documento associado - Ordem dos Farmacêuticos

Propaganda
Ficha técnica
do
CIM
c e n t r o d e
i n f o r m a ç ã o
d o m e d i c a m e n t o
Interacções medicamentosas
São muitas as substâncias que interagem com os anticoagulantes
Os fármacos podem aumentar a sensibilidade dos doentes ao
orais (ACO).1 As interacções que podem afectar os ACO são com‑
ACO:3
plexas; é muitas vezes difícil prever a direcção e o grau do efeito
da toma concomitante na resposta ao ACO, devido a diferenças na
sensibilidade individual de cada doente, múltiplos mecanismos de
interacção de alguns fármacos, influência da dose e duração da te‑
rapêutica (uso intermitente ou crónico) e à possibilidade da admi‑
nistração simultânea de vários fármacos que interajam.2,3
Dependendo do mecanismo da interacção, os efeitos clínicos podem
ser rápidos ou demorar vários dias.1,2 Os períodos críticos são quan‑
do um doente estabilizado inicia tratamento com um fármaco que
interaja com o ACO, ou quando doentes estabilizados num regime
que inclui o ACO e um fármaco que interaja com ele descontinuam
a sua toma. Quando existe o risco de hemorragia grave, o uso con‑
comitante deve ser evitado. Nos outros casos, a actividade anticoa‑
gulante deve ser cuidadosamente monitorizada de forma a ajustar
a dose do ACO de acordo com o necessário.1
Por acção sobre a vitamina K: diminuindo a sua síntese intestinal
ou afectando a sua absorção, distribuição ou metabolismo;
Interferindo com a ligação dos ACOs às proteínas plasmáti­‑
cas, resultando em aumento das concentrações de fármaco
livre;*
Diminuindo a sua taxa de metabolização: por competição ou
inibindo a função ou síntese de enzimas metabolizadoras;
Aumentando a afinidade do ACO para os receptores;
Diminuindo a síntese e/ou aumentando o catabolismo dos fac‑
tores de coagulação II, VII, IX e X funcionantes;
Interferindo com outros componentes da hemóstase normal,
ficha técnica n.º 85 / 2008
Interacções dos anticoagulantes orais (I)
como a função plaquetar e a fibrinólise;
­ Produzindo efeitos ulcerogénicos ou alterando a integridade de
qualquer superfície epitelial.
Deve haver precaução quando qualquer fármaco seja adicionado
* A deslocação da ligação do ACO às proteínas plasmáticas tem
ou retirado ao regime terapêutico de um doente tratado com ACO
um significado clínico limitado, dado que em poucos dias se esta‑
ou após alterações posológicas – o tempo de protrombina (TP) deve
belece um novo equilíbrio1,2,6 – o fármaco deslocado é rapidamente
ser determinado mais frequentemente que o habitual e devem ser
eliminado por metabolismo hepático, resultando num aumento da
feitos os ajustes posológicos necessários.2,3 Os doentes devem ser
clearance sem alteração significativa na concentração de fármaco
avisados para que não tomem medicamentos não sujeitos a pres‑
livre, não ocorrendo geralmente elevações clinicamente significa‑
crição médica ou medicamentos prescritos por outro médico sem
tivas do TP.5
que primeiro informem o seu médico principal ou o farmacêutico,3
bem como suplementos alimentares.4
A maior parte da documentação disponível sobre interacções é re‑
A selecção cuidadosa da terapêutica, a monitorização adequada do
ferente à varfarina, já que o seu uso se encontra mais difundido
TP e a educação detalhada do doente acerca das interacções são
nos países anglo­‑saxónicos, mas a informação, dada a semelhança
importantes intervenções dos farmacêuticos que acompanham do‑
estrutural com o acenocumarol, pode, em termos gerais, aplicar­‑se
entes em tratamento com ACO.5
a ambos.7
Mecanismos
A informação constante da tabela seguinte e das tabelas que serão
As interacções surgem por diferentes mecanismos e podem ter um
publicadas na segunda Ficha Técnica desta série refere-se a interac‑
impacto significativo no efeito anticoagulante. Os medicamentos que
ções dos ACOs com outros fármacos.
interagem com os ACO podem causar elevações ou reduções do TP
Estas tabelas não são exaustivas nem indicam o grau de importância
quando são iniciados, descontinuados ou usados intermitentemente,
da interacção. Para informação mais completa e detalhada deverão
podendo originar complicações hemorrágicas ou tromboembólicas.5
ser consultadas referências especializadas. As fontes indicadas a
Interacções de natureza farmacodinâmica que ocorrem com um ACO
negrito significam que a interacção é descrita para a varfarina e/ou
podem muito bem acontecer com outro, o que não acontece neces‑
acenocumarol.
sariamente com interacções de natureza farmacocinética.1
A terceira e a última Ficha Técnica desta série abordará interacções
Os fármacos podem diminuir a sensibilidade dos doentes ao
ACO:3
dos ACOs com alimentos e plantas.
A bibliografia agora publicada é referente às três Fichas Técnicas
desta série.
­ Diminuindo a sua absorção;
Aumentando a sua metabolização por indução enzimática;
­ Aumentando a síntese de factores de coagulação II, VII, IX e X
funcionantes.
ROF
ROF 79
85
ficha técnica n.º 85
Bibliografia
1. Sweetman SC. ed. Martindale The Complete Drug Reference, 35th ed.
15.Bourget S. et al. Interactions des Anticoagulants Oraux avec les Plan‑
London, The Pharmaceutical Press, 2007.
2. United States Pharmacopeia Dispensing Information – Drug Informa‑
tion for the Health Care Professional, 25th ed. Englewood, Microme‑
dex Thomson Healthcare, 2005.
3. McEvoy G. K. ed. American Hospital Formulary Service Drug Informa‑
tion 2008. Bethesda, American Society of Health­‑System Pharmacists,
2008.
tes Médicinales ou Aliments: Une Revue de Littérature. J Pharm Belg
2007; 62(3): 69­‑75.
16. Heck A, DeWitt BA, Lukes AL. Potential interactions between alternative
therapies and warfarin. �������������������������������������������
Am J Health­‑Syst Pharm 2000; 57: 1221­‑30.
17. Santos L, Figueiredo L, Fonseca F. Vitamina K e anticoagulantes orais.
Nutricias 2005; 5: 33­‑36.
18. Domènech P. Tratamiento anticoagulante con fármacos antivitamina­
4.�����������������
Brunton LL, Lazo JS,
����������������������������
Parker KL. eds. Goodman &
�� Gilman’s
������������������
The Phar‑
macological Basis of Therapeutics 11th ed. New York, McGraw­‑Hill,
2006.
‑K. Aten Farm 2003; 5: 298­‑309.
19.������
Hirsh J.
��� et al. Oral Anticoagulants: Mechanism of Action, Clinical Ef‑
fectiveness, and Optimal Therapeutic Range. Chest
�����������������
2001; 119:
5.�����������������������������������������������������������������������
Koda­‑Kimble MA, Young LY. eds. Applied Therapeutics. The Clinical Use
of Drugs, 7th ed. Philadelphia, Lippincott Williams & Wilkins, 2001.
6. Drug interactions with oral anticoagulants. Drug Ther Perspect 1994;
4(9): 13­‑6.
8S­‑21S.
20. Brigden M. L. Anticoagulação oral. Aspectos práticos da terapêutica.
Postgrad Med (ed. portuguesa), 1997; 8(4): 22­‑32.
21. Gardiner P, Phillips R, Shaughnessy AF. Herbal and Dietary Supplement­
7. Interacciones de los anticoagulantes orales. Infac
������������������������
2002; 10(6): 1­‑4.
8.�������������������
Dukes MNG, Aronson JK.
�������������������������������������������
eds. Meyler’s Side Effects of Drugs, 14th ed.
Amsterdam, Elsevier, 2000.
‑Drug Interactions in Patients with Chronic Illnesses. Am Fam Physician
2008; 77(1): 73­‑8.
22. Huang S­‑S, Sung S­‑H, Chiang C­‑E. Chitosan Potentiation of Warfarin
9. Stockley IH. ed. Stockley’s Drug Interactions, 6th ed. London, The Phar‑
maceutical Press, 2002.
Effect. Ann Pharmacother 2007; 41: 1912­‑4.
23. Stenton SB, Bungard TJ, Ackman ML. Interactions between Warfarin
10. Du Breuil AL, Umland EM. Outpatient Management of Anticoagula‑
tion Therapy. Am Fam Physician 2007; 75(7): 1031­‑42.
11. Hansten PD, Horn JR. Managing Clinically Important Drug Interactions.
St. Louis, Wolters Kluver Health, 2004.
12. Katzung BG. ed. Basic & Clinical Pharmacology, 8th ed. New York, Lan‑
ge Medical Books/McGraw­‑Hill, 2001.
13. British National Formulary Nº 51, London, BMJ Publishing Group Ltd
and RPS Publishing, 2006.
and Herbal Products, Minerals, and Vitamins: A Pharmacist’s Guide.
Can J Hosp Pharm 2001; 54: 184­‑90.
24. Myers SP. Interactions between complementary medicines and war‑
farin. Aust Prescr 2002; 25: 54­‑6.
25. Barnes J, Anderson LA, Phillipson JD. Herbal Medicines 2nd ed. ��������
London,
Pharmaceutical Press, 2002.
26. Cunha AP, Silva AP, Roque OR. Plantas e Produtos Vegetais em Fitote‑
rapia. Lisboa. Fundação Calouste Gulbenkian, 2003.
14. Interacciones del acenocumarol con importancia clínica. Bol Ter An‑
daluz 2004; 20(1): 1­‑4.
27. Interacciones con plantas medicinales. Panorama Actual Med 2003;
27(269): 1157­‑62.
Tabela 1. Fármacos que podem diminuir o efeito dos ACO
Medicamentos anti­‑infecciosos
Antibacterianos
Aparelho digestivo
Antiácidos e antiulcerosos
Dicloxacilina1,2,5,8,9,10
Nafcilina1,2,3,5,8,9,10,11
Rifampicina1,3,4,5,6,7,8,9,10,11,12,13,14
Teicoplanina9
Antifúngicos
Misoprostol9,14
Sucralfato1,2,3,5,7,8,9,10,11,13
Anti­‑inflamatórios intestinais
Messalazina1,5,8,9,11
Sulfassalazina1
Hormonas e medicamentos usados no tratamento
das doenças endócrinas
Griseofulvina1,2,3,5,6,8,9,10,11,13
Antivíricos
Hormonas da tiróide e antitiroideus
Nevirapina9
Ribavirina1,8,11
Ritonavir1,8
Metimazol5,9,11,14
Propiltiouracilo5,11,14
Sistema nervoso central
Hormonas sexuais
Estrogéneos2,5,9,13
Antiepilépticos
Barbitúricos1,3,4,5,6,8,9,10,11,13
Carbamazepina1,3,4,5,6,7,8,9,10,11,13
Aparelho locomotor
Medicamentos que actuam no osso
Raloxifeno3,7,9,13
Fenobarbital6,7
Primidona1,5,7,13
Nutrição
Antipsicóticos
Vitaminas
Clozapina3
Vitamina C9,10
Vitamina K1,2,3,5,9,11,12,13
Antidepressores
Medicamentos usados em afecções cutâneas
Trazodona1,3,9,10
Aparelho cardiovascular
Medicamentos queratolíticos e antipsoriáticos
Acitretina13
Outros cardiotónicos
Medicamentos antineoplásicos e imunomoduladores
Ubidecarrenona1,3,8,10,15,16
Citotóxicos
Anti­‑hipertensores
Aminoglutetimida1,2,3,7,8,9,11,14
Mercaptopurina1,3,8,9,11,13,14
Mitotano1,11,13
Clorotalidona1,8,9,12
Espironolactona1,3,8,9,12
Bosentano1,10
Imunomoduladores
Antidislipidémicos
Azatioprina1,5,7,8,9,10,11,13,14
Atorvastatina5,13
Colestiramina1,4,5,6,7,8,9,10,11,12
Outros
Sangue
Álcool – ingestão crónica sem insuficiência hepática (IH)1,2,3,5,6,7,9
Antiagregantes plaquetários
Ticlopidina1
ROF 85
Ana Paula Mendes
Download