100 Anos de Economia Brasileira: Vamos Comparar?

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100 Anos de Economia Brasileira: Vamos Comparar?
Gustavo Grisa (*)
O grande assunto desta semana é o balanço do comportamento da economia brasileira nos últimos 100 anos,
iniciativa elogiável do IBGE. As conclusões encontradas na imprensa têm praticamente a mesma linha: nossa
economia cresceu como poucas no mundo, mas não distribuímos nossa renda. O balanço é parcialmente positivo
e traz o gosto amargo de uma economia perversa que não passa ao cidadão médio os benefícios do bem estar.
Essas conclusões são apressadas, simplistas e trazem um certo ranço de mau humor. É sempre saudável olhar
pela janela e ver como se comportaram outros países no mesmo período. Depois da comparação, podemos tirar
conclusões mais objetivas. Alguns números falam por si:
-A renda per capita do Brasil cresceu 8 vezes durante o século XX, enquanto a do México cresceu 6 vezes, da
China 5 vezes, da Argentina e do Chile triplicou, e da Índia quase dobrou. Apenas a Coréia do Sul teve
desempenho superior, multiplicando sua renda média por 10, em grande parte pelo excelente desempenho desde
meados da década de 70.
-O nosso PIB multiplicou-se por 41, enquanto o do México aumentou 25 vezes, do Chile 14 vezes, da Argentina
17, da China 11. A Coréia é novamente o único país de nossos “comparáveis” que cresceu mais, 51 vezes.
-Até meados da década de 60, o Brasil apanhava feio do México. Em 1900, nosso PIB era do mesmo tamanho da
Argentina, e 10 vezes menor do que o da Índia. Aí sim, éramos um país desigual e atrasado.
-Se considerarmos o período até 1980, concluiremos que o Brasil cresceu mais do que qualquer outro país no
mundo, a despeito de cíclicos desacertos de política e gestão e da persistência de mazelas sociais e de um
sistema educacional insuficiente.
-Perdemos a direção em algum momento entre o final dos anos 70 e a década de 80, demorando um pouco para
corrigir. Se mantivéssemos a tendência histórica nos últimos 20 anos, o Brasil seria 50% mais rico do que é hoje.
-Jamais seria leviano a ponto de afirmar que a percepção de desigualdade social no Brasil é exagerada, pois
convivemos todos os dias com seus traços mais explícitos. Mas a verdade é que poucos países no mundo
ofereceram tamanha mobilidade social, o Brasil não é uma sociedade fechada. E tivemos que ultrapassar a
herança maldita na primeira metade do século de uma sociedade colonial, preconceituosa e atrasada.
-Se analisarmos os indicadores, o Brasil da primeira metade do século tinha produtividade e condições sociais
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equivalente às que encontramos hoje em países africanos.
-Temos de ter coragem neste momento, e encontrar os caminhos para continuar crescendo. Muitos países se
perderam nas curvas do populismo e do obscurantismo. Derrapamos por algum tempo, mas voltamos ao círculo
virtuoso na década de 90, e ainda estamos na periferia do caminho,não nos afastamos dele.
-Cuba, China e a Albânia têm menor desigualdade social do que o Brasil por causa de um dado muito simples:
quase todos são pobres, inclusive a pseudo-classe média,o que não é o nosso caso. A assimetria é própria do
processo de crescimento. O que temos de melhorar são nossos mecanismos compensatórios e fortalecer ainda
mais as instituições. Olhar para o futuro incluindo, procurando um processo amplo, sem jamais obstruir a
economia.
-Entender os caminhos do mundo é fundamental para mantermos a boa performance. Esses indicadores são a
prova máxima de que desenvolvimento não se faz da noite para o dia, mas a tarefa de chegarmos até aqui foi
árdua. Daqui para diante, cada avanço será mais complexo e a competição, mais ferrenha.
-O processo mais perverso de reprodução de pobreza é não crescer, não se reciclar e não saber perceber o
futuro.
Obs.: Foi utilizado como critério trabalho multilateral realizado pelo grupo editorial francês Les Echos na
publicação “Un Siècle d´économie” (1999), utilizando dados da OCDE. Os números do IBGE são ainda melhores
para o Brasil: o PIB multiplicou-se por 110, e a renda per capita por 12.
(*) Gustavo Grisa, 29 anos, é economista formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com MBA em Negócios Internacionais
pela Thunderbird-American Graduate School of International Management (www.t-bird.edu), no Arizona (EUA).
Fonte: http://www.gustavogrisa.com.br- Disponibilizado em 06/10/2003
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