6831 - UFRB

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Linfossarcoma em um Urubu de cabeça preta (Coragyps atratus)
Fredo, G., Oliveira, L.G.S, Boabaid, F., Lima, L.G, Leite Filho. R.V., Braga, C., Bianchi, M.V., Pavarini,
S.P.S.P.). UFRGS, Faculdade de Veterinária. Avenida Bento
Autor correspondente: [email protected] (Pavarini,
Gonçalves, 9090. Agronomia. CEP.: 91540000 - Porto Alegre, RS.
PALAVRAS CHAVES: Linfossarcoma, Urubu, Linfócitos T.
INTRODUÇÃO: O linfossarcoma é um tumor originário de tecido linfoide periférico, normalmente, caracteriza-se
pela formação de grandes massas de coloração branco-amarelada [2]. Essas neoplasias apresentam-se
normalmente de maneira multissistêmica e disseminada. Em aves os órgãos comumente acometidos são fígado,
baço e rins, e raramente apresentam-se de maneira isolada [4,5]. A composição histopatológica é complexa,
consistindo em uma variação de células neoplasicas, imunológicas e inflamatórias [2]. Este trabalho descreve o
primeiro caso de linfossarcoma em um Urubu de cabeça preta (Coragyps atratus) de vida livre no Sul do Brasil, a
partir dos achados clínicos, patológicos e imuno-histoquímicos.
MATERIAL E MÉTODOS: Atendeu-se uma ave Cathartiforme, urubu de cabeça preta (Coragyps atratus), adulta,
no Setor de Animais Selvagens (PRESERVAS) do Hospital de Clínicas Veterinárias do Rio Grande do Sul (HCVUFRGS). Após óbito, a ave foi encaminhada para exame de necropsia ao Setor de Patologia Veterinária da
Universidade do Rio Grande do Sul (SPV-UFRGS). Durante a necropsia, foram coletadas e fixadas em solução de
formalina tamponada a 10%, amostras de diversos órgãos. Posteriormente esse material foi processado
rotineiramente para exame histológico e corados pela técnica de Hematoxilina-Eosina (HE). Fragmentos de
musculatura esquelética, coração, estômago glandular e fígado, foram submetidos à técnica de imunohistoquímica (IHQ) com uso dos seguintes anticorpos primários: anti-CD3 (DAKO 1:500) e anti-CD79α (DAKO
1:100). Para a recuperação antigênica utilizou-se Protease XIV (Sigma) por 15 minutos em temperatura
ambiente (CD3), e tampão Tris EDTA pH 9,0 por 20 minutos a 96ºC em banho maria (CD79α). As lâminas foram
incubadas com o anticorpo primário em câmara úmida overnigth a 4°C e, posteriormente, utilizou-se anticorpo
secundário biotinalado conjugado a streptavidina (kit LSAB + System AP, DakoCytomation) (CD3) e anticorpo
secundário Mack4 (Biocare) (CD 79α). Na revelação utilizou-se cromógeno Permanent Red (DakoCytomation)
(CD3) e DAB (DakoCytomation) (CD 79α). Como controle positivo utilizou-se cortes de baço e linfonodo de um
canino e de tonsila de um suíno. Fragmentos das massas tumorais, foram submetidas a técnica da Reação em
Cadeia de Polimerase (PCR) para testar vírus de Marek Vacinal HVT - sorotipo 3 (md3) e sorotipo 1 (mdv) em
um laboratório comercial (Simbios Biotecnologia).
RESULTADOS: Segundo o histórico clínico, a ave foi encontrada no pátio de uma casa localizada na zona rural de
Porto Alegre-RS com lesão oftálmica e grande quantidade de ectoparasitas. Durante o atendimento hospitalar, foi
realizado procedimento cirúrgico para enucleação do olho esquerdo, sem problemas transcirurgicos e com
rápido retorno anestésico. Na manhã seguinte ao procedimento, a ave foi encontrada morta no recinto. No exame
de necropsia, externamente visualizava-se acentuada pediculose e estado corporal ruim, além de ausência de
globo ocular esquerdo com pálpebras suturadas. Na abertura da cavidade celomática, havia massa branca com
pontos avermelhados na região da siringe, e no tecido subcutâneo na região cervical esquerda. No coração, havia
nódulos de coloração branca de 1,0 cm de diâmetro, de consistência macia e com localização no epicárdio. Na
inspeção do estômago glandular, notava-se parede espessada e difusamente esbranquiçada. Ao analisar a
cavidade orbital, havia massa branca intraorbital, irregular, invadindo o tecido ósseo adjacente. Na musculatura
peitoral profunda e da cabeça, havia massas esbranquiçadas multifocais. Na avaliação histopatológica, as lesões
tumoriformes (musculatura esquelética, coração, estômago glandular, região de seringe, fígado, rim, pâncreas,
intestino delgado e grosso e leptomeninges) eram compostas por proliferação neoplásica maligna de células
mesenquimais arranjadas em manto, com escasso estroma de sustentação. As células eram redondas, com
citoplasma eosinofílico escasso, núcleos circulares, cromatina granular arranjada de maneira variável e nucléolos
evidentes e únicos. As células exibiam discreta anisocitose e moderada anisocariose, e havia em média 15 figuras
de mitose atípicas por campo de maior aumento (400x). Observou-se ainda inúmeras células neoplásicas
necróticas. Na IHQ anti-CD3, houve marcação multifocal intracitoplasmática nas células neoplásicas. Não foram
observadas marcações para CD79α nas células neoplásicas. Na técnica da PCR, para Marek Vacinal HVT -Sorotipo
3 (md3) e Sorotipo 1 (mdv) as amostras das massas tumorais foram negativas.
DISCUSSÃO: O diagnóstico de linfossarcoma nesse relato baseou-se nos achados macroscópicos, microscópicos e
imuno-histoquímicos. O linfossarcoma é um tumor originário de tecido linfóide periférico, e normalmente
caracteriza-se pela formação de massas de tecido branco-amareladas ou características sarcomatosas. Na
maioria dos casos apresenta-se de maneira multicêntrica, podendo envolver vários órgãos, como o caso aqui
apresentado [3,2]. A exoftalmia vista na chegada da ave para atendimento clínico, pode ser associada a presença
de massas neoplásicas, com localização retrobulbar [4,5], o que ficou evidente após a realização da necropsia e
análise histopatológica. Em aves os principais órgãos acometidos pelo linfossarcoma são fígado, baço e rins, e são
raras as manifestações em locais isolados [4]. O diagnóstico destas neoplasias depende da sua localização e
características, tanto macroscópicas, como microscópicas. Em um estudo, com 130 Psitaciformes com neoplasias,
havia somente um caso de linfoma em um papagaio verdadeiro (Amazona aestiva). Estes mesmos autores
realizaram a técnica de IHQ anti-CD3, CD68, CD45, CD45RO, CK19, CD20, CD34, para classificar a origem
linfocitária da neoplasia, entretanto nenhuma reação apresentou resultado positivo, o que para eles foi devido a
uma provável incompatibilidade de marcadores humanos para as células do sistema imune das aves. Em nosso
trabalho, utilizamos a técnica de IHQ anti-CD3 e anti-CD79α, com o mesmo propósito de classificar a origem
linfocitária desta neoplasia. Obtivemos a marcação positiva para anti-CD3 e negativa para anti-CD79, o que nos
indica uma proliferação neoplásica de linfócitos T. A doença de Marek é uma importante causa de linfossarcoma
principalmente em galinhas. No presente caso o resultado negativo no PCR para doença de Marek exclui a
participação do vírus na formação do neoplasma nesse urubu. Esse trabalho relata a ocorrência de linfossarcoma
derivado de células T em urubu de cabeça preta (Coragyps atratus) de vida livre no Sul do Brasil.
Referencias Bibliográficas
1. Denesvre, C. Marek’s Disease Virus Morphogenesis. France. Avian Diseases 57(2s1):340-350, 2013.
2. Godoy S.N. et al. Main neoplasic processes in psittacines birds kept in captivity. Principais processos
neoplásicos encontrados em psitacídeos mantidos em cativeiro. Bazil. Pesq. Vet. Bras. 29(6):445451,2009.
3. Goldschmidt M.H. & Hendrick M.J. Tumors of the skin and Solft Tissues. In: Meuten, D.J. Tumors in
Domestic Animals. 4. Ed. Iowa: Iowa State Press. 2002. 114-115p.
4. Latimer K.S. Oncology. Principles and application. In: Harrison G..J., Harrison L.R. & Ritchie B.W. Avian
Medicine. Wingers Publishing, Lake Worth. (Eds). p.642-660, 1994.
5. Schimidt R.E. & Quesenberry K. Neoplasia. In: Altaman R.B. (Ed.). Avian Medicine and Surgery. W.B.
Saunders Company, Philadelphia. p.590-599, 1997.
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