéreas inferiores e a prevenção de complicações decorrentes da entubação translaríngea prolongada. Uma das principais características dos benefícios gerados pela realização desse procedimento em pacientes da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) é a promoção de maior facilidade no cuidado do paciente, principalmente pela equipe de enfermagem. Tal benefício deve estar relacionado ao fato de reduzir a chance de auto-extubação ou até mesmo pela facilidade na realização da higiene oral dos pacientes submetidos à VM. As indicações e os benefícios da traqueostomia são indiscutíveis, porém as possíveis complicações também são incontestáveis, mesmo com incidência baixa (entre 4 e 10%) (Macedo et al., 2011). A principal complicação relatada na literatura é a hemorragia intra-operatória ou pósoperatória, seguida de obstrução da cânula por secreção, descanulação acidental, falso trajeto, infecção do estoma, enfisema subcutâneo e broncoaspiração, mesmo com a presença do cuff, que é tido como um protetor dessa complicação. Ainda há relato, porém em menor frequência, de complicações como pneumonia, edema de língua, diminuição do volume pulmonar, aumento da internação hospitalar em setores menos complexos e até mesmo morte (complicação com menos de 1% de chance de acontecimento) (Macedo et al., 2011; Vianna; Palazzo; Aragon, 2011; Rickz et al., 2011; Barros; Portas; Queija, 2011; Quintanilha et al., 2011; Gomes;Chaves, 2011; Aranha et al., 2007; Pasini et al., 2007; Reis et al., 2013). Outra complicação considerável é a alteração da mecânica respiratória, pois após a realização da traqueostomia ocorre uma anulação da atividade dos músculos da cabeça e pescoço para manutenção do calibre das vias 9 aéreas . De acordo com Sousa et al. (2009) os agravos da traqueostomia são frequentes, e algumas vezes podem ser fatais, e agrupadas em precoces, tardias e mistas.Dentre as complicações precoces estão: pneumomediastino, pneumotórax, enfisema subcutâneo, hemorragias e complicações da ferida. Uma complicação tardia da realização da traqueostomia é a formação de tecido de granulação no estoma ou na própria traqueia. Essa complicação pode gerar sangramento, drenagem e dificuldade de manutenção do suporte ventilatório mecânico (Yaremchuk, 2003). Outros agravantes que se enquadram na tardia destacam-se a estenoselaríngea ou traqueal, a traqueomalacia e a formação de pólipos traqueais. Nas mistas incluem-se a descanulação acidental, a obstrução da cânula, a infecção e a morte (Sousa et al., 2009). No caso dos pacientes pediátricos a chance de desenvolvimento de complicações pós-operatórias é significativamente maior, com alta taxa de mortalidade (Carron et al., 2000), podendo chegar a ser de duas a três vezes maior , que no adulto (Fraga et al., 2009) em decorrência da maior dificuldade cirúrgica ocasionada pela própria anatomia das crianças que dificulta o acesso para a realização da traqueostomia . A identificação e o gerenciamento dos fatores causadores desses agravantes são essenciais para uma abordagem segura nos pacientes com traqueostomias. Fraga et al. (2009) expões alguns cuidados fundamentais no manejo do paciente traqueostomizado: Necessidade de aquecimento e umidificação do ar inspirado, para prevenir desconforto ou espessamento das secreções, com risco de obstrução; Necessidade de remoção artificial das secreções pulmonares, uma vez que a traqueostomia prejudica a tosse, desde que seja feita de forma asséptica e minimamente traumática; Necessidade de trocas frequentes dos materiais utilizados, tais como sondas de aspiração, para prevenção de infecção; Necessidade de cuidados básicos de higiene com a traqueostomia, tais como troca do cadarço de fixação, que deve ser diária ou conforme necessidade por sujidade. Quando os pacientes apresentam respiração normal por via aérea fisiológica e de forma adequada, na forma mais precoce possível, deve ser levada em consideração a possibilidade de decanulação (retirada da via aérea artificial) (Rickz et al., 2011; Mendes; Ranea; Oliveira, 2013). Segundo Casserly et al. (2005) nos casos de deslocamento acidental da cânula na fase precoce da traqueostomia, a conduta mais segura é instituir a ventilação orofacial com ressuscitador manual e realizar intubação translaringeal antes de reintroduzir a cânula no estoma. Em relação ao momento ideal para se realizar a traqueostomia em um paciente na Unidade de Terapia Intensiva não há um consenso na literatura (Macedo et al., 2011; Vianna; Palazzo; Aragon, 2011; Rickz et al., 2011), sendo difícil primeiramente a definição do que é precoce e tardia. Os trabalhos evidenciam que, geralmente, elas são realizadas entre 6 a 10 dias de VM (Vianna; Palazzo; Aragon, 2011) chegando até 13,5 dias, como encontrado por Aranha et al. (2007). Alguns autores observaram que esse procedimento precoce pode ser responsável pela redução do tempo de internação e menor taxa de complicações (Macedo et al., 2011; Vianna; Palazzo; Aragon, 2011). Já observado que após 6 dias de intubação, são detectadas lesões agudas na laringe, e a partir do décimo dia o índice de complicações aumenta, sendo possível que os pacientes neurocríticos e com trauma grave se beneficiem dessa prática (Massiki et al., 2001; Yaremchuk, 2003; Rumnak et al., 2004), além dos submetidos à glossectomia parcial com síntese primária e com problemas respiratórios, com aumento do tempo de Ventilação Mecânica (Sakae et al., 2010; Quintanilha et al., 2011). As Diretrizes Brasileira de Ventilação Mecânica recomenda que para pacientes clínicos a realização da traqueostomia deve ser considerada no 14º dia de VM e com necessidade de mais tempo de tal terapêutica. Segundo Pinheiro et al. (2010) há dois tipos de momento adequado de se realizar a traqueostomia, que são: traqueostomia precoce (em 48 h) e traqueostomia tardia (14 – 16 dias). No seu estudo, foi observado que os pacientes, que foram traqueostomizado precocemente apresentaram uma melhor evolução, com uma menor duração da VM, e menor mortalidade. É importante mencionar a respeito do momento de realização da traqueostomia, a inclusão de paciente com diferentes diagnósticos, ou seja, com diferentes indicações para o suporte ventilatório. Uma vez que, as vantagens da traqueostomia se diferem entres os diagnósticos, algumas condições se beneficiam mais desse procedimento do que outras permitindo a realização da traqueostomia precocemente (Blot et al., 2008). Assim o melhor momento para a realização da traqueostomia é após uma investigação de todas as condições principais de necessidade de VM (Pinheiro et al., 2010). Em relação ao local ideal para a realização da traqueostomia foi observado que deve ser, preferencialmente, no centro cirúrgico, porém, em grandes hospitais as Unidades Intensivas já possuem estrutura para que o procedimento seja realizado sem transportar o paciente ao centro cirúrgico (Rickz et al., 2011). A realização da traqueostomia no leito da unidade de terapia intensiva (UTI) se deve a grande distancia entre as diversas Unidades Intensivas e o centro cirúrgico na maioria dos hospitais, além do grande volume de cirurgias. Entretanto, como a traqueostomia é um procedimento que lida com as vias aéreas, afirma-se que a sala cirúrgica seja o local ideal (Perfeito et al., 2007). É importante levar em consideração as complicações desse procedimento fora da sala cirúrgica. Perfeito et al. (2007) em seu estudo, observou algumas complicações imediatas como sangramento local, e complicações tardias, a infecção ao redor da ferida operatória. A grande preocupação desse procedimento realizado em outro local é a presença de sangramento e seu controle adequado, e a possibilidade de infecções graves. Apesar disso uma das grandes vantagens do procedimento ser realizado na Unidade de Terapia Intensiva é evitar o transporte dos pacientes, uma vez que muitos deles têm lesões graves e não devem ser mobilizados, além dos acessos venosos, drenos e monitorizações mais invasivas, que podem sair do lugar durante o transporte e alterar os sinais vitais, ocorrer perda dos parâmetros ventilatórios utilizados, e gerar instabilidade hemodinâmica (Perfeito et al., 2007). Massick et al. (2001) compararam pacientes que puderam realizar traqueostomia na beira do leito da Unidade de Terapia Intensiva com pacientes que tiveram que ser levados ao centro cirúrgico para tal procedimento, e observaram que as complicações perioperatórias eram maiores, significantemente, no grupo que deixou a UTI para a cirurgia. Alguns anos atrás a traqueostomia realizada no leito da Unidade Intensiva, era visto como um procedimento de alta morbidade e mortalidade, porém com os avanços tecnológicos, e o surgimento de aparelhos menores e instrumentos mais práticos e de fácil manejo, este procedimento tem se tornado mais fácil de ser realizado, de maneira que não trás complicações a saúde do paciente (Perfeito et al., 2007). Macedo et al. (2011), em uma análise retrospectiva de 107 pacientes na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Universitário Walter Cantídio (Fortaleza-CE), encontraram a técnica cirúrgica como a mais comum, seguida da percutânea, mas sem vantagem evidente de uma técnica sobre a outra. Porém o grupo de Massick (2001) evidenciou menor incidência de complicações pós-operatórias em traqueostomias realizadas pela técnica percutânea, mas provavelmente pelo fato de a técnica, em tal época, não ser tão desenvolvida como atualmente. Considerações finais As indicações para a realização da traqueostomia são inúmeras, pois dependem do diagnostico do paciente, e por essa razão, existe divergência sobre os principais motivos que levem a realização desse procedimento em pacientes críticos internados no ambiente da terapia intensiva. Apesar disso, observou-se que as indicações mais frequentes se davam pelo uso prolongado de Ventilação Mecânica e tubo orotraqueal. Embora apresente baixa incidência, as complicações são observadas e de grande importância, pois algumas vezes podem ser fatais, sendo que a hemorragia, obstrução da cânula, infecção da ferida operatória, broncoaspiração são as mais comuns, e em menor frequência, pneumonia, edema de língua, alteração da mecânica respiratória, entre outras, que são complicações mais graves levando a morte do paciente. Mesmo quando indicada, é preciso que os profissionais estejam atentos às complicações, e considerações aos riscos desse procedimento cirúrgico, mesmo sendo simples e de fácil realização. Apesar das complicações que podem surgir, a utilização da traqueostomia trás inúmeros benefícios para o paciente, e uma das principais é a redução do risco de aspiração, o acesso fácil e a prevenção de complicações. Além disso, proporciona um maior conforto ao mesmo, pois é atribuída a esse procedimento uma maior segurança, menor risco de remoção da prótese ventilatória, e principalmente, diminuição da dor na região do pescoço e uma maior facilidade para evolução do desmame da Ventilação Mecânica, sem mencionar o manuseio durante a assistência de enfermagem que é facilitado, e permitir a comunicação, deglutição, higiene oral entre outros benefícios. Em relação ao momento de realização da traqueostomia, foram encontradas duas maneiras de realizar: precoce e tardiamente, dependendo do diagnostico do paciente, como por exemplo, recomenda-se que a traqueostomia precoce seja realizada somente em pacientes neurológicos graves e que apresentem grandes chances de permanecer em Ventilação mecânica por muito tempo. Nos demais pacientes se realizado precocemente pode ocasionar complicações sérias, agravando ainda mais o quadro de saúde do mesmo. No que se refere ao local é notório que o mais adequado é no centro cirúrgico, em decorrência do preparo da equipe e materiais disponíveis em casos de emergências, embora algumas pesquisas apresentem a Unidade Terapia Intensiva como um local para a realização da traqueostomia, em virtude de suas inúmeras vantagens, como evitar as intercorrências provenientes do translado da Unidade Intensiva para o centro cirúrgico, entre outras. Diante dessas questões, conclui-se que o profissional de enfermagem deve conhecer as indicações, os benefícios e as complicações da realização de traqueostomia para poder participar ativamente, junto à equipe multiprofissional, nas decisões do momento ideal para sua realização e na responsabilidade de uma assistência de qualidade e com segurança para os pacientes críticos de Unidade de Terapia Intensiva. Agradecimentos Primeiramente agradecemos a Deus pelo dom da vida e a capacidade de podermos alcançar nosso objetivo permitindo que esse momento tão importante aconteça. Agradecemos aos nossos familiares que nos momentos de nossas ausências entenderam que o nosso futuro seria feito a partir da constante dedicação no presente. Agradecemos também pelos momentos difíceis, pois por meio deles nos tornamos fortes e capazes de enfrentar qualquer obstáculo nessa vida. Às nossas mães, que sempre acreditaram e incentivaram a continuarmos , aos nossos filhos e esposos pela compreensão, incentivo e por está sempre presente sendo solidário, quando as dificuldades vinham nos assolar. Aos nossos amigos, que compreenderam nossa ausência em várias ocasiões, sempre torcendo pelo nosso sucesso. A todos os nossos professores que contribuíram e enriqueceram nossos conhecimentos na vida acadêmica e aos colegas da Faculdade, a nossa parceira pela compreensão, pelos vários momentos de estudos, companheirismo e felicidade que passamos juntas durante esta jornada, e hoje mesmo com toda a dificuldade conseguimos concluir a tão sonhada graduação. À nossa orientadora, JUDITH TREVISAN, pela sua dedicação e paciência na realização deste artigo. À UNICEP PROMOVE, pela excelência no corpo docente do curso de ENFERMAGEM,e pela educação de qualidade proporcionada a nós. Referências: 1-ARANHA, SC. et al. 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