GEOGRAFIA REGIONAL: PROJETO DE CONSTRUÇÃO DE UMA

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GEOGRAFIA REGIONAL: PROJETO DE CONSTRUÇÃO DE UMA
CARTILHA PARA-DIDÁTICA SOBRE ALIMENTOS NO ESPÍRITO SANTO
Leonardo Nunes Domingos/ Universidade Federal do Espírito
[email protected]
Leonardo Matiazzi Corrêa/ Universidade Federal do Espírito
[email protected]
A educação básica (educação infantil, ensino fundamental e médio) tem como
uma de suas principais finalidades, em relação ao educando “assegurar-lhe a formação
comum indispensável para o exercício da cidadania” (LDB, 1996).
No inciso 3º, do artigo 35º, da LDB, o legislador coloca como finalidade do
ensino médio (tendo-se este como parte da educação básica) “o desenvolvimento da
autonomia intelectual e do pensamento crítico” (grifo nosso); no próximo artigo é
colocada a necessidade “da compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos
processos produtivos, relacionando teoria com prática (grifo nosso), no ensino de cada
disciplina”.
Esses objetivos ou finalidades do ensino médio não estão grifados por acaso. A
autonomia intelectual, o pensamento crítico e a relação teoria-prática não encontram,
hoje, solo fértil para germinarem. Uma das condições limitantes está relacionada
justamente ao livro didático, e o livro de geografia não foge à regra. Vou explicar. A
“indústria do livro didático” que ocupou o espaço deixado pelas más condições de
trabalho dos professores no Brasil (incluindo a defasagem salarial, a instabilidade no
emprego e a ausência de cursos de reciclagem), faz os próprios professores de vítima.
Nesse processo “o livro didático tornou-se a bíblia dos professores”
(OLIVEIRA, 1989), e definem assim o que se ensina e o que não se ensina, além de
como ensinar. Além disso, “nem sempre as editoras colocam no mercado livros com um
mínimo de seriedade e veracidade científica” (OLIVEIRA, 1989). Mas como isso
influencia na realização dos paradigmas colocados pela LDB, e tão almejados pelos
principais teóricos da educação atual ?
O desenvolvimento da autonomia intelectual é alcançado quando, segundo Paulo
Freire (1996), o sujeito do processo de aprendizagem é o aluno, e ele constrói seu
próprio conhecimento, a partir da relação teoria-prática, tendo o professor como
mediador. Mas quando o professor está “preso” ao livro didático, a autonomia do
educando é prejudicada, pois ele acaba sendo um ser passivo dentro do processo de
ensino-aprendizagem, onde sua função é a de absorver o conteúdo e reproduzi-lo na
prova, “na mais tacanha fidelidade” (DEMO, 1992). Este contexto também não é
favorável para o desenvolvimento crítico, pois se tem apenas o ponto de vista do autor
do livro, e isto leva, muito das vezes, o aluno acreditar que “se está publicado é bom, e
está correto o que aí aparece escrito” (OLIVEIRA, 1989). Por final, o livro, a maioria
das vezes, não traz soluções para trabalhar os assuntos relacionando-os com a prática.
Até porque, a maior parte deles, são produzidos de forma padronizada para todo o
Brasil, e o país possui uma variedade de realidades imensurável. O papel do professor
seria utilizar-se da realidade onde leciona para cumprir esse paradigma, mas ele se
debruça sobre o livro.
Neste contexto “a geografia foi perdendo aquilo que de especial ela sempre teve
– discutir a realidade presente dos povos, particularmente no que se refere ao contexto
espacial” (OLIVEIRA, 1989). Ainda sobre a necessidade de relacionar a teoria com a
prática, no que tange o estudo da geografia, “a realidade do mundo só se aproxima da
sala de aula quando variamos as fontes de informação. Assim, o livro didático escolar
não pode ser a nossa única orientação de leitura na sala de aula” (REICHWALD, 2004).
Utilizando essa perspectiva levantada nas linhas anteriores, e aplicando-a no
nosso objeto de estudo, percebemos que o estudo dos alimentos dentro da geografia na
educação básica não é diferente. Isto é, o aprendizado do assunto está à mercê do livro
didático, que ora o aborda de forma meramente estatística, e ora apresenta-se longe da
realidade do educando. Isso não colabora para a autonomia intelectual do educando e
nem cria condições para desenvolvimento de uma postura crítica sobre o tema,
fundamentos básicos de um cidadão.
Neste sentido, proporemos nas próximas linhas uma metodologia que visa
nortear a construção de uma cartilha para-didática sobre os alimentos no Espírito Santo.
Não é a intenção que o professor, ao trabalhar o tema, troque o livro pela cartilha. Na
verdade, a idéia é variar os meios pelos quais se estuda a geografia, e no estudo dos
alimentos, a cartilha é mais um meio, quer dizer, é um material de apoio.
Ressaltando a importância de um material de apoio, e ao falar dos paradidáticos, Reichwald (2004) diz: “esses textos respondem à construção de análises mais
aprofundadas e com maior capacidade de interação por parte de crianças e
adolescentes”. Nesse contexto, a cartilha traz, além da realidade do Espírito Santo sobre
os alimentos (que é a realidade do aluno), a possibilidade de um aprofundamento do
assunto e do desenvolvimento de um pensamento crítico e epistemológico sobre o tema.
Antes de propor a metodologia de construção da cartilha, é importante esclarecer
o que é esta cartilha. A proposta original (que pode ser adaptada) é a construção de uma
cartilha para-didática que busca elucidar o tema alimentos, e que trabalhe com este tema
dentro da realidade estadual, no caso, o Espírito Santo. A cartilha é um material de
apoio que busca enriquecer os educando da cidade sobre os alimentos que estes
consomem no dia-a-dia, por isso ela trata somente dos alimentos in-natura, devido ao
fato destes representarem a relação campo-cidade mais claramente. Para tal, a cartilha
disporá de algumas subdivisões, que são: Produção, distribuição e consumo, mostrando
como é o ciclo do alimento. A proposta da cartilha, então, é criar no educando da cidade
um olhar mais geográfico, epistemológico e crítico sobre os alimentos que fazem parte
do seu cotidiano.
Agora colocaremos a seguir os passos para a construção desta cartilha, que busca
lastrear o conteúdo curricular com a realidade do educando.
A metodologia será dividida em algumas partes, para facilitar o seu
desenvolvimento posterior e por outros interessados. São elas: o teste da problemática, a
pesquisa bibliográfica (incluindo bibliografia sobre o ensino da geografia), a pesquisa
bibliográfica geográfica e a aquisição dos dados (qualitativos e quantitativos) sobre os
alimentos no Espírito Santo.
O teste da problemática consiste simplesmente em investigar se a problemática
levantada condiz com a realidade. Esse teste, pode ser feito na escola onde se pretende
realizar este projeto, ou em uma amostra das escolas do estado ou da região para qual se
pretende propor a utilização da cartilha.
Na condução desta etapa será utilizada como metodologia de pesquisa, os
pressupostos da História Oral. Segundo Bom Meihy (1996), a história oral apresenta-se
como um eficiente recurso de pesquisa, ao possibilitar a elaboração de registros e
documentar experiências, saberes e práticas de pessoas, a respeito de suas vivências e
concepções. Isso significa uma possibilidade de documentar o não documentado, visto
que nessa abordagem de pesquisa o uso da documentação oral equivale às fontes
escritas.
Existem três tendências de pesquisa que se utilizam da história oral: a história
oral da vida, a tradição oral e a história oral temática. Nossa abordagem apóia-se na
história oral temática, visto que buscamos saber o que os professores acham do
tratamento dado pelo livro didático ao conteúdo “alimentos”, dentro da geografia. Isto é,
temos um tema previamente deliberado.
Para tal prepararemos uma folha com um cabeçalho, que deve, obrigatoriamente,
trazer as principais informações sobre o profissional entrevistado, e ainda, as perguntas,
que são:
• Você utiliza o livro didático? Como?
• Você utiliza ou já utilizou algum material paradidático? Com qual freqüência
utiliza?
• Você acha importante o estudo dos alimentos dentro da geografia, isto é, uma
geografia dos alimentos?
• Em sua experiência em sala de aula, como você qualifica a forma como é tratado
o tema “alimentos” dentro livro didático?
• Dentro do livro didático, quando é abordado o tema “alimentos” é estudado a
realidade espírito-santense, tendo esta como a realidade do aluno?
Após a entrevista gravada, devemos transcrever-la, e por fim, extrair delas
algumas informações pertinentes ao desenvolvimento desta etapa. É importante
compreender que, o resultado desta etapa valida ou invalida a necessidade de construção
da cartilha, pois é aqui que os professores diagnosticarão ou não a necessidade deste
material de apoio. Por esse motivo esta etapa é a primeira.
Outro fator importante a se relevar na entrevista oral é a forma como este
professor enxerga o material didático. Para realizar este diagnóstico foram colocadas as
duas primeiras perguntas. Nelas, perceberemos também o grau de abertura deste
profissional para com os materiais de apoio. Um professor muito arraigado ao livro
didático, pouco atualizado e pouco produtor do próprio conhecimento, pode se revelar,
nas perguntas seguintes, adverso à utilização de outro material, bem como acreditar que
o livro é completo e satisfatório.
A próxima etapa é a pesquisa bibliográfica pedagógica, incluindo a pesquisa
que envolve o ensino de geografia. Esta etapa é de suma importância pois proporcionará
à toda a construção desta cartilha um lastro com as idéias e teorias pedagógicas. Isto
eleva a validade do produto final, bem como eleva a possibilidade de funcionamento da
cartilha da forma como pretendemos.
Em termos práticos, essa base teórica oriunda da pesquisa bibliográfica
pedagógica, busca qualificar o futuro escritor da cartilha para que este consiga fazer a
ligação entre o conteúdo acadêmico sobre os alimentos no Espírito Santo com a
necessidade de conhecimento da realidade do educando. É nesse sentido que é
importante, além de termos incluídos nestes livros as teorias abrangentes, termos
também livros sobre o ensino específico da geografia, bem como bibliografia sobre
técnicas de ensino e didáticas voltadas para o ensino da disciplina.
A etapa que consiste na pesquisa bibliográfica de geografia possui importância
equivalente. Afinal, não adiantaria absolutamente nada utilizar teorias educacionais
sobre tema algum. Nesse sentido, é importante inteirar-se sobre o tema alimentos para
escrever com propriedade sobre o tema, bem como para realizar o seu nexo com a
didática de geografia.
Essa etapa também contribuirá na utilização de termos e conceitos geográficos
dentro da cartilha. Sobretudo quando falamos do conceito de “espaço geográfico”.
Uma das propostas da cartilha para-didática sobre os alimentos no Espírito Santo
é que esta possua um forte lastro com a geografia, ou seja, que explique os fenômenos
que envolvem os alimentos através da ótica geográfica. E para isso, é imprescindível a
utilização do conceito de espaço geográfico, bem como das suas categorias de análise,
tais como paisagem, lugar, território e região.
Outra proposta que vem implícita nesta etapa de pesquisa bibliográfica de
geografia, é o desenvolvimento de um olhar crítico sobre o tema, e os temas que
envolvem, direta e indiretamente os alimentos, por parte do produtor da cartilha. Para
que este, por algum meio ou forma, consiga transmitir esse elemento de criticidade para
a cartilha, e assim para os seus leitores.
Digo “de alguma forma ou meio” pois existem alguns fatores envolvidos na
escrita de um material, cujas metodologias são subjetivas ou impossíveis de se
pragmatizar. Assim, com não sabemos qual ponto de vista que o escritor pode assumir,
ao procurar produzir esta cartilha, e ainda, qual vertente de pesquisa bibliográfica ele
poderá buscar, deixamos algumas possibilidades à disposição e/ou em aberto. Afinal, a
cartilha é uma produção, e não uma reprodução. Logo, toda produção possui sua
margem de liberdade.
Do outro lado, a pesquisa bibliográfica geográfica também serve ao escritor,
quando na sua função de pesquisador. Isto é, ela servirá para nortear a pesquisa, tanto
qualitativa quanto quantitativa dos dados e informações que representarão a realidade
espírito-santense dos alimentos.
E, por final, temos a aquisição de dados qualitativos e quantitativos sobre os
alimentos no Espírito Santo.
Podemos subdividir essa etapa em mais algumas partes, para facilitar a
explicação. Essa divisão será feita sob o critério aquisição de dados. Isto é, cada
subdivisão desta possui uma forma de aquisição de dados diferente. Colocaremos, nas
próximas linhas as subdivisões e as metodologias respectivas.
A produção, a distribuição e o consumo foram os três mais importantes pilares
da construção da cartilha, pois eles revelam ao educando da cidade (público alvo), o
caminho pelo qual passa o alimento até chegar à sua mesa. Revelando, além da sua
própria importância, a pertinência dos atores envolvidos neste processo fundamental
para o surgimento e funcionamento das cidades.
Além desses três pilares principais que são o arcabouço estrutural da cartilha,
temos ainda a análise dos alimentos orgânicos no estado, mostrando como é diferente e
peculiar esse ciclo (produção – distribuição – consumo), quando tratamos desses
alimentos.
Disporemos sobre o primeiro pilar, a produção. É importante neste momento
esclarecer que quase, senão todos, os dados de produção agrícola no estado do Espírito
Santo, foram adquiridos por meio de uma pesquisa na CEASA-ES. Conseguimos
inclusive a dinâmica de movimentação dos alimentos dentro da própria instituição, e
ainda, tivemos acesso ao mapa da Sede da CEASA-ES em Cariacia-ES.
Um fator de extrema relevância, e que nos motivou a socializar essa idéia, foi
que a CEASA é uma instituição federal, presente em todos os estados da federação. Isso
torna essa pesquisa de produção agrícola viável e possível à qualquer brasileiro
interessado.
È importante salientar também, que, no nosso caso, embora tenha sido
necessário o contato direto com os administradores da CEASA-ES para a aquisição de
dados mais pertinentes, grande parte dos dados é disponibilizada pelo site da própria
instituição. A nossa pesquisa à campo aconteceu mais por um velho cacoete geográfico
desenvolvido nos anos de geografia, e pela possibilidade de entrar em contato com os
envolvidos no processo de distribuição dos alimentos: os carregadores e caminhoneiros.
Mas isso é no próximo tópico.
Esta etapa de organização dos dados de produção agrícola requer imenso
cuidado. Primeiro, porque é necessário sempre citar a fonte e relativizar os dados,
principalmente os quantitativos. No nosso caso, ao tabular e organizar os dados de
produção dos 78 municípios espírito-santenses, produzimos uma tabela de mais de 2 mil
itens. E, tendo esta como base, resolvemos especializar os dados. Ao produzir os mapas
percebemos que alguns municípios ficariam sem dados, isto é, indicados que não
produziram nada naquele ano (2007). Diante da informação, fomos até o município
entrevistamos e tiramos algumas fotos de produtores rurais locais, para mostrar aos
educandos, no momento da confecção da cartilha que, não é porque no mapa não indica,
que naquele lugar não se produz nada. Na verdade, estamos utilizando o critério da
CEASA-ES, então, se o alimento não passa pela instituição para ser comercializado, o
município não possui dados.
Essa explicação mostra se importante, pois desvela ao educando a forma como
foram adquiridos os dados utilizados para a produção da cartilha, revelando a
relatividade e a forma crítica de lê-lo.
O segundo cuidado que se deve ter nesta etapa de aquisição de dados de
produção agrícola é o critério da própria aquisição. Utilizamos, no nosso caso, e
aconselhamos, apenas alimentos in-natura. Pois, além de mostrar uma ligação mais
direta entre campo e cidade, é um recorte que facilita a pesquisa, no final das contas.
Ainda sobre os cuidados, deve-se fazer uma classificação dos alimentos, para
trabalhá-los melhor. No nosso caso, e também recomendamos, utilizamos a
classificação do Programa de Orçamento Familiar (POF) do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística.
Essa classificação também pode ser feita igualmente para todo o Brasil, já que a
instituição é federal. Nesse sentido, com algumas adaptações, principalmente
adaptações para facilitar o entendimento do educando, dividimos os alimentos in-natura
em:
• Hortaliças:
o Hortaliças folhosas e florais;
o Hortaliças frutosas;
o Hortaliças tuberosas;
• Frutas;
• Cereais e Leguminosas;
• Aves;
• Ovos;
Foi a partir que nos baseamos para confeccionar os mapas, logo, produzimos um
para cada classificação, e ainda, fizemos questão de colocar ao lado dos mapas, algumas
tabelas indicando quais alimentos deste grupo são mais produzidos nos municípios.
A etapa da pesquisa sobre a distribuição dos alimentos foi marcada por um misto
de dados quantitativos e qualitativos. Já de antemão, a CEASA-ES nos informou que
não possui dados sobre o destino dos alimentos, apenas da origem (utilizados para a
aquisição dos dados de produção). Isso foi um problema, até o ponto em que
percebemos que saber exatamente qual produto vai para qual lugar não era tão
relevante, quanto saber como funciona o fluxo de distribuição dos alimentos in-natura
no estado.
Nesse sentido, aquela pesquisa de campo, realizada pelo “vício geográfico”
serviu muito. Por meio de observações criteriosas e de longas conversas com a
administração da CEASA-ES, conseguimos estar à par da lógica de distribuição interna
da instituição. Por outro lado, através de entrevistas aos caminhoneiros, que são
importantes atores nesse processo, percebemos que a movimentação de alimentos
ultrapassa as fronteiras do estado do Espírito Santo. Encontramos na Unidade da
CEASA de Cariacica, caminhões vindos de outros estados, tais como São Paulo e Minas
Gerais. E, recebemos inclusive informações que alguns caminhões partiam para outros
estados também.
Nesta etapa, nos vigiamos constantemente para não dar ênfase demasiada à
CEASA-ES em detrimento às outras formas de distribuição desses alimentos. È
importante lembrar na cartilha que, embora a CEASA seja importante nesta
distribuição, outras formas existem e também se revelam importantes, como as feiras e
até alguns supermercados, cujos produtos não passam pela instituição. Isto é,
supermercados que possuem fazendas, participando de todo processo, desde a produção
até o consumo, passando pela distribuição (transporte).
Das principais etapas que compõe a cartilha, temos a última, o consumo, que é
onde o alimento alcança a sua finalidade.
Esta etapa, a exemplo da anterior, foi marcada por uma pesquisa mista, isto é,
qualitativa e quantitativa.
Neste momento, exploramos o valor nutricional dos diferentes alimentos innatura, bem como sua importância dentro da pirâmide alimentar; comparamos os
valores nutricionais desses alimentos com os industrializados; realizamos uma análise
sobre o perfil do consumidor capixaba, ou seja, quanto de quais alimentos as pessoas do
estado consomem; fizemos uma análise dos principais pontos de consumo, tais como
supermercado e feiras, utilizando-se de uma breve análise histórica até chegar à
atualidade; trabalhamos com a relação oferta e preço existente no ramo alimentício, e
para isso utilizamos exemplos reais; e, por fim, exploramos a questão do desperdício de
alimentos, colocando tanto a realidade global, através dos dados do Programa Alimentar
Mundial, quanto a realidade capixaba do desperdício de alimentos que começa já dentro
da própria CEASA-ES. Nesse sentido, propomos algumas medidas mitigadoras
individuais, tais como algumas “receitas alternativas” que visam utilizar de forma mais
adequada os alimentos, evitando desperdícios e colaborando para o aumento do valor
nutricional das receitas, e para a redução do desperdício que inibe a elevação dos preços
desses produtos.
A parte do consumo inicia-se com a análise dos valores nutricionais dos
alimentos in-natura, e sua classificação dentro da pirâmide alimentar. As informações
sobre a pirâmide alimentar são extremamente acessíveis a todos, inclusive via internet,
então não acreditamos que seja necessário um maior elucidação desta etapa, no que se
trata de aquisição dos dados.
Aqui relacionamos os alimentos in-natura até então estudados com a pirâmide,
com o intuito de mostrar ao educando, a importância de cada alimento para o seu
organismo. E ainda as diferenças nutricionais entre os in-natura e os industrializados.
Isso se torna importante, pois cria, desde já, uma mentalidade alimentar sobre o que
consumir.
Para traçar o perfil do consumidor capixaba, foi necessário uma simples
pesquisa no Programa de Orçamento Familiar (POF) do IBGE. Em contato com os
dados, tivemos o cuidado de extrair apenas os dados sobre o consumo dos alimentos innatura. E também, de na hora transformar os dados em relativos, isto é, em
porcentagem, relacionar com o total dos alimentos in-natura consumidos, não com o
total geral de alimentos consumidos.
Por meio de uma simples pesquisa histórica, podemos ter acesso a história dos
supermercados e feiras. De posse, fizemos uma análise histórica desses importantes
pontos de consumo, trazendo do nível nacional, e as vezes, global, para o nível estadual.
E paralelo a isto, mostrando a evolução dos supermercados e feiras até os dias atuais.
Ao trabalhar com o consumo, achamos importante trazer à tona, a questão da
oferta e preço dos alimentos. Para tratar esse tema, utilizamos exemplos reais de oferta e
preço do arroz e feijão no Espírito Santo no ano de 2007, alimentos presentes
cotidianamente na mesa do brasileiro, de forma geral. E ainda, bem tradicional no
estado.
Ao final, como já foi citado, tratamos a polêmica questão do desperdício dos
alimentos, fazendo uma ligação entre a realidade global com a capixaba. Nessa ocasião,
propomos medidas individuais, tais como receitas alternativas, elucidando a importância
destas tanto para a questão nutricional (utiliza-se melhor os nutrientes dos alimentos),
quanto para a questão sócio-econômica (evita-se o desperdício, reduzindo o “consumo”,
e inibindo a elevação dos preços).
Como complemento, colocamos uma parte sobre os alimentos orgânicos, já que
estes, na sua maioria são comercializados de forma in-natura. Mostramos de forma mais
sucinta, a produção, a distribuição e o consumo dos alimentos orgânicos no estado do
Espírito Santo. Elucidando para o educando como funciona atualmente o mercado dos
orgânicos, a importância dos alimentos orgânicos em relação aos tradicionais, e ainda,
as falhas de fiscalização desses alimentos.
Dentro do assunto, mostramos as diversas formas de distribuição desses
alimentos, sendo por supermercados, feiras, ou por cooperativas. Para ilustrar, fomos à
uma das cooperativas, para coletar dados e informações de como realmente ela funciona
e as dificuldades enfrentadas.
De posse de tanta informações, achamos necessário colocar no final da cartilha,
um glossário e uma proposta de aula de campo.
O glossário, possui o significado de alguns termos técnicos que foram
necessários para a explicação do assunto.
A proposta de aula de campo, tem como alvo a CEASA-ES e objetivo de
explicar na prática como funciona a distribuição desses alimentos in-natura dentro da
principal instituição de distribuição. De posse do mapa da CEASA-ES (unidade de
Cariacica-ES), e feito as devidas adaptações, podemos planejar de forma mais clara a
aula.
E assim, por meio da elucidação desta metodologia de construção de uma
cartilha para-didática sobre os alimentos no estado do Espírito Santo, que pretendemos,
primeiramente, colaborar para o ensino de uma geografia regional dos alimentos no
nosso estado, e assim despertar nos nossos educandos um maior interesse pela
geografia, à medida que estes perceberem que estão estudando a própria realidade, e não
mais uma realidade distante e abstrata. Colaborando assim, para o desenvolvimento de
um olhar mais criterioso, crítico e epistemológico sobre esta realidade alimentar.
E segundo, temos a esperança de incentivar e colaborar metodologicamente para
a produção desta cartilha em ouras regiões ou estados brasileiros, para que podemos,
todos, ter possibilidade de estudar os alimentos, que é um conteúdo de extrema
importância humana e social, sob uma perspectiva regional, e mais próxima da nossa
realidade.
Referências bibliográficas:
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DEMO, Pedro. Pesquisa: principio científico e educativo. São Paulo: Cortez, 1992
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa.
39º ed. São Paulo: Paz e Terra, 2009.
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MEIHY, José Carlos Sebe Bom. Manual de história oral. 4. ed. rev.e ampl. - São
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OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino de. Para onde vai o ensino de geografia?
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São Paulo: Contexto, 1991. 144p.
POULAIN, Jean Pierre. Sociologias da Alimentação. Santa Catarina: UFSC, 2004,
310p.
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