AVALIAÇÃO DA TOXICIDADE PRÉ-CLÍNICA AGUDA DO EXTRATO DE Byrsonima crassifolia NOS RINS DE CAMUNDONGOS Helena Berriel¹ ([email protected]); Adriana Cristina Vianna Alvarenga1; Otávio Augusto Vendas Tanus¹; Maria Helena Fermiano1; Ana Tereza Gomes 2 Guerrero ([email protected]); Jislaine de Fátima Guilhermino2([email protected]); Maria Inês de Affonseca Jardim3([email protected]); Rosemary 4 Matias ([email protected]); Doroty Mesquita Dourado1([email protected]). 1 Laboratório de Toxinologia e Plantas Medicinais, Medicina, Universidade ANHANGUERAUNIDERP, Campo Grande-MS, Brasil. 2 Fiocruz Mato Grosso do Sul, Campo Grande-MS, Brasil. 3 Laboratório de Física, Universidade ANHANGUERA-UNIDERP, Campo Grande-MS, Brasil. 4 Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional, Universidade ANHANGUERA-UNIDERP. RESUMO: O uso de plantas medicinais é muito conhecido desde a antiguidade e uma grande parcela da população utiliza apenas plantas como forma de tratamento, cura e prevenção de doenças. Apesar disso, é desconhecida a possível toxicidade de plantas utilizadas empiricamente. O estudo teve como objetivo a avaliação da toxicidade pré-clínica aguda do extrato alcoólico da planta Byrsonima crassifolia nos rins de camundongos. Foram utilizados 12 camundongos Swiss, divididos em 2 grupos: Controle hídrico (CH) e tratados com extrato alcoólico de B. crassifolia (TB), ambos tratados via gavagem. Foram usadas doses únicas do extrato de 5 gr/kg. Os animais foram eutanasiados por exsanguinação sob anestesia após 24 horas. O rim direito de cada indivíduo foi fixado em solução de formol a 10%. Os órgãos foram processados pelos métodos habituais e os cortes histológicos foram corados pela hematoxilina-eosina para microscopia óptica. Na análise histopatológica foi realizada a avaliação qualitativa d o parênquima renal, a quantificação de todos os corpúsculos renais e a identificação daqueles que atrofiaram. Palavras-chave: Camundongos; murici-amarelo; nefrotoxicidade. INTRODUÇÃO As plantas medicinais são utilizadas há milhares de anos pela população como forma de tratamento de muitas doenças (TUROLLA, 2006). Segundo a Organização Mundial de Saúde, na década de 1990, cerca de 80% da população de países em desenvolvimento fazia uso de plantas medicinais como única forma de acesso à saúde. Atualmente o interesse em plantas medicinais da população de países industrializados vem aumentando (OMS, 1979). A maioria das plantas medicinais prescritas por médicos ou utilizados pela população em geral não possui avaliação de sua toxicidade (VEIGA JUNIOR, 2008). Em decorrência da falta de estudos e divulgação em relação a toxicidade de plantas medicinais, a população tem a crença de que estas não são nocivas (SILVEIRA, 2008). O conhecimento popular, muitas vezes inadequado, da dosagem, de que parte da planta empregar e das finalidades terapêuticas podem implicar em riscos e danos irreversíveis à órgãos vitais (DE ALMEIDA et al., 2013). Byrsonima crassifolia é uma planta encontrada em grande parte do cerrado e em todo o Amazonas. É uma planta pertencente a família Malpighiaceae, popularmente conhecida como murici-amarelo (EMBRAPA, 2005). A família Malpighiaceae é composta por aproximadamente 63 gêneros, com frutos em forma de baga. Ainda não se sabe todos os possíveis efeitos causados por essa planta, porém, algumas espécies de Byrsonima são utilizadas pela população em casos de diarreia, acidentes com animais peçonhentos e como anti-inflamatório cutâneo (FIGUEIREDO, 2005). A literatura é vasta em estudos histológicos e morfométricos renais. Entretanto, é ínfima a quantidade de estudos histopatológicos de rins tratados com produtos extraídos de plantas medicinais (DE ALMEIDA et al., 2013). Baseado nessas considerações, o trabalho visa avaliar a toxicidade pré-clínica aguda de extrato de Byrsonima crassifolia e descobrir se a mesma é capaz de gerar alterações renais em camundongos. MATERIAL E Após aprovação do comitê de ética CEUA/AESA, com parecer no 2784/2012, as folhas de Byrsonima crassifolia foram coletadas no Pantanal sul-mato-grossense, na cidade de Aquidauana-MS. A espécie botânica foi transportada ao Laboratório de Morfologia Vegetal da Universidade Anhanguera-Uniderp e, após secagem em estufa (40º C), as folhas foram separadas, trituradas, tamisadas e utilizadas para preparar o extrato. No presente estudo foram utilizados 12 camundongos Swiss, machos e fêmeas (pesando entre 25-30g), mantidos em condições controladas de luminosidade e temperatura, recebendo água e ração ad libidum. A avaliação da toxicidade foi desenvolvida nos animais separados em 2 grupos distintos. O primeiro grupo foi o controle hídrico (CH), contendo 6 animais e o segundo foi o grupo tratado com o extrato alcoólico de Byrsonima crassifolia (TB), contendo 6 animais. O grupo controle recebeu água e o grupo TB recebeu o extrato da planta via gavagem em dose única de 5g/kg, ambos via gavagem. Preconiza-se que o nível de dose deve ser de pelo menos três doses suficientemente espaçadas. Entretanto, para substâncias pouco tóxicas o nível de dose de 5.000mg/kg pode ser empregado sem a avaliação dos três níveis de dose (BRITO, 1994). Após 24 horas da administração dos tratamentos os animais foram eutanasiados por exsanguinação sob anestesia. A coleta dos rins dos animais (machos e fêmeas) foi sistematizada. Os rins foram dissecados a olho desarmado, excisados, lavados em soro fisiológico, sendo utilizado o rim direito de cada indivíduo para análise histopatológica. Os órgãos passaram por 24 horas de fixação em formol 10% tamponado. As peças foram clivadas em corte sagital, processadas e incluídas em parafina, sendo posteriormente seccionadas a 5 μm. As lâminas foram coradas com hematoxilina e eosina para avaliação morfológica. O microscópio óptico (Marca: CARL-ZEIZZ®; Modelo ICS KF2) será utilizado para as análises histológicas das lâminas. As fotomicrografias foram registradas em Microscópio Óptico com câmera acoplada (Marca: CARL-ZEIZZ®; Modelo: MC 80 DX). A quantificação dos corpúsculos renais foi realizada por contagem direta. Utilizou-se o programa estatístico Kruskal-Wallis já que as variâncias foram desiguais. O nível de significância foi estabelecido para uma confiança de 95%. RESULTADOS E DISCUSSÃO Durante a análise histológica renal, o grupo CH apresentou arquitetura renal sem alterações, com porções medular e cortical preservadas. Os túbulos contorcidos distais e proximais apresentaram-se com a luz e o epitélio tubular normais. Os corpúsculos renais se apresentaram bem distribuídos, com espaço subcapsular preservado. As células e o tecido vascular não apresentaram alterações. O grupo TB apresentou arquitetura renal preservada, com pequenos focos inflamatórios, associado a túbulos contorcidos distais e proximais normais, contrariando os achados de um estudo que verificou congestão com hemorragias na porção medular, degeneração e vacuolização citoplasmática no epitélio tubular ao pesquisar a toxicidade renal de outra planta medicinal (NOBRE et al., 2004). Entretanto os corpúsculos renais apresentaram espaço subcapsular reduzido e glomérulos atrofiados conforme achados de estudos anteriores de toxicidade renal (DE ALMEIDA et al., 2103). As médias e desvios-padrão da contagem total de glomérulos foram em CH=162,5±32,807 e TB=188,5±34,384, sem diferença significativa entre os grupos. Entretanto, ao comparar as médias e desvios-padrão da contagem de glomérulos atrofiados, em que CH=17±4,979 e TB=47,166±16,017, foi demonstrado um aumento significativo das estruturas renais (corpúsculo renal e glomérulo) comprometidas em TB, quando comparadas ao grupo CH, principalmente na área do glomérulo, sugerindo que o uso de extrato alcoólico de B. crassifolia pode provocar lesão renal. CONCLUSÃO O tratamento promoveu alterações histopatológicas significativas para o comprometimento da função renal. As alterações histopatológicas observadas sugerem que o produto provoca lesão renal, expressa sob a forma de atrofia dos glomérulos. AGRADECIMENTOS Universidade Anhanguera-UNIDERP, CNPq, Fiocruz/MS e FUNDECT. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BADKE, Marcio Rossato et al . Saberes e práticas populares de cuidado em saúde com o uso de plantas medicinais. Texto & contexto - enfermagem, Florianópolis, v. 21, n. 2, p. 363-370, Jun. 2012. BRITO, A. R. M. S. 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