Ana Paula de Faria Pereira

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Pró-Reitoria Acadêmica
Escola de Educação e Humanidades
Curso de Serviço Social
Trabalho de Conclusão de Curso
UMA ANÁLISE DO PROJETO DE INTERVENÇÃO “REDUÇÃO
DE DANOS EM ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS NA ESCOLA
CEF 10 DA CEILÂNDIA NORTE” À LUZ DO PROJETO ÉTICO
POLÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL
Autora: Ana Paula de Faria Pereira
Orientadora: Profª. Dra. Rafaela Cyrino Peralva Dias
Brasília - DF
2015
ANA PAULA DE FARIA PEREIRA
UMA ANÁLISE DO PROJETO DE INTERVENÇÃO “REDUÇÃO DE DANOS EM
ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS NA ESCOLA CEF 10 DA CEILÂNDIA NORTE” À
LUZ DO PROJETO ÉTICO POLÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL
Artigo apresentado ao curso de graduação
em Serviço Social da Universidade
Católica de Brasília, como requisito parcial
para obtenção do Título de Bacharel em
Serviço Social.
Orientadora: Profª Dra. Rafaela Cyrino
Peralva Dias
Brasília
2015
Artigo de autoria de Ana Paula de Faria Pereira, intitulado: “UMA ANÁLISE DO
PROJETO DE INTERVENÇÃO REDUÇÃO DE DANOS EM ÁLCOOL E OUTRAS
DROGAS NA ESCOLA CEF 10 DA CEILÂNDIA NORTE À LUZ DO PROJETO
ÉTICO POLÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL”, apresentado como requisito parcial para
obtenção do grau de Bacharel em Serviço Social da Universidade Católica de Brasília,
em 11 de junho de 2015, defendido e aprovado pela banca examinadora abaixo
assinada:
_________________________________________________
Profª. Dra. Rafaela Cyrino Peralva Dias
Orientadora
Curso de Serviço Social – UCB
_________________________________________________
Profª. MSc. Erci Ribeiro
Curso de Serviço Social – UCB
_________________________________________________
Profª. MSc. Karina Aparecida Figueiredo
Curso de Serviço Social – UCB
Brasília
2015
Dedico este trabalho a meu esposo Célio
Roberto Leitão pelo apoio e incentivo
contínuo que me fizeram acreditar na
possibilidade de concretizá-lo, a meus
irmãos Gabriela de Faria e Agnaldo de
Faria e a meus pais Vanda de Faria e
Geraldo de Faria, que mesmo de longe me
apoiaram e sempre acreditaram em mim.
AGRADECIMENTO
A Deus em primeiro lugar, pelo dom da vida, pelo seu amor infinito, sem Ele
nada sou, por ter me dado saúde, sabedoria e força para superar as dificuldades.
A minha orientadora Dra. Rafaela Cyrino, pelo suporte no pouco tempo que lhe
coube, pelas suas correções e incentivo.
A todos os professores que tive ao longo da graduação, pelo conhecimento e
dedicação.
A Ellen e a Vanusa, da direção do curso de Serviço Social da Universidade
Católica de Brasília, pelo carinho, compreensão e dedicação que tiveram ao me
receber na direção todas as vezes que precisei, sempre com sorriso no rosto.
A minha supervisora de estágio Socorro Pinheiro, que durante um ano teve
paciência em me ensinar a prática do Assistente Social na UBS 4402 da Ceilândia
Norte, com dedicação e sabedoria, obrigada!
Ao meu marido Célio Roberto Leitão, que passou tantas madrugadas acordado
me incentivando a ir em frente, pela compreensão nas horas de surto por causa dos
trabalhos e provas, pelo carinho e amor a mim demonstrado nestes momentos, a você
o meu obrigada!
Aos meus pais Vanda de Faria e Geraldo J. de Faria, aos meus irmãos Gabriela
de Faria e Agnaldo de Faria, pelo incentivo e apoio incondicional.
A minha amiga e prima Laisla Maia, pelo incentivo, apoio e estímulo para
enfrentar as barreiras da vida.
Ao meu amigo Carlos Henrique, que tantas vezes, durante a graduação, me
tirou do sufoco nas horas mais difíceis consertando meu computador.
A minha amiga Poliana Nunes, que se disponibilizou a ajudar nas correções
deste trabalho, a você o meu obrigada!
As minhas amigas Regina e Antônia, que não me deixaram desistir nos
momentos mais difíceis, pela atenção, pelos conselhos infalíveis e principalmente por
comigo importardes.
A minhas amigas de classe Jane Alves, Patrícia Leal e Helem Mara, que eu
aprendi amar, em vocês encontrei verdadeiras irmãs. Obrigada pelo carinho, pela
paciência, pelo sorriso, pela mão que sempre se estendia quando eu precisava. Sem
vocês essa caminhada não seria a mesma.
A todos aqueles que de forma direta ou indiretamente estiveram próximos de
mim, fazendo a minha vida valer a pena, a todos o meu obrigada!
Pra não dizer que não falei das flores
“Caminhando e cantando e seguindo a canção.
Somos todos iguais braços dados ou não.
Nas escolas nas ruas, campos, construções,
Caminhando e cantado e seguindo a canção.
Então, vem vamos embora que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora e não espera acontecer.
Então, vem vamos embora que esperar não é saber.
Quem sabe faz a hora e não espera acontecer
Pelos campos a fome em grandes plantações,
Pelas ruas marchando indecisos cordões.
Ainda fazem da flor seu mais forte refrão,
E acreditam nas flores vencendo o canhão.
Há soldados armados, amados ou não,
Quase todos perdidos de armas na mão.
Nos quartéis lhes ensinam uma antiga lição:
De morrer pela pátria e viver sem razão.
Nas escolas, nas ruas, campos, construções,
Somos todos soldados, armados ou não.
Caminhando e cantando e seguindo a canção,
Somos todos iguais, braços dados ou não.
Os amores na mente, as flores no chão.
A certeza na frente, a história na mão.
Caminhando e cantando e seguindo a canção.
Aprendendo e ensinando uma nova lição.
Então, vem vamos embora que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora e não espera acontecer.
Então, vem vamos embora que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora e não espera acontecer”.
(Geraldo Vandré)
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UMA ANÁLISE DO PROJETO DE INTERVENÇÃO “REDUÇÃO DE DANOS EM
ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS NA ESCOLA CEF 10 DA CEILÂNDIA NORTE” À
LUZ DO PROJETO ÉTICO POLÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL
ANA PAULA DE FARIA PEREIRA
Resumo:
Tendo como referência o atual modelo de reorganização do sistema de saúde pública
do Brasil, este trabalho objetivou fazer uma análise do PROJETO DE
INTERVENÇÃO1 intitulado “Redução de danos2 em álcool e outras drogas na escola
CEF 10 da Ceilândia Norte” à luz do Projeto Ético Político do Serviço Social. Vai trazer
também a importância do trabalho do Serviço Social na Unidade Básica de Saúde
(UBS) 4402 da Ceilândia Norte - IX Região Administrativa do Distrito Federal, um
trabalho voltado ao combate à desigualdade social, à luz do projeto ético político da
profissão. Por meio de uma pesquisa bibliográfica, utilizou-se da contribuição dos
autores Maria Lúcia Barroco, José Paulo Netto, Miriam Abramovay para
embasamento deste trabalho. Como resultados e discussões foram constatados o uso
e abuso de substâncias psicoativas como expressão da questão social, agravada pela
ausência de políticas públicas e sociais; a prática do assistente social que contemple
os microprocessos da questão social ao mesmo tempo que perceba os
macroprocessos do seu cotidiano profissional e que foi através do fortalecimento da
intersetorialidade entre as políticas sociais que se pode dar alternativas à problemática
das drogas.
Palavras-chave: Desigualdade Social. Drogas. Serviço Social.
1. INTRODUÇÃO
Este artigo tem o objetivo de fazer uma análise crítica do PROJETO DE
INTERVENÇÃO à luz do Projeto Ético Político do Serviço Social, bem como repensar
a experiência vivida através da sua implementação na escola CEF 10 da Ceilândia
Norte. Esse projeto foi advindo do estágio supervisionado I e II realizado no ano de
2014 na Unidade Básica de Saúde (UBS) 4402 da Ceilândia Norte, que buscou
contribuir para que assistentes sociais assumam uma posição crítica e ética frente à
questão das drogas.
O objetivo geral deste artigo é compreender os pressupostos da questão social
que envolvem os protagonistas do PROJETO DE INTERVENÇÃO e, a partir deste,
fazer uma análise à luz do Projeto Ético Político, relacionando com os princípios e
diretrizes do Código de Ética do Assistente Social.
O PROJETO DE INVENÇÃO, intitulado “Redução de danos em álcool e outras drogas na escola CEF
10 da Ceilândia Norte”, foi construído pelas estagiárias de Serviço Social Ana Paula de Faria e Raísa
Garcia, com o objetivo de trabalhar a questão das drogas dentro da escola CEF 10 da Ceilândia Norte,
numa proposta de redução de danos e não com intuito de caráter proibicionista.
2Redução de danos - Portaria nº 1.028 do Ministério da Saúde, Art. 6º - Definir que as estratégias de
redução de danos incluam a disponibilização de insumos de prevenção ao HIV/Aids e as estratégias
da saúde pública dirigidas à proteção da vida e ao tratamento dos dependentes de produtos,
substâncias e drogas que causem dependência.
1
9
A metodologia adotada para aprofundamento sobre o tema foi a pesquisa
qualitativa bibliográfica documental, que contempla a história como um campo de
possibilidades abertas. A partir da pesquisa qualitativa bibliográfica documenal
(relários de estágio), a respeito da história da questão das drogas e da questão social,
buscou possíveis alternativas sob a perspectiva ética para lidar com o conteúdo que
objetivou construir argumentação dentro do Projeto Ético Político da profissão.
Num primeiro momento, a ética da profissão é elucidada a partir do livro “Ética
e Serviço Social”, de Barroco (2010), pelo qual foi possível situar as bases ontológicas
para compreensão do significado da ética da formação social, com intuito de diferir a
ética tradicional da ética crítica. Dando continuidade a um aprofundamento teórico, foi
elucidado sobre o processo histórico do uso de drogas pelo ser humano em suas
diferentes utilidades. Chegando à época contemporânea, é discutido sobre o uso de
drogas no contexto escolar, bem como sua importância no contexto do capitalismo
monopolista.
Finalmente, abordamos com detalhes a implementação do PROJETO DE
INTERVENÇÃO realizado na escola CEF 10 da Ceilândia Norte. Feito isto, foi
realizada uma discussão sobre o problema das drogas na escola e como as políticas
públicas sociais aparecem nessa questão.
Em guisa de conclusão, foi feita uma análise crítica a respeito do PROJETO DE
INTERVENÇÃO, a fim de reconhecer que o problema de drogas, seja na escola ou
fora dela, não é um problema individual e sim, coletivo.
Neste contexto, o artigo está estruturado em três tópicos e um subtópico, onde o
Serviço Social acredita que há possibilidade de arquitetar uma sociedade justa e plural
em que o ser social pode desenvolver suas faculdades e potencialidades, por
conseguinte, refuta toda forma de autoritarismo, discriminação, opressão ou qualquer
outra ação que recusa a liberdade. Estes questionamentos foram realizados à luz do
Projeto Ético Político do Serviço Social.
2. ASPECTOS GERAIS DA QUESTÃO SOCIAL E A ÉTICA DO SERVIÇO SOCIAL
O Serviço Social, desde a década de 1960, quando flerta com uma crítica
macroscópica à categoria, ainda que, logo reprimida pelas próprias características do
regime autocrático burguês, inicia sua intenção de rever as bases nas quais a
profissão estava instituída.
Nesse mesmo contexto, a partir da ontologia de Netto (2010), o Serviço Social,
sem uma autorreflexão da sociedade e da sua prática, desvia sua atenção aos
procedimentos funcionalistas de intervenção, objeto profissional e metodologias
“aplicáveis”, considerados, pela vertente crítica, uma maneira de legitimar a profissão
diante do tecnicismo-burocrático exigido pelo contexto ditatorial.
Com o abrandamento e a evidente crise da ditadura militar que já se tornava
insustentável politicamente, juntamente com a efervescência dos movimentos da
sociedade civil pela redemocratização no país, no final dos anos 70, o Serviço Social
encontra um terreno fértil para resgatar a crítica iniciada no começo da década
passada. Em 1979, no Congresso da Virada, novas possibilidades foram colocadas
em pauta.
Corroborando com Netto (2010), a categoria começava a questionar as
contradições endógenas e exógenas existentes, e a se filiar à tradição marxista. O
resultado foi o estabelecimento de novos parâmetros teóricos e metodológicos para a
10
atuação do assistente social, marcado por uma profunda crítica à sociedade de
classes e seus efeitos para a compreensão da questão social.
Toda essa mudança de perspectiva do Serviço Social foi expressa no Código
de Ética de 1986, que trouxe significativos avanços comparados com os antigos,
começando pela filiação à teoria marxista e a substituição das lentes nas quais eram
vistas a realidade, não mais como harmônica, segundo ideários neotomistas, mas
como contraditória e dinâmica.
Entre os principais avanços, merece destaque: a defesa do compromisso com
a classe trabalhadora, negando a pretensa neutralidade, tão presente no código de
65; A ampliação da atividade profissional, introduzindo a necessidade da pesquisa e
que a atuação não se limite apenas em executar as políticas sociais, mas também de
formulá-las e geri-las, demandando nova qualificação aos assistentes sociais
(NETTO, 2006).
O desafio posto para o Serviço Social na contemporaneidade após os
significativos avanços no seu procedimento de legitimação é graduar a atuação do
cotidiano com suas perspectivas macroscópicas. Conhecer os instrumentos
operativos da profissão é tão importante quanto cobiçar os horizontes defendidos pela
categoria por uma sociedade baseada na justiça social e na democracia participativa.
Fazendo uma reflexão acerca do Projeto Ético Político do Serviço Social, é
importante diferir os projetos societários dos projetos profissionais. Seguindo a
ontologia de Netto (2010), os projetos societários são projetos macroscópicos,
dinâmicos e têm como objetivo apresentar uma determinada forma de constituição da
sociedade, anunciando os seus valores, as suas bases constituintes e os meios de
efetivar a sua consolidação. Em nossa sociedade, os projetos societários também são
projetos de classe, com propostas distintas para a consolidação de suas bases.
Já os projetos profissionais são projetos coletivos que atingem uma escala de
menor abrangência populacional e demandam a projeção de determinada profissão
na sociedade. Os projetos profissionais estão intrinsecamente relacionados com os
projetos societários (NETTO, 2006).
Dessa forma, os projetos profissionais podem estar sintonizados com o projeto
societário hegemônico na sociedade ou não. Podendo condizer com outro projeto
societário que, por razões de natureza histórica, política, econômica e social, não
apresenta condições favoráveis para se estabelecer na atualidade, porém, pressiona
o projeto hegemônico em vigor (NETTO, 2006). Os projetos profissionais, ao
expressarem seus princípios, valores, objetivos, normas e finalidades, imprimem,
também, a projeção de uma dada sociabilidade, afinada com o projeto societário com
o qual está relacionado.
Reconhecimento da liberdade como valor ético central e das demandas
políticas a ela inerentes – autonomia, emancipação e plena expansão dos
indivíduos sociais;
Defesa intransigente dos direitos humanos e recusa do arbítrio e do
autoritarismo;
Defesa do aprofundamento da democracia, enquanto socialização da
participação política e da riqueza socialmente produzida;
Exercício do Serviço Social sem ser discriminado, nem discriminar, por
questões de inserção de classe social, gênero, etnia, religião, nacionalidade,
opção sexual, idade e condição física (ALVARES, 2012, p. 23).
Estamos diante da representação social da imagem coletiva do Serviço Social,
ligada a um profissional que se posiciona a favor dos direitos humanos, da justiça, da
11
gratuidade e universalidade de acesso a programas e políticas sociais, da democracia,
da cidadania e da defesa dos direitos sociais, políticos e civis.
O Projeto Ético Político Profissional do Serviço Social teve suas bases no
período pós-reconceituação da profissão, sobretudo no início da década de 1980
(NETTO, 2001). Mas o debate tornou-se mais relevante na década de 1990, com a
materialização de três documentos:



A Lei de Regulamentação da Profissão (Lei 8662/93).
Código de Ética do Assistente Social de 1993.
Proposta de diretrizes curriculares para o curso de Serviço Social da
Associação Brasileira de Ensino e Serviço Social (ABESS) de 1996.
Esses três documentos trouxeram elementos constitutivos, que pautaram a
construção do projeto ético político; princípios éticos políticos, histórico da postura
política assumida pela profissão, postura crítica perante o projeto societário vigente e
a matriz teórica metodológica. Neste sentido, o projeto ético político é circunscrito na
responsabilidade e valores elevados, como justiça, equidade, democracia, liberdade
e solidariedade.
O reconhecimento da liberdade como valor ético central e das demandas como
autonomia, emancipação e plena expansão dos indivíduos sociais, torna-se
construção coletiva, que se deposita no ideal da igualdade, que não se prioriza uma
liberdade individual, em detrimento da emancipação, da autonomia e da plena
expansão dos indivíduos sociais (BARROCO, 2003).
A defesa imperiosa dos direitos humanos e a recusa do arbítrio e do
autoritarismo retrata o posicionamento da categoria durante a sua trajetória histórica,
contra todas as formas de violência, contra o abuso de poder, o autoritarismo, a
opressão, e a sua postura na defesa dos direitos humanos.
De acordo com Netto (2010), a ultrapassagem da ótica minimalista, de prover
somente a satisfação das necessidades básicas dos indivíduos sociais, para uma
visão que promova a autonomia desse sujeito. A ampliação e consolidação da
cidadania, considerada tarefa primordial de toda a sociedade, com vistas à garantia
dos direitos civis, políticos e sociais das classes trabalhadoras.
A atuação profissional é no sentido de ampliar o acesso dos usuários aos seus
direitos, de posicionar-se contra o sucateamento e precarização das políticas sociais.
De questionar e pressionar no sentido de realizar a crítica acerca das bases em que
se fundamentam os direitos e ainda pressionam os limites e as barreiras impostas
pela ótica liberal, tendo como objetivo a universalização dos direitos políticos, civis e
sociais (NETTO, 2006).
O posicionamento é em favor da equidade e justiça social, de modo a assegurar
a universalidade de acesso aos bens e serviços relativos aos programas e políticas
sociais, bem como sua gestão democrática em que a justiça social aplica-se a máxima
de atribuir a cada indivíduo o que lhe pertence. A justiça pressupõe a dignidade do ser
humano e o respeito à igualdade de direitos dos indivíduos entre si, colocando-se, o
profissional, a favor da democratização e da universalidade do acesso da população
aos programas e políticas sociais, incentivando a participação dos usuários em
instâncias de decisões institucionais e espaços destinados ao debate e reflexão.
O profissional de Serviço Social deve ser comprometido na eliminação de todas
as formas de preconceito, no respeito à diversidade, à participação de grupos
socialmente discriminados e à discussão das diferenças como garantia do pluralismo,
através do respeito às correntes profissionais democráticas existentes e suas
12
expressões teóricas, e também do empenho com o constante aprimoramento de suas
faculdades. Com a opção por um projeto profissional ligado ao processo de
construção de uma nova ordem societária, sem dominação - exploração de classe,
etnia e gênero (BARROCO, 2004).
Desta forma, o profissional de Serviço Social deve exercer a profissão, sem
discriminação, nem discriminar questões inerentes à classe social, ao gênero, à etnia,
à religião, à nacionalidade, à opção sexual, à idade e à condição física, tendo
compromisso com a qualidade dos serviços prestados à população e com o
aprimoramento intelectual numa perspectiva de competência profissional, com
articulação dos movimentos sociais de outras categorias profissionais que partilhem
da gênese desse Código e com a luta geral dos trabalhadores.
Nesse contexto sobre trabalhadores, Barroco (2010) retoma a concepção de
trabalho a partir de Marx como fundamento ontológico social do ser social, ou seja, o
ponto de partida da humanização do homem e da purificação de seus entendimentos,
como pressuposto da própria existência humana e forma de privilégio da práxis3. Esta
só consegue se realizar em suas influências emancipatórias por meio das aptidões
humano da universalidade, sociabilidade, a consciência e a liberdade, mediações
inscritas no desenvolvimento histórico do ser social e que foram conquistadas por ele
no processo sócio-histórico.
O trabalho, por conseguir colocar em movimento essas mediações, é a
capacidade que distingue o ser humano dos outros seres da natureza, pois, para
intervir na realidade, o homem precisa de certo conhecimento, daí o princípio da
consciência, da sabedoria que permite ao homem autoinstruir-se esclarecendo sua
vontade racional liberadora da determinação.
Por isso, o trabalho é uma atividade teleológica, donde o papel ativo da
consciência no processo de autoconstrução humana: o produto objetivo da
práxis personifica suas intenções e seus projetos. Esse é o núcleo gerador
da liberdade e da ética (BARROCO, 2010, p. 28).
A ética é vista como o exercício da liberdade, como a atividade que permite a
ampliação da relação do indivíduo com os diferentes espaços da totalidade, uma vez
que permite a ação consciente movida por escolhas de valor, este, enquanto produto
da práxis, do transformar e ser transformado, por isso ele sempre corresponde às
necessidades e às possibilidades sócio-históricas dos homens.
Assim, a ética é distinguida por Barroco como a
capacidade humana posta pela atividade vital do ser social [trabalho]; a
capacidade de agir conscientemente com bases em escolhas de valor, projetar
finalidades de valor e objetivá-las concretamente na vida social, isto é, ser livre
(Ibid., p.16).
Já para Marx (1980), aludido por Barroco (2010), a ética inovadora é aquela
que sempre é capaz de fazer uma crítica à moral do seu tempo e que tem a
possibilidade de progredir como ideal de outra sociedade, por isso ela tem como objeto
uma reflexão da própria moral. As escolhas de valor são voltadas diretamente para
3
O conceito de práxis é muito complexo, onde seria impossível trata-lo neste trabalho. Adota-se o
conceito de Vazquez para efeito de reflexão, conforme denota Barroco: “Ação do homem sobre a
matéria e criação – através dela - de nova realidade humanizada” (VAZQUEZ, 1977, p.245 apud ibid.,
p. 26).
13
moral, ontologicamente assimiladas como uma relação entre o indivíduo sozinho e as
exigências-sociais.
A moral tem a sua gênese pautada na capacidade ética de criar normas que
orientam as práticas vistas como adequadas para responder às necessidades e
interesses sócio-históricos do ser social, criando uma moralidade como condição para
pertencer ao grupo. Ela faz parte do processo de socialização dos indivíduos por meio
da repetição de hábitos e costumes da vida cotidiana, reproduzindo os valores
adotados pelos grupos.
Nos anos 60, classificados como “anos rebeldes”, se deu o aperfeiçoamento da
desigualdade social, que ficou conhecida como acumulação capitalista uniforme
diante do desenvolvimentismo, que já vinha tratando desde o início do século, onde o
mundo viveu um crescimento de lutas sociais mundiais prioritárias contra os valores
tradicionais, principalmente as lutas na América Latina contra o imperialismo e seus
golpes militares.
Esse quadro ético-moral que se apresenta tem refutamento no tange a
profissão, a qual não consegue dar respostas adequadas às questões colocadas
pelas necessidades dos trabalhadores. O Serviço Social, diante disso, começa a
questionar a ética tradicional, que se aproxima da tradição marxista e inicia o seu
movimento de reconceituaçao 4 , composto por correntes progressistas e
conservadoras.
Desde os anos sessenta, no Brasil, tem início um processo de erosão das
bases de legitimação do ethos do Serviço Social, propiciando uma renovação
e um pluralismo capazes de evidenciar a dimensão político-ideológica da
prática profissional, abrindo a possibilidade de emergência de uma vertente
crítica. (BARROCO, 2010, p. 141).
Netto (2009) chama de “intenção de ruptura” o andamento de redemocratização
do país que, num primeiro momento, vinha aglomerando experiências e conhecimento
através de atividades políticas e cívicas nos anos absolutistas da burguesia, bem
como erguendo a nova moralidade, articulando em torno da conquista da teoria
marxista embasada na formação e prática, e de uma nova ética centrada em princípios
democráticos. As intenções impressas no novo Currículo de Serviço Social, de 1982,
e nos Códigos de 1986 e 1993, período que ocorreu a maturidade teórica em relação
à teoria social de Marx e na redefinição da inserção do Serviço Social na divisão social
e técnica do trabalho, tendo em vista os compromissos éticos e políticos que se
legitimam nesse contexto. (IAMAMOTO & CARVALHO, 1982).
Cabe ressaltar que o debate sobre a ética já estava colocado para a sociedade
brasileira junto com o movimento “Ética na Política”, que atingiu o impeachment do
presidente Fernando Collor de Mello em 1992, diante do sucateamento do Estado, da
precarização das políticas sociais, do subemprego e desemprego, da precarização
dos contratos de trabalho fruto do projeto neoliberal imposto pelo Banco Mundial e
pelo FMI e seus rebatimentos para a classe trabalhadora (BARROCO, 2010).
A história da ética contada a partir da profissão é permeada pela negação e
afirmação da liberdade. A gênese do Serviço Social é pautada pelos anseios do
projeto conservador burguês que tem objetivo de implantar suas políticas econômicas
outorgando todos os aspectos da vida social, negando a liberdade e promovendo o
autoritarismo onde o Serviço Social foi oriundo, na função de moralizador, para
revalidar os valores hegemônicos conduzidos na formação social inicial dos
4
Ver Netto (2009), movimento de reconceituação.
14
indivíduos. Diante da aproximação com as classes subalternas e as lutas e com as
vertentes das ciências sociais, passou a negar a ordem que está em vigor, aceitando
a defesa da liberdade e da ética para o exercício da democracia e edificação de uma
sociedade sem qualquer tipo de opressão, inclusive ética, onde os seres humanos
possam ter condições de desenvolver suas faculdades e que a liberdade almejada
seja alcançada.
3. A QUESTÃO DAS DROGAS COMO MANIFESTAÇÃO DA QUESTÃO SOCIAL
A criminalização da questão social é uma problemática tão complexa que atinge
um enfoque diferente e contraditório no que tange os aspectos políticos, econômicos
e culturais. E ainda, de acordo com a contemporaneidade expressada de novas e
diferentes formas ainda suspeita que a vítima é culpada (Ianni, 1992).
Nesse contexto, o consumo de drogas entre estudantes do ensino fundamental
e médio de escolas públicas e privadas tem aumentado de maneira considerável.
Segundo afirma o Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas (CEBRID), por meio
de pesquisa realizada em 2010 com 50.890 estudantes, 42,4% haviam consumido
álcool pelo menos uma vez; 9,6% fizeram uso de tabaco e 15,4% já haviam usado
outras drogas. Esses dados preocupam profissionais das áreas de saúde e
assistência social, pelo fato de que quanto mais cedo esses jovens iniciarem o
consumo de álcool e/ou outras drogas, maiores serão as chances de se tornarem um
dependente.
Para situar melhor acerca do intenso debate sobre a questão das drogas na
sociedade contemporânea, iremos resgatar três visões que geralmente acompanham
esta discussão: a médica, a jurídica e a social. Do ponto de vista médico, a
Organização Mundial da Saúde (2010) define droga como qualquer substância que
nosso organismo não consegue produzir e têm capacidade de atuar sobre um ou mais
de seus sistemas provocando alterações funcionais.
Algumas drogas são consideradas como medicamentos usados em
tratamentos de doenças, mas também existem substâncias maléficas à saúde, que
são venenos e podem levar ao intoxicamento quando usadas em grande quantidade
ou de maneira errônea (OMS, 2010). É importante ressaltar que essas substâncias
usadas em determinadas situações podem funcionar para o tratamento, como podem
também serem maléficas, levando ao óbito, dependendo das circunstâncias em que
foram usadas.
Ainda do ponto de vista médico, as drogas podem ser classificadas, de acordo
com a SENAD (2013), como depressoras, estimulantes e perturbadoras da atividade
mental ou do comportamento da pessoa. No caso das drogas depressoras como, por
15
exemplo, álcool, barbitúricos5, benzodiazepínicos6, solventes e inalantes 7, grandes
variedades de substâncias ingeridas podem causar diminuição de alguns sistemas
específicos do Sistema Nervoso Central, levando à redução da atividade motora, da
ansiedade e podendo ser também reativo à dor em todo o organismo.
Conforme afirma a SENAD (2013), as drogas como a cocaína e as anfetaminas
são estimulantes da atividade mental e são aquelas capazes de aumentar o
funcionamento de alguns sistemas do Sistema Nervoso Central, deixando a pessoa
em estado de alerta exagerado e causa também insônia. Já as drogas maconha, LSD
e o ecstasy são perturbadoras da atividade mental, estas provocam alterações no
funcionamento do cérebro, que resultam em delírios e alucinações. Por isso, são
chamadas também de alucinógenas.
Pela ótica jurídica, as drogas podem ser classificadas como lícitas ou ilícitas do
ponto de vista legal, sendo que esta definição não é consensual entre os países. As
drogas lícitas são aquelas que são comercializadas legalmente, com ressalva de ter
ou não alguma proibição, como é o caso do álcool, em que a venda é proibida para
menores de 18 (dezoito) anos, e também alguns medicamentos que só podem ser
vendidos com prescrição médica especial. E no caso do Brasil, as drogas ilícitas são
aquelas proibidas por lei como, por exemplo, maconha, cocaína, crack, etc.
Além das referências sobre drogas que vimos anteriormente supracitadas,
temos outro ponto de vista que é o social. Elencado na Constituição Federal de 1988,
tem como objetivo implementar as necessidades presentes na sociedade brasileira,
no contexto da responsabilidade política, com a intenção de estabelecer parâmetros
para efetivar a assistência social como direito do cidadão e o Estado é o responsável.
Dentro desse contexto, ressalta-se a importância de ter um profissional de
Serviço Social que trabalha com as relações sociais advindas das contradições da
expressão da questão social, que têm se mostrado cada vez mais complexas, em
virtude de uma lógica perversa que se materializa, produzindo e reproduzindo a
desigualdade social.
Conforme Iamamoto (2000), o Serviço Social é regido pelo Código de Ética de
93, que expressa no exercício da profissão a qualidade, na perspectiva da defesa dos
usuários, dos profissionais, dos espaços de trabalho, em consequência dos direitos.
Dessa forma, evidencia a importância da assistência social para discutirmos a questão
das drogas como manifestação da questão social.
5
Barbitúricos - segundo a Secretaria Nacional Antidrogas (2008), são um grupo de substâncias
sintetizadas artificialmente desde o começo do século XX, que possuem diversas propriedades em
comum com o álcool e com outros tranquilizantes. Seu uso inicial foi dirigido ao tratamento da insônia,
porém a dose para causar os efeitos terapêuticos desejáveis não é muito distante da dose tóxica ou
letal.
6 Benzodiazepínicos - de acordo com a Secretaria Nacional Antidrogas ( 2008), esse grupo de
substâncias possui similaridades importantes com os barbitúricos em termos de ações famacológicas,
com a vantagem de oferecer maior margem de segurança. O uso dessa substância traz consequências
como diminuição do sono, indução do sono, relaxamento muscular e redução do estado de alerta.
Dificultam ainda os processos de aprendizagem e memória, alteram também funções motoras,
prejudicando atividades como dirigir automóveis e outras que exijam reflexos rápidos. Exemplos de
benzodiazepínicos: diazepam, lorazepam, bromazepam, midazolam, flunitrazepam, clonazepam e
lexotan.
7 Solventes e Inalantes – conforme a Secretaria Nacional Antidrogas (2008), esse grupo de substâncias
depressoras hoje não possui utilização clínica alguma. Os efeitos têm início bastante rápido após a
inalação, de segundos a minuto, e também tem curta duração, o que predispõe o usuário a inalações
repetidas, com consequências, às vezes, desastrosas. O uso crônico de tais substâncias pode levar à
destruição de neurônios, causando danos irreversíveis ao cérebro, assim como lesões no fígado, rins,
nervos periféricos e medula óssea. Exemplos de solventes e inalantes: cola de sapateiro, lança
perfume, etc.
16
A garantia de benefícios e serviços assegurados pelo Modelo de Seguridade
Social e a Previdência Social, Saúde e Assistência Social passaram a ser concebidos
como direitos de cidadania e dever do Estado por aprovação da Constituição Federal
de 1988, como descritos pelo artigo abaixo.
Art.194 “A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de
iniciativa dos poderes públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os
direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social”.
(CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 1988).
Portanto, para a erradicação da pobreza, é necessário fortalecer a
intersetorialidade das políticas públicas sociais e aprimorar mecanismos de
articulação, avaliação e monitoramento das instâncias de controle e participação
social.
Diante dessa conjuntura, Abramovay (2005) afirma que drogas e violência são
temas que estão em eminência, mas paradoxalmente nunca o silêncio a respeito
desse problema complexo se fez tão presente, sobretudo no que tange a relação
existente com os processos sociais, tais como, educacionais e desigualdades culturais
que os permeiam.
Com as devidas ressalvas sobre a complexidade desse fenômeno e a
insuficiência de qualquer explicação reducionista, esse fato possui estreito laço com
a necessidade do adolescente de estar inserido na sociedade por meio do consumo.
Em um contexto onde as possibilidades são escassas, há que se considerar que o
tráfico de drogas se torna um canal de ascensão social.
Por outro lado, Abramovay (2005) vai elucidar uma reflexão acerca da culpa
pela educação dos adolescentes. Os docentes dizem que os pais têm falhado no que
tange em fazer o papel ético existencial dos filhos. Quanto a temas relacionados ao
comportamento dos jovens, os diretores também afirmam que há falta de diálogo no
seio familiar e que essa omissão da família, advinda em decorrência do trabalho, faz
com que os pais passem menos tempo com seus filhos.
A omissão da família também é vista como problemática pelo corpo técnicopedagógico das escolas. O fato de os pais passarem cada vez menos tempo
com seus filhos, em função da concorrência do mercado de trabalho e das
necessidades de sobrevivência. (ABRAMOVAY, 2005, p. 18).
Dessa forma, a sociedade com a ideologia de família nuclear8 passa a julgar os
pais por todos os acontecimentos na vida de seus filhos, sem ao menos fazer uma
reflexão de que o Estado também faz parte dessa discussão. Na pesquisa de
Abramovay (2005), para muitos professores, a falta de limites na vida dos
adolescentes é um problema que dissipa a todo vapor o modo de agressão na fala,
expresso pelos alunos quando são questionados por algum motivo.
Nota-se que a relação entre essas duas instituições está estreitamente
abalada, é uma relação complexa e ambígua, devido os pais esperarem que a escola
eduque seus filhos e a escola esperar que os pais cuidem e preparem seus filhos.
Em síntese, existe uma relação complexa, repleta de desacertos e ambígua
entre família e escola, um jogo de acusações, que tem consequências no
cotidiano e nas representações de todos os atores, como mostram discursos
de alguns membros do corpo técnico-pedagógico. A família espera que a
8
Família Nuclear - Composta de pai, mãe e filhos, ou apenas os genitores.
17
escola eduque seus filhos e a escola, de sua parte, espera que as famílias
cuidem de seus alunos (ABRAMOVAY, 2005, p. 19).
Pode-se afirmar que este conflito está longe de findar, pois a escola culpabiliza
os pais e os pais, por sua vez, transferem suas responsabilidades à escola. Enquanto,
a eminência de muitas amizades é influência para que esses jovens tenham coragem
de fazer uso de álcool e tabaco dentro da escola. Quando estão sozinhos esses jovens
se sentem desprotegidos e quando se juntam com os amigos, o medo desaparece,
fortalecendo o ego e encorajando-os a fazer uso dessas drogas.
Abramovay (2005, p. 34) diz que o álcool é a porta de entrada para o restante
de outras drogas: “Em alguns estudos, o álcool não somente é considerado como uma
droga, mas, também, é destacado como porta de entrada para as outras drogas”.
Ainda assim, o álcool não é percebido como droga pelos pais e alunos, talvez seja,
pela facilidade de acesso e por isso, torna-se de fácil consumo.
Geralmente as drogas são vendidas aos arredores da escola e, por todas as
mediações, é perceptível a presença de drogas seja pelo cheiro e/ou pela presença
dos vendedores. As drogas são um problema social que não deve ser tratado de forma
individualizada, elucida Abramovay (2005, p. 91): “É importante ter em mente que a
questão das drogas é um problema social e, por isso, não deve ser tratada de forma
individualizada, particular”. Ao contrário desse cenário obscuro que apresenta o
mundo das drogas, é importante ter uma visão mais ampla sobre os elementos que o
constituem.
Estudos mostram que “droga pode ser que se expande principalmente em
bairros mais pobres, com indivíduos mais vulneráveis” (ibid, p. 91). Fazemos aqui uma
reflexão acerca dos fatores estruturais no que tange o tratamento da questão das
drogas, tais como, pobreza, desemprego, racismo, desigualdade de riquezas, etc.
Esses fatores influenciam o estado de vulnerabilidade desses adolescentes.
Nessa conjuntura é imprescindível compreender a crise social, uma vez que
existe um agrupamento de situações variadas que envolvem problemas mais
consistentes, que estão afinados com o uso dessas substâncias (COSTA &
GONÇALVES, 1998). Um passo importante foi dar ênfase ao avanço sociocultural que
impulsionou os motivos que levam ao uso de drogas, como também a agudez dos
efeitos causados pelo consumo, com objetivo de contribuir com discussão dessa
problemática.
Para findar essa discussão, é importante ressaltar que o profissional de Serviço
Social é capacitado para lidar com situações de vulnerabilidade social, bem como a
problemática das drogas que permeiam esse contexto, pelo fato da sua formação
acadêmica ser embasada numa teoria social crítica. Como afirma Yolanda Guerra,
Compreender o significado social da profissão na sociedade capitalista,
clarificar seus objetivos sociais, escolher crítica e adequadamente os meios
éticos orientados por um Projeto Crítico implica que os assistentes sociais
estão aptos, em termos de possibilidade, a realizar uma intervenção
profissional de qualidade, competência e comprometido com valores
humanos. (GUERRA, 2007, p.15).
Dessa forma, o profissional de Serviço Social tem a compreensão de que a sua
prática profissional pode influenciar no modo de pensar e agir dos homens, no intuito
de se tornarem cidadãos críticos, conhecedores de sua posição na sociedade, sujeitos
instigados a buscar seus direitos.
18
4. ANÁLISE CRÍTICA ACERCA DO PROJETO DE INTERVENÇÃO À LUZ DO
PROJETO ÉTICO POLÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL
O estágio obrigatório em Serviço Social foi realizado durante um ano, o qual
compreendeu os dois semestres do ano de 2014. A instituição onde foram
desenvolvidas as atividades do estágio obrigatório foi a Unidade Básica de Saúde
(UBS) 4402, de Ceilândia Norte. Durante esse período foi elaborado e desenvolvido o
PROJETO DE INTERVENÇÃO, o qual surgiu através do acompanhamento das
equipes de Estratégia de Saúde da Família (ESF) até a escola CEF 10 da Ceilândia
Norte. De acordo com o Ministério da Saúde (2003), esse modelo de atenção à saúde
é definido como:
O Programa Saúde da Família (PSF) foi criado pelo Ministério da Saúde em
1994. No entanto, é a partir de 1998 que o programa se consolida como
estratégia estruturante de um modelo de atenção à saúde que priorize ações
pautadas nos princípios da territorialização, da intersetorialidade, da
descentralização, da corresponsabilização e da equidade, priorizando grupos
populacionais com maior risco de adoecer ou morrer, ou seja, em
consonância com os princípios do Sistema Único de Saúde – SUS
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2003).
A nomenclatura do Programa Saúde da Família (PSF) sofreu alteração em
1997, passando a ser consolidada como Estratégia de Saúde da Família (ESF), uma
espécie de porta de entrada do usuário na atenção primária do Sistema Único de
Saúde. Essa alteração se deu porque não se tratava de um programa com
metodologia de início, meio e fim, mas sim de estratégias contínuas para orientar as
ações da atenção básica. A ESF oferece atividades que são desenvolvidas dentro das
áreas de abrangência das Unidades Básicas de Saúde (UBS).
Cada equipe da ESF é responsável por no máximo 4.000 mil pessoas, sendo
recomendados 3.000 mil, obedecendo ao princípio da equidade. Desse modo, leva
em consideração o grau de vulnerabilidade de cada região, pois, quanto maior o grau
de vulnerabilidade, menor será o número de pessoas atendidas por cada equipe.
Segundo o Ministério da Saúde (2006), a ESF é um modelo de atenção básica
com objetivo de priorizar as ações que são pautadas nos princípios da territorialização,
da intersetorialidade, da descentralização, da corresponsabilidade e da equidade,
atuando sobre grupos populacionais com maior índice de adoecimento.
A Estratégia Saúde da Família (ESF) foi uma criação singular para
reorganizações dos serviços de saúde na atenção primária, tendo como objetivo o
sincronismo do atendimento por área de abrangência das Unidades Básicas de
Saúde. De acordo com a Política Nacional de Atenção Básica (2012), as equipes da
Estratégia de Saúde da Família são compostas por:
(...) médico generalista ou especialista em Saúde da Família ou médico de
Família e Comunidade, enfermeiro generalista ou especialista em Saúde da
Família, auxiliar ou técnico de enfermagem e agentes comunitários de saúde,
podendo acrescentar a esta composição, como parte da equipe
multiprofissional, os profissionais de saúde bucal: cirurgião-dentista
generalista ou especialista em Saúde da Família, auxiliar e/ ou técnico em
saúde bucal (PNAB, 2012).
É necessário problematizar a composição dessas equipes, visto que elas não
conseguiram romper com o paradigma biomédico. Ponto esse, tão caro às
19
Conferências de Saúde antecedentes à criação do Sistema de Saúde Brasileiro.
Sobrepor à abordagem clínica, centralizada na figura do médico, foi um dos desafios
posto ao SUS, admitindo as próprias limitações desse modelo para compreender o
indivíduo na sua totalidade.
A ausência de outros profissionais como assistentes sociais, fisioterapeutas,
nutricionistas, terapeutas ocupacionais, psicólogos, fonoaudiólogos possui
desdobramentos na prestação da assistência à saúde dessas equipes, que ocorre de
forma fragmentada. No que condiz estritamente ao Serviço Social, o profissional
dessa área teria uma contribuição fundamental, porque traria subsídios para intervir
nas expressões da questão social relacionadas à saúde.
De acordo com os próprios fundamentos e diretrizes da PNAB (2012), no
sentido de possibilitar o acesso universal e contínuo aos serviços de saúde, atuar nos
condicionantes e determinantes de saúde definidos na Lei nº 8080/90 (habitação,
moradia, alimentação, lazer, trabalho, renda, educação, transporte) e estimular a
participação dos usuários como instrumento de ampliação da sua autonomia, a
inserção do profissional de serviço social nas ESF, faria com que sua atuação fosse
sobre essa demanda, uma vez que apenas a área clínica é insuficiente para abarcar
todas essas questões.
Tais ações também estão em consonância com os Parâmetros de Atuação dos
Assistentes Sociais na Saúde que estabelece como papel do assistente social a
construção do perfil socioeconômico dos usuários, tendo a necessidade de evidenciar
as condições determinantes e condicionantes de saúde, facilitar e possibilitar o acesso
dos usuários aos serviços, elaborar estudos socioeconômicos, entre outras
atribuições. A especialidade do serviço social traria uma perspectiva mais
macroscópica do que envolve os processos de adoecimento, não apenas focada no
indivíduo, mas considerando todo o contexto que o envolve.
É através do reconhecimento de que o conceito de saúde não se restringe
apenas à ausência de doença, mas que também incorpora outras dimensões e que
por consequência, necessita dialogar com outras áreas, como, educação, lazer,
assistência social, trabalho, é que surgiu a parceria da saúde e educação por meio do
Programa Saúde na Escola (PSE), uma política pública brasileira instituída em 2007,
pelo Decreto Presidencial nº 6.286, união que acordou em promover a saúde e
educação integral nas escolas.
Em parceria com a escola, o ESF visualiza a possibilidade de criação de rede
social mais ampla que possa fazer ”ligação entre os equipamentos públicos da saúde
e educação (escolas, centros de saúde, áreas de lazer, como, praças, ginásios
esportivos, etc.)” (MEC, 2015).
O Programa Saúde na Escola (PSE) tem sido consoante na reorganização dos
serviços de saúde na atenção primária afinado com a educação, visando contribuir
com a integralidade dos estudantes por meio de prevenção, promoção e atenção à
saúde. Este programa tem como objetivo o enfrentamento das vulnerabilidades que
apoderam crianças e adolescentes, comprometendo seu pleno desenvolvimento.
As equipes de ESF da Unidade Básica de Saúde (UBS) 4402 de Ceilândia
Norte materializam o PSE no Centro de Ensino Fundamental 10 da Ceilândia Norte,
escola que fica no território atendido pela UBS 4402. Durante o acompanhamento das
atividades desenvolvidas pelas equipes do Programa Saúde na Escola (PSE), a
representante do PSE nessa escola, percebeu a necessidade da abordagem do tema
álcool e outras drogas, em decorrência dos casos envolvendo o uso e a venda de
drogas no local. Temática essa que sobrepunha o enfoque dado pela equipe de ESF,
a qual se limitava ao enfoque fisiológico, por meio da realização de exames de rotina.
20
Com isso, o profissional de Serviço Social sugeriu a elaboração de um
PROJETO DE INTERVENÇÃO no Centro de Ensino Fundamental 10 da Ceilândia
Norte, que contemplasse essa temática. Segundo o levantamento da Secretaria de
Segurança Publica do Distrito Federal, realizada em 2011 e 2012, a Ceilândia é a
região administrativa do DF com maior ocorrência de tráfico e uso de drogas nas
escolas. Não é ao acaso que a Ceilândia tenha destaque nesse ranking.
A cidade da Ceilândia (Região Administrativa IX) é resultado de muita luta e
reistência iniciado por seus primeiros moradores e produto de um perverso processo
de favelização em torno da capital federal, consequência da criação de núcleos
periféricos distantes do “Plano Piloto”, sobretudo, a partir do final da década de 50
(CATALÃO, 2010). A pretensão era a resolução do problema de habitação entre as
classes subalternas, em decorrência da impossibilidade do financiamento de moradias
localizadas mais ao centro, diante da elitização dessas áreas. Sobre isso, Fleischer
(2012) afirma:
Ceilândia foi marcada por um forte estigma. Isso pode ser percebido, a
princípio, pelo seu nome. O prefixo “CEI” correspondia a “Centro de
Erradicação de Invasões”, já que, depois das primeiras obras concluídas de
Brasília, vários grupos de trabalhadores destas obras, que já se organizavam
em vilas na capital, foram removidos forçosamente, num intuito de sanitização
urbana e simbólica, para uma área a 35 quilômetros de distância
(FLEISCHER, 2012, p.411).
Esse processo de segregação territorial não foi acompanhado, inicialmente, por
políticas públicas que atendessem as necessidades desses trabalhadores e
trabalhadoras. Fato esse que colaborou para a intensificação da pobreza e na
exclusão social dessa população. Esse aspecto vai além da pauperização e da
desigualdade. Segundo Iamamoto (2009), ela está expressa na banalização do ser
humano, na indiferença frente à garantia dos direitos de homens e mulheres
trabalhadoras que são submetidos à pobreza produzida historicamente. (IAMAMOTO,
2009).
Segundo a Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílio – PDAD (2010),
Ceilândia é a região administrativa com maior população do Distrito Federal, com
398.374 habitantes, com renda per capita média de R$ 604,00 salários mínimos.
Quanto ao nível de instrução, 30,9% são estudantes, sendo que dessa parcela, ¾
estudam em escola pública. Também com percentual expressivo, 36,4% da população
de Ceilândia possui apenas o primeiro grau incompleto (CODEPLAN, 2010-2011).
Entre o período de 2004 a 2009, a Ceilândia foi a cidade do Distrito Federal com maior
número absoluto de ocorrência de homicídios (UNODOC, 2011).
Diante dessa breve contextualização nota-se a pertinência de um PROJETO
DE INTERVENÇÃO que estimule a autonomia de jovens sobre o uso abusivo de
substâncias psicoativas nessa localidade. Como fruto da experiência de estágio, esse
PROJETO DE INTERVENÇÃO teve como público alvo de 15 a 20 alunos, com faixa
etária entre 14 e 17 anos, estudantes da escola CEF 10 de Ceilândia Norte.
A metodologia proposta foi de quatro oficinas com abordagem reflexiva sobre
o tema. Elas tiveram como meta conscientizar ao máximo esses alunos sobre os
danos que as drogas causam na vida do usuário e sensibilizá-los de forma autônoma
e livre a decidir sobre o uso e ainda procurar ajuda, uma vez que já foram
conscientizados sobre o que são substâncias psicoativas. A perspectiva de
abordagem utilizada foi a redução de danos, como forma de contrapor à lógica
proibicionista sobre o tema.
21
O paradigma proibicionista compreende a temática sobre “as drogas” como
uma problemática que deve ser tratada de modo repressivo pelo Estado. Através de
uma perspectiva puritana, trabalha-se com o ideal da abstinência em que o uso de
substâncias psicoativas, nesse modelo, é retratado de forma moralizante e
policialesco. Segundo Fiore (2012), a abordagem de Redução de Danos contrapõe
essa lógica no tratamento do consumidor de substâncias psicoativas, se
materializando como um instrumento menos idealista e mais realista:
Abordagens pragmáticas e realistas, como a redução de danos, conseguiram
se distanciar das premissas proibicionistas e alcançar bons resultados, com
os quais ganharam, lentamente, credibilidade. Guiadas pelo pressuposto de
que cabe aos profissionais de saúde a minimização dos danos e não a
erradicação das drogas, as políticas de redução de danos foram decisivas
para recolocar os termos do debate, principalmente no cuidado com o
consumidor (FIORE, 2012, p.16).
Baseando-se na abordagem supracitada, os objetivos específicos traçados no
projeto de intervenção foram: orientar os alunos sobre o uso protegido, seguro e
consciente do álcool e outras drogas, torná-los cientes dos danos causados pelo uso
do álcool e também sensibilizá-los, caso necessário, para a adesão ao tratamento
quanto à dependência das drogas.
Para realização do PROJETO DE INTERVENÇÃO, foi utilizado o método de
Paulo Freire (1979, p. 16), que visa trabalhar em fases a partir da “conscientização,
que se apresenta como um processo num determinado momento, deve continuar
sendo processo no momento seguinte, durante o qual a realidade transformada
mostra um novo perfil”. Foram usados também recursos didático-pedagógicos como
slides e vídeos, a fim de enriquecer as oficinas temáticas. As fases realizadas foram:
1ª fase: Nessa fase foi feita uma dinâmica de apresentação com o intuito de
conhecer mais sobre cada um dos membros do grupo participante, bem como manter
uma aproximação e interação mútua com a equipe que integra o PROJETO DE
INTERVENÇÃO, respeitando a individualidade de cada um.
2ª fase: Nesse momento as estagiárias juntamente com o profissional de
Serviço Social tiveram o objetivo de apresentar os benefícios e os malefícios que as
drogas causam à saúde do usuário.
3ª fase: Essa fase não chegou a acontecer, porque a intenção era de levar um
facilitador, um agente em Redução de Danos 9, para fazer uma palestra a respeito
dessa política. Pelo fato do Distrito Federal apresentar uma demanda muito grande
nessa área, todos os redutores de danos estavam com agenda cheia e não puderam
nos atender. Outro fator que impossibilitou o acontecimento dessa fase foi que a
representante do PSE na escola não pôde estar nesse dia e sem a presença dela o
PROJETO DE INTERVENÇÃO não poderia ser realizado.
9
O agente de Redução de Danos é o profissional da área da saúde e do bem-estar ligado a programas
governamentais e a ONGs, que trabalha com a conscientização da população, na tentativa de reduzir
os riscos e danos causados pelo excesso do álcool, de drogas e pela falta de informação. É requisitado
que o profissional tenha ensino fundamental ou médio completo e que, depois de aprovado, participe
do curso de formação de agentes de redução de danos, oferecido pela administração do programa
social. Também é comum que o profissional atue na área onde mora, pois assim tem facilidade de
acesso às famílias e à comunidade e mais liberdade de organização de eventos e palestras
(http://www.brasilprofissoes.com.br/).
22
4ª fase: Nesse último momento foi feita uma palestra sobre projeto de vida, a
pedido dos alunos, em que foram pautadas questões como, por exemplo, gravidez na
adolescência, relacionamento interpessoal, sexualidade, etc. E ao final da palestra
foram distribuídas cédulas, onde os adolescentes puderam avaliar as oficinas como
regular, ruim, bom e ótimo. A avaliação dos alunos ficou entre o bom e ótimo.
No segundo momento do Estágio Obrigatório II, o PROJETO DE
INTERVENÇÃO foi implementado dentro da proposta supracitada. Ao término da
segunda oficina (roda de conversa), que apontava os malefícios e benefícios
causados pelas drogas, percebeu-se que os alunos estavam surpresos por saberem
que algumas drogas como, por exemplo, a maconha pode ser usada como remédio
trazendo benefício e não só malefício como eles estam acostumados a ouvir e usar
como forma de fugir dos problemas que permeiam seu convívio social e familiar.
Dessa forma, a intervenção se propôs também a melhorar o desempenho
desses alunos na escola, assim como fortalecer o projeto de vida como forma de trazer
melhorias na qualidade de vida desses adolescentes. Essas oficinas tiveram caráter
de demanda espontânea, facilitando a proximidade desses alunos com o tema, fora
de um contexto de obrigatoriedade.
4.1. Problematizando os limites e tecendo novas possibilidades dentro do
projeto de intervenção
Alguns pontos foram percebidos e problematizados no transcorrer dessas
oficinas. Um deles foi o conhecimento da estratégia de redução de danos como
potencializadora da autonomia do usuário de “drogas”. As ações em redução de danos
levam em consideração a liberdade do indivíduo, além de fazer o próprio usuário
refletir sobre as consequências das substâncias psicoativas na sua vida e decidir
sobre o seu tratamento. Estimular a autonomia e reconhecer a liberdade como um
valor central é um dos princípios que deve pautar a prática do assistente social. É
necessário romper com o paternalismo e autoritarismo embrenhado nas políticas
públicas e na própria postura dos profissionais.
Outro aspecto que merece ser problematizado é a técnica intitulada “projeto de
vida”, efetivada pelo profissional de Serviço Social, através de uma roda de conversa
sobre a expectativa dos adolescentes, quanto a sua vida pessoal, escolar, trabalho e
etc. As ponderações sobre a construção de um projeto de vida do usuário, auxiliado
por um profissional de Serviço Social, devem ser feitas à luz do reconhecimento do
usuário na sua singularidade, como sujeito de direitos, autônomo. Ou seja, com
cuidado para que o exercício da profissão não recorra às remotas práticas do Serviço
Social, baseadas no autoritarismo, individualização dos problemas sociais e negação
da cidadania do sujeito.
No decorrer da execução do PROJETO DE INTERVENÇÃO notaram-se os
limites de uma política pública quando desarticulada das demais. A realização do
projeto de vida, ainda que de modo a considerar a autonomia do sujeito, é um
instrumento insuficiente porque não problematiza a intersetorialidade entre as políticas
sociais como uma forma de abarcar as necessidades dos sujeitos sociais, nesse
estudo, restringido aos adolescentes.
Como possibilidades interventivas a serem traçadas, que pela própria limitação
da experiência de estágio não foi ambicionado por esse projeto interventivo,
listaremos aqui algumas sugestões que ampliam o debate às questões estruturais. De
acordo com o que já foi discutido no decorrer desse estudo, a problemática do uso
abusivo de substâncias psicoativas abarcam questões que possuem múltiplas
23
determinações: familiares, psicológicas, culturais, sociais, entre outras. Atentando-nos
à atuação do Serviço Social, que compreende intervir sobre as expressões da questão
social, dedicaremos aqui as políticas sociais como um instrumento potencializador da
cidadania.
Para fins ilustrativos, o esquema abaixo representa a atuação das políticas
sociais de forma intersetorial. O foco aqui é a assistência integral ao adolescente, ou
seja, o fortalecimento da sua rede desde a mais primitiva, como a família, comunidade,
até a mais complexa, ilustradas neste esquema, pelas políticas sociais.
Para que essa rede fosse concretizada, uma das medidas iniciais seria traçar
o perfil desses adolescentes, quanto à situação socioeconômica, vínculos familiares,
desempenho escolar, inserção no mercado de trabalho, saúde física e mental. Ou
seja, mapear as instituições e os agentes que poderão subsidiá-los nas suas
vulnerabilidades. No que toca à área de saúde, seria interessante também tecer
estratégias junto ao CAPS Ad de Ceilândia para adultos e CAPS Adi de Taguatinga
para crianças, quanto ao planejamento de ações paliativas e preventivas.
Trata-se de fortalecer a rede social do adolescente, como processo dialético de
construção da individualidade e coletividade (PEREIRA, SUDBRACK, 2008). A rede
social "é um sistema aberto que possibilita enriquecimento e a potencialização dos
recursos" (PEREIRA, SUDBRACK, 2008, p.152).
Lazer e
cultura
Política de
Saúde
Assistência
social
ADOLESCENTE
Política de
Educação
Movimentos
sociais
Trabalho
A educação, saúde, assistência social e o trabalho são áreas que devem ser
pautadas por um planejamento intersetorial, no qual as responsabilidades são
compartilhadas de forma que haja um movimento dialético entre essas esferas. Os
espaços de lazer também merecem ser fortalecidos dentro da comunidade, a luz do
direito à cidade. Assim como fomentar a mobilização de lideranças e movimentos
comunitários que fortaleçam esse vínculo com a comunidade e da própria identidade
do adolescente com seu território.
Os profissionais da saúde e educação nesses casos deveriam ter uma
formação que os instrumentalizassem para lidar com a temática do consumo de
drogas na adolescência e de todas as peculiaridades que as envolvem. Como, por
exemplo, a busca pelo prazer, autonomia, independência da família e de
reconhecimento social (SCHENKER, MYNAYO, 2005). A droga, neste caso, se
enquadra como um canal de reconhecimento por determinado grupo.
24
Reconhecer essas peculiaridades não significa negar que esse debate merece
ser ampliado para o campo do fortalecimento das políticas sociais. Ou seja, a
pretensão é contrapor a lógica minimalista dentro de um Estado neoliberal que
individualiza os problemas e despolitiza a questão social. Nessa perspectiva, o
assistente social deve se atentar a fortalecer as redes entre as instituições para
sobrepor o caráter fragmentado e focalista das ações que permeiam essas
instituições.
É importante ressaltar que não cabe aqui a pretensão de colocar a atuação do
assistente social como messiânica, porém, dentro da relativa autonomia do Serviço
Social no exercício da sua prática nas políticas sociais, este profissional tem como
compromisso ético-político defender os direitos sociais e trabalhar na perspectiva da
consolidação da cidadania para todos os sujeitos sociais (IAMAMOTO, 2004). Por
isso, é necessário um profissional atento aos processos macroscópicos societários
burgueses que atravessam o cotidiano profissional. Sendo esses processos,
desencadeadores das políticas sociais focalistas, fragmentadas e históricas.
Essas características das políticas sociais dentro de uma economia de mercado
são os principais entraves para a consolidação da intersetorialidade entre elas. A
instrumentalidade (GUERRA, 2011) requerida do assistente social é para que a sua
prática seja respaldada nas dimensões políticas, técnicas e teóricas da profissão, que
traz como possibilidades uma intervenção que dialogue com as esferas microscópicas
e macroscópicas (IAMAMOTO, 2004), evitando com que a prática do assistente social
seja fundamentada em pressupostos conservadores que individualizam as
problemáticas sociais e que não as coloquem como consequência de uma sociedade
pautada na divisão de classes.
Desse modo, mapeando as políticas e atores sociais que possam compartilhar
com o adolescente e subsidiá-lo nas suas vulnerabilidades, ao mesmo tempo em que
as próprias políticas também dialoguem sobre o tratamento deste adolescente, é que
podemos partir de estratégias que não individualizam nem fatalizam a situação desse
jovem. Tendo como horizonte os limites e possibilidades das políticas sociais dentro
do modelo capitalista.
Diante do desmonte dos direitos sociais protagonizado por um Estado
fundamentado nos princípios neoliberais, tecer estratégias que contraponham esse
modelo tem se constituído cada vez mais um desafio para os atores sociais
comprometidos com o fortalecimento da cidadania. As possibilidades traçadas para
esse projeto de intervenção trabalharam na perspectiva de ampliar o foco da
assistência ao adolescente, uma vez que o uso e abuso de substâncias psicoativas
possui múltiplas determinações, e também de fortalecer a concepção da rede entre
as instituições como uma forma de atendimento integral ao adolescente. Somente a
articulação entre as mais variadas esferas governamentais poderá dar respostas à
questão das drogas, que como defendido no decorrer desse trabalho, se configura
como mais uma expressão da questão social.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente Trabalho de Conclusão de Curso teve a pretensão de teorizar a
prática de estágio, restringida, nesse estudo, ao PROJETO DE INTERVENÇÃO
desenvolvido no Centro Educacional Fundamental 10 de Ceilândia Norte, em parceria
com a assistente social da Unidade Básica de Saúde 4402. Esse projeto abordou o
tema álcool e outras drogas através de oficinas com os alunos de 14 a 17 anos.
A problemática do uso e abuso de substâncias psicoativas no decorrer desse
trabalho foi defendida como uma expressão da questão social, esta, como inerente ao
25
sistema de produção capitalista e agravada pela ausência de políticas públicas e
sociais, insuficientes para dar resposta às vulnerabilidades sociais, econômicas e
culturais desses jovens.
No transcorrer das oficinas, observou-se os limites do Serviço Social dentro de
uma política desarticulada das demais. Por mais que a reflexão e a sensibilização dos
adolescentes quanto à temática de álcool e outras drogas, através da perspectiva da
redução de danos, fosse necessária, elas apenas responsabilizavam o adolescente
pela sua condição de usuário.
Por isso é imprescindível que a prática do assistente social contemple
dialeticamente os microprocessos da questão social ao mesmo tempo em que
também perceba os macroprocessos que atravessam seu cotidiano profissional. Esse
movimento faz com que a atuação do Serviço Social não recorra às antigas bases da
profissão, a qual individualizava a questão social e que em nada problematizava as
contradições do capital.
Portanto, para ampliar o foco para além da culpabilização do próprio
adolescente pela sua condição social no que se trata do uso e abuso de drogas, foi
traçada como estratégia, nesse estudo, a articulação das políticas sociais nas áreas
da educação, saúde, lazer, trabalho, assistência social juntamente com as lideranças
comunitárias e movimentos sociais que possam fortalecer os vínculos desses
adolescentes como alternativa à droga. É através do fortalecimento da
intersetorialidade entre as políticas sociais que se pode dar alternativas à problemática
das drogas, além, também, de subverter a lógica minimalista, fragmentária e
focalizada das políticas sociais dentro do sistema capitalista.
AN ANALYSIS OF INTERVENTION PROJECT "REDUCING DAMAGES IN
ALCOHOL AND OTHER DRUGS AT SCHOOL CEF 10 NORTH CEILANDIA" THE
LIGHT PROJECT ETHICS POLICY OF SOCIAL SERVICE
Abstract:
With reference to the current model of reorganization of the public health system in
Brazil, this study aims to analyze the INTERVENTION PROJECT entitled "Reduction
of alcohol damage and other drugs at school CEF 10 of North Ceilândia" in the light of
the project Political Ethics of Social Work. It will also bring the importance of the Social
Service work in Basic Health Unit 4402 North Ceilândia, a facing working to combat
social inequality, in the light of the political ethics of the profession project. Through a
literature review, we used the contribution of the authors Maria Lucia Baroque, José
Paulo Netto, Miriam Abramovayfor supporting this work. The results and discussions
were found the use and abuse of psychoactive substances an expression of the social
question, compounded by the lack of public and social policies; the practice of social
workers that covers the micro processes of social issues the same time realize the
macro processes of their daily work and that was through the strengthening of
intersectoral cooperation between social policies that can give alternatives at the
problem of drugs.
Keywords: social inequality, drugs, social service.
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