“O OLHAR DA SOCIOLOGIA” Encaramos o mundo como tudo

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“O OLHAR DA SOCIOLOGIA”
Encaramos o mundo como tudo natural, como se as coisas e o mundo sempre fossem assim. É preciso
"treinar o olhar" e construir um olhar sociológico para a realidade e esse se faz com base no estranhamento
do cotidiano. O olhar sobre as coisas no mundo não é neutro e sim cheio de "prenoções". É preciso quebrar
a tal forma de olhar a realidade, sobre como toda nossa visão da realidade está marcada por julgamentos,
prenoções, sentimentos, preconceitos, que são influenciados pelas mediações das mídias, das escolas, das
famílias, das religiões, dos partidos políticos, etc. Para desenvolvermos a capacidade de pensar de forma
crítica e autônoma precisamos nos afastar de muitas dessas mediações, temporariamente, colocá-las "entre
parênteses", para observarmos a realidade e podermos analisá-la, comparar com o que pensávamos antes e
chegarmos a novas conclusões. Dessa maneira formamos novos valores ou mantemos os que consideramos
que são importantes para nossas vidas. Vamos assim consolidando um conjunto de valores que vão formar a
nossa ética, que é a base para nossas tomadas de decisões.
Estranhamento
Estranhamento é o ato de estranhar no sentido de admiração, de espanto diante de algo que não se
conhece ou que não se espera; por achar estranho, ao perceber alguém ou algo diferente do que se conhece
ou do que seria de se esperar que acontecesse daquela forma; por surpreender-se, assombrar-se em função do
desconhecimento de algo que acontecia há muito tempo; por sentir-se incomodado diante de um fato novo ou
de uma nova realidade; por não se conformar com alguma coisa ou com a situação em que se vive; não se
acomodar, rejeitar.
Estranhar, portanto, é espantar-se, é não achar normal, não se conformar, ter uma sensação de
insatisfação perante fatos novos ou do desconhecimento de situações e de explicações que não se conhecia.
Estranhamento é espanto, relutância, resistência. Estranhamento é uma sensação de incômodo, mas
agradável incômodo, vontade de saber mais e entender mais, sendo, pois, uma forma superior de duvidar.
Problematizar um fenômeno social é fazer perguntas com o objetivo de conhecê-lo: “- Por que isso
ocorre?” “- Sempre foi assim?” “- É algo que só existe agora?” Por exemplo: quando hoje estamos frente à
questão da violência, devemos perguntar: “- Houve violência em todas as sociedades? Como era a violência
na antiguidade? Em outros países, há a violência que vemos em nosso cotidiano? Há um só tipo de
violência? Quais as razões para tais e quais tipos de violência?”
Estranhar situações conhecidas, inclusive aquelas que fazem parte da experiência de vida do
observador, é uma condição necessária às Ciências Sociais para ultrapassar, ir além, das interpretações
marcadas pelo senso comum.
Desnaturalização
É muito comum no nosso cotidiano ouvirmos a expressão: “- Isso é natural.” Esta expressão nos
remete à ideia de algo que sempre foi, é ou será da mesma forma, imutável no tempo e no espaço. Em
consequência, é por isso que também ouvimos expressões como: “É natural que exista a desigualdade
social, pobres sempre existirão. Assim, as pessoas manifestam o entendimento de que os fenômenos sociais
são de origem natural, nem lhes passando pela cabeça que tais fenômenos são, na verdade, constituídos
socialmente, isto é, historicamente produzidos, resultado das relações sociais.
Para desfazer esse entendimento imediato, um papel central que o pensamento sociológico realiza é a
desnaturalização das explicações dos fenômenos sociais. Há uma tendência sempre recorrente de se
explicarem as relações sociais, as instituições, os modos de vida, as ações humanas, coletivas ou individuais,
a estrutura social, a organização política com argumentos naturalizadores. Primeiro, perde-se de vista a
historicidade desses fenômenos, isto é, que nem sempre foram assim; segundo, que certas mudanças ou
continuidades históricas decorrem de decisões, e essas, de interesses, ou seja, de razões objetivas e humanas,
não sendo fruto de tendências naturais.
Procurando fazer uma ponte entre estranhamento e desnaturalização, pode-se afirmar que a vida em
sociedade é dinâmica, em constante transformação; constitui-se de uma multiplicidade de relações sociais
que revelam as mediações e as contradições da realidade objetiva de um período histórico.
Nesse sentido,
a superação do senso comum para uma análise mais crítica e criteriosa da sociedade é um dos objetivos da
sociologia no ensino médio: propiciar aos jovens o exame de situações que fazem parte do seu dia a dia de
modo mais investigativo. Superar a aparência imediata e despertar no aluno a sensibilidade para perceber que
o mundo a sua volta é resultado da atividade humana e, por isso mesmo, passível de ser modificado.
Referência bibliográfica:
MORAES, Amaury César. (Coord.) Sociologia: ensino médio. Brasília : Ministério da Educação, Secretaria
de Educação Básica, 2010.
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