Arquivos de acesso à Internet e campanhas de prevenção de câncer

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As campanhas para prevenção de câncer e a avaliação de seu impacto pela audiência aos sites
especializados na internet.
Paulo Roberto Vasconcellos da Silva
Luis David Castiel
RESUMO
Apesar do impacto da Internet na disseminação de informações, poucos estudos se dedicaram à análise
da audiência a sites de referência após as campanhas de promoção de saúde.
Objetivos: caracterizar padrões de audiência às páginas de um site brasileiro especializado em câncer
correlacionando-os às campanhas governamentais. Comparar a audiência às páginas com conteúdos
ligados à tecnologia dos tratamentos (conteúdo biotecnológico) em relação às páginas com conteúdos
de prevenção. Métodos: foram analisados os arquivos eletrônicos que registram os movimentos de
visitantes (log files) - números de visitas, tempo médio de permanência e número de retornos mensais
às páginas com conteúdos biotecnológicos em comparação às com conteúdos educativos. Resultados:
Nas páginas com conteúdo educativo observou-se escasso número de acessos e poucas oscilações ao
longo das campanhas. Naquelas com conteúdo biotecnológico, houve alta sensibilidade às campanhas,
expressa nos números de acessos, assim como na maior amplitude das ondas de oscilação.
Conclusões: No Brasil, as campanhas para promoção de saúde estimulam as mudanças de estilos de
vida, o que contrasta com o interesse crescente por páginas relacionadas à tecnologia do diagnóstico e
cura do câncer e o escasso acesso aos conteúdos sobre prevenção. A análise histórica de log files de
sites-referência têm apontado para curiosos padrões que podem vir a subsidiar o planejamento e a
avaliação de campanhas institucionais de promoção de saúde.
Keywords: Internet; Comunicação em saúde; Promoção de saúde; Campanhas educativas; Câncer;
Epidemiologia; Cultura.
1
Introdução
Diversos estudos dão conta do grande espaço preenchido pela Internet como o referencial mais
popular sobre assuntos ligados à saúde (PEW RESEARCH, 2003; TAYLOR, 2002; UMEFJORD, 2006;
KERR, 2006; TJORA, 2005; SILLENCE, 2007; BAKER, 2003). Estima-se que 86% da população adulta
americana com acesso à rede, busca informações sobre saúde na WEB (ENG, 2001). O site do instituto
nacional de câncer brasileiro (INCA), órgão vinculado ao ministério da saúde, é a maior e mais completa
referência para leigos e profissionais sobre o assunto (www.inca.gov.br) (BUCHALLA, 2005). O INCA se
desenvolveu como referência governamental em todos os temas relacionados ao câncer no Brasil,
desde sua prevenção até as diretrizes e protocolos oficiais de tratamento. Diversas campanhas e
eventos culturais são promovidos pela instituição e pelo ministério da saúde em datas comemorativas
anuais: em 31 de maio (dia mundial sem tabaco), 29 de agosto (dia nacional de combate ao fumo) e em
27de novembro (dia nacional de combate ao câncer). Nestas datas se realizam atividades culturais e
recreativas em grandes centros urbanos, exibidos com grande destaque pela mídia.
Apesar dessas campanhas alcançarem grandes impactos, é importante salientar, como Baillie
(2000), que a ênfase na transmissão de informações elaboradas por especialistas tende a não
considerar a mútua interferência das inúmeras peculiaridades culturais das sociedades complexas. As
variadas influências do ambiente cultural dificultam a avaliação do impacto direto dessas iniciativas
oficiais. No presente trabalho, o que se deseja enfatizar são alguns desdobramentos paradoxais,
caracterizados por oscilações de audiência à Internet atribuídas a campanhas de promoção de saúde
relacionadas ao câncer no Brasil. Em tese, o objetivo de tais projetos é incentivar a autoresponsabilização pela saúde e o interesse pela prevenção e detecção precoce do câncer
(THACKERAY, 2000). O que se observa, pelo contrário, é um crescente interesse pela tecnologia dos
diagnósticos e tratamentos sofisticados. Procura-se avaliar, no presente estudo, o impacto das
campanhas anuais para prevenção do câncer, correlacionando-as com as oscilações de determinadas
páginas do principal sítio brasileiro de referência sobre o tema. Procurou-se qualificar a natureza do
interesse despertado por estas campanhas, comparando páginas sobre a prevenção em relação às
páginas com informações sobre a tecnologia empregada na doença já instalada.
Métodos
A avaliação de audiência a sites da Internet foi originalmente desenvolvida com propósitos comerciais.
Atualmente os registros de acesso se prestam apenas para determinar o valor comercial de um site em
vista do número de acessos ao seu endereço. Talvez isso explique as escassas publicações sobre a
análise de log files na literatura sobre promoção de saúde (VASCONCELLOS-SILVA, 2001). Alguns
poucos trabalhos têm descrito a tecnologia dos log files como útil em outras áreas, como na análise o
impacto bibliométrico de periódicos científicos (DIAS, 2002). Embora este recurso nos informe sobre um
pequeno e crescente segmento da população que tem a cesso à Internet, alguns efeitos interessantes
(não ligados a tais limitações) podem ser observados. Recentemente este recurso foi usado como forma
de avaliar o interesse despertado por fatos de conhecimento público relacionados ao câncer. O
adoecimento de um personagem de uma novela brasileira provocou grandes aumentos de audiência às
páginas sobre leucemia em um sítio de referência em câncer (VASCONCELLOS-SILVA, 2003), reação
que também pôde ser percebida no aumento significativo no registro de novos doadores de medula
óssea para transplante, à mesma época. O adoecimento de um político (governador de um dos maiores
2
estados brasileiros) provocou impacto similar nas páginas sobre câncer de próstata, assim como a morte
da esposa de um famoso cantor influenciou páginas sobre o tumor de colo de útero (VASCONCELLOSSILVA, 2003).
Em síntese, a audiência a determinadas páginas no período das campanhas educativas foram
acompanhadas para avaliar o interesse em complementar as informações divulgadas. O primeiro passo
estava ligado à eleição das “páginas-sentinela” a serem acompanhadas (VASCONCELLOS-SILVA,
2003). Estas deveriam ser notórias concentradoras de grande volume de informações relacionadas a um
determinado tema – a prevenção e o diagnóstico do câncer. Os acessos a essas páginas são inscritos
nos arquivos de registros de acesso (log files) armazenados nos computadores que hospedam seu site.
Sua análise apontaria para as oscilações na audiência a determinados temas que poderiam registrar
historicamente os momentos de maior interesse. No presente estudo buscou-se caracterizar reações
paradoxais frente às campanhas que promovem saúde, mas que parecem suscitar interesse por
doenças.
Softwares e indicadores desenvolvidos – O registro das visitas foi feito por softwares comerciais
(Webtrends Web analyzer) que quantificam as visitor sessions (em números absolutos e médias
mensais), a origem dos servidores, as páginas e arquivos mais acessados, além do tempo de
permanência médio em cada página. Também é possível avaliar as páginas mais impressas, o número
de downloads, links (conexões com outras páginas ou sítios etc.) e os caminhos (paths) mais percorridos
dentro do site, o que sugere o percurso e o foco de busca dos visitantes. Os “indicadores de browsing”
(análise dos paths), refletem buscas aleatórias não direcionadas a nenhum assunto específico, ao
contrário dos “indicadores de captura” que retratam buscas direcionadas por interesses bem definidos.
Optamos por usar somente indicadores de captura, mais adequados aos objetivos desse trabalho: o
número de views de cada página (absoluto e proporcional ao site inteiro), correlacionado ao tempo de
permanência e à razão de retorno dos visitantes - indicador secundário que mede o número de visitas
dividido pelo número de visitantes a cada mês. Esses indicadores foram selecionados entre muitos
outros possibilitados pelo software, em vista de sua simplicidade de aferição, além da possibilidade de
comparação e mútua correlação.
Os log files das páginas estudadas, abaixo descritas, foram registrados durante 24 meses consecutivos
para caracterizar padrões anuais de audiência correlacionando-os às campanhas anuais.
Páginas de prevenção x doenças – Foram selecionados 3 temas divididos em 2 tipos de conteúdos a
serem comparadas durante as campanhas: os “conteúdos biotecnológicos” (relacionado às doenças em
si e à tecnologia de seus diagnósticos e tratamentos) e os “conteúdos educativos” (estimulam hábitos de
prevenção).
Tema 1 – biologia da carcinogênese ou fatores de risco evitáveis:
Conteúdos biotecnológicos: “Como surge o câncer” (www.inca.gov.br/cancer/comosurge.html) e “o que
causa o câncer (www.inca.gov.br /cancer/ causacancer.html).
Conteúdo educativo: “como prevenir o câncer” (www.inca.gov.br/ prevencao/ comoprevenir.html).
(a URL das páginas foi modificada em uma recente reestruturação do site).
Tema 2 - câncer de mama ou auto-exame*:
Conteúdo biotecnológico: “câncer de mama” (www.inca.gov.br/cancer/ tipos/ mama.html)
3
Conteúdo educativo: “auto-exame das mamas (www.inca.gov.br/prevencao/autoexame.html).
*À época o auto-exame ainda era preconizado como forma eficaz de detecção precoce da doença.
Tema 3 – tipos de câncer ou prevenção do câncer:
Conteúdo biotecnológico: “tipos de câncer (www.inca.gov.br/ cancer/ tipos.html) - página que dá acesso
a outras que descrevem os principais tipos de câncer.
Conteúdo educativo: informações sobre prevenção “10 dicas para evitar o câncer”:
(www.inca.gov.br/cancer/ 10dicas.html).
Avaliou-se nos 3 temas o número de acessos às páginas; a proporção deste número em relação ao total
de páginas do sítio; o tempo de permanência nas páginas e a razão de retorno (quantos retornaram às
mesmas páginas a cada mês). À época do estudo as páginas comparadas eram semelhantes em termos
de volume de informações, o que interfere no tempo de permanência médio. O nível de acesso dentro
site (páginas principais, ligadas diretamente à home-page, ou secundárias) também foi considerado, o
que interfere na dificuldade de acesso reduzindo sistematicamente o número de visitas.
Resultados
Durante os 24 meses de observação, houve uma lenta inclinação ascendente na audiência de todas as
páginas, o que pode ser explicado pelo crescimento do número de pessoas que acessam a Internet no
Brasil. Foram observados padrões que sugerem ciclos anuais, com períodos de queda no número dos
acessos no início do ano, lenta recuperação no primeiro semestre até os patamares de abril/maio a
julho/agosto, quando se ultrapassa a média anual. Após esta época os acessos decrescem até uma
recuperação passageira em novembro, a partir da qual voltam a cair até a recuperação de abril/maio do
ano seguinte. Observa-se a coincidência deste padrão com os picos observados em períodos do ano em
que ocorrem as campanhas relacionados ao câncer e ao anti-tabagismo (31 de maio - dia mundial sem
tabaco; 29 de agosto - dia nacional de combate ao fumo e dia 27 de novembro - dia nacional de combate
ao câncer).
Embora os acessos de forma geral tenham crescido acompanhando os eventos, estas oscilações não
foram homogêneas por todo o site. Houve grandes impactos sobre alguns segmentos, o das “páginas
sobre doenças”, em contraste com pequenas oscilações proporcionais aos poucos acessos às “páginas
de educação/prevenção”. Nas últimas, observou-se menor número de acessos (absoluto e proporcional),
com poucas elevações de audiência associadas às campanhas. Por outro lado, as páginas sobre
doenças são intensamente buscadas (em números absolutos e proporcionais), sobretudo à época das
campanhas relacionadas à prevenção de câncer e ao tabagismo.
Número de views (TABELA 1)– Os conteúdos educativos, nos 3 temas, registraram as menores
audiências com diferenças expressivas. Além do número de views menor, observou-se nos 3 temas
pequenas oscilações após as campanhas, com pequenos desvios-padrão em relação às médias anuais.
As maiores diferenças se concentram no Tema 3, onde a página “10 dicas para evitar o câncer” obteve
uma média em todo o período estudado de apenas 639,8 views (403,5 no final de 1999; 533,2 em 2000
e 982,75 em 2001), em comparação com a “tipos de câncer” que obteve uma média geral de 4718,3
views (3090,75 em 1999; 4489,5 em 2000 e 6574,63 em 2001). Nos Temas 1 e 2, o conteúdo
biotecnológico (“o que causa/ como surge o câncer” e “câncer de mama”), alcança oscilações
semelhantes em todos os indicadores (número de views, tempo de permanência, razão de retorno e
percentual de views em relação ao site inteiro), com uma tendência geral ao crescimento e sempre em
4
maiores proporções em relação ao conteúdo educativo (“como prevenir o câncer” e “auto-exame de
mamas”). A média geral de views no tema 1 foi de, respectivamente, 1844,2 e 1903,3, mais de 2,5 vezes
o número de views nas páginas sobre prevenção (média de 722,01 views). No Tema 2, a página sobre
câncer de mama alcançou a média geral de 1097,5 em contraste com a página sobre auto-exame que
chegou a apenas 598,3 views.
(GRÁFICO)
Proporção do acesso às páginas em relação ao acesso geral (TABELA 2) – estes indicadores
expressam proporções dos números de views nas páginas em relação ao sítio inteiro. Assim, as páginas
mais “sensíveis” às campanhas tendem a subir mais e “rebaixar” as menos sensíveis, o que confirma a
tendência de predileção. O exemplo mais notável é, novamente, o da página sobre “10 dicas para
prevenir o câncer” que, além da baixa audiência característica, exibiu um platô descendente iniciado nos
meses em que há as maiores atividades no sítio, confirmando sua fraca audiência relativa e absoluta. A
página sobre o câncer de mama cresceu expressivamente em novembro do segundo ano de
observação, com 1,0% na proporção de views em relação a uma média neste ano de 0,7%. Entretanto a
página sobre auto-exame de mamas manteve-se em 0,41% (abaixo da média anual de 0,44%), portanto,
pouco sensível à propaganda oficial. Em novembro do ano anterior, a página sobre neoplasia de mama
manteve-se em 0,74%, praticamente dentro da média geral (0,75%) relativamente pressionada para
baixo pela notável proporção de acessos às páginas sobre tipos de câncer no primeiro ano (3,83%, a
mais alta entre todas do site no ano). Todas as páginas sobre educação nos 3 temas se mantiveram em
platô ou em descenso nos meses de eventos sobre tabagismo e câncer.
Tempo de permanência nas páginas (TABELA 3) – padrão semelhante foi observado em relação ao
tempo de permanência nas páginas. As informações sobre carcinogênese - “o que causa câncer” e
“como surge o câncer” - obtiveram média geral de 1’:44’’ (dp=0:30’’) e 1’:34” (dp=0:32”) respectivamente,
superando em tempo de aderência as informações sobre prevenção (média=0:44”, dp= 0,08”). O mesmo
se verifica nas páginas do tema 2 onde informações sobre câncer de mama capturam a atenção por
uma média de 2’:41” (dp=0:25”) em comparação com 0:45” para o auto-exame das mamas (dp=0:22”). O
volume de informações interfere no tempo de permanência nas páginas, desta forma o tema 3 não serve
a tal tipo de comparação, em contraste com os demais. Isto se deve ao fato da página sobre “tipos de
câncer” servir de entrada para outras páginas sobre doenças, o que tende a provocar tempos de
aderência menores. Não obstante, a página sobre conselhos para evitar o câncer do tema 3 também
perde em aderência (média= 2’:04” dp= 0:43) quando comparada ao “câncer de mama“(do tema 2), que
contém um volume de informações proporcional.
Razão de retorno (TABELA 4) – com exceção do tema 3, onde se observaram grandes diferenças nas
razões de retorno entre a página sobre “tipos de câncer” (média geral de 1,58 dp= 0,11) e “10 dicas para
se prevenir”(média geral de 1,14 dp= 0,12) os demais temas estudados não exibiram as mesmas
diferenças na análise de impacto e aderência deste tipo de indicador. Tal fato pode se dever à função de
via de acesso a “tipos de câncer” ao qual se retorna sempre que se deseja ler sobre as modalidades de
câncer. Os eventos veiculados pela mídia não influíram no retorno às páginas sobre carcinogênense, ao
contrário das demais que tratavam do câncer de mama e de outros tipos de câncer (picos de retorno nos
meses de maio, julho e novembro). Em julho do segundo ano houve um incremento acentuado e
inexplicável nas razões de retorno à página sobre “como surge o câncer”, originado por um número
5
desproporcional de retornos dos visitantes deste mês (983 visitantes acessaram a página 2490 vezes
com r.retorno= 2,53) o que não se repetiu com as outras páginas nem com a mesma em outros meses.
Tal discrepância talvez reflita a influência de algum fato pontual veiculado pela mídia que suscitou uma
atenção passageira a este segmento do site.
Discussão
No presente estudo observa-se que as campanhas institucionais parecem estimular o acesso ao site,
assim como a outras fontes de informação sobre o assunto. Não obstante, o interesse geral parece ter
sido mais direcionado às perspectivas biológicas do que aos conteúdos sobre educação para prevenção.
Esta reação representa um paradoxo, admitindo-se que tais campanhas deveriam estimular a autoresponsabilização sobre a saúde (incentivo a atividades físicas, mudanças na dieta, controle do
tabagismo etc.) que nada têm haver com carcinogênese e descrição da tecnologia de diagnósticos e
tratamentos.
O que ajudaria a explicar tais fenômenos, seria a concepção contemporânea de saúde, ligada à idéia de
riscos e probabilidades (Petersen, 1996; Lupton, 1995; Castiel, 2002 e 2005). Ao lado de tais
perspectivas, existem grandes expectativas depositadas nas técnicas de diagnóstico e tratamento mais
sofisticadas e certo cepticismo em relação às mudanças nos estilos de vida. O que se observa nos
resultados, talvez expresse essa descrença nas ações mais simples divulgadas nas campanhas, como
adotar o hábito de fazer exercícios periodicamente, ter uma dieta balanceada em gorduras, evitar o
tabagismo ativo e passivo, a exposição às radiações solares e o abuso do álcool (ONTARIO TASK
FORCE ON THE PRIMARY PREVENTION OF CANCER, 1995).
Por outro lado existe um grande espaço no ambiente cultural garantido à divulgação de avanços
tecnológicos sobre o diagnóstico e o tratamento do câncer – o que tanto pode ser causa como
conseqüência do fenômeno que se observa. Segundo Baillie (2000), os especialistas em promoção de
saúde, parecem ter se dedicado somente à validação técnica das informações disseminadas,
subestimando o efeito destas no plano simbólico coletivo. De forma geral, o planejamento de campanhas
tende a ignorar a pluralidade de referências e símbolos da sociedade contemporânea. Nesse campo, as
peças ficcionais, sobretudo as novelas de TV (PLATT-KOCH, 1984; VASCONCELLOS-SILVA, 2003,
HOWE, 2002), parecem alcançar maiores impactos do que a propaganda oficial. Os melhores resultados
são freqüentemente descritos nas comunidades sob grande pressão sócio-econômica (STOREY, 1999;
DODD, 1995; JIBAJA, 2000) incluindo desde modificações nos hábitos sexuais em DST (SOLOMON,
1989; SZTERENFELD, 1993) até o planejamento familiar (ROGERS, 1999; SHAPIRO, 2003;). No
presente estudo percebe-se que mensagens sobre câncer disseminadas amplamente em sociedades
complexas tendem a gerar alguns resultados paradoxais. Seria ingênuo supor, portanto, que as
informações produzam de forma linear as conseqüências comportamentais esperadas (no que as
novelas de rádio e TV são mais eficazes) sem sofrer distorções por tabus peculiares ao temas que as
cerca.
Conclusão
Concluímos que as campanhas educativas exercem, efetivamente, uma grande influência sobre o
interesse coletivo sobre o câncer. Não obstante, não se pode considerá-las plenamente bem sucedidas
sob ponto de vista educacional, na medida em que o foco de atenção é desviado para a tecnologia que
cerca as doenças e não sobre sua prevenção. Nesse contexto, uma análise das representações sociais
6
sobre o câncer ampliariam nosso entendimento sobre os mecanismos de elaboração das informações
que circulam em nossa cultura.
Implicações práticas
Acreditamos que a análise histórica dos log files de páginas-sentinela pode revelar padrões
interessantes que guiem o planejamento das ações em promoção de saúde. Estudos de recepção de
mensagens poderiam ser estimulados após as campanhas educativas, assim como durante a exibição
de peças ficcionais que tematizem aspectos ligados à saúde coletiva. Tais práticas em articulação
poderiam fornecer subsídios interessantes ao planejamento das iniciativas vindouras.
7
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9
Apêndice 1 - Tabelas
Tabela 1 - Médias e desvios-padrão dos números de views
Tema 1
DOENÇAS
“O que causa?”
“Como surge?”
(desvio padrão)
Tema 2
EDUCAÇÃO
“Como
prevenir?”
(desvio
padrão)
Médias dos números de views
1999 1182,25 / 1245
552,25
(dP=377,8 e
(dP=192,6)
402,5)
2000 1671,42 / 1796,42 706,42
(dP= 468,5 e
(dP=260,09)
539,4)
2001 2679 / 2668,63
907,38
(dP=765,9 e
(dP=347,1)
773,8)
Tema 3
DOENÇAS
“Câncer de
mama”
(desvio
padrão)
EDUCAÇÃO
“Auto exame”
(desvio
padrão)
DOENÇAS
“Tipos de
câncer”
(desvio
padrão)
705,25
(dP=222)
425,25
(dP=122,9)
3090,75
403,5
(dP=1075,7) (dP=124,8)
931,5
(dP=327,5
)
1655,88
(dP=554,9
)
578,42
(dP=147,6)
4489,58
(dP=11143,
5)
6574,63
(dP=1606,9)
791,38
(dP=232,8)
EDUCAÇÃO
“10 dicas para
prevenir o
câncer”
(desvio
padrão)
533,25
(dP=119,1)
982,75
(dP=309,9)
Tabela 2 - Médias e desvios-padrão dos percentuais de views de cada página em relação ao sítio inteiro
Tema 1
Tema 2
Tema 3
O que causa?
Como
Câncer de
Auto
Tipos de
10 dicas
Como surge?
prevenir?
mama
exame
câncer
para
prevenir o
câncer
Médias do percentual do número de views de cada página
1999 1,26 / 1,32
0,58
0,75
0,45
3,3
0,43
(dP=0,14 e 0,15)
(dP=0,09)
(dP=0,1)
(dP=0,03) (dP=0,42)
(dP=0,07)
2000 1,29 / 1,39
0,52
0,70
0,44
3,49
0,41
(dP=0,19 e 0,25)
(dP=0,08)
(dP=0,11)
(dP=0,06) (dP=0,33)
(dP=0,1)
2001 1,45 / 1,44
0,47
0,88
0,42
3,6
0,54
(dP=0,2 e 0,16)
(dP=0,08)
(dP=0,16)
(dP=0,03) (dP=0,4)
(dP=0,13)
10
Tabela 3 - Médias e desvios-padrão dos tempos de permanência em cada página
Tema 1
Tema 2
Tema 3
O que causa? / Como
surge?
Como
prevenir?
Câncer de
mama
Médias do tempo de permanência na página
1999 1:16 / 1:11
0:32
2:14
(dP=0:07 / 0:03) (dP=0:08)
(dP=0:06)
2000 1:34 / 1:34
0:43
2:38
(dP=0:23 / 0:41) (dP=0:06)
(dP=0:24)
2001 2:12 / 1:47
0:50
2:59
(dP=0:24 / 0:11) (dP=0:03)
(dP=0:17)
Auto exame
Tipos de câncer
10 dicas
para
prevenir o
câncer
0:29
(dP=0:07)
0:47
(dP=0:28)
0:49
(dP=0:14)
0:37
(dP=0:03)
1:01
(dP=0:24)
1:06
(dP=0:12)
1:46
(dP=0:11)
1:45
(dP=0:28)
2:40
(dP=0:51)
Tabela 4 - Médias e desvios-padrão das razões de retorno (sessões / visitantes)
Tema 1
Tema 2
Tema 3
O que causa?
Como
Câncer de
Auto exame
Tipos de
Como surge?
prevenir?
mama
câncer
Médias das razões de retorno
1999
1,34 / 1,43
1,31
(dP=0,03 / 0,05) (dP=0,06)
2000
1,31 / 1,54
1,3
(dP=0,05 / 0,33) (dP=0,07)
2001
1,35 / 1,46
1,25
(dP=0,13 / 0,08) (dP=0,04)
1,24
(dP=0,03)
1,26
(dP=0,1)
1,26
(dP=0,05)
1,25
(dP=0,08)
1,24
(dP=0,04)
1,21
(dP=0,04)
1,57
(dP=0,14)
1,6
(dP=0,12)
1,56
(dP=0,06)
10 dicas
para
prevenir o
câncer
1,12
(dP=0,01)
1,1
(dP=0,06)
1,23
(dP=0,18)
11
Apêndice 2
Gráfico 1 – Oscilação do número de views nos 24 meses: comparação entre “tipos de câncer” e “10
dicas para prevenir o câncer”.
9000
8000
7000
6000
5000
4000
3000
2000
1000
Tipos de CA
10 dicas
Curva de tendência polinomial (tipos de câncer)
12
ago
julho
junho
maio
abril
mar
fev
jan
dez
nov
out
set
ago
julho
junho
maio
abril
mar
fev
jan
dez
nov
out
set
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