Milho para Silagem A.T.E. Aguiar et al. Milho para Silagem Zea mays L. Espécie da família Poaceae, originária do México, anual, utilizada para produção de grãos ou forragem na forma de silagem da planta inteira. O milho é a cultura padrão para ensilagem devido a sua elevada produtividade associada ao seu excelente valor nutritivo, suprindo desta forma as exigências nutricionais dos rebanhos mais exigentes, principalmente os leiteiros. Cultivares: as indicadas para produção de grãos, que se destacam principalmente quanto à produção de matéria orgânica digestível, e que também apresentem boa resistência ao acamamento e quebramento de colmo, bem como sanidade foliar. Para escolha das cultivares com maior produção de matéria orgânica digestível no Estado São Paulo, sugerimos a consulta dos ensaios de avaliação de cultivares de milho para silagem APTA/IAC/ESALQ, disponibilizados no site www.zeamays.com.br. Nos casos de ausência de dados de avaliação regional de cultivares de milho para silagem, pode-se optar pelas cultivares de grãos dentados ou semidentados com elevada produtividade de grãos e porte alto. As cultivares que apresentam grãos dentados permitem maior janela de corte e, consequentemente, facilitam o escalonamento do período de colheita. Época de semeadura: na safra de verão, desde o final de setembro até dezembro, seguindo a mesma recomendação do zoneamento agrícola do milho para produção de grãos. O cultivo do milho safrinha é mais recomendado para a produção de grãos, pois o volume de massa produzido pode ser baixo, não justificando o alto custo de mecanização para ensilagem. Espaçamento e população inicial de plantas: a população e o arranjo de plantas é o mesmo recomendado para a produção de grãos. Utilizar espaçamento de 0,50 a 0,90 m e populações de 55 a 75 mil plantas por hectare, de acordo com a época de semeadura, a cultivar e o potencial produtivo da lavoura. Utilizar maiores populações de plantas em lavouras de maior potencial produtivo e/ou híbridos de porte baixo e folhas eretas. Os espaçamentos reduzidos requerem o uso de máquinas que cortam a forragem em área total e, na maioria das regiões, estão disponíveis apenas as colhedoras de forragem de uma a duas linhas acopladas ao trator, mais apropriadas aos espaçamentos mais largos. Sementes necessárias: em cultivares transgênicas, utilizar 5% a mais de sementes em relação à população inicial de plantas e em cultivares convencionais, 5% a 10%, dependendo do manejo e umidade do solo e do histórico de ocorrência de pragas iniciais. Para espaçamento 0,80 m e densidade inicial de 5 plantas por metro linear (60 276 Boletim, IAC, 200, 2014 mil plantas por hectare), o gasto de sementes peneira 22 será de aproximadamente 19 a 24 kg ha-1, dependendo da cultivar. Controle de erosão: uso de sistema plantio direto e, em áreas com declive maior que 3%, indica-se o plantio em nível associado ao terraceamento e as práticas conservacionistas complementares, de acordo com o tipo de solo, classe de capacidade de uso das terras, manejo e rotação de culturas adotados. Milho para Silagem Instruções agrícolas para as principais culturas econômicas Calagem: com base na análise química do solo, aplicar calcário antes da safra de verão, para elevar a saturação por bases (V) a 70% e o magnésio a um teor mínimo de 4 mmolc dm-3. Em solos com mais de 50 mg dm-3 de matéria orgânica, basta elevar V a 50%. Adubação de plantio: a adubação do milho silagem é praticamente a mesma do milho para grãos, exceto para os nutrientes potássio e enxofre. Adubar com 30 a 40 kg ha-1 de nitrogênio na semeadura. Utilizar os resultados da análise do solo na camada 0-20 cm e a meta de produtividade para recomendação de fósforo, potássio e micronutrientes. Para metas de produção de massa verde (35% de massa seca) iguais a 38-44, 44-53, 53-59, 59-65 e >65 t ha-1, considerando-se os teores baixo (a), médio (b) e alto (c) de P e K no solo, recomenda-se 60-80-90-110-120 (a), 40-50-70-90-100 (b) e 30-40-60-70-80 (c) kg ha-1 de P205, respectivamente, e 100-140-160-180-200 (a), 80-100-120-140-170 (b) e 60-70-90-110-130 (c) kg ha-1 de K20, respectivamente. Aplicar parte do potássio a lanço imediatamente antes da implantação da cultura ou no sulco de semeadura, até dose máxima 50 kg ha-1 de K20, e o excedente em cobertura junto com o N. Independentemente da fertilidade do solo, recomenda-se aplicar 30 kg ha-1 de enxofre na semeadura ou na primeira cobertura de N, e em solos deficientes, 2 a 5 kg ha-1 de zinco e 0,5 a 1,0 kg ha-1 de boro, na semeadura. Adubação de cobertura: aplicar o nitrogênio em cobertura de acordo com a meta de produtividade e o histórico de uso da área, utilizando doses maiores para solos de textura arenosa, com preparo convencional, início de sistema plantio direto e grande quantidade de resíduos de gramíneas (alta resposta), e menores doses para solos argilosos, sistema plantio direto consolidado e sucessão com leguminosas com grande quantidade de palha (baixa resposta). Para metas de produção de massa verde (35% de massa seca) igual a 38-44, 44-53, 53-59, 59-65 e >65 t ha-1 e solos de alta (a), média (b) e baixa (c) resposta, aplicar 50-80-110-140-170 (a), 30-50-80-110-150 (b) e zero-30-60-80-100 (c) kg ha-1 de N, respectivamente. Doses iguais ou inferiores a 80 ou 110 kg ha-1 em solos arenosos e argilosos, respectivamente, podem ser aplicadas em uma única vez no estádio de 4/5 folhas, e doses superiores devem ser parcelas em duas vezes, sendo a última até o estádio de 8/9 folhas. O potássio deve ser aplicado junto com a primeira cobertura de N, para complementar dose aplicada na pré-semeadura ou no sulco de semeadura. Boletim, IAC, 200, 2014 277 Milho para Silagem A.T.E. Aguiar et al. Controle de plantas daninhas: a escolha de um herbicida isolado ou de uma formulação contendo dois ou mais herbicidas deverá ser feita com base no levantamento prévio da infestação existente no local da lavoura. O manejo das plantas daninhas começa com a aplicação de herbicidas dessecantes antes da semeadura do milho, destacando-se o glifosato e o paraquat, mas podem ser complementados com outros produtos para ampliar o espectro de espécies controladas. Utilizam-se com maior frequência as aplicações em pós-emergência de atrazina isolada ou em associação com um dos seguintes ingredientes ativos: nicosulfuron, mesotrione e tembotrione. Nos híbridos transgênicos com resistência ao herbicida glifosato é possível controlar quase todas as plantas do milho com uma ou duas aplicações deste ingrediente ativo em pós-emergência, que pode ser complementado com atrazina para o controle da tiguera de soja transgênica Roundup Ready. Controle de pragas: iniciais - tratamento das sementes com inseticidas sistêmicos ou pulverização de inseticida no sulco de semeadura para controle de pragas de solo, tais como lagarta-elasmo (Elasmopalpus lignosellus), lagarta-rosca (Agrotis ipsilon), larva-alfinete ou vaquinha (Diabrotica speciosa), e do percevejo-barriga-verde (Dichelops furcatus), que ataca as plântulas; parte aérea - fazer o levantamento da ocorrência e dos danos de Spodoptera frugiperda (lagarta-do-cartucho), Helicoverpa sp. e outras pragas, para a tomada de decisão sobre o controle e tipo de inseticida; a lagarta do cartucho deve ser controlada especialmente nas cultivares convencionais ou transgênicas não Bt utilizando alto volume e bico tipo leque. Controle de doenças: no Estado de São Paulo, ocorrem com frequencia as seguintes doenças foliares: a ferrugem-comum (Puccinia sorghi), a ferrugem-polissora (Puccinia polysora), a queima-de-turcicum (Exserohilum turcicum), a mancha-de-cercospora (C. zeae-maydis/C. zeina/C. sorghi var maydis), a mancha-branca (Phaeosphaeria maydis). A maioria das doenças de espiga e colmo ocorre nos estádios finais da planta, após a época de corte para silagem. Recomenda-se o uso de cultivares resistentes aos patógenos de ocorrência regional e rotação de culturas. Se necessário, fazer a aplicação de fungicidas apenas nos estádios iniciais (até 8/9 folhas) não sendo recomendada aplicação posterior, para evitar possível contaminação e/ou interferência no processo fermentativo da silagem. Colheita: a colheita para ensilagem deve ocorrer quando o teor de matéria seca da planta toda estiver entre 30% e 35%, o que equivale aos grãos no estádio pastoso (linha de leite entre 1/2 a 2/3 do comprimento do grão), o que ocorre depois de 35 a 47 dias após o florescimento (pendoamento) ou 95 a 112 após a semeadura, dependendo da cultivar e da disponibilidade de calor durante o desenvolvimento da cultura. A planta de milho ensilada com menos de 30% de matéria seca possui muita umidade e apresenta maiores perdas de nutrientes através da liberação de efluente, além de 278 Boletim, IAC, 200, 2014 favorecer a degradação da massa ensilada, por fermentação indesejável por clostrídios. Ao contrário, plantas com teor de matéria seca acima de 38% dificultam a picagem e a compactação, sendo que o excesso de ar retido no interior da massa favorece o desenvolvimento de fungos e leveduras aeróbicas que aquecem a massa, degradam os nutrientes e empobrecem a silagem final, podendo ser rejeitada pelo animal. Milho para Silagem Instruções agrícolas para as principais culturas econômicas Produtividade: as médias de produção de grãos e de massa, da planta contendo 35% de massa seca são as seguintes: 6-8 (44-53), 8-10 (53-59), 10-12 (59-65), 12-14 (> 65) em toneladas por hectare de grãos e massa verde, entre parênteses, respectivamente. Qualidade da silagem: quanto maior a quantidade da fração grão, que é a porção mais digestível da planta, melhor a qualidade da massa ensilada. O ideal é que os grãos representem entre 40% e 45% da massa ensilada, mas na maioria das cultivares os valores são inferiores, pela grande quantidade de folhas e colmos. Os valores médios das frações da planta estão próximos de 20% de folhas, 28% de colmos e 52% de espigas. As cultivares para silagem devem se destacar também quanto a digestibilidade do colmo, que deve ser próxima ou superior a 50%, sendo a fração menos digestível da planta. Quanto à digestibilidade da planta toda, é ideal que esteja acima de 60%. É desejável que o teor de proteína bruta na planta toda esteja entre 6% e 9% da matéria seca, o teor de fibra em detergente ácido (% de FDA) 25%-30% e o teor de fibra em detergente neutro (% de FDN), inferior a 50%. Rotação: algodão, amendoim, soja, cereais de inverno e plantas de cobertura, dentre outras. AILDSON PEREIRA DUARTE EDUARDO SAWAZAKI Instituto Agronômico (IAC), Campinas (SP) SOLIDETE DE F. PAZIANI Polo Regional do Centro Norte, Pindorama (SP) Boletim, IAC, 200, 2014 279